Venho dar-te os meus calorosos parabéns, meu caro Bruno. Felicitando-te pelo teu jogo de ontem. Foste a figura do decisivo desafio que acaba de nos colocar na rota do Campeonato do Mundo - e bem mereces esta distinção. Vencemos por 2-0 a briosa Macedónia do Norte que havia derrotado a Alemanha e eliminado a Italia, campeã da Europa.
Os dois golos da partida foram marcados por ti.
Espero que tenham servido para calar de vez os teus detractores. Aqueles que insistem em dizer que não deves ser titular da selecção nacional. Que não rendes, que não corres, que não brilhas, que não marcas.
São os do costume: aqueles que estão sempre prontos a denegrir os compatriotas que se destacam da mediania, alvejando-os com estas balas letais que são as palavras. Dando assim razão a uma escritora francesa contemporânea que nos alerta: «A liberdade de odiar jamais esteve tão descontrolada nas redes sociais, mas a liberdade de falar e de pensar nunca esteve tão vigiada na vida real.»
Por vezes até parece que precisamos de pedir licença para elogiar os nossos. Para enaltecer aqueles que demonstram estar à altura dos melhores futebolistas do globo.
Não por acaso, a tua saída do Sporting para o Manchester United constituiu a maior receita de sempre em Alvalade.
Não por acaso, tens brilhado na Premier League. Confirmando esta triste realidade: é sempre mais fácil um português suscitar aplauso entre os estrangeiros do que entre os próprios compatriotas.
Pergunta ao Cristiano Ronaldo, que ontem esteve a ser alvejado durante largos minutos por vários comentadores na TV. Coitado, ele cometeu o pecado de não ter assinado qualquer golo contra a Macedónia. Apenas te ofereceu de bandeja o primeiro, que tão bem marcaste.
Se alguém merece estar no Mundial és tu, meu caro Bruno Fernandes.
Confesso-te que vibrei ainda mais com esta qualificação de Portugal - a sexta consecutiva, não falhámos uma presença numa fase final do certame máximo do futebol neste século XXI - por teres sido tu a figura do jogo. E ver-te ovacionado por 48 mil espectadores no Dragão, incluindo por gente que ali certamente te assobiou noutros tempos, quando lá jogaste vestido de verde e branco.
Aquele teu segundo golo, que aos 65' confirmou a nossa presença no Catar fazendo levantar o estádio, é um excelente emblema desta modalidade que continua a apaixonar o mundo. Previste a manobra do Jota, que te serviu a partir da esquerda com um magnífico passe longo, correste para o local exacto onde a bola ia cair e nem a deixaste pousar: trataste logo de disparar a bomba com o teu pé-canhão.
Um dos primeiros a felicitar-te, aposto, foi o teu amigo Stefan Ristovski. Ontem, por uma vez, eram adversários. Mas ele até colaborou naquela perda de bola aos 32' que permitiu um rapidíssimo contra-ataque português - e o teu primeiro golo, em parceria com o Ronaldo. Confirmando que o valor supremo do futebol é demonstrar à sociedade que o todo consegue ser maior do que a soma das partes.
Desporto colectivo, como antes se dizia, quando os comentadores usavam uma linguagem simples e clara.
Se alguém percebe disso, és tu.
Deixa os imbecis ganir.
Deixa os invejosos destilar fel anónimo nas redes ditas sociais.
Não dês importância àqueles que se dizem sportinguistas mas ainda te insultam quando já comprovaste ser mais Leão do que qualquer deles.
Tu vais ao Mundial - supremo patamar na carreira de um futebolista. Enquanto eles ficam, cada vez mais afundados no sofá.
Estás de parabéns, meu caro: contra todas as expectativas, a tua selecção - a Macedónia do Norte - venceu ontem a squadra azzurra que assim fica de fora do Mundial do Catar, falhando pela segunda vez consecutiva uma qualificação para a prova máxima do futebol a nível planetário.
Confesso que me deu muito gozo este vosso triunfo, ainda por cima numa partida disputada em solo italiano. Roberto Mancini, o seleccionador transalpino, deve estar de orelhas a arder, com milhões de adeptos no seu país a exigir que se demita.
Nós, portugueses, pelo contrário, vencemos. Mas supreendentemente, ou talvez não, muitos compatriotas assumem que preferiam ter perdido. Porque gostariam de «ver corrido o seleccionador», porque garantem que só iremos ao Catar «perder tempo», porque o fracasso é uma espécie de bandeira para adeptos incapazes de conviver com o sucesso.
Vá-se lá saber porquê.
Eu sou de um tempo em que púnhamos a selecção acima das paixões clubísticas. Um tempo em que as pulsões identitárias de matriz tribal ainda não tinham contaminado o futebol: nos jogos contra equipas estrangeiras, fosse a nível de clubes ou de selecções, apoiávamos os emblemas portugueses - sempre vistos como rivais, nunca como inimigos. Guardávamos a saudável rivalidade para as competições internas.
Por isso vibrei com a vitória portuguesa desta noite frente aos turcos. Numa equipa em que o melhor em campo foi o portista Otávio e em que o nosso Matheus Nunes se estreou a marcar com as cores nacionais, saltando do banco para apontar o terceiro golo português.
Enquanto a Itália se afundava, nós despachávamos os turcos por 3-1. E podíamos ter ampliado a vantagem: Cristiano Ronaldo fez a bola embater na barra no último lance do desafio.
Tenho agora esperança reforçada de que estaremos no Mundial. Marcando presença, uma vez mais, num grande certame desportivo a nível de selecções - algo que acontece ininterruptamente desde 2000. O período mais longo de sempre de sucesso da chamada "equipa de todos nós".
Habituei-me a chamar-lhe assim em miúdo e já não mudo. É contra a corrente dominante? Quero lá saber. Faço questão em continuar assim.
Desejo-te tudo de bom. Excepto, claro, a qualificação da tua Macedónia no embate que travaremos na próxima terça-feira.
Espero que torças depois por Portugal no Campeonato do Mundo. Para mim és um português adoptivo. E serás Leão, sempre. É quanto basta para te deixar aqui um forte abraço.
É um prazer ver em acção o futebol de ataque dos ingleses. O quarteto composto por Sterling, Mount, Foden e Kane teve ontem 25 minutos iniciais estonteantes no confronto com a Croácia em Wembley. Infelizmente sem reflexos no marcador: o melhor que conseguiram foi um tiro aos ferros, disparado aos 6' por Foden, craque do City.
A Croácia tem um fio de jogo semelhante ao português: gosta de transportar a bola e cultiva o passe curto. Falta-lhe, no entanto, poder de fogo lá na frente: o primeiro remate, assinado pelo capitão Modric de meia distância, ocorreu só aos 55'.
O público presente nas bancadas empurrava a sua selecção, procurando desfazer um mito: nunca os ingleses haviam vencido um desafio inaugural de fases finais, tanto no Mundial como no Europeu. Uma tradição que se manteve tempo de mais.
Kane arrastava os defesas adversários, Mount funcionava como acelerador, Sterling confirmava a sua fabulosa capacidade de desmarcação. E foi numa destas manobras ofensivas desenhadas a régua e esquadro que surgiu o golo do triunfo inglês: Kalvin Phillips, numa digonal perfeita, coloca a bola em Sterling, que não perdoou, antecipando-se ao guarda-redes. Era o minuto 57, estava fixado o resultado. As tradições, muitas vezes, servem para isto mesmo: para serem desfeitas.
Para um sportinguista, o Áustria-Macedónia do Norte, ontem disputado em Bucareste, tinha como principal atractivo ver actual Ristovski, ex-lateral direito em Alvalade. Ao serviço do seu país, mantém as qualidades e defeitos que revelou de verde e branco: combativo, voluntarioso, indisciplinado.
Vitória natural dos austríacos, capitaneados pelo astro Alaba, que não tardará a estrear-se no Real Madrid. Há jogadores que fazem sempre a diferença em campo: é o caso deste lateral-esquerdo, um dos melhores do mundo em actividade. Destaque também para o médio Sabitzer: grande exibição a servir os parceiros lá na frente.
Numa partida debaixo de chuva, uma das figuras em foco foi o capitão Pandev, que aos 28' marcou o golo inaugural da Macedónia do Norte numa fase final de uma grande competição futebolística. Passa à história ainda antes de festejar o 38.º aniversário: é um dos jogadores mais velhos neste europeu.
Precisamos de reforçar a posição de lateral direito. Pedro Porro - espanhol semi-alentejano pois nasceu em Badajoz - é o titular indiscutível desde o início desta época. Mas há um notório défice de alternativas - ao ponto de já se especular sobre a possibilidade de Antunes se adaptar à posição, o que parece longe de ser a solução ideal. Bruno Gaspar e Rafael Camacho, hipóteses no plano teórico, estarão totalmente fora de equação. Hevertton, capitão da nossa equipa sub-23, poderá ser promovido, mas só tem 19 anos e de momento já contamos com elementos muito jovens em número suficiente no onze principal.
Havendo no entanto carências na nossa lateral direita e vindo Ristovski de uma boa prestação pela selecção do seu seu país, que acaba de qualificar-se pela primeira vez para a fase final de um Campeonato da Europa, com ele a titular, impõe-se a pergunta que aqui vos deixo: deve Amorim superar o contencioso com o jogador e recuperá-lo para a equipa principal?
Ontem em Paços de Ferreira vimos uma equipa do Sporting que, embora atravessando as maiores dificuldades em termos de disponibilidade do plantel, treinador incluido, para treinar e jogar, entrou em campo lançada ao ataque para resolver o jogo bem depressa. Assim deverá ser sempre: contra as equipas pequenas o tempo joga sempre a desfavor.
Mais uma vez a falta dum artilheiro fez-se sentir. Se contra os escoceses foi Jovane, agora foi Tiago Tomás que esteve particularmente desastrado em frente à baliza adversária e foi preciso o apitador de serviço, no intervalo da sinfonia de amarelos com que brindou o Sporting, descortinar um penálti pelo facto de Tanque ter levado com uma bolada no braço, para nos adiantarmos no marcador. Valha a verdade que pelo menos estava de frente para a bola: em Portugal já vimos muitas vezes coisas semelhantes e em Inglaterra a coisa foi ainda bem pior, com o nosso Eric Dier, de costas para o adversário, a levar também com a bola no braço, o Mourinho a perder dois pontos nos descontos e o treinador adversário a dizer que "é um total disparate... isto tem de acabar". Isto é a lei da "bola na mão" ou a interpretação da mesma feita pelos árbitros.
O golo, a lesão de Jovane poucos minutos depois e o teatro constante dos jogadores do Paços acabaram por desconcentrar o Sporting. Tiago Tomás foi egoísta e estragou uma jogada de golo. Chegámos ao intervalo com a vantagem mínima. O intervalo fez bem à equipa e passámos a controlar o adversário sem grandes problemas, ganhando tranquilamente. Adán, que esteve muito bem a desfazer dois centros do Paços e a colocar a bola à distância, não teve um remate enquadrado para defender.
Se a equipa valeu pelo todo, com Coates "el patron" imperial, os dois alas, Porro e Nuno Mendes, estiveram particularmente bem. Matheus Nunes é aquele jogador de que muitos não gostam, mas luta que se farta, varia jogo com qualidade, tem sido o carregador do piano que Wendel toca naquele meio-campo.
Bragança dá gosto ver jogar. Com Palhinha, Matheus Nunes, Wendel e também Pote temos um meio-campo com muitas soluções, sendo que Wendel se assume como titular indiscutível.
No ataque Amorim tem procurado tirar o melhor partido do plantel disponível e fisicamente capaz. Esta ideia de alinhar com três avançados móveis bem perto uns dos outros está a dar frutos, retirando referências e baralhando marcações às equipas adversárias, mas não chega para o que aí vem. Embora reconhecendo o esforço de Sporar, falta mesmo alguém que do pouco faça golos.
PS: Entretanto parece que se confirma que Ristovski é uma carta fora do baralho de Amorim. Depois de Plata, ontem foi Nuno Mendes que substituiu Porro na ala direita. A Bola fala na possível promoção de Bruno Gaspar. Já que ninguém pega num jogador que custou 5M€...
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre RISTOVSKI:
- Luís Lisboa: «Se toda a equipa esteve bem (Eduardo à parte), hoje gostei particularmente dos patinhos feios Ristovski e Doumbia.» (16 de Dezembro)
- Edmundo Gonçalves: «Perguntem ao Ristovski o que é ser alvo do fair-play do Vitória de Setúbal, que ele foge mais depressa do que da Academia em dia de invasão.» (10 de Janeiro)
- Pedro Oliveira: «Como poderia ele tirar dali aquela bola com o avançado mergulhador e cavador de expulsões a empurrá-lo com os dois braços?» (16 de Fevereiro)
- JPT: «Ristovski é esforçado e chega... como suplente.» (12 de Julho)
- Eu: «Não tem lugar no plantel de uma equipa com as aspirações do Sporting. Voltou a demonstrar a sua falta de categoria nesta partida em que o Sporting se despediu de Alvalade (com as bancadas vazias) na Liga 2019/2020. Incapaz de um cruzamento em condições, incapaz de um passe bem orientado, incapaz de dominar bem a bola na maior parte das vezes em que é convocado pelos colegas.» (21 de Julho)
- Leonardo Ralha: «Prosseguiu a sucessão de exibições medíocres que servem para realçar o fraco nível das alternativas Rosier e Rafael Camacho. Permissivo a defender e inoperante a atacar, o macedónio especializou-se nas perdas de bola junto à grande área.» (28 de Julho)
Passou quase toda a primeira parte como um espectador, sendo praticamente o único naquele sector do estádio que conseguiu presenciar o jogo desde o apito inicial – e presumivelmente sem lhe revistarem as chuteiras. A segunda parte foi mais parecida com o registo da equipa leonina nos tempos mais recentes, e fez uma defesa providencial antes de não conseguir travar o pontapé de pénalti que tornou ligeiramente menos certo que a melhor exibição do Sporting nesta temporada garanta que não haverá Alvaladexit após a viagem à Turquia.
Ristovski (3,5)
Além da assistência que terminou a seca de golos de Sporar, o macedónio destacou-se pelo contributo na construção de ataques, provando conseguir ser mais perigoso no 4-3-3 ou 4-2-3-1 ou lá o que é do que no 3-5-2. Do ponto de vista defensivo viu-se acossado com a presença de muita actividade subversiva no seu quadrante ao longo da segunda parte. Mas não foi por aí que os turcos chegaram ao cuscuz.
Coates (4,0)
O Sporting estava à beira do abismo e o central uruguaio deu o passo em frente. No sentido em que se adiantou aos adversários, esticou a perna e desviou o pontapé de canto cobrado de forma irrepreensível por Acuña. Colocou a equipa em vantagem logo no arranque e depois esmerou-se nos passes longos e na custódia da sua grande área, acumulando mais triunfos nos duelos aéreos com os turcos do que a aviação do regime sírio. Próximo desafio, depois de não poder ajudar na recepção ao Boavista: garantir que os leões passam aos oitavos de final da Liga Europa com Tiago Ilori no onze titular.
Neto (2,5)
Realizou dois ou três cortes importantes “à queima”, fruto da contra-ofensiva turca na segunda parte, pelo que não deixa de ser irónico que lhe tenha sido assinalada uma grande penalidade num lance em que está muito longe de ser evidente que tenha cometido qualquer infracção. Assustou os adeptos que puderam entrar a tempo em Alvalade ao parecer tocado durante o aquecimento, numa antecipação do que será ver Ilori elevado à titularidade nos próximos dois jogos.
Acuña (4,0)
Executou o canto que arrombou o marcador “à patrón” e nunca mais deixou de fazer coisas acertas e de pôr tudo aquilo que é nas mais pequenas coisas que faz. Intratável apenas na conquista, manutenção de posse e endosse de bola, pareceu possuído pelo espírito de Maradona (é possível que qualquer familiar de Diego que estivesse a ver o Sporting-Basaksehir tenha corrido a aproximar um espelho da sua boca para verificar se este se havia finado) numa arrancada junto à linha. Ter o lateral-esquerdo, médio, extremo e tudo no plantel é uma das maiores alegrias que restam aos sportinguistas que preferem vencer as equipas adversárias a derrotar as suas próprias claques.
Battaglia (3,5)
Vincou a sua principal diferença em relação à concorrência interna: sabe o que fazer com uma bola de futebol. Mais do que ser uma primeira barreira ao ataque turco – incipiente na primeira parte, mas cada vez mais constante na segunda –, revelou-se um primeiro urdidor de futebol ofensivo, no sentido da palavra que não gera assobiadelas. E ainda voltou a ficar perto de marcar, num remate dentro da grande área que foi desviado pelo guarda-redes turco.
Wendel (3,0)
Foi o mais discreto da equipa na fulgurante primeira parte, sem por isso deixar de cumprir na circulação criteriosa de bola que foi uma das chaves do sucesso depois de sucessivos jogos feitos de marasmo. E o certo é que tirou proveito das reservas de energia de que ainda dispunha no final da segunda parte, altura em que diversos colegas já davam sinais de desgaste preocupantes.
Vietto (4,0)
Regressou à equipa titular com intenção de deixar marca e assumiu-se como o substituto de Bruno Fernandes que teria sido desde o início da temporada caso a transferência do capitão tivesse ocorrido em Agosto e Raphinha e Bas Dost ainda trajassem de leão ao peito. Rei do meio-campo ofensivo e municiador dos colegas, ficou perto de marcar logo no início do jogo, sendo atrapalhado por Bolasie. Nem por um instante esmoreceu, impondo a sua construção, tijolo por tijolo, para gáudio das bancadas e desconforto dos visitantes. Quando na segunda parte chegou a hora de marcar, vendo-se frente a frente com o guarda-redes, agiu com uma frieza difícil de encontrar em quem tantas vezes se vê legitimamente acusado de “não ter golo”. Provou que não teria de ser necessariamente assim e agradeceu com uma vénia aos milhares que o aplaudiram, sem distinguir entre “croquetes” e “escumalha”. Mantenha a qualidade de jogo, a assertividade de decisão, e a inteligente leitura do ambiente que o rodeia e poderá ser uma das chaves para um Sporting mais saudável. Juntou-se, para já, a Coates na equipa da semana da Liga Europa e, tendo até em conta que a sua transferência é desaconselhada pelo acordo que Jorge Mendes engendrou, convém que por Alvalade se mantenha por muitos e bons.
Jovane Cabral (3,5)
Ciente de que a aura de “arma secreta” o condena a longos minutos de banco e aquecimento, acelerou o futebol leonino desde o primeiro instante, em absoluto contraste com a contemplativa placidez demonstrada por Rafael Camacho enquanto titular recorrente. Sendo verdade que nem sempre decide da forma mais perfeita, ao ponto de o seu melhor remate ter sido precisamente a recarga para o golo apenas anulado por ter sido antecedido por fora de jogo de Sporar, teve o condão de nunca se esconder e de fazer tudo para resolver a eliminatória. Detalhes como o toque de calcanhar que serviu de alicerce ao terceiro golo do Sporting impõem que seja a primeira opção, ainda que o seu tipo de desgastante movimentação desaconselhe que permaneça em campo muito mais do que uma hora.
Bolasie (3,0)
O “trapalhonismo” que dele irradia custou um golo cantado que teria ampliado o marcador nos primeiros minutos de jogo, pois não aproveitou a assistência de Sporar e não deixou que Vietto a aproveitasse. Também voltou a enredar-se na sua afamada finta, quase tão autofágica quanto a incapacidade de voar foi para os extintos dodós, e até a assistência que assinou para o terceiro golo teve o seu quê de mal-amanhada. Dito isto, voltou a dar o seu melhor, a impor a estampa física e a recorrer à velocidade em prol da equipa, numa exibição a todos os níveis positiva, ainda que nada se tivesse perdido caso tivesse saído mais cedo, permitindo a progressão daquele moço Gonzalo Plata que por Alvalade continuará se não for entretanto trocado por um punhado de feijões mágicos. Aquele seu remate que estremeceu os ferros da baliza como nenhuma pirotecnia conseguiria simboliza a falta de sorte que Bolasie carrega nos ombros.
Sporar (3,5)
A persistente seca de golos parecia destinada a terminar logo após o apito inicial, mas o esloveno preferiu contornar o guarda-redes e servir os colegas, tendo o supremo azar de haver demasiados pés para uma só bola. Mas o recado estava dado: Sporar consegue render quando a equipa agrega talento suficiente para carrilar jogo ofensivo que, mais do que cruzamentos para a cabeça (como nos tempos de goleadores trocados por feijões mágicos), assenta na bola a rolar na relva. Começou por atirar ao lado, depois rematou ao poste (em posição ligeiramente irregular, o que invalidou a recarga certeira de Jovane) e finalmente marcou o que se espera ser o melhor de muitos, tirando o melhor proveito de um cruzamento em esforço de Ristovski. Quebrado o encanto, o que lhe permitiria apanhar o melhor marcador da Liga Europa, graças aos cinco golos marcados pela anterior equipa, permaneceu envolvido nos muitos contra-ataques até ser poupado por Silas para o jogo de domingo em que poderá perceber-se quais são as hipóteses de Bruno Fernandes vir a ser suplantado como melhor marcador do Sporting na Liga NOS.
Pedro Mendes (2,5)
Teve direito a mais de duas dezenas de minutos para demonstrar a sua arte. Pena é que esses minutos tenham coincidido com a pior fase do Sporting, pelo que o jovem avançado teve sobretudo de ser o primeiro factor dissuasório das incursões turcas. Esteve à altura da missão, e tratou de apoiar os colegas, de costas para a baliza, a levar perigo aos visitantes.
Idrissa Doumbia (2,5)
Entrou para tentar travar o avanço do Basaksehir e não se pode dizer que tenha sido particularmente incompetente nessa missão. Mas não restam dúvidas de que não deve ser considerado como mais do que um suplente de Battaglia ou, se tudo correr melhor para o ano, de João Palhinha.
Gonzalo Plata (3,0)
Há que ovacionar o aproveitamento dos poucos minutos a que teve direito. Diversas acções em que mostrou velocidade e capacidade de finta serviram de aperitivo para um belíssimo remate que o desmancha-prazeres turco evitou que se convertesse num merecido 4-1.
Silas (3,0)
Retirou dividendos imediatos de uma ideia muito louca e inovadora chamada colocar os melhores jogadores disponíveis na equipa titular (só Bolasie poderia ter tal estatuto posto em causa pelo jovem Gonzalo Plata). É uma incógnita que tenha dado conta disto, por muito que seja difícil não reparar na diferença entre o futebol castrado e lamentável demonstrado em Vila do Conde e as jogadas empolgantes testemunhadas pelos compradores de bilhete e receptores de borlas presentes em Alvalade na tarde de quinta-feira, agarrando a equipa à vida ao mesmo tempo que a despenalização da eutanásia era aprovada na Assembleia da República. Bafejado pelo talento dos bons jogadores que restam no plantel (faltava Mathieu, mas Neto esteve à altura até ter que a arbitragem vislumbrou o pénalti sem falta que culminou no tento de honra do Basaksehir), ainda que não pela sorte (outros tantos golos ficaram por marcar), tardou a refrescar a equipa na segunda parte, o que resultou num ascendente do adversário que se vai tornando natural em quem enfrenta o Sporting. Continua, assim, na corda bamba e com a garantia de que será o próximo saco de areia a atirar por Frederico Varandas para manter acima do solo (e ao sabor do vento) o balão de uma presidência feita de ar quente.
Não perdemos, mas foi a pior exibição do Sporting esta época - exceptuando o jogo em Alverca, de péssima memória, que nos afastou da Taça.
O Rio Ave-Sporting terminou apenas com dez da nossa equipa em campo, devido à expulsão (mais uma) do capitão Coates, e um sofrido empate 1-1 graças a um penálti aos 84' bem convertido por Jovane, um dos raros que fugiram à mediocridade.
Para se perceber melhor como foi confrangedora a exibição dos pupilos de Silas, vou descrever aqui, detalhadamente, quatro minutos terríficos em que o onze das riscas horizontais - um Sporting quase irreconhecível - acabou por ser protagonista pelos piores motivos.
Minuto 2
Filipe Augusto faz um cruzamento longo, da ala direita, a variar o flanco ofensivo. Ristovski, na sua zona de cobertura, falha o tempo de salto permitindo a Al Musrati cruzar para a área. Piazón, totalmente solto à boca da baliza, mete-a lá dentro. Coates estava junto ao primeiro poste, no segundo não havia ninguém. O estático Eduardo Henrique deixou-se antecipar por dois rivais, que baralharam marcações, e Neto limitou-se a ver.
Não tinha ainda decorrido minuto e meio de jogo e já perdíamos em Vila do Conde.
Minuto 27
Bolasie, sentindo-se bloqueado na ala direita do nosso meio-campo, atrasa para Ristovski e este endossa a Coates, que lateraliza para Neto. Este tenta progredir mas prefere devolver ao uruguaio, que deixa em Eduardo, com Ristovski desmarcado lá adiante. O ex-Belenenses toca a bola para Idrissa Doumbia, que logo a devolve. Eduardo deposita-a então em Neto, que avança três ou quatro metros antes de deixar em Idrissa, que não tarda a passá-la a Coates, como se ela lhe queimasse as chuteiras. Sem progredir com a bola, o capitão toca-a para Eduardo, que dá para Idrissa. Este, sempre de costas para a baliza, deposita-a nos pés do uruguaio, que volta a tocar para Neto, que torna a despejar para Eduardo.
Com tudo isto passou um minuto inteirinho. O Sporting perdia por 0-1 e mostrava-se incapaz de avançar no terreno.
Minuto 34
Neto atrasa para Max, que entrega com o pé a Eduardo. Este, colocado no corredor central, toca para Ristovski, que a restitui ao guarda-redes. Max passa a bola a Neto, que volta a confiá-la à guarda de Eduardo. Incapaz de progredir, o médio que veio de Belém devolve-a a Neto, que a entrega a Camacho, entretanto recuado na ala esquerda. Camacho roda e repõe em Neto, que logo volta a depô-la em Max. O guardião toca para Eduardo, que trota uns metros com ela mas ainda na meia-lua do nosso meio-campo deposita-a nos pés de um adversário. Rápida ofensiva vilacondense conduzida por Nuno Santos, solto no lado esquerdo, com Ristovski perdido lá na frente e Wendel incapaz de fechar o corredor.
O Sporting continuava a perder, mostrando-se totalmente incapaz de uma atitude competitiva. Havia "posse de bola", sim, como Silas tanto gosta. Mas não servia para nada.
Minuto 76
O Sporting, ainda a perder, precisa de procurar o empate. Borja, junto à linha já no meio-campo adversário, não consegue melhor do que atrasar para Neto. Este lateraliza para Ristovski, colocado junto à linha divisória do terreno. O macedónio coloca em Wendel, que atrasa para Battaglia. O argentino passa a Borja, que atrasa para Neto, no nosso meio-campo defensivo. O português toca para Wendel, que logo a devolve. Depois coloca-a em Plata, que devolve também. Neto volta a pô-la em Wendel, que insiste em atrasá-la no corredor central, parecendo alheado de qualquer desígnio atacante. Metro a metro, a equipa vai recuando. Neto ensaia então um passe longo, esticando a bola para Sporar, que não consegue dominá-la.
Perdeu-se mais um minuto, perdeu-se mais um lance que se pretendia ofensivo.
Para mais tarde recordar
Lembro qual foi o onze inicial escolhido por Silas para este jogo: Max; Ristovski, Coates, Neto, Borja; Idrissa, Eduardo, Wendel; Camacho, Bolasie, Sporar.
Sete destes jogadores já foram contratados pela actual administração da SAD.
Pelo menos foi o que disse Silas depois do jogo. Referia-se obviamente ao período em que está à frente da equipa, mas para mim foi mesmo a de toda a época. Valeu o emprestado, limitado mas sempre esforçado Bolasie para repetir o que fez na Vila das Aves: do nada cavar um penálti e assim evitar a derrota.
Com um plantel tão desequilibrado como o do Sporting, quando faltam três dos quatro melhores jogadores num campo difícil como o de Vila do Conde seria sempre de prever dificuldades. Mas quando mais uma vez se altera o modelo de jogo e o onze em posições chave, então está-se mesmo a pedi-las.
Do 5-3-2 contra o Portimonense com Battaglia e Wendel a médios mais recuados, passámos para um 4-3-3 com Doumbia e Eduardo nas mesmas funções. Não há equipa que aguente tanta alteração, tanta improvisação, tanta falta de articulação entre colegas. Sucederam-se passes para jogadores marcados em cima e de costas para a baliza, passes para ninguém, centros para lado nenhum.
SIlas já veio dizer que não se demora cá muito, quando quiserem pega nas malas e vai à sua vida. O plantel também sabe isso mesmo, a mensagem já não passa e a equipa transforma-se num bando que corre e luta sem critério. Ontem o Coates lá foi para rua mais uma vez na tentativa de travar adversários lançados pelo seu lado, onde o Ristovski anda sempre em parte incerta e foi responsável por mais um golo (já perdi a conta aos lances por alto perdidos por ele esta época ao segundo poste que dão origem a golos ou centros para golo), não sem antes tentar fazer por ele o trabalho dos onze e quase conseguir um autogolo. Se no caminho perdesse a bola, como normalmente acontece, seria mais um contra-ataque bem perigoso do adversário.
Pelos vistos com a saída de Bruno Fernandes deixou também de haver definição sobre quem marca livres e penáltis: fica à mercê de quem agarra na bola com mais força.
Enfim, que bom seria se a temporada acabasse já. Mas ainda falta muito. O Braga (terceiro com mais um ponto) realmente descobriu um magnifíco treinador que de parecido com Silas tem a falta de habilitações mas conseguiu em pouco tempo transformar aquela equipa que entrava para perder fora de casa contra os grandes e ganhar cinco vezes seguidas aos mesmos, o Rio Ave (quatro com manos três pontos) e o Guimarães (sétimo com menos oito) jogam bem e são adversários a considerar na luta pelo pódio.
E voltamos também à questão de andarmos a emprestar e vender jogadores a clubes que acabam por competir connosco por posições importantes no acesso às competições europeias: Palhinha e Esgaio no Braga, Dala e Mané (que ontem teve azar no remate que daria a nossa derrota) no Rio Ave. Dá que pensar, de facto.
O remate saiu forte mas de tal forma à figura que não há forma de o catalogar sem recorrer a metáforas galináceas. A abordagem extremamente deficiente ao lance que causou calafrios aos adeptos leoninos foi, no entanto, apenas um dos pontos negativos de uma exibição em que o jovem guarda-redes andou literalmente aos papéis nas raras ocasiões em que os adversários se acercavam dele e primou pela falta de critério nas reposições de bola.
Ristovski (3,0)
O macedónio ficou ligado ao resultado com um cruzamento fulgurante que, à falta de maior acerto por parte dos colegas, acabou desviado para a baliza por um defesa do Vitória de Setúbal. Mas não só. Presente tanto na defesa como no apoio ao ataque, tem como única mancha a incapacidade de evitar, atrapalhado por Bolasie, que um adversário fosse na direcção de Coates. E o resto é história.
Coates (2,5)
Tinha como única missão evitar que algum adversário se aproximasse de si, o que resultaria no inevitável cartão amarelo com que o previsível Tiago Martins o afastaria do derby da noite da próxima sexta-feira. Conseguiu ser afastado do Sporting-Benfica sem cometer nenhuma falta, e muita falta fará num jogo em que os seus cortes pela relva e pelo ar poderiam pôr em causa o guião do desfecho da Liga NOS previamente aprovado em comité.
Mathieu (2,5)
Pareceu contaminado com o vírus gripal que supostamente dizimou o plantel dos sadinos ao dar o toque na bola que a deixou nos pés do marcador do 1-2. Tirando esse momento de desnorte foi mais uma noite à grande e à francesa de um veterano tão indestrutível que decerto poderá tentar fazer resultar a dupla com Tiago Ilori que a arbitragem lhe impôs para a próxima sexta-feira.
Borja (3,0)
Destacou-se na primeira parte pela forma como se integrou no ataque, auxiliado pela presença de Bruno Fernandes no flanco esquerdo, e pelo acerto na cobertura defensiva. Sendo certo que só foi titular para evitar que Tiago Martins conseguisse o pleno e afastasse também Acuña do derby, o colombiano fez dos melhores jogos ao serviço do Sporting, pertencendo-lhe a antecipação que iniciou o contra-ataque terminado no 1-3.
Battaglia (3,0)
Continua a parecer algo preso de movimentos, e aquém daquilo que conseguia fazer antes das graves lesões que travaram a sua afirmação na selecção argentina. Ainda assim, primou pela leitura de jogo e fez circular a bola com muito melhor critério do que consegue o castigado Idrissa Doumbia. Sem falar na assinalável quantidade de cortes e de recuperações de bola.
Wendel (2,5)
A forma como comemorou o lance do primeiro golo fez desconfiar que teria sido ele a desviar o cruzamento de Ristovski, mas não passou da expressão de vontade de não deixar que a visita aos engripados de Setúbal corresse ainda pior ao Sporting. Muito mexido na primeira parte, na qual foi derrubado dentro da grande área sem que isso perturbasse um dos maiores artistas que algum dia enfiaram um apito na boca, perdeu gás no segundo tempo e adiou a tranquilidade no marcador ao fazer um (mau) passe para Vietto quando estava em posição de alvejar a baliza vitoriana.
Bruno Fernandes (3,5)
Limitado pelo posicionamento à esquerda e pela carta branca que Tiago Martins concedeu aos jogadores do Vitória de Setúbal para testarem a consistência dos ossos das suas pernas, o capitão respondeu com intervenções como a jogada em que se isolou e foi agarrado de forma tão flagrante pelo defesa apanhado em contramão que nem um exímio desnivelador de campos pôde ignorar o pénalti que cobrou logo de seguida. Mesmo sem estar ao melhor nível, e de ter chegado a dar mostras de estar lesionado, não terminou o jogo sem bisar, concluindo um contra-ataque bem conduzido por Rafael Camacho. Espera-se que tenha guardado algumas munições para um dos seus “clientes” favoritos se até sexta-feira ainda não tiver sido despachado para Manchester, num daqueles negócios que envolvem pagamentos de supostas dívidas a Jorge Mendes e verbas destinadas a pagar protocolos de expansão da marca do Sporting na Polinésia Francesa.
Vietto (2,5)
Saiu lesionado num lance em que talvez tenha sofrido grande penalidade, vendo-se quase de certeza afastado do Sporting-Benfica. Encarregue durante a primeira parte de fazer as vezes de Bruno Fernandes, algo que infelizmente talvez se venha a tornar um hábito, voltou a demonstrar mais jeito para construir jogadas do que para fazer aquele detalhe que fica bem aos avançados, sejam ou não móveis.
Bolasie (2,5)
A excelente abertura para Ristovski foi a coroa de glória de uma exibição mexida do franco-congolês, igualmente considerado alvo a abater pelos engripados adversários. Pelo menos desta vez não foi expulso por agressões fictícias.
Luiz Phellype (1,5)
O cartão amarelo que lhe ofertaram logo no início do jogo, honra que na época passada foi reservada a Tiago Ilori por ter ousado tocar em João Félix, toldou os movimentos e as ideias de um avançado que também já deve ter reparado nas manchetes que atiram Sporar à cara dos sportinguistas. Foi de uma nulidade absoluta que causa calafrios a quem tenha reparado no calendário que a equipa terá nas próximas semanas.
Rafael Camacho (3,0)
Entrou para o lugar do lesionado Vietto e estreou-se com um bom remate cruzado após uma incursão pela esquerda, batalhando numa fase B da equipa que poderia ter acabado com mais uma humilhação. E teve a melhor recompensa para o seu esforço ao ficar ligado ao resultado final, servindo de bandeja o 1-3 a Bruno Fernandes.
Pedro Mendes (2,0)
A estreia na Liga NOS do avançado finalmente inscrito poderia ter sido doce caso tivesse acertado na bola ao executar um remate acrobático na grande área do Vitória de Setúbal. Mas nada melhor conseguiu do que sacar um cartão amarelo e meter a defesa contrária em respeito devido ao poderio físico.
Jesé Rodríguez (1,5)
Andou pelo campo uns quantos minutos. Ameaça voltar a repetir esse padrão em jogos vindouros.
Silas (2,5)
Quando se viu a ganhar por dois golos de diferença, apesar da presença de Tiago Martins, deveria ter pensado: será mesmo boa ideia deixar em campo um dos meus melhores jogadores, sendo que ele está mesmo à calha para ver o amarelo que o deixará de fora no próximo jogo, que até é contra uma equipa cujo vírus não é propriamente o da gripe? Pois que Silas não pensou nisso, apesar de ter deixado Acuña de fora, e também não é crível que seja capaz de arriscar um golpe de asa como lançar Eduardo Quaresma contra o Benfica. Mas também há que reconhecer que o treinador leonino está longe de ser o mais culpado num cenário que tem tudo para agravar-se nos próximos dias, caso se confirme a saída de Bruno Fernandes, o que forçará uma reconstituição do plantel executada por mentes que até agora deram provas de serem perigosas ao ponto de deverem ser banidas do site Transfermarkt.de.Quanto a Silas propriamente dito, e ao jogo em apreço, lamenta-se que continue a demorar demasiado a reagir quando o paradigma do jogo muda. Só o desacerto de Guedes na recarga ao seu cabeceamento que embateu na trave impediu o Vitória de Setúbal de chegar ao empate.
Aconteceu hoje com Silas no Bonfim, mas é um filme já muito visto no Sporting com outros treinadores e noutros relvados. Muito difícil realmente se torna explicar como é que dum jogo ganho, tranquilo e controlado, se passa, em pouco mais de 5 minutos, para um jogo com a vitória comprometida e com alguns dos melhores jogadores lesionados ou castigados com cartões e impossibilitados para os jogos seguintes.
Mas aconteceu, e acontece, por falta de liderança no banco ou de espírito de corpo no relvado. E a verdade é que torna a vida do Sportinguista, o que foi ao estádio ou o que acompanhou no sofá, bem difícil.
Quem quiser rever os golos sofridos pelo Sporting nos últimos jogos, encontra, mais que o fruto de jogadas bem elaboradas do adversário, situações criadas por descuido ou incompetência individual ou colectiva.
Hoje Mathieu esteve na origem do golo do Setúbal e Risto na origem do amarelo que afasta Coates do dérbi com o Benfica. Situações completamente evitáveis.
Sobre toda esta má sorte ou simplesmente incompetência, só o talento de Bruno Fernandes. Escondeu-se no lado esquerdo para deixar Vietto brilhar na 1.ª parte, cavou o penálti e concretizou para o segundo golo, marcou o terceiro golo depois de boa iniciativa de Camacho.
O que vai ser do Sporting quando ele sair?
Não faço ideia, mas temo o pior.
Entretanto, para o dérbi, Vietto ficou lesionado, Coates está fora, Neto também, fica o Illloooooooooriiiiiiiiiiiiii....
Perante um adversário que foi dominado desde o início do jogo bastou-lhe estar atento e disponívelpara resolver as escassas ocorrências que iam aparecendo. E ainda teve a sorte de o árbitro Manuel Mota ter tanto amor às vitrinas dos talhos que anulou um golo ao Santa Clara, num livre directo cobrado com mestria, devido a uma irregularidade existente mas que poderia ter passado despercebida.
Ristovski (4,0)
Exibição portentosa do macedónio, disposto a fazer esquecer uma temporada em que lhe bastava respirar para ver o cartão vermelho. Não só controlou as investidas açorianas pela sua ala como esticou o motor de arranque do ataque leonino, com consequências que só não foram ainda melhores devido ao desacerto dos avançados. A assistência para o segundo golo de Luiz Phellype é só um dos muitos motivos que aconselham descanso ao milionário reforço francês que compete consigo pela titularidade.
Coates (3,0)
Mesmo o cartão amarelo que recebeu foi um mal menor tendo em conta que impediu um contra-ataque perigoso (apesar de o destino do jogo estar mais do que selado). E não deixa de ser bonito que haja um jogo em que não é chamado a fazer de “stand-in” do saudoso Bas Dost na hora do desespero.
Mathieu (3,0)
Pois que cometeu o erro que resultou num amarelo para Coates e no livre directo que Manuel Mota impediu de ser o tento de honra dos açorianos. Mas ninguém (tirando Bruno Fernandes) ali seria capaz de fazer a abertura para Ristovski que resultou no 0-2. Mantenham-lhe o emprego, que para nós é um sossego.
Acuña (3,5)
Tinha pela frente o irrequieto Ukra, que é o mais próximo que o futebol nacional tem de um Joker, o que fazia adivinhar faíscas. Em vez disso, o argentino conteve-se, conteve-lhe os movimentos e integrou-se com bons resultados nas manobras ofensivas que resultaram em goleada.
Idrissa Doumbia (3,0)
Sempre esforçado e quase sempre insuficiente para o que se exige a um titular do Sporting, pouco ou nada comprometeu e evitou o amarelo que o deixaria de fora da recepção ao FC Porto, a abrir o próximo ano. Mas há que destacar a melhoria verificada quando Battaglia regressou aos relvados.
Wendel (3,0)
Já dizia um francês mais velho do que Mathieu que o importante é competir. Talvez assim seja, e o internacional pela selecção olímpica do Brasil muito o fez, sem ficar directamente ligado ao resultado. E a forma que ajudou o meio-campo a mexer tornou-se ainda mais flagrante quando teve direito a descanso e foi substituído pelo compatriota Eduardo Henrique.
Bruno Fernandes (3,5)
Afortunados são os sportinguistas nos jogos em que tudo corre bem mesmo sem que o capitão se destaque dos demais. Mais um golo de pénalti, com o guarda-redes a revelar-se conformado com o destino ao ponto de não se lançar para nenhum lado, e mais uma assistência, num canto desviado pela nuca de Bolasie, elevaram as suas estatísticas para uma centena de participações directas em golos do Sporting. E ainda melhor poderia ter sido o rescaldo da viagem se os colegas aproveitassem melhor os cruzamentos teleguiados e tivesse concluído melhor uma bela combinação com Vietto.
Vietto (3,5)
Só faltou mesmo o golo ao argentino, que não deu o seu melhor ao ver-se colocado frente à baliza pelo insuspeito Jesé Rodríguez. O mesmo não se pode dizer da forma como fez uma assistência para desbloquear o marcador à prova de falhanço de Luiz Phellype e das excelentes combinações com Bruno Fernandes.
Bolasie (3,5)
Que jogão teria feito o franco-congolês não fosse o crime de lesa-futebol que protagonizou na primeira parte, cabeceando de frente para à baliza de uma forma que noutras modalidades daria direito à perda de pontos por falha técnica. Redimiu-se à terceira tentativa, por muito que o desvio de cabeça para o fundo das redes no lance do 0-3 aparente ter sido inadvertido. E, sem medo de partir para cima dos adversários em drible – não obstante a reduzida taxa de sucesso em tais iniciativas –, ajudou a fechar o marcador com uma arrancada em que só o conseguiram travar com uma falta dentro da grande área. De longe o melhor dos três reforços de fecho de mercado, merece respeito por um empenho que por vezes compensa as limitações de quem dificilmente melhorará nesta fase da carreira.
Luiz Phellype (3,5)
Bisou na partida, confirmando o bom momento que atravessa, mas ficou a dever a si mesmo outros tantos golos. A abordagem aos lances está quase sempre longe dos padrões de um avançado titular – excepção feita ao lance do 0-2 –, o que não invalida que o brasileiro mantenha uma das melhores relações custo-benefício do plantel leonino.
Battaglia (3,0)
Vê-lo entrar em campo foi uma dupla alegria para os adeptos, que não só ficaram felizes com a superação do ciclo de lesões graves que afectaram o argentino como puderam constatar o quanto melhora o meio-campo com a sua qualidade técnica e inteligência táctica.
Jesé Rodríguez (2,5)
Quis o destino que o seu melhor momento, desenvencilhando-se de uma série de adversários à entrada da grande área do Santa Clara, não tivesse o melhor seguimento por parte de Vietto. Lançado no jogo com o resultado feito, o espanhol em nada comprometeu.
Eduardo (1,5)
Os minutos que jogou, felizmente poucos, confirmaram o estatuto de maior incógnita do plantel leonino.
Silas (3,5)
Ainda teve tempo para fazer caretas quando os avançados insistiam em não concretizar as oportunidades de golo decorrentes do intenso domínio e dos bons cruzamentos de Ristovski e Bruno Fernandes. Construiu a própria sorte ao apostar nos melhores que tem à disposição e viu o Sporting fazer uma das suas melhores exibições e subir ao lugar do pódio que é realista ambicionar. Se no sábado vencer o Portimonense e tiver sorte no outro jogo do grupo, conseguindo o improvável acesso à “final four” da Taça da Liga, ganhará uns quantos dias de direito ao esquecimento dos seus muitos erros até ao possível vale das trevas da morte que o calendário lhe oferece no início de 2020.
Em que tudo corre bem, e mesmo quando algum percalço acontece, conseguimos dar a volta por cima.
Depois de Braga, Guimarães e Famalicão terem perdido pontos e termos conseguido o bilhete premiado no pote 1 do sorteio da próxima fase da Liga Europa, apanhámos uma equipa que joga e deixa jogar. Depois de algumas oportunidades falhadas, marcámos o primeiro, logo depois o segundo (com o intervalo pelo meio) mais ou menos oferecido, e foi um passeio. Até um golo de livre que sofremos nos foi (legitimamente) perdoado.
Também fizemos por isso. Desta vez Silas não inventou e escolheu um onze análogo ao do melhor jogo com Keizer desta época em Portimão, com Max em vez de Renan, Bolasie em vez de Raphinha e Ristovski em vez de Thierry, e a equipa portou-se bem, concentrada, poucos passes falhados, variações de flanco oportunas, centros intencionais, mesmo aquela saída pastosa e irritante se notou bem menos hoje do que noutras ocasiões.
E assim chegámos ao 3.º lugar, entre os dois rivais em luta pelo título e aqueles dois clubes do Minho que por vezes se esquecem que o Sporting é um dos três grandes de Portugal.
Com isto a jornada triste da Áustria e as declarações mais que infelizes de Silas sobre a mesma ficaram esquecidas ? Obviamente que não.
Mas o que se passou à chegada dos jogadores e a bofetada de luva branca dos mesmos à escumalha que se diz adepta do Sporting mas está apostada em dar cabo dele, relativizou muita coisa. Acredito que estes últimos dias tenham servido a Silas de lição e agora o importante é passar por Portimão (desafio que para nada deve servir) e preparar da melhor forma Janeiro e o final da temporada, incluindo uma aposta firme e sem reservas na Liga Europa.
Se toda a equipa esteve bem (Eduardo à parte), hoje gostei particularmente dos patinhos feios Ristovksi e Doumbia.
É muito provável que tenha adivinhado o que iria acontecer logo que Fábio Veríssimo assinalou aquele livre fatídico, ainda distante da grande área, a três minutos do fim. Até então pouco tivera que fazer, sendo raras as tentativas de remate de uma equipa que ainda não tinha conseguido melhor do que um empate a zero em casa. Claro está que este Sporting torna todos os sonhos possíveis. Infelizmente, para Renan e para dois a três milhões de adeptos, torna possíveis todos os sonhos de todos os adversários.
Ristovski (2,5)
O futebol é um jogo de tal forma injusto que o melhor jogador em campo até então ficou ligado ao golo do Tondela, permitindo o cabeceamento fulgurante de Bruno Wilson, um ex-capitão dos juniores do Sporting que a anterior gerência não aproveitou. Até ao momento decisivo sucedera o seguinte: o macedónio controlou o corredor direito, ofereceu um golo que Miguel Luís desperdiçou no coração da área, liquidou veleidades dos extremos tondelenses e revelou-se mais incansável do que seria de esperar em quem perdeu a primeira fase da temporada. Não merecia tamanha desdita, pois foi dos poucos a quem assentaria bem a improvável vitória em vez da repetição da derrota que se vai tornando habitual nas deslocações à Beira Alta.
Coates (2,5)
Depois do golo do Tondela cumpriu-se aquilo que sucede ao central uruguaio a cada final de ciclo no futebol leonino: foi enviado para a grande área contrária na vã esperança de que pudesse cabecear para o fundo das redes. Antes do golo distinguiu-se por incursões com bola – quase sempre por lhe faltarem melhores soluções – que acabaram sempre mal e deram origem a contra-ataques que não tardaram a ser resolvidos.
Tiago Ilori (3,0)
Logo que apareceu a equipa titular veio aquela sensação de que Ilori quer dizer “vão entrar três” em romeno. Há, por isso, que curvar a cabeça e reconhecer que o central resgatado do Liverpool pelo intrépido Frederico Varandas fez uma das suas melhores exibições desde aquela temporada em que era um adolescente e o Sporting terminou em sétimo. Não falhou nos cortes, trocou bem a bola e só lhe pode ser apontada falta de pontaria quando foi cabecear à outra área.
Acuña (2,5)
Muito cruzamento fez, mas infelizmente nem as suas pernas permitem fazer chegar a bola a Frankfurt, para onde foi enviado o abre-latas deste género de jogos desinspirados que responde pelo nome de Bas Dost. Também se viu alvo de provocações de adversários que já repararam que a sua fase calma e serena foi parar ao Museu do Sporting. Calha bem, pois é cada vez mais claro que será o único contributo do departamento de futebol profissional para esse acervo nos tempos mais próximos.
Idrissa Doumbia (2,5)
Se alguém for apanhado a tentar assassinar o jovem médio poderá sempre contar com o mesmo videoárbitro que convenceu Fábio Veríssimo a anular o cartão vermelho exibido ao tondelense que lhe quis separar os ossos da perna. Ligeiramente menos trapalhão do que em jogos anteriores, mesmo tendo visto o amarelo muito cedo, Idrissa não complicou e teve pouca culpa no infausto desfecho da dupla jornada.
Miguel Luís (2,5)
Poderia ter sido herói caso acertasse na baliza quando lhe foi parar aos pés a melhor ocasião do Sporting. Não foi, claro está, mas este até foi um dos últimos jogos em que deu provas de merecer um lugar no plantel mais fraco que o Sporting teve desde a tal época do sétimo lugar, o que começa a dar ares de ser um mau presságio.
Bruno Fernandes (2,5)
Pode até ser coincidência, mas desde que Silas contrariou a canção do “Streets of Fire” e proclamou, nos escombros da eliminação da Taça de Portugal aos pés de um Alverca de terceiro escalão, que a equipa não precisava de heróis, o capitão tem diminuído a sua influência no jogo leonino. Demasiado distante da carreira de tiro em que enchia de terror todos os guarda-redes – e ainda mais os que apanham o cabelo com bandolette –, ainda tentou alguns livres directos, um dos quais poderia ter inaugurado o marcador para a equipa certa, mas voltou a não ser o superlativo que é a última esperança dos adeptos em tempos de miséria futebolística.
Vietto (2,5)
Outro que correu muito, rematou bastante e lutou o que conseguiu contra um destino tenebroso. Ao ver que faltava arte para chegar ao objectivo com boas jogadas ainda ensaiou os remates de longe, sem particular sucesso.
Bolasie (2,0)
Mais interveniente do que no jogo com o Paços de Ferreira, tentou levar perigo à baliza de Cláudio Ramos. Raramente conseguiu, o que também se ficou a dever ao “profiling” que leva as equipas de arbitragem a ignorarem quase todos os toques e agarrões de que é alvo.
Luiz Phellype (1,5)
Nem muita parra nem muita uva: o ponta de lança que a estrutura liderada porFrederico Varandas não chegou a vender, emprestar ou deixar por inscrever na Liga nunca se libertou dos centrais da casa. Saiu abatido, talvez por saber o que costuma acontecer ao Sporting sempre que não marca - e em algumas vezes em que o faz.
Jesé Rodríguez (2,0)
Entrou com vontade de ser solução, ficando na retina uma belíssima finta numa jogada de contra-ataque. Pena é que não tenha logrado combinar como deve ser com os colegas que poderão eventualmente evitar que o Sporting faça igual ou pior do que na tal temporada em que Ilori era adolescente.
Eduardo (2,0)
Mal entrou no relvado e já tinha visto um amarelo. Procurou empurrar a equipa para a frente mas aquilo que nasce torto...
Rafael Camacho (1,5)
O segundo resgatado de Liverpool por Frederico Varandas teve direito a um quarto de hora sem conseguir mostrar mais do que um ou outro controlo de bola. E, claro está, colocar em jogo Bruno Wilson, com quem é capaz de se ter cruzado em Alcochete, no lance que colocou o Sporting a dez pontos da liderança no início de Novembro.
Silas (2,0)
Se os jogadores tiverem olhado para o banco, vendo a expressão do treinador, decerto ficaram à espera de que o pior chegasse, mais cedo ou mais tarde. Conhecido no Belenenses por um futebol alegre e ambicioso, Silas aparenta contaminado pelo célebre verso de Camões sobre um fraco rei que faz fraca a forte gente. Mesmo com um plantel limitado e cheio de equívocos, fruto de um planeamento medíocre e opções de “gestão de activos” a raiar a gestão danosa, o treinador leonino precisa de pôr a equipa a jogar muito melhor do que isto e tarda a demonstrar que o conseguirá fazer antes de Frederico Varandas o juntar às claques na gaveta dos bodes expiatórios.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre RISTOVSKI:
- Eu: «O macedónio não é um primor de técnica, está mais que visto. Ontem confirmou-se lá à frente, quando optou por atirar para a bancada quando tinha Dost e Nani isolados à sua esquerda. Mas bateu-se como um Leão contra Brahimi, um dos mais categorizados adversários. Fez um corte providencial aos 54'. Exibiu boa forma física do princípio ao fim.» (27de Janeiro)
- JPT: «Ristovski acaba de ser expulso. Terá dito demais ao árbitro. Mas é inacreditável que tudo isto se passe diante de um árbitro, dois fiscais-de-linha e a rapaziada do VAR (que deve falar em situações de expulsão). O homem leva uma cotovelada tamanha que logo lhe cresceu um gigante galo. Foi de propósito. Diante do árbitro. E todos se calam. Não vale a pena. O futebol só dá para um tipo se irritar. Saudações leoninas.» (30 de Janeiro)
- João Goulão: «Um Ristovski completamente desorientado deixa ao lento e lesionado Petrovic, defesa central por empréstimo, a responsabilidade de o ir cobrir e obviamente foi "faca em manteiga".» (30 de Janeiro)
- Leonardo Ralha: «Grande beneficiário da nova táctica, o macedónio serviu-se da velocidade e rapidez de execução para fazer muitos estragos à ala esquerda dos visitantes. Tanto assim é que na primeira parte foi o principal fornecedor de Bas Dost, oferecendo-lhe aquele que deveria ter sido o primeiro golo do jogo. Depois do intervalo foi menos solicitado pelos colegas, destacando-se sobretudo nas missões defensivas.» (18 de Fevereiro)
- António de Almeida: «Injustamente cadstigado com dois jogos, ficou impossibilitado de disputar a 1.ª mão da meia-final da taça de Portugal frente ao Benfica no estádio da Luz. Corre agora o risco de ficar de fora da 2.ª mão, graças a uma incompreensível, diria mesmo absurda, decisão de Manuel Mota. O Sporting já anunciou recurso, vamos ter mais do mesmo? É que, além de prejudicar o clube, também é muito injusto para o atleta.» (31 de Março)
- José Navarro de Andrade: «Será um bom suplente de quem vier, tal como o foi do saudoso Piccini. Estará Thierry Correia capaz de ascender à primeira equipa?» (28 de Maio)
Quase tão inevitável quanto a morte, os impostos e a nomeação de competentíssimos familiares de governantes para gabinetes ministeriais, o golo dos adversários chegou quando o Sporting tinha mais um jogador em campo. O brasileiro bem tentou fazer a mancha quando o avançado do Chaves lhe apareceu isolado pela frente, mas não resultou, ao contrário do que sucedera minutos antes, quando os centrais também deixaram que alguém cabeceasse ao segundo poste. Há dias assim - quase todos os dias em que a rapaziada de verde e branco pisa o relvado.
Ristovski (2,5)
As expulsões descabeladas do macedónio em véspera de jogos com o Benfica são o new black do futebol português. Teve que ser o videoárbitro com nome de personagem e de actor de clássico da comédia portuguesa portuguesa a descortinar jogo perigoso num corte, permitindo ao árbitro Manuel Mota cobrir-se mais uma vez de vergonha, ao mesmo tempo que conseguia desfazer a decisão igualmente errada de expulsar um defesa flaviense que derrubou Raphinha sem que este se estivesse a dirigir para a baliza adversária. Antes deste infecto episódio Ristovski fez a assistência para o primeiro golo, ajudando a quebrar um encanto digno de conto infantil, esteve atento às movimentações de todos os adversários (menos daquele que marcou o golo do empate) e integrou-se mais ou menos bem na manobra ofensiva. Uma parte dele terá de ficar lisonjeada por o quererem assim tanto afastar da segunda mão da meia-final da Taça de Portugal.
Coates (2,0)
Começou ao seu melhor estilo, arriscando o autogolo para cortar um cruzamento que daria golo quase de certeza. Depois foi o dilúvio: incontáveis passes errados, faltas de concentração na cobertura, aquele lance em que deixa escapar nas suas costas o autor do golo do Chaves... Que melhores dias e noites venham depressa. De preferência já nesta quarta-feira.
Mathieu (3,0)
Esteve ao nível que é o seu, destoando pelo desnível no resto da linha defensiva. Além de desfazer problemas com a competência que lhe é reconhecida, tirou partido da vontade de criar soluções para empurrar a equipa na direcção da baliza adversária. Num desses lances entrou na grande área do Chaves e tentou servir um colega, mas a bola desviou num adversário e acabou por ser encaixada pelo guarda-redes.
Borja (2,0)
Também não leva grandes recordações daquilo que está para lá do Marão. Incerto nos cruzamentos e pouco dinâmico a construir jogadas, distinguiu-se sobretudo ao sair para a entrada de Jovane Cabral quando chegou a hora do aperto.
Gudelj (2,5)
Recuperou a titularidade, como era expectável, mesmo sem dar provas de conseguir ser o motor de arranque do meio-campo leonino. Mas há que reconhecer que fez o seu melhor remate de longa distância - no sentido de que saiu enquadrado com a baliza e forçou uma defesa de dificuldade média-alta - e que contribuiu para um enganador sossego da equipa ao sofrer a entrada que levou à expulsão de um adversário. Pouco depois saiu de campo, talvez por Marcel Keizer temer que seria ele o próximo a ver um segundo amarelo.
Wendel (3,0)
Faltou-lhe o golo, apesar de uma tentativa mais prometedora do que bem conseguida, num jogo em que teceu jogadas como as aranhas tecem teias. E em que não esmoreceu na hora em que a deslocação a Chaves parecia destinada a correr mesmo muito mal.
Bruno Fernandes (3,5)
Para o jogo 100 com a camisola do Sporting nada melhor do que um golo de longa distância, igualando o lesionado Bas Dost como melhor marcador da equipa na Liga. Poderiam ter sido dois, mas o guarda-redes António Filipe roubou-lhe esse prazer antes de sair lesionado. Mas logo no primeiro tempo fora vítima do capitão dos leões, que desmarcou Ristovski para o cruzamento que deu origem ao primeiro golo. Graças a um daqueles passes magníficos que, na bitola de Bruno Fernandes, são apenas mais um dia no escritório.
Raphinha (3,0)
Todo ele é técnica no domínio de bola, aliada a uma das velocidades mais perigosas da Liga NOS. Mas desta vez não tinha as chuteiras calibradas no momento do remate e ainda viu a jogada de maior perigo apagada pelo árbitro Manuel Mota depois de um “think tank” na Cidade do Futebol discernir falta anterior e cartão vermelho para o sanguinário Ristovski.
Acuña (3,0)
Tem o seu quê de irónico que o argentino se torne mais perigoso quando recua de extremo para lateral-esquerdo. Assim voltou a suceder, com uma assistência primorosa para o golo de Bruno Fernandes e boas combinações com Jovane. Mas bem poderia ter evitado uma carga de ombro dentro da sua grande área que poderia ter resultado num pénalti a favor do Desportivo de Chaves.
Luiz Phellype (3,5)
Desatou a chorar quando marcou o primeiro golo desde que foi contratado ao Paços de Ferreira no mercado de Inverno. Talvez tenha sido de alívio, talvez tenha sido de emoção ou talvez tenha sido de dor, pois o seu gesto técnico a empurrar a bola cruzada por Ristovski envolveu lançar o corpo para a frente como se estivesse numa final de salto em comprimento. No resto do jogo tirou sobretudo partido do poderio físico, regressando aos holofotes ao minuto 100, quando foi desmarcado por Jovane Cabral, aguentou a pressão de um defesa, e rematou de forma descomplicada para o 1-3 que sossegou milhões de corações que viam a conquista do terceiro lugar em risco.
Idrissa Doumbia (2,0)
Entrou para o lugar de Gudelj e, ao contrário do que é seu bom hábito, pouco ou nada melhorou na circulação de bola do Sporting. Pareceu preso de movimentos e pouco confiante.
Jovane Cabral (3,0)
Logo no primeiro lance depois de entrar em campo rematou um pouco ao lado do poste. Empenhado em readquirir o estatuto de resolvedor, mesmo que os minutos a que teve direito se devessem à lesão do prodigioso Diaby, integrou-se nas acções ofensivas do Sporting com mais afã do que critério. Até fazer a assistência extraordinária para Luiz Phellype bisar, bem entendido.
Bruno Gaspar (2,5)
Chamado para recompor a linha defensiva após a expulsão de Ristovski, o lateral-direito comprado por mais milhões de euros do que cabe aqui dizer procurou não desmerecer a confiança nele depositada. Neste caso a confiança do treinador e não a confiança das pessoas que tanto apreciam expulsar o seu colega na véspera de jogos com o Benfica.
Marcel Keizer (3,0)
Cumpriu o objectivo de somar os três pontos que permitiram a subida ao pódio da Liga NOS (em igualdade pontual com o Braga) sem lograr que a equipa jogasse bem. Sem Bas Dost e Diaby disponíveis caçou com Luiz Phellype e não se deu mal com o método, até porque Bruno Fernandes recuperou a tempo da lesão que o impediu de salvar a Selecção de Portugal de si própria. Continua é a procurar-se a alegria dos primeiros tempos do keizerbol e a aposta na formação que não há maneira de aparecer.
Injustamente cadstigado com 2 jogos, ficou impossibilitado de disputar a 1ª mão da meia-final da taça de Portugal frente ao S.L.Benfica no estádio da Luz. Corre agora o risco de ficar de fora da 2ª mão, graças a uma incompreensível, diria mesmo absurda, decisão de Manuel Mota.
O Sporting C.P. já anunciou recurso, vamos ter mais do mesmo? É que além de prejudicar o clube, também é muito injusto para o atleta.
Conseguiu terminar um jogo sem sofrer golos, feito assinalável mesmo tendo em conta que os avançados bracarenses pouco ou nada fizeram ao longo de mais de 90 minutos, ficando de tal forma encadeados pela surpresa táctica de Marcel Keizer que pareciam estar a fazer um remake da goleada sofrida na última deslocação à capital. De tal forma assim foi que o guarda-redes brasileiro teve de inventar um momento de suspense, ao fintar um adversário na grande área, e fez a sua melhor defesa ao sair em voo para afastar um cruzamento quando o árbitro assistente já tinha assinalado fora de jogo.
Tiago Ilori (3,0)
Coube-lhe ser o central descaído para o flanco direito e cumpriu a missão com brio e sem excessivas dificuldades. A única excepção foi um alívio disparado contra um adversário que levou a bola a encaminhar-se para a sua grande área, felizmente a tempo de o problema ser resolvido pelo senhor do costume.
Coates (3,5)
Ministro da Defesa que se preze rende em qualquer sistema. E assim foi: o central uruguaio controlou todas as movimentações terrestres e aéreas, garantiu que nenhuma incursão pelo seu território surtiria efeito e chegou ao final do jogo com a rara recompensa de não ter sofrido qualquer golo. Algo que compensa perfeitamente que tenha estado menos afoito a integrar-se no ataque, ao ponto de nem sequer subir para a maioria dos lances de bola parada.
Borja (3,0)
Contratado para acautelar a saída de Acuña, eis que o lateral colombiano deu por si a tomar o lugar do indisponível Mathieu. Facto é que não comprometeu enquanto central descaído para a esquerda, combinando bastante bem com Acuña na hora de lançar contra-ataques.
Ristovski (3,5)
Grande beneficiário da nova táctica, o macedónio serviu-se da velocidade e rapidez de execução para fazer muitos estragos à ala esquerda dos visitantes. Tanto assim é que na primeira parte foi o principal fornecedor de Bas Dost, oferecendo-lhe aquele que deveria ter sido o primeiro golo do jogo. Depois do intervalo foi menos solicitado pelos colegas, destacando-se sobretudo nas missões defensivas.
Gudelj (2,5)
Começa a parecer que nenhum sistema de jogo se consegue adequar ao trinco que não é trinco sérvio. A companhia mais esclarecida de Wendel disfarçou os seus inconseguimentos na posse e distribuição de bola, tal como o poderio físico deu jeito perante adversários tão dados ao “full contact”, mas passa por ser o maior equívoco dos onze titulares do Sporting.
Wendel (3,5)
Foi o médio de transição por excelência, acelerando o jogo leonino de uma forma que há muito não se via. Pagou essa ousadia com inúmeras pancadas nas pernas, raramente punidas pelo árbitro Jorge Sousa, conivente com a experiência científica conduzida pelos visitantes em que procuravam apurar se os joelhos do médio brasileiro são capazes de dobrar ao contrário. Quando finalmente teve direito a descanso já estava o resultado feito e pela frente aparece o desafio de virar a eliminatória da Liga Europa em Espanha.
Acuña (3,0)
Já foi lateral, já foi extremo, já foi médio de transição e agora tornou-se qualquer coisa como um híbrido de interior e extremo-esquerdo. Serviu-se da sua técnica e domínio de bola para dar dores de cabeça à defesa contrária, mas o mais impressionante foi o modo calmo (ao ponto de parecer induzido por medicamentos) com que lidou com as decisões do árbitro e a cobertura dos adversários.
Bruno Fernandes (4,0)
Tão grande é o seu grau de confiança que perto do final do jogo tentou repetir o golo com que gelou o Estádio da Luz, esquecendo-se de que Tiago Sá é bastante mais promissor do que Svilar. Teria sido magnífico bisar, algo que já tentara minutos antes, com um remate de longa distância que saiu pouco ao lado do poste, mas a missão do capitão cada vez menos interino do Sporting estava cumprida. Aproximado da baliza adversária pelo novo sistema, Bruno Fernandes inaugurou o marcador logo na primeira parte, com outro livre directo bem cobrado ao ponto de até meter impressão. E, fruto das combinações com Ristovski e Diaby na direita, ainda serviu Bas Dost no lance do 3-0.
Diaby (3,5)
Assentou-lhe como uma luva o papel de segundo avançado que tira partido da velocidade. Várias tentativas na primeira parte serviram de aquecimento para a jogada iniciada junto à linha de meio-campo em que suportou faltas de quatro adversários até ser derrubado na grande área do Sporting de Braga.
Bas Dost (3,5)
Ficou a dever a si próprio um hat trick que lhe devolveria a liderança isolada da lista de goleadores da Liga NOS, pois desperdiçou um passe para concretização de Ristovski e chegou atrasado a um bom cruzamento do macedónio. Nada disso apaga a forma gelidamente calma como marcou o pénalti e o posicionamento perfeito para desviar o cruzamento de Bruno Fernandes e fazer o 3-0. Teve direito a uns minutos de descanso e espera-se que na quinta-feira esteja cheio de força.
Luiz Phellype (2,0)
Ainda não foi nesta noite que justificou a contratação, preocupando-se mais com o contacto físico do que a bola.
Raphinha (2,0)
Mais um jogo pouco conseguido do extremo brasileiro, pouco eficaz no papel de avançado solto que interpretou durante um quarto de hora.
Idrissa Doumbia (3,0)
Entrou para que o departamento médico pudesse soldar as fissuras nas pernas de Wendel, o que não o impediu de ser o único suplente lançado por Marcel Keizer a deixar boa impressão, tanto nas missões defensivas como no lançamento de contra-ataques.
Marcel Keizer (4,0)
Única reclamação: não poderia ter antecipado a surpresa há alguns jogos, poupando-se a queda no abismo que levou decerto muitos dos 27 mil que se deslocaram ao Estádio de Alvalade a não saírem de casa sem levar um lenço branco? Certo é que o 3-4-1-2 cumpriu a missão de manietar o Braga e os destaques individuais encaminharam os leões para uma vitória contundente que no início da tarde de domingo ninguém adivinharia.
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