No Sporting, é difícil alguns perderem a mania de gostarem sempre mais de quem esteve do que de quem está. Viu-se isso muito bem ao longo desta época com os suspiros de saudades que a partida de Eric Dier foi provocando em certas franjas de adeptos, transformando tal despedida em arma de arremesso contra Bruno de Carvalho. Isto apesar de o presidente do Sporting ter tentado dissuadir o jovem inglês de rumar ao futebol do seu país de origem após uma década de permanência no nosso clube, onde transitou desde os iniciados até à equipa principal.
Não foi possível fazê-lo mudar de ideias. Dier queria partir, o seu pai (e empresário) fazia força por isso e acima de tudo a anterior direcção tinha descurado os interesses do clube ao admitir por via contratual que um clube inglês pudesse resgatá-lo por apenas cinco milhões de euros. A menos que o Sporting cobrisse a parada salarial, algo impossível dado o precário estado das finanças leoninas.
Lá foi portanto o jovem para o Tottenham, onde tem feito uma época muito desequilibrada. Falando-se já do interesse do clube em prescindir dele na próxima temporada.
Nem isso, no entanto, calou os nostálgicos de serviço.
Mas vejamos estas imagens do jogo Manchester United-Tottenham, que os "red devils" venceram ontem por 3-0. Dier alinhou como titular, com a camisola número 15. E esteve, com manifesta infelicidade, em pelo menos dois dos golos. Sobretudo no terceiro, festejado por Rooney com a exuberância que a imagem mostra.
Interrogo-me: o que não se diria dele se cometesse estes erros ao serviço do Sporting?
Moral da história, como não me canso de repetir: só faz falta quem está.
Não sei qual é a vossa opinião, mas para mim este Campeonato do Mundo está a ser um dos melhores. Já vi jogos excelentes, muito emotivos e bem disputados. Jogos em que os ataques se sobrepuseram às defesas, em que a ousadia suplantou o calculismo táctico, em que algumas das equipas menos cotadas surpreenderam os habituais coleccionadores de vitórias.
Inglaterra-Itália, Chile-Espanha, Brasil-México e Espanha-Holanda foram alguns desses jogos que perdurarão na memória de milhões de aficionados desta modalidade no mundo inteiro.
Hoje vi mais um para juntar aos restantes: o Inglaterra-Uruguai, disputado no estádio do Corinthians.
Parecia um daqueles desafios de outros tempos, antes de o desporto-rei ser capturado pelos catedráticos da táctica, mestres no "processo defensivo" (como agora se diz), cultores do futebol aferrolhado.
Foi um jogo aberto, dinâmico, veloz e virado para o golo.
Um jogo em que as dinâmicas colectivas sobressaíram, mas algumas individualidades fizeram a diferença.
Pelo Uruguai, Luis Suárez (regressado após lesão e já considerado um dos melhores jogadores deste Mundial), Cavani (autor de uma monumental assistência para golo) e Alvaro Pereira, que embora lesionado na cabeça - num choque ocasional com Sterling em que chegou a perder os sentidos - fez questão de permanecer em campo, dando assim uma enorme lição de tenacidade e resistência. De profissionalismo, em suma.
Pela Inglaterra, o jovem Sterling - que prometeu mais do que concretizou nesta sua estreia num Mundial, o guarda-redes Joe Hart (autor de uma defesa quase impossível) e sobretudo Wayne Rooney, o mais inconformado dos ingleses: marcou um golo - o seu primeiro num Campeonato do Mundo - e quase marcou outro, quando a bola embateu na barra.
A emoção durou até ao fim. Também como sucedia quase sempre nos velhos tempos. E até por isso é com mágoa antecipada que nos despedimos da Inglaterra, quase sem hipóteses de seguir em frente após duas derrotas tangenciais consecutivas. Mas ninguém pode acusar os ingleses de não se terem batido com garra, brio e valentia. Perderam, mas nunca viraram a cara à luta. Exemplares também por isso.
Inglaterra, 1 - Uruguai, 2
Luis Suárez: dois grandes golos
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