Segundo um artigo d´A Bola de 12/03/2023, com base nos dados acima fornecidos pelo Sporting, a corrente temporada demonstra a melhor média de bilhética por jogo (gamebox e ingressos) dos últimos anos, 41,3 mil bilhetes vendidos e que corresponde uma assistência de 29,7 mil adeptos.
No outro domingo, a uma hora imprópria para consumo, o Sporting recebeu o Boavista e foi anunciada a presença de cerca de 27,5 mil espectadores no estádio, na linha da média referida. Já o Sporting-Arsenal contou com 36 mil expectadores, bastante acima da média, como seria de supor.
Os números acima demonstram ainda que existe um diferencial variável que pode ultrapassar os 10 mil entre uma coisa e outra, que corresponde a sócios e adeptos com título adquirido que acabam por faltar seja qual for o motivo.
Do que ouvi num podcast a um responsável da anterior direcção, José Ribeiro, os números anunciados nessa altura eram de bilhética, sem controlo pela Liga ou por outra entidade, e a ideia era promover a ideia dum estádio cheio, um ambiente de festa em que quem não tivesse ido se sentisse na obrigação de ir, e facilitador de patrocínios e outros negócios corporativos. Mas a questão é que, e eu estava lá como estou agora, mesmo com as cadeiras "Taveira" entretanto mudadas, só um cego não via que os números anunciados muitas vezes não batiam certo com as presenças. Nesse podcast, ouvi também falar da possibilidade de reconversão da zona de adeptos visitantes para convidar núcleos a vir a Alvalade em excursões apoiadas pelo clube.
O primeiro factor de ocupação dum estádio será sempre o desempenho da equipa. Estivesse o Sporting à frente do campeonato e teríamos sempre o estádio (quase) cheio apesar de tudo o resto. Ainda hoje ouvi a história dum avô orgulhoso que vai levar as netas "inglesas" ao próximo jogo em Alvalade, exigência delas em visita a Lisboa pela repercussão que a vitória do Sporting teve com o Arsenal teve em Londres e no colégio delas. Portanto, se o estádio não está mais composto o primeiro responsável é Rúben Amorim.
Mas qualquer um que vá agora a Alvalade percebe a existência de duas zonas especiais de adeptos, delimitadas, com acessos próprios, que não se podem reconfigurar jogo a jogo. Uma para visitantes, outra para as claques do Sporting. Dado que as duas grandes claques se recusam a ir para lá, e os clubes pequenos não trazem adeptos em número significativo, uma parte substancial do estádio (cerca de 5 mil dos 50 mil disponíveis) está nesses jogos praticamente vazio, como esteve no Sporting-Boavista. Portanto nesse jogo as restantes bancadas estiveram a 60% da lotação. A mim, que estive lá, pareceu-me que foi mais ou menos isso.
Por outro lado, como as duas claques, depois dalguns confrontos entre elas, se foram albergar em duas bancadas opostas, e entreter-se a rebentar petardos, a acender tochas, a cantar insultos para os clubes adversários e para a Liga e a exibir tarjas ofensivas até para a polícia, o que além das sucessivas multas ao clube já deu origem a uma carga policial musculada, as portas afectas a essas bancadas obrigaram a processos de revista mais intensos e demorados (ainda hoje se fala no descalçar dos sapatos que muito ofendeu alguns). O que com certeza obrigou a alguns a mudar de sector do estádio para não estar misturado com aquela gente e desmotivou outros a ir, porque levar com uma tocha ou um bastão policial não agrada a ninguém. E andar a cheirar substâncias esquisitas, só a alguns.
Assim, de repente, temos uma boa parte da assistência de Alvalade comprometida directa ou indirectamente devida às claques. Pelo que os segundos responsáveis são elas próprias.
Depois, e só depois, temos o resto. Os horários dos jogos, o preço dos bilhetes, a falta duma plataforma de revenda, a acessibilidade ao estádio (neste momento uma verdadeira miséria dadas as obras do metro, da nova urbanização e dos desvarios ciclopédicos do Medina), a experiência de utilização dentro do estádio, o gosto ou desgosto que possa merecer o presidente, etc.
Portanto, para o estádio encher duas coisas são necessárias: a equipa a ganhar e o problema com as claques (que os dois rivais souberam não ter) ultrapassado.
Há algum tempo que não ia a um jogo em Alvalade em plena luz do dia, num final de tarde dum dia bem quente da despedida do Verão.
E lá vieram as recordações do futebol às "3 da tarde" doutros tempos, às vezes com um sol bem forte pela frente que dificultava a visão, os guarda-redes de boné, os "cachorros" depois do jogo nalguma tasca ali ao pé, enfim, saudades.
Se nesse tempo ia andando para o estádio Campo Grande fora, no sábado também isso aconteceu, no meio duma romaria de famílias com miudagem de camisolas verde e brancas com o mesmo destino. As "roulottes" já estavam a alimentar as tertúlias verdes que se iam formando, e lá fui atravessando aquele imenso estaleiro em que se transformou a zona do metro rumo à minha porta por onde entrei na maior das calmas.
Gosto de chegar cedo ao estádio, apreciá-lo ainda bem vazio, assistir ao lento preenchimento de espaços enquanto dura o aquecimento dos jogadores e até ao apito inicial do árbitro.
Depois do jogo lá regressei pelo mesmo caminho com o resto da multidão ziguezagueando por entre carros a passar e polícias a apitar sem qualquer hipótese de pôr ordem na grande confusão.
Os sucessos da era Amorim, a pandemia e os problemas com as claques mudaram muito a paisagem humana de Alvalade. Muitos mais velhos foram substituídos por famílias, o verde e branco das camisolas dos adultos e dos putos é omnipresente, até filhos de estrangeiros residentes ou em visita a Lisboa acompanham os pais vestidos a rigor a Alvalade. E com isso uma forma bem mais calma de estar no estádio a apoiar à equipa, que alguns confundem com pasmaceira mas que para mim é o regresso ao que o futebol foi durante muitos anos e que deveria voltar a ser: um espectáculo de famílias e amigos à semelhança das grandes finais do Jamor.
No sábado foi noticiado que estariam em Alvalade cerca de 30,000 pessoas, com as zonas especiais reservadas aos adeptos praticamente vazias, a curva sul quanto muito a uns 20% de ocupação, mas com o resto do estádio bem preenchido.
Felizmente não houve petardos nem pirotecnia a contribuirem para os cofres da Liga, mas as claques estão reduzidas a serviços mínimos. Na tal zona especial com direito a tarjas poucas dezenas de elementos da Torcida Verde e da Brigada, na parte restante da curva sul a JuveLeo sem direito a elas, a Duxxi concentrada num topo da curva norte, próximo dos adeptos adversários para criarem as confusões do costume e serem mais uma vez corridos à bastonada um dia destes, tornando-se assim um perigo para os sócios com lugares no sector, alguns já a mudar-se a contragosto para verem o jogo sossegados.
Alguns acham que é a Direcção do Sporting a responsável por este estado de coisas, falam de divisionismo, afastamento, um ambiente deprimente e distante do que era com Bruno de Carvalho.
Bom, esse divisionismo deve-se em primeiro lugar aos que não aceitaram a destituição do ex-presidente, andaram em guerra constante durante 4 anos com a Direcção eleita e foram castigados nas urnas pelos Sportinguistas. O candidato que encontraram ficou reduzido a uns míseros 6%. E o mau comportamento das claques no estádio e no pavilhão contribuiu muito também para essa vitória esmagadora do presidente.
Mas obviamente também a Direcção actual tem responsabilidades que conviria assumir ao pactuar com este estado de coisas, ao fechar os olhos a comportamentos indecentes ou mesmo ilegais em Alvalade, em vez de convidar sócios com direitos adquiridos a desenrascarem-se conforme podem.
Depois é preciso dizer o que todos nós sabiamos e que ainda ontem no podcast SpacesSporting um responsável da altura confirmou, que as audiências comunicadas no tempo do ex-presidente eram "ajustadas", para cima obviamente, para criar uma percepção junto dos adeptos e dos parceiros duma festa que não se poderia perder. E além de todas as borlas de que gozavam as claques, nos jogos menores organizavam-se excursões dos núcleos para preencher os espaços reservados aos adeptos dos grandes clubes nacionais e dos internacionais.
Hoje em dia, com as zonas especiais a obrigarem segregação de acessos, aparentemente não há hipótese de as reconfigurar jogo a jogo e vender bilhetes para o sócio ou adepto comum do Sporting.
Depois também acontece que os detentores fidelizados dos Lugares de Leão compraram o direito de ir quando lhes apetece, e muitos lugares ficam livres na central por causa disso, sem existir um mecanismo oficial implementado de revenda do direito de acesso ao seu lugar.
E nem vale a pena falar da "bancada dos cegos", sempre vazia graças à arquitectura do estádio, plena de situações complementamente estapafúrdias bem ao jeito do "génio" do Tomás Taveira. Ou aqueles lugares de Gamebox nos cantos da 1.ª fila onde um adulto não se pode consegue sentar pela proximidade da parede de cimento do banco.
Além disso, as subidas de preços em tudo e mais alguma coisa, e a acessibilidade actual ao estádio, simplesmente vergonhosa para quem se desloca deautomóvel, muita influência tem também neste estado de coisas.
Enfim, vamos ver amanhã como estará preenchido este nosso estádio num dos jogos mais interessantes da época, contra a equipa mais parecida com o Sporting da Premier League, pelo 3-4-3 utilizado por Conte e pela forma de jogar de Harry Kane.
Da entrada em grande do Sporting na Liga 2021/2022. Atitude de campeão que sonha revalidar o título, conquistando o primeiro bicampeonato do futebol leonino desde 1954. Sobretudo na segunda parte, em que foram marcados os nossos três golos em casa contra o Vizela. Desempenho brilhante do colectivo treinado por Rúben Amorim, que não abrandou o ritmo atacante mesmo quando já vencíamos por margem confortável.
Do regresso do público. Dezassete meses depois, 516 dias depois, o estádio José Alvalade voltou a ter público nas bancadas. Cerca de 10 mil adeptos nos lugares disponíveis, vários dos quais agora integralmente verdes. Foi um momento por que há muito esperávamos, este de podermos aplaudir ao vivo os nossos campeões - incentivados fervorosamente do princípio ao fim. Não podia haver melhor maneira de assinalar o 18.º aniversário da inauguração do actual estádio.
De Pedro Gonçalves. Melhor jogador em campo. Nenhum fez a diferença como ele - desde logo ao apontar os dois primeiros golos do Sporting, que foram também os dois primeiros golos do novo campeonato, contribuindo como nenhum outro para estes três pontos iniciais da equipa campeã. Marcou aos 48', com um primoroso chapéu ao guarda-redes, a passe de Paulinho após recuperação de Palhinha. Dezasseis minutos depois, aos 64', assinou uma obra de arte após cruzamento de Esgaio, com óptima recepção na grande área e remate muito bem colocado de pé direito, à meia-volta, sem a menor hipótese para Charles. Já leva três golos marcados em dois jogos oficiais. Tem claramente a ambição de voltar a sagrar-se rei dos goleadores no campeonato.
De Paulinho. Não dá espectáculo, dirão. Mas é um elemento cada vez mais influente no nosso onze titular. Sai deste jogo com um golo - o nosso terceiro, aos 74', com soberba assistência de Nuno Santos - e uma assistência. Trabalha muito para a equipa, abrindo espaços, arrastando marcações. Bom cabeceamento aos 26', para defesa apertada do guardião forasteiro.
De Vinagre. Estreia absoluta de verde e branco na equipa principal do Sporting - e logo como titular, colmatando ausência de Nuno Mendes por lesão. Desempenho muito positivo do ala esquerdo emprestado pelo Wolverhampton. Dinâmico, veloz, com bom drible, sem receio dos duelos individuais. Cruzamentos muito bem medidos aos 22' e aos 26'. É ele quem inicia o terceiro golo, com um passe vertical que desmarcou Nuno Santos, numa fase do jogo em que já acusava alguma fadiga física.
De Esgaio. No corredor direito, também ele cumpriu com distinção. Como reforço do Sporting, clube que o formou e a que regressa quatro anos depois. Com Porro ausente por lesão, foi dono e senhor da sua ala, tanto no plano defensivo como ofensivo. Cruzamentos dignos de nota aos 12', 30', 53' e 63'. Ponto alto desta exibição: a assistência para o segundo golo, servindo Pedro Gonçalves com boa execução técnica e excelente visão de jogo.
De ver a nossa baliza inviolada. Adán fez uma única defesa complicada, quando se viu forçado a socar uma bola aos 71'. O trio de centrais - Gonçalo Inácio, Coates e Feddal - comportou-se da melhor maneira, ao nível a que habituou os adeptos na época passada.
Da consistência colectiva do Sporting. Jogo desenrolado ao primeiro toque, constantes aberturas de linhas de passe, atenção permanente às dobras, pressão intensa no portador da bola sem deixarmos a equipa adversária em posse mais que uns segundos. Entramos neste campeonato melhor ainda do que há um ano. Ninguém se iluda: existe treino muito competente por detrás disto.
De Rúben Amorim. O treinador entra com o pé direito neste regresso a casa, com nova competição já em marcha. Pormenor a destacar: nunca perdeu um jogo em Alvalade desde que orienta a equipa principal do Sporting.
Da ovação a Jorge Fonseca ao intervalo. O nosso campeão olímpico, bronze no judo em Tóquio, exibiu a medalha recém-conquistada nos Jogos Olímpicos tanto no relvado como nas bancadas. Recebeu merecida chuva de aplausos e um pequeno banho de multidão.
Não gostei
Do empate a zero que se mantinha ao intervalo. Boa réplica do Vizela neste seu regresso à primeira divisão do futebol português 36 anos depois, o que dificultou a nossa capacidade ofensiva nos 45 minutos iniciais.
De Jovane. Não foi a sua noite - longe disso. Pela primeira vez na carreira, enquanto profissional, falhou a marcação de uma grande penalidade atirando por cima, a rasar a barra. Foi aos 32', o que pareceu afectá-lo em termos anímicos. Aos 45'+1 desperdiçou outra oportunidade, rematando ao lado. No minuto seguinte, atirou para a bancada. Bem substituído por Nuno Santos aos 68'.
Da lentidão das decisões do VAR. Foi muito demorada, a análise do vídeo-árbitro Nuno Almeida ao nosso terceiro golo, apontado por Paulinho. Que foi de uma legalidade irrepreensível. Não havia necessidade de manter o jogo interrompido por tanto tempo.
Marítimo e Nacional anunciaram ontem que passarão a ter adeptos em metade das bancadas disponíveis nos respectivos estádios nas provas futebolísticas prestes a começar.
Em relação aos estádios do continente, essa autorização ainda não foi concedida pelas autoridades sanitárias.
Acontece que o campeonato nacional de futebol é uma prova de âmbito nacional e não regional. Deve desenrolar-se com regras precisas, claras e uniformes para todos os clubes. Se uns contarem com público e outros não, isso representará uma grosseira violação das elementares regras de equidade na mesma competição.
Vejo a foto que ilustra este texto de Luís Lisboa e recordo com inveja os tempos em que o público cantava “O mundo sabe que”. Estes novos tempos, tempos esquisitos que vivemos, impedem que esse público não possa assistir, ao vivo, à brilhante época que o Sporting tem feito. Não vou repetir a pergunta de José Peseiro fez e que aqui o Pedro Correia deu eco, sobre se esses bons resultados seriam possíveis com público - principalmente aquele público -, vou tão só lamentar que esse mesmo público, aquele que verdeiramente gosta do Sporting, não possa aplaudir estes jogadores, esta equipa técnica, que merecem esses aplausos.
A foto inicial deste texto, foi tirada por mim no último jogo que assisti em Alvalade, a 27 de Abril de 2019 (Sporting – 2, Vit. Guimarães – 0).
P.S.- Pisco, amigavelmente, o olho a Pedro Oliveira para repetir que, felizmente, sempre que assisti, ao vivo, a jogos do Sporting só festejei vitórias.
O Governo já veio esclarecer que não haverá público nas últimas cinco jornadas do campeonato nacional de futebol. Contrariando assim aquilo que o presidente da Liga, Pedro Proença, apressadamente viera declarar mal foram conhecidas as primeiras medidas de suavização do confinamento ainda em vigor.
Por uma vez, concordo com o Governo, que tão mal tem andado em matéria de desporto. Não faria qualquer sentido alterar as regras numa altura crucial da competição, favorecendo claramente um dos quatro clubes que disputam os dois lugares de acesso directo à Liga dos Campeões. Refiro-me ao Benfica, que beneficiaria com a presença de adeptos a puxar pela equipa no estádio da Luz em dois confrontos que poderão decidir a classificação final: o Benfica-FC Porto (que deverá disputar-se a 9 de Maio) e o Benfica-Sporting (previsto para 16 de Maio). Em flagrante contraste com o que sucedeu nos desafios correspondentes da primeira volta, disputados no Dragão e em Alvalade, com as bancadas vazias.
Assim as regras serão iguais para todos. É fundamental para manter a seriedade, a equidade e a transparência na principal competição desportiva em Portugal, garantindo a credibilidade daquilo a que alguns chamam "indústria do futebol".
Durante meses, em textos vários, aqui defendi o regresso do público aos estádios. Quando as praias estavam cheias, as touradas decorriam com bancadas bem preenchidas e 30 mil espectadores acorriam ao autódromo de Portimão para verem provas motorizadas. Nessa altura os estádios mantiveram-se interditos por decisão governamental.
Paciência, se foi assim até agora será também assim até final. Favores ao Benfica, nem pensar.
Está quase a chegar o primeiro clássico do ano: o Sporting-FC Porto, que vai jogar-se depois de amanhã, sábado, a partir das 20.30. Um jogo sem público, nesta prova organizada pela Liga, apesar de ontem ter sido autorizada a presença de cinco mil espectadores no nosso estádio para assistirem ao Portugal-Suécia (3-0), prova organizada pela FPF.
Alguém entende esta disparidade de critérios? Eu não, de todo.
Vai jogar-se a quarta jornada do campeonato nacional de futebol ainda com estádios vazios - embora para o Sporting esta seja apenas a terceira participação, devido ao adiamento do jogo inaugural, em que recebíamos o Gil Vicente, e que continua por disputar.
Mas estou novamente a dispersar-me. O que eu pretendo é conhecer os vossos prognósticos para este clássico. Lembrando que o anterior Sporting-FC Porto ocorreu a 5 de Janeiro: fomos os melhores em campo, mas cometemos erros defensivos imperdoáveis, acabando por sair derrotados (1-2). Com o nosso golo a ser iniciado e concluído por alguém que já não está: Marcos Acuña. E com um penálti perdoado aos portistas pelo "categorizado" árbitro Jorge Sousa, entretanto retirado dos relvados, a bem do futebol.
Sete meses depois, o estádio José Alvalade voltou a ter público. Não aquele público de que muitos de nós fazemos parte - com lugares cativos, bilhetes de época ou ingressos jogo a jogo. Mesmo assim, há que registar o facto. Com satisfação e até alegria. Porque foi vencida uma absurda barreira que tardava a ser levantada pela Direcção-Geral da Saúde, entidade que foi dizendo quase tudo e o seu contrário sobre a pandemia enquanto mantinha uma inabalável recusa de "desconfinar" os espectáculos desportivos, em particular o futebol. Enquanto autorizava viagens aéreas em voos lotados, o regresso dos concertos, das sessões de cinema, dos espectáculos teatrais, dos circos e das touradas, enquanto permitia manifestações e concentrações de rua promovidas por forças partidárias, movimentos cívicos ou grupos espontâneos de cidadãos, enquanto dava luz verde a eventos tão diversos como a Festa do Avante no Seixal, o concurso hípico de saltos internacionais em Esposende ou a realização do Grande Prémio de Fórmula 1 em Portimão.
Como se nós, aqueles que durante anos costumávamos ir à bola, ajudando assim a financiar os clubes e a promover o desporto como baluarte da saúde pública, estivéssemos marcados por uma espécie de capitis diminutio para efeitos de cidadania responsável: os burocratas de turno na DGS imaginam-nos como perigosos transmissores de vírus enquanto frequentadores de um estádio. Não num restaurante ou num hotel ou num comício ou numa plateia de rábulas humorísticas ou enquanto utentes de transportes públicos. Para estas luminárias, só o desporto (não motorizado nem centrado em provas hípicas) está empestado.
Há que saudar a Federação Portuguesa de Futebol por ter conseguido derrubar o tabu: de algum modo, os 2500 espectadores que ontem marcaram presença nas desguarnecidas bancadas do nosso estádio para assistir ao amigável Portugal-Espanha (que terminou sem golos) foram pioneiros. Antecipando um regresso à normalidade possível.
A partir de agora, nem um passo atrás. Aberto o precedente, a autoridade sanitária não poderá negar à Liga de Clubes aquilo que autorizou à Federação Portuguesa de Futebol. Os jogos com público deverão ser retomados a curto prazo. Com bilhetes nominais, intransmissíveis e disponibilizados on line a cada adepto devidamente identificado, além do escrupuloso cumprimento das normas em vigor: uso permanente de máscara, higienização das mãos, controlo da temperatura à entrada do recinto e lugares atribuídos de acordo com o distanciamento físico sanitariamente recomendado.
Sem mais desculpas esfarrapadas. Porque futebol sem público é futebol amputado. E uma sociedade que força pessoas saudáveis a permanecer em casa por prazo ilimitado é uma sociedade doente.
{ Blogue fundado em 2012. }
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