Todavia interiormente adivinhei o vencedor. Também não era nada difícil tomando em consideração as restantes selecções europeias.
É curioso que num pedaço do extremo ocidental da Europa morem dois países com filosofias desportivas antagónicas. Enquanto um país pretende ganhar sempre, mostrando para isso competência de organização e escolha, o outro mune-se de uns tantos atletas, a maioria afectos a certos negócios, vai buscar um treinador da mesma área de interesse e depois esperam pacientemente que algum dos jogadores num raro rasgo de ousadia resolva o problema.
Demos um salto em frente e falemos de coisas óbvias. Espanha é tetra campeã europeia após ter vencido (apenas) a Itália, França, Alemanha e Inglaterra. No mesmo dia em Wimbledon um outro espanhol sagrava-se campeão deste reconhecido torneio de ténis, semanas após ter ganho o Roland Garros em Paris. Também é em Espanha que mora o vencedor da Liga dos Campeões de 2024. Assim como no Tour de França dois espanhóis lutam arduamente pelo top 10, se bem que ambos estejam atrás de João Almeida, na classificação Geral.
Enquanto aqui ao lado se tenta, a todo o custo, que o desporto seja a melhor forma de unir um país ainda pouco pacificado, em Portugal o que interessa mesmo são os negócios que se poderão fazer ao redor da actividade desportiva.
Vendo o que jogou a Espanha e o onze que montou o espanhol seu treinador com base no Atlético de Bilbau e na Real Sociedad, e vendo o que jogou Portugal e o onze que montou o espanhol nosso treinador com base na "turma do Pepe" e no Jorge Mendes, se calhar o ex-vice presidente do FC Porto contratou o espanhol errado.
Ou então não, a ideia era essa mesmo.
Sobra ao Cristiano o recurso ao DVD.
PS: Entretanto o bombeiro Jorge Mendes prossegue na sua missão de salvar o tal clube do ex-vice presidente do buraco em que o deixou o Pinto da Costa:
Alguns dizem que Portugal não cumpriu os objectivos com esta participação no Europeu de Futebol.
Discordo em absoluto.
Portugal caiu nos quartos-de-final, juntamente com a Alemanha e a Suíça. Figurámos entre as oito melhores equipas do continente.
À frente de outras que foram eliminadas mais cedo. Como a Itália, campeã europeia em 2021. Ou a Polónia, a Bélgica, a Croácia, a Dinamarca.
Fizemos muito melhor do que a Suécia, a Grécia ou a Irlanda - que nem sequer se qualificaram para esta fase final disputada em território alemão.
Pergunto: tínhamos obrigação de voltar a ser campeões, como fomos em 2016?
Respondo: não.
É certo que com Cristiano Ronaldo no onze nacional o patamar de exigência subiu imenso. Basta lembrar isto: com ele na selecção, nunca mais voltámos a falhar uma participação numa fase final dum Mundial ou dum Europeu.
Antes dele, durante 74 anos, só participámos em três Mundiais (1966, 1986, 2002).
Depois dele, estivemos em cinco.
Antes dele, durante 44 anos, só participámos em três Europeus (1984, 1996, 2000).
Depois dele, estivemos em seis.
Pergunto: em que outro sector de actividade figuramos entre os oito melhores países do continente europeu?
Como jogaram há três dias os jogadores portugueses contra a selecção da França na nossa derrota por penáltis de desempate em Hamburgo, em desafio dos quartos-de-final do Campeonato da Europa:
Diogo Costa. Seguro. Esteve sempre bem entre os postes, defendendo remates de Mbappé (22', 50', 90'+3). Infelizmente desta vez não neutralizou nenhum dos penáltis finais.
Cancelo. Discreto. Tinha ordens rigorosas do treinador para subir pouco no seu corredor, cortando a marcha a Mbappé. Missão cumprida.
Rúben Dias. Sólido. Deu pouco nas vistas, o que é bom sinal. Mas aos 66' protagonizou um corte precisoso e decisivo, abortando um ataque rápido dos franceses.
Pepe. Incansável. Exibição portentosa como comandante da nossa defesa. Ninguém diria que tem 41 anos ao vê-lo correr 50 metros aos 91' para bloquear Thuram. Digno de aplauso.
Nuno Mendes. Desequilibrador. Dínamo dominando a nossa ala esquerda, mais como extremo do que como lateral. Mesmo extenuado, ainda marcou penálti no fim. Melhor em campo.
Palhinha. Influente. É hoje um dos melhores médios defensivos da Europa. Atento e competente a distribuir jogo, com variações de flancos. Muito útil nas recuperações.
Vitinha. Pendular. A maioria dos passes verticais da nossa equipa saiu dos pés dele. Teve uma actuação em crescendo no jogo. Ninguém consegue roubar-lhe a bola.
Bruno Fernandes. Irregular. Teve um dos desempenhos mais discretos da equipa nacional neste Europeu. Nem nas bolas paradas fez a diferença. Bateu mal vários cantos e um livre.
Bernardo Silva. Apático. Mais de uma hora encostado à linha, sem tentar desequilíbrios, sem iniciativa. Melhorou com a saída de Bruno, ao assumir o jogo interior. Marcou penálti no fim.
Rafael Leão. Veloz. Autorizado a concentrar-se apenas em tarefas atacantes, ganhou quase todos os duelos a Koundé. Foi driblando e cruzando, mas quase sempre para ninguém.
Cristiano Ronaldo. Perdulário. Tentou marcar de calcanhar (63'). De cara para a baliza, atirou para a bancada (93'). Nem parecia ele. Pelo menos converteu primeiro penálti da ronda final.
Francisco Conceição. Inconformado. Mexeu com o jogo quando entrou, aos 74', rendendo Bruno Fernandes. Atacou a linha de fundo para servir Ronaldo (93') e ofereceu golo a João Félix (108').
Nelson Semedo. Dinâmico. Substituiu Cancelo aos 74', sem afectar o rendimento da equipa. Desarme irrepreensível a Mbappé (92'). Assegurou a cobertura defensiva à direita.
Rúben Neves. Apagado. Entrou aos 90'+2 substituindo Palhinha, já amarelado: o treinador quis assim prevenir outro cartão. Foi sempre muito menos influente do que o colega.
João Félix. Nulo. Rendeu Leão (106'). Entrou para os penáltis finais. Desperdiçou golo ao cabecear à malha exterior (108'). No fim, mandou a bola ao poste, atirando Portugal para fora do Euro.
Matheus Nunes. Invisível. Rendeu Vitinha aos 119'. Ninguém percebeu o motivo desta entrada tão a destempo: seria para marcar um penálti no fim? Acabou por nem tocar na bola.
Foi um jogo muito dividido, este dos quartos-de-final do Europeu entre Portugal e França - vice-campeã mundial - ontem disputado em Hamburgo.
O nosso melhor jogo do Euro 2024.
Tivemos mais "posse de bola" (63%), mais remates, mais cantos, mais oportunidades de golo. Mas não bastou para seguirmos em frente, rumo à meia-final do Euro 2024.
Caímos de pé nas grandes penalidades finais - como nos tinha acontecido frente à Espanha na meia-final do Campeonato do Mundo de 2012. Não caímos como a Alemanha, derrotada horas antes pela selecção espanhola. Eliminada em sua própria casa por um adversário claramente superior.
Saímos de cena num desafio com grandes exibições de Nuno Mendes (melhor em campo), Vitinha, Palhinha, Pepe, Diogo Costa, Rafael Leão, Rúben Dias.
Bastou no entanto um caso de incompetência na marcação de penáltis para nos pôr fora do Europeu. E desta vez, infelizmente, Diogo Costa não defendeu nenhum.
Não caímos porque a França tivesse sido superior ou tivesse mais solidez colectiva. Longe disso.
Ficamos nos quartos-de-final por erro manifesto de um jogador português. Que estava fresco, repousado, tinha entrado dez minutos antes.
Os franceses irão disputar a meia-final com os espanhóis, na próxima terça-feira, sem um golo marcado por mérito próprio. Beneficiaram de dois autogolos adversários e de um penálti mais que duvidoso.
Chegados aqui já não merece a pena estar a agoirar o pior, pela fórmula do Martinez ou por outra qualquer, França em dez jogos ganha sete ou oito contra Portugal, são fisicamente superiores, muito mais objectivos ou cínicos na forma de entender o jogo, para eles o que importa é o resultado e apenas isso. Os outros que levem a taça do bom futebol, para eles isso vale tanto como a cerveja quente num dia de Verão. Por tudo isto é que ainda têm atravessada aquela derrota em 2016 em Paris e nunca perdoaram ao Éder por aquele pontapé improvável.
E para ganhar é preciso defender bem, o que não é difícil com seis ou sete "armários" no onze, e esperar que dois ou três artistas resolvam a questão.
Portugal é tudo ao contrário, é quase tudo artista da bola na melhor "colecção de cromos" de sempre. Quase todos têm mostrado que querem marcar o golo da carreira e são incapazes de assistir na perfeição para o golo fácil, o experimentalismo do Martínez convida a isso mesmo, e sobra o Palhinha para tapar as aventuras dos outros e evitar que o Pepe escorregue e ajoelhe uma vez mais.
Estando as duas equipas mais confortáveis a jogar com as linhas juntas e aproveitar as transições, quem marcar primeiro vai ficar com o jogo a seu gosto. E mais perto de ganhar.
Que seja Portugal e já agora Cristiano Ronaldo a marcar. Por todos os motivos que já conhecem.
E que a vitória sorria a Portugal, que grande alegria para todos os Portugueses mas muito em particular para os emigrantes na França e em todos os países ali à volta.
Apesar de morar a apenas 60 km de Hamburgo, não vou assistir ao vivo ao jogo de hoje entre Portugal e a França. Por um lado, é dificílimo arranjar bilhete. Por outro, custar-me-ia muita energia emocional. Não estarei, assim, entre os portugueses que se deslocarão ao Volksparkstadion, um dos maiores estádios da Alemanha, com capacidade para 57.000 pessoas. E pertencente a uma equipa da… 2ª divisão!
Não é o único. Muita gente em Portugal não saberá que, na verdade, metade dos estádios alemães, onde se disputam as partidas deste Euro, pertencem a clubes da 2ª divisão. Cinco, entre os dez escolhidos: Düsseldorf, Köln (Colónia), Gelsenkirchen (pertencente ao Schalke 04), Berlim (o Estádio Olímpico, com lotação para 74.000 pessoas, é a “casa” do Hertha BSC) e Hamburgo, onde hoje se jogará os quartos de final entre Portugal e a França.
Hamburgo (onde morei durante sete anos) é a segunda maior cidade alemã (1,852 milhões de habitantes), à frente de Munique, Colónia e Frankfurt. Além disso, o Hamburger SV conta com uma Taça dos Campeões, uma Taça das Taças e seis campeonatos no seu palmarés. E, até 2018, era a ÚNICA equipa alemã que nunca tinha estado na 2ª divisão, desde a criação da Bundesliga, em 1963, nos moldes que hoje se conhecem (o Bayern de Munique, nessa altura, não foi convidado para participar na Bundesliga; ficou na 2ª divisão, só subindo à 1ª na época de 1965/66).
Enfim, as “medidas drásticas” não conseguiram tirar o Hamburger SV do último terço da tabela e, em 2018, acabou mesmo por descer. Não preciso de dizer que os adeptos se acostumaram à máxima “para o ano é que vai ser”. O Hamburgo ficou, desde então, três vezes no quarto lugar (épocas 21/22, 22/23 e 23/24) e outras tantas no terceiro, sendo que este lugar permite o play-off, com o ante-penúltimo classificado da Bundesliga.
Esta época, que até começou muito bem, acabou, mais uma vez, no quarto posto. E a humilhação foi ainda maior, perante a subida à Bundesliga da segunda equipa de Hamburgo, eterna rival do Hamburger SV: o FC St. Pauli.
O FC St. Pauli é uma clássica equipa de 2ª divisão. Passou uma época na Bundesliga nos anos 1970 e outra em 2010/11. Mas também já desceu à 3ª divisão, vendo-se obrigada a jogar na chamada Liga Regional do Norte, de 2003 a 2007. Como se depreende, esta subida significa muito para este pequeno clube. E deprime ainda mais os adeptos do Hamburger SV.
O Millerntor-Stadion, com lotação para quase 30.000 pessoas, e onde o FC St. Pauli está “em casa”, tem, desde ontem, servido de treino para as seleções de Portugal e da França.
Curiosidade: O bairro de St. Pauli inclui a rua Reeperbahn, onde se situa o famoso red-light district de Hamburgo.
Como actuaram os jogadores portugueses contra a selecção da Eslovénia no desafio de anteontem em Frankfurt que terminou empatado a zero - e que desempatámos (3-0) nos penáltis ao fim de duas horas de embate no relvado.
Diogo Costa. Decisivo. Protagonizou a melhor partida da sua vida até agora. Ao evitar um golo quase certo (115') e ao defender três penáltis no fim.
Cancelo. Criativo. Responsável pelos maiores desequilíbrios da nossa equipa, como médio-ala direito. Serviu muito bem Ronaldo aos 30'.
Rúben Dias. Certinho. Arriscou pouco, jogando pelo seguro, preferindo manter-se na sua zona de patrulhamento. Podia ter feito mais.
Pepe. Titubeante. Dominou nas alturas, impondo a sua experiência no quarteto defensivo. Mas entregou a bola em zona proibida aos 115': ia-nos custando a derrota.
Nuno Mendes. Dinâmico. Funcionou sobretudo como médio-ala, avançando para além da posição de lateral esquerdo. Foi sempre uma seta apontada ao reduto esloveno.
Palhinha. Pendular. Impôs-se em 21 duelos, nove dos quais recuperando bolas. Atirou ao poste (45'+3). Quase marcou um grande golo aos 108': Oblak desviou in extremis.
Vitinha. Útil. Foi um dos poucos jogadores portugueses que tentaram verticalizar o jogo, imperando no corredor central. Quase todos os ataques passaram por ele.
Bruno Fernandes. Resistente. Pareceu um dos nossos jogadores mais desgastados. Mas aguentou firme até final, quando marcou um penálti de forma irrepreensível.
Bernardo Silva. Apagado. Demasiado colado à linha, sem ousar lances de ruptura, não fez um drible nem ultrapassou a mediania. Bem ao marcar um penálti no fim.
Rafael Leão. Irregular. Conduziu bem o ataque, na ala direita, durante o primeiro tempo. Sacou dois amarelos aos adversários. Apagou-se na segunda parte até sair.
Cristiano Ronaldo. Oscilante. Desperdiçou penálti aos 105', permitindo defesa de Oblak. Mas redimiu-se um quarto de hora depois, invertendo o que se passara.
Diogo Jota. Enérgico. Entrou aos 65', substituindo Vitinha. Recupera, constrói e oferece golo a CR7 (89'). Sacou um penálti aos 105' num raro movimento de ruptura.
Francisco Conceição. Desperdiçado. Substituiu Rafael Leão aos 76'. Mas entrou para o local errado, como ponta esquerda: ali rende pouco ou nada.
Rúben Neves. Inútil. Substituiu Pepe aos 117', fazendo Palhinha recuar para central. Aos 120' mandou uma charutada para as nuvens. Soava a desespero.
Nelson Semedo. Tardio. Rendeu Cancelo aos 117', sem que se percebesse bem porquê. Faltavam três minutos para o fim e não consta que seja especialista em penáltis.
Nunca tinha visto sessão de penáltis tão rápida, até os meus nervos aguentaram.
Não costumo assistir a este tipo de desempate, esteja Portugal envolvido. E já me preparava para sair da sala, quando me apercebi de que seriam os eslovenos a inaugurar a sessão. Pensei: “OK, eles marcam golo e eu saio”. Mas Diogo Costa fez a sua primeira defesa! Quando vi que seria Ronaldo o primeiro português, estive novamente para sair, considerando a tragicidade que o envolvera neste jogo. Mas pensei: “Enfim, os eslovenos falharam o primeiro; se ele não marcar, desta vez, não é tragédia nenhuma”. Mas ele marcou! “Pronto, ainda aguento ver o próximo esloveno”. E o Diogo Costa tornou a defender! Já não havia desculpa para sair e o resto foi o que se sabe: tudo acabado em três tempos, com vitória de Portugal por 3-0. Era esta a eficácia que se esperava durante o tempo normal de jogo. Enfim, estamos nos quartos. E Diogo Costa escreveu a primeira página digna de registo na História deste Euro.
Bem, e onde entram as alemãs no meio disto tudo? Na transmissão televisiva do ARD, onde elas estiveram em maioria.
A locutora desportiva Christina Graf foi a voz-off de todo o desafio. Não pela primeira vez, é ela a responsável por muitos jogos do Euro transmitidos pelo ARD. Christina Graf foi igualmente jogadora de futebol, mas uma lesão grave no tornozelo obrigou-a a abandonar a carreira com apenas 23 anos. Enfim, ganhou-se uma excelente locutora e jornalista.
Ao intervalo e no fim do jogo, tivemos as análises de Sebastian Schweinsteiger, ao lado de outra mulher, Esther Sedlaczek, também já habitual nestas andanças.
Não gostava de Sebastian Schweinsteiger como jogador. Excelente, sem dúvida, mas bastante agressivo e impaciente, muitas vezes, arrogante. Desde que casou, em 2016, com a antiga tenista sérvia Ana Ivanović, modificou-se, está um outro homem. Ponderado, calmo e simpático, nem sequer pratica o chamado “mansplaining”, com Esther Sedlaczek, do estilo: “até podes ser competente, mas eu sou homem, fui um os melhores jogadores do mundo e vai dar-me um gozo enorme pôr a nu as tuas deficiências nesta matéria”. Uma atitude muito comum em homens, mesmo não sendo estrelas e tendo uma mulher competente a seu lado. Schweinsteiger limita-se a opinar e a analisar o solicitado por Esther Sedlaczek, falando bem, sem hesitações, nem interrupções, mantendo um semblante simpático. Um comentador de grande classe.
Que diferença dos debates futeboleiros portugueses, entre homens! Mesmo não sabendo alemão, tentem ver um pouco do vídeo da análise final do jogo de ontem, uma análise dinâmica e descontraída (espero que os direitos permitam a visualização do vídeo em Portugal). Os dois começam aliás por falar da Eslovénia e, só depois, se dedicam à nossa seleção.
Mais mulheres no futebol português, fora das quatro linhas, precisam-se!
Sebastian Schweinsteiger e Ana Ivanović têm três filhos. O mais novo nasceu no ano passado.
Foi a noite de Diogo Costa, foi ele mais que ninguém que possibilitou a eliminação duma selecção da segunda linha europeia, e evitou que Cristiano Ronaldo e Pepe tivessem muito que chorar nos próximos dias.
Aos 5 minutos do fim do prolongamento, já depois do penálti e de vários livres frontais falhados por Cristiano Ronaldo, mais uma vez Pepe "foi comido" em velocidade e deixou um esloveno isolado frente a Diogo Costa. Seguiu-se remate forte e colocado que o Diogo defendeu muito bem, ao jeito que tinha feito um par de anos antes em Alvalade frente a Nuno Santos.
Depois Pepe saiu, talvez para não deixar isolar mais ninguém, chegaram os penáltis, e o Diogo sempre acertou no lado e defendeu um, dois, três. Os nossos melhores marcadores (Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva), frente a um também excelente Oblak, não falharam.
Em termos do jogo em si, entrámos no Europeu com a melhor selecção de sempre, que dava para fazer duas equipas quase de igual valor, e chegámos aos quartos-de-final com um onze que ainda anda a conhecer-se em campo. Faltam rotinas, faltam movimentos de arrastamento dos adversários, sobram lances individuais como aquele de Jota que nos deu o penálti. E quem sofre mais com isso é mesmo Cristiano Ronaldo, entregue à sua sorte lá na frente. Já lá vão quatro jogos e nenhum golo.
Agora vem aí uma França muito chatinha a defender e com dois avançados bem difíceis de marcar. Vamos voltar ao 3-4-3 para proteger o "fiel escudeiro" das arrancadas de Mbappé? Ou fica o 4-3-3 e vamos tentar controlar o jogo no meio-campo?
Duma forma ou de outra estamos todos pela selecção nacional, todos por Portugal, que o seleccionador Martinez faça jus ao seu estatuto de segundo treinador mais caro do Europeu, abra os olhos, se deixe de justificações esfarrapadas ("o estado da relva motivou a entrada do Conceição", estava fofinha para os mergulhos?) e esteja também.
Logo à noite defrontamos a Eslovénia para os oitavos-de-final do Europeu. Recordo: é a mesma selecção que na fase de grupos empatou a zero com a Inglaterra, naquele que foi um dos jogos mais bocejantes deste torneio.
Que mudanças deve Roberto Martínez fazer no onze titular português para este desafio que queremos superar?
Fica a pergunta aos leitores.
Recordo que na nossa partida anterior, em que fomos derrotados (0-2) pela Geórgia, alinhámos de início com estes: Diogo Costa, António Silva, Danilo, Gonçalo Inácio, Dalot, Palhinha, João Neves, Pedro Neto, Francisco Conceição, João Félix e Cristiano Ronaldo.
Como jogaram há quatro dias os jogadores portugueses contra a selecção da Geórgia na nossa derrota em Gelsenkirchen por 0-2:
Diogo Costa. Infeliz. Sem culpa nos dois golos sofridos. No primeiro, traído pela defesa, nada pôde fazer. O segundo foi de penálti: esteve quase a defendê-lo.
António Silva. Inepto. Responsabilidade clara nos dois golos. "Assiste" o adversário no primeiro (2'), comete penálti que deu o segundo (43'). Enterrou a equipa.
Danilo. Imóvel. Com Pepe poupado, não foi o patrão de que a defesa precisava. Ficou a "marcar" com os olhos no primeiro golo, sem ir à dobra.
Gonçalo Inácio. Insípido. Não foi por ele que perdemos. Mesmo assim, a sua prestação soube a pouco nesta sua estreia a titular no Euro 2024.
Dalot. Indolente. Um dos responsáveis pela fraca dinâmica da selecção. Incapacidade evidente de progressão com bola. Acordou tarde: quase marcou aos 90'+4.
Palhinha. Intenso. Excelente passe para CR7 aos 35'. Fez a bola roçar o ferro com remate forte (43'). Saiu ao intervalo, de forma surpreendente: estava a ser um dos melhores.
João Neves. Inquieto. Não fez esquecer o ausente Vitinha, longe disso. Duas boas recuperações. Fez atraso de risco no lance que culminou no penálti.
Francisco Conceição. Insatisfeito. Talvez o melhor (o menos mau) dos nossos. Deu sensação de golo ao rematar à malha externa (28'). Tentou bastante, conseguiu nada.
Pedro Neto. Inconsequente. Viu amarelo aos 44' por simulação. Quase marcou de canto directo (45'+2). Desperdiçou sucessivos cruzamentos na segunda parte.
João Félix. Incapaz. O seleccionador imagina-o como segundo avançado, útil entre linhas. O suplente de Yamal no Barcelona não conseguiu ser nada disso.
Cristiano Ronaldo. Inconformado. Quase marcou, num tiro de livre directo, aos 17'. Derrubado na grande área (28'), viu amarelo por protestos. Rondou o golo aos 47'.
Rúben Neves. Inútil. Inexplicável, a troca de Palhinha por este médio sem chama que jogou todo o segundo tempo. Aos 53', viu o amarelo. Teve sorte: arriscou o segundo aos 65'.
Nelson Semedo. Intranquilo. Só substituiu Silva aos 63'. E entrou com nervos em excesso. Esteve a centímetros de marcar aos 90'+1: in extremis, o guardião evitou o golo.
Gonçalo Ramos. Invisível. Um mistério, ter entrado aos 63' para render Ronaldo quando perdíamos por dois golos. Falhou escandalosamente emenda à boca da baliza (90'+3).
Diogo Jota. Irrelevante. Substituiu o errático Pedro Neto aos 75'. Teve muito menos tempo, é certo, mas foi incapaz de mostrar melhor.
Matheus Nunes. Incipiente. Entrou só aos 75', rendendo João Neves. Em estreia num Europeu. Podia ter marcado num remate forte aos 89', mas a pontaria não estava afinada.
Quando um jogador enterra a equipa logo na primeira vez em que toca na bola, entregando-a de bandeja ao adversário, ao minuto 2, tudo começa por se tornar difícil. Quando o mesmo jogador enterra ainda mais a equipa, cometendo um penálti digno de um campeonato distrital, aos 53', tudo começa a tornar-se impossível.
A história deste Portugal-Geórgia, péssima para as cores nacionais, ficou traçada naqueles dois lances, marcados por gravíssimos erros individuais de António Silva, central do Benfica que assim culmina uma época desastrosa sem deixar de ser uma espécie de fetiche do seleccionador Roberto Martínez.
O basco sofreu ontem, em Gelsenkirchen, a primeira derrota nos 13 jogos oficiais em que já orientou a equipa nacional. Com um lado bom e um lado mau. O bom: este desafio não compromete a nossa qualificação para os oitavos do Euro-2024, que estava garantida. O mau: a derrota ocorreu perante um adversário que participa pela primeira vez num certame futebolístico desta importância. Geórgia, país-caloiro em campeonatos da Europa.
Martínez, imitando o seu colega Luis de la Fuente, treinador de La Roja, decidiu mudar grande parte da equipa titular: oito, no total. Só ficaram Diogo Costa, Palhinha e Cristiano Ronaldo. Espanha, na véspera, tinha sido mais radical: rodou dez.
A diferença é que o banco espanhol é muito superior ao nosso. Se dúvidas restassem, foram dissipadas ontem. Sem paliativos de qualquer espécie: a Geórgia jogou melhor, tendo bastante menos "posse de bola". Foi mais rápida, mais acutilante, mais organizada. Quis sempre mais vencer. E mereceu este triunfo.
O sucessor de Fernando Santos deixou de fora Rúben Dias, Nuno Mendes, Bruno Fernandes, Vitinha e Bernardo, entre outros. Nenhum dos substitutos esteve melhor.
Se os dois principais erros foram individuais, a equipa também fracassou no plano colectivo. Incapaz de criar verdadeiras jogadas de perigo com princípio, meio e fim. Quase sem movimentos de ruptura, quase sem conseguir desequilíbrios, quase sem um ataque rápido, incapaz de se infiltrar na linha defensiva adversária. E desastrosa na finalização, como ficou evidente ao minuto 90'+3, quando Gonçalo Ramos falha a emenda à boca da baliza por inacreditável falta de instinto matador.
Quando não se falhava, o guarda-redes Mamardashvili (Valência, 23 anos) defendia com reflexos felinos, denotando segurança entre os postes. Foi assim ao 17', quando anulou um forte pontapé de Cristiano Ronaldo na conversão de um livre directo com a bola a voar 130 km/h. E em mais duas ou três ocasiões, ajudando a moralizar os companheiros.
O seleccionador foi assistindo a tudo com fraca ou quase nula capacidade de reacção. Ao intervalo, sem nada que se justificasse, trocou o eficiente Palhinha pelo insípido Rúben Neves, amarelado 8 minutos depois: a equipa piorou. Demorou mais de uma hora a retirar de campo o péssimo Silva, trocando-o por Semedo. E quando já perdíamos 0-2, necessitando portanto de reforçar a dinâmica ofensiva, mandou sair Cristiano Ronaldo: substituição directa por Ramos, com o onze nacional a piorar ainda mais.
Podemos queixar-nos do árbitro? Sim. Ronaldo foi claramente derrubado dentro da área georgiana, aos 28', e ainda viu amarelo por protestar - mesmo sendo capitão de equipa, mesmo estando cheio de razão.
Mas devemos sobretudo queixar-nos de nós próprios. Foi uma das piores exibições de que me recordo da equipa das quinas. Contra uma selecção classificada na posição 74 da tabela da FIFA - 68 lugares abaixo da nossa.
E agora? Em Frankfurt, na próxima segunda-feira, teremos pela frente a Eslovénia. Que conta com Oblak, um dos melhores guarda-redes da Europa. E chega sem derrotas aos oitavos: empatou com a Dinamarca (1-1), a Sérvia (1-1) e a deplorável Inglaterra (0-0).
É um adversário mais temível do que seriam os húngaros, entretanto eliminados. Mas tudo irá melhorar se formos onze a jogar contra onze. Em vez de sermos apenas dez com doze adversários pela frente - um dos quais vestido com as nossas cores.
Este perna-de-pau que figurou em destaque na manchete de 7 de Outubro de 2022 da Trombeta do Benfica merece, a partir de hoje, o título de cidadão honorário da Geórgia. Por ter oferecido de bandeja os dois golos da selecção adversária no embate desta noite com Portugal, oscilando entre o péssimo e o catastrófico.
Como jogaram anteontem os jogadores portugueses contra a selecção turca na nossa vitória em Dortmund por 3-0:
Diogo Costa. Invicto. Aparatosa defesa aos 31', anulando possível golo de Arturkoglu. Seguro entre os postes, sem deslizes.
Cancelo. Oscilante. Pareceu sempre algo desconcentrado. De um passe errado seu nasceu o segundo golo, caricato autogolo turco (28').
Rúben Dias. Tranquilo. Exibição pendular, fechando os caminhos para a baliza. Impôs-se com autoridade nos duelos aéreos.
Pepe. Maduro. Ao vê-lo, ninguém diria que é o mais velho jogador do Euro-2024. Atento às dobras, seguro nas marcações. Sem falhas.
Nuno Mendes. Batalhador. Exibição de classe: melhor em campo neste regresso à ala. Exímio no passe e nas recuperações. Assiste no primeiro.
Palhinha. Sólido. Voltou ao onze em boa hora. Dominou corredor central no primeiro tempo, anulando jogo interior turco.
Vitinha. Influente. Grande parte do nosso jogo ofensivo passou por ele. Insuperável na organização do meio-campo.
Bruno Fernandes. Irrequieto. Pareceu nervoso, até nas bolas paradas. Mas mereceu o golo aos 56' - em estreia nas fases finais de Europeus.
Bernardo Silva. Virtuoso. Calou os críticos ao marcar um belo golo, aos 21' - o seu primeiro num Europeu. Dois grandes centros para Ronaldo (36' e 66').
Rafael Leão. Errático. Envolvido no primeiro golo, viu depois novo amarelo por simulação. E defender não é com ele: abre avenidas aos adversários.
Cristiano Ronaldo. Generoso. Quase marcou logo aos 2'. Nada egoísta, serviu Bruno no golo 3. Soma já oito assistências em fases finais de Europeus.
Rúben Neves. Atento. Rendeu o amarelado Palhinha na segunda parte. Momento alto: pré-assistência no terceiro golo, passe longo para CR7.
Pedro Neto. Inconsequente. Substituiu Leão no segundo tempo. Desta vez sem fazer a diferença: falhou no último passe.
Nelson Semedo. Discreto. Entrou aos 69' para o lugar de Cancelo, sem dar nas vistas mas também sem cometer erros.
António Silva. Estreante. Teve discreto baptismo no Campeonato da Europa ao substituir Pepe (83'). Quando os turcos já não atacavam.
João Neves. Dinâmico. Em estreia no Europeu, substituiu Vitinha (88'). Ainda a tempo de recuperar duas bolas no meio-campo turco.
Queriam uma exibição categórica da selecção nacional neste Campeonato da Europa? Pois tiveram-na. Queriam uma vitória clara da equipa das quinas neste certame? Registou-se ontem em Dortmund, num estádio que abarrotava sobretudo de adeptos turcos. Durante a meia hora inicial assobiaram estrondosamente todos os nossos jogadores cada vez que tocavam na bola. Em decalque ampliado do pior que vemos nas bancadas portuguesas.
Antes do jogo diziam que a Turquia iria ser um "sério adversário", temível, capaz de nos travar o passo. Depois do jogo, afinal, alguns dos tais passaram a dizer que enfrentámos um onze menor, correspondente à segunda divisão do futebol europeu, portanto ao vencê-lo não teremos revelado grande mérito.
Há gente em Portugal assim, sempre pronta a denegrir o futebol que praticamos. Esteja o seleccionador que estiver, a música é sempre a mesma. Por mais elogios que nos façam lá fora.
Lamento contrariar tal gente, mas superámos com brilhantismo esta prova. Os tais assobios foram-se calando e no estádio onde se disputou o Portugal-Turquia, já perto do fim, apenas se ouviam aplausos às nossas cores.
Qual o segredo? Superioridade total do princípio ao fim. Maturidade até no plano psicológico: aquelas estrondosas vaias entraram a cem, saíram a mil. Até emudecerem. Primeiro com o golo de Bernardo Silva, aos 21', culminando excelente lance colectivo. Depois, aos 28', com um autogolo turco que entrou de imediato no anedotário do futebol: Akaydin, central do Fenerbahce, jamais esquecerá esta humilhação. Finalmente, aos 56', quando Bruno Fernandes fixou o 3-0, emudecendo de vez os turcos. Até porque quem o assistiu neste golo foi um gigante: Cristiano Ronaldo, aos 39 anos, voltou a cumprir 90 minutos em campo numa inédita sexta participação em fases finais de campeonatos da Europa.
Nunca ninguém participou em tantos, nunca ninguém marcou em tantos, ninguém assistiu mais do que ele. Silenciando até aqueles que tentam denegrir o astro maior da formação leonina por ser supostamente incapaz de "futebol associativo". Revejam este golo em que Ronaldo recupera, progride com bola, se isola perante o guardião e a endossa ao companheiro que surge entretanto à sua esquerda, ainda mais bem colocado.
Pensar em movimento é isto. Um hino ao futebol como verdadeiro desporto de equipa.
Criança interrompeu jogo para se fotografar com CR7: jogo deu para tudo, até para isto
Este segundo triunfo colectivo, após o 2-1 aos checos, transporta-nos de imediato à liderança do Grupo F e consequente qualificação automática para a partida dos oitavos-de-final, a 1 de Julho, contra um adversário ainda incerto. Dois jogos, duas vitórias, cinco marcados e só um sofrido. Enquanto Chéquia e Geórgia empatavam.
Do nosso lado, além dos jogadores já mencionados, quase todos os outros justificam destaque. Cancelo subiu de rendimento, Vitinha manteve o nível da partida anterior, Palhinha mostrou que merece muito mais um lugar no onze do que Dalot, entretanto excluído. Todo o bloco defensivo funcionou na perfeição, desta vez numa linha de quatro da qual emergiu um talento superior: Nuno Mendes, para mim o melhor em campo. Mais talentoso ala esquerdo português da actualidade, sempre em rotação, sempre como seta apontada à baliza adversária sem temor de qualquer espécie.
O mais fraco foi novamente Rafael Leão. Segundo cartão amarelo por simulação grosseira - os árbitros têm instruções da UEFA para serem implacáveis nestes casos. Tal como simulou ter sido agredido em Maio de 2018, no assalto dos bisontes à Academia de Alcochete.
Já não regressou para a segunda parte. Fica fora do próximo desafio, por demérito próprio.
Outra nota insólita: pelo menos cinco espectadores invadiram o campo para se fazerem fotografar com Ronaldo. O astro português ainda sorriu ao primeiro, uma criança. Mas deixou de achar graça à invasão. Actos deste género podem constituir séria ameaça aos jogadores, além de lesarem o espectáculo.
Os turcos, estranhamente, iniciaram a partida mantendo no banco duas das suas maiores estrelas, Yildiz (Juventus, 19 anos) e Güler (Real Madrid, 19 anos). Quando ambos entraram, no segundo tempo, já era tarde: a equipa estava partida, extenuada, desmoralizada. Nas bancadas quase só se escutavam cânticos portugueses.
Çalhanoglu, centrocampista que organiza o jogo turco, quase passou despercebido, engolido pela vertigem ofensiva lusa. O benfiquista Kokçu "assistiu" Bernardo no primeiro e limitou-se a fazer cócegas a Diogo Costa, seguro entre os postes.
Mas gostei de rever um central formado na nossa Academia: Demiral, que entrou aos 75'. Hoje com 26 anos, actua no Al-Ahli da Arábia Saudita. Ainda lamento que só tenha cumprido um jogo oficial pelo Sporting. Tanto prometia, tão cedo saiu.
E pronto. Página virada, objectivo cumprido, seguimos em frente. O jogo contra a Geórgia, pela nossa parte, servirá apenas para cumprir calendário. Tomem nota: será na próxima quarta-feira, dia 26.
Espécie de intervalo nas conversas de café, orais ou escritas. Convém sempre fazer uma pausa, até nesse passatempo nacional que é dizer mal da selecção.
Concluída a primeira ronda da fase de grupos do Campeonato da Europa, e já com a segunda em marcha, a selecção portuguesa tem uma vantagem comparativa em termos estatísticos. Continuamos no primeiro posto da posse de bola num só jogo: os 69% do nosso embate com a República Checa (vitória por 2-1).
Enquanto não chegam outros números, mais significativos, registemos este.
Bernardo e Cristiano nunca deram descanso à defesa adversária: foram recompensados
Em 1984, quando chegámos ao pódio no primeiro Europeu em que participámos, começámos com um empate a zero contra a Alemanha. Em 2004, quando nos sagrámos vice-campeões, o início foi pior: derrotados pela selecção grega. No Euro-2016, que vencemos, o desafio inaugural acabou empatado 1-1 com a Islândia.
Desta vez começámos melhor, bem melhor. Em Leipzig, debaixo de chuva, com milhares de portugueses nas bancadas. Derrotando a República Checa (agora denominada Chéquia) no nosso encontro de abertura do Grupo F deste Campeonato da Europa que se desenrola na Alemanha. Jogo quase de sentido único contra uma selecção que chegou a defender com nove: ao intervalo, que terminou 0-0, tínhamos 73% de posse de bola e os checos nem uma oportunidade haviam conseguido. Ao contrário da equipa das quinas, em duas ocasiões, por Cristiano Ronaldo (32' e 45').
Contra a corrente de jogo, num rara incursão ofensiva, a turma adversária marcou após mau alívio de Pepe (62'). Roberto Martínez refrescou o onze português trocando o apagado Dalot por Gonçalo Inácio e o trapalhão Rafael Leão por Diogo Jota.
Deu certo. Aos 69', após forte cabeceamento de Nuno Mendes (um dos melhores em campo), o central checo Hranac fez autogolo, marcando com a canela. Continuámos a pressionar, indiferentes à chuva que caía. Aos 87', CR7 rematou ao ferro e na recarga Jota meteu-a lá dentro. Mas não valeu: houve fora-de-jogo milimétrico de Ronaldo.
Faltava pouco para terminar, mas Martínez não se conformou: nova troca de jogadores. Semedo rendeu Cancelo, Nuno Mendes cedeu vez a Pedro Neto e um extenuado Vitinha (excelente exibição também) deu lugar a Francisco Conceição.
Decorria o minuto 88. Voltou a dar certo.
Quatro minutos depois, a dois do apito final: a sorte sorriu ao seleccionador, à equipa nacional e a todos quantos puxamos por ela: rápida incursão de Neto pelo flanco esquerdo, cruzamento para o coração da área, a bola pinga com a defesa checa aos papéis e Francisco Conceição - dando o melhor uso aos três anos de aprendizagem na Academia de Alcochete - finalizou de modo irrepreensível, selando o triunfo.
Este já ninguém nos tira. Esta alegria já ninguém nos rouba num jogo em que concretizámos 74 ataques e 19 remates: fomos a equipa com maior posse de bola na primeira jornada deste Europeu.
Péssima noite para as aves agoirentas que cá no burgo já vaticinavam o nosso desaire, como se tivessem vergonha da nacionalidade portuguesa.
Azaradas criaturas: durante um par de dias vão perder o pio. Tomem Kompensan.
Chéquia, 1 - Portugal, 2
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.