Já tinha confessado aqui a minha simpatia pela selecção da Dinamarca. Foi portanto com muita satisfação que assisti hoje ao primeiro desafio dos oitavos-de-final do Euro-2021: vitória categórica dos dinamarqueses em Amesterdão, anulando por completo o País de Gales. O onze de Bale e Ramsey foi incapaz de conter o futebol ofensivo da turma nórdica.
O herói desta goleada foi um suplente: Dolberg, ponta-de-lança do Nice, só entrou no onze por lesão de Poulsen. Em boa hora: foram dele os dois primeiros golos, aos 27' e aos 48'. O terceiro - marcado por Maehle aos 88' - merece ser revisto várias vezes: é um dos melhores deste Europeu. Mas a conta só fecharia aos 90'+3, com golo assinado por Braithwaite: o avançado do Barcelona foi o maior desequilibrador da Dinamarca e um dos artífices desta vitória, certamente dedicada a Eriksen.
Wass, o lateral direito que parece estar na mira do Sporting, nem no banco se sentou - ao que parece devido a uma indisposição. Talvez o vejamos actuar nos quartos-de-final.
Há cinco anos, o País de Gales saiu mais tarde do Europeu, só na meia-final em que defrontou a selecção portuguesa. Desta vez vai embora mais cedo: Bale terá mais tempo para se dedicar ao golfe.
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Enorme sofrimento italiano, esta noite em Wembley, no embate com os austríacos. Aos 90 minutos mantinha-se o empate a zero, foi necessário jogar mais meia hora. Aí impôs-se a superior condição física da squadra azzurra, que descansou mais 24 horas antes desta partida dos oitavos, além de ter poupado vários titulares no desafio contra o País de Gales, quando tinha o apuramento já garantido.
A solução veio do banco: Chiesa, lançado em jogo só aos 85', desfez o nulo no prolongamento, aos 95'. O segundo golo italiano - aos 105' - teve a assinatura de Pessina, outro suplente utilizado. Mas a Áustria, com sólida organização colectiva e melhor exibição do que o adversário na segunda parte, não baixou os braços. Kalazdjic reduziu aos 114' e a hipótese de tudo ser decidido por penáltis permaneceu em aberto até ao fim.
Os austríacos saem de cabeça levantada, os italianos tremeram nesta que foi - de longe - a sua pior exibição neste Europeu. Apesar de contarem com o caloroso apoio de grande parte dos espectadores no estádio. Destaque para as exibições dos dois alas direitos: Alaba pela Áustria e Spinazzola por Itália. Estes sim, eu gostaria de ver jogar pelo Sporting.
Jogo fraquinho, o País de Gales-Suíça - duas selecções de segundo plano no âmbito europeu. Nenhuma delas parece fadada para grandes voos. No Estádio Olímpico de Baku, capital do Azerbaijão, os cerca de 30 mil espectadores ontem presentes nas bancadas devem ter bocejado durante a sonolenta primeira parte, em que cada selecção só rematou uma vez às balizas adversárias. Na segunda, as coisas animaram-se um pouco: o jovem Embolo, avançado do Borussia, abriu o marcador pela Suíça aos 49', cabeceando na sequência de um canto. Mas Gales empatou aos 85', também após um canto. Marcador: Kieffer Moore, que actua na segunda divisão inglesa.
Gareth Bale mal deu nas vistas. O benfiquista Seferovic, com prestação medíocre, ficou em branco.
Bastante mais animado, o Rússia-Bélgica da noite de ontem, em Sampetersburgo. Confirmando a selecção belga não só como principal candidata ao triunfo no Grupo B mas do próprio Campeonato da Europa.
Mesmo desfalcada - com Witsel e Kevin de Bruyne lesionados e Eden Hazard fora do onze titular - a selecção que lidera o ranking da FIFA sem nunca ter vencido um Europeu ou um Mundial deu uma lição de futebol de ataque apoiado, com bola ao primeiro toque e competente organização colectiva. Ao contrário, os russos - campeões dos passes falhados - nem chegaram a incomodar Courtois, o experiente guardião belga. Só Mário Fernandes, ala brasileiro naturalizado russo, escapou à vulgaridade dos anfitriões.
O astro da partida foi Lukaku: autor de dois dos três golos, aos 10' e aos 88', é já o melhor marcador do torneio. Destaque também para as prestações do lateral ofensivo Meunier (que marcou o segundo, aos 34') e de Ferreira-Carrasco, protagonista de sucessivos desequilíbrios no corredor ofensivo esquerdo.
Não é à toa que lhes chamam "diabos vermelhos": são irrepreensíveis a defender e de uma eficácia extrema a atacar. Prestem atenção a eles.
«Houve um jogador [no Portugal-País de Gales] que, sem ter sido o melhor em campo, desempenhou papel fundamental para impedir a dinâmica dos galeses: Adrien. A forma como encostou em Joe Allen, retirando-lhe capacidade para fazer a diferença na primeira zona de construção, impedindo-o de entrar no 'carrossel' ofensivo que os britânicos tão bem foram capazes de montar em partidas anteriores, obrigou o adversário a construir diferente e a jogar longo. Como a nossa defesa não oferecia profundidade aos galeses, estes ficaram sem ideias para chegar à baliza de Rui Patrício.»
6 de Julho de 2016: pela segunda vez na história do futebol português, a selecção nacional ganha o acesso à final de um Campeonato da Europa. Uma conquista com todo o mérito naquele que foi o melhor dos nossos jogos neste certame, com uma vitória sem contestação frente ao País de Gales - selecção que vinha causando sensação, sobretudo desde que afastou a forte Bélgica nos quartos-de-final.
Portugal dominou em duas partes diferentes. Prioridade ao rigor defensivo nos primeiros 45 minutos, acautelando todas as vias de acesso à nossa baliza pelas faixas laterais, com controlo absoluto do centro do terreno. No segundo tempo o nosso domínio foi ainda mais evidente, sobretudo a partir do golo inicial, construído com um cruzamento perfeito de Raphael Guerreiro e concluído da melhor maneira com um cabeceamento fortíssimo de Cristiano Ronaldo, numa impulsão que deixou os centrais galeses no andar de baixo. Um golo excepcional.
Gareth Bale bem tentava remar contra a maré, mas teve de actuar sempre em zonas muito recuadas porque o tampão defensivo português nunca deixou de funcionar - contido, seguro e sólido. Joe Allen, muito pressionado por Adrien e logo condicionado por um cartão amarelo aos 7', foi uma sombra do que tem sido noutros desafios. Raras vezes o País de Gales chegou à nossa baliza. E quando o fez, sempre através de Bale, encontrou um Rui Patrício irrepreensível, confirmando ser um dos melhores guarda-redes europeus.
Atordoados pelo primeiro golo, aos 50', os galeses - em estreia num Campeonato da Europa - ficaram ainda mais abalados com o segundo, três minutos depois. Também com intervenção directa de Ronaldo, que recuperou e rematou, cabendo a Nani corrigir a rota da bola com precisão milimétrica.
Foram dois, mas podiam ter sido mais. Desde logo se o árbitro sueco tivesse assinalado uma grande penalidade claríssima cometida sobre Cristiano Ronaldo logo aos 10', com Collins a agarrá-lo dentro da área. Pela terceira vez somos prejudicados em lances deste género, após derrubes de Nani no jogo contra a Croácia e de Ronaldo no embate com a Polónia. Parece que os árbitros estão proibidos de apontar grandes penalidades a nosso favor.
No início eram 24 selecções, restam três neste Europeu. Ultrapassámos seis neste percurso até à final: Islândia, Áustria, Hungria, Croácia, Polónia e País de Gales. Falta saber quem será o último adversário, aquele que defrontaremos no próximo domingo em Paris. Alemanha ou França? Amanhã saberemos. Agora é tempo de festejar. Estes jogadores e este seleccionador que formam um grupo muito unido e com enorme força mental merecem que festejemos com eles.
Portugal, 2 - País de Gales, 0
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Revelou a segurança que sempre tem evidenciado neste Campeonato da Europa. Sem falhas nem grandes sobressaltos. Foi intransponível perante Bale: travou um bom remate do melhor jogador galês aos 77' e três minutos depois fez a defesa da noite ao defender um tiro desferido pelo mesmo jogador.
Cédric - Desta vez sem lapsos defensivos, cumpriu muito bem a missão de que foi incumbido, policiando com autoridade a lateral direita. Os seus centros neste jogo foram mais raros e com menos pontaria do que é habitual, mas o essencial foi feito. Justificou a titularidade, superando Vieirinha - escolha inicial do técnico.
Bruno Alves - Escolha talvez inesperada de Fernando Santos para compensar a ausência de Pepe, com problemas musculares. Estreou-se no Euro 2016 com uma exibição em bom nível, sem revelar o menor temor face ao poderio físico dos galeses. Podia ter evitado o cartão amarelo aos 71'.
José Fonte - Melhora de jogo para jogo, exibindo cada vez mais qualidades. Hoje funcionou como o patrão da defesa nacional, num desempenho com maturidade e classe. Secou Robson-Kanu, que tinha sido um dos melhores galeses contra a Bélgica. E ainda foi à frente cabecear com perigo aos 71', após a marcação de um canto.
Raphael Guerreiro - Regressou em boa hora ao nosso onze titular após os problemas musculares que o afectaram. Foi um dos melhores em campo. Fechou bem o flanco e foi mais atrevido do que Cédric na manobra ofensiva. Grande tabelinha com Adrien aos 44'. E um centro perfeito aos 50': funcionou como assistência para o golo de Ronaldo.
Danilo - Substituiu William, ausente por acumulação de cartões. Começou algo intranquilo, deixando-se ultrapassar de quando em vez, mas melhorou a prestação à medida que o jogo aquecia. Essencial no processo defensivo, em que soube impor o físico. Quase marcou aos 78': o guardião galês segurou a bola junto à linha de golo.
Adrien - Neutralizou Allen no corredor central, condicionando-lhe a acção ofensiva: exerceu pressão constante e nunca desistiu da luta pela bola. Protagonizou o melhor lance da primeira parte, aos 44', num grande cruzamento para a cabeça de Ronaldo. Excelente recuperação aos 78': serviu Danilo e o golo esteve quase a acontecer.
Renato Sanches - Voluntarioso e com rasgos ocasionais, teve no entanto a sua mais apagada prestação neste Europeu. Nem sempre acertou nos passes e foi várias vezes ultrapassado junto à lateral direita: o processo defensivo ainda não é o seu forte. Arriscou o remate aos 73', mas atirou para a bancada. Saiu no minuto seguinte.
João Mário - Nova missão de sacrifício do médio, mais habituado a fazer incursões da linha para o meio. Cabia-lhe resguardar o flanco, numa segunda linha defensiva, tal como Renato na ala oposta. Fez uma boa tabelinha com Cristiano Ronaldo aos 16', rematando ao lado. Falhou uma recarga aos 65', com a baliza à sua mercê.
Nani - Exibição com duas faces. Mal se deu por ele no primeiro tempo, mas foi crucial no segundo ao apontar o golo que carimbou a nossa vitória e deu tranquilidade à selecção. Confirma-se: é intuitivo como poucos dentro da área quando joga de trás para a frente. Forte remate aos 65', bem colocado: novo sinal de perigo. Saiu aos 87'.
Cristiano Ronaldo - Com um golo soberbo abriu o triunfo português. E vão três no Euro 2016 e nove nas fases finais de Europeus, igualando a marca de Platini em 1984. Alvo de um penálti não assinalado aos 10'. Participou na construção do segundo golo. Podia ter marcado o terceiro de livre, aos 63': falhou por pouco. O melhor em campo.
André Gomes - Entrou em campo já com o resultado feito, rendendo Renato Sanches aos 74'. Pedia-se-lhe apoio ao processo defensivo e tentativa de criar situações de desequilíbrio na manobra ofensiva. Desempenhou com zelo - embora sem brilho - ambas as missões.
João Moutinho - Substituiu o fatigado Adrien aos 79' com a missão de continuar a estabelecer a ligação entre as linhas portuguesas mantendo o nosso controlo da faixa central, o que obrigava os galeses a transferir para as alas todo o processo ofensivo. Cumpriu.
Quaresma - Só entrou aos 87', rendendo Nani e deixando a impressão de que poderia ter entrado mais cedo. Mas ainda chegou a tempo de pôr a defesa do País de Gales em sentido com a sua capacidade de vencer confrontos individuais em áreas de alto risco para a equipa adversária. Associou-se com mérito à vitória.
De empate em empate já estamos nas meias-finais. Pela frente não está nenhum gigante mas sim o estreante País de Gales, que tão bom futebol tem jogado. Temos boas hipóteses de regressar a uma final mas não são favas contadas, afinal, do outro lado moram Bale, Kanu, Vokes ou Williams. Felizmente, Ben Davies e Ramsey ficarão de fora. Olhemos então para o adversário de Lyon.
Na baliza estará Hennessey (Crystal Palace). É um bom guarda-redes que se prepara para ser suplente de Mandanda (ex-Marselha) no seu clube. Na defesa, três homens. Williams (Swansea), corpulento e viril é o esteio. Com o seu tamanho, é no entanto, lento. Chester (WBA) e Collins (West Ham) devem completar o trio, uma vez que Davies (Tottenham) está impedido de jogar.
A fazer o flanco todo, teremos de um lado Taylor (Swansea) e do outro, Gunter (Reading), velocistas e jogadores de raça mas nada mais do que isso. No centro costuma estar o ouro. Sem Ramsey (Arsenal) aposto que jogará King (Leicester) não sendo de estranhar a opção por um homem mais defensivo como Edwards do Wolverhampton. Allen (Liverpool) e Ledley (Crystal Palace) serão indiscutíveis. Na frente, dois homens. Bale (Real Madrid), que é o perigo número um e dispensa apresentações e Robson-Kanu, sem clube, que brilhou na última partida. Gostava de ver Quaresma e Rafa em campo no segundo tempo.
Acredito que Santos mude muito pouco, apostando em Patrício, Cédric, Pepe, Fonte e Raphael; Mário, Danilo (William está castigado), Moutinho (acredito que deixará Adrien de fora) e Sanches (tem estado bem e não merece o banco); Nani e Ronaldo. Será uma batalha de meio campo. Temos tudo para vence-la se não formos snobes.
Se há um mês nos dissessem que íamos disputar uma das meias-finais do Euro 2016 com o País de Gales tenho a certeza de que ninguém acreditaria. Ninguém. A magia do futebol também passa por isto.
Está encontrado o adversário de Portugal nas meias-finais do Campeonato da Europa, a disputar na quarta-feira em Lyon: será o País de Gales, selecção que no início do torneio raros imaginavam a chegar tão longe.
Foi uma vitória justíssima dos galeses num encontro em que a Bélgica se adiantou cedo no marcador, iam decorridos 13', mas que quase nunca fez por merecer o triunfo. Mais compacta, mais solidária, mais acutilante, mais veloz, a selecção de Gales nunca esmoreceu nem virou cara à luta numa partida intensa e emotiva, digna de uma fase final de uma grande competição de futebol.
Os belgas pareceram demasiado confiantes logo após a marcação do seu golo, apontado pelo Naingolan. Um golaço disparado à distância de 35 metros que fez levantar o estádio, sem hipóteses para o guardião Hennessey.
Outros teriam ficado abalados, mas os galeses não. A desvantagem pontual parece ter-lhes dado ânimo suplementar: foram crescendo rumo à baliza defendida por Courtois. E não se limitaram a ameaçar: passaram das intenções aos actos. Aos 31' empataram num lance de bola parada muito bem finalizado pelo capitão Ashley Williams - defesa central que também gosta de marcar golos. E assim se chegou ao intervalo.
Percebia-se a intranquilidade belga no início da segunda parte, em que Ferreira-Carrasco já não regressou ao relvado, substituído por Fellaini - sem notória vantagem para a equipa. Hazard limitava-se a rematar ao lado. E De Bruyne procurou remar contra a maré, mas também ele ficou à porta, incapaz de penetrar no reduto defensivo galês, que lançava o contra-ataque mal recuperava a bola.
Numa dessas manobras ofensivas, iniciada por Gareth Bale, Robson-Kanu desequilibrou o marcador a favor de Gales com um belíssimo golo: recebeu a bola de costas para a baliza, fez a rotação afastando três belgas do caminho com uma finta de corpo e fuzilou as redes adversárias aos 55'. Um golo que deve ser visto e revisto pela selecção portuguesa: eis aqui um artilheiro que merece ser levado a sério apesar de jogar na segunda divisão do futebol inglês.
A Bélgica procurou o empate, mas com lances demasiado denunciados que mal perturbaram a muralha galesa. E o contra-ataque voltou a funcionar, desta vez aos 86', com um cabeceamento de Vokes, acabado de saltar do banco. Estava arrumada a partida.
Portugal que se cuide: Gales é muito mais do que o campeoníssimo Bale, colega de Ronaldo no Real Madrid - um desequilibrador nato. A defesa, onde pontificam Williams e Chester, é fortíssima. O meio-campo, organizado e comandado por Joe Allen, merece respeito. E a movimentação atacante da equipa, capaz de conduzir a bola em três toques para zonas letais, não pode ser menosprezada.
Que o digam os belgas. Que o digam os russos, que levaram 3-0 desta selecção, caloira no Europeu. A anterior participação de Gales numa fase final de uma grande competição remontava a 1958, quando atingiu os quartos-de-final, saindo derrotada frente ao Brasil de Pelé.
A única boa notícia para nós propiciada por este jogo é o cartão amarelo exibido a Aaron Ramsey, figura fundamental do meio-campo galês e autor da assistência para o segundo golo: vai ficar fora do confronto com Portugal.
Mas mesmo sem ele convém ficarmos muito atentos. Que ninguém se iluda: frente ao País de Gales não serão favas contadas.
Bélgica, 1 - País de Gales, 3
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