Todos sabemos duas coisas: que Sporting e Benfica são os únicos clubes portugueses ecléticos com dimensão nacional e que quando eles se conseguirem entender sobre verdade desportiva e competições desportivas isentas de controlos mafiosos mais se acentuará a repartição dos títulos e sucessos entre os dois.
Está à vista de todos o buraco financeiro em que o maior clube do Porto se encontra, a baixa de qualidade das suas equipas e as dificuldades das autarquias da região do Porto justificarem as benesses e os tratamentos de favor que lhe prestam.
Então quais foram os resultados nos últimos confrontos entre os dois, os famosos dérbis?
Futebol - Sporting 2 - Benfica 1 (29/02/2024)
Futebol Fem - Benfica 1 - Sporting 3 (26/11/2023)
Futebol B - N/E
Futebol Sub23 - Sporting 5 - Benfica 2 (30/01/2024)
Futebol Sub19 - Sporting 0 - Benfica 1 (08/12/2023)
Futebol Sub17 - Benfica - Sporting a disputar 03/03/2024
Futebol Sub15 - Sporting 1 - Benfica 5 (17/02/2024)
Hóquei em patins - Benfica 6 - Sporting 1 (11/02/2024)
Futsal - Sporting 7 - Benfica 3 (17/02/2024)
Para um Sportinguista, vencer um dérbi será sempre um enorme prazer seja em que modalidade for, a rivalidade entre os dois emblemas é tremenda e uma força indispensável à evolução do desporto em Portugal, mas quando sabemos que o rival está a gastar como nunca na ilusão da hegemonia lampiónica do desporto em Portugal ainda mais.
Deixando o futebol sub17 de lado, porque o primeiro dérbi da fase final é esta semana mesmo. São 7V e 4D para o Sporting nos últimos dérbis.
Compreendo as críticas a alguns adeptos do Sporting pelos cânticos entoados aquando da receção aos campeões europeus de futsal. Sou daqueles que sempre viram o Sporting como o clube exemplar, e justamente por isso acham que o Sporting deve dar o exemplo em tudo. Mas o dever dar o exemplo não implica que não vejamos as coisas como elas são. Incomparavelmente mais graves que os cânticos ouvidos na semana passada no Pavilhão João Rocha são cânticos evocando mortes e reproduções do som de "very-lights". Era isto que uma imprensa desportiva imparcial deveria fazer ver. Mas, pela atenção que dedicam a uns e não aos outros, não parece ser essa a opinião deles.
Dada a hora tardia a que se inicia (21h30), o Clássico da próxima quarta-feira não deverá terminar antes das 23h30, após os tradicionais descontos de tempo de ambas as partes e os habituais atrasos no regresso das equipas ao campo, pós-intervalo. Se a isto somarmos a "Flash-Interview", as Conferências de Imprensa e o escoamento dos adeptos, o Estádio da Luz não fechará as suas portas antes da meia-noite e as notícias provenientes da Luz ecoarão pela madrugada adentro.
Frente-a-frente vão estar duas equipas a atravessar momentos de forma distintos. Ao contrário do que muitas vezes é afirmado nos jornais, trata-se de um mito urbano a ideia de que a equipa que está melhor não é necessariamente a favorita neste derby específico. De facto, a história diz-nos que habitualmente ganha o mais forte, embora haja excepções. Entre as mais famosas, sem dúvida que emerge a frustração causada ao nosso rival, em sua própria casa, na penúltima jornada da época 1985/86, jogo que, ao vencermos por 2-1 (golos de Manuel Fernandes e Morato), permitiu ao FC Porto ultrapassar o Benfica e sagrar-se campeão. Em sentido contrário, o golo de Sabry em Alvalade, na época 1999/2000, veio adiar por uma semana os festejos da interrupção de um jejum de 18 anos.
Tendo presente que uma equipa é muito mais do que a soma da valia dos seus jogadores, ainda assim esboçaremos de seguida um frente-a-frente, jogador a jogador, por posição no terreno, para esse efeito dispondo ambas as equipas num sistema táctico 4-3-3, de forma a tentar percepcionar quem está mais forte neste momento:
Rui Patrício vs Bruno Varela: depois de um início titubiante, quiçá vítima de uma aposta feita de avanços e recuos por parte do seu treinador, Bruno Varela parece ter agarrado o lugar na baliza, adiando a imposição de um jovem prematuramente, e sem qualquer sentido, endeusado pela imprensa (Svilar). Apesar do acréscimo de confiança nas suas possibilidades, Varela está bastante atrás de Patrício. Este é hoje o incontestado guardião das redes nacionais. Rui é um guarda-redes maduro e que tem vindo a evoluir, tanto na saída aos cruzamentos como a jogar com os pés. Entre os postes e na "mancha" a adversários que lhe aparecem isolados está um "monstro".
Tendência: 1X2
Cristiano Piccini vs André Almeida: o benfiquista tem mais experiência de jogar derbies. Apesar de contribuir pouco, do ponto-de-vista atacante, num jogo deste tipo o seu desempenho defensivo pode ser importante para a equipa. Do outro lado temos o italiano. Piccini tem vindo a evoluir bastante mais do que os adeptos esperariam depois de o ver jogar na pré-época. É uma das sensações do momento, no entanto, dada a sua falta de experiência a este nível, aqui vou apostar no equilíbrio de forças.
Tendência: 1X2
Sebastián Coates vs Ruben Dias: o jovem benfiquista é uma das surpresas desta época. Não tem garantida a sua titularidade nesta partida (Lisandro pode ser opção), mas é crível que Rui Vitória venha a apostar nele. Embora promissor, Ruben perde para o uruguaio em quase tudo. Num derby deste tipo e com a pressão que paira no ar, este jogo será um teste de fogo para o português. Aposto em Coates, o qual tem a seu favor maior experiência e outra autoridade, tanto na defesa como nas bolas paradas ofensivas.
Tendência: 1X2
Jérémy Mathieu vs Jardel: ambos muito experientes, a balança pende para o francês, dada a sua superior qualidade técnica, classe e preponderância na bola parada. Excelente marcador de livres directos e com presença importante nos pontapés-de-canto, Mathieu suplanta Jardel, embora o benfiquista também seja perigoso na conclusão de bolas paradas ofensivas.
Tendência: 1X2
Fábio Coentrão vs Grimaldo: dois jogadores muito atreitos a lesões. Fábio tem vindo a melhorar bastante do ponto de vista físico e isso nota-se na sua maior incorporação nos movimentos ofensivos da sua equipa. Grimaldo, no seu melhor, é um jogador perigosíssimo, com excelente qualidade no cruzamento. Difícil escolha.
Tendência: 1X2
William Carvalho vs Fejsa: o sérvio, tal como Danilo, é o jogador ideal para a posição "6" de um grande. Um "bicho", Fejsa garante o equilíbrio necessário à estabilidade do meio-campo encarnado. William é um jogador superior do ponto de vista técnico, com melhor passe entrelinhas e à distância. No entanto, num jogo com estas características, o roubo de bola sistemático tendencialmente catapulta uma equipa, pelo que dou favoritismo ao benfiquista, visto que William ainda não regressou, do ponto de vista defensivo, ao nível que nos habituou com Leonardo Jardim.
Tendência: 1X2
Rodrigo Battaglia vs Pizzi: o argentino é um dos jogadores que mais me têm entusiasmado esta época. Julgo até que ainda pode elevar o seu patamar de jogo, ele que me parece ser ainda vítima de alguma indefinição no seu posicionamento por parte de JJ, alternando jogar atrás, ao lado ou à frente de William, não estabilizando ainda a sua posição natural. Pizzi foi elemento essencial nas conquistas dos campeonatos de 15/16 e de 16/17 (casos à parte) pelo Benfica. Esta época parece estar abaixo do seu potencial, mas ainda assim, pela sua maior experiência de derbies e pela sua maior influência no jogo, aposto nele.
Tendência: 1X2
Bruno Fernandes vs Krovinovic: o croata era um dos homens pretendidos por Jorge Jesus para o Sporting, numa corrida pela aquisição do antigo médio vilacondense perdida para o Benfica. Vai de aí, saiu a sorte grande e a terminação ao treinador leonino, porque a subsequente contratação de Bruno Fernandes adicionou, claramente, categoria ao futebol da equipa. Bruno é, como o demonstram as estatísticas, o jogador mais influente do Sporting e, embora o benfiquista seja um bom jogador e com bastante futuro, a balança pende para o jogador leonino.
Tendência: 1X2
Gelson Martins vs Sálvio: o argentino é um jogador muito experiente e que, inclusive, já resolveu alguns derbies, mas Gelson é, hoje por hoje, o jogador que mais desequilíbrios causa no futebol português. Contra si, tem o facto de ainda não ter realizado o derby da sua vida, ao contrário de Sálvio. Neste caso, fico-me pelo empate.
Tendência: 1X2
Bas Dost vs Jonas: um duelo de titãs. Se por um lado, quando olhamos para o holandês, associamos Dost a golo, por outro, o que dizer de Jonas? Se as equipas adoptassem o 4-4-2, escolheria sempre o brasileiro para a posição de "mezzapunta", nesta conformidade entendo que Jonas sai prejudicado por jogar sozinho na frente. Ambos não têm sido decisivos nos grandes jogos pelo que me fico pelo empate técnico.
Tendência: 1X2
Marcus Acuña vs Cervi: o benfiquista é um jogador mais desequilibrador e que ajuda bem a defesa. No derby do ano passado, e depois da desastrada opção de Vitória por Danilo, foi com a sua entrada em campo que o Benfica conseguiu esconder a bola e assim aliviar a intensa pressão ofensiva do Sporting. Do outro lado, temos o "touro", o "muro", o atlético Acuña, um jogador com grande compromisso defensivo, melhor a explorar o espaço interior do que Cervi, e com grande capacidade de cruzamento. Num jogo que se prevê de grande intensidade, fico-me com Acuña.
Tendência: 1X2
Em suma, teremos um derby equilibrado. Supremacia do Sporting na defesa e equilíbrio daí para a frente. Como os jogos habitualmente se começam a ganhar na defesa, entendo que o Sporting parte em vantagem para a Luz, pelo que a derrota leonina será, à partida, o resultado menos previsível. No entanto, os números dizem-nos que nos 21 confrontos deste milénio disputados da Luz (para campeonato, Taça e Taça da Liga), o Sporting apenas venceu 5, empatando por 6 vezes. E os nossos comentadores, o que pensam disto?
P.S. A minha previsão ao estilo "Tudo ao molho e FÉ em Deus":
Haverá um défice de comunicação (e de concentração, no sentido físico e não mental do termo) no meio-campo encarnado, eventualmente sentindo o peso da ausência do outrora bem-amado ex-jogador do Damaiense, Pedro Guerra. Ao testemunhar o estado da sua equipa, na Tribuna de Honra, Luis Filipe Vieira vociferará contra Rui Vitória, pedindo a Paulo Gonçalves que lhe baixe a "nota" que recebe no final do mês. Sem o Espírito Santo, com Jesus do outro lado da 2ª Circular e o "arcanjo" Gabriel ausente no Dubai a patrocinar prémios para a melhor Academia do mundo, faltará quem traga a boa-nova ao futebol benfiquista. Em consequência, obviamente ganhará o Sporting!!!
Numa hora destas, em que aumenta a crispação entre os mais extremistas adeptos dos 3 Grandes e em que somos permanentemente invadidos com novas revelações do caso dos emails e, agora também, de suspeitas sobre viciação de resultados desportivos, ambas as situações alegadamente envolvendo o emblema da Luz, o pior que podemos fazer é tender para a generalização sobre os benfiquistas, o seu comportamento, a sua integridade, em suma os seus valores.
O Benfica é um emblema histórico português e europeu, bicampeão europeu em finais memoráveis contra os colossos Barcelona e Real Madrid. O clube do fabuloso Eusébio da Silva Ferreira, dos presidentes Joaquim Ferreira Bogalho - que construiu o primeiro Estádio da Luz - e Maurício Vieira de Brito e do treinador Béla Guttman. Por conseguinte, o Benfica, enquanto clube, e os benfiquistas, em geral, merecem de nós, sportinguistas, o maior respeito. Embora rivais e muitas vezes um osso demasiadamente duro de roer, a grandeza do Benfica e os memoráveis despiques que com ele travámos, ajudaram também a construir a aura de glória do enorme Sporting Clube de Portugal. Dito isto, ambos não seriam tão grandes se não houvesse o outro, porque com dizia Auguste Comte, pai do Humanismo,"tudo na vida é relativo e esse é o único valor absoluto".
O Benfica não são cartilhas, não são determinados comentadores televisivos, não são os casos que tristemente vêm sendo do conhecimento público. Nesse sentido, porque entendo que não devemos confundir a árvore com a floresta e num sentido respeito que nutro pelos meus amigos benfiquistas, trago aqui hoje 2 homens que são parte indelével da história benfiquista e que, no meu entender, são também um exemplo do que é o saber estar no desporto.
Comecemos por Duarte Borges Coutinho. De raízes açorianas - ostentava o título nobiliárquico de Marquês da Praia - Borges Coutinho foi presidente do Benfica entre Abril de 1969 e Maio de 1977. Nesse período, o Benfica ganhou 7 campeonatos em 9 possíveis (perdeu apenas os títulos de 69/70 e o de 73/74 para o nosso clube). Não deixando de ser um fervoroso adepto do futebol (dizia-se que tinha um jeito especial para detectar bons jogadores), destacou-se pela sua urbanidade, educação. Era um "gentleman", um Senhor! Honrado, aventureiro no bom sentido e dono de grande carácter, ouvi há dias Toni dizer que participou na Segunda Grande Guerra, como aviador, ao serviço das forças aliadas, mesmo tendo Portugal declarado a sua neutralidade.Era um aristocrata que gostava do povo, amava o balneário e o convívio com os jogadores e, apesar disso, tinha destes um respeito reverencial.
O outro nome que aqui trago é o de António Conceição Oliveira (Toni). Cresci a ouvir relatos de jogos em que ele participava. Na maioria das vezes contra o meu Sporting. Muitas tristezas me deu nesse período. Mesmo no primeiro título do Sporting de que tenho memória, o do Yazalde (73/74), não me esqueço de que perdemos os 2 jogos contra o Benfica, o último dos quais no nosso Estádio e por 3-5, partida que recordo na pequena homenagem que dediquei ao grande Hector Yazalde, aqui no blogue, na rúbrica Recordar. Grande capitão, Toni foi sempre um jogador valente, mas leal. Recordo-me especialmente de uma final da Taça de Portugal em que, depois de ter lesionado involuntáriamente o jogador portista Marco Aurélio, ao dar-se conta da gravidade da mazela não aguentou as lágrimas e, consternado, pediu para saír do campo. Esse exemplo que me ficou, de homem e de jogador de carácter, ainda hoje perdura na minha memória. Como treinador foi igual a si próprio: entrou, ganhou e saiu sem alarido. Do seu palmarés constam 10 títulos de campeão nacional (8 como jogador e 2 como treinador) no Benfica, aos quais junta 5 Taças de Portugal (uma como treinador). E já nem falo aqui dos seus inúmeros títulos como adjunto, cargo esse que ocupou sempre com grande lealdade para com o(s) seu(s) chefe(s). É triste, muito triste, vêr homens como Toni não caminharem para novos. Ele é um exemplo do que é saber estar no desporto, pela sua bonomia, pela capacidade de saber estabelecer pontes, não fechar portas, pelo seu desportivismo, por nunca o sucesso lhe ter subido à cabeça, ele que até foi atraiçoado mais do que um punhado de vezes por gente que não o mereceu.
Evocando estes nomes, para além da merecida homenagem a estes rivais que nos obrigaram a ser mais fortes, pretendo mostrar que ser do clube A,B ou C não é garantia de nada. Há maus exemplos, mas também existem, felizmente, vários casos de pessoas que, mesmo contribuindo para a nossa frustração, não podemos deixar de admirar. Quando pensamos num futebol limpo, os nomes de Borges Coutinho e de Toni, como os de João Rocha e Peyroteo vêm-me logo à cabeça. Neles me revejo e neles estabeleço a confiança no futuro que aí vem. Ainda há homens valorosos e bons.
{ Blogue fundado em 2012. }
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