A Direcção-Geral de Saúde acaba de estabelecer um extenso rol de proibições como condição para o reinício das competições profissionais do primeiro escalão desta malograda época 2019/2020, ainda com cerca de 30% dos jogos por disputar. Este protocolo sanitário ameaça tornar inviável o recomeço do calendário desportivo, que já devia ter sido dado como concluído - à semelhança do que aconteceu em França, Holanda e Bélgica.
Desde logo, o documento atira para cima dos clubes e dos próprios atletas toda a responsabilidade por um eventual surto de infecções que possa ocorrer no futebol português. O ponto 1 do documento negociado entre o Governo e os responsáveis federativos aponta-lhes de antemão o dedo acusador: qualquer malogro que ocorra no campo sanitário ser-lhes-á imputado. Daqui, o poder político lava literalmente as mãos, imitando um gesto que ficou célebre há dois mil anos.
Este extenso manual de procedimento, ontem divulgado em simultâneo pela Federação e pela Liga Portugal, impõe severas condições aos jogadores, incluindo o prolongamento do regime de reclusão domiciliária até ao fim das competições, a realização de contínuos testes de despistagem ao novo coronavírus e o estrito cumprimento das normas de distância sanitária em quase todas as etapas de treino.
Na prática, só deixarão de usar máscara durante os jogos. E viverão largas semanas numa espécie de prolongamento da quarentena antes imposta ao conjunto da população mesmo já não estando o País sob estado de emergência, sendo muito duvidoso o fundamento legal destas normas, aliás extensivas aos membros das equipas de arbitragem.
Alguns profissionais do FC Porto - incluindo o capitão Danilo - acabam de tornar público que rejeitam tais medidas, tornando ainda mais impraticável a imensa trapalhada em que o poder político e as autoridades federativas se envolveram para "devolver o futebol ao povo" e satisfazer os anseios financeiros de operadores televisivos e alguns emblemas desportivos.
Apesar das duas taças ganhas no primeiro ano de mandato aos rivais directos, uma das críticas recorrentes a Frederico Varandas é a falta de competência demonstrada por si e pela sua equipa na gestão da SAD e do futebol profissional.
Uma “equipa de estagiários”, como dizia Ricciardi, todos (Salgado Zenha, Miguel Cal, Hugo Viana, Beto) mais ou menos da idade do presidente e com notória falta de experiência e curriculum para os lugares que ocupam.
Aliás a mesma coisa acontecia já com a equipa de Bruno de Carvalho (Carlos Vieira, Rui Caeiro, André Geraldes).
E realmente, quando olhamos para as SADs dos rivais vemos gente com outro “peso”, por exemplo Domingos Soares de Oliveira no Benfica, e SADs a gastar muito mais em salários mas também a ter profissionais de outro calibre.
Sendo uma SAD uma sociedade cotada em bolsa da qual o Sporting Clube de Portugal é sócio maioritário, pode-se de facto questionar como é que os investidores privados aceitam que a gestão do seu investimento seja confiada a gestores inexperientes eleitos pelos sócios do clube, correndo o risco de serem hostilizados ou verem os activos da sociedade serem maltratados ou assaltados sem nada poder fazer em sua defesa. Ou como é que o Sporting pode atrair novos e melhores investidores com uma SAD a funcionar desta forma.
Não tendo nada que ver com o que se passa em Inglaterra, onde os clubes históricos deram lugar a empresas com donos, existe um pouco de tudo em Portugal, desde SADs puramente instrumentais nas mãos dum presidente de clube “histórico”, àquelas em que o clube perdeu o poder de gestão da mesma (ex: Tondela, Portimonense) por incapacidade financeira. Algumas entraram mesmo em colisão com o clube original, como a do Belenenses e agora parece acontecer com a do Aves.
Não é isso no meu entender o que queremos para o Sporting. Queremos uma SAD que o clube efectivamente controle, por maioria absoluta ou qualificada, de forma a garantir os valores do clube e os interesses dos sócios, mas também uma SAD profissionalizada e competente, com directores financeiros e desportivos também eles profissionais e competentes na área do desporto profissional, que se possam manter para além dos mandatos presidenciais do clube de forma a gerir da melhor forma um volume de negócios de muitas dezenas de milhões de Euros. Queremos uma SAD capitalizada e sustentada de forma a poder competir com os dois rivais pelos milhões da Champions e não com clubes regionais como Braga e Guimarães para os tostões da Liga Europa.
Conjugar essa SAD profissionalizada com um clube eclético e democrático não é fácil, os altos salários estão na SAD e não no clube, nem todos os candidatos a presidente são empresários bem sucedidos que se podem dar ao luxo de abdicar do seu salário para servir o Sporting, e nem todos os presidentes querem deixar de ter o protagonismo de serem os “donos” do futebol.
Mas é possível, e se virmos bem, os presidentes do Sporting que ganharam campeonatos nos últimos 40 anos foram aqueles ou alguns daqueles que mais distância mantiveram com a gestão do futebol: João Rocha, José Roquette e Dias da Cunha, delegando em pessoas qualificadas para o efeito (respectivamente Sousa Marques, Luís Duque e Miguel Ribeiro Teles) que geriam estruturas que integravam dirigentes dedicados como Manolo Vidal ou profissionais como Carlos Freitas.
Diz Boloni no seu livro: “Gostei da postura de Ribeiro Teles. Muito pragmático e pouco dado a filosofias baratas, definiu as metas e foi direito aos assuntos sem desvios. Fui tudo muito fácil." Sobre Dias da Cunha (um empresário com um curriculim invejável que por muito pouco ia sendo bi-campeão nacional e vencedor da Taça UEFA)… “Representa a calma em pessoa… um grande senhor."
Concluindo e com pandemia ou sem ela, penso que o modelo actual da SAD não serve os interesses do Sporting. Mais tarde ou mais cedo terá de ser revisto em paralelo com os estatutos do clube, e que conviria ter um debate franco e aberto sobre o tema de forma a chegar a soluções de fundo e de futuro para o nosso grande clube. Entre outros, Dias Ferreira (*) já teve oportunidade de alertar para o tema.
Sendo assim, fica aqui o convite para reflectirem sobre o tema e deixarem as vossas opiniões sobre que modelo de SAD querem para o Sporting.
Muitos treinadores têm passado pelo Sporting, muito poucos levantaram as taças mais importantes, as de campeão nacional e as da taça de Portugal. Alguns portugueses e alguns estrangeiros, os últimos dos quais Marcel Keizer e Lazlo Boloni (correctamente László Bölöni).
Foram dois homens que ganharam coisas, boas pessoas com personalidades discretas e tranquilas, mas o romeno vinha dum passado de futebolista de eleição no Steaua de Bucareste, campeão europeu contra o Barcelona, e na selecção romena (108 vezes internacional) e, tácticas à parte, tinha de facto outra sagacidade e visão do mundo e do futebol, e também outra atenção aos mais jovens (um dos exemplos é mesmo Hugo Viana).
Vem isto a propósito do último post do Pedro Oliveira me ter levado a passar os olhos no livro do romeno, e reler algumas coisas que foram então muito importantes e que se calhar explicam muito do que foi a catástrofe desta época.
Diz então Boloni (pág. 20): "Quis fazer um teste físico para avaliar o estado dos jogadores após as férias, mas deparei com a primeira dificuldade. É que nem todos estavam presentes. ... Fiquei espantado quando, alguns dias após a apresentação, o Nelson casou e foi para a lua de mel... Anotei no meu bloco que seriam situações a mudar no futuro.... Apesar das ausências começámos pelo tal teste físico... comparei os resultados obtidos com os que tinha feito com a equipa B da Roménia, não havia comparação possível. ... os meus jogadores não revelavam capacidade de sofrimento. Numa equipa é bom que haja talento mas é igualmente importante o espírito de sacrifício."
(Depois até houve um mini-estágio físico no meio da temporada aproveitando uma pausa para jogos da selecção)
Outra:
"Não demorei muito tempo a perceber que o plantel era desequilibrado.... Uma equipa não pode ter estes desequilibrios tão acentuados. Até por uma questão lógica de gestão do plantel. Cinco jogadores internacionais para o mesmo lugar, nos quais o clube investiu tanto dinheiro, dá problemas de balneário na certa.".
(Penso que se estaria a referir à abundância de defesas centrais/trincos: Beto, André Cruz, Quiroga, Babb, Rui Bento, Hugo e Paulo Bento, e à falta dum "pinheiro" no ataque, depois veio Jardel)
Mais outra:
"Outra questão que senti ao observar os vídeos tinha a ver com as faixas laterais. Como era possível que os adversários passassem nas zonas de acção de César Prates ou de Rui Jorge e eles não estivessem lá? Ou melhor, eles estavam mas nunca no sítio certo. Alguma coisa não estava bem. A defesa era ineficaz. Sofria golos com muita facilidade."
(César Prates era o Ristovski da altura, de cima a baixo sem parar, sempre fora do lugar. E foi assim que o Beto foi adaptado a defesa direito.)
E mais outra, depois da terceira derrota em oito jogos no Campeonato:
"O que mais me enervou em Braga foi aquela falta de disciplina do Rui Jorge, que é uma pessoa formidável, já tinha duas expulsões em oito jogos. E as duas por palavras dirigidas aos árbitros. Os jogadores costumam reenvidicar uma série de exigências que consideram justas: o equipamento, o calendário dos treinos, etc. Mas depois esquecem-se de compensar isso tudo dentro do campo. Quando isso não acontece, tomo-o como uma falta de respeito à minha pessoa. Eu exijo aos jogadores determinadas coisas e isso tem de ser cumprido."
(E o Rui Jorge, o Acuña daquele tempo, chegou onde chegou)
Concluindo, Boloni debateu-se com questões de preparação física, espírito de sacrifício, equilíbrio do plantel, defesa eficaz das laterais da defesa e disciplina, que conseguiu controlar e ultrapassar. Todas elas estiveram presentes nesta triste temporada, quase vinte anos depois do romeno nos ter proporcionado a última dobradinha da história do Sporting.
PS: Um dos campeões da foto chegou depois a director da Academia de Alcochete, estava lá quando o ex-presidente chegou, já não estava quando ela foi assaltada.
Quanto vale o plantel do Sporting? Ou melhor, qual é o valor de mercado do plantel do Sporting?
Vamos responder à questão utilizando os dados da plataforma Transfermarkt (TM), que foram revistos em baixa a 8 de Abril devido provavelmente à pandemia:
Valores dos principais planteis, incluindo emprestados e vendas em curso:
Benfica 269,9M€
Porto 217,53M€
Sporting 98,25M€ (c/ Jese e Bolasie)
Braga 89,5M€ (c/ Trincão e Palhinha)
Guimarães 40,38M€
Valor de mercado do plantel alargado do Sporting, ou seja, o conjunto dos jogadores com contrato profissional com o clube
Sporting 114,65
Jogador
Idade
ValorMercado
Marcos Acuña
28
12,00
Matheus Pereira
23
9,50
Sebastián Coates
29
8,00
Wendel
22
8,00
Luiz Phellype
26
6,50
Vietto
26
6,00
Rodrigo Battaglia
28
5,50
Palhinha
24
4,80
Valentin Rosier
23
4,80
Jovane Cabral
21
4,50
Abdoulay Diaby
28
4,00
Idrissa Doumbia
22
4,00
Rafael Camacho
19
3,60
Andraz Sporar
26
3,20
Stefan Ristovski
28
3,20
Cristian Borja
27
2,80
Luís Maximiano
21
2,70
Miguel Luís
21
2,70
Eduardo Henrique
24
2,40
Renan Ribeiro
30
2,00
Tiago Ilori
27
2,00
Misic
25
2,00
Luís Neto
31
1,60
Bruno Gaspar
26
1,20
Jérémy Mathieu
36
1,20
Mattheus Oliveira
25
1,20
Chico Geraldes
25
1,00
Gonzalo Plata
19
0,90
Gelson Dala
23
0,80
Ivanildo Fernandes
24
0,80
Pedro Marques
21
0,50
Daniel Bragança
20
0,48
Pedro Mendes
20
0,45
Leonardo Ruiz
24
0,33
Joelson Fernandes
17
0,00
Eduardo Quaresma
18
0,00
Nuno Mendes
17
0,00
Matheus Nunes
21
0,00
Rodrigo Fernandes
19
0,00
Analisando estes valores, frutos de uma má época com maus treinadores, é óbvio que este lote de jogadores vale bem mais do que os 115M€. Desde logo porque os mais jovens não estão valorizados, excepção feita a Max e Miguel Luís, e os melhores estão mesmo subavaliados.
Por exemplo, falando de defesas esquerdos, no Benfica Grimaldo (24) está avaliado em 28M€ e no Porto Alex Telles (27) em 32M€. Nenhum deles é titular das suas selecções. Acuña só vale 12M€ ?
Quanto a Vietto, no Benfica Rafa (26) em 24M€ e no Porto Otávio (25) em 13,5M€. Vietto só vale 6M€?
Mas enfim, é o que temos. Esta situação só pode mudar com um bom treinador, e duvido muito que Rúben Amorim nos desiluda porque parece mesmo que é um bom treinador, e com bons desempenhos nas diversas competições e entrada na Champions. Mas também pode ser ajudada pelo bom desempenho dos nossos estrangeiros internacionais nas respectivas selecções e temos Wendel, Plata, Doumbia, Battaglia, Coates, Acuña e Borja nessas condições.
PS: Gostei de ler o elogio (merecido) de Bruno Fernandes a Marcel Keizer, um treinador que, como Boloni, continua a ser de alguma forma menosprezado pelos Sportinguistas. No pouco tempo que cá esteve ganhou duas taças ultrapassando Braga, Benfica e Porto. Há sempre quem prefira recordar aqueles que com muita presença e atitude falharam nos momentos críticos e deixaram as taças nas salas de troféus dos outros.
SL
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