Bastante interessante a entrevista de Rúben Semedo ao jornal A Bola de ontem. Nunca fui grande fã do central, como jogador, mas gostei de ler o alerta aos mais jovens sobre os perigos inebrientes do dinheiro e da fama. Não era mal pensado que estas páginas estivessem impressas e espalhadas pelos centros de treinos desse país fora. Boa sorte, Semedo.
Gelson é, depois de Bruno Fernandes, o jogador mais importante do Sporting. Parece perigoso dizer isto tendo grandes jogadores como Coates, Mathieu, Patricio, Acuna e Bas Dost. Mas na verdade, a seguir ao sobre-dotado que enverga a camisola 8, é um jogador que revela uma entrega incrível e menos oscilações de forma, basta ver o jogo de ontem, em que depois de ter estado agarrado a coxa meio da segunda parte, veio já nos últimos 10 minutos travar um ataque do lado contrário, o que lhe valeu o primeiro amarelo, tendo ainda corrido como se viu no lance do golo. É verdade que não decide muitas vezes bem, faz parte da sua imprevisibilidade, mas não é menos verdade que muitas das vezes se não fosse ele a ajudar os laterais a fechar o corredor, o desfecho dos lances poderia ser outro. E o mais incrivel é que tão depressa está a fazer isso, como está a municiar com qualidade o nosso sector ofensivo. Ontem, Gelson teve a página mais negra da sua ainda curta e promissora carreira, agindo irreflectidamente, tal eram o entusiasmo provocado pela situação e a situação conturbada que vive um dos seus melhores amigos. Esse erro vai deixá-lo fora do jogo da próxima sexta-feira no dragão, mas, dada a humildade que já demonstrou ao logo dos anos, não tenho dúvidas que o ajudará a aprender e a crescer.
Este infeliz episódio de ontem, com o qual tambem fiquei obviamente insatisfeito e incredulo, leva-me a lançar uma questão para refletirem:
Seriam os criticos tão duros para com o jogador caso ele, em vez de demonstrar apoio a um ex jogador com um historial problemático, tivesse sido expulso por tirar a camisola para mostrar apoio a um familiar ou amigo, sem o mesmo mediatismo, mas com um problema tão ou mais grave?
Primeiro: as declarações sucintas, mas de inequívoco teor abonatório, do presidente do Sporting ao jornal desportivo espanhol de maior audiência, sobre Rúben Semedo, futebolista da nossa formação que vive horas muito difíceis em Espanha.
Segundo: a resposta irónica, e ajustadamente breve, de Bruno de Carvalho a Moita Flores, que o destratara num artigo com expressões insultuosas enquanto dizia "apoiar sempre o Sporting" (ao que parece, sem pagar quotas há mais de quatro anos).
Isto é comunicar bem.
Tanto melhor por ter havido dois exemplos no mesmo dia.
Mantém-se a tradição: continuamos a formar bons jogadores... para outros clubes beneficiarem deles. Que o digam Carriço, Eric Dier e Cédric, por exemplo.
Exemplo mais recente: no dia em que o Sporting naufraga frente ao V. Guimarães, terminando o jogo com apenas um defesa central de raiz em campo, Rúben Semedo marca o golo da vitória da sua nova equipa, o Villarreal.
É extraordinário sermos nós próprios os mais descrentes quanto aos méritos dos jogadores que formamos. Os outros, que lucram com eles, agradecem.
Eis, condensado numa frase de cinco palavras, todo um programa. O programa do futebol do Sporting, confiado à batuta de Jorge Jesus.
A mais sonante contratação deste defeso leonino, ao que tudo indica, é um lateral que actuou menos de 300 minutos na época passada e não conseguiu fazer mais de 12 jogos completos nas três últimas temporadas.
Não sei se se vai concretizar, mas se sim, muito sinceramente, lamento.
Já por aqui escrevi que, com as devidas proporções, daqui a dois, três anos, Ruben Semedo com uma utilização regular e com vitórias, que também ajudam a estabilizar o crescimento, poderia ser um outro Beckenbauer. Um pouco mais subido no terreno, o jovem que sai quase sempre com a bola jogável e em regra a entrega redonda aos colegas, bem explorado pode ser uma arma que ajude a furar defesas, naqueles passes "com olhos", que por vezes são meio golo.
Não parece ser essa a opção, a ver pelas notícias nos vários jornais, mas pode ser apenas e mais uma vez, carvão.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre RÚBEN SEMEDO:
- Eu: «Impressiona como um jogador tão jovem tem já tanta maturidade competitiva. Todos os cortes lhe saíram bem e até pareciam fáceis - mesmo quando não eram. Grande qualidade na reposição de bola.» (28 de Agosto)
- Gabriel Santos: «Fernando Santos, estás à espera do quê para convocar o Rúben Semedo?» (28 de Agosto)
- Francisco Vasconcelos: «Será que, tendo em conta o calendário fácil e a necessidade de renovação, eu sou a única pessoa que não percebe como é convocado [para a selecção A] o Bruno Alves em vez do Rúben Semedo?» (29 de Setembro)
- Marta Spínola: «Vendo a cara do Rúben Semedo no final do jogo, percebe-se que não somos só nós a achar que aquele resultado soube a derrota. E não é saber a derrota por merecermos mais um golo - que até merecíamos -, ou erro do árbitro, ou anti-jogo - que também existiu, não discuto isso. É saber a derrota porque sabemos e podemos mais que isto.» (29 de Outubro)
- Luciano Amaral: «Viu-se nos jogos com o Dortmund: bastou o Aubameyang acelerar um bocadinho à frente do Rúben Semedo e lá voltámos com zero pontos.» (22 de Novembro)
- Francisco Chaveiro Reis: «Coates, Semedo e Oliveira dão garantias. Acredito que são os laterais os maiores culpados pelos golos sofridos.» (20 de Dezembro)
- Rui Cerdeira Branco: «Pela minha parte terei sempre maior capacidade de aceitar dores de crescimento de um Ruben Semedo do que de um Douglas.» (14 de Maio)
Boa vitória da nossa selecção sub-21 hoje frente à Noruega. Por 3-1. Com o nosso Rúben Semedo a marcar o segundo golo. Os outros foram apontados por Gonçalo Paciência (Rio Ave) e Diogo Jota (FC Porto).
Vale a pena sublinhar: a selecção sub-21 não perde há quase seis anos, desde Outubro de 2011. De então para cá averbou 24 vitórias e apenas sete empates. Estão de parabéns os jogadores e o treinador Rui Jorge.
Do desempenho do Sporting. Foi um jogo lamentável - tão mau ou pior do que o anterior, frente ao Tondela. A equipa anda à deriva, apática, com uma gritante falta de atitude e uma clamorosa falta de empenho por parte de vários jogadores. Hoje não conseguiram melhor do que um empate a zero frente ao Nacional, na Choupana. No mesmo palco e perante o mesmo conjunto que há um ano tínhamos vencido 6-0.
De William Carvalho. Aos 7', Coates foi derrubado dentro da grande área. Penálti claro, desperdiçado pelo capitão da equipa com um remate frouxo e muito denunciado. Oportunidade perdida. Não voltámos a ter outra assim.
Do treinador. É incompreensível que Jorge Jesus tenha indicado William como marcador da grande penalidade, quando é sabido que esta não é uma especialidade do capitão, que já tinha falhado um penálti na final do Europeu sub-21 frente à Suécia. Bruno César não poderia ter assumido essa tarefa? Bas Dost não sabe marcar penáltis?
Do onze titular. Jesus parece aprender muito pouco com os sucessivos desaires da equipa. Tirou Elias, mas Bruno César não foi superior enquanto médio de construção. E voltou a dar oportunidades a jogadores que nada contribuem para um bom desempenho do onze leonino, como Marvin e Markovic. Continua a optar pelo apagadíssimo Bryan Ruiz, quase sem dar oportunidades a Campbell. E anda à deriva, tal como a equipa, sem conseguir fixar um titular na posição de segundo avançado.
De Bas Dost. Mal se deu por ele em campo. Fez-nos sentir saudades de Slimani. E até de Teo Gutiérrez.
De Alan Ruiz. Suplente utilizado, voltou a ser uma nulidade. Sem nunca ganhar um lance, sem visão de jogo, sem capacidade de abrir linhas de passe. Podia ter continuado no banco.
Do número de passes falhados. A partir de certa altura deixei de contá-los, tantos eram e tão disparatados. Em todas as zonas do terreno.
Do penálti perdoado ao Nacional aos 75'. Bruno César foi claramente derrubado em falta, sem que o árbitro Vacso Santos assinalasse o castigo máximo. Embora nada garantisse que, havendo penálti, desta vez a bola entrasse.
Da incapacidade de construirmos lances ofensivos. Processo de construção lento atrás, domínio de bola atabalhoado à frente. O lesionado Adrien nunca fez tanta falta como agora.
Do nosso terceiro empate consecutivo na Liga 2016/17. Depois de tropeçarmos frente ao Guimarães e em casa contra o Tondela. Não há duas sem três.
De mais dois pontos perdidos. Estamos já a sete do Benfica, que hoje somou mais três.
Gostei
De Rúben Semedo. Foi talvez o jogador do Sporting que errou menos nesta partida. Foi também um dos poucos que revelaram genuína atitude leonina, bem patente na forma como nos últimos minutos procurou empurrar a equipa para diante. Podia ter marcado, aos 87', com um bom cabeceamento na sequência de um canto, defendido pelo guarda-redes do Nacional. Voto nele como o melhor jogador da nossa equipa nesta partida. Ou o menos mau, para ser mais rigoroso.
De Gelson Martins. Inconformado com o marasmo dos colegas, tentou remar contra a maré fazendo valer a sua boa técnica individual. Desta vez os lances não lhe saíram tão bem e teve ainda por cima Markovic, mal posicionado, a estorvar-lhe o seu raio de acção. Mas merece nota positiva pelo empenho - ao menos isso.
Que não tivéssemos sofrido golos. Depois de termos levado três do Rio Ave, dois do Estoril, mais três do Guimarães e outro do Tondela, ao menos hoje mantivemos as nossas redes invictas.
Da sorte. Um inacreditável falhanço de Coates, incapaz de interceptar a bola na zona que lhe estava confiada, e uma defesa sem nexo de Rui Patrício quase geraram um autogolo do nosso guarda-redes. Felizmente a trave impediu esse mal maior.
Parabéns ao Daniel Podence e ao Rúben Semedo, dois bravos leões que ontem participaram na goleada da selecção nacional sub-21 frente ao onze do Liechtenstein por 7-1 - a mais expressiva vitória de sempre da equipa das quinas fora de casa neste escalão.
Podence marcou o segundo golo, Rúben Semedo fechou a conta - ambos com exibições muito positivas. Apostas do seleccionador Rui Jorge, cuja competência é comprovada pelos números: há cinco anos que os nossos sub-21 não perdem em confrontos com outras selecções.
Este é o futebol que vale a pena enaltecer. Hoje, amanhã e em qualquer dia.
Será que, tendo em conta o calendário fácil e a necessidade de renovação, eu sou a única pessoa que não percebe como é convocado o Bruno Alves em vez do Rúben Semedo?
Aproveito ainda para dar os parabéns ao menino Gelson pela merecida primeira chamada às opções do selecionador Fernando Santos.
Primeiras impressões acerca do jogo de hoje, com o FCPorto:
Os primeiros quinze minutos dominados pelo Porto, em que marcou um golo.
Dos quinze aos sessenta minutos, jogo claramente dominado pelo Sporting, que começou com o golo do empate e ainda marcaria outro antes da meia hora.
Dos sessenta até final, claramente dominado pelo árbitro, que quis ser protagonista num jogo em que claramente não é especialista. Muito mau nos campos técnico e disciplinar, ele apenas, conseguiu cortar o ascendente do Sporting a partir da hora de jogo. Incompetente, para não lhe chamar outra coisa.
De qualquer forma, não merece contestação o resultado e o vencedor é mais que justo.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre RÚBEN SEMEDO:
- José Navarro de Andrade: «O jogo de apresentação é o mais leve e esperançoso do ano. Por uma vez, não subimos ao estádio para sofrer o resultado, mas para apreciar as promessas reservadas pelos jogadores que trazem um número novo nas costas da camisola – quem é aquele espigado com o nº 20 do Quaresma? É o Bryan Ruiz; e aquele de rabo-de-cavalo cheio de peitaça? Ruben Semedo.» (4 de Agosto)
- Eu: «Intransponível. Seguro nos cortes, colocando a bola sempre bem direccionada no início do processo ofensivo, actuou de modo irrepreensivel no lugar do lesionado Paulo Oliveira.» (13 de Fevereiro)
- José da Xã: «Sei que vieram Bruno César, Coates e Zeegelaar, tendo também regressado Rúben Semedo. Mas todos eles insuficientes para as reais aspirações do Sporting.» (16 de Maio)
Parece-me muito interessante o empréstimo do Ruben Semedo ao Reus, embora tenha medo que ele aprenda a dar stickadas mais fortes com a formação de hóquei em patins do clube catalão.
Mais a sério: que o nosso defesa central aprenda qualquer coisa com este exílio no terceiro escalão do campeonato espanhol, pois o homem que admitiu torcer pelo Benfica, e que atirou a camisola verde e branca ao chão, começa a esgotar as oportunidades.
P.S. - Pelo contrário, considero bastante lamentável que um profissional sério e esforçado como Vítor Silva não seja encaminhado para um qualquer Paços de Ferreira onde possa ser patrão.
O que dissemos aqui, durante a temporada, sobre RÚBEN SEMEDO:
- Eu: «Gostei da estreia de Rúben Semedo como titular. O jovem de origem caboverdiana deu muito boa conta do recado como defesa central, fazendo dupla eficaz com Maurício. Tranquilo, atento, muito concentrado, com bons reflexos, bateu-se como um leão contra Mario Gómez, o maior craque da Fiorentina. E coroou a sua excelente exibição com um golo de belo efeito, o terceiro do Sporting.» (12 de Agosto)
- Duarte Fonseca: «Rúben Semedo esteve bem e certamente terá deixado Ilori a pensar no que quer para o futuro.» (12 de Agosto)
- João Paulo Palha: «Se me perguntarem se o Sporting deve reforçar-se em Janeiro, tendo em vista o título, direi que sim, se tal for necessário, que vamos aos bês buscar Rúben Semedo ou João Mário ou Iúri Medeiros ou Betinho ou Ricardo Esgaio ou Filipe Chaby, ficamos muito bem servidos.» (12 de Dezembro)
- Paulo Gorjão: «Receio que Rúben Semedo ande próximo de ter esgotado o capital de boa vontade. Seria lastimável que, com o seu talento, por manifesta imaturidade e falta de tino, desperdiçasse a oportunidade que tem nas mãos e com a qual muitos outros apenas podem sonhar.» (28 de Abril)
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.