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És a nossa Fé!

Clássico emotivo e empolgante até ao fim

FC Porto, 1 - Sporting, 1

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Fresneda eufórico no estádio do Dragão: decorria o minuto 42, acabara de marcar ao Porto

Foto: José Coelho / EPA

 

Foi um clássico emotivo e empolgante, do primeiro ao último minuto. Um clássico com duas partes muito distintas. Na primeira com domínio do Sporting, que silenciou o público do Dragão aos 42', quando Fresneda a meteu lá dentro. Lateral dextro rematando de pé canhoto, como ponta-de-lança improvisado, sem marcação visível, com Quenda a servi-lo no mais belo lance individual do desafio.

Instalava-se o nervosismo nas bancadas portistas. Era caso para isso: o Sporting vencia ao intervalo, o Porto não conseguira melhor do que um remate de Eustáquio que embateu no ferro. Brinde de Gonçalo Inácio que podia ter-nos custado caro.

 

Vale a pena assinalar que este era um Sporting com remendos. Além das ausências de Nuno Santos e Pedro Gonçalves, lesionados de longa duração, também não pudemos contar com Geny, igualmente lesionado. Enquanto Morita e Gyökeres, já recuperados mas longe da forma ideal, se sentavam no banco e de lá só saíram ao minuto 69.

Para agravar a questão, aos 23' ficámos com outro futebolista fora de combate: João Simões saiu em lágrimas, com lesão traumática, após choque violento com Eustáquio, oito minutos antes. Foi assistido, ainda tentou retomar a partida, mas não conseguiu. Teve de ser substituído à pressão por Debast, central direito adaptado a médio-centro.

Andamos assim: tapa-se de um lado, destapa-se de outro. Rui Borges continua a aparentar calma. Mas a tarefa dele está longe de ser fácil.

 

Tudo isto ajuda a explicar o motivo por que a nossa equipa se retraiu no segundo tempo, abandonou a intensa pressão ofensiva dos 45 minutos essenciais e começou a recuar linhas, talvez em excesso, concedendo iniciativa ao adversário.

O Porto, vendo-se a perder e sentindo os adeptos à beira de um ataque de nervos, atirou-se para a frente quase em desespero. Ao ponto de o novo treinador, Anselmi, ter desfeito a linha dos três centrais e ordenado aos jogadores para avançarem no terreno. A ausência de Gyökeres facilitou-lhes a tarefa. Harder é combativo, mas não ataca a profundidade com a mesma intensidade do craque sueco.

O técnico leonino esperou demasiado a mexer no onze, para além da alteração forçada do primeiro tempo. Percebeu-se porquê quando Viktor e Morita entraram, acusando falta de ritmo competitivo: nenhum deles esteve à altura do que já nos habituou. Mesmo assim o ponta-de-lança ofereceu o golo a Quenda aos 70', infelizmente sem resultado: bastou-lhe um minuto em campo para dar nas vistas. Mas o seu primeiro remate digno desse nome só aconteceu aos 90'+3: levava força, mas foi à figura. Diogo Costa defendeu sem dificuldade.

Entre os nossos postes brilhou Rui Silva, aos 68', voando para impedir um cabeceamento de Pepê. Acabaram-se as dúvidas: temos mesmo reforço na baliza.

 

Houve muita pressão nervosa nos minutos finais. O Sporting mostrava-se compacto e competente a defender, o Porto tentava explorar todas as vias de acesso à nossa baliza, destacando-se o jovem Rodrigo Mora, sem dúvida um talento equivalente ao nosso Quenda.

Aos 90' mantinha-se o 0-1. Que só se desfez quando faltava cumprir minuto e meio do tempo extra concedido pelo árbitro. Samu cruzou sem pressão, colocado em jogo por Diomande, e à boca da baliza surgiu Damaso - que Gonçalo Inácio deixou movimentar-se à vontade - metendo-a lá dentro. Rui Silva nada pôde fazer aqui.

 

Mas nos instantes seguintes poderia ter havido nova reviravolta. Com energia inesgotável, em novo lance individual, Quenda infiltrou-se na área portista e acabou derrubado por Zé Pedro em tacle deslizante. O defesa azul e branco tocou na bola, mas derrubou o jovem extremo leonino. Era lance para vídeo-árbitro, mas o VAR Tiago Martins não deu sinal de vida e João Pinheiro deixou passar.

Critério largo? Nem por isso. Logo a seguir "avermelhou" dois dos nossos. Matheus Reis com dois amarelos por protestos com escassos segundos de intervalo, algo pouco compreensível. E Diomande por ter encostado a cabeça a Fábio Vieira numa picardia entre ambos com o portista a atirar-se para o chão como se tivesse fractura exposta.

Maneira feia de terminar um clássico que teve lances bonitos. Mantemos oito pontos de vantagem sobre o Porto - que serão nove para eventuais efeitos de desempate. Mas Rui Borges tem a certeza antecipada de ter dois jogadores a menos no próximo desafio, contra o Arouca. E poderão ser três caso João Simões não recupere até lá.

 

Breve análise dos jogadores:

Rui Silva (6) - Seguro na baliza, excepto num lance em que Samu o apanhou adiantado e quase marcava de chapéu. Enorme defesa aos 68'. Bom jogo de pés.

Fresneda (6) - Brilhou pelo segundo jogo consecutivo ao marcar novamente à ponta-de-lança. O golo valeu-nos um ponto. Quebrou fisicamente a partir dos 60'. 

Diomande (5) - Esteve muito bem durante quase todo o jogo. Impôs-se na defesa, em diversos cortes. Claudicou no golo portista e viu um vermelho escusado a segundos do fim.

Gonçalo Inácio (4) - Exibição oscilante. Desconcentrado, entregou a bola aos 27': quase nos custou um golo. E deu margem de manobra para Namaso marcar aos 90'+4.

Maxi Araújo (6) - Articulou-se bem com Quenda no corredor esquerdo: teve ponto alto no lance do nosso golo, iniciado por ele. Bom corte aos 74'. Saiu esgotado.

Morten (7) - Pendular, como já nos habituou. É ele a controlar e pautar o nosso jogo, tanto ofensivo como defensivo. O primeiro remate com perigo, de cabeça, foi dele logo aos 4'.

João Simões (4) - Azarado. Estava a combinar bem com Morten no meio-campo quando se lesionou após choque com Eustáquio. Saiu em lágrimas.

Daniel Bragança (4). Muito apagado. Longe da influência no plano táctico e da robustez no plano físico que as suas movimentações como médio ofensivo exigem.

Trincão (6) - Tentou o golo aos 35': saiu ligeiramente ao lado. Construiu para Harder marcar, aos 52'. Foi o melhor que fez. Mas soube trabalhar para a equipa, à frente e atrás.

Quenda (8) - Lance de génio em progressão, sentando três portistas. Daí resultou o passe para golo. Podia ter marcado no último lance quando foi rasteirado na área. Melhor em campo.

Harder (5) - Fez o que pôde, mas foi insuficiente. Falhou o golo aos 52'. Esteve mais perto de marcar aos 57', após canto apontado por Quenda, mas também sem conseguir. 

Debast (5) - Entrou aos 23', rendendo João Simões. Numa posição em que não está rotinado. Cumpriu os mínimos, sem brilho. Faltou-lhe dinâmica a complementar Morten.

Gyökeres (6) - Só saltou do banco aos 69', substituindo Harder. Mais acutilante, logo a seguir ofereceu golo a Quenda. Remate forte aos 90'+3. Derrubado por Djaló na área em lance duvidoso.

Morita (5) - Substituiu Bragança aos 69'. Contribuiu para fechar o corredor central, mas percebe-se que está longe do fulgor físico que evidenciava antes da lesão mais recente.

Matheus Reis (3) - Entrou aos 86, substituindo Maxi Araújo. Perdeu a cabeça nos instantes finais, protestando sem parar, o que lhe valeu dois amarelos e a expulsão. Fica fora do próximo jogo.

Lesões não abrandam vaga de vitórias

Sporting, 3 - Farense, 1

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Harder logo após marcar o terceiro golo, cumprimentado por João Simões e Quenda

Foto: Patrícia de Melo Moreira / AFP

 

Jogo calmo, tranquilo, dominado pelo onze leonino do princípio ao fim. Recebíamos o Farense, que na primeira volta goleámos por 5-0, lá no Algarve. Mesmo no início do campeonato, quando a frescura era outra - muito distante deste período de calendário apertadíssimo, com dois jogos por semana e quase sem tempo para recuperação física.

Apesar do cansaço que se acumula e das lesões que continuam a apoquentar a equipa, entrámos confiantes, logo instalados no meio-campo da turma visitante.

Esforço recompensado: aos 11', já a bola entrava na baliza do Farense. Tocada por um ponta-de-lança improvisado: Iván Fresneda, que a passe de Harder se estreou assim como goleador desde que actua como jogador sénior. O jovem espanhol transbordou de alegria e todos os colegas se associaram a ele nos festejos.

Daí a pouco, aos 26', Diomande seguiu-lhe o exemplo. Na sequência de um canto superiormente marcado por Trincão, elevou-se mais alto e meteu-a lá dentro, num cabeceamento fulminante. Estreando-se, também ele, como goleador nesta época. 

 

O resultado reflectia o comportamento das duas equipas no terreno. O Farense muito remetido ao reduto defensivo, o Sporting fazendo pressão constante com variações de velocidade em largura e comprimento, pautando o seu jogo em obediência a este desígnio estratégico: convém evitar esforços inúteis.

Mas ninguém alimentava dúvidas sobre quem mandava ali. Morten no meio-campo interior e Trincão impulsionando o ataque, sobretudo inclinado para a direita.

Atrás as operações estavam bem confiadas ao quarteto comandado pelo marfinense. Que só desafinou uma vez, mesmo à beira do intervalo, aos 45'+2: bastou uma fugaz falta de sincronização para Lucas Áfrico, vindo lá de trás, rematar em posição frontal, livre de marcação, sem hipótese para Rui Silva.

E assim se foi para o intervalo.

 

No segundo tempo só deu Sporting. Já com João Simões em campo, contribuindo para a fluidez do nosso jogo, enquanto Quenda e Trincão pareciam rivalizar em exibições de virtuosismo técnico: os mais de 43 mil adeptos não lhes negaram aplausos.

Mas estava escrito que o herói daquele fim de tarde de anteontem seria Conrad Harder. Substituto do ausente Gyökeres, o jovem avançado deixou claro ao treinador que pode contar com ele. Confirmou-se como herói em campo ao apontar o terceiro, no minuto 88, em lance iniciado e finalizado por ele próprio, correspondendo da melhor maneira a um cruzamento de Matheus Reis, que onze minutos antes saltara do banco.

Segundo desafio seguido a marcar: é assim que se ganha fama. É assim, passo a passo, que se vai subindo no Olimpo do Sporting. Parabéns ao dinamarquês: bem os merece.

 

Parabéns igualmente a Rui Borges, que tem feito omeletes com poucos ovos. Desta vez, outra baixa: Geny saiu aos 25', de maca, com lesão traumática. Vai parar pelo menos duas semanas. Talvez mais.

Numa das tribunas do estádio, a ver o jogo, estavam quatro titulares indiscutíveis: Gyökeres, Pedro Gonçalves, Morita e Nuno Santos.

Apesar dos problemas com sucessivas lesões, o Sporting mantém o comando isolado, continua a ter o melhor ataque e a melhor defesa, é a equipa com mais vitórias e menos derrotas. Registo à 20.ª jornada: 56 golos. Não marcávamos tantos há 51 anos, desde a saudosa época 1973/1974.

Agora é só seguir em frente.

 

Breve análise dos jogadores:

Rui Silva (5) - Alguma vez havia de acontecer: sofreu o primeiro golo no Sporting, aos 45'+2. E fez a primeira defesa digna de aplauso, aos 50'.

Fresneda (6) - Envolveu-se na manobra ofensiva e foi recompensado com o primeiro golo da sua carreira, aos 11'. Vai motivá-lo para mais.

Diomande (7) - Grande golo de cabeça, após um canto (26'). O seu primeiro nesta época. Quem diz que não marcamos de bola parada?

Gonçalo Inácio (5) - Eficácia no passe longo. Mas falhou a marcação a Lucas Áfrico no tento algarvio. E falhou golo de baliza aberta (72').

Maxi Araújo (7) - Melhora de jogo para jogo. Excelente cruzamento atrasado para Gonçalo marcar. É dele a pré-assistência no terceiro golo.

Geny (4) - Estava a movimentar-se bem, no flanco direito, mas lesionou-se muito cedo (22'). Forçado a sair, queixando-se de entorse.

Morten (7) - Muito influente. Acorreu duas vezes à dobra de Diomande. Participou na construção do terceiro golo. Peça fundamental.

Daniel Bragança (4). Exibição muito abaixo do que nos habituou. Desperdiçou dois ataques (29' e 41'). Sem desenhar um só movimento de ruptura. 

Quenda (7) - O maior desequilibrador do plantel. À esquerda e à direita, ganhou duelos e arrastou marcações. Indiscutível maturidade técnica.

Trincão (7) - Assistiu no segundo golo. Muito activo no ataque, grande compromisso na defesa. É o rei das assistências na Liga: e vão nove.

Harder (8) - Fez o passe decisivo para o primeiro golo e marcou o terceiro - de modo original, com o peito. Melhor em campo.

João Simões (6) - Substituiu Geny aos 25'. Bom comportamento defensivo, critério na entrega da bola. Nunca se esconde do jogo.

Matheus Reis (6) - Entrou aos 77, substituindo Daniel Bragança. Onze minutos depois, protagonizou o centro que daria o golo a Harder.

Debast (-) - Substituiu Trincão aos 90'. Só para confirmar que a breve lesão já foi ultrapassada.

Afonso (-) - Entrou aos 90', rendendo Maxi. Justo incentivo para um jovem jogador que se tem destacado no Sporting B.

Dois momentos mágicos em noite tépida

Sporting, 2 - Nacional, 0

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Momento do jogo, aos 45'+1: Gyökeres assistiu, Trincão marcou. Alvalade em peso aplaudiu

Foto: José Sena Goulão / Lusa

 

Cada um joga com as armas que tem ao dispor. Não posso, por isso, criticar a postura ultra-defensiva que o Nacional adoptou em Alvalade, na visita que nos fez anteontem à noite. O treinador organizou a equipa num 5-4-1 com dupla muralha numa extensão máxima de 30 metros. Sem a menor preocupação em abrir linhas ou arriscar um contra-ataque. Durante toda a primeira parte, nem uma só incursão da turma madeirense fora do seu reduto. Na segunda, tentaram uma vez incomodar Rui Silva, sem o conseguir.

Nem parecia a mesma equipa que duas semanas antes tinha vencido o FC Porto, categoricamente, por 2-0 na Choupana. É verdade que este FCP é inferior ao Sporting, mas a diferença de atitude dos jogadores do Nacional não podia ter sido mais acentuada - o receio de saírem com derrota por goleada sobrepôs-se neles à capacidade de darem luta. Nesse aspecto, conseguiram: só sofreram dois golos, sem marcarem nenhum.

Caso para dizer que se contentam com pouco.

 

Da nossa parte, o desafio era outro: como ultrapassar aquela muralha. Tentámos de várias formas. Incursões entre linhas, que esbarraram em florestas de pernas. Cruzamentos a pingar para a área, que deram em nada. Lances de bola parada, mas nem cantos nem livres incomodaram os da Madeira.

Estava escrito que o dique acabaria por rebentar à bomba.

Foi precisamente o que aconteceu. Tínhamos acabado de entrar no minuto inicial do tempo extra da primeira parte - o árbitro concedeu quatro - quando Trincão, servido por Viktor, conseguiu aquilo que tão bem sabe fazer em noites de verdadeira inspiração. Pegou na bola junto à linha direita, inflectiu para dentro e disparou a mais de 30 metros com colocação perfeita: remate em arco, fazendo-a anichar no ângulo mais distante do guarda-redes.

Obra-prima: é daqueles golos que não nos fartamos de rever. Já está a ser exibido um pouco por toda a Europa, reforçando a fama do Sporting além-fronteiras.

 

Momento mágico em noite de futebol tépido, mas onde se cumpriu o essencial: mantivemos o controlo das operações do primeiro ao último minuto, não nos desorganizámos, tivemos a paciência suficiente para manter a bola no meio-campo adversário.

Nunca o Nacional esteve perto de marcar.

Faltava-nos apenas criar uma oportunidade para ampliar a vantagem, evitando a vitória por golo solitário quando já no estádio se escutavam alguns assobios dos imbecis do costume.

E essa oportunidade acabou por surgir. No último minuto do tempo regulamentar. Com Geny a progredir junto à linha direita e a cruzar para a área. Houve um ressalto e a bola sobrou para João Simões, que com instinto felino a apanhou a jeito do seu pé esquerdo, dando-lhe o melhor rumo, em diagonal rasteira, longe do alcance do guardião nacionalista.

 

Foi o segundo e último momento mágico da noite, este estrelato do jovem médio algarvio, que aos 18 anos se estreou como artilheiro da equipa principal depois de se ter destacado nos escalões da formação. Com lágrimas de alegria a escorrerem-lhe pelo rosto, correu cerca de 50 metros e foi festejar o disparo bem-sucedido junto dos apanha-bolas: bonita maneira de celebrar o golo entre gente muito cá da nossa casa.

Futebol não é só técnica nem táctica. É também isto: festa intensa com emoções à solta, partilha de momentos inesquecíveis.

João Simões nunca esquecerá este Sporting-Nacional. A alegria dele contagiou-nos a todos: tornou-se um pouco nossa também. Ficamos a dever-lhe isso. Enquanto celebramos também o reforço da liderança: estamos seis pontos à frente do Benfica e outros seis à frente do FC Porto. Quinze jornadas nos separam da conquista máxima. Falta cada vez menos.

 

Breve análise dos jogadores:

Rui Silva (5) - Segundo jogo seguido da Liga a titular, segundo jogo sem necessidade de cumprir serviços mínimos. Por inoperância total dos adversários. Antes assim.

Fresneda (4) - Demasiado ansioso, com mais vontade do que jeito para mostrar serviço. A sua inoperância é mais visível na manobra ofensiva: nem dribla nem cruza.

Diomande (7) - Patrão da defesa. Impõe-se no jogo aéreo e na antecipação, cortando linhas de passe. Com tanta maturidade táctica nem parece ter apenas 21 anos.

Gonçalo Inácio (6) - Regressado de lesão sem ter sequelas aparentes, compõe eficaz duo defensivo com Diomande. Falta-lhe recuperar a veia goleadora.

Maxi Araújo (5) - Muito voluntarioso e participativo no corredor esquerdo, teve exibição oscilante. Precisa de aprender a libertar mais cedo a bola para ser útil.

Trincão (8) - Golaço aos 45'+1: foi ele a romper a muralha. Repetindo o que fizera no quarto golo ao Vitória. Este valeu-nos três pontos. Melhor em campo.

Morten (8) - O rei dos desarmes e das recuperações: assim foi aos 6', 17', 22', 45'+3 e 51'. Infatigável, parece estar sempre em todo o lado. Imprescindível.

Morita (6). Forte na pressão e no ataque às segundas bolas. Eficaz a arrastar marcações. Saiu aos 68', com queixas musculares. Outra lesão à vista.

Quenda (6) - Um dos criativos do onze leonino, desta vez não conseguiu ser abre-latas. Mas foi tentando. Falta-lhe melhorar no capítulo da definição.

Daniel Bragança (5). Começou como segundo avançado, logo atrás de Gyökeres, mas desta vez com pouca influência. Saiu à hora de jogo.

Gyökeres (7) - Assistiu no golo de Trincão. Quase marcou num remate cruzado (45'+3). Saiu apenas aos 89': quase não chegou a ser poupado.

Geny (6) - Substituiu Daniel Bragança aos 60'. Mais acutilante do que o colega, foi ele a construir o segundo golo: João Simões agradeceu.

Debast (4) - Substituiu Morita aos 68'. Exibição modesta. É duvidoso que seja mais útil à equipa como médio-centro improvisado. 

João Simões (6) - Jogo de sonho para ele: entrou aos 89', rendendo Trincão, marcou logo no minuto seguinte. Estreia como goleador na equipa A. 

Harder (-) - Entrou para o lugar de Gyökeres aos 89'. Sem tempo nem oportunidade para demonstrar nada.

Matheus Reis (-) - Substituiu Maxi Araújo aos 89'. Mal se deu por ele em campo.

Equipa com rija têmpera transmontana

Rio Ave, 0 - Sporting, 3

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Harder e Morten celebram vitória contra o Rio Ave, que não perdia em casa há 15 meses

Foto: Emanuel Fernando Araújo / EPA

 

As notícias sobre a crise de resultados no Sporting e o estado anímico dos nossos jogadores eram francamente exageradas. É verdade que houve um período para esquecer: 44 dias sobre o (des)comando do impreparado João Pereira, agora justamente devolvido ao lugar de origem: a equipa B. Perdemos oito pontos nesse interregno de má memória. Mas a liderança só deixou de ser nossa numa fugaz semana, coincidindo com o Natal. 

Com Rui Borges, tudo voltou aos trilhos. Retomámos o comando, isolados. Levamos três pontos de avanço sobre o Benfica e quatro sobre o FC Porto, equipas que já vencemos em Alvalade. E mantemos incólume o sonho do bicampeonato que nos foge há 74 anos. 

É verdade que a preocupante vaga de lesões vai prosseguindo. O mais recente jogador forçado a parar com queixas musculares é Eduardo Quaresma, que desta vez nem figurou na lista de convocados para o desafio de Vila do Conde. Mas o treinador mantém-se imperturbável, dizendo-se sempre «mais focado na solução» do que no problema.

Muitos adeptos sportinguistas, sempre com os nervos em franja, deviam aprender com ele.

 

Anteontem exibimos classe no Estádio dos Arcos. Perante um adversário que costuma fazer a vida muito difícil a todas as equipas visitantes. Basta saber que não perdiam ali há 15 meses: 20 jogos consecutivos sempre invictos. No campeonato anterior, o Sporting arrancou lá um empate com muita dificuldade: 3-3.

Afinal foi um dos nossos jogos mais fáceis. Dominámos de tal maneira, com pressão intensa desde a saída da baliza adversária e sobre o portador da bola, que os rioavistas não tiveram uma só oportunidade de golo. Mais: não fizeram sequer um remate.

Entre os postes, do nosso lado, estreava-se o guarda-redes internacional Rui Silva, recém-contratado ao Bétis. Mostrou saber jogar com os pés e exibiu segurança, mas não chegou a ser posto à prova.

Esta não foi a única novidade que o treinador introduziu no onze. Retirou Gyökeres, remetido ao banco como precaução contra a fadiga muscular. Trocou St. Juste pelo regressado Gonçalo Inácio, recuperado após um mês de paragem: canhoto, é ele o titular natural como central do lado esquerdo. E experimentou Debast como médio interior, em inédita parceria com Morten. Resultou.

 

A história do jogo acaba por ser a história dos golos. Dos que entraram e dos que só foram evitados devido a uma exibição do outro mundo do guardião do Rio Ave, o polaco Miszta. Foi ele a travar um duelo intenso com vários dos nossos jogadores, vencendo-os quase todos. Que o diga Harder, sempre inconformado: tentou, tentou, tentou, mas não conseguiu metê-la lá dentro. Aos 10', 39', 58', 67' e 69'. Tal como Trincão num pontapé de ressaca, aos 70'. E Morten por duas vezes, aos 11' e aos 60'.

No entanto, o improvável herói do jogo não foi capaz de impedir que ela trepassasse três vezes a baliza à sua guarda. 

A primeira, traído por autogolo do seu colega de equipa Anderllan Santos. Aconteceu logo aos 3', dando o mote para o que seria a partida. Outro central, o argentino Petrasso, cometeu penálti em lance de insistência de Harder. O vídeo-árbitro Vasco Santos alertou, o árbitro Luís Godinho validou. Chamado a converter, Morten não vacilou: aos 23' vencíamos 2-0. E assim chegámos ao intervalo.

 

No recomeço, ao contrário do que sucedeu em Guimarães, a equipa não abrandou o ritmo, não afrouxou o passo, não concedeu iniciativa ao adversário. Continuou a jogar em posse, vencendo sucessivos duelos individuais, procurando sempre o caminho mais curto para a baliza rioavista. Com notável acerto dos corredores laterais - sobretudo o esquerdo, confiado a Maxi Araújo e Quenda. O extremo-esquerdo, com apenas 17 anos, espalhou magia no relvado. Foi, claramente, o melhor dos nossos. No drible, no passe, na mudança de velocidade, no espírito de grupo que tão bem personifica. Só lhe faltou o golo, que quase aconteceu aos 38', num remate cruzado: a bola embateu no ferro.

Rui Borges fez algumas mudanças, todas resultaram. Debast, já fatigado, deu lugar a João Simões aos 68'. O reaparecido Daniel Bragança substituiu Geny aos 81' e, em simultâneo, saía Harder para entrar Gyökeres.

Nem de propósito. Num rápido e acutilante lance ofensivo, Daniel assistiu e Viktor marcou, fixando o resultado aos 88'. Nem assim o sueco se conformou: aos 90'+2 ainda levou a bola a embater no poste.

 

Não há melhor tónico do que a vitória.

E nada melhor para isso do que jogar bem, sem complicar, à imagem e semelhança do nosso técnico, um dos mais tranquilos treinador da Liga portuguesa. Alguém que não se queixa - nem das arbitragens, nem das lesões, nem da chuva ou do vento.

Rija têmpera de transmontano que contagia a equipa. Nem parece a mesma que perdeu contra Santa Clara e Moreirense no tal interregno que nenhum de nós quer recordar.

 

Breve análise dos jogadores:

Rui Silva (5) - Estreia tranquila. A tal ponto que nem chegou a fazer uma defesa. Mas demonstrou segurança e bom jogo de pés, atributos que nos faziam falta entre os postes.

Fresneda (6) - Parece ter agarrado o lugar na lateral direita após duas contratações falhadas para o mesmo posto. Foi numa jogada de insistência dele que nasceu o primeiro golo.

Diomande (7) - Baluarte da nossa muralha defensiva. Cada vez mais acutilante também nos passes longos, bem colocados. Impõe o físico nos duelos individuais.

Gonçalo Inácio (7) - Voltou de lesão e desfez qualquer dúvida: será ele o titular como central à esquerda. Dos pés dele a bola saiu quase sempre bem direccionada, queimando linhas.

Maxi Araújo (7) - Domínio absoluto no nosso corredor esquerdo defensivo. Articulação perfeita com Quenda do meio-campo para a frente. Notável lance individual na grande área aos 52'.

Geny (5) - É um dos tecnicistas do plantel. Mas abusa do individualismo, mesmo quando tem colegas mais bem posicionados. Falha recorrente nele que voltou a demonstrar nesta partida.

Debast (7) - Inesperado joker no baralho do treinador: o central belga tornou-se influente médio-centro. Acorreu às dobras na esquerda e municiou a linha avançada com passes bem medidos.

Morten (8) - Chamado a converter o penálti aos 23', não vacilou: o 2-0 foi dele. Muito activo nas manobras de pressão, viu o guarda-redes impedir-lhe dois golos (11' e 60'). Eficaz nos desarmes.

Quenda (8) - Só lhe faltou o golo, que quase concretizou ao levar a bola ao ferro (38'), para ter exibição perfeita. Intervém no lance do primeiro. Serviu Harder três vezes. O melhor Leão.

Trincão (5) - Trabalhou bem para a equipa, mas dele exige-se um suplemento de criatividade. Só deu nas vistas num remate de ressaca aos 70', que acabou travado pelo guardião Miszta.

Harder (5) - Esforçou-se muito, mas foi vítima do excesso de ansiedade. A vontade de marcar era enorme, nesta sua estreia como ponta-de-lança titular na Liga. Sacou o penálti aos 29'.

João Simões (5) - Substituiu Debast aos 68'. Seguro, certinho, não se esquiva ao choque e ousa até algumas acções ofensivas. Vai ganhando maturidade.

Gyökeres (7) - Saltou do banco aos 81, rendendo Harder. Aos 88', marcava o terceiro, fechando a conta. Ainda viu Miszta negar-lhe o golo aos 90'+2 ao desviar para o poste esquerdo.

Daniel Bragança (6). Em boa hora regressou de lesão. Rendeu Geny aos 81'. Aos 88' assistiu Gyökeres no golo, confirmando a sua inteligência táctica e a sua arguta visão de jogo.

Esgaio (-). Substituiu Trincão aos 89'. Só o jornal Record lhe atribui nota: bastou-lhe tocar uma vez na bola para justificar 1 deste jornal, que pelos vistos não receia cair no ridículo.

Houve de tudo, da euforia ao desespero

V. Guimarães, 4 - Sporting, 4

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Viktor marcou mais três: já tem 21 na Liga e 30 no conjunto da temporada que ainda vai a meio

Foto: Hogo Delgado / Lusa

 

Este desafio em Guimarães pode ser adjectivado das mais diversas maneiras. Para alguns, foi um excelente jogo. Para outros, foi péssimo. Ou assombroso. Ou um hino ao futebol de ataque. Ou calamitoso. Ou o naufrágio dos sistemas defensivos.

Ou surpreendente. 

Depende dos pontos de vista. Para os adeptos de ambos os clubes, foi uma montanha-russa de emoções em cerca de cem minutos disputados no relvado do Estádio D. Afonso Henriques. Passou-se da euforia ao desespero, ou vice-versa. No fim, prevaleceu o equilíbrio. Não há justiça em futebol. Mas, se quisermos ver as coisas por esse prima, talvez o inédito 4-4 registado ao soar o apito final tenha sido o desfecho mais justo.

Surpreendente foi, de certeza. Nunca a equipa vitoriana nos tinha marcado quatro golos para o campeonato naconal, nunca tínhamos vindo de lá com quatro encaixados  - três dos quais num péssimo quarto de hora para as nossas cores, entre os minutos 70 e 85. Valeu-nos Trincão ao marcar o golo da noite de anteontem - autêntica obra de arte destinada a correr mundo - precisamente no último suspiro.

Quantas vezes perdemos um jogo com um golo sofrido no instante final? Desta vez empatámos. Trouxemos um ponto de lá, do mal o menos.

 

E no entanto dificilmente poderíamos ter começado melhor. Com Viktor Gyökeres a pôr termo ao breve jejum de golos, que só durou dois jogos: ainda não se havia concluído o segundo minuto, já ele a estava a meter no sítio certo. Correspondendo da melhor maneira a um passe bem medido de Quenda, desta vez a funcionar como médio-ala esquerdo.

O craque sueco repetiu a dose aos 14'. Rápido lance de ataque, novamente pelo corredor esquerdo, com Morita a lançar Quenda e de novo o jovem nascido há 17 anos em Bissau a fazer um passe letal para o bis de Viktor.

Anunciava-se goleada em Guimarães.

Pelo meio, aos 7', marcaram eles. Livre directo muito bem cobrado por Tiago Silva, ainda a considerável distância da nossa baliza. Israel esteve duas vezes mal na fotografia. Compôs mal a barreira, ordenando que só lá estivessem três colegas, e partiu tarde para a bola, que nem levava excessiva força: bastaria um passo à direita para tê-la travado. Mas teria de ser no momento certo, o que não aconteceu.

 

Assim atingimos o intervalo: 1-2. Controlávamos a partida, consolidava-se a ideia de que viríamos com três pontos. E mais forte se tornou esta convicção assim que marcámos o terceiro, no minuto 57, coroando a mais bela jogada colectiva do desafio. Desta vez iniciada à direita, por Geny, e em que intervieram também Trincão e Quaresma, depois Maxi Araújo a partir da esquerda com cruzamento a sobrevoar a área, Morita a elevar-se muito bem e Gyökeres a dizer.-lhe «arigato» enquanto a encaminhava para as redes, rasteirinha. 

A partir daí, deram-se dois factos simultâneos: vários dos nossos começaram a rebentar fisicamente e recuámos 30 metros, concedendo iniciativa aos de Guimarães. Rui Borges, neste regresso a um estádio onde já foi feliz, trocara Quenda por Maxi aos 55', mas já outros imploravam substituição. Morita, por exemplo, esteve 20 minutos a mais em campo.

Quase de rajada, sofremos três.

70': Matheus Reis foi batido em corrida por Arcanjo. Este cruzou à vontade para Kaio César, que disparou o tiro frente à baliza, livre de marcação.

82': João Mendes igualmente solto na área marcou um golaço. Morten ainda tentou travá-lo, sem conseguir.

85': O recém-entrado Dieu-Merci, terceiro ou quarto na hierarquia dos avançados vitorianos, deixou Matheus nas covas e disparou quase à queima-roupa, com Israel paralisado: o guardião uruguaio não tentou sequer cortar-lhe o ângulo de remate.

 

Foi a tal montanha-russa de emoções. Passámos da alegria à frustração, quase ao desespero. Valeu-nos os 6 minutos extra concedidos por João Gonçalves - excelente arbitragem - e a arte de Francisco Trincão, neste seu sexto golo marcado na Liga 2024/2025. Golo útil, que parecia caído do céu.

Não é a mesma coisa perder ou empatar. Há um ano, perdemos no mesmo estádio - com arbitragem delituosa do famigerado João Pinheiro. Desta vez trouxemos um pontito que pode dar muito jeito para as contas finais. Com o Benfica a naufragar (esse sim) na Luz, perante o Braga, e o Porto envolto em nevoeiro na Choupana, continuamos no comando da Liga agora que caiu o pano da primeira volta.

Onze dias após ter partido de Guimarães - onde agora lhe chamam "fugitivo" e "traidor" - Rui Borges recebeu insultos num estádio com mais de 26 mil espectadores. Já esquecidos, quase todos, da forma competente como ele montou e orientou a equipa: os quatro golos ao Sporting são a melhor prova disso. A excelente carreira internacional do Vitória, com dez triunfos na Liga da Conferência, é outra - entretanto diluída na amnésia colectiva das bancadas.

Esta é a outra face da festa do futebol: a do fanatismo, a do extremismo, a do sectarismo à solta. Uma face que de festivo não tem nada. 

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (3) - Culpa em dois golos sofridos. No primeiro orientou mal a barreira e fez-se tarde ao lance. No segundo ficou paralisado, mostrando-se incapaz de fazer a mancha.

Eduardo Quaresma (5) - Tem atitude, o que lhe fica bem: rompeu duas vezes linhas levando a bola para diante, como um extremo. Mas fez passes precipitados, fruto do nervosismo.

Diomande (4) - Nem parecia o mesmo que defrontou o Benfica. Entregou a bola aos 6', forçando Quaresma à falta: deu golo. Deixou fugir Gustavo em zona perigosa (13'). Voltou a entregar (52').

St. Juste (5) - Pareceu desconfortável na nova parceria com Diomande como central. Foi cortando e aliviando como podia, na torrente vitoriana da segunda parte. 

Matheus Reis (3) - Arcanjo disse-lhe adeus e galopou pelo nosso corredor esquerdo, aos 70': nasceu daí o segundo deles.  No quarto, aos 85', limitou-se a marcar Dieu-Merci com os olhos.

Morten (4) - Contribuiu, com a sua apatia, para dois golos vitorianos: no segundo permitiu que Kaio se movimentasse à vontade; no terceiro falhou cobertura a Mendes no centro da área.

Morita (6) - Foi um dos melhores enquanto teve pilhas. Lança Quenda em corrida no segundo golo e assiste Gyökeres de cabeça, dentro da área, no terceiro. Acudiu à defesa. Depois quebrou.

Geny (5) - Demasiado discreto após ter sido o melhor contra o Benfica. Disparou tiro aos 5': Varela defendeu. Foi fechando a ala direita, tentando articular com Quaresma, mas sem brilho.

Quenda (6) - Dois passes para golo no quarto de hora inicial. No segundo, também recupera a bola antes de a passar a Viktor. Foi perdendo duelos com Alberto junto à linha esquerda até sair.

Trincão (7) - A nota justifica-se pelo belíssimo golo que marcou aos 90'+5. Remate em arco, indefensável, que nos valeu um ponto. Já tinha sido ele a recuperar bola no lance do terceiro.

Gyökeres (9) - Que mais dizer? Há que tirar-lhe o chapéu: melhor em campo, mais três golos. Até hoje marcou 73 em 77 jogos de leão ao peito. Ainda está entre nós e já se tornou lenda.

Maxi (5) - Substituiu Quenda (55'). Esteve no melhor ao cruzar para o nosso quarto golo. Também esteve no pior: incapaz de fechar a ala esquerda, deixou Matheus ainda mais desamparado.

João Simões (5) - Substituiu Geny aos 79'. Destacou-se no minuto final com um passe longo, a queimar linhas, no lance de que resultaria o golo do empate.

Fresneda (3) - Rendeu Quaresma (86'). Nada fez para melhorar a equipa. Nervoso e quezilento, viu o amarelo aos 90'+3, fazendo-nos perder tempo precioso quando perdíamos 4-3.

Harder (4) - Substituiu um exausto Morita aos 86'. Tentou responder de cabeça ao centro de Maxi, no decisivo lance final, mas apenas conseguiu roçar a bola. Felizmente Trincão estava lá.

Sem complexos, sem receio: Leão é assim

Sporting, 1 - Benfica, 0

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Geny fez a diferença ao marcar o golo. Garantiu três pontos e o regresso do SCP ao comando

Foto: Lusa

 

Foi uma das melhores primeiras partes do Sporting nesta época que vai quase a meio. Foi também a primeira com o novo treinador no banco: Rui Borges.

Alguém acredita em coincidências?

Pois eu também não. A nossa equipa, que vinha definhando e protagonizando pálidas exibições nas semanas precedentes, ressurgiu no momento certo, contra o adversário mais difícil. Dando a resposta mais adequada.

O Benfica, fruto da nossa pressão constante, fez a pior primeira metade da temporada a nível nacional. E sofreu a primeira derrota em 2024/2025 sob o comando de Bruno Lage para o campeonato.

Foi a Alvalade e naufragou. Chegou lá pouco depois de ter assumido o comando da prova, saiu de lá em terceiro.

"É a vida" - dirão alguns, crentes nos insondáveis caprichos do destino. É a competência - digo eu.

 

Este Sporting que entrou em campo no domingo à noite, 29 de Dezembro, era-nos familiar. Mas, ao mesmo tempo, pareceu irreconhecível. Por vários motivos.

Desde logo por se ter apresentado em campo com uma linha defensiva formada por quatro jogadores: Diomande e St. Juste ao meio, Quaresma à direita, Matheus à esquerda. Depois, por ter dois alas que funcionaram como extremos: Geny à direita, Quenda à esquerda. Finalmente, terá sido o onze leonino com menos canhotos dos últimos quatro anos. Contei quatro: Matheus, Geny, Quenda e Trincão. 

Dir-se-á: foi mudança subtil. Mas demonstra como Rui Borges, com apenas três dias de treino, não hesitou em imprimir a sua marca neste Sporting que continua a sonhar com o bicampeonato. Os quatro jogos sob a batuta de João Pereira, com oito pontos perdidos, foram fugaz percalço neste percurso.

 

Nunca tinha visto um SLB tão frágil este ano, a nível interno.

Durante toda a primeira parte, a turma visitante esteve sufocada pela intensa pressão dos nossos jogadores. Pelos flancos e pelo corredor central, onde Morita várias vezes actuou como quinto elemento na manobra ofensiva, forçando o erro dos encarnados, que mal saíam dos primeiros 30 metros.

Num destes lances colectivos nasceu o golo do triunfo que nos valeu três pontos e o regresso à liderança do campeonato.  Lançamento lateral, à esquerda: Quenda dirige a bola para Gyökeres, que conquista o espaço a Tomás Araújo, deixa o central encarnado para trás e leva a bola a percorrer em largura quase todo o reduto benfiquista com Geny, vindo de trás, a  metê-la lá dentro. Perante um Carreras atónito com tanta eficiência leonina.

 

Este foi o momento do jogo. Também o momento que definiu o herói da partida: Geny, que já no campeonato anterior havia bisado frente ao Benfica, aliás com um golo muito semelhante a este, mas com Pedro Gonçalves no papel de Gyökeres.

Assim culminou o virar de página: Rui Borges mostrou ser possível fazer muito com o que há. Sem culpar lesões, postes ou arbitragens. 

Nesse primeiro tempo o Sporting esteve sempre por cima. E aproximou-se pelo menos duas vezes do 2-0. Por Quenda, aos 17'. E por Gyökeres, aos 40'. Nenhum deles falhou. Quem brilhou foi Trubin, com duas espectaculares defesas entre os postes. O guardião ucraniano foi, de longe, o melhor elemento benfiquista.

Os números confirmam: nos 45 minutos iniciais roubámos cinco vezes a bola ao adversário nos primeiros 30 metros a contar da baliza encarnada. Nada de semelhante se passou na situação inversa. Nem andou lá perto.

 

Na segunda parte houve mais equilíbrio. O Sporting atenuou a pressão: não havia condições para manter aquele ritmo tão intenso. A quebra física de Morita por volta da hora de jogo, primeiro, e do excelente Eduardo Quaresma, cerca de dez minutos depois, ditaram novo rumo à partida. Mas a nossa equipa jamais se desorganizou nem recuou linhas sem manter o controlo das operações. Consentindo o domínio ao rival sem nunca se desconcentrar.

É verdade que neste período o Benfica teve uma grande oportunidade de golo, por Amdouni. Mas só essa. No quarto de hora final, já com eles cansados, tivemos duas. Num ataque fulminante de Geny, aos 85', e num tiro de Gyökeres, aos 88'.

Mais importante ainda: com o novo sistema posto em prática no Sporting, Rui Borges surpreendeu Bruno Lage e vulgarizou os desequilibradores da equipa rival. Os números comprovam: Di María perdeu 22 vezes a bola, Akturkoglu ficou sem ela 16 vezes.

 

Em suma: acabamos de derrotar o Benfica pela terceira vez consecutiva, em duas provas, o que não sucedia desde 1994-1996. Recuperámos a liderança da Liga que só nos fugiu durante cinco dias, naquele interregno que não passou de um equívoco. 

Mantemos os mesmos 40 pontos que tínhamos na Liga 2023/2024. Mas agora com mais golos marcados (44, contra 37 há um ano) e menos golos sofridos (apenas 10, contra 17 na mesma fase do campeonato anterior).

Melhor que tudo: os jogadores adaptaram-se muito bem ao novo sistema táctico que Rui Borges trouxe para Alvalade. Sem complexos, sem receio, sem pedir licença a ninguém.

Leão é mesmo assim.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (7) - Cumpriu: duas grandes defesas, aos 26' e aos 56'. Teve muito menos trabalho do que Trubin.

Eduardo Quaresma (7) - Adaptou-se bem a lateral: sete desarmes, 91% de passes certos. Notável a sair, conduzindo a bola. Saiu exausto, aos 71'.

Diomande (8) - Comandante-em-chefe da defesa leonina: desempenho impecável. Aos 67, num movimento veloz, anulou incursão de Di María: comemorou como um golo.

St. Juste (7) - Formou súbita parceria com o jovem marfinense. Combinaram muito bem no centro da defesa. Veloz nas dobras, como se impunha.

Matheus Reis (7) - Tinha como missão anular a dinâmica ofensiva de Di María no corredor direito encarnado. Missão bem-sucedida, forçando o argentino a procurar outras paragens.

Geny (8) - Voltou a fazer a diferença, como na época anterior contra o SLB e já nesta Liga contra o FCP. Marcou o golo decisivo (29'). Encostou Carreras às cordas. Rende mais neste sistema.

Morten (8) - Um gigante: parece sentir prazer especial em jogos grandes. Impôs-se a Florentino, venceu o duelo no meio-campo, distribuiu em várias direcções. Nove recuperações são dele.

Morita (7) - Regressou ao onze, após lesão, como joker de Rui Borges. Excelente primeira parte, a ligar sectores com notável precisão de passe. Compreensível quebra física no segundo tempo.

Quenda (7) - Na posição em que menos rende, à esquerda, foi essencial na pré-assistência (lançamento lateral) para o golo. Anulou Bah. O mais jovem leão de sempre a jogar contra SLB.

Trincão (6) - Em dia de aniversário, actuou próximo de Gyökeres como interior direito, ajudando a baralhar marcações. Não marcou nem deu a marcar, mas pôs Otamendi em sentido.

Gyökeres (7) - Combativo, voltou a atacar a profundidade, como tanto gosta. Num desses lances, fez o excelente passe para o golo. Mais um. Venceu por completo o duelo com Tomás Araújo.

Maxi Araújo (5) - Entrou aos 71' para render Quenda. Sem mostrar mais atributos técnicos e tácticos do que o benjamim da equipa. 

João Simões (5) - Substituiu Morita aos 71'. Cumpriu no essencial, sem rasgo, numa altura em que se impunha sobretudo contenção ofensiva e retenção de bola.

Fresneda (4) - Saltou do banco para render Quaresma (71'). Lateral de origem, não potenciou este atributo. Ganhou um duelo mas perdeu três. Não parece ter qualidade para este plantel.

Harder (4) - Substituiu Trincão aos 81'. Não foi feliz nestes escassos minutos em que pôde disputar o clássico. Falhou um cruzamento aos 86'.

Caiu o pano sobre a fugaz era João Pereira

Gil Vicente, 0 - Sporting, 0

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Gyökeres tentou sem conseguir: ficou em branco contra equipa de Barcelos. A culpa não foi dele

Foto: Manuel Fernando Araújo / EPA

 

Este foi o jogo que apressou a inevitável queda de João Pereira, que vários de nós antecipámos aqui com a devida antecedência. Quase todos reconhecem agora que o ex-técnico da nossa equipa B - sem um minuto de experiência anterior no plantel principal nem habilitação para o efeito - nunca devia ter sido apresentado nos moldes em que o foi pelo presidente do Sporting. Nem estava qualificado para o efeito, nem tinha sido preparado para isso, nem revelou qualquer atributo que o recomendasse para o cargo. 

João Pereira, logo na primeira declaração à imprensa, aludiu a «erro de casting», numa declaração que poucos entenderam. Estaria, no fundo, a falar de si próprio. 

Como os números tornam evidente. Em oito desafios sob a sua orientação, a equipa principal do Sporting só conseguiu ganhar dois ao fim dos 90 minutos: goleada ao Amarante, equipa da terceira divisão composta por jogadores não-profissionais, e triunfo tangencial e muito esforçado em Alvalade ao débil Boavista que parece condenado à descida de divisão.

Nenhuma vitória fora de casa. 

 

Alguns adeptos - cada vez menos - pareciam continuar a apostar nele, com fé cega nesta opção errada de Frederico Varandas. Mas nem árbitros, nem postes, nem infortúnio, nem jornalistas ou comentadores e muito menos a "pesada herança" de Amorim podem explicar a pobreza técnica, táctica, física e anímica da equipa principal do Sporting neste mini-ciclo que não deixa a menor saudade. 

Impunha-se virar a página. E ela foi virada, creio que ainda a tempo. Mas só após oito pontos perdidos para o campeonato nacional, seis outros a voar para a Liga dos Campeões e a liderança da Liga 2024/2025 para já entregue ao Benfica, reeditando o pesadelo de Natais passados. 

 

Todas as deficiências deste Sporting da brevíssima era João Pereira foram manifestas na nossa deslocação a Barcelos domingo passado, dia 22.

Incapacidade de criar dinâmicas, de ligar sectores, de jogar sem bola. Um central em má condição física, Eduardo Quaresma, escolhido para o onze inicial - e substituído ao intervalo por impossibilidade de continuar em campo. Um miúdo da B, Mauro Couto, passando à frente do inexperiente Edwards quando era necessário um criativo que desatasse o nó ainda com 12 minutos para jogar. Outro miúdo, João Simões, mantendo-se colado a Morten sem missão para romper linhas. Gyökeres perdido lá na frente, sendo quase só solicitado para jogo de cabeça, precisamente a menor das suas virtudes como atacante.

O onze leonino voltou a mostrar-se apático, triste, sem rasgo nem chama. Espelho afinal daquela alegada equipa técnica que se sentava no banco.

 

Chegou-se ao intervalo em branco: nenhuma verdadeira oportunidade de golo. Apesar do constante incentivo dos adeptos, presentes em grande número entre os cerca de 9 mil espectadores no estádio gilista.

Depois do intervalo, a equipa mostrou-se mais veloz. Mas a defesa adversária levou sempre a melhor. Aos 67', o guarda-redes Andrew voou para impedir o golo de cabeça de Harder, a passe de Trincão. Aos 81', o brasileiro voltou a brilhar esticando-se para desviar in extremis a bola tocada por Trincão que levava selo de golo.

Foi pouco, muito pouco.

 

Caiu o pano. Sobre um jogo de que não rezará a história. Foi apenas o quarto empate a zero do Sporting nas últimas 229 partidas - bem diferente da nossa goleada por 4-0, no mesmo estádio, há apenas oito meses, já na recta final do campeonato anterior.

Segundo jogo em branco, após a derrota em casa (0-1) frente ao Santa Clara.

Três jogos seguidos sem vencer fora de Alvalade - registo inédito nesta temporada. 

Média de pontos acumulados nas últimas quatro partidas da Liga 2024/2025: apenas um. Doze em disputa, só quatro amealhados. 

Pior: vemos o Benfica ultrapassar-nos no comando e assumir a liderança isolado. Algo que não acontecia desde 27 de Maio de 2023, 49 jornadas atrás, quando os encarnados eram orientados pelo alemão Roger Schmidt.

Caiu o pano também para o breve consulado João Pereira. Um equívoco de Varandas que nunca devia ter acontecido.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (6) - Cumpriu, quase sem ser importunado. Bons reflexos aos 90'+4, a tiro de Félix Correia.

Eduardo Quaresma (3) - Missão de sacrifício pelo segundo jogo consecutivo. Saiu ao intervalo, com queixas físicas. Nem devia ter calçado.

Diomande (6) - Regressou ao onze titular, como se impunha. Domínio do jogo aéreo. Ganhou quase todos os duelos.

Debast (6) - Cortes eficazes as 17' e 44'. Qualidade evidente nos passes à distância. Serviu bem Gyökeres (18'), Araújo (36) e Geny (70').

Quenda (5) - Voltou à posição de ala direito. Excelente variação de flanco servindo Araújo, aos 10'. Menos bem em missões defensivas. 

Morten (7) - Esteio no meo-campo, destacando-se em oito recuperações. Foi ele a orientar também as posições de alguns colegas. Controlou espaço, O melhor dos nossos.

João Simões (5) - Esforçado, mas insuficiente. Perdeu demasiadas vezes a bola. Abusa dos passes laterais. Tem muito a aprender com Morten.

Maxi Araújo (4) - Talvez funcione como extremo, não serve como ala. Acumulou más decisões. Chegou a escorregar quando transportava a bola. Tarda em impor-se.

Trincão (7) - Não está "morto", como disse Varandas. Apesar dos 2226' já jogados. Passe-assistência para Harder (67') e quase marcou ele próprio (81'). Fez Andrew brilhar.

Harder (5) - Quase marcou de cabeça, mas o guardião gilista não deixou. Pareceu peixe fora de água como interior esquerdo: não é Pedro Gonçalves quem quer.

Gyökeres (5) - Muito condicionado pelo médio Gbane, que tinha a missão de o vigiar. Foi contra ele que cabeceou aos 10'. Sem oportunidades flagrantes.

Matheus Reis (5) - Substituiu Eduardo Quaresma após o intervalo. Com maior capacidade de transporte.

Geny (6) - Rendeu Quenda aos 66'. Remate a rasar o poste (70'). Desequilibrou na ala direita, talvez devesse ter entrado mais cedo. 

Mauro Couto (4) - Entrou aos 87', rendendo Araújo. Esquerdino à direita, com Edwards no banco, atrapalhou-se com a bola aos 90'+2 quando pretendia rematar. Nada acrescentou.

Muita tremideira contra a equipa mais fraca

Sporting, 3 - Boavista, 2

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Trincão ouviu merecidos aplausos em Alvalade: ao bisar, garantiu três pontos ao Sporting

Foto: José Sena Goulão / Lusa

 

Este Boavista que nos visitou há três dias nem devia estar a competir no campeonato nacional. Clube falido, penhorado, proibido de fazer contratações, quase só pode recorrer a miúdos da formação. É a equipa mais fraca da Liga.

Mesmo assim fez tremer o Sporting. Em nossa casa. Ao intervalo, havia empate: 1-1.

Tal como a alegada equipa técnica, sempre a tremer no banco. De olhos tristes a contemplar a pantalha. À espera que os minutos se escoassem e a vantagem que tivemos duas vezes e duas vezes desperdiçámos aguentasse até ao apito final. E aguentou. Mas com imensos calafrios no relvado e enorme intranquilidade na bancada, onde se sentavam 34 mil adeptos.

A partida terminou com o Boavista a pressionar mais para chegar ao 3-3 do que o Sporting para ampliar a magra vantagem. 

Enquanto João Pereira, sentado no banco por imperativo regulamentar, mantinha o olhar temeroso que já lhe conhecemos. Mesmo podendo respirar fundo por ter evitado sofrer a quinta derrota consecutiva - algo jamais ocorrido na história do nosso clube.

 

A turma axadrezada foi a Alvalade fazer os seus dois primeiros golos de bola corrida da temporada. Perante uma defesa de papel onde Debast teve actuação calamitosa e o tenrinho Israel mais parecia o Zé Frango.

Passividade total do reduto recuado. Que nas mais recentes três jornadas da Liga sofreu cinco golos - tantos como nas onze rondas iniciais, sob o comando de Ruben Amorim.

No primeiro, dois boavisteiros resolveram tudo sem qualquer pressão nossa. Matheus Reis abriu a porta e fez vénia à esquerda; Debast marcava com os olhos, ficando nas covas.

No segundo, falha colectiva: o Sporting parecia turma dos campeonatos distritais. Geny falhou a abordagem junto à linha direita, Quaresma mediu mal o tempo de intervenção, Debast manteve-se incapaz de controlar o espaço. O pior foi Israel. Inseguro, recebeu o remate de Bruno, colocado mas não muito forte, com a bola encaminhada na sua direcção: estendeu as mãos, mas deixou-a escapar, saltitando para o fundo das redes.

Candidato a Frango do Mês. Por demérito próprio.

 

Felizmente os nossos avançados estiveram em melhor nível.

Geny pressionando pela direita, forçando os duelos individuais que foi ganhando. Maxi Araújo objectivo nas suas intervenções pelo flanco esquerdo. Procuraram ambos servir Gyökeres, mas o sueco só acertou uma vez, aproveitando brinde defensivo do Boavista. Falhou três golos cantados, algo absolutamente anormal nele.

Melhor esteve Trincão, que não fazia o gosto ao pé desde Setembro. Marcou não um, mas dois. E desatou o nó. Oportuno no primeiro, virtuoso no segundo. Sem ele, a vitória teria sido empate.

 

Dizem que João Pereira estava a ser "trabalhado" desde o final da época passada para suceder a Amorim.

Mas que "trabalho" é este se o técnico se tem revelado um zero em comunicação, garantiu ser incapaz de «replicar» o antecessor (algo que facilmente se confirma em campo) e repôs a famigerada cultura da derrota no SCP com a frase-chave «temos de levantar a cabeça»?

Sinto que nos venderam gato por lebre.

E continuo sem compreender como é que um técnico da terceira divisão, sem nunca ter feito um minuto como treinador da Liga 1, foi convidado para substituir Amorim. Também inexplicável foi ele aceitar este encargo para o qual não estava preparado. Tinha obrigação de saber isto muito bem.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (3) - Mostrou-se sempre intranquilo. Péssima intervenção entre os postes, permitindo o segundo golo, perfeitamente defensável.

Eduardo Quaresma (5) - Missão de sacrifício após ter aberto o sobrolho no jogo anterior. Actuou condicionado, mas sem virar a cara à luta.

Debast (4) - Central ao meio, nada habitual. Chumbou no teste. Tem responsabilidade nos dois golos sofridos. Melhor com bola do que sem ela.

Matheus Reis (4) - Incapaz de travar Salvador Agra, que teve todo o tempo para cruzar, assistindo no primeiro do Boavista. Viu um amarelo disparatado aos 39'.

Geny (6) - Foi remando contra a maré com bons cruzamentos (5', 8', 17') a partir da direita, onde joga melhor. Falhou intercepção inicial no primeiro do Boavista.

Morten (6) - O mais pendular dos nossos jogadores. Combinou bem com João Simões. É uma das raras vozes de comando em campo.

João Simões (6) - No segundo jogo a titular, consolida imagem positiva. Serviu bem Gyökeres aos 31' e rematou ele próprio com perigo aos 33'. 

Maxi Araújo (6) - Melhor a atacar do que a defender. Momento alto: o soberbo passe para o golo inicial de Trincão. A sua primeira assistência no Sporting.

Trincão (7) - Melhor em campo. Marcou dois (49' e 66') e já tinha oferecido outro a Gyökeres (15'), infelizmente desperdiçado.

Quenda (6) - Voltou a ser interior esquerdo, posição que não lhe é familiar. Mesmo assim isolou muito bem Geny (16') e iniciou o terceiro golo.

Gyökeres (6) - Golo fácil, após oferta (23'). Assistiu no terceiro. Podia ter feito muito melhor aos 8', 15' e 31'. Quase marcou de livre aos 62'.

Harder (4) - Substituiu Geny aos 67'. Actuou bastante encostado à linha, onde acaba por ser desperdiçado. Não é ali que mais rende.

Diomande (5) - Substituiu Eduardo Quaresma aos 72'. Tentou transmitir serenidade à linha defensiva quando o jogo já estava partido.

Arreiol (-) - Entrou aos 80', substituindo João Simões. Duas recuperações: pouco mais fez.

Jornada 13 sem vestígio da tal "estrelinha"

Moreirense, 2 - Sporting, 1

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Como diria João Pereira, «é preciso levantar a cabeça». Nada fácil, com a equipa a afundar-se

Foto: Estela Silva / EPA

 

Há 21 anos que não perdíamos com o Moreirense. Havia recordes a bater - e este foi batido em Moreira de Cónegos há três dias. Na primeira derrota fora do Sporting em quase um ano: não sabíamos o que isso era desde um embate em Guimarães com o Vitória local, a 9 de Dezembro, com o árbitro João Pinheiro e o vídeo-árbitro Hugo Miguel a funcionarem como reforços da turma visitante.

Desta vez ninguém pode apontar o dedo ao árbitro: António Nobre, fiel ao seu critério largo, teve um comportamento irrepreensível. Sem atender a mergulhos teatralizados nem a fitas no relvado, tão à portuguesa. Aos 9' assinalou penálti favorável ao Sporting quando viu Gyökeres derrubado em local proibido pelo competente central Marcelo, que até já passou por Alvalade. Helder Malheiro, o VAR de turno, confirmou. O craque sueco tomou balanço - e meteu-a lá dentro. 

Caía o minuto 12, a equipa parecia embalada para o primeiro triunfo da nova "era João Pereira" após derrotas em casa contra Arsenal (1-5) e Santa Clara (0-1). Mas a falta de alegria e a ausência de dinâmica dos nossos jogadores eram tão flagrantes que nem chegou a pairar um leve sentimento de euforia no topo norte, onde se concentrava a maioria dos adeptos leoninos. Vários dos quais idos de Lisboa ao Minho só para verem este jogo.

A intuição deles - e a nossa, dos que acompanhámos o desafio pela televisão - estava certa. Bastaram sete minutos para o Moreirense empatar. Com o nosso ala esquerdo Matheus Reis muito subido, transformado em extremo (uma das inovações que o técnico recém-chegado da terceira divisão introduziu na dinâmica da equipa), Gonçalo Inácio foi surpreendido num contra-ataque rápido ao ir à dobra e teve de fazer falta.

Do livre nasceu o primeiro golo da equipa local, como recomendam os compêndios. Bola apontada com precisão para a área muito povoada e o defesa Dinis Pinto, com 1,78m, a saltar com inteira liberdade: Trincão, com 1,84m, devia marcá-lo mas esqueceu-se da tarefa, ficando de pés no chão. Cabeceamento tenso e bem direccionado para a nossa baliza, onde Vladan fez figura de manequim da Rua dos Fanqueiros. Outro golo encaixado pelo sérvio: a colecção vai aumentando.

 

Era o minuto 19, a partida voltava ao ponto inicial. Empatada. Sentado no banco, João Pereira limitava-se a bater palmas, em aparente incentivo aos jogadores. Mas a sua expressão facial angustiada contrariava a energia positiva que pretendia transmitir. 

Permaneciam os equívocos no fio de jogo leonino.

Preenchimento em excesso do corredor central. Alas transfigurados em extremos a despejar bolas para ninguém. Caudal ofensivo afunilado, facilitando a tarefa defensiva da turma visitada. Daniel Bragança tentando ser um novo Pedro Gonçalves, entalado na meia-esquerda ofensiva sem actuar de frente para a baliza, onde tantas vezes tem demonstrado qualidades de visão e distribuição de jogo. Gyökeres sem espaço para o rápido ataque à profundidade que já lhe valeu muitos golos. Passividade na reacção à perda de bola. Centrais batidos em velocidade por laterais que progrediam sem oposição.

Pior ainda: chocante desconcentração de jogadores que já demonstraram inegáveis atributos. Como Geny, que transformou um banalíssimo lançamento lateral em passe para golo, oferecendo o segundo ao Moreirense aos 35'. Schettine agradeceu: nem a deixou cair no chão e num fulminante remate à meia-volta encaminhou-a para o fundo das nossas redes. Vladan voltou a imitar um manequim. 

Começava a parecer jogo de matraquilhos. Felizmente o intervalo não tardou.

 

Retomada a partida, com 2-1 ao intervalo, impunham-se mudanças. Mas João Pereira deve ter hesitado - e ninguém da sua incipiente equipa técnica, toda oriunda da Liga 3, pareceu ajudá-lo em tão magna tarefa.

Esboçou-se tímida reacção ao resultado desfavorável. Mas o melhor que foi possível, nesta fase em que perseguíamos o pontinho do empate ainda com algum afinco, foi um cabeceamento de Morten ao travessão, na sequência de um canto, aos 53'. 

Cumpriu-se a hora de jogo, decorreram mais cinco minutos, e o técnico lá conseguiu desfazer as hesitações, operando duas mudanças. Quenda substituiu St. Juste e Maxi Araújo rendeu Daniel Bragança, que saiu lesionado. Vai parar pelo menos até ao fim do ano. Outro a juntar-se a Nuno Santos (não iremos contar com ele durante o resto da época), Pedro Gonçalves (não regressa antes de Janeiro) e Israel (há duas semanas com "síndrome gripal").

Abusaria da benevolência quem concluísse que o Sporting melhorou com as mexidas. Nada disso. Os equivocos persistiram, o Moreirense mostrou-se sempre mais compacto e organizado, a nossa equipa partiu-se na ânsia de cada jogador querer resolver o jogo como se os outros não contassem. Trincão, abusando de fintas e reviengas inconsequentes, era bem o espelho disso. Teve o golo à mercê, aos 51', mas a clarividência abandonou-o: acabou por chutar para onde não devia. À figura de Marcelo.

Novamente a impor-se o cenário de mesa de matraquilhos.

 

Gonçalo Inácio, imitando Morten no "excesso de pontaria", acertou também na trave, aos 81', após cobrança de um livre. 

Estava escrito que viríamos de Moreira com a segunda derrota seguida na Liga - terceiro desafio consecutivo a perder. Igualava-se algo que não testemunhávamos no Sporting desde três funestas semanas de transição, em Setembro de 2019, quando Leonel Pontes conseguiu ser técnico interino sem vencer um jogo.

Saimos derrotados, sim. Não apenas pela sólida equipa local, que já tinha imposto um empate em casa ao Benfica e eliminado ali mesmo o FC Porto da Taça de Portugal. Viemos de lá derrotados por nós próprios. Irreconhecíveis.

Seis pontos desperdiçados em duas jornadas. Já o mesmo número de derrotas encaixado, ainda nem a meio da prova, do que em todo o campeonato anterior. Na 13.ª ronda, com a tal "estrelinha" da sorte definitivamente sumida. Rumou a parte incerta.

No final, viam-se lenços brancos esvoaçando nas bancadas. Seriam mais úteis a enxugar lágrimas de raiva por vermos o tão ambicionado bicampeonato agora tão periclitante, neste Sporting A travestido de equipa B. 

"Erro de casting», como diria João Pereira. Falando talvez de si próprio sem sequer fazer ideia.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan (4) - Mais dois golos sofridos para o seu pecúlio, já considerável. Mal posicionado no primeiro, lento de reflexos no segundo. 

St. Juste (4) - Trocou com Debast: no jogo anterior saltou do banco, desta vez foi ele o titular, substituído pelo belga. Irrelevante. Parece ter deixado de ser veloz.

Diomande (4) - Beneficiou do "critério largo" do árbitro: podia ter visto o amarelo em dois lances. Remate disparatado para a bancada após canto (64').

Gonçalo Inácio (4) - Esteve no pior (falta aos 18' que originou primeiro golo adversário) e no menos mau (cabecou à trave, 81'). Fez três posições como central no jogo.

Geny (2) - Autor do mais disparatado lançamento lateral deste campeonato. Funcionou como passe para o golo que valeu três pontos ao Moreirense (35').

Morten (5) - Procurou remar contra a apatia dominante, mostrando galões de capitão em campo. Tentou ser útil. Quase marcou de cabeça aos 53': acertou na trave.

Morita (3) - Uma sombra do que já foi. Falhou passes, não arriscou movimentos de ruptura. Parecia desejar que o jogo terminasse rapidamente.

Matheus Reis (4) - Um lateral que por vezes é central e outras vai para extremo. Sem conseguir um cruzamento digno desse nome. Primeiro - e único - só aos 86', quando voltara a ser central.

Trincão (3) - Não desaprendeu de jogar, mas não parece o mesmo da era Amorim. Deixou-se desarmar, permitiu intercepções, perdeu infantilmente a bola. Nenhum poder de fogo.

Daniel Bragança (4) - Outro caso evidente de quebra abrupta de qualidade. Dois remates sem nexo para a bancada, aos 42' e aos 44'. Saiu com queixas musculares aos 65'.

Gyökeres (6) - O melhor dos nossos. Após dois jogos sem marcar, voltou a fazer o gosto ao pé. De penálti (12') que ele mesmo conquistou. Sem uma oportunidade de bola corrida.

Maxi Araújo (3) - Substituiu Daniel Bragança aos 65', já com a equipa muito partida: cada um tentava desenrascar-se como podia. Nada acrescentou.

Quenda (3) - Entrou aos 65', rendendo St. Juste. Sem conseguir articular com Trincão. Aos 73', em vez de passar a bola, fez um passe frouxo ao guarda-redes. Marcou muito mal um livre (78').

Debast (3) - Substituiu Diomande aos 78'. Inoperante. Aos 87', quis fazer um passe a romper linhas, acabando por entregar ao guardião adversário. Kewin agradeceu.

Harder (4) - Rendeu Geny aos 78'. Como vários colegas, tentou jogar sozinho em busca do milagre que permitisse conquistar um pontinho. Sem conseguir.

Derrota inédita em casa contra açorianos

Sporting, 0 - Santa Clara, 1

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João Pereira, sem transmitir sinais de confiança, assistiu ao primeiro desaire do Sporting na Liga

Foto: Miguel A. Lopes / Lusa

 

Era o jogo de estreia de João Pereira como treinador da equipa principal do Sporting, sucedendo a Ruben Amorim após a épica reviravolta em Braga que nos manteve invictos no comando do campeonato.

Ninguém dirá que o novo técnico leonino recebeu pesada herança. Pelo contrário, encontrou o Sporting numa das mais invejáveis situações de sempre. Onze vitórias seguidas - igualando o melhor início de época, marca só antes alcançada em 1999. Liderança isolada do campeonato, com seis pontos de avanço para o segundo. Imbatíveis nas competições internas. Segundo lugar na Liga dos Campeões, sem derrotas, cumprida a terceira jornada. Já qualificados para a meia-final da Taça da Liga. 

E - muito importante - com o mais valioso plantel da Liga portuguesa. Que é também o mais valioso plantel de que há registo na história do futebol português: 443,5 milhões de euros.

Quem poderia ambicionar mais?

 

Parece que tudo isto perturbou João Pereira em vez de o empolgar e encorajar. O técnico, que não pode dar instruções a partir do banco durante a partida, passou grande parte do desafio com atitude apática, parecendo mais concentrado num monitor do que no jogo desenrolado à sua frente. Nenhum dos seus adjuntos o substituiu na função de corrigir posições, ordenar maior velocidade, utilizar os corredores externos com eficácia e não abusar de toquezinhos inócuos no nosso meio-campo defensivo.

Mais de 41 mil pessoas presentes no Estádio José Alvalade arrepiaram-se ao ver como Vladan, logo aos 7', ia comprometendo a equipa com uma fífia monumental. Entregando a bola de bandeja a Vinicius num passe errado, dentro da área. O homem do Santa Clara - melhor em campo neste jogo, disputado há quatro dias - ficou tão surpreendido com a oferta que nem a aproveitou como podia.

Podia supor-se que era um erro ocasional. Mas não. Vários outros se sucederam. Quenda teve o corredor direito a seu cargo sem conseguir vencer um duelo. Daniel Bragança, assumido médio ofensivo, procurava compensar a inoperância de Edwards como interior esquerdo, acabando por se atrapalharem mutuamente. Geny, colocado na ala esquerda, voltou a demonstrar que funciona muito melhor no lado oposto. À direita Trincão apoderava-se da bola sem a largar, parecendo querer resolver tudo sozinho, sem noção de jogo colectivo.

Para cúmulo, Gyökeres foi incapaz de libertar-se da marcação de Luís Rocha. Sem espaço para se movimentar, procurava vir atrás. Mas aquele 5-4-1 montado pelo treinador do Santa Clara parecia um colete-de-forças para o craque sueco, subitamente neutralizado.

 

Os minutos iam passando, os nervos aumentavam. Também nas bancadas. Fruto da impensável goleada sofrida quatro dias antes, no mesmo local, perante o Arsenal (1-5). Números que já não se usam, fazendo lembrar péssimos tempos antigos. Marcaram da pior maneira a estreia internacional de João Pereira nesta súbita promoção da Liga 3 à Liga 1.

De repente, a equipa pareceu sofrer de paragem cerebral. Uma perda de bola junto à linha do meio-campo, com Morten a ver passar, bastou para desorganizar o nosso "bloco defensivo", mesmo em superioridade numérica. Dois adversários, Matheus Pereira e Vinicius, em rápida progressão com a bola controlada, baralharam as marcações: Debast foi passivo, Diomande ficou paralisado, Matheus Reis abandonou a posição para quase chocar com o marfinense enquanto Vladan, fora dos postes, se limitou a abrir os braços como Cristo na cruz. Quando despertou do torpor, já ela estava anichada nas nossas redes.

 

Do mal, o menos. Desta vez João Pereira não esperou pelo minuto 68 para fazer aquilo que se impunha desde o apito inicial: tirou o inoperante Edwards, trocando-o por Harder. Maxi rendeu Quenda, permitindo que Geny passasse para o corredor direito e logo se mostrasse mais eficaz na combatividade e nos cruzamentos. Mas o Santa Clara, em vantagem desde os 32', recuou ainda mais as linhas e tornou quase impossível a penetração. 

Podia ser-nos útil uma bola parada, mas não soubemos aproveitar livres nem cantos. 

Podia tentar-se o remate de meia-distância, como aconteceu duas vezes com Harder frente ao Braga: mal se tentou. E as possibilidade de êxito eram remotas, por haver nove jogadores de campo do Santa Clara entrincheirados em 25 metros de terreno. Já tinha sido assim contra o Casa Pia, mas dessa vez Daniel Bragança conseguiu desatar o nó aos 39', com Gyökeres a confirmar de penálti aos 80'. Agora nada disso. Ficando dois penáltis por marcar contra a turma visitante - o primeiro por claro derrube de Geny por Vinicius aos 16', o segundo quando Safira trava no chão, com o braço, um remate de Gyökeres aos 45'+2. Má arbitragem de Cláudio Pereira, péssimo desempenho do vídeo-árbitro Helder Carvalho, sem qualidade mínima para estas lides. Vão ambos para a jarra, merecidamente.

Parecíamos regressados a 2017, ao tempo anterior à vídeo-arbitragem em Portugal.

 

Temos queixa do homem de apito e do VAR, mas não sofremos a primeira derrota deste campeonato, à 12.ª jornada, por causa disso. A causa principal foi o desacalabro defensivo e a inoperância ofensiva num jogo em que não conseguimos um só remate enquadrado e dispusemos apenas de uma oportunidade de golo, desperdiçada por cabeceamento muito deficiente de Gyökeres após centro de Harder.

No final, desalento generalizado. No relvado e nas bancadas. Mesmo continuando em primeiro, mesmo com todas as aspirações intactas. Não tanto pela derrota, a primeira de sempre que o Santa Clara nos impôs em Alvalade, mas porque olhamos para o banco e não conseguimos ver ainda ninguém, naquela nova equipa técnica, a quem possamos verdadeiramente chamar treinador.

Há coisas a corrigir? Claro que sim. Mas a mais urgente é sem dúvida esta. «Pior do que perder um jogo é perder a identidade», lê-se na crónica deste Sporting-Santa Clara escrita por Alexandre Delgado no SAPO Desporto. Não há melhor síntese do que esta.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan (4) - Será só azar? Continua a sofrer golos. Mais um, desta vez contra o Santa Clara. Quase encaixou outro, numa arrepiante entrega de bola logo aos 7'.

Debast (4) - Podia ter feito a diferença com os seus passes longos, a esticar jogo, mas nem andou lá perto. Inoperante, sem confiança. Saiu aos 61'.

Diomande (3) - Culpa no golo: não comandou a defesa, como lhe competia. Tentou marcar de cabeça, após cantos (73' e 80') mas não é Coates quem quer.

Matheus Reis (3) - Deixou Vinicius fazer o que pretendia no golo açoriano, aos 32'. Inexplicável, ser central à esquerda com Gonçalo no banco. Saiu aos 61'.

Quenda (4) - A sua pior partida na equipa A. Não ganhou um duelo, não fez um cruzamento digno desse nome, não penetrou nas linhas. Saiu ao intervalo.

Morten (5) - Apagado. Tentou a meia-distância, rematando muito ao lado. Incapaz de travar o adversário no início do lance do golo. Saiu aos 78'.

Daniel Bragança (5) - Procurou ligar linhas, mas com pouco sucesso. Inventou um lance de ataque para Harder (69'). Foi o melhor que fez.

Geny (6) - O mais inconformado dos nossos, o que mais arriscou nos duelos e nos centros. Melhor no segundo tempo, em que actuou à direita.

Trincão (4) - O desnorte da equipa reflectiu-se nele, quando começou a tentar fazer tudo sozinho, com reviengas, sem nada conseguir.

Edwards (2) - O técnico voltou a apostar nele no onze. Outro fracasso. Extremamente inseguro, nem conseguiu receber bem a bola. Saiu ao intervalo.

Gyökeres (4) - Irreconhecível. Só se distinguiu por ter falhado um golo cantado, de cabeça, aos 69'. Nada mais conseguiu fazer.

Maxi Araújo (3) - Perdeu outra oportunidade para mostrar o que vale. Substituiu Quenda, ficando no corredor esquerdo. Com erros técnicos primários.

Harder (5) - Jogou todo o segundo tempo. Rendimento escasso, mas foi tentando. Dois bons centros, aos 69' e 79'. Infelizmente desperdiçados.

Gonçalo Inácio (5) - Não entrou de início, estranhamente. Substituiu Matheus aos 61'. Tentou impor alguma ordem à defesa.

St. Juste (5) - Substituiu Debast aos 61'. Transmitiu alguma segurança lá atrás. Cabecou ao lado aos 90'+3.

Morita (5) - Rendeu Morten aos 78'. Boa recuperação aos 80'. Também não se entende como é que não entrou mais cedo.

Harder bisa na maior reviravolta desde 2019

Braga, 2 - Sporting, 4

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Rúben Amorim num abraço apertado a Conrad Harder: despedida em grande do Sporting

Foto: Hugo Delgado / Lusa

 

Faz hoje uma semana, em Braga, aconteceu uma das mais saborosas vitórias do Sporting. Reviravolta com tintas épicas. A segunda em poucos dias após o extraordinário triunfo em Alvalade frente ao Manchester City, considerado melhor equipa do mundo, sob o comando de Pep Guardiola, o treinador com mais fama nos nossos dias.

Primeira parte fraca, com demasiados erros individuais e falta de dinâmica colectiva. A turma anfitriã foi superior nesta fase, marcando duas vezes. Assim chegou o intervalo: perdíamos 0-2. Mais de 20 mil espectadores na Pedreira - parte dos quais sportinguistas.

Para agravar a situação, o melhor jogador português deste Sporting que sonha com o bicampeonato lesionou-se. Sozinho: problema muscular. Estavam decorridos apenas 23 minutos quando Pedro Gonçalves se viu forçado a abandonar o relvado. Ia em lágrimas, sabendo que voltaria também a falhar uma convocatória da selecção nacional. Só regressará às competições em 2025.

Geny teve de aquecer com rapidez. Entrou aos 26' para interior esquerdo.

 

O intervalo fez muito bem aos nossos jogadores. Parecia outra equipa. Mais veloz, mais acutilante, pressionando o Braga, forçando os adversários a recuar, impondo a superioridade natural. Aí ficou patente a excelente organização colectiva leonina, reforçada por jogadores com inegável talento.

Debast já não regressou para a segunda parte: St. Juste rendeu-o. A equipa ganhou com a substituição, beneficiando também com as trocas de Maxi Araújo por Harder e de Daniel Bragança por Morita ao minuto 56. 

Neste confronto no Minho em que disse adeus ao Sporting antes de rumar a Manchester, Amorim confirmou uma das suas maiores virtudes: saber ler o jogo. Muito mais do que a famosa "estrelinha" do treinador, isto explica a reviravolta. Que não tardou a ocorrer, operada pelos jogadores recém-entrados.

St. Juste, num cabeceamento ao poste, e Morita, aproveitando o ressalto em remate fulminante, começaram a reduzir aos 58'.

 

O Braga vencia ainda, mas estava encostado às cordas.

Foi ao tapete no minuto 81', com um disparo fortíssimo de Morten, a cerca de 30 metros da baliza. Golaço indefensável: Matheus foi incapaz de travá-lo. Sério candidato a golo do mês. O internacional dinamarquês, nosso capitão, estreou-se assim a marcar na Liga 2024/2025. 

Faltava entrar em cena um compatriota de Morten: Conrad Harder. Deu festival em campo nos minutos finais, levando ao delírio a massa adepta leonina. Aos 89', num remate cruzado, fortissimo. E aos 90'+4, repetindo a dose e fixando o resultado: 2-4.

Fabuloso bis, com parte do estádio a ovacioná-lo e o resto em silêncio.

De imediato todos os jogadores rodearam o treinador que se despedia, num comovente e eloquente abraço colectivo a demonstrar a força do balneário deste Sporting campeão, mais forte que nunca. 

Faz sentido: vamos com 32 jogos seguidos no campeonato sem perder. Nesta Liga, com 33 pontos em 11 jornadas, temos 39 marcados e apenas 5 sofridos. Média impressionante: 3,54 golos por jogo.

 

Amorim sorria, provavelmente já com saudades antecipadas. E também certamente com sensação de orgulho. 

Pôs fim ao maior período da história do SCP sem vencer o campeonato. Foi o primeiro treinador do Sporting a triunfar na Alemanha (goleando o Eintracht). Foi determinante na nossa mais lucrativa venda de sempre, com a transferência de Ugarte (aposta sua) para o PSG. Deixa o plantel mais valioso de Portugal: 443,5 milhões de euros, segundo o Transfermarkt. 

Ficam os números deste grande treinador, para memória futura: 231 jogos no Sporting com 164 vitórias, 34 empates e só 33 derrotas.

Tornou-se sportinguista entre nós. Devemos-lhe algumas das nossas melhores recordações desportivas de sempre.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (5) - Sofreu dois golos, aos 20' e aos 45': nada frequente nele. Mas está isento de culpa em qualquer dos lances. 

Debast (2) - Há dias em que mais vale não calçar. Foi esse o dia para o belga. Ofereceu o primeiro golo ao Braga e marcou com os olhos no segundo, desconcentrado. Já não veio do intervalo.

Diomande (5) - Sentiu dificuldades notórias na primeira parte, mas impôs a voz de comando no segundo tempo, ajudando a blindar o nosso reduto defensivo.

Matheus Reis (5) - Titular em vez de Gonçalo Inácio, começou muito intranquilo, parecendo por vezes não saber o que fazer à bola. Melhorou no segundo tempo.

Quenda (7) - Um dos obreiros da reviravolta. Genial, um passe cruzado de 40m a isolar Gyökeres aos 51'. Serviu de aperitivo ao golo, iniciado 7' depois por ele, na marcação dum canto.

Morten (7) - Líder incontestado do meio-campo, muito atento às incursões adversárias. Destacou-se sobretudo no golaço que apontou aos 81' - a sua estreia como artilheiro nesta Liga.

Daniel Bragança (4) - Estranhamente apático, sem velocidade nem ritmo. Falhou no confronto com João Moutinho, perdendo a bola no segundo que sofremos. Saiu aos 56'.

Maxi Araújo (5) - Protagonizou bons cortes, aos 8' e aos 12', mas ainda lhe faltam rotinas no corredor esquerdo. O melhor que fez, na frente, foi atirar à malha lateral (43'). Saiu aos 56'.

Trincão (7) - Poucos como ele revelam tanta qualidade com a bola em espaços curtos. Já faz boa parceria ofensiva com Quenda à direita. É dele o passe para Harder no quarto do Sporting.

Pedro Gonçalves (3) - Noite azarada para o craque transmontano. Viu um amarelo aos 13' por protestos. Aos 23', esticou demasiado a perna e sentiu dor forte: foi substituído aos 26'.

Gyökeres (6) - Noite estranha: ficou em branco. Quase marcou, aos 51': Matheus travou-o. Falhou por pouco a emenda a centro de Geny (60'). Útil nos cartões: forçou três ao Braga (38', 45' e 68').

Geny (6) - Substituiu Pedro Gonçalves aos 56'. Ajudou a encostar a turma braguista às cordas, pressionando na meia esquerda. Remate forte aos 72', para defesa apertada do guardião.

St. Juste (7) - Substituiu Debast na segunda parte. Com larga vantagem, atrás e à frente. Cabeceamento ao ferro que deu golo na recarga (58'). Inicia o terceiro golo numa recuperação.

Morita (8) - Substituiu Daniel aos 56'. Era o dínamo de que a equipa precisava: saiu do banco para abrir a conta leonina. Transformado em "n.º 10", assistiu no terceiro golo.

Harder (9) - Entrou aos 56', substituindo Araújo. Viria a ser o protagonista do jogo - e o melhor em campo - ao bisar, aos 89' (passe de Morita) e aos 90'+4 (passe de Trincão). Está cada vez melhor.

Gonçalo Inácio (7) - Substituiu Matheus Reis no minuto 80. Tal como os outros suplentes utilizados, imprimiu qualidade e talento à equipa. Foi dele o passe para o golaço de Morten.

Noite inédita do maior goleador da Europa

Sporting, 5 - Estrela da Amadora, 1

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Gyökeres brilhou perante mais de 40 mil em Alvalade marcando quatro ao Estrela da Amadora

Foto: EPA

 

Uma vez mais, os profetas da desgraça ficaram a ver navios. Anteviam uma partida muito complicada, "nervosismo em campo", divisões nas bancadas, vaias ao treinador prestes a sair e talvez até ao presidente. Um cenário catastrófico que afinal só existou na delirante imaginação desses idiotas.

De tudo quanto vaticinaram sobre esta recepção do Estrela em Alvalade ocorrida anteontem, só acertaram nisto: foi, como agora já sabemos, o último desafio do Sporting em nossa casa, para o campeonato, sob a orientação de Rúben Amorim. Haverá outros dois jogos, com ele ainda ao leme, mas o de terça em Alvalade, frente ao Manchester City, insere-se na Liga dos Campeões, e o do domingo que vem realiza-se em Braga.

Dois desafios muito importantes, por motivos diversos. Mas concentremo-nos agora nesta goleada imposta pelo nossa equipa ao Estrela da Amadora.

 

Ao contrário das partidas anteriores, frente ao Casa Pia em casa e ao Famalicão fora, desta vez os da Amadora não estacionaram um autocarro defronte da baliza. Durante cerca de meia hora até fizeram pressão intensa, em largura e em comprimento, procurando explorar espaços atrás da linha defensiva leonina. 

Causaram três ou quatro calafrios aos nossos centrais criando desequilíbrios nas faixas laterais. Em evidente aproveitamento da falta de vocação defensiva dos alas titulares, Quenda à direita e Maxi Araújo à esquerda. O jovem guineense, sobretudo, perdeu duelos com Nilton Varela. Uma dessas ocasiões custou-nos um golo - o terceiro que sofremos em dez jornadas da Liga, primeiro com Israel entre os postes. 

Foi aos 35': alguns dos mais de 40 mil espectadores em Alvalade sentiram este golo como duche de água gelada. Mas - como se viu - não havia motivo para isso em termos estritamente racionais. Desde logo, porque já vencíamos desde o minuto 19; depois, porque nunca o domínio leonino esteve sob amaeaça directa e concreta, além de umas ocasionais investidas do Estrela - uma das quais só não deu golo graças a enorme defesa de Israel. 

 

Mas nem foi preciso esperar pelo intervalo para a reviravolta acontecer e a goleada começar a ser construída. Sétima goleada em dez jornadas já decorridas desta Liga 2024/2025. Alguma vez fizemos melhor? Não me recordo, sinceramente. 

O maior contributo para esta cabazada à turma da Amadora veio de Viktor Gyökeres. Com o primeiro póquer da sua carreira como goleador. Abriu o activo aos 19', após recuperação de Pedro Gonçalves. Ampliou aos 31', com um tiro a passe de Trincão. Disparou o terceiro de penálti, aos 42'. Fixando o resultado ao intervalo: 3-1.

Depois do apito que assinalou o recomeço, mais do mesmo. Ou antes: domínio ainda mais evidente do Sporting, à medida que as fragilidades físicas do onze visitante vinham à superfície. Aí foram brilhando outros dos nossos jogadores, como Daniel Bragança (o grande pensador da equipa) e Trincão (incansável causador de desquilíbrios e protagonista de alguns dos lances mais vistosos). 

 

Mas seria Gyökeres - melhor em campo - a evidenciar-se de novo. Marcando o quarto neste embate da décima ronda, algo que jamais conseguira na sua carreira de futebolista profissional e lhe garante o primeiro lugar entre os artilheiros europeus na temporada em curso. Foi aos 70', novamente com passe para golo de Francisco Trincão, outro dos "violinos" deste Sporting  da terceira década do século XXI.

E para que a festa terminasse em beleza ainda apareceu um estreante como goleador de leão ao peito: Maxi Araújo, ocupando no onze titular o posto antes entregue a Nuno Santos, gravemente lesonado na ronda anterior. Servido por Bragança, o jovem internacional uruguaio encaminhou-a para o sítio certo aos 85'. Selando o resultado: 5-1.

Animosidade? Nenhuma. Derrotismo? Nem sombra dele. Houve, isso sim, palmas e mais palmas para estes bravos jogadores que em dez desafios já contabilizam dez triunfos, nem um ponto perdido até agora. Eles bem merecem o carinho, o incentivo e a gratidão dos adeptos.

Dos verdadeiros adeptos: os outros não importam.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (7) - Agarrou a titularidade: é dele a posição n.º 1. Sofreu o primeiro golo no campeonato pelo Sporting, aos 35', mas fez três defesas cruciais.

Debast (5) - Exibição que foi evoluindo de menos para mais. Faltou-lhe estar mais atento às perdas de bola pelo corredor direito, dobrando Quenda.

Diomande (4) - Passivo no lance do golo: deixou Rodrigo Pinho movimentar-se à vontade. Falta-lhe ainda energia, colocação e concentração para fazer esquecer Coates.

Gonçalo Inácio (5) - Excelente corte aos 10': equivaleu a um golo. Aos 18', cabeceou às malhas laterais. Queixando-se de uma perna, já não voltou do intervalo.

Quenda (5) - Tem ainda muito trabalho a desenvolver antes de ser um ala como o Sporting exige. Três grandes passes para Gyökeres compensaram o seu défice defensivo.

Morten (6) - Acusou alguma ansiedade, talvez já a pensar na recepção ao Manchester City da próxima terça-feira. Resguardou-se um pouco mais do que é costume.

Daniel Bragança (7) - Continua pendular, a fazer competente ligação entre o meio-campo e o ataque. Culminou exibição muito positiva na assistência ao golo de Maxi.

Maxi Araújo (7) - Outro jogador que foi de menos a mais nesta estreia como ala esquerdo. Destacou-se também como estreante a marcar de leão ao peito, aos 85'.

Trincão (7) - Virtuoso. Foi desenhando lances ofensivos de qualidade, abrindo linhas, criando desequlíbrios. Com nota artística. Assistiu em dois golos: no segundo e no quarto.

Pedro Gonçalves (5) - Ainda algo preso de movimentos, foi crucial na recuperação que originou o primeiro golo. Quase marcou em remate rasteiro, aos 37'. Teria merecido.

Gyökeres (10) - É um prazer vê-lo jogar. Mais quatro golos para a sua conta, superando recorde pesoal. Aconteceu em ritmo pendular aos 19, 31', 37' e 70'. Um craque.

St. Juste (5) - Substituiu Gonçalo Inácio durante toda a segunda parte. Deu sempre boa conta do recado. 

Morita (5) - Substituiu Morten aos 68'. A ideia era estancar contra-ataques e apoiar o ataque. Cumpriu no essencial.

Edwards (3) - Entrou aos 73', substituindo Pedro Gonçalves. Desconcentrado, algo apático, nada lhe saiu bem mesmo quando foi servido com inegável competência.

Matheus Reis (5) - Substituiu Debast no minuto 73, mas com a missão de patrulhar o lado esquerdo dos centrais. Desempenhou a tarefa sem qualquer reparo.

Harder (4) - Entrou aos 80', substituindo Trincão. O jogo estava quase arrumado, havia só que fazer gestão de esforço. Ainda marcámos um golo, mas sem intervenção dele.

Quinta vitória em cinco jogos fora de casa

Famalicão, 0 - Sporting, 3

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Explosão de alegria de Quenda ao marcar pela primeira vez na Liga: o mais jovem Leão de sempre

Foto: Manuel Fernando Araújo / Lusa

 

Por motivos óbvios, ligados ao próprio desenvolvimento de outros factos dentro do Sporting, só hoje escrevo esta crónica. Seis dias depois do jogo, mas ainda a tempo - o próximo realiza-se logo à noite.

Era uma partida que muitos receavam.

Sobretudo os do costume: os que antecipam sempre o pior, os que se intitulam leões mas têm mentalidade de gatinhos, os que convivem muito mal com o hábito reiterado de ganhar, os que preferem carpir mágoas em torno do eterno fracasso, os que insistem em proclamar que "o sistema não nos deixa vencer". Mesmo tendo nós vencido metade dos campeonatos já disputados nesta década de tão boa memória.

Defrontámos, nesse dia 26, uma das raras equipas que têm mantido registo ascendente nos últimos anos do campeonato português. Ainda por cima em casa dela - precisamente o mesmo palco em que na jornada inaugural da Liga 2024/2025 o Benfica foi ao charco, perdendo 0-2

 

Para azar dos profetas da desgraça, nenhuma negra previsão se cumpriu nesta partida em que o Sporting alinhou de cor-de-rosa como símbolo de combate ao cancro da mama, ainda um flagelo em Portugal.

Voltámos a vencer. Voltámos a convencer. Voltámos a ganhar por mais de dois golos de diferença, como temos feito sempre até agora. Dominámos do princípio ao fim. Israel só fez uma defesa ao minuto 66, passando quase todo o tempo como mero espectador.

Algo insólito, para os padrões a que a melhor equipa portuguesa nos habituou, foram os golos só terem surgido após o intervalo.

Mas vieram muito a tempo. 

 

O primeiro, marcado pelo suspeito do costume. Viktor Gyökeres, aos 57', numa rotação perfeita dentro da área, servido de bandeja por Morita, incansável "carregador de piano", como se dizia na gíria futebolística da geração anterior. Naquele instante, adquirimos todos a certeza de que os três pontos já não nos fugiam. 

Só faltava dilatar o resultado.

Assim aconteceu. Por Quenda, aos 63', em recarga após remate inicial de Trincão: justíssimo prémio para o mais recente talento gerado na fábrica de campeões da Academia de Alcochete. Melhor em campo nesta partida, estreou-se a marcar no campeonato. E estabeleceu novo recorde, tornando-se o mais jovem leão de sempre como artilheiro na prova máxima do futebol português. Superando Simão Sabrosa e Cristiano Ronaldo.

Ainda houve tempo e espaço para mais um golo fixando o resultado: 3-0. Autor: Gonçalo Inácio. Com primorosa assistência de Geny, outro jovem talento já de méritos firmados.

 

Em destaque pela negativa, a lesão de Nuno Santos. Ocorrida no final do longo tempo extra da primeira parte, numa tentativa de disputa de bola sem falta. Sofreu rotura do tendão rotuliano do joelho direitoJá foi operado, mas deve ficar incapacitado para o resto da época. Baixa de relevo no onze titular.

Vai certamente sofrer muito pelos seus companheiros, agora só com estatuto de observador enquanto recupera da lesão.

Mas está de certeza cheio de orgulho por ter contribuído para este Sporting que sonha com o bicampeonato há mais de 70 anos. 

 

Vamos no bom caminho. Nove jornadas, nove vitórias, 30 golos marcados e só dois sofridos. Melhor defesa, melhor ataque, melhor goleador (Gyökeres). Permanecemos inexpugnáveis, tanto em casa como fora. Aliás até com melhor registo fora: cinco triunfos, com 20 golos marcados - média de quatro por partida. 

O sonho vai tornar-se realidade. Todos acreditamos nisso.

Todos? Não. Os do costume só acreditam no desaire, no infortúnio, na desgraça, na derrota, na eterna conspiração do destino contra nós. 

Nada de novo. Sempre foram assim.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (6) - Pouco mais foi do que espectador: o Famalicão atacou pouco e viu quase sempre as vias de acesso à nossa baliza cortadas. Fez a primeira defesa aos 66', sem problema.

Debast (7) - Seguro, em duas posições. Começou como central à direita, passando para o meio aos 71'. Inicia o terceiro golo com soberbo passe para Geny a queimar linhas.

Diomande (6) - Regressou de lesão sem acusar problemas motivados pela paragem. Travou vários duelos com Aranda, levando a melhor. Saiu aos 71' para evitar maior desgaste.

Gonçalo Inácio (7) - Após alguma oscilação, volta a evidenciar grande forma. Sobretudo no passe longo: aconteceu aos 29' e aos 77', servindo colegas lá na frente. Marcou o terceiro.

Quenda (8) - O mais jovem goleador de sempre no Sporting em jogos do campeonato, com 17 anos e cinco meses. Aconteceu aos 63'. Festejou - e todos festejámos com ele. 

Morita (7) - Regressou a titular. E foi um dos obreiros deste triunfo com cheiro a goleada. Excelente assistência para o primeiro golo num movimento de ruptura. 

Daniel Bragança (7) - Já lhe chamam o Pirlo português - e não parece exagerado. Pensa o jogo, temporiza, faz constante pressão sobre a bola. Iniciou construção do segundo golo.

Nuno Santos (6) - Aos 11', centrou com eficácia: foi golo. Mas anulado por deslocação do autor, Pedro Gonçalves. Bom corte aos 29'. Lesionou-se gravemente pouco antes do intervalo.

Trincão (7) - Mesmo quando não marca, como foi o caso, dá espectáculo com o seu virtuosismo técnico. Quase fez golo aos 45'+4. É dele o remate inicial que gerou a recarga no segundo.

Pedro Gonçalves (5) - Regressou de lesão seis jogos depois. Ainda com falhas na dinâmica a que nos habituou entre linhas. Marcou aos 11, mas estava adiantado. Durou uma hora.

Gyökeres (8) - Ele gosta é de jogar. E de marcar. Voltou a acontecer com um golaço aos 57', só ao alcance de grandes talentos. Prodígio de técnica, de intenção e de colocação.

Geny (7) - Fez toda a segunda parte, substituindo Nuno Santos. Dominou ala esquerda, depois a direita, impedindo avanços adversários. Foi dele o centro para o terceiro golo.

Morten (6) - Retomou a braçadeira de capitão ao entrar, no minuto 64', substituindo Pedro Gonçalves. Contribuiu para tornar ainda mais impermeável o nosso meio-campo.

Maxi Araújo (4) - Substituiu Quenda aos 71'. Continua sem encontrar ainda o lugar onde verdadeiramente mais rende. Mas vai-se esforçando por isso.

St. Juste (5) - Substituiu Diomande aos 71'. Parece em boa forma após longas semanas de lesão. Fez corte providencial.

Harder (-) - Entrou aos 82', com a saída de Morita. Já a equipa geria o resultado confortável. Ainda viria a marcar o terceiro, sem intervenção do jovem dinamarquês.

Cerco leonino furou duas vezes a muralha

Sporting, 2 - Casa Pia, 0

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Daniel Bragança acaba de marcar o primeiro golo, felicitado por Gonçalo Inácio: terceiro jogo a facturar

Foto: Rodrigo Antunes / Lusa

 

Foi um jogo irritante. Terá sido monótono e chato para quem não é do Sporting. Para os adeptos leoninos, teve momentos quase exasperantes. Devido à estratégia hiper-defensiva do Casa Pia, que entrou em Alvalade, no Dia da República, com a obsessão de fechar todas as rotas para a sua baliza, num 6-3-1 que restringia toda a manobra da equipa a metade do seu meio-campo.

Havia um bom motivo para isso: os gansos queriam evitar a todo o custo a repetição da humilhante goleada sofrida no mesmo cenário, há pouco mais de oito meses. Quando tentaram subir linhas, discutir o jogo com argumentos que lhes faltavam e encarar o Sporting apenas como mais um adversário. Ora todos sabemos que isso é impossível. Daí terem saído de nossa casa com essa pesadíssima derrota: oito golos sem resposta.

Compreende-se, pois, que tenham mudado a agulha. É irritante, mata o espectáculo, chega a ser um atentado ao futebol, mas é um recurso ao alcance das equipas que sabem ser muito fracas. Não deve confundir-se com antijogo. 

 

Precisámos, portanto, de muita paciência para furar aquela muralha de pernas.

Felizmente paciência não vai faltando nas bancadas de Alvalade, onde há muito deixaram de se ouvir assobios à própria equipa - ao contrário, por exemplo, do que aconteceu na mesma jornada no estádio do Dragão, onde um periclitante FC Porto venceu à tangente o Braga e nos últimos 20 minutos chegou a imitar o Casa Pia, formando em duplo quadrado à frente das suas redes para evitar o empate quase em desespero.

A única verdadeira incógnita, neste Sporting-Casa Pia, mantinha-se em torno do minuto exacto em que a conseguiríamos lá meter.

Aconteceu um pouco mais tarde do que é costume, mas ainda no primeiro tempo. Resultando de uma jogada de génio desenhada e executada por Francisco Trincão, que se intrometeu na área casapiana, driblou três defesas, foi à linha de fundo e serviu de bandeja para Daniel Bragança emendar.

Era o minuto 39, houve justificada explosão de alegria em Alvalade.

Ao intervalo, números impensáveis: 85% de posse de bola para a nossa equipa, que jogou de equipamento rosa como alerta urgente para a detecção e combate do cancro da mama, que todos os anos mata mais de duas mil mulheres em Portugal. Causa meritória, tal como a decisão da SAD de destinar 25% da receita de bilheteira desta partida à Liga Portuguesa Contra o Cancro.

 

Harder não rendia como interior esquerdo, Rúben Amorim trocou-o ao intervalo por Morita, todo-o-terreno com ordem para manobrar nesse espaço, municiando Gyökeres e tentando ele próprio o golo - o que esteve quase a acontecer.

Espantosamente, mesmo a perder, o Casa Pia mantinha incólume o 6-3-1, com Cassiano perdido algures junto à linha do meio-campo, contemplando o jogo à distância. Precisávamos com urgência de outro saca-rolhas: ele apareceu aos 68', quando Gyökeres pegou nela e serpenteou metros adiante até ser derrubado em falta, já dentro da grande área. Penálti evidente, logo assinalado pelo árbitro Miguel Nogueira (boa actuação) e validado pelo VAR.

Viktor, que andava há dois jogos em jejum de golos, não desperdiçou a oportunidade. Rematou com força na linha dos 11 metros, encaminhando-a para o fundo das redes. Nesse minuto 70 até o mais incrédulo adquiriu certezas: a vitória já não nos fugia.

 

E assim foi. Atingia-se outra marca digna de registo: estamos há um ano sem perder em casa, a última derrota ocorreu a 5 de Outubro de 2023, por 1-2, frente à Atalanta. Não sofremos golos há seis desafios da Liga - melhores números desde 2014. E estamos há 50 jogos a marcar - é a melhor sequência do Sporting no campeonato nacional de futebol desde 1938.

Os jogadores chegaram ao fim exaustos, mas com a certeza do dever cumprido: 81% de posse de bola, outro máximo superado. Cada vez mais primeiros, com a melhor defesa e o melhor ataque e o maior goleador em oito jornadas.

Faltam 26 para que o sonho máximo se torne realidade: a conquista do bicampeonato que nos foge há mais de sete décadas.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (7) - Defesa providencial logo no segundo minuto de jogo. Outra, confirmando excelentes reflexos, aos 63'. Quinto jogo seguido sem sofrer golos.

Eduardo Quaresma (5) - Jogou condicionado, o que ficou evidente, apesar da sua esforçada prestação como central à direita. Saiu aos 68', com queixas físicas.

Debast (6) -  Ainda não conseguiu fazer esquecer Coates, mas vai tentando. Levou a melhor nos duelos com Cassiano. É ele a iniciar lance do primeiro golo.

Gonçalo Inácio (4) - Excesso de passes falhados no primeiro tempo. Exibição apagada para o nível a que já nos habitou. Longe da sua melhor forma.

Geny (5) - Regressou à ala direita, a mais dinâmica neste jogo. Lutou sempre muito, mas faltou-lhe acerto no último remate.

Morten (6) - Manteve solidez na "casa das máquinas" num desafio em que foi pouco solicitado. Chegou e sobrou no vértice mais recuado do meio-campo.

Daniel Bragança (7) - Já não é só pensador do jogo: também executa bem. Desbloqueou nó casapiano com golo aos 39': e vão três, noutros tantos desafios seguidos.

Maxi Araújo (4) - Ainda lhe falta afinar rotinas com os colegas. Muito fácil de neutralizar, não criou uma oportunidade a partir da ala esquerda.

Trincão (8) - Melhor em campo. Num genial movimento de ruptura, inventou o golo que Daniel consumaria. Aos 66', num tiro de meia-distância, fez a bola roçar a trave.

Harder (4) - Com Pedro Gonçalves ainda lesionado, foi ele o interior esquerdo. Não resultou: foi nula a sua acção entre linhas. Saiu ao intervalo.

Gyökeres (6) - Até estranhamos quando só marca um golo. Aconteceu aos 70', de penálti - conquistado por ele próprio. Tentou bisar, sem conseguir.

Morita (7) - Fez toda a segunda parte, rendendo Harder. Com enorme vantagem para a equipa. Parece estar em todo o lado. Falhou golo por muito pouco (55').

Nuno Santos (5) - Substituiu Maxi Araújo aos 64'. Entrou com muita vontade de fazer a diferença, sem realmente o conseguir.

Fresneda (4) - Entrou aos 68', substituindo Gonçalo Inácio. Como central adaptado à direita, parece peixe fora de água. Tarda em mostrar serviço.

Quenda (5) - Entrou aos 68', saindo Geny. Melhor a atacar (grande centro para Trincão, 74') do que a defender (deixou passar Nuno Moreira, 85').

Esgaio (4) - Eterno polivalente, agora o único trincão do plantel. Rendeu Quaresma aos 76', mas como central à esquerda. Mal se deu por ele.

Esta nossa equipa merece ser bicampeã

Estoril, 0 - Sporting, 3

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Uma das imagens da partida: Geny celebra à Bruno Fernandes após derrubar muralha estorilista

Foto: José Sena Goulão / Lusa

 

Parecem estar já muito longe os tempos em que íamos à Amoreira e vínhamos de lá derrotados por 0-2, ouvindo depois o treinador queixar-se de que a culpa tinha sido «do vento».

Mas foi há menos de sete anos: aconteceu na época 2017/2018, de péssima memória para todos nós.

Vivemos dias diferentes desses. Muito melhores, felizmente. Voltámos anteontem ao estádio do Estoril e trouxemos de lá uma vitória ampla, por 3-0. Alguns chamar-lhe-ão até goleada. Melhor até do que na época passada, em que nos sagrámos campeões: então o triunfo foi escasso, apenas por 1-0, mas é verdade que nessa altura já tínhamos o campeonato ganho.

 

A superioridade leonina voltou a ser evidente. A primeira parte proporcionou aos adeptos do Leão, em evidente maioria nas bancadas, momentos de puro espectáculo futebolístico. Um luxo. Com alguns jogadores a brilharem: Trincão, Morita, um surpreendente Matheus Reis, o cada vez mais consistente Debast, um Diomande já tornado digno sucessor de Coates.

O melhor foi o ala direito que joga de pé canhoto, craque da selecção de Moçambique: Geny. Simplesmente Geny, um singelo nome de quatro letras. Nome de campeão.

Foi ele a desblqouear um encontro que começou por parecer difícil pelo motivo do costume: o Estoril, agora treinado por um escocês, estacionou o autocarro, o que nos forçou a ensaiar o habitual carrossel para penetrar aquela compacta linha defensiva.

Felizmente eles cederam-nos espaço nas alas, que dominámos por completo.

À esquerda, Nuno Santos fez o que quis, articulando atrás com Matheus, muito subido, e no interior com Maxi Araújo, em estreia como titular e cheio de vontade de mostrar serviço.

À direita, cpm Geny na ala e Trincão no espaço interior. Ambos puseram a cabeça em água à turma estorilista. Com Debast a distinguir-se, largos metros atrás, com a precisão dos seus passes desenhados em linha recta.

 

Enquanto Nuno não descola da linha, o moçambicano ensaia contínuos movimentos interiores. Num deles, em que quase parecia avançado-centro, foi servido de modo magistral por Matheus e mandou-a sem contemplações para o fundo das redes.

Aconteceu ao minuto 25': naquele instante tivemos a certeza de que a vitória já não nos fugia,

A confirmação, até para os mais renitentes, surgiu seis minutos depois, premiando a abnegação de Morita, também muito adiantado: o internacional nipónico deu a melhor sequência ao trabalho artístico de Trincão na meia-direita que trazia selo de golo. 

Assim fomos para o intervalo.

 

A história da segunda parte foi diferente. Com a equipa a gerir esforço, com bola ou sem ela, já a pensar no embate de terça-feira, na Holanda, com o PSV para a Liga dos Campeões.

Nessa fase o Estoril cresceu, avançando enfim no terreno, embora sem nunca criar situações de verdadeiro perigo junto da nossa baliza. Houve cerca de 20 minutos de equilíbrio, mas as redes à guarda de Israel mantiveram-se intocáveis.

Há seis jogos que não sofremos golos.

A bola ainda chegaria ao fundo da baliza, sim, mas do lado oposto. Daniel Bragança, naquela que estará a ser a melhor época da sua carreira, rematou com força, a partir da esquerda, e viu o esforço coroado de êxito. Assim chegámos ao desfecho, já aos 90'+1, novamente com assistência de Trincão.

Esta equipa sonha ser bicampeã. E merece chegar lá. Quase todos nós, adeptos, merecemos também. Para quebrar um jejum que dura há sete décadas. Vai ser desta, acreditamos nisso. 

 

Breve análise dos jogadores:

Israel - Pouco trabalho, bem auxiliado por toda a defesa. Quarto jogo consecutivo sem sofrer golos.

Debast -  Distingue-se na qualidade do passe longo, rasteiro e geométrico. 

Diomande - Comanda a defesa, sem discussão. E continua a tentar o golo de cabeça, lá na frente.

Matheus Reis - Monumental nota artística na assistência para o primeiro golo. Ousado nas incursões.

Geny - Homem do jogo. Marcou o primeiro, aos 25', e inicia o segundo com lançamento lateral. 

Morten - Mais contido, foi competente na vigilância do nosso meio-campo defensivo.

Morita - Pareceu estar em todo o lado. Estava no sítio certo, aos 31', quando marcou o segundo. Para ele, o primeiro nesta época.

Nuno Santos - Dominou corredor esquerdo, em constante vaivém junto à linha. Articulou bem com Maxi.

Trincão - É um dos "violinos" deste Sporting. Exibição coroada com duas assistências para golo - o segundo e o terceiro.

Maxi Araújo - Estreia a titular, ocupando a posição do lesionado Pedro Gonçalves. Bons apontamentos.

Gyökeres - A notícia foi não ter marcado neste jogo. Pela primeira vez na Liga 2024/2025. Mas trabalhou bem para a equipa, lá na frente.

Daniel Bragança - Entrou aos 58', rendendo Morten. Foi com braçadeira de capitão que marcou o terceiro, aos 90'+1.

Gonçalo Inácio - Saltou do banco aos 58', substituindo Matheus. Veio de lesão, está ainda preso de movimentos. Precisa de recuperar ritmo.

Harder - Substituiu Maxi Araújo aos 58'. Tentou o golo num cabeceamento aos 80': andou lá perto.

Quenda - Entrou aos 75', com a saída de Gyökeres. Actuou como ala direito, enquanto Geny transitava para a esquerda. Não sobressaiu.

Eduardo Quaresma - Também vindo de lesão, substituiu Debast aos 83'. Grande recuperação aos 86'.

Três nórdicos muito louros e nada toscos

Sporting, 3 - AVS, 0

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Conrad Harder festeja golo marcado na estreia a titular em Alvalade: temos um novo herói

Foto: Miguel A. Lopes / Lusa

 

Há estreias assim: ficam inesquecíveis. Não só para o estreante, mas para todos quantos testemunham esse momento privilegiado. Aconteceu anteontem, em Alvalade, com Conrad Harder, o nosso novo reforço vindo da Dinamarca. Era a primeira vez que integrava o onze inicial do Sporting, com mais de 43 mil pessoas no estádio. Mas nem assim o jovem de 19 anos se atemorizou: bastou um quarto de hora para metê-la lá dentro, destroçando a táctica da turma visitante, que vinha preparada para estacionar o autocarro frente à baliza enquanto vários dos seus jogadores se atiravam para o relvado simulando lesões.

Lá tiveram de virar a agulha ao encaixarem o tiro de Harder, disparado com intenção deliberada de a afundar nas redes, sem hipótese de defesa para o mexicano Ochoa, veterano de cinco mundiais de futebol. O estádio vitoriou o avançado que colmatou a fracassada contratação do grego Ioannidis: parece que nada perdemos com a troca.

Nascia um novo herói verde e branco, saudado pelos adeptos e muito fotografado. Sem falsas modéstias, Harder festejou à moda de Cristiano Ronaldo, imitando-lhe o gesto habitual quando marca um golo.

Iconografia perfeita: este Sporting com aroma nórdico parece cada vez mais robusto. Com três louros e nada toscos. Cada qual, à sua maneira, com vocação para estrela.

 

Conrad esteve muito bem, mas não eclipsou o craque maior.

Viktor Gyökeres voltou a bisar, destacando-se de novo como melhor em campo. Foram dele mais dois golos: aos 45'+4, com assistência de Morten, e aos 70', dando o melhor rumo a uma oferta de Trincão.

Esta equipa comandada por Rúben Amorim habituou-nos a resultados tão desequilibrados que um 3-0, a muitos de nós, já sabe a pouco. A exibição foi categórica, o domínio em campo foi evidente, a dinâmica colectiva foi notória. Por isso este desfecho só pecou por escasso.

 

Nem parecia que vínhamos dum jogo de Champions: dias antes havíamos recebido o Lille (vitória por 2-0). Também não parecia que tínhamos quatro titulares habituais lesionados: Vladan, Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio e Pedro Gonçalves não puderam dar o seu contributo. Mas neste Sporting 2024/2025 o conjunto continua a funcionar, mesmo quando as peças vão mudando. Voltou a acontecer.

Israel - três jogos seguidos sem sofrer golos - deu boa conta do recado entre os postes. O inédito trio de centrais composto por Debast, Diomande e Matheus Reis exibiu inabalável segurança, a tal ponto que o AVS foi incapaz de criar oportunidades de golo. O meio-campo esteve irrepreensível, com Morten a recuperar e Daniel Bragança a desenhar lances ofensivos. Quenda, muito mais maduro do que os seus 17 anos indiciam, assegurou o vaivém na ala direita enquanto Nuno Santos tomava conta do corredor esquerdo, com Matheus pronto para lhe acorrer às dobras.

 

Mas o melhor está lá na frente. Naquele trio dinâmico, sempre móvel, sempre a abrir linhas de passe, sempre a deixar a cabeça em água aos defensores adversários. Trincão à direita, Harder digno substituto de Pedro Gonçalves à esquerda, Viktor no meio. Abrem espaço para os colegas, arrastam marcações, alternam movimentos interiores com disparos de meia-distância, mostram-se confortáveis com bola e sem ela. 

O resultado está à vista: comandamos isolados à sexta jornada. Somos a única equipa invicta. Temos 22 golos marcados - e apenas dois sofridos, igualando o ímpeto rematador do saudoso Sporting 1972/1973, onde Yazalde era ponta-de-lança de luxo. 

Quanto tempo vai durar? Mais 28 jornadas, esperamos (quase) todos. Até o bicampeonato que nos foge há sete décadas deixar de ser mero sonho para se tornar realidade.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel - Seguro, atento. Transmite tranquilidade à equipa. Outra partida sem sofrer golos.

Debast -  Tem um talento especial para colocar bolas lá na frente. Foi assim que iniciou a construção do primeiro golo.

Diomande - Domina o jogo aéreo: ninguém o superou. Quase marcou de cabeça, aos 80': só Ochoa o impediu com espectacular defesa.

Matheus Reis - Substituiu Gonçalo Inácio como central à esquerda. Missão cumprida.

Quenda - Já é um dos principais marcadores de livres e cantos. Integra-se bem nas missões defensivas.

Morten - Assistiu Harder no primeiro golo e é dele a recuperação que origina o segundo. Honra a braçadeira de capitão.

Daniel Bragança - Um dos cérebros da equipa, fundamental na organização de jogo. Esteve perto de marcar aos 25'.

Nuno Santos - Tentou muito, esforçou-se o mais possível, mas poucos cruzamentos lhe saíram bem. 

Trincão - Ochoa impediu-o duas vezes de marcar, aos 12' e aos 31'. Assistiu Gyökeres no terceiro.

Harder - Titular em estreia de Leão ao peito, superou todas as expectativas. Golo aos 15' e assistência aos 45'+4.

Gyökeres - Voltou a bisar. Com dez golos apontados em seis jornadas, superou a marca de Mário Jardel em 2002. Melhor em campo.

Maxi Araújo - Entrou aos 59', substituindo Harder. Anda com ganas de marcar: atirou ao poste (59').

Morita - Entrou aos 70', substituindo Daniel Bragança. Manteve o equilíbrio no meio-campo.

Geny - Substituiu Quenda aos 70': o essencial da tarefa estava cumprido.

Fresneda - Rendeu Matheus Reis aos 76', mas jogando como central à direita. Ainda procura o seu lugar na equipa.

Esgaio - Estreia na época: ouviu muitos aplausos quando entrou, aos 76', substituindo Trincão. Dois bons centros.

Trio da frente reforça liderança isolada

Arouca, 0 - Sporting, 3

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Trincão e Pedro Gonçalves celebram em nova noite festiva para o Sporting, líder do campeonato

Foto: Paulo Novais / Lusa

 

Era sexta-feira, 13. Mas, em Arouca, o azar andou bem longe. Pelo menos para nós. Saímos de lá com os mesmos números da época passada: vitória por três golos sem resposta, com as nossas redes imaculadas pelo terceiro desafio consecutivo. Com uma diferença substancial: no campeonato anterior, aos 90', vencíamos apenas por 1-0. Desta vez o resultado foi construído antes de chegar o tempo extra.

Jogámos longe, mas até parecia estarmos em casa, tanta foi a maré verde exibida nas bancadas arouquenses nesta partida em que o nosso ex-jogador Chico Lamba se estreava no bloco defensivo da turma adversária. 

Tínhamos uma vantagem em comparação com o confronto de 2023/2024: desta vez o embate em Arouca ocorreu no Verão, com tempo seco, em contraste absoluto com a enlameada partida registada há largos meses, imprópria para um bom espectáculo de futebol.

Mas algo poderia favorecer a turma da casa: vários dos nossos jogadores vinham de viagens longas, ao serviço das respectivas selecções, e mal tiveram tempo para retomar fôlego no regresso ao canto mais ocidental da Europa. Aconteceu, por exemplo, com Morita e Geny, que actuaram pelo Japão e por Moçambique, Compreendeu-se, por isso, que estivessem fora do onze inicial. Tal como Eduardo Quaresma, titular da selecção sub-21.

Outro regressado de viagem - e estreante pelo Sporting na temporada em curso - foi o guarda-redes Franco Israel, forçado a calçar face à ausência de Vladan por lesão que deverá retê-lo durante cerca de três semanas. O jovem internacional uruguaio deu boa conta do recado. Tal como o seu compatriota Maxi Araújo, caloiro leonino que entrou já na fase final da partida. Estreia absoluta que mereceu aplausos.

 

O jogo pode resumir-se a esta frase; domínio absoluto do Sporting. Em transições pelos corredores laterais, entregues à esquerda a Nuno Santos (também estreante nesta época, enquanto titular) e à direita a Quenda. E com a bola sempre controlada, com Daniel Bragança a pautar o jogo ofensivo no corredor central e Morten uns metros atrás, de sentinela às operações de recuperação, aliás escassas.

O Arouca optou por estacionar o autocarro à retaguarda, velho expediente das equipas sob o espectro permanente da despromoção quando enfrentam conjuntos superiores. Foi o caso: chegaram a ter dez homens atrás da linha da bola, confinados a um espaço de 30 metros defensivos.

O objectivo essencial, para o Sporting, era furar aquela barreira. Tarefa concluída ao fim de 24 minutos graças ao saca-rolhas Francisco Trincão, que serpentou pela grande área, na meia-direita, e centrou com perfeição geométrica para Pedro Gonçalves finalizar, num raro golo de cabeça e sem sequer sentir necessidade de tirar os pés do chão.

 

Chegou-se ao intervalo com 1-0. Faltava fazer o resto. Aconteceu na conversão dum penálti, aos 71', por controversa decisão partilhada pelo árbitro João Pinheiro e pelo VAR João Gonçalves. Após rápida infiltração de Pedro Gonçalves no reduto arouquense e a bola a bater à queima-roupa no braço de Fukui. Um dos tais lances que, se tivesse sido contra nós, levantaria ondas de indignação com o típico grito calimérico «Somos sempre roubados!»

Chamado a bater a grande penalidade, Gyökeres cumpriu a função com o brilho habitual. Daí liderar, sem surpresa, a lista dos melhores marcadores do campeonato: são já oito golos em cinco jornadas.

Estava para vir o melhor da noite. O último, apontado por Trincão - homem do jogo - noutra exuberante manifestação de técnica futebolística em que sentou três defesas adversários e disparou de longe, num remate muito bem colocado. Caía o pano aos 80': tempo suficiente para Rúben Amorim, já descansado, rodar ainda alguns jogadores, já a pensar no desafio europeu de amanhã.

Nota muito positiva, uma vez mais. Olha-se para a classificação e percebe-se como é justificada a euforia entre os adeptos leoninos: cinco jogos cumpridos, cinco triunfos averbados. Liderança isolada, com 15 pontos. FC Porto três pontos atrás, Benfica cinco pontos mais abaixo.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel - Aproveitou bem a oportunidade, nesta estreia na baliza leonina em 2024/2025. Cumpriu com defesas aos 39' e aos 50'. Parece mais seguro entre os postes do que Vladan.

Debast - Estreante como titular no campeonato, fez boa exibição como central à direita. Destacou-se sobretudo no capítulo do passe ofensivo aos 4', 11', 17' e 90'+7. Irradia confiança.

Gonçalo Inácio - Desta vez como central ao meio, tentou golo de cabeça após canto aos 45'+2: faltou-lhe afinar um pouco a pontaria. Grande passe longo para Nuno Santos aos 62'.

Matheus Reis - De regresso a titular, pareceu algo incómodo como central à esquerda. Logo no primeiro minuto deixou Jason fugir: podia ter dado golo ao Arouca.

Quenda - O n.º 57, agora com vínculo renovado ao Sporting, conquistou a posição como ala direito. Deu início ao primeiro golo ao descobrir Trincão entre a muralha arouquense.

Morten - A lesão já ficou para trás, vai voltando à boa forma anterior. Mesmo assim, esteve mais retraído do que nos habituou, permitindo libertar o colega do meio-campo.

Daniel Bragança - Grande exibição na "casa das máquinas" do onze leonino, como médio criativo, a distribuir jogo. Quase marcou num tiro aos 43'. E assistiu Trincão no terceiro.

Nuno Santos - Em noite de estreia a titular na Liga 24/25, andou longe do melhor. Destaque para um centro aos 62': deu autogolo, mas foi anulado por deslocação (18 cm, disse o VAR).

Trincão - Deu espectáculo em Arouca. Primeiro como estreante em assistências no campeonato: trabalhou muito bem para o golo inicial. E selou o resultado com o melhor golo da noite.

Pedro Gonçalves - Continua a facturar - desta vez até de cabeça. Imperou como interior na meia-esquerda. Sacou penálti aos 67', Balanço até agora: quatro golos, três assistências.

Gyökeres - Quando apenas marca um golo, já nos parece pouco. Foi o caso: desta vez só a meteu lá dentro de penálti, aos 71'. Mas trabalhou muito para a equipa, levando todos atrás.

Geny - Substituiu Nuno Santos aos 74'. Aos 78', transitou para o corredor direito, onde está mais à vontade. Rematou ao lado (86').

Diomande - Rendeu Matheus Reis aos 74', mantendo a solidez do nosso bloco defensivo. Sem nada de especial a destacar.

Maxi Araújo - Foi a estreia da noite, vindo do Uruguai. Substituiu Quenda aos 78' e sobressaiu logo na primeira jogada, num ataque como ala esquerdo: quase assistiu Pedro Gonçalves.

Morita - Entrou aos 78', substituindo Morten. Grande trabalho na meia-direita aos 90'+4, servindo Pedro Gonçalves. Poderia ter gerado golo.

Edwards - Em campo desde o minuto 83, rendendo Trincão. Desta vez sem sobressair.

Estes jogadores insistem em ser felizes

Sporting, 2 - FC Porto, 0

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Gyökeres, imparável, adianta-se como rei dos artilheiros: à quarta jornada, já marcou sete golos

Foto: Luís Branca / Lusa

 

Para quem tivesse dúvidas, repetiu-se a dose: no campeonato passado recebemos o FC Porto e eles voltaram para a cidade de origem com dois golos sofridos na bagagem, sem nenhum marcado. Desta vez - sábado passado, dia 31 - repetiu-se a dose

Quer isto dizer que mesmo desfalcado de três habituais titulares da época passada - Coates, Adán, Paulinho - o Sporting mantém o equilibrio de base, agora num onze mais jovem e com processos de aprendizagem mais rápidos. A dinâmica acentuou--se, os automatismos ganharam consistência, o modelo de Rúben Amorim tem vindo a ser aperfeiçoado com vantagem para a equipa.

Um dos ajustamentos relaciona-se com o desempenho dos alas, agora cada vez mais envolvidos no processo ofensivo. A manobra defensiva, no essencial, é assegurada por dobras dos centrais e o recuo esporádico de um médio, neste caso Morita e Morten alternando na missão. Que foi bem-sucedida.

 

Se este repetido 2-0 final peca é apenas por ser escasso face à superioridade leonina no primeiro clássico da Liga 2024/2025.

Após o quarto de hora inicial, em que as equipas se mediam e os azuis-e-brancos adiantaram muito as suas linhas para pressionar a nossa habitual saída com a bola dominada, o Sporting passou a dominar sem discussão. Na baliza portista, Diogo Costa tinha instruções para esticar ao máximo o jogo, despejando bolas longas. Equívoco logo tornado transparente à medida que o guardião titular da selecção nacional acabava por entregá-las à nossa defesa. A gente agradecia - e partia para o ataque rápido, alternando corredores. Aos 20 minutos da partida já invadíamos o meio-campo adversário de forma consistente. A estratégia de Vítor Bruno para nos ensanduichar no espaço central interior, aproveitando o facto de ter mais um elemento nesse sector, estava condenada ao fracasso.

Amorim soube ler melhor o jogo.

 

O que mais impressiona neste Sporting rejuvenescido que sonha com o primeiro bicampeonato em 70 anos é a sua dinâmica colectiva. Os sectores inteligam-se, as linhas de passe abrem-se com naturalidade, o ataque ao portador da bola é quase obsessivo. 

Gonçalo Inácio (23 anos), Eduardo Quaresma (22 anos) e Diomande (20 anos) parecem jogar juntos há muito tempo. Tão jovens e já com tanta maturidade competitiva: só pode ser pela qualidade do treino. Haver bom balneário ajuda muito: esta é uma equipa que se movimenta em campo com manifesta alegria e um companheirismo raras vezes visto.

Quem pensa que futebol é só "pontapé para a frente" e vê-los correr que nem galgos, está redondamente enganado.

 

Merece destaque especial o trio da frente. Com os interiores actuando em regra de pé trocado: o canhoto Trincão na meia-direita, o dextro Pedro Gonçalves no lado oposto. Ambos movimentando-se bem entre linhas, sem posições rígidas: deve ser um pesadelo marcar estes nossos jogadores, o recurso à falta torna-se uma tentação. 

Foi assim, na conversão dum castigo máximo, que chegámos ao primeiro golo. Já estavam decorridos 71 minutos, ficara para trás um empate a zero ao intervalo que sabia a pouco. Marcador? O suspeito do costume, Viktor Gyökeres. Fazia todo o sentido, até porque fora ele a sofrer a falta, por Otávio: o internacional sueco passou pelo brasileiro como faca por manteiga. É um dos melhores avançados da história do Sporting, aliando a técnica à força e a inteligência táctica à robustez.

Já marcou sete vezes nas primeiras quatro jornadas do campeonato. Quer ultrapassar a marca da Liga anterior, quando se sagrou rei dos artilheiros, com 29 golos - deixando a larga distância o bracarense Banza, com 21. 

Ninguém diria que foi operado ao joelho esquerdo apenas há três meses...

 

À medida que os portistas procuravam progredir no terreno, em busca do empate, desguarneciam as linhas recuadas. Com nula eficácia atacante: só criaram perigo duas vezes, atraves de Galeno, agora lateral esquerdo - o que diz muito da ineficácia ofensiva da equipa que deixámos a 18 pontos de distância no campeonato anterior.

Abriam-se novas oportunidades para o Sporting. Os mais de 46 mil espectadores presentes em Alvalade sentiam que o jogo não iria terminar com a vitória tangencial registada aos 90 minutos. O tempo extra iria ser aproveitado até ao último instante.

E assim foi. Aos 90'+3 Pedro Gonçalves tocou para Geny e o moçambicano partiu cheio de confiança, com ela dominada junto à linha direita para depois se chegar ao meio e daqui fuzilar as redes com o seu magnífico pé esquerdo. A bola voou, desenhando um arco para defesa impossível de Diogo Costa. Numa réplica do golaço que marcara ao Benfica a 6 de Abril - também em Alvalade, também no tempo extra, também em lance digno de levantar bancadas.

 

Assim seguimos no comando. Já isolados, à quarta ronda. Invictos: cada jogo, uma vitória. Com 14 marcados e apenas dois sofridos.

FC Porto segue três lugares abaixo. O irreconhecível Benfica, neste momento já sem treinador, na sétima posição e com menos cinco pontos.

O bicampeonato vai sendo construído, etapa após etapa. Estes jogadores insistem em ser felizes. E em tornar-nos felizes também.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan - Enfim, mostrou serviço: travou dois remates venenosos de Galeno, aos 41' e aos 60'. Menos bem a jogar com os pés.

Eduardo Quaresma - Com ocasionais lapsos, mas revelando a habitual entrega à luta. Nunca desiste dum lance. Exibe garra leonina.

Diomande - Nem parece ser tão jovem. Domínio no jogo aéreo, perfeita noção do espaço. Limpa tudo lá atrás. Atento às dobras dos companheiros.

Gonçalo Inácio - Talento inegável a defender: irrepreensível desarme a Iván Jaime (48'). E no passe longo, de que foi exemplo uma entrega a Gyökeres (50').

Quenda - Teve dois portistas a policiá-lo: Galeno e Pepê. Homenagem implícita ao mérito do talentoso ala direito, motivado e confiante.

Morten - Voltou de lesão, capitão da nau leonina. Útil, como sempre, no capítulo das recuperações (25', 28'). Isola Gyökeres com passe longo (69'): lance originou penálti.

Morita - Na casa das máquinas, ele é um operacional. No controlo do jogo, no passe preciso, na marcação ao adversário. Criando desequilibrios.

Geny - Ganhou o direito a ser titular. Tem alinhado à esquerda, mas mostra o seu melhor à direita. Assim foi, ao marcar o golo da confirmação (90'+3). Golaço.

Trincão - Activo na procura de espaço, abrindo linhas, baralhando marcações. Desta vez só esteve ausente dos golos. Podia ter marcado aos 17', 35' e 36'.

Pedro Gonçalves - Útil e criativo, como já nos habituou. Assistência para o golo de Geny. E vão três, em quatro rondas. Lidera a lista da Liga.

Gyökeres - Quatro  jogos do campeonato, sete golos. Quer repetir a dose anterior, ou ampliá-la. Conquistou o penálti e converteu-o. Melhor em campo, de novo.

Matheus Reis - Rendeu Quenda aos 79', permitindo que Geny transitasse para o corredor direito. Reforçou a estabilidade da equipa.

Debast - Substituiu Eduardo Quaresma aos 79'. Exibe confiança. Neutralizou ataque portista aos 89'. Um corte que deu nas vistas aos 90'+2.

Daniel Bragança - Entrou aos 86', substituindo um fatigado Morten. Pouco tempo em campo, mas continua a ler bem o jogo, sempre de olhos na baliza.

Nuno Santos - Entrou aos 90', rendendo Trincão. Parece cada vez mais um extremo puro. Quase não teve tempo para se mostrar, mas ouviu muitos aplausos.

Segunda goleada: difícil começar melhor

Farense, 0 - Sporting, 5

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Gyökeres acaba de a meter lá dentro, de penálti: foi o segundo dos três golos que marcou

Foto: Luís Branca / Lusa

 

O jogo não foi em Faro, mas no Estádio Algarve, já no concelho de Loulé. Permitindo ao Farense triplicar a receita de bilheteira (passando do máximo de 6 mil espectadores para os quase 18 mil deste desafio) só nas recepções às chamadas "equipas grandes" - o que mereceu o duvidoso aval da Liga. Duvidoso por ferir um princípio básico de equidade desportiva.

Isto acabou por beneficiar o Sporting: até parecia que jogávamos em casa. Era diminuta a falange de apoio ao clube de Faro e muitos dos adeptos que lá se deslocaram não esconderam o descontentamento. Se eu estivesse no lugar deles, faria o mesmo.

Incompreensível também o facto de este jogo ter decorrido menos de 24 horas após o fim de outra partida, entre norte-irlandeses e gibraltinos, para a Liga Conferência. Com os consequentes estragos no relvado.

 

Mas o que interessa é isto: ao vivo ou pela televisão, assistimos anteontem a uma das melhores exibições que recordo de uma equipa do Sporting. Superioridade esmagadora do primeiro ao último minuto, pressão constante com bola ou sem ela, ligação perfeita entre todos os sectores, movimentos automatizados ao primeiro toque e sempre de olhos fitos na baliza. 

Um verdadeiro espectáculo.

A pressão atacante era tão forte que apenas supreende o golo inicial ter ocorrido só aos 27'. Principal responsável: Ricardo Velho, eleito melhor guarda-redes do campeonato anterior. Começou por negar o golo a Pedro Gonçalves aos 4' num remate cruzado que ia lá para dentro. Depois a Gyökeres, servido de bandeja aos 16' por Trincão. No próprio lance do golo, faz uma defesa quase impossível a um remate de Daniel Bragança - mas o craque sueco não perdoou no ressalto, atirando-a lá para o fundo.

 

Não adormecemos, nem nos pusemos a "gerir o resultado", como talvez acontecesse noutros tempos. Pelo contrário, a equipa quis sempre mais. Numa das acções ofensivas protagonizadas por Pedro Gonçalves, aos 37', há um desvio da bola dentro da área. Penálti. O VAR Veríssimo teve dúvidas, mas o árbitro Tiago Martins manteve a decisão após visualizar as imagens. Chamado a converter, aos 41', Gyökeres não perdoou. 

Sabia a pouco, o 0-2 ao intervalo. No recomeço, o Farense viu-se forçado a avançar as suas linhas em desesperada busca do tento de honra, mas sem nunca incomodar verdadeiramente o nosso guarda-redes. 

Isto facilitou-nos a vida pois permitiu ao Sporting explorar a profundidade. À direita por Quenda, à esquerda por Geny, com Trincão e Pedro Gonçalves endiabrados como nunca arrastando marcações e baralhando o sistema defensivo adversário. Daniel Bragança juntava-se ao quinteto que tinha Gyökeres como ponta-de-lança: chegámos a ter seis envolvidos em simultâneo na manobra ofensiva.

Mais atrás, Morita chegava e sobrava para unir as pontas, recuperar bolas e apoiar o trio de centrais sempre que se tornou necessário. Com manifesto sucesso.

 

Os golos sucederam-se a um ritmo imparável. Gyökeres fuzilou as redes de longe, aos 66', sem defesa possível. Nuno Santos regressou após um mês de lesão e fez um daqueles cruzamentos teleguiados ao seu jeito que funcionou como assistência para um infeliz autogolo de Lucas Áfrico. O primeiro de que beneficiamos nesta época.

Ainda haveria um quinto golo, à Maradona, marcado por Edwards após conduzir a bola em slalom durante 50 metros. Um a um, os adversários iam ficando pelo caminho. Golaço digno de aplauso até por parte de adeptos farenses. Candidato a golo do mês.

Vencemos, convencemos. Estamos ainda mais sólidos no primeiro posto do pódio. Mesmo ainda sem o tal reforço para a frente de ataque. Mesmo com Morten, titular indiscutível, ainda fora do onze. As trocas fazem-se e a qualidade de jogo subsiste. Confirmando-se que temos banco de suplentes, ao contrário do que sucedia noutros tempos.

 

Confirma-se também que treinador e jogadores querem muito conquistar o bicampeonato que nos foge há 70 anos. Provam-no em campo, desafio após desafio. 

Ficou bem demonstrado, sem margem para dúvidas, nesta goleada no Algarve. A segunda consecutiva em apenas três jornadas. Seria difícil começar melhor.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan - Muito pouco trabalho. Aos 76', saiu a soco afastando a bola cruzada por Belloumi, o melhor da turma algarvia.

Eduardo Quaresma - Exibição irrepreensível. No posicionamento, na concentração, na maturidade, na qualidade do passe.

Diomande - Claro domínio do jogo aéreo. Impõe-se pelo físico, fechando as linhas de passe à turma adversária.

Gonçalo Inácio - Central actuando também como lateral, faz dois passes decisivos para golo: aos 66' descobrindo Gyökeres no flanco oposto, aos 81' servindo Edwards.

Quenda - Inicia a construção do primeiro golo com técnica apuradíssima e perfeito domínio da bola, tirando três defesas do caminho. Trabalha para a equipa.

Morita - Grande obreiro da solidez do nosso meio-campo. Notável precisão de passe: serve sempre bem, com critério. Apoiou a defesa quando foi preciso.

Daniel Bragança - Aos 22' já tinha sofrido três faltas - confirmando como é útil. Quase marcou aos 27': na recarga, surgiu o primeiro golo. Entrega constante à luta, excelente nas recuperações.

Geny - Interventivo como ala esquerdo, melhorou mais ainda ao transitar para o flanco oposto a partir dos 63'. Aos 85' ofereceu um golo que Gyökeres desperdiçou.

Trincão - Um dos criativos da equipa. Desposicionou os defesas em movimentos de rotação, sempre com a bola dominada. Abrindo auto-estradas para os colegas. Só lhe faltou um golo.

Pedro Gonçalves - Ninguém como ele joga tão bem entre linhas. Esteve muito perto de marcar aos 4'. "Assiste" Daniel aos 27'. Foi ele a cobrar o livre de onde nasceu o quarto golo. 

Gyökeres - Leva seis golos à terceira jornada: caso muito raro de eficácia. Marcou três (um de penálti) e podia ter marcado mais dois, aos 16' e aos 85'. Melhor em campo.

Nuno Santos - Entrou aos 63', rendendo Quenda. Está de volta após lesão, cheio de força e energia. Mostrou-o logo aos 69' no cruzamento que deu autogolo.

Debast - Substituiu Eduardo Quaresma aos 71'. Voltou a exibir qualidade no passe longo, bem colocado, com visão de jogo.

Edwards - Substituiu Daniel Bragança aos 71'. Já havia 0-4, mas o inglês fez questão de mostrar serviço. Com um golaço aos 81'. Há sete meses que não marcava. Redimiu-se.

Matheus Reis - Rendeu Diomande aos 86'. Limitou-se a controlar o lado esquerdo do trio de centrais, com Gonçalo remetido ao eixo. 

Dário - Entrou para o lugar de Pedro Gonçalves aos 86'. O resultado estava construído, só havia que gerir com bola. Cumpriu.

Primeira goleada, já no comando da Liga

Nacional, 1 - Sporting, 6

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Trincão, momentos após marcar o quarto golo, muito cumprimentado pelos companheiros

Foto: Homem de Gouveia / Lusa

 

Poucos previam que pudesse ser tão fácil. Muito mais do que em Janeiro de 2021, quando nos deslocámos à Choupana e arrancámos lá, a ferros, uma vitória esforçada mas mais do que merecida em inesquecível noite de vendaval. Depois o Nacional baixou de divisão, andou três épocas no escalão secundário. Regressa agora, com o estatuto de campeão da Liga 2 e sete reforços no plantel, o que não parece ter empolgado os seus adeptos: abundavam as clareiras no estádio onde o Sporting fez anteontem a sua primeira deslocação fora de portas neste campeonato.

Havia receios sobre a prestação leonina por parte dos pessimistas do costume. Eram infundados, como se viu. Numa primeira parte que dominámos sem discussão entre os minutos 5 e 35, tendo recuperado a supremacia após quatro minutos vacilantes. E sobretudo ao longo de todo o segundo tempo, em que marcámos quatro golos e podíamos ter concretizado outros tantos. Desfecho: primeira goleada da época, por 6-1. E já o comando da Liga 2024/2025, logo à segunda jornada.

 

Rúben Amorim, numa adaptação ao seu modelo habitual, deu instruções aos alas para actuarem sobretudo como extremos - Geny à esquerda, Quenda à direita. O que alargava a nossa frente de ataque, à semelhança dum rolo compressor. Com Gyökeres no meio do ataque enquanto Pedro Gonçalves e Trincão preenchiam os espaços, abrindo linhas de passe e desgastando o bloco defensivo adversário.

Neste modelo que anda a ser posto em prática com sucesso, Gonçalo Inácio acorria com frequência a dobrar o companheiro da ala esquerda e Eduardo Quaresma fazia o mesmo no flanco oposto, compensando os adiantamentos. No duelo do meio-campo, com Morten ausente por lesão, Morita e Daniel Bragança deram conta do recado. Com o internacional japonês a desdobrar-se também em movimentos de recuo, reforçando os companheiros da defesa.

 

Resultou. E de que maneira. 

Pedro Gonçalves, numa jogada individual que o confirma como o melhor português da actual equipa leonina, fez uma exibição fulgurante de virtuosismo técnico ao inventar o nosso primeiro golo. Estavam decorridos 16': o transmontano pegou nela, deixou cinco adversários pelo caminho e já em desequilíbrio ainda conseguiu dar-lhe o rumo certo, anichando-a no fundo das redes. Estava aberto o caminho para a vitória.

O Nacional tentou dar luta. E chegou a criar a ilusão de que isso seria possível quando empatou a partida num bom disparo a meia altura, aproveitando uma momentânea falha de cobertura do nosso corredor esquerdo. Mas os profetas da desgraça mal tiveram tempo de gritar «Eu não dizia?!» Pedro Gonçalves, novamente protagonista, criou um desequilíbrio e serviu Trincão: o minhoto estava marcado pelos centrais mas desembaraçou-se deles e fuzilou, em remate cruzado. Repondo a justiça no marcador e fixando o resultado ao intervalo: 2-1.

 

Depois só deu Sporting. Com Quenda a confirmar o seu talento muito acima da média: temos aqui um menino prodígio. Outro tesouro da Academia de Alcochete. Derrubado em falta quando fazia uma incursão para o centro, já dentro da área, possibilitou o nosso terceiro golo. Penálti concretizado aos 51' por Gyökeres: o craque sueco marcou-o de modo irrepreensível.

Adivinhava-se goleada. E aconteceu mesmo, em vertiginosa sucessão. Trincão finalizou sem problema, aos 57', após oferta de Geny. Daniel Bragança - com braçadeira de capitão - deu espectáculo ao receber de Pedro Gonçalves na meia-direita e serpentear entre a defesa contrária antes de fuzilar com nota artística aos 66'. E Gyökeres bisou também, aos 76', num disparo fortíssimo, isolado com passe vertical de Debast a merecer aplauso. O jovem defesa belga começa a dar nas vistas pelos melhores motivos.

 

Pela segunda época consecutiva, o Sporting emerge como vencedor nas duas jornadas inaugurais da Liga: é um bom auspício para o que vai seguir-se. Temos 12 golos marcados em três jogos oficiais - melhor marca ofensiva desde a temporada 1990/1991, mesmo sem termos contratado ainda o tal avançado grego que tanto se aguarda.

Rúben Amorim soma e segue: 216 jogos oficiais, 150 triunfos no seu currículo em Alvalade. O melhor do século, um dos melhores da história do nosso clube.

O Nacional, que vinha de 14 jogos sem perder, sofreu a maior derrota de sempre em casa. Talvez muitos dos seus adeptos adivinhassem, daí nem sequer terem optado por comparecer no estádio. Temos pena.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan - Boas defesas aos 31' e aos 47'. Talvez pudesse ter feito melhor no golo solitário que sofremos. 

Eduardo Quaresma - Atento e seguro: o melhor do trio de centrais. Espectacular corte de carrinho aos 30'.

Diomande - Algumas falhas de cobertura: não é Coates quem quer. Faltou-lhe velocidade no lance do golo.

Gonçalo Inácio - Central projectado na ala, influente na construção. Desposicionado no golo da turma madeirense.

Quenda - Excelente técnica, maturidade táctica. Cava o penálti que sentenciou o jogo. Quase marcou aos 24': bola roçou no poste.

Morita - Médio mais recuado, apoiou os centrais. Perdeu a bola aos 49': podia ter dado empate ao Nacional.

Daniel Bragança - Capitão, foi ele a gerir e organizar jogo no corredor central. Marcou um golaço - o nosso quinto.

Geny - Parece cada vez mais adaptado à ala esquerda. Recupera, domina e assiste no quarto golo leonino.

Trincão - Muito confiante. Estreia-se a marcar nesta nova época, e logo com um bis. Esteve quase a fazer outro golo, aos 74'.

Pedro Gonçalves - Marcou um, deu dois a marcar. Soma 80 golos e 54 assistências em quatro anos no Sporting. Cada vez mais influente, cada vez mais maduro. Melhor em campo.

Gyökeres - Também ele bisou. Primeiro de penálti, depois num fabuloso pontapé de meia distância. Em excelente forma.

Debast - Substituiu Eduardo aos 69'. Destacou-se ao assistir no sexto golo: pontapé vertical de 40 metros.

Dário - Entrou para o lugar de Morita aos 79'. Mostrou-se confortável no corredor central. Primeiros minutos da época.

Matheus Reis - Rendeu Geny aos 79'. Discreto, controlou ala esquerda. Sem sobressaltos.

Edwards - Substituiu Trincão aos 85'. Quase sem tempo para se mostrar: o resultado estava construído.

Fresneda - Entrou aos 85', rendendo Diomande, só para ganhar algum ritmo.

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