Fez ontem um ano. Ao minuto 70 Luiz Phellype marcaria o único golo da partida contra o Moreirense, coroando de glória (e alívio) a estreia de (pelo menos) duas Leoazinhas no Estádio e Pavilhão João Rocha.
Luís Neto saiu do jogo maltratado, deixando no ar muita preocupação pelo seu estado. O ambiente no estádio pareceu-me frio, muito frio por comparação à última vez que lá estivera, na última partida disputada em casa, da época mais desafiante de que tenho memória.
Um ano depois, sem público nas bancadas, sinto-o quase gélido. O som ambiente dos jogos alterou-se de tal forma que ainda o estranho. O Capitão Fernandes da minha memória vivida em breve sê-lo-á por outro distinto emblema e Mathieu, da minha predilecção, pendurou as chuteiras.
Passou um ano, que parece valer por três.
Estranhezas à parte, tenho muitas saudades de ver o Sporting ao vivo e de vê-lo na casa que é de todos nós.
Vinicius de Moraes escreveu uma bela letra sobre saudade, aquele sentimento bem português que espalhamos por muito mundo, e substantivo que só a língua portuguesa soube honrar. De seguida, a tensão de quem tem saudade e da, por muitos atribuída, condição pejorativa do saudosista.
Pois bem, neste período de emergência e agora de calamidade em que o mundo virou do avesso e que as nossas certezas foram irremediavelmente abaladas (foram?), em que consegui quase distanciar-me da problemática Sporting, com pouca frequência do palco de guerra que é o Twitter e da algo feira de vaidades que é o Facebook, entrados nesta nova fase de desconfinamento e de regresso a uma nova "normalidade", não há como fugir. Aí está de volta as letrinhas mágicas SCP!
O cheiro a verde, a leões resistentes e lutadores, ainda que em guerras palacianas ou civis, fazem-me reentrar na órbitra, qual SpaceX (sim, não é só o nosso drone português que falha à primeira, que se compreende pois a gravidade é tramada...a alta tecnologia americana também, por uma simples nuvenzinha.- tinham, talvez, medo que fosse Juno e que este andasse a tomar hidroxicloroquina...), e a perceber que há mais vida para além da pandemia.
E que a saudade começa a bater forte pelo Sporting, pelo aplauso compassado e ritmado pelo tambor no Pavilhão João Rocha, pela esperança de que voltaremos a ver a equipa principal de futebol a jogar futebol, com conta, peso e medida e a lutar com honra em campo.
Não há como a ausência, o não ter, a distância para perceber e nos fazer sentir a importância da presença, do ter, da proximidade. Tem tudo a ver com sentimentos, a que paixão e amor não se podem dissociar. É verdade, estou com saudades do Sporting. Sem saudosismo nem sendo saudosista. Mas com saudades. Por isso digo, como cantava João Gilberto, esse monstro pai da bossa nova, "Vai minha tristeza... chega de saudade...". Quero o Sporting Clube de Portugal de volta!
Era só isto, e sem falar em Alcochete, Tribunal, Bruno, Varandas, pilares, frustração e desilusão. Só Sporting e saudades de Sporting!
Passam hoje 36 anos que Joaquim Agostinho representando o SCP cruzou uma meta pela última vez. Envergando a amarela, própria dos campeões. O atraso de Portugal em 1984, não existia serviço de neurocirurgia no Algarve, nem transporte aéreo hospitalar disponível, ditou que a queda fosse fatal, tendo o campeão falecido alguns dias depois em Lisboa, após várias operações. A lenda do ciclismo português permanecerá até à eternidade.
Julgo que, cada um à sua maneira, todos sentiremos saudades de Bruno de Carvalho (BdC).
Desde este blogue, pelas estatísticas fantásticas que atingimos, à CMTV (e respetivo jornal) pelas audiências e share alcançado, passando por todas as outras TV´s e jornais, desportivos em 1ª linha.
Se nos recordarmos do discurso vitorioso de BdC contra a comunicaçao social em geral, após os 90% alcançados na célebre assembleia de fevereiro dos estatutos, não podemos deixar de soltar um sorriso pela ironia que provoca a situação.
E o último mês confirma que não há BdC sem BdC. Felizmente que haverá Sporting, apesar de tudo...
Usando palavras, do nosso leitor Jorge Santos, que faço minhas / nossas:
«(… ) Permitam-me uma última nota (mais em jeito de lamento e de saudade): mesmo sem nunca ter assistido a uma grande conquista europeia, tenho IMENSAS saudades das "grandes noites europeias" que vivi no antigo Estádio José Alvalade, onde o Sporting (pelo menos em casa) se batia com qualquer equipa e raramente perdia. Sei muito bem que os tempos eram outros e totalmente diferentes, as equipas só podiam jogar primeiro com 2, depois com 3 estrangeiros e a diferença para os "monstros europeus" não era tão grande como actualmente [é] (…)»