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És a nossa Fé!

Um reflexo da sociedade?

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Foto: Sapo Desporto

 

Hoje venho cá por um motivo maior que uma vitória, maior que uma derrota ou maior que um empate num jogo qualquer de qualquer modalidade.

Hoje venho cá para denunciar o que de pior há na sociedade e é aviltante que seja corriqueiro para alguma gente que tem por hábito tomar-se por pessoa.

Sim, venho falar do racismo no desporto. Venho falar dum jovem brasileiro exímio executante do jogo da bola no pé, saco de pancada de adversários que praticando um desporto estão longe de ser desportistas e vítima, em todos os estádios por onde espalha a sua magia, de insultos à sua dignidade enquanto atleta, homem e preto de pele. 

O pináculo da ignomínia aconteceu no último jogo da La Liga, em Valência, com grande parte dos grunhos que assistiam ao jogo na bancada Mário Kempes a gritarem, sempre que o homem tocava na bola, "mono, mono, mono", que traduzido do castelhano quer dizer macaco, como sabereis. A federação espanhola tem vindo a ser alertada há vários meses para este atentado à dignidade de um dos seus jogadores e até ontem nada fez, assobiando para o lado, enquanto o jovem ia resistindo aos insultos e às agressões físicas com lágrimas de raiva e talvez por vingança tornando-se cada vez melhor praticante do seu desporto favorito, sendo hoje peça fundamental na equipa de Carlo Ancelotti. 

Não deixando de ser reflexo da passividade e laxismo da federação espanhola, cereja no topo do bolo, o homem que foi insultado, vexado, espezinhado na sua dignidade foi expulso do jogo, por agressão. Seria caricato se não fosse abjecto. E foi expulso por indicação do VAR. 

Logo ali, no final do jogo onde se recusou a falar de futebol, Carlo Ancelotti, numa posição de enorme dignidade, denunciou a sacanice da expulsão e tudo o que a ela conduziu, inclusive a relativização do sucedido por parte do árbitro. 

Perguntarão porque mencionei o VAR na expulsão, pois bem, sucintamente porque o VAR mostrou ao árbitro uma agressão do jogador do Real a um jogador do Valência. No entanto o VAR resolveu retirar das imagens a agressão de Hugo Duro, jogador do Valência, ao brasileiro (um golpe conhecido por mata-leão). Assim, o árbitro apenas viu a reacção à agressão e não o início de toda a situação. Para bem da verdade desportiva o cartão foi retirado e a actuação do VAR condenada (sofrerá provavelmente a mesma sanção que Hugo Miguel, ou seja, nenhuma)*: "O Comité de Competição considera que um castigo "se enquadraria numa permanente e total impunidade, durante a presente época, de diversas ações de agressão física e verbal, por parte de adversários e adeptos, sobre o jogador expulso, perante a passividade das equipas de arbitragem, da RFEF e da Liga"." Acordaram, finalmente, espero.

"A actuação do videoárbitro não pode ser enquadrada em 'erro humano', pois a imagem que mostrou ao árbitro do encontro para avaliar a ação foi totalmente parcial, tendenciosa e determinante para o erro do árbitro", refere o Comité de Competição, que entende que a expulsão "foi injusta", "convertendo o agredido em agressor". De referir que no relatório apresentado pela equipa de arbitragem, colegiado em castelhano, só uma segunda versão dá nota dos insultos racistas, ou seja foi redigido um segundo relatório. Seria mais um escândalo a juntar ao que aconteceu durante o jogo.

Já no início do ano o jogador havia publicado um vídeo denunciando esta prática abjecta, com o apoio da federação brasileira, de muitos dos seus colegas futebolistas e enviada às federações continentais. Pelos vistos caiu em saco roto.

Consciente de que há apenas uma raça humana a que todos pertencemos independentemente da cor da pele, da altura, das eventuais deficiências físicas e cognitivas, da cor do cabelo, do tamanho do nariz, da forma e cor dos olhos, o meu sentimento de solidariedade está com todos os que sofrem na pele a agressão gratuita de alguns que por se julgarem superiores e acobertados pela impunidade, vão tornando a convivência pacífica cada vez mais difícil neste planeta. A minha simpatia está com todos eles e também com Vinícius Júnior.

Todos diferentes/Todos iguais.

 

PS: Foi hoje afastado da função de VAR, conjuntamente com mais cinco colegas, pelo comité técnico de árbitros. Do mal o menos. Hugo Miguel continua, obviamente.

Africano de cor branca e verde

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Ontem, José Manuel Delgado, falava de Muller e a propósito (ou a despropósito) veio Eusébio à baila.

Não se percebe a razão.

Para falar de um avançado eficaz no clube e na selecção que não andou a saltitar de emblema em emblema como Muller, Delgado deveria, teria de ter referido Peyroteo.

Os números de Peyroteo tanto na selecção como no clube são esmagadores quando comparados com Eusébio.

Peyroteo no Sporting; 332 golos em197 jogos, média 1.68 golos por jogo; na selecção, 14 golos em 20 jogos, média de 0.70 golos por jogo.

Eusébio no Benfica, 715 golos em 727 jogos, média 0.98 golos por jogo, na selecção, 41 golos em 64 jogos, média 0.64 golos por jogo.

Será Peyroteo alvo de uma espécie de racismo ao contrário?

(o e-mail de Delgado está aí, para quem quiser dizer ao sr. José Manuel que os sportinguistas não andam a dormir)

Se isto é um "clube de racistas"

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"Não gosto do Sporting. No meu bairro, era um clube de elite, da polícia, que não gostava das pessoas de cor, era racista", garantia há dez anos em entrevista ao Expresso essa luminária chamada Eusébio da Silva Ferreira. Eusébio tinha todo o direito de não gostar do Sporting, mas ou tinha má fé ou deveria ser muito distraído. Segundo consta, Eusébio almoçava todos os dias no mesmo restaurante em Lisboa. Um restaurante bem caro, pelo menos para os meus padrões, e onde o serviço nem é nada de especial. Mas ainda hoje consta ser frequentado por conhecidos benfiquistas (e o Sporting é que é um "clube de elite"): presumo que, para se ter o melhor serviço, deva ter que se apresentar o cartão de sócio do glorioso

Na noite da passada terça feira este restaurante estava no mais absoluto silêncio, como era de se esperar. Quem fazia a festa era um restaurante africano mesmo em frente, encostado à linha do comboio. Tudo decorria dentro da ordem, como deve ser nesta altura, sem nenhum problema ou risco especial, sob o olhar da polícia (que não sei se era "sportinguista"). Com música, imperiais e distanciamento. Os sportinguistas estavam na rua, e estendiam-se mesmo acima da passagem pedonal da linha do comboio, ornamentando-a como a fotografia ilustra. Mas o centro da festa ali era o restaurante africano.

O que diria o Eusébio se visse aquilo? Direi mesmo que passar por este bairro de Lisboa e comparar o restaurante "benfiquista" com o "sportinguista" serviria para desmontar muitos estereótipos.

Enegrecendo a luz verde

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Basquetebol, 2021.03.19.

Benfica 75 / Sporting 87.

Uma dúzia de diferença (à dúzia é mais barato).

Era isto que eu queria ler hoje nos jornais desportivos.

Em vez disso, uma campanha anti-racismo.

Há racismo no desporto?

Festejamos mais uma medalha de Rosa Mota que a de Patrícia Mamona?

Festejamos mais a medalha de Nélson Évora do que a de Carlos Lopes?

Se há sector na sociedade sem racismo é no desporto.

Não inventem problemas, informem.

O jornalismo serve para informar, a vitória de ontem, por exemplo, atletas de todas as cores do Sporting venceram os atletas de todas as cores do Benfica.

Empola-se um racismo que não o é

Texto de Miguel Correia

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Hilário, Vicente, Eusébio e Coluna: quatro moçambicanos na nossa selecção do Mundial-66

 

Recorde-se que Mário Coluna foi capitão do Benfica campeão europeu e da selecção portuguesa, na década de 60. Para não referir Mário Wilson, outro velho capitão. E Brito, capitão, atleta andebolista e treinador do Sporting. Prémio Stromp.

Tudo isto num Portugal a preto e branco, passe o daltonismo, com divórcio proibido, mini-saias regulamentadas, pílula não acessível, overdose religiosa e etc.

 

Somos muito melhores do que nos pintam.

E empola-se um racismo que não o é. Qualquer dia já não se pode chamar um benfiquista de lampião, um portuense de bimbo, um lisboeta de alfacinha ou um sportinguista de lagarto. Porque isto nada tem a ver com a pele, mas sim com identificação tribal. Se nos reportarmos ao futebol e dependendo da tribo, mais depressa se menoriza um lampião branco do que um sportinguista cor de carvão. E vice-versa.

 

Qualquer dia proíbem-se as anedotas de alentejanos. Como alentejano, discordo. Até porque o nosso anedotário contraditório dá dez a zero à concorrência.

Alfacinhas incluídos.

 

Texto do leitor Miguel Correia, publicado originalmente aqui.

Racismo em duas rodas

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A actual África do Sul será um país racista?

A equipa de ciclismo sul-africana (na imagem) que se apresentou na Volta à França deste ano não tinha nenhum ciclista negro.

O pelotão inteiro da Volta à França não tinha nenhum ciclista negro (não verifiquei com detalhe). Será racismo?

Na minha opinião nem tudo no desporto é racismo. A propósito do postal de Pedro Correia, eu, também, me lembro das duas selecções alemãs sem jogadores negros, a sociedade alemã dos anos oitenta seria mais racista que a actual?

Os russos são racistas?

Sim, não há um único negro nos onze da selecção que entram em campo para futebolar.

Não, claro que não, nos cinco da selecção que entram no pavilhão para futsalar, muitas vezes, dois são negros.

O racismo é um tema importante na sociedade em geral mas, infelizmente, algumas vezes levado ao exagero no desporto, especialmente, no futebol, o exemplo de Bernardo Silva é paradigmático.

Fazendo um pouco de humor, se João Mário apanhar algum castigo serei o primeiro a vir para rua gritar:

"Racistas! 25 de Abril sempre! Racismo, nunca mais!"

Futebol, Portugal, Brasil e racismo

 

«Guilherme Espírito Santo, são-tomense que por razões de deslocação dos seus pais se iniciou no futebol em Luanda, viria a ser, já com experiência de anos na equipa principal do Benfica, o primeiro negro a integrar a selecção nacional de futebol. Aconteceu em Novembro de 1937, num célebre Portugal-Espanha, primeiro duelo ibérico que a selecção nacional venceu. Há 83 anos!

Apenas em Novembro de 1978, ou seja, 41 anos depois da estreia de Espírito Santo, se estreou o primeiro futebolista negro na selecção inglesa: Viv Andersen, lendário jogador do Arsenal e do Manchester United, que aliás viria a tornar-se num militante lutador anti-racismo, lembrando, ainda recentemente, que "nos anos 70 os jogadores negros eram abertamente discriminados em Inglaterra".»

(...)

«Em Portugal a presença de jogadores negros nas equipas principais do futebol português e na selecção nacional traduziu-se por uma inteira aceitação de uma cultura aberta e multirracial do nosso povo. Jogadores como David Júlio, Hilário, Jordão, Dinis ou Salif Keita, no Sporting; Miguel Arcanjo, Jaburu, Juary ou Danilo, no FC Porto; Espírito Santo, Coluna, Eusébio ou Luisão, no Benfica, não apenas conquistaram estatuto de ídolos como promoveram a democracia racial como um hábito social saudável.

Nota especial, evidentemente, para Pelé, no Brasil, e Eusébio, em Portugal. Ambos foram determinantes na valorização social do homem negro, a pontos de se tornarem nos mais importantes embaixadores dos seus países, consagrados e admirados em todo o mundo. A influência de Pelé, apenas com 17 anos, na conquista do Mundial da Suécia (1958) ou a de Eusébio no sucesso português no Mundial de 1966, consolidaram o sentimento da tal democracia racial que o futebol promoveu como ninguém e me parece estruturante nas sociedades luso-brasileiras.»

 

Vítor Serpa, trechos de um texto intitulado "O racismo no futebol e na História"

(ontem, n' A Bola)

Viva Quaresma!

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(postal encontrado no Facebook)

Abaixo o Pedro Correia enviou um abraço ao Quaresma (e eu subscrevo-o, tal como o fazem vários dos comentadores desse muito atinado texto).  Outros comentadores resmungam, destilando desapreço pela "ciganada". E outros, num registo totalmente diferente, atirando-se a Quaresma porque se tornou "andrade". Então quero intervir, sobre os dois assuntos. Sobre a coisa clubística é pacífico aqui botar. Mas não me é sobre a política, pois ainda que me farte de blogar politiquices sempre julgo que aqui, num blog de Sporting, não é sítio para elaborar sobre esses assuntos, que nos poderão dividir neste ideal sportingal. Mas, de facto, trata-se de um assunto que, sem tirar nem pôr, é racismo. E um racista é pior do que um árbitro que nos rouba um penálti. Ou seja, o Ventura é pior do que o João Capela que, num jogo contra o Benfica, não marcou um penálti aos 3 minutos, outro aos 7 e um livre directo na meia-lua aos 12. E por isso boto, mesmo que afrontando uns sportinguistas venturescos que possam existir, pois pouca e má gente há-a em todo o lado, pois, como na tropa se diz, "aqui há filhos de muitas mães":

O cidadão Quaresma esteve muito bem, à campeão. Quanto à temática que ele abordou, o malévolo disparate do comentador futeboleiro Ventura, esteve o primeiro-ministro Costa, do qual não sou apoiante, muito bem. Se há problema legais, nisto do reserva provocada pelo Covid-19 ou com outras coisas, é com os cidadãos, não com grupos pré-determinados. Coisa que alguns, esses do tal Chega, ainda que poucos (65 mil votantes, 1,4% de eleitores, um estádio da Luz não cheio) não percebem. A lei é suficiente? Aplique-se. Não é? Mude-se. E aplique-se. Aos cidadãos, não a "grupos" pré-determinados ("comunidades", dizem os mal-falantes). E adianto que o que Costa disse dará para elaborar sobre outras coisas - o radicalismo comunista racista que andou nas bocas do país até ao Covid, acima de tudo - mas isso é assunto para outros blogs.

Mas - e falando de coisas mais nossas, estas do clubismo - há gente que abomina os profissionais que saem do clube e que ganham apreço a clubes onde prosseguiram a carreira, como se fossem apoucáveis por isso. Ora isso é como não gostar de Jordão, tão emotivamente celebrado há bem pouco, que veio do Benfica. Ou de Livramento, etc. Os atletas não são o mero adepto, como nós, que nunca mudamos de clube (muda-se de tudo, de igreja, partido, emprego, terra, mulher, e até - consta - de "orientação sexual", mas não de clube, é o dito de todos nós). São profissionais. E se vão para outro clube e lá são muito bem tratados, e por lá vivem com grande intensidade e sob grande carinho, é normal que se afeiçoem. As pessoas não conseguem perceber isso? Não conseguem perceber uma mudança dessas mas percebem mudanças ainda maiores, como as de nacionalidade, atletas do nosso clube ou de outros, que cresceram com outras nacionalidades e depois foram efusivamente representantes e até campeões por Portugal, usando as nossas cores? Isto é uma cegueira um bocado estranha. Amarão o clube, identificar-se-ão com o clube, mais do que com o próprio país?

Pois nunca ouvi Quaresma invectivar o Sporting. Foi formado no clube, seguiu a sua carreira, e foi muito bem tratado no Porto. Gosta daquele clube. A gente lamenta - quem me dera que ele tivesse jogado anos no Sporting, com grande sucesso. Mas foi o nosso clube que vendeu a sua licença desportiva ao Barcelona. E que não o recontratou quando ele saiu daquele clube. A gente lamenta, mas não há dolo aqui, nem culpas. Nem desrespeito.

Francamente, e ainda que possa estar em engano desmemoriado - e sim, nada gostei de ver Figo comemorar efusivamente um golo do seu Inter em Alvalade, mas compreendo-lhe o humano arreganho explodindo no momento -, de todos os futebolistas formados no clube e que saíram para outros clubes, o único que me desgosta francamente é Simão Sabrosa. Não por ter ido para o Barcelona, porque seria irrecusável. Não por ter ido para o Benfica, pois o Sporting não quis recuperá-lo, talvez porque não pudesse. Não por ter sido capitão do Benfica, porque isso foi corolário da sua carreira no clube. Mas porque, ele sim, teve declarações nada abonatórias, desrespeitosas, do clube que o formou. A mostrar uma muito pobre personalidade. E é essa a diferença que os mais empedernidos não conseguem ver.

 

Marega e o apoio do Sporting

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Várias vezes tenho criticado aqui o presidente do Sporting. E várias vezes continuarei a criticá-lo. Mas neste caso merece um elogio. Porque o Sporting foi a primeira instituição a pronunciar-se, quase em cima do acontecimento, sobre a inaceitável manifestação de hostilidade racista que visou Marega.

Nem o facto de este avançado pertencer aos quadros de um dos nossos principais adversários impediu o Sporting de o defender publicamente, com toda a força simbólica que isso implica, numa questão em que a razão estava do lado do atleta.

Em consciência, não poderia silenciar isto. Nem - até para registo futuro - deixar de subscrever aqui os quatro sucintos parágrafos daquele feliz comunicado, que ficam aqui transcritos, com o meu aplauso.

 

«O Sporting Clube de Portugal vem por este meio manifestar a sua solidariedade para com o jogador Marega do FC Porto e repudiar qualquer acto de racismo e preconceito social. 

Os valores que o Sporting Clube de Portugal defende não se revêem neste tipo de comportamento e consideramos, mais uma vez, que as autoridades devem agir em nome de todos aqueles que pretendem elevar o desporto e a sociedade portuguesa. 

Os acontecimentos desta tarde em Guimarães merecem toda a nossa atenção e preocupação e apenas em conjunto conseguiremos erradicar estas atitudes dos estádios em Portugal.  

Ao jogador, todo o nosso apoio.»

Sporting anti-racista

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                                     Joaquim Dinis                                                     Hilário da Conceição

 

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                                           Oceano Cruz                                                                     Rui Jordão

Portugal na imprensa alemã e austríaca, por estes dias

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"Wir sind alle Marega"
Somos todos Marega

 

 

 

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"Porto-Star verlässt nach Affenlauten den Platz"
Estrela do Porto deixa o campo depois de ruídos símios

 

 

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"Rassismus-Eklat in Portugal"
Caso de racismo em Portugal

 

 

 

 

Marega (6).JPG

 

"Spieler kaum solidarisch"
Colegas não se solidarizam

 

 

 

 

 

Até no jornal local de Stade apareceu uma notícia:

Marega (2).JPG

Não, o Marega não foi a única vítima de uma situação destas. Sim, nos outros países também acontece. Mas queremos ver Portugal na imprensa estrangeira pelos mesmos motivos?

Fizeste bem, Marega! Parabéns pela tua coragem! Algum dia tinha de acontecer, não podemos continuar a olhar para o lado!

Marega 1: 0 Ventura

Os respetivos links:

https://www.sueddeutsche.de/sport/fussball-wir-sind-alle-marega-rassismus-eklat-empoert-portugal-dpa.urn-newsml-dpa-com-20090101-200216-99-940687?fbclid=IwAR16xWb8CdcFGBSo5q6KTlFu42n4y_NKjxwgjBphKe2quxFmtEliGO--aKc

https://www.bild.de/sport/fussball/fussball-international/rassismus-skandal-portos-marega-verlaesst-nach-affenlauten-den-platz-68843600.bild.html?fbclid=IwAR25Vox2XHurHuZJn3nHKifr5JfhOs0lRkK74EbO_FTRq3CXK_q3tWJ0k4I

https://www.nachrichten.at/sport/fussball/fussball-international/rassismus-eklat-in-portugal;art191891,3227914?fbclid=IwAR1p9PR5DU9PPXATmcrW926TEnNgw05bygmXhjB-vbdhFtpE2KrwWZh56w4

https://www.sport1.de/internationaler-fussball/2020/02/rassismus-porto-star-moussa-marega-verlaesst-platz-mitspieler-bedraengen-ihn?fbclid=IwAR1PAnwFglD2YfrT3G6AWre6gWym2A65eenTWtHHu_ytd5t8D3889zB62RQ

Agitação no pântano

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Estádio Nacional, 18 de Maio de 1996

 

Moussa Marega, com um gesto veemente, fez agitar o pântano. Atingiu o limite da paciência, encheu o saco e disse "basta". As imagens que o mostram a abandonar o Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, estão a dar justamente a volta ao mundo. Num grito de revolta contra o racismo. E contra a violência no futebol, que começa por ser violência verbal antes de resvalar para a violência física.

Que sirva de exemplo para muitos outros - tenham a cor de pele que tiverem. Inclusive para aqueles que, em certos estádios e em certos pavilhões, imitam o som do very light que matou um adepto de futebol numa bancada do Estádio Nacional, com o filho menor - então com nove anos - a presenciar tão macabra cena, em plena final da Taça de Portugal.

Jamais esqueceremos a data: 18 de Maio de 1996. Chamava-se Rui Mendes, esse malogrado adepto de futebol. Que era também adepto do Sporting.

 

Vergonhosamente, a tal final continuou a disputar-se como se nada fosse, sem que o jogo fosse interrompido.

Vergonhosamente, o som desse very light continua a ser replicado por irmãos de emblema do assassino. O que é outra forma de continuar a matar Rui Mendes, quase um quarto de século depois.

Sem que ninguém rasgue as vestes. Sem que nenhuma alma sensível solte um brado de indignação.

A insustentável inconsequência dos actos

Ontem à noite, após os lamentáveis acontecimentos de Guimarães, choveram naturais recriminações ao contexto discriminativo que levou o maliano Moussa Marega a abandonar o terreno de jogo como forma de produção de um "statement" de um homem perante o racismo. 

 

O problema, o nosso problema, é a inconsequência material desta "excitação" que se apodera de nós nestas ocasiões e nos alerta para a necessidade de sermos solidários com quem ainda sofre com o preconceito rácico. 

 

Basta puxar atrás a caixa de comentários deste e de outros blogues para ser notório que, após a espuma do momento, o quotidiano segue como de costume. Por isso, se for entendido que o primeiro-ministro do país está a caucionar, por omissão, a estratégia de um rival, logo aparecerá alguém - hoje disposto a rasgar as vestes em benefício de Marega - , a epitetá-lo de "monhé". Alguns chamar-lhe-ão hipocrisia, mas creio que essencialmente tudo reside num preconceito que cumpre erradicar.  

 

A maioria das vezes nem nos apercebemos, fazemo-lo de forma inconsciente, mas o preconceito está lá, muitas vezes apoiado num léxico comum, pátrio, que contém inúmeras expressões figurativas e supostamente estilosas que o sublimam. Se calhar, precisamos de mais umas gerações para combater eficazmente isto, até porque a forma como hoje em dia o tentamos contrariar está longe de ser a desejada. Na era do politicamente correcto,  defendemo-nos recorrendo a todo o tipo de eufemismos que tiram genuinidade e autenticidade, frequentemente sendo pior a emenda que o soneto. É disso caso o tratamento por "negro", em oposição a "preto" ou "castanho", quando, no seu étimo, negro refere-se a escravo, ou seja, está nos antípodas do efeito desejado quando a ele recorremos. Já os americanos, por exemplo, criaram a expressão "afro-americano" como se qualquer africano tivesse de ter uma determinada cor de pele, o que acaba por ser um preconceito em si mesmo. (Outra forma inconsciente de racismo é o misto de indulgência e de condescendência que por vezes se ouve e vê quando nos referimos a uma pessoa de pele escura, consequência próxima do período de colonialismo e das diferenças educacionais mais presentes nesse tempo.) 

 

Nestas e em muitas outras coisas gosto de recorrer à infância, uma idade sem filtros nem preconceitos. Nos recreios das escolas, os miúdos não têm receio de tratar as coisas como elas são sem que daí resulte qualquer contrariedade para a outra parte. Para eles, o preto é tão natural como o branco, apenas mais invulgar e como tal portador de curiosidade acrescida. Assim foi na minha geração - a da descolonização - , da mesma forma que hoje o será entre asiáticos (essencialmente chineses) e brancos. É certo que por vezes uma deficiente intervenção parental subverte as coisas e retira a naturalidade que existe numa criança, embuindo-a de um preconceito com que ela não nasceu e levando-nos a assumir alguma crueldade nela, mas tal não retira a minha convicção de que todos temos muito a aprender com a idade da inocência. 

 

Para terminar, cada ser humano é único na sua diferença. Isso é bom, na medida em que cria diversidade, complexidade. Cada povo tem a sua própria idiossincrasia, sem que a raça seja determinante a essa característica. Por exemplo, um americano do Texas não é igual a um americano de NY na forma como vê o mundo e as questões culturais ou religiosas estão muito para além da raça, como o provam os Amish ou Mormons, por exemplo. Da mesma forma, um magrebino de Marrocos, Tunísia ou Argélia estará mais perto da cultura francesa, tal como uma tanzaniano ou queniano da inglesa, ou um líbio da italiana. Às vezes o preconceito reside em fecharmo-nos numa concha, no não termos mundo e não viajarmos ao filtro do outro. Pessoas assim tendem a simplificar a ignorância, rapidamente encontrando respostas acessíveis (e erradas) para questões muito complexas. Se formos abertos, rapidamente concluiremos o óbvio: sendo certo que todos somos diferentes, somos também todos iguais. Seres humanos. Só. Por isso, obrigado ao Marega por nos relembrar aquilo que nunca deveria estar esquecido. 

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O Caso Marega

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Sobre este caso Marega botei um texto. Como nele incluo considerações de teor político, as quais considero extravasarem o teor de um blog clubístico, não o colocarei aqui. De qualquer forma, e ainda que não queira utilizar este espaço colectivo para divulgar o meu blog de pequena audiência, deixo, para hipotéticos interessados, a ligação ao que escrevi. É este texto: "O caso Marega".

Só há uma cura para o racismo

Quando era criança, na minha rua havia um preto. Na minha turma havia duas. Depois mudei de escola, comecei a andar de transportes públicos e a minha realidade mudou. Começámos a jogar à bola todos os dias. Pretos, brancos e ciganos.

Quando entrei para a faculdade, conheci um dos meus melhores amigos. É asiático.

Comecei a trabalhar, vieram os Emirados e conheci dezenas de outros árabes e asiáticos.

Hoje, em minha casa, jantam pretos, judeus e asiáticos à mesma mesa.

Só há uma cura para o racismo: falar com pessoas.

O racismo que não há em Renato Sanches

Desde meados da época passada que a questão da idade do jogador Renato Sanches levanta infindáveis discussões a quem se interessa, e não só, pelo tema da bola.

Acabado o campeonato e despachado o jogador para o Bayern não deixou mesmo assim de ser esta questão abordada, agora por jornais estrangeiros, principalmente espanhóis, a que se juntaram declarações de um treinador francês que afirmou, sabe-se lá com que fundamentos, ter a certeza que o referido jogador não tem 18 mas sim 23 ou 24 anos. Mas aqui o que me interessa não é a idade do jogador, esse assunto está morto e enterrado, apenas voltou pela exposição que o Renato está a ter neste europeu. Muito pior que esta questão é a acusação que os ultra defensores do jogador fazem a quem questiona ou apenas aflora este assunto. São logo, e sem contemplações, acusados de racismo. Percebe-se a táctica; quando queremos encerrar um assunto tão incómodo como este, nada melhor que libertar para o espaço público um anátema deste calibre. Quem ousa discutir ou apenas falar da idade do jogador é à partida racista. Tenta-se assim abafar um caso que por culpa própria do jogador, e principalmente por culpa do seu anterior clube, continua na ordem do dia. Esta acusação, para mim gravíssima, é adoptada pelos seus defensores de forma leviana. Ver pessoas que leio já há alguns anos, e que por isso estimo, cavalgar esta onda de demagogia é para mim uma surpresa ou melhor uma decepção. Vivemos na vertigem da informação mas nem por isso podemos aligeirar as bases e os conceitos que nos regem e nos formam. Quando por qualquer assunto acusamos de racistas, como neste caso, os nossos oponentes numa discussão estamos não apenas a acusá-los de algo muito grave mas, pior, estamos a suavizar o próprio conceito de racismo. E é isso que é grave.

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