Oriental
Em plena Lisboa um pequeno clube existe e resiste ao que a evolução dos tempos tem de pior. Um clube que se veste de vinho tinto, um clube que poucos sabem onde mora, onde se encontra o campo Eng. Carlos Salema, e onde corre a Azinhaga dos Alfinetes. O Clube Oriental de Lisboa.
O Oriental está-me na memória porque em 73/74 estive em Alvalade algures em Fevereiro a ver o Sporting bater o Oriental por 8-0, depois dos 7-1 no então pelado do Oriental, para ver a cores e ao vivo o meu querido Yazalde marcar cinco dos nove golos que facturou nos dois confrontos. Muitos não vão acreditar, mas é verdade. Hector "Chirola" Yazalde era assim, meias em baixo, a bola passava perto, estava lá dentro. E Marinho, Dinis, Nelson e os outros encarregavam-se do assunto, da bola passar perto.
Está-me na memória também porque, quase 30 anos depois, fui lá ver o Sporting B derrotar o clube da casa por 0-1. Não consigo confirmar com a Wiki Sporting qual o onze, mas se calhar com José Fonte, Custódio e Miguel Garcia. Lembro-me de tentar ir por Marvila via Azinhaga e acabar por dar a volta e estacionar nos Olivais, por cima do estádio.
Pois hoje foi mesmo o Oriental a apadrinhar o regresso do Sporting B, uma muito feliz decisão de Frederico Varandas. Trata-se duma equipa e dum patamar de exigência que muito deram no passado ao Sporting e à própria Selecção Nacional, e que só o desleixo e estupidez do ex-presidente conduziu ao interregno.
Por isso fiz questão de estar à frente do televisor para ver um jogo do Campeonato de Portugal disputado metro a metro, intenso e competitivo, com entradas a rasgar e amarelos a punir, onde é preciso encontrar o próprio talento para ultrapassar as dificuldades que adversários mais velhos e calejados causam, como foi o caso do Ivan, irmão do Ruben Dias, que ia partindo a perna do nosso trinco, o Edu Pinheiro.
Hoje saímos de Marvila, do campo do Oriental, com a vitória: um golo bem oportuno do Tiago Rodrigues, que depois, na entrevista, esteve bem assertivo, a transpirar Sporting. Cinco estrelas. Parabéns, Tiago.
Outras figuras ficaram-me no olho: João Oliveira, Babacar Fati e Edson, um médio guineense de quase 2 metros que quando acelera leva tudo à frente. Isto quando sabemos que alguns dos melhores do escalão estão em Lagos a apoiar a equipa A no problema do Covid.
Uma equipa que jogou em 4-3-3 mas a ensaiar movimentos semelhantes à equipa A, de forma a que os jovens possam ser chamados quando forem necessários. Recordo-me das saídas a jogar pelo guarda-redes e dum contra-ataque pela esquerda que o adversário fechou. A bola fez um grande círculo até chegar ao flanco contrário para remate para um quase-golo do Mitrovski.
Enquanto isso, a equipa sub-23 vai pagando a factura e já vai com duas derrotas naquela competição, que tem o valor que tem. O que interessa é dar palco a jovens para poderem ascender à B ou serem mais-valias nas equipas inferiores.
Podem fazer muitas piadas com colchões e molas, mas a verdade é que o Sporting com Frederico Varandas relançou a formação. Temos um plantel A com quase 50% de jovens formados em Alcochete, que no conjunto valem muitas dezenas de milhões de euros, temos uma renascida equipa B que está a iniciar os seus passos.
Claro que também temos Iloris, Rosiers, Brunos Gaspares e outros a treinarem-se à parte, Eduardos e Battaglias a saírem por empréstimo, muitos milhões gastos em quem não conseguiu acrescentar a qualidade requerida para justificar o custo, mas temos de dar valor ao melhor que temos, e o melhor que temos é o produto de Alcochete, do projecto de José Roquette e da competência e da visão de Aurélio Pereira.
Concluindo, ficam aqui também os meus parabéns ao Clube Oriental de Lisboa. Mais do que um clube, uma paixão para os seus sócios e adeptos, que passou por uma fase complicada e agora está de volta sob o comando do nosso ex-defesa direito e treinador Francisco Barão. Desejo-lhes o melhor e espero poder estar presente na segunda volta em Alcochete.
SL