Porque hoje é quarta-feira fala-se do Sporting europeu.
Porém, como se poderá falar do jogo de ontem senão como a continuação do jogo de sexta-feira?
Somente o adversário era outro e os jogadores estavam, naturalmente, mais cansados - mas assim não devia ser nesta altura - e sem ideias.
A minha leitura:
Ouro - Alvalade. Público incansável não merecia a exibição e o resultado.
Prata - Gelson. O genial «espalha-brasas» anda cansado.
Bronze - Mathieu.
Latão - Muitos, porém destaco os laterais. Um, nota-se que desaprendeu algo - parece que atingiu o limite dos pontos e tem que tirar novamente a carta de condução -, o outro não sei se alguma vez saberá conduzir.
Lisboa acordava debaixo de um concerto de nuvens cerradas que anunciavam cedo o fim do Verão. Um tempo desmotivador mas que não impedia a romaria de mais de 30 mil pessoas até ao Estádio Nacional, no coração do parque do Jamor. Era um dia especial, ainda que dificilmente o público pudesse imaginar o quão importante seria aquele momento para a história do futebol. Sem o saberem, nessa tarde de domingo, os adeptos tornaram-se testemunhas do acto em que a Europa consumou de forma definitiva a sua união. No terreno de jogo muito antes do que nos gabinetes ministeriais. O futebol encontrou uma forma de fintar as tensões políticas da Guerra Fria e ao mesmo tempo sarar as diferenças entre os vencedores da dura guerra mundial que tinha arrastado o mundo para o seu mais terrível pesadelo. Se dois anos depois, em Roma, seis nações da Europa Ocidental dariam selo oficial à Comunidade Europeia, nessa tarde de Setembro a Europa viveu o arranque do seu jogo sem fronteiras.
O duelo entre o Sporting Clube de Portugal e o Partizan de Belgrado significou o início das competições europeias de clubes organizadas pela UEFA. Era o ponto final de uma história de torneios meramente regionais e o primeiro passo para uma progressiva união do continente à volta do esférico. Estavam reunidas as condições perfeitas para o futebol ser a rampa de lançamento do que viria a ser conhecido depois como o processo de integração europeia.
A competição chamava-se oficialmente Taça dos Clubes Campeões Europeus mas nem o Sporting nem o Partizan tinham sido campeões das suas respectivas ligas. Representavam o que de melhor se tinha visto nos campos de jogo do Velho Continente nos anos anteriores e por isso foram escolhidos pela UEFA para participar na prova, jogando a sua partida inaugural. Nessa tarde não desiludiram. Os “Leões”, com três elementos do quinteto conhecido como “Cinco Violinos” ainda na equipa (Albano, Vasques e Travassos), começaram a vencer, com um golo madrugador de João Martins. O mesmo jogador iria apontar o último tento do encontro. Para trás tinha ficado um duelo intenso, com os jugoslavos a igualarem antes do intervalo para depois colocarem-se por duas vezes na frente do marcador, Com dez jogadores em campo, o Sporting aguentou a pressão do rival, liderado pelo notável dianteiro internacional jugoslavo Bora Milutinovic, e empatou a dez minutos do fim (3-3).»
In: PEREIRA, Miguel Lourenço [et al.] - Noites europeias: uma história das competições europeias de clubes - 1897-2013. Guimarães : Amor à Camisola, 2013. pp. 76/77
Informação complementar sobre João Martins, o autor do primeiro golo das competições europeias, neste artigo do «Observador».
(*) Com este título, Porque hoje é Quarta-feira, irei dar a conhecer excertos de textos, artigos de jornais ou a minha leitura de jogos europeus do Sporting.
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