Alguns adeptos mais jovens do futebol, que nunca o viram jogar, subestimam a importância decisiva de Pelé na expansão da modalidade em todo o mundo. Deviam perceber que, embora o desporto-rei tenha conhecido muitos génios, antes e depois dele, nenhum esteve à altura do brasileiro Edson Arantes do Nascimento, agora falecido aos 82 anos: ele foi o melhor de sempre. Único, desde logo, a sagrar-se tricampeão mundial - em 1958, 1962 e 1970. A partir daí, passaram justamente a chamar-lhe Rei.
Àqueles que o desconhecem, recomendo que vejam com atenção as duas finais em que Pelé participou. A de 1958, em Estocolmo (com apenas 17 anos!) e a de 1970, na Cidade do México (apogeu triunfal da sua carreira), reproduzida acima.
Este excerto que aqui trago é muito especial: foi a única ocasião em que Pelé (aqui com o número 10) e Garrincha (número 16) marcaram no mesmo jogo ao serviço da selecção do Brasil. Aconteceu no Mundial de 1966, em Inglaterra, contra a Bulgária - partida invulgarmente agressiva, com duras faltas de parte a parte perante a chocante tolerância do árbitro quando ainda não tinha sido instituído o sistema de cartões para penalizar jogo violento.
É também histórico por outro motivo: foi a última vez que o grande Mané Garrincha marcou com a camisola "canarinha". Ainda viria a disputar a partida seguinte, contra a Hungria (derrota 1-3), mas já não alinhou frente a Portugal (outra derrota, pela mesma marca).
Pelé e Garrincha tinham integrado a selecção bicampeã mundial em 1958 e 1962. O astro do Santos venceria o tri no México, em 1970. Mas o "anjo das pernas tortas", como lhe chamou Vinicius de Moraes, já não protagonizou essa conquista fabulosa: despediu-se da equipa nacional nos relvados ingleses, aos 32 anos.
Impressiona hoje ver esta despedida de um dos astros mais geniais e mais trágicos da história de futebol. A sucessão de dribles que eram sua marca inconfundível e a espectacular marcação do livre, de trivela, levando a bola ao fundo das redes.
Empolgante e comovente pontapé que lhe serviu de definitivo passaporte para a eternidade.
Esta, a do Brasil tricampeão mundial de futebol em 1970. Com um quinteto ofensivo de sonho: Gérson, Jairzinho, Rivelino, Tostão e Pelé.
Venceu todos os desafios na fase de grupos: 4-1 à Checoslováquia, 1-0 à Inglaterra, 3-2 à Roménia.
Não deu hipóteses nas partidas a eliminar: 4-2 ao Peru, 3-1 ao Uruguai.
Cilindrou a Itália, por 4-1, na empolgante final da Cidade do México.
Eis esse jogo, na íntegra.
Campeão absoluto, nos resultados e nas exibições. Com 19 golos no total: 7 de Jairzinho (melhor marcador da prova), 4 de Pelé, 3 de Rivelino, 2 de Tostão, 1 de Gérson, 1 de Clodoaldo, 1 de Carlos Alberto.
Pelé, justamente coroado "rei do futebol" neste campeonato, único participante em três títulos mundiais do Brasil (1958, 1962 e 1970), não se distinguiu apenas pelos golos: inesquecível, o segundo da canarinha contra a Checoslováquia. Fez ainda seis assistências, incluindo duas de cabeça.
Para mim, o melhor jogador da história do futebol. É bom lembrá-lo no auge, agora que luta pela vida num hospital brasileiro. Quando já conquistou a imortalidade: jamais será esquecido.
Na impossibilidade de reproduzir aqui estes vídeos, cujos direitos são propriedade da FIFA, deixo-vos a ligação para eles. É só clicarem.
Estava quente, muito quente em Alajuelita, o avô Rubén, enganava a ansiedade com um puro enrolado à maneira dos pacacuas enquanto bebericava pequenos goles do rom destilado numa gerigonça ancestral, foi em Agosto, 18 de Agosto que Bryan nasceu.
Bryan nasceu em São José, o primeiro clube onde jogou chamava-se: Os Netos do Avô mas teve o azar de ter sido treinado pelo putativo filho de São José, Jesus.
Teria sido muito melhor passar do avô Rubén para o jovial Rúben.
Bryan é o único jogador da Costa Rica a ter jogado no clube de um dos melhores jogadores jogadores nascidos na América do Sul e no clube do melhor jogador nascido na Europa, Pelé e Cristiano Ronaldo, Santos e Sporting.
Apesar disso cada vez que um jogador falha um golo cantado, vem à memória Bryan, o que aconteceu foi isto:
Bryan Ruiz foi o jogador certo com o treinador e o presidente errados.
Mais que os golos que marcou (a imagem acima é de um jogo europeu que ficou 2-0, primeiro golo de Bryan e o golo da confirmação apontado por Dost) aquilo que recordarei para sempre é a imagem de um senhor, um cavalheiro, com o leão rampante junto do coração, Daniela que o diga.
Nem de propósito. Manifestava eu ontem a minha perplexidade por haver tanta gente - sportinguistas incluídos - a jurar que Maradona tinha sido o melhor futebolista de sempre, quando temos o Cristiano Ronaldo felizmente vivo, com saúde e ainda a jogar com a qualidade que sabemos: leva 79 golos marcados pela Juventus, acaba de marcar mais dois, neste ano civil já facturou 42 e tem um impressionante total de 474 somados ao serviço do emblema italiano, do Manchester United e do Real Madrid, colossos do futebol mundial. E marca de todas as formas: com o pé direito, com o esquerdo e de cabeça, dentro da área e de meia-distância, de bola parada e em lances corridos. É detentor de cinco Bolas de Ouro, nenhuma delas alcançada por favor ou por acaso.
Perguntava eu ontem, em jeito de perplexidade, o que tem a mais o falecido astro argentino que nasceu em ambiente de pobreza e levou a selecção do seu país ao colo no Mundial de 1986 (dando-lhe até uma célebre mão, ilegal em futebol, no jogo contra a Inglaterra) do que tem Pelé, igualmente nascido numa família muito pobre e se sagrou tricampeão mundial. Ou que o italiano Paolo Rossi, falecido também há dias, e que levou a selecção do seu país ao colo (sem golos com a mão) no Mundial de 1982. Ou que o Cristiano, outro imenso profissional do futebol oriundo de uma família desfavorecida e que superou esse estigma com muito trabalho, muita tenacidade e a preciosa ajuda da formação sportinguista, começando por esse incansável descobridor de talentos que é mestre Aurélio Pereira.
Nem de propósito, dizia eu. Horas depois, a France Football anunciava a sua sempre ansiada escolha para o ano prestes a terminar. Desta vez não há Bola de Ouro, mas onze menções douradas, correspondentes a diferentes posições no terreno: foi eleito o melhor onze da história do futebol. Numa alusão evidente a um facto por vezes esquecido: o futebol é um desporto colectivo, no relvado ninguém consegue nada sem o esforço dos colegas.
Lá estão Pelé e Maradona, claro. Como estão o russo Iachine, o espanhol Xavi, os alemães Beckenbauer e Matthäus, o italiano Maldini, os brasileiros Cafu e Ronaldo. Lá está o genial Messi, compatriota de Maradona. Faltam outros, como Di Stefano ou Iniesta - já sem falar em Puskás, Charlton, Zidane e Pirlo: um onze não dá para todos.
Mas o que me interessa salientar é a presença de Cristiano Ronaldo neste onze ideal da história do futebol, eleito com a chancela de uma das mais prestigiadas publicações da modalidade. O nosso Cristiano - o pronome possessivo neste caso tem duplo significado, pois alude não só à nacionalidade mas também à filiação clubística do artilheiro da Juve.
Ele mesmo, infelizmente, ontem tão denegrido nesta caixa de comentários. Até por gente que se intitula sportinguista. Ao contrário dos argentinos - que idolatram até ao desvario os seus símbolos nacionais - nós, portugueses, praticamos um nacionalismo às avessas: quanto mais afinidades temos com certa figura de fama planetária, quanto mais perto ela está de nós, mais facilmente a denegrimos. E é quase sempre lá fora que lhe prestam justiça.
Nem por ser tão frequente esta evidência se torna menos triste.
«Guilherme Espírito Santo, são-tomense que por razões de deslocação dos seus pais se iniciou no futebol em Luanda, viria a ser, já com experiência de anos na equipa principal do Benfica, o primeiro negro a integrar a selecção nacional de futebol. Aconteceu em Novembro de 1937, num célebre Portugal-Espanha, primeiro duelo ibérico que a selecção nacional venceu. Há 83 anos!
Apenas em Novembro de 1978, ou seja, 41 anos depois da estreia de Espírito Santo, se estreou o primeiro futebolista negro na selecção inglesa: Viv Andersen, lendário jogador do Arsenal e do Manchester United, que aliás viria a tornar-se num militante lutador anti-racismo, lembrando, ainda recentemente, que "nos anos 70 os jogadores negros eram abertamente discriminados em Inglaterra".»
(...)
«Em Portugal a presença de jogadores negros nas equipas principais do futebol português e na selecção nacional traduziu-se por uma inteira aceitação de uma cultura aberta e multirracial do nosso povo. Jogadores como David Júlio, Hilário, Jordão, Dinis ou Salif Keita, no Sporting; Miguel Arcanjo, Jaburu, Juary ou Danilo, no FC Porto; Espírito Santo, Coluna, Eusébio ou Luisão, no Benfica, não apenas conquistaram estatuto de ídolos como promoveram a democracia racial como um hábito social saudável.
Nota especial, evidentemente, para Pelé, no Brasil, e Eusébio, em Portugal. Ambos foram determinantes na valorização social do homem negro, a pontos de se tornarem nos mais importantes embaixadores dos seus países, consagrados e admirados em todo o mundo. A influência de Pelé, apenas com 17 anos, na conquista do Mundial da Suécia (1958) ou a de Eusébio no sucesso português no Mundial de 1966, consolidaram o sentimento da tal democracia racial que o futebol promoveu como ninguém e me parece estruturante nas sociedades luso-brasileiras.»
Vítor Serpa, trechos de um texto intitulado "O racismo no futebol e na História"
Este comentário de Francisco Melo, sobre os 60 anos de Maradona, onde questiona se Pelé alguma vez vestiu “o manto sagrado”, despertou em mim curiosidade em verificar se isso alguma vez aconteceu.
Não encontrei nenhuma foto, mas encontrei a crónica do jogo que Pelé fez em Alvalade a 19 de Junho de 1959.
Aqui fica:
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SPORTING, 2 – SANTOS, 2
OS «LEÕES» SÓ NÃO GANHARAM PORQUE FORAM INFELIZES
Quem ontem à noite se deslocou ao Estádio de Alvalade, por certo, não deu por mal empregado o seu tempo.
Se a partida não chegou a atingir, por parte dos brasileiros, o nível que se previa, deve-se o facto à boa réplica da turma «leonina» que em noite de inspiração, deve ter feito o séu melhor encontro da época.
Tecnicamente, não poderá negar-se categoria ao grupo brasileiro. O domínio de bola de todos os seus jogadores, a troca do esférico, a «presença» a meio campo, foram atributos que os sul-americanos denunciaram em larga escala. Simplesmente, nas disputas de bola e no perfurar a defesa contrária os brasileiros já se não apresentaram tão à vontade.
O motivo daqueles senões saltaram à vista por virtude da equipa «leonina», sem temor pelo adversário, jogou com o saber e jeito suficientes para neutralizar a acção dos «santistas». E, se uma das turmas houve que se mostrasse surpreendida, por certo foi a dos visitantes que não a lisboeta.
Durante o primeiro tempo, o Santos foi muito igual. Moroso, jogando muito para os lados, preferindo tentar romper pelo meio. Ao vagar com que os brasileiros puseram no jogo, respondeu o Sporting com uma vivacidade que não deveria, encontrar-se nas previsões, dos sul-americanos.
A defesa dos «leões» bem fechada, neutralizava, um a um os ataques, ao «relanti» do grupo de Pelé. Este e Coutinho, secundados por Álvaro, bera tentaram romper, no seu passe miúdo desfeitear o sector defensivo dos lisboetas, a que Julius emprestou uma colaboração que bem se casou cora a autoridade do «trio», Lino-Morato-Hilário.
Uma vez fechadas; as ofensivas dos brasileiros, o Sporting partia para o ataque. Apoiada, e bem, por Osvaldinho,. a linha atacante leonina, dava-se em se movimentar de tal modo que a defesa «santista» via-se e desejava-se para suster o seu ímpeto e desenvoltura.
Assim, apareceu o primeiro golo da partida, aos 13 minutos, num lance em que Hugo, com um toque subtil, colocou a bola ao alcance de Morais para este rematar vitoriosamente. O tento leonino, não chegando para quebrar o ritmo moroso do Santos, contribuiu, ainda, para que o Sporting, se mantivesse em plano de mais relevo, com o sector atacante, bem movimentado por Faustino, Fernando e Diego, a criar lances de perigo para as redes de Carlos, o guardião brasileiro. E, quando o intervalo chegou, a impressão causada pelo Santos não era de molde a justificar a fama de que vinha rodeado.
No segundo tempo, e enquanto as equipas apresentaram as mesmas formações iniciais, ainda o Sporting foi a de mais destacada iniciativa. O Santos, continuava, enervantemente moroso e os «leões» activos e mexidos a procurarem aumentar a marca.
E, o Sporting, fez o segundo golo. Morais correu pelo seu lado, passou Ramiro e de cima da «linha de baliza» centrou atrasado, por alto. Faustino, que seguiu o lance, em movimento, entrou bem de cabeça... e Carlos foi buscar o esférico ao fim da rede.
O Santos deve ter sentido o golo que alterava o marcador para 2-0, a favor dos lisboetas. Jair, entrou a substituir Fiote e a equipa brasileira , pareceu mais arrumada. O ataque tornou-se mais preciso, e embora um cansaço compreensível, dada a série de jogos que a equipa vem de disputar cm tão curto espaço de tempo, deu-se em lutar melhor, procurando rematar mais amiudamente.
Cerca do quarto de hora, Durval, correu pela direita, ultrapassou Hilário, centrando forte, a meia altura. Osvaldinho, virado para as suas balizas, tentou interceptar, mas a infelicidade levou-o a dar à bola o caminho do golo. Assim, chegou o Santos ao 2-1.
Já mais assente, a turma do Santos fez das fraquezas forças, e tornou-se mais profícua, com Jair a encher o rectângulo. E, a bola, perto da «grande área» do Sporting, passou a ser entregue a Pelé, para que este rematasse. Um, dois remates do campeão do Mundo e ao terceiro estava feito o empate. O poderoso atacante, recebendo o esférico de Jair, correu com ele, e rematou ao lado esquerdo de Octávio de Sá. Este, pareceu, por momentos, ter neutralizado com as mãos, o remate de Pelé, mas o esférico, prosseguindo, foi tocar as malhas. Estava feito o empate.
O TRABALHO DOS JOGADORES
JAIR SOBRESSAIU na equipa visitante
No conjunto, os brasileiros, embora revelando sempre perfeito domínio de bola, abusaram contudo das entradas menos leais, o que provocou alguns justificados protestos e constantes interrupções do jogo.
Uma e outra coisa, desagradaram completamente ao público que quase encheu o Estádio para ver em acção os paulistas e, especialmente, d «estrela» da companhia, o campeão mundial Pelé.
Este jogador não jogou, certamente, o seu melhor revelando, no entanto, excelente domínio de bola e desmarcares oportunas. Não fez muito o «internacional» brasileiro, mas o que efectuou fê-lo com consciência, e a poucos minutos do fim, com um potente remate, obteve. o golo do empate.
Após a entrada em campo do «veterano» JAIR, que empunhou a «batuta», o conjunto do Santos melhorou consideravelmente e viu-se então a acção do mestre. As suas paragens e entregas perfeitas entusiasmaram a assistência.
O jovem COUTINHO não actuou até final do encontro, mas o tempo' que esteve no terreno chegou para patentear as suas reais qualidades.
Foram, ainda, DURVAL, muito rápido com a bola, ÁLVARO bom dominador e PEPE, com esplêndido sentido de oportunidade os jogadores que completaram o ataque do Santos.
A defesa pecou, e muito especialmente PAGÃO, por jogo rijo, o que tirou brilho á sua actuação.
Na baliza, CARLOS esteve seguro e arrojado, mesmo quando saiu aos pés de Faustino.
FAUSTINO O MAIS DESTACADO NA TURMA DO SPORTING
OCTÁVIO DE SÁ - Irregular. Duas ou três saídas em falso. No segundo golo pareceu-nos mal batido, pois deixou-nos a impressão de que chegou a ter a bola nas mãos.
LINO - Não deu tréguas a Pepe, travando bom despique com o extremo brasileiro. E foi em maior numero os lances que ganhou do que os que perdeu.
MORATO - Colocação, rapidez e bom despacho. Um defesa-central de bom estilo e óptima presença.
HILÁRIO - Mais ousado do que os companheiros e acusando a categoria de Durval. Mas, no conjunto, foi uma permanente utilidade.
JULIUS - Um médio de alto a baixo. Boas dobragens e uma vigilância a Pelé a chamar a atenção.
OSVALDINHO - Tirando todo o partido da lentidão do ataque brasileiro, o n.º 6 dos «leões» atingiu plano de realce, quer na ajuda á defesa, quer no apoio ao ataque.
HUGO - Vivo, mas demorando um tudo nada a posse do esférico. Alguns centros de boa marca e um passe magnífico a Morais para este fazer o golo.
FAUSTINO - Bom domínio de bola, desmarcações a propósito e toques precisos, com o esférico em movimento. Um óptimo golo de cabeça. Elemento para vir a dar que falar.
FERNANDO - Movimentou-se bem, trocou a bola com a-propósito, mas parece abusar um pouco na retenção do esférico. Talvez remate pouco, mas joga muito.
DIEGO - Pontou q jogo do ataque e saiu-se bem. Ajuda aos médios utilíssima, cumprindo, cabalmente a missão.
MORAIS - Expedito e com boa velocidade. Ramiro, o defesa-direito adversário,. viu-se em dificuldade para o segurar. E, raramente o conseguiu. Fez o primeiro golo, derivando para o meio do terreno no momento próprio.
POMPEU - Jogou 10 minutos e no pouco em que interveio esteve certo.
ENTRE OS BRASILEIROS
O SPORTING «BATE DURO» E JOGA O FUTEBOL - diz PELÉ que está saturado
Extenuados e ainda vivendo as peripécias dp jogo, os brasileiros não deixaram de revelar a sua gentileza para com a Imprensa e Rádio, que invadiu os seus vestiários.
A um canto, quase despercebido, deparámos com COUTINHO, o mocinho de 16 anos, já «estrela» do futebol carioca, revelou:
- Foi um jogo disputado com ardor e velocidade, que me agradou, pois o Sporting provou ter grande «team» e uma «torcida que o ajudou muito.
- O empate está certo?
- Um resultado que saiu assim, justo não é? Mas nós não jogámos lá muito bem. Porquê não sei. Mas são jogos uns atrás dos outros, não acha?
- Por que foi substituído?
-Saí porque tinha «reserva» para entrar. Pois tenho 16 anos e continuo a ser ainda «guri»...
-Conhece alguns dos seus compatriotas que alinharam pelo Sporting?
- Sim, o Faustino e o Fernando desde o Brasil. Foram até meus adversários lá... São bons jogadores e o Faustino deu espectáculo.
Passámos depois a PELÉ, o discutido .«crack»’ campeão do mundo, que 1 nos surpreendeu com a maneira fácil de se expressar. Começou por dizer acerca da partida:
- Foi um bom jogo, mie seria melhor se tivesse um árbitro á altura. Prejudicou as duas equipas e o jogo, por não deixar seguir bola.
E confessou a seguir:
- O resultado está justo. Futebol é assim mesmo. O Sporting «bate duro», corre muito e joga bastante futebol. Gostei muito de Diego, Osvaldinho e Faustino, este um bom jogador, que já conhecia «di lá...».
- A sua .exibição, Pelé?
- Não agradou. Estou saturado, três jogos por semana é muito...
- Diz-se que vai ingressar no Madrid, é verdade?
- Isso é uma conversa que saiu. Comigo não conversaram nada. É melhor ficar por aqui...
E, acrescentou:
- A minha profissão é «crack» e tenho família para criar - meu pai e minha mãe. Quero jogar na equipa que pagar melhor. Depois lutarei pela sua camisa...
Na cabina encontrava-se o treinador OTTO GLÓRIA, a quem pedimos para falar do jogo, o que logo acedeu, para dizer:
- O resultado está certo, atendendo àquilo que os grupos jogaram. O Sporting esteve melhor no primeiro tempo, mas o Santos revelou-se na parte final, sem dar uma ideia exacta daquilo que pode fazer.
E, prosseguindo:
- Os jogadores brasileiros sentem-se muito cansados e além disso o Sporting não deixou jogar, lutando com ardor e jogou mesmo bem.
NA CABINA DO SPORTING
A ENTRADA DE JAIR MODIFICOU O JOGO
- opinião do dr. Oliveira Martins
Assistimos .ao jogo ao lado de VADINHO, a quem , no final pedimos opinião. O brasileiro do Sporting expressou-se assim:
- Futebol é uma coisa de mistério. O Sporting merecia um resultado bem melhor, porque jogou bem.
E, referindo-se ao Santos:
- É uma equipa muito boa, mas não está jogando bem. Acredito que joguem mais do que mostraram hoje em Alvalade. Obteve um resultado honroso.
Já na cabina, ouvimos o dr. OLIVEIRA MARTINS, dirigente «leonino», que nos disse:
- Foi um espectáculo agradável, que só não ganhámos por infelicidade. A entrada de Jair, verdadeiro mestre da bola, veio modificar o jogo e dar «vida» ao famoso Pelé, que acusou a soma de jogos feitos nesta digressão do Santos à Europa.
Depois, ouvimos o treinador IMBELLONI, que foi rápido na análise ao jogo:
- Não posso fazer uma apreciação justa do Santos, depois da equipa fazer tantos joges... Não me deslumbrou, embora o jogo me tenha agradado e ache bem o resultado fina!
- Pelé e Coutinho?
- Não os vi. Jair é que é, sem favor, a «vedeta» do grupo.
Por fim, perguntámos a OCTÁVIO DE SÁ sobre os golos sofridos. O guardião «leonino» retorquiu:
- O primeiro resultou »de um golpe infeliz de Osvaldinho e, o outro, foi o Pelé quem o rematou, não me sendo possível evitá-lo por estar «tapado»...
- Quanto aos brasileiros?
- Mostraram muito cansaço. Jair e Pepe, melhores do que Pelé e Coutinho, que só se revelaram em certos pormenores do jogo. Quando tiverem a experiência de Jair, devem vir a ser um caso sério...
In.: Record, n.º 832, de 20 de Junho de 1959, p. 3
Muito se tem falado e escrito sobre o momento Bocage de Bruno de Carvalho (BC), contudo, ao esmiuçarmos a questão, constatamos que já outros, antes dele, elaboraram acerca do futebol e poesia.
Manuel Alegre, sobre Eusébio:
Buscava o golo mais que golo: só palavra.
Abstracção. Ponto no espaço. Teorema.
Despido do supérfluo rematava
e então não era golo: era poema
Lá está, Cristiano Ronaldo (põe-te bom, pá) e Pauleta podem ser os maiores marcadores de golos da selecção mas Eusébio continuará a ser o maior marcador de poemas.
Já falei no momento Bocage de BC mas ainda não falei no momento Gabriel, o Pensador, de Jorge Nuno Pinto da Costa, o silêncio, a ausência de comentário, Nádegas a declarar, portanto.
Enfim, melhor seria, pensarmos antes de falarmos, seguirmos o conselho de Romário a Pelé:
Calado é um poeta ou adaptando a frase a grande parte dos protagonistas do futebol indígena; calados seriam uns poetas.
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