Treze dos 15 polícias do comando metropolitano de Braga destacados para garantir condições de segurança no jogo Famalicão-Sporting, que devia ter começado às 18 horas de hoje, apresentaram autodeclarações de baixa pouco antes, considerando-se indisponíveis para cumprir tal tarefa. Como se tivessem sido afectados por súbita epidemia.
Sem policiamento, as portas do estádio foram-se mantendo fechadas. Os ânimos entre adeptos acenderam-se nas imediações - e novamente veio à superfície o comportamento inaceitável das claques. De ambos os lados. Voaram pedras, garrafas, até cadeiras. Houve seis feridos - um dos quais em estado grave, com traumatismo craniano. Além de consideráveis danos materiais em estabelecimentos comerciais e viaturas ali estacionadas.
Igualmente inaceitável é o comportamento dos polícias, pondo em risco a integridade física de cidadãos pacíficos, que vão ao futebol em família, por vezes até com filhos de tenra idade. Não ignoro que a PSP e a GNR protestam contra injustiças na atribuição do suplemento de risco e a proliferação de material sem condições mínimas (fardas pagas a expensas próprias, coletes antibalas fora do prazo, viaturas de serviço prontas para a sucata, etc). Mas nenhum movimento reivindicativo, por mais razões que invoque, é justificável quando lesa a segurança, um dos mais preciosos bens públicos. Voltamos à eterna questão dos meios: nem todos são lícitos para atingir certos fins.
Esta tarde viveram-se momentos dignos de faroeste no exterior do estádio municipal de Famalicão. Sem um agente da autoridade por perto. Poderia ter havido mortos. Tudo isto é ainda mais inaceitável.
Um responsável local da PSP afirmou não estarem reunidas condições de segurança para a realização do encontro até ao fim do dia de hoje nem amanhã. Foi adiado, portanto. Para data incerta. O Sporting, por motivos compreensíveis, recusou permanecer no Minho, tendo regressado a Lisboa. Diz o regulamento da Liga que, não havendo jogo nas 30 horas seguintes, poderá realizar-se nas quatro semanas posteriores.
Acontece que o nosso calendário para todo o mês de Fevereiro está já preenchido. Na próxima quarta-feira jogaremos fora, contra o União de Leiria, para a Taça de Portugal. No dia 11, recebemos o Braga. A 15, viajaremos à Suíça para defrontar o Young Boys na Liga Europa. Dia 19, novamente para o campeonato, vamos a Moreira de Cónegos. Três dias depois, recepção ao Young Boys em Alvalade. Dia 25, Rio Ave-Sporting, de novo para o campeonato. E ainda outra data muito provável: a meia-final da Taça de Portugal, a 28 de Fevereiro. Falta apenas saber se defrontaremos o Vizela ou o Benfica.
Será um sufoco.
Acontece também que o Sporting registava uma dinâmica de vitórias agora subitamente interrompida, sem responsabilidade da nossa parte. O que só favorece os nossos adversários directos. Arriscamo-nos a que amanhã o Benfica suba a título provisório para a liderança do campeonato sem sabermos quando acabaremos por visitar o Famalicão, o que nada favorece as nossas aspirações.
«A Liga Portugal exige ao Governo, em especial ao ministro da Administração Interna, a instauração de um processo de inquérito com carácter de urgência, de forma a apurar responsabilidades pelo sucedido, em defesa dos adeptos e das famílias, e informa que exigirá também, nas instâncias próprias, ser ressarcida pelos danos provocados por acções irresponsáveis às quais é totalmente alheia.» Palavras contidas num duro comunicado da Liga, confrontando o Executivo com as suas responsabilidades nesta matéria.
Naturalmente, o facto de o Executivo estar em mera gestão, antes das legislativas de 10 de Março, não serve de atenuante ou desculpa.
Antítese total do que deve ser a festa do futebol.
ADENDA:
Gabinete do primeiro-ministro indigna-se com «insubordinação gravíssima» dos polícias. Ministro da tutela anuncia que reunirá amanhã, de emergência, com o comandante-geral da GNR e o comandante nacional da PSP.
A 6 de Maio, o alegado secretário de Estado do Desporto garantia publicamente que a festa do título do Sporting estava a ser convenientemente preparada para não se registarem problemas de ordem pública nem riscos sanitários.
O Sporting cumpriu: não se registaram desacatos no interior das instalações do clube - única parcela que se encontra sob a sua jurisdição.
No espaço exterior aconteceu aquilo que sabemos: desacatos provocados por membros ligados à Juventude Leonina - que aparentemente tiveram autorização da Câmara, da Direcção-Geral da Saúde e da PSP para instalarem uma fan zon com ecrã gigante e bebidas à discrição no exterior do estádio - e reacção incompetente da polícia, que errou antes e errou depois. Demorou horas a assistir a tudo impávida e carregou desalmadamente quando a situação que devia prevenir já fugia por completo do seu controlo.
Agora o presidente da Câmara assobia para o lado, a senhora da DGS faz voto de silêncio, o ministro da Administração Interna finge-se de morto. Só o alegado secretário de Estado do Desporto, voltando a abrir a boca, confirma a sua total irrelevância: «O apelo que fiz a uma responsabilidade dos adeptos manifestamente não foi atendido.» E logo sacode a água do capote, dizendo nada ter a ver com o que aconteceu.
Apetece perguntar de novo: este senhor está no Governo a fazer o quê?
A prosa que se segue escrevi-a originalmente noutro poiso mas há aqui algo que tem a ver connosco, mais que não seja porque daqui a 14 dias vamos tentar ir ao jamor (com as nossas famílias?) a um palco onde no ano passado pouco faltou para haver uma grande desgraça. Pessoalmente continuo angustiado entre levar ou não a criançada que gostava que visse ao vivo o seu primeiro título do Leão...
Ontem no Marquês um grupo no meio de dezenas de milhar visou intencionalmente a polícia. Atirando garrafas e petardos para o chão em direção da polícia. Obtive vários relatos de malta que tenho por credível que testemunhou o evento. Talvez esse grupo estivesse particularmente motivado depois da cena da detenção à bruta do pai de família em Guimarães, talvez não. Seja como for, a questão nesse caso já estava perdida, fossem quais fossem os motivos ou os pretextos. Será que a única opção tática da polícia ontem no Marquês era a que aplicou começando a varrer a praça do Marquês procurando dispersar as dezenas de milhar de pessoas a poder de bastão? Reduzir visivelmente o efetivo (mas não saindo das imediações do local) não era viável? Pergunto, não afirmo. Sublinho: não há relato de violência entre as pessoas na praça, mas sim ataques diretos à polícia.
O que sei é que a defesa da integridade dos polícias nem sempre se faz de forma mais eficaz reagindo à violência com a violência. E a defesa da honra do corpo não está acima de uma avaliação criteriosa e a cada momento da segurança pública. Há circunstâncias em que reagir a uma garrafa atirada é a pior solução. Por mais justificável que seja a atitude. O mesmo se aplica a quem eventualmente vendo o que se passou em Guimarães com a família detida, tenha resolvido tirar desforço junto do polícia que tinha mais à mão, a coberto de uma multidão.
Quem agride ou tenta agredir a polícia deve ser preso? Claro! Mas nem sempre tentar uma detenção imediata é a melhor forma de garantir a segurança pública. Uma solução destas num sítio como o Jamor, por exemplo, terá elevadas probabilidades de gerar mortos e feridos. E a polícia sabe disso, também por isso modernizou o seu conjunto de opções de ações e de instrumentos no controlo de massas nos últimos anos introduzindo outro tipo de agentes especializados e promovendo outro tipo de relacionamento com grupos de risco mais elevados. Ontem espero que o dia seja encarado para fazer uma profunda avaliação dos procedimentos pois a confiança na polícia pelo menos na parte que me toca ficou seriamente afetada. Que venham melhores dias, depressa.
Pouco tempo depois de ler no Negócios que Voltaram a cair placas da cobertura do Estádio da Luz surge o comunicado oficial a anunciar a confirmação do jogo. Faço votos que as placas voadoras de hoje sejam uma "instalação" fugaz de algum fã dos Metállica que andava pelos altos do estádio do Carnide. A bem da saúde dos amantes e praticantes da bola. É que sem segurança...
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