Bruno Prata, que tenho visto apontado como simpatizante do FC Porto, revelou quinta-feira, na sua página de opinião do Record, alguns dos motivos que têm levado Sérgio Conceição a exprimir insatisfação cada vez mais pública (e mais vociferante) perante as condições que lhe são propiciadas pela administração das Antas.
Entre esses motivos, destaca-se um relacionado com o Sporting: o técnico portista fez um pedido expresso à SAD azul e branca para contratar três jogadores que acabaram por rumar a Alvalade: Nuno Santos (vindo do Rio Ave), Ugarte (que actuava no Famalicão) e Pedro Gonçalves (também oriundo do Famalicão). Com a agravante, do ponto de vista dele, de Nuno Santos ter feito boa parte da sua formação - seis anos - no FCP.
Pinto da Costa recusou fazer-lhe a vontade e Frederico Varandas não tardou a trazer para o Sporting este excelente trio de jogadores - dois dos quais contribuíram para a conquista do campeonato em 2021.
Sérgio Conceição ficou com isto sempre atravessado. Cheio de azia, para usar uma expressão a que ele recorre com frequência.
Outro jogador que constava da sua lista e que a administração da SAD igualmente lhe negou foi André Almeida, então no V. Guimarães e entretanto transferido para o Valência.
Deram-lhe David Carmo (20 milhões de euros), que quase ainda não calçou no Dragão, Veron (apenas um projecto de jogador por 10 milhões de euros) e um guarda-redes de que ele não precisava, Samuel Portugal (4 milhões de euros), até agora apenas aproveitado durante 360 minutos.
Bruno Prata conclui que a azia já vem de longe. Dos que constavam da lista do treinador, nas últimas três épocas, apenas chegou Taremi como «único reforço significativo da equipa». Muito pouco para quem tanto queria.
Isto num clube que, desde que Sérgio Conceição assumiu o comando da equipa, encaixou 280 milhões de euros em receitas da Liga dos Campeões e 453 milhões de euros brutos em transferências de jogadores. Nada disto evitou que o passivo portista aumentasse, para impensáveis 481 milhões de euros, e registe agora 178,9 milhões de euros em capital próprio negativo. Quadratura do círculo, mesmo com a UEFA a fiscalizar-lhe de perto as contas.
Nuno Santos, herói do jogo: possível golo do ano para mais tarde recordar
Foto: Manuel de Almeida / Lusa
Quem pensava que o Sporting estava sem energia física ou anímica, após o embate em casa contra o Arsenal, três dias antes, enganou-se redondamente: esta foi uma das nossas melhores exibições no campeonato 2022/2023. Na recepção à equipa que costuma jogar de xadrez mas que anteontem envergou de amarelo, dominámos do primeiro ao último minuto.
E logo no primeiro minuto, precisamente, poderíamos ter marcado. Chermiti, bem servido por Morita, atirou a bola lá para o ninho da coruja, mas o matulão Bracalli, guarda-redes veterano da equipa tripeira, defendeu por instinto, desviando-a para a barra.
Estava dado o mote: era carregar até marcar. Podia ter sido novamente por Chermiti, que aos 13' rematou rasteiro, a rasar o poste. Ou por Esgaio, que teve a baliza à sua mercê, ao segundo poste, com trivela assinada por Nuno Santos em jeito de assistência - permitindo, também ele, a intervenção do guardião brasileiro do Boavista.
Aos 17', porém, não houve salvação possível para a turma forasteira. Nuno Santos, servido por Edwards em posição frontal, marcou um belíssimo golo de letra, fazendo-a anichar lá no fundo das redes. Um daqueles golos dignos de levantar qualquer estádio. O mais belo golo da carreira do campeão leonino. Um dos mais belos golos que já vi alguém marcar no nosso estádio. Já candidato, ainda em Março, a golo do ano.
A partir daí, talvez alguém esperasse uma reacção - mesmo tímida - do Boavista. Nada disso. Continuaram acantonados lá no reduto deles, sem ousarem uma só acção ofensiva. Fiéis à imagem de marca do treinador Petit, que apenas sabe jogar com ferrolho.
Nós cumpríamos o nosso papel: queríamos ampliar a vantagem. Insistimos, insistimos - e marcámos o segundo. Novamente com intervenção de Nuno Santos a centrar da esquerda para o meio. Pretendia fazê-la chegar a Pedro Gonçalves, que andava errante na linha dianteira, mas o boavisteiro Salvador Agra intrometeu-se e resolveu o assunto - a nosso favor, com um vistoso autogolo.
Assim se foi para o intervalo. Sem um remate da equipa adversária, já antevendo um resultado vitorioso neste embate, quatro dias antes da nossa difícil deslocação a Londres, onde defrontaremos o líder da Premier League. O Arsenal estará lá, à nossa espera, para tentar vingar o 2-2 da primeira mão, nos oitavos da Liga Europa.
Fomos retirando o pé do acelerador. Mas sem nunca afrouxar demasiado, nem consentir veleidades ofensivas aos forasteiros. Israel, estreia absoluta na nossa baliza no campeonato, nunca chegou a ser verdadeiramente incomodado. Ugarte e Morita, no meio-campo, iam limpando tudo. Edwards colocava em sentido os defesas contrários. E Nuno Santos tentou repetir a graça, aos 48', 63' e 68'. Não conseguiu, nem era necessário: já tinha garantido um dos mais espectaculares golos do ano na Europa.
Seguiram-se as substituições. Matheus Reis e Pedro Gonçalves deram lugar a Gonçalo Inácio e Trincão. Depois Edwards saiu para entrar Arthur enquanto Paulinho rendia o buliçoso Chermiti. Finalmente, mesmo à beira do fim, foi a vez de entrar Tanlongo para que Ugarte descansasse alguns minutos.
Nesta fase, o árbitro João Pinheiro voltou a mostrar toda a sua incompetência - reiterada em cada jogo que temos o azar de o encontrar de apito na boca. Desta vez, aos 59', fez vista grossa a um claro derrube em falta de Trincão, dentro da grande área boavisteira. Ficou por marcar um penálti a nosso favor e a exibição de um cartão vermelho ao infractor, Pedro Malheiro. Mais do mesmo: já ninguém se surpreende.
Antes de o jogo terminar, ainda houve tempo para marcarmos o terceiro. Fabuloso passe longo de Tanlongo, desenhando uma diagonal perfeita para Esgaio apanhar lá na ponta direita, com uma recepção que não está ao alcance de qualquer um, e centrar com precisão milimétrica para Paulinho encostar, Bracalli já batido.
Caía o pano com 3-0 a nosso favor. Quarto jogo a ganhar, terceiro sem sofrer golos, mais oito pontos nesta segunda volta do que nos embates com as mesmas equipas nossas antagonistas na metade inicial do campeonato.
Será um sinal de que as coisas andam a mudar para melhor? É evidente que sim.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Estreia absoluta entre os postes leoninos num jogo do campeonato nacional de futebol, colmatando a ausência de Adán. Não pareceu nada intimidado com este súbito encargo.
Diomande - Ninguém diria que só tem 19 anos e é um recém-chegado à nossa equipa. Assumiu sem complexos a posição de central à direita, libertando Esgaio no corredor. Muito seguro.
Coates - Igual a si próprio, comandou o trio defensivo com a tranquilidade do costume. Sem exuberância, sem dar muito nas vistas, mas assegurando o essencial. Grande corte aos 78'.
Matheus Reis - Regresso ao onze para outra exibição em que confirmou ser extremamente útil. Nuno Santos só se atreveu tanto à frente porque tinha o brasileiro a vigiar muito bem a ala.
Esgaio - Uma das suas melhores exibições desde que voltou ao Sporting. Mandou um petardo à barra (52'), falhando o golo por centímetros. Assistiu no terceiro, de modo impecável.
Ugarte - Domínio perfeito do espaço, domínio perfeito do tempo de intervenção. Duas características do internacional uruguaio, que funcionou como tampão no nosso meio-campo.
Morita - Cada vez mais robusto do ponto de vista físico, aguentou sem mácula os 90', compondo uma parceria muito sólida com Ugarte. Fundamental na ligação ao ataque.
Nuno Santos - Golo de antologia: é quase imperdoável não ser convocado para a selecção nacional. Ainda foi ele a assistir no autogolo de Salvador Agra (43'). Pulmão inesgotável.
Edwards - Cada vez mais influente, cada vez com maior resistência física. Participou na construção do primeiro golo, servindo Nuno Santos. E ofereceu-lhe outro, desperdiçado, aos 63'.
Pedro Gonçalves - Voltou a actuar no trio da frente. Foi o nosso jogador com maior precisão de passe (91%), algo que só no estádio se viu bem. Acusou algum cansaço, acabou por sair cedo.
Chermiti - Deu sempre trabalho à defesa adversária, com as suas constantes movimentações na área. Quase marcava logo no minuto 1: Bracalli fez a defesa da noite, desviando para a barra.
Gonçalo Inácio - Substituiu Matheus Reis aos 57'. Quatro minutos depois, por aparente desconcentração, perdeu a bola em zona proibida, o que esteve quase a custar-nos um golo.
Trincão - Rendeu Pedro Gonçalves aos 57'. Entrou com maior consistência e dinamismo do que nos tem habituado. Aos 59', sofreu penálti nítido que o árbitro Pinheiro decidiu não sancionar.
Arthur - Entrou aos 57', substituindo Edwards. Alinhou, tal como ele, encostado à linha direita. Mas foi muito mais frágil e bastante menos eficaz. Agarrado demasiado à bola, inconsequente.
Paulinho - Substituiu Chermiti aos 72', quando o Sporting já se preocupava mais em fazer gestão do tempo com domínio de bola. Mas ainda foi capaz de marcar o terceiro, aos 90'+3.
Tanlongo - Em campo desde o minuto 84', quando substituiu Ugarte, destacou-se por um magistral passe longo de 40 metros que deu início ao nosso terceiro golo. Promete.
A esta hora em que posso escrever já muito se disse da partida de ontem em Alvalade, pelo que me vou resumir a comentar o desempenho dos actores mais relevantes no que se assistiu.
Mas antes vou dizer uma coisa que cada vez mais me parece relevante. Muitos dos que comentam e opinam não vão aos jogos e assim não conseguem perceber muito do que se passou em campo. Funcionam apenas pelo que a TV mostra e outros dizem relativamente ao assunto. Isso explica muita opinião descabida e muitos ódios de estimação que alguns têm com um ou outro jogador. Não indo não fazem nem ideia do que o jogador realmente vale, porque muito do que ele faz dentro do campo não passa na TV, sendo que quem lá vai e os segue muitas vezes se surpreende com os que eles afinal conseguem fazer ou não.
Mas vou então entrar no comentário do tal desempenho:
1. Treinador Rúben Amorim. Entre a teimosia e a determinação vai uma pequena distância, no fundo são os resultados que decidem. E o 3-4-3 de Amorim mais uma vez demonstrou a sua valia em termos de controlo do jogo, de criação de oportunidades sem as consentir ao adversário. Mas também o pivot ofensivo de referência mostrou que o ataque móvel não interessa ao Sporting: ataca mais e marca menos e defende muito pior. A conclusão que eu tiro é que entre as ilusões de uns e os maus desempenhos doutros o Sporting hipotecou muito do que tinha a ganhar esta época.
2. Equipa. Do onze inicial àquele que finalizou a partida notou-se uma grande cumplicidade e entreajuda dentro do campo, sem baratas tontas descomprometidas com o resultado que não percebem o que andam ali a fazer, ou em crise de identidade. E com os mais novos Israel, Diomande, Ugarte, Tanlongo e Chermiti a demonstrarem que aquilo afinal não é assim tão complicado para quem quiser lá chegar. E há outros no banco e na B com imenso potencial a aguardar oportunidade. E uma grande evolução de quase todos ao longo da época.
3. Jogadores. Nuno Santos é um caso à parte, entre o génio e o louco. Ontem marcou o golo da sua carreira, e sendo assim o que ficou por marcar em Arouca fica definitivamente esquecido. Diomande é um caso à parte e não digo mais nada, n´A Bola fala-se em substituir o (vou poupar os adjectivos) Pepe depois de naturalizado na Selecção Nacional. Esgaio é o tal pé frio que tem de ir a Fátima. Se aquela bola baixasse mais um nadinha, mais a assistência para o golo, competiria com o Nuno Santos para o melhor em campo. O adiantamento de Pedro Gonçalves, além de golos e assistências, possibilita um triângulo móvel no miolo com Morita e Ugarte que muito valoriza o modelo de jogo da equipa.
4. Árbitro. Não sei se recebe e quanto pelo coração pelo Benfica e pelos favores pelo Porto, ou outra coisa qualquer, mas a verdade é que já não falando doutras épocas e dos três penaltis de Coates sobre Taremi, João Pinheiro foi determinante no ano passado para a vitória do campeonato pelo Porto, ao convencer o árbitro Hugo Miguel (e ele levou quase 5 minutos a convencer-se) a assinalar penálti favoravel ao Braga em Alvalade a abrir a 2.ª parte, quando o Sporting vencia por 1-0, e a expulsar Coates no clássico do Dragão. Ontem a sua arbitragem foi mais uma vez um nojo, mostrando amarelos pelos gritos teatrais dos jogadores do Boavista e fazendo vista grossa a uma carga para penálti e expulsão mais que evidente sobre Trincão. Aqui estou completamente contra a política do nosso presidente e do diálogo construtivo com Fontelas Gomes, acho que é mesmo caso para um pedido de veto a João Pinheiro acompanhado dum relatório exaustivo das decisões erradas que nos custaram pontos e títulos. Não tem condições para apitar o Sporting, isso é evidente. Na Grécia e na Europa parece que só fez porcaria ultimamente. Que vá apitar os Benfica-Porto que há muitos, iniciados incluidos.
5. Claque, no caso Juveleo. Desculpem lá, mas com o Sporting em luta com Porto e Braga pelo segundo lugar, trocarem os cânticos pelo Sporting pelos cânticos contra o Benfica, e fecharem os olhos ao lance para penálti que ocorreu à vossa frente continuando nas cantorias e no espectáculo piroténico como se nada fosse (ao contrário do jogo com o Arsenal), só demonstram que andam a correr em pista própria, sem qualquer respeito pelos interesses do clube a que pertencem.
E assim, comparando com a primeira volta, vamos com mais 8 pontos, e é por aí que temos mesmo de ir. Ganhando todos os jogos até ao final o terceiro lugar é quase certo e o segundo se calhar também. E com isso o acesso directo à Champions do próximo ano.
Nuno Santos, figura do jogo, marcou aos 17' um belíssimo golo que fez levantar o estádio
Foto: Manuel de Almeida / Lusa
Gostei
Da nossa quarta vitória consecutiva.Triunfo claro, categórico, indiscutível, do Sporting em casa frente ao Boavista: 3-0. Com golos aos 17', 43' (autogolo de Salvador Agra) e 90'+3. Foi também o terceiro desafio seguido na Liga sem sofrermos golos. E não perdemos há cinco jogos em mais do que uma competição. Merece registo: estamos na melhor fase da época.
De Nuno Santos. O homem do jogo. Marcou um golaço, daqueles de levantar um estádio. Golo de letra, a merecer nota artística e a ovação da noite. Um dos melhores golos que tenho visto em Alvalade desde sempre. Foi ele a iniciar a vitória, valendo-nos os três pontos. É ele a "assistir" Agra no autogolo que ampliou a nossa vantagem mesmo à beira do intervalo. Aos 10', já tinha dado o aviso com um belo passe de trivela a isolar Esgaio, que permitiu a intervenção do guarda-redes Bracalli. Infatigável, ainda fez um excelente centro aos 90'.
De Ugarte. Regressou ao onze após um jogo de castigo e fez uma partida quase perfeita, recuperando tudo quanto havia para recuperar (26', 38', 54'). Corte providencial aos 61', quando a bola se dirigia para a baliza após perda de Gonçalo Inácio. Tem uma intuição rara na ocupação do espaço do nosso meio-campo defensivo. Dá a impressão de crescer de jogo para jogo.
De Morita. O japonês teve fôlego para o desafio inteiro: grande capacidade física do princípio ao fim, como médio de transição em parceria exemplar com Ugarte. Aos 89' ainda tentou o golo num remate rasteiro a sair bem perto do poste. Muito forte também nas recuperações (20', 24', 54'). As dúvidas de alguns adeptos já foram dissipadas: é um dos nossos grandes reforços desta época.
De Esgaio. Fez um dos melhores jogos desde que regressou ao Sporting. Muito activo no corredor direito, com propensão atacante enquanto Diomande lhe garantia as dobras defensivas, teve a baliza à sua mercê aos 10' quando surgiu com perigo no segundo poste. Aos 52', culminou um excelente lance individual com forte remate que fez a bola embater na barra. É dele a assistência para o nosso terceiro, marcado por Paulinho no penúltimo minuto do tempo extra.
De Diomande. Voltou ao onze inicial, actuando como central à direita na ausência de St. Juste. Missão cumprida. Transmite a sensação de já jogar há muito no Sporting: nem parece ter chegado só neste mercado de Inverno nem ser tão jovem: apenas 19 anos. Transmite segurança e confiança à equipa.
De Paulinho. Entrou apenas aos 72', substituindo Chermiti, e voltou a fazer o gosto ao pé encostando após centro milimétrico de Esgaio para fixar o resultado. Apenas o seu quarto golo no campeonato 2022/2023, mas a verdade é que marca há três jogos seguidos. Teremos goleador enfim?
Da nossa capacidade física. Nem parecia que tínhamos jogado três dias antes, também em casa, contra o Arsenal. Primeira parte muito intensa, em velocidade acelerada, transições muito rápidas, quase todo esse período disputado no meio-campo do Boavista. Nos 15 minutos iniciais já havíamos registado três oportunidades claras (duas por Chermiti, uma por Esgaio). Atitude forte, níveis de movimentação elevados. A merecer aplauso dos adeptos.
De termos mais oito pontos do que na primeira volta em jogos com as mesmas equipas. É caso para dar razão ao Pedro Boucherie Mendes: desta vez fomos, em boa parte, vítimas dos caprichos do calendário.
Não gostei
Da ausência de Adán. Pela primeira vez num desafio deste campeonato, o nosso guarda-redes titular esteve ausente. Poupado por queixas musculares. Resta ver se recupera a tempo do Arsenal-Sporting. Mas Franco Israel - na sua estreia como titular da nossa baliza em desafios do campeonato - pareceu sempre bem entre os postes, embora com pouco trabalho: raras vezes a equipa adversária o incomodou.
Do árbitro João Pinheiro. Nunca desilude: é sempre muito mau. Desta vez, aos 59', fez vista grossa a um claro derrube de Trincão em falta para penálti, dentro da área, poupando Malheiro, do Boavista, ao correspondente cartão vermelho nessa jogada promissora para golo quando o nosso avançado só tinha o guarda-redes pela frente.
Do Boavista. Nenhuma oportunidade de golo, nem um remate digno desse nome: a turma treinada por Petit parece ter pedido emprestado o "nome de guerra" do técnico. Há oito épocas consecutivas que não nos marca um só golo para o campeonato em Alvalade. Só custa perceber como perdemos com esta equipa na primeira volta, no estádio do Bessa.
De só haver 27.353 espectadores em Alvalade. Os horários, associados aos preços dos bilhetes, continuam a afugentar público do nosso estádio - mesmo havendo qualidade do espectáculo garantida, como sucedeu nestes dois mais recentes desafios. Temos sido claramente penalizados na marcação dos jogos no confronto com os nossos maiores rivais. Não faz sentido isto continuar assim.
De não termos encurtado distâncias. Como as equipas situadas à nossa frente também venceram, continuamos 15 pontos abaixo do Benfica, sete pontos abaixo do FC Porto e cinco pontos abaixo do Braga à 24.ª jornada.
Paulinho: figura em foco ao marcar os dois golos do Sporting contra o Arouca
Foto: Paulo Cunha / Lusa
Gostei muito de ver o Sporting chegar ontem à quinta final da Taça da Liga em seis temporadas - troféu que vencemos nas duas últimas épocas, já com Rúben Amorim ao comando da equipa. Levamos 12 jogos seguidos sem perder nesta competição. Desta vez derrotámos o Arouca por 2-1, em jogo disputado no estádio Magalhães Pessoa, em Leiria. Domínio total leonino no primeiro tempo, com 1-0 ao intervalo - resultado que só pecava por escasso. O segundo tempo esteve muito mais equilibrado, mas foi com inteira justiça que nos qualificámos para a final, a disputar no sábado, muito provavelmente contra o FC Porto.
Gostei de Paulinho, autor dos dois golos do Sporting, à ponta-de-lança, apontados aos 45'+6 e aos 82'. Confirma-se: o nosso avançado-centro, tão perdulário nos desafios do campeonato, tem vocação especial para marcar na Taça da Liga, onde leva já oito facturados nesta edição: merece ser distinguido como melhor em campo. Destaque também para o excelente desempenho de Nuno Santos, protagonista dos melhores cruzamentos desta meia-final. Quase marcou de livre directo num remate em arco muito bem colocado (45'). É dele a assistência para o segundo golo.
Gostei pouco da quebra da nossa equipa na primeira metade do segundo tempo, quando voltámos a pecar pelo defeito do costume: recuámos no terreno, parecendo estar a defender a magra vantagem conseguida ao intervalo. Algo incompreensível, que deu moral ao Arouca. Foi neste período (58') que a equipa adversária marcou o seu golo, aproveitando a má definição da nossa linha de fora-de-jogo e com Adán parecendo mal batido no lance.
Não gostei de Esgaio, o mais fraco do onze titular leonino. Foi a maior surpresa reservada por Rúben Amorim para esta meia-final, mas a diferença do desempenho dele na comparação com o habitual dono da posição, Pedro Porro, é abissal. O que suscita legítimas dúvidas sobre o futuro imediato da nossa equipa se o internacional espanhol abandonar dentro de dias o Sporting rumo ao Tottenham.
Não gostei nada de ver St. Juste substituído aos 64' para dar lugar a Gonçalo Inácio, que desta vez ficou de início no banco. O central holandês, que chegou aureolado de grande reforço para a nossa temporada 2022/2023, persiste em evidenciar débil condição física após quatro lesões sucessivas em sete meses. Até agora só conseguiu disputar uma partida do princípio ao fim. Algo preocupante, atendendo sobretudo ao facto de se tratar de um jogador que custou 9,5 milhões de euros ao Sporting.
Nuno Santos, em grande forma, celebra o segundo golo leonino da noite de anteontem
Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
Acabou por saber a pouco. Com 3-0 ao intervalo, e o triunfo a começar a ser construído logo aos 3', num golo de cabeça de Porro correspondendo a primoroso passe de Nuno Santos, adivinhava-se goleada em Alvalade. Acabou por não acontecer. No segundo tempo tirámos o pé do acelerador e passámos a gerir o resultado contra ao Paços de Ferreira, "lanterna vermelha" do campeonato, que apenas tem 2 pontos em 14 jogos.
É verdade que o primeiro tempo decorreu a um ritmo vertiginoso, com o Sporting a acelerar pelas alas: os dois extremos deram nas vistas. Pareciam concorrer ao título de melhor em campo, competição acentuada quando Nuno Santos marcou o segundo, de frente para a baliza, empurrando-a por gentileza de Edwards. Estávamos no minuto 22: os 31 mil adeptos presentes no nosso estádio tinham motivos para se sentirem satisfeitos.
Em ambos os golos Pedro Gonçalves - que fez duo com Dário na linha do meio-campo, competindo-lhe a ligação imediata à linha ofensiva - marcou presença. No primeiro, foi ele a servir Nuno Santos, em pré-assistência. No segundo, conduziu o veloz contra-ataque colectivo.
Faltou ao transmontano brilhar naquilo em que foi exímio na sua primeira época de verde-e-branco: metê-la lá dentro. Teve duas oportunidades para isso: aos 48', após centro milimétrico de Nuno Santos, fez a bola rasar o poste; e aos 72', quando o excesso de ansiedade o levou a rematar por cima. Não podemos pedir-lhe que construa jogo e converta, tudo em simultâneo. Ao jogar mais recuado, por imperativo táctico, a veia goleadora vai esmorecendo.
Quem parece renascido como goleador é Paulinho. Neste encontro com o Paços encerrou a contagem, aos 45', desta vez com assistência de Porro, num cabeceamento cheio de pontaria. Foi o seu sétimo golo em seis partidas consecutivas, contando com a Taça da Liga. Este é o Paulinho dos melhores tempos em Braga. Mereceu brinde e ovação dos adeptos ao ser substituído, aos 79'. Cinco minutos antes, o lateral esquerdo Antunes, da equipa forasteira, teve o mesmo tratamento das bancadas: os adeptos não esquecem que ele foi um dos obreiros do nosso título de campeão em 2020/2021.
O nosso sector mais recuado esteve irrepreensível (Adán fez a primeira defesa aos 41'), o meio-campo interior não se ressentiu da inédita parceria Dário-Pedro Gonçalves e ao trio mais ofensivo só faltou maior produção de golos: Trincão e Edwards desta vez ficaram em branco, com o inglês a centímetros de marcar aos 8' e aos 38'.
Rúben Amorim está a cumprir o que prometeu: aposta mesmo nos jovens. Além de Dário, desta vez titular, mandou saltar do banco Rodrigo, Mateus Fernandes (aos 79') e Sotiris (em campo desde os 85'). O jovem médio, de apenas 17 anos, assumiu o papel mais ingrato na desgastante missão de substituir Ugarte, ausente por castigo. Já muito fatigado, acabou por entrar de sola num lance dividido junto à linha do meio-campo, o que lhe valeu um vermelho directo. Saiu em lágrimas, confortado com os aplausos do público. É assim que se cresce. É assim que se ganha experiência.
Mateus Fernandes, em menos de um quarto de hora, voltou a demonstrar que merece a confiança do técnico com pormenores de classe. Como quando isolou Rodrigo na grande área, aos 89'. Não custa vaticinar que vai ser craque na equipa principal.
Assim nos despedimos, em ambiente alegre e até festivo, de um ano agridoce para o futebol leonino. Com Coates a ser distinguido pelo presidente Frederico Varandas com um brinde especial, após o fim do jogo, pela tricentésima partida já feita de Leão ao peito. O mais veterano da equipa, um verdadeiro capitão, um verdadeiro campeão.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Foi pouco mais que um espectador durante grande parte do encontro. Mas, quando chamado a intervir, revelou bons reflexos. Renovou contrato: é um bastião desta equipa.
Gonçalo Inácio - O mais discreto dos nossos defesas, pautou a sua exibição pela segurança e pela eficácia. Sem falhas nem deslizes. Canhoto à direita: não tem concorrentes ali.
Coates - Inspira tranquilidade e segurança como comandante da defesa e patrão da equipa. Acalma os colegas quando estão mais ansiosos, pauta o ritmo de jogo na construção.
Matheus Reis - Combina cada vez melhor com Nuno Santos na ala esquerda. Impõe o físico nas bolas divididas. Grande passe para Edwards (8'). Tentou o golo de meia-distância (49').
Porro - Autêntico dínamo do onze titular leonino. Marcou o primeiro, à ponta-de-lança, de cabeça, o que lhe deu ainda mais confiança para uma grande exibição. Assistiu no terceiro.
Dário - Desta vez substituiu como titular o ausente Ugarte. E cumpriu a missão, no essencial, como médio defensivo. Viu o vermelho directo aos 82' por falta desnecessária.
Pedro Gonçalves - Sacrifica a veia goleadora pela construção de lances ofensivos em prol do colectivo. Missão de sacrifício bem executada: dois dos golos começaram nos pés dele.
Nuno Santos - Está em grande forma: isso nota-se cada vez que busca a bola e a endossa aos colegas lá na frente. Foi assim logo aos 3'. E também marca: o segundo foi dele.
Edwards - Parece às vezes algo apático e até fora das jogadas, mas é uma questão de estilo. Porque poucos tratam bem a bola como ele neste onze. Assistiu no segundo, aos 22'.
Trincão - Rende mais como interior esquerdo, onde evidencia todos os seus dotes técnicos. Bom trabalho aos 31' e 36'. Podia ter feito melhor aos 60', quando atirou ao lado.
Paulinho - Estará, em definitivo, recuperado como goleador? Se não é, parece. Desperdiçou aos 31, mas aos 45' meteu-a lá dentro. E podia ter bisado, aos 58', num remate à queima.
Jovane - Primeiro suplente utilizado, em estreia na Liga 2022/2023, rendeu Edwards aos 71'. Ainda distante da boa forma que chegámos a ver-lhe noutras épocas. Falta-lhe confiança.
Arthur - Substituiu Nuno Santos aos 71' já em fase de alguma contenção da nossa parte. Desta vez não protagonizou nenhum daqueles vistosos lances a que nos tem habituado.
Mateus Fernandes - Entrou muito bem, substituindo Pedro Gonçalves aos 79'. Tem bom toque de bola, visão estratégica, gosta de disputar a bola. Está no rumo certo.
Rodrigo - Rendeu Paulinho aos 79'. Cheirou o golo aos 89', quando atirou ao lado. Agora que renovou contrato será certamente utilizado bastante mais vezes.
Sotiris - Último a entrar: substituiu Trincão aos 85'. Continua a não saber utilizar da melhor maneira a força física. Podia ter visto novo cartão amarelo em lance dividido.
Primeiro, saiu-me um risinho de pura ansiedade. Se a coisa ficar feia, é o primeiro a acariciar o senhor árbitro, vão ver. Foi o que pensei mas, felizmente, não foi o que aconteceu.
Um poço sem fim de garra e querer que muito honra o símbolo do Sporting, este nosso camisola 11.
«Nuno Santos é um jogador acima da média: a sua presença em campo move com o jogo e marca golos que definem o pendor da partida, pode não ser um fora-de-série, mas sabe vestir a camisola com um profissionalismo irrepreensível.»
Nuno Santos festeja após "bomba" que virou o resultado (59')
Um dos chavões mais batidos do futebol diz-nos que "isto não é como começa, mas como acaba". A frase até enjoa, de ser tão utilizada, mas aplica-se como uma luva a este difícil desafio que travámos na noite de sábado ao receber o Casa Pia, recém-promovido ao principal escalão do futebol português.
Há 84 anos que os "gansos" não competiam na primeira divisão nacional. Desde a época 1938/1939, quando os defrontámos e vencemos em duas partidas. Restam muito poucos adeptos vivos desses tempos em que o Sporting passeava classe em qualquer campo do país, na era imediatamente anterior à dos 5 Violinos.
Suámos e sofremos para vencer este Casa Pia dos nossos dias. Que estava à nossa frente na classificação antes de começar o jogo, num merecido quarto posto. Por ter vencido quatro desafios fora de casa: em Guimarães, no Funchal, em Famalicão e Paços de Ferreira.
Impusemos-lhe, à décima ronda, a primeira derrota como equipa visitante. É quanto basta para atestar o valor da turma orientada pelo treinador Filipe Martins e com jogadores de bom nível, como Ricardo Batista, Vasco Fernandes, Fernando Varela, Godwin, Clayton e Romário Baró. O primeiro, guarda-redes, chegou a jogar na nossa equipa A. O último passou pela formação leonina, mas distinguiu-se sobretudo no FC Porto.
O Sporting entrou com mais velocidade do que nas seis partidas anteriores para todas as competições em que havia registado quatro derrotas (contra Boavista para a Liga, contra o Varzim para a Taça e duas contra o Marselha na Liga dos Campeões). Percebia-se que desta vez os nossos jogadores queriam pressionar alto e marcar cedo.
Podiam tê-lo feito se a pontaria fosse mais certeira (Edwards pareceu imitar Bryan Ruiz logo aos 5', falhando à boca da baliza, e Trincão disparou para as nuvens com tudo à sua mercê, aos 20') ou o guardião casapiano não se revelasse em grande forma (negando o golo a Morita e Pedro Gonçalves).
A verdade é que, contra a corrente de jogo, foram eles a marcar. Numa arrancada vertiginosa que deixou a nossa defesa plantada e Adán sozinho perante Clayton, que a meteu lá dentro. No minuto 43', que prometia ser fatídico.
Fomos para o intervalo a perder, escutavam-se sonoros assobios aos jogadores na famigerada Curva Sul, parecia iminente um novo cenário de pesadelo, digno de voltar a pôr tudo em causa neste clube tão bipolar.
Mas a pausa fez bem ao Sporting. Também ao treinador, que tomou as decisões que mais se impunham: mandou sair um desinspirado Trincão, trocando-o por Paulinho, encostou Edwards à linha direita, o lugar adequado para ele, e manteve Morita alguns metros mais adiantado, reforçando o nosso caudal ofensivo. Marsà, magoado, ficou no balneário e Chico Lamba, estreante na primeira equipa, entrou no seu lugar.
O facto é que resultou. Em dois minutos, virámos este jogo disputado anteontem. Aos 57', com Paulinho, a emendar de cabeça uma defesa incompleta de Batista nesta sua estreia como marcador na Liga 2022/2023. E aos 59', por Nuno Santos, numa bomba que o habilita a melhor em campo e desde já se candidata a golo do ano. Porro esteve em ambos os lances, rematando no primeiro e assistindo no segundo.
Aos 65', o tento da tranquilidade. Apontado por Pedro Gonçalves, de penálti, para castigar falta sobre Edwards e logo assinalada pelo árbitro Helder Malheiro.
Até ao fim, só deu Sporting. Já em modo menos fogoso, pensando no desafio europeu que nos aguarda esta quarta-feira em Londres, contra o Tottenham. Deu ainda para trocar Pedro Gonçalves por Arthur, Porro por Nazinho e Ugarte por Mateus Fernandes - outra estreia absoluta no primeiro escalão leonino.
No final, para variar, não houve assobios. Tudo está bem quando acaba bem.
Breve análise dos jogadores:
Adán- Pouco trabalho, desta vez como capitão. Nada podia fazer no golo sofrido, pouco antes do intervalo. Antes, aos 15', tinha visto uma bola bater no poste. Defesa vistosa aos 54'.
Gonçalo Inácio- Chegou a assustar num choque na primeira parte que o forçou a jogar com touca protectora. Começou à direita mas fez todo o segundo tempo no eixo da defesa.
Marsà - Com Coates, Neto e St. Juste ausentes por lesão, o esquerdino catalão vai ganhando espaço na defesa, mesmo jogando à direita. Tocado, já não entrou para a segunda parte.
Matheus Reis- É lateral adaptado a central e nota-se em certas jogadas, como a do golo sofrido, em que coloca o adversário em posição legal. Uns furos abaixo do que já mostrou.
Porro- Dínamo da equipa, junto com o colega da ala oposta. Dominou o corredor direito. Essencial no primeiro golo, com um disparo para defesa muito apertada. Assistiu no segundo.
Ugarte- Médio de contenção, cumpriu no essencial. Travando o passo ao Casa Pia, atento às recuperações (uma notável, aos 77'). Tentou marcar na meia-distância, ainda sem sucesso.
Morita- Vem apurando a classe de jogo para jogo. O melhor do nosso primeiro tempo, com qualidade de passe nas transições ofensivas. Esteve quase a marcar aos 40'.
Nuno Santos- Ninguém o bate em intensidade e na entrega ao jogo. Voltou a ser o mais inconformado. Recompensado com o excelente golo que marcou aos 59'. Indefensável.
Trincão- Amorim continua a apostar nele como titular, mas tarda em mostrar serviço. Perde-se em fintas e não sabe muito bem o que fazer com a bola. Cedeu lugar a Paulinho aos 54'.
Pedro Gonçalves - Clara subida de forma. Quase marcou aos 7'. Ofereceu golo a Trincão aos 20'. Um tiro aos 33' que Ricardo parou. Remate cruzado a rasar o poste (49'). Marcou enfim, aos 65'.
Edwards - Engolido pela defesa adversária enquanto andou algo perdido no eixo do ataque, melhorou com a entrada de Paulinho, que o desviou para a direita, seu terreno preferencial.
Chico Lamba- A maior surpresa desta partida. Lançado em estreia por Amorim, fez todo o segundo tempo, substituindo Marsà. Cumpriu. É ele a iniciar a jogada do nosso golo aos 57'.
Paulinho- Funciona melhor como suplente utilizado? Deu ideia que sim. Entrou aos 54', marcou (de recarga) três minutos depois. O seu primeiro nesta Liga. Muito móvel, arrastou marcações.
Arthur- Rendeu Pedro Gonçalves aos 72'. Entrou com a energia revelada na estreia como Leão contra o Tottenham. Desta vez não marcou mas ganhou canto. Também apoiou a defesa.
Nazinho- Substituiu Porro aos 78'. Sem complexos. Esquerdino no corredor direito, esteve prestes a marcar quando, isolado por Lamba, rematou rente ao poste aos 82'.
Mateus Fernandes - Entrou para o lugar do quase esgotado Ugarte (78'). Estreia absoluta na equipa principal, premiando o seu bom trabalho na equipa B. Atirou por cima aos 85'.
Nuno Santos lidera os festejos após marcar um golaço aos 59'
(Foto: Manuel de Almeida / Lusa)
Gostei
Dos três pontos arrancados ao Casa Pia. Valeu a pena, em noite chuvosa, assistir a este jogo contra uma equipa que no início da partida estava à nossa frente na classificação. Equipa bem organizada e competente, que se encontra por mérito próprio numa posição muito confortável da Liga 2022/2023, o que só aumenta o mérito deste triunfo, por 3-1, em Alvalade.
De Morita. Melhora de jogo para jogo. Pedra angular do meio-campo leonino, o japonês vai-se assumindo como maestro da equipa naquela zona do terreno. Neste embate com o Casa Pia redobrou a influência por ter jogado uns metros mais à frente do que vinha sendo habitual. Pequena subtileza táctica que rendeu frutos. Esteve muito bem na recuperação, no passe, no apoio directo ao ataque. Hoje só lhe faltou o golo.
De Porro. Veloz e acutilante, foi sempre uma flecha apontada ao Casa Pia, dominando o corredor direito. Sobretudo na segunda parte, em que deu largas à sua capacidade ofensiva. Participação directa nos nossos dois golos de bola corrida: o primeiro num colocadíssimo remate em arco para defesa incompleta do guarda-redes, que possibilitou a recarga; o segundo ao fazer um magnífico passe cruzado que atravessou toda a largura do campo e funcionou como assistência.
De Nuno Santos. Merece ser considerado o melhor nesta partida. Revela-se agora um dos nossos jogadores mais consistentes. Aos 27 anos, entrou num ciclo de maturidade enquanto profissional do futebol, assumindo-se como líder da equipa. Nos minutos iniciais, incentivando as bancadas a puxarem pelo Sporting. E ao marcar o golaço que nos valeu os três pontos, logo correu para abraçar Rúben Amorim - talvez a imagem mais icónica deste jogo à chuva, demonstrando ânimo e união. Para contagiar os adeptos. O golo merece ser revisto, uma vez e outra.
De Paulinho. Funcionou como arma secreta do treinador, que o mandou saltar do banco aos 54'. Ouviu aplausos quando pisou a relva e correspondeu da melhor maneira, marcando o nosso primeiro golo apenas três minutos depois. À ponta-de-lança, de cabeça, numa recarga à queima-roupa muito oportuna. Ajudou a arrumar a frente ofensiva e a incutir-lhe consistência - tudo quanto Trincão fora incapaz de fazer antes dele.
Das estreias. Amorim tinha prometido apostar a partir de agora nos mais jovens e cumpriu: a renovação está em marcha. Com duas estreias absolutas no plantel principal em jogos do campeonato. A merecerem nota positiva: Chico Lamba (que fez a segunda parte, no lugar de Marsà) e Mateus Fernandes (substituindo Ugarte aos 78'). Além de Nazinho (que rendeu Porro aos 78'), em estreia na Liga 2022/2023. Que tenha sido o primeiro de muitos jogos deles de verde e branco no primeiro escalão.
Da reviravolta. Pela primeira vez nesta temporada, em que já disputámos 15 jogos, virámos um resultado negativo. Com uma segunda parte quase sem falhas, dominada por completo pelo Sporting, não deixando o adversário progredir nem conquistar espaço. Revelámos capacidade anímica, algo de que andávamos claramente carecidos.
Dos golos. Três, em apenas oito minutos, ditaram o resultado. O de Paulinho aos 57', o de Nuno Santos aos 59' e o de Pedro Gonçalves aos 65', convertendo uma grande penalidade por derrube de Edwards que o árbitro Helder Malheiro entendeu ter sido à margem da lei. Amorim, junto ao banco, nem quis olhar. Mas a bola entrou mesmo.
Que tivéssemos subido ao quarto lugar. Continuamos a ver o Benfica nove pontos à nossa frente. Mas diminuímos a distância face ao FC Porto, derrotado pelos encarnados no Dragão. Agora o segundo classificado, o Braga, tem apenas mais três pontos que o Sporting. Aumenta a emoção nos lugares de perseguição ao líder do campeonato.
Não gostei
Das numerosas oportunidades de golo que falhámos. Registei estas: Edwards aos 5', Trincão aos 20' e 52', Pedro Gonçalves aos 33' e 49', Morita aos 40' e Nazinho aos 82'. Várias foram anuladas pela boa exibição do guarda-redes Ricardo Batista - que chegou a jogar no Sporting com Paulo Bento. Mas outras, mesmo à boca da baliza, foram puro desperdício.
De Trincão. Passou ao lado do jogo. Sem criar desequilíbrios, sem conseguir lances de ruptura, trapalhão no domínio da bola, inconsequente no momento do remate. Nada fez hoje para justificar a titularidade, excepto uma bola que mandou ao poste aos 52'. Bem substituído por Paulinho dois minutos depois.
Da saída de Marsà. O jovem catalão, novamente titular no eixo da defesa devido à prolongada lesão de Coates, já não regressou para a segunda parte. Espera-se que seja mero impedimento temporário, a ver se contamos com ele no próximo desafio, contra o Tottenham, em Londres. Já basta termos Neto, St. Juste e o capitão uruguaio fora de combate devido a problemas físicos.
Do 0-1 ao intervalo. O Casa Pia, num contra-ataque veloz, apanhou toda a nossa defesa desposicionada e meteu-a lá dentro aos 43', por Clayton, sem hipóteses de defesa para Adán. Um balde de água fria em Alvalade, que registava hoje pouco mais de meia casa: havia 26.679 espectadores.
De mais um golo sofrido. Continuamos a somar jogos com a nossa baliza muito permeável: já vão sete seguidos. Treze golos encaixados em dez desafios da Liga 2022/2023.
Dos assobios à equipa no final da primeira parte. Não havia necessidade. É assim que estes adeptos imaginam conseguir moralizar os jogadores?
Terceira derrota em sete jogos da Liga 2022/2023. Desta vez foi no Bessa, anteontem, frente a um Boavista mais objectivo e eficaz, que soube anular o nosso processo de jogo, demasiado previsível, e ensanduichar o chamado "trio dinâmico" leonino entre as duas linhas mais recuadas.
Nas bolas aos ferros, empatámos. Mas do nosso lado, após 20 minutos prometedores, imperou o cansaço. Potenciado pelo facto de Rúben Amorim ter entrado em campo com o onze inicial que enfrentara o Tottenham quatro dias antes. As primeiras alterações por imperativos tácticos ocorreram só ao minuto 75.
No nosso melhor lance, construído por Nuno Santos com um magnífico passe de letra para o golo de cabeça de Edwards, à ponta-de-lança, parece ter-se esgotado o fôlego da equipa. Estavam decorridos 55 minutos. A partir daí impunha-se um refrescamento que não aconteceu enquanto o Boavista criava perigo pelo nosso sector mais vulnerável, o corredor direito, onde Porro se adiantava em excesso e Gonçalo Inácio, novamente central à direita, era lento ao acorrer às dobras.
Voltámos a sofrer dois golos.
O primeiro na pior altura possível, aos 45'+2: assim se foi para o intervalo, O segundo de penálti, aos 83'. Nessa altura já estavam em campo Paulinho e Arthur, certamente por fezada do treinador, que procurava reeditar os golos em rajada que nos deram a vitória contra o Tottenham para a Liga dos Campeões na terça-feira da semana passada.
Mas a receita desta vez não resultou. E algumas opções do técnico foram incompreensíveis. Deixar em campo um apagadíssimo Pedro Gonçalves, por exemplo, enquanto fazia sair Nuno Santos, visivelmente contrariado, até porque estava a ser o melhor dos nossos. E teimar na opção por Esgaio, que é extremo de formação, tem rodagem como lateral mas foi chamado para central à direita, com Gonçalo a deslocar-se para o meio tentando compensar a saída de Coates, por lesão.
Tudo muito difícil de entender. A verdade é que à sétima jornada o panorama não é nada animador. Já perdemos onze pontos em 21 disputados, seguimos em oitavo lugar no campeonato (atrás de Portimonense, Boavista, Casa Pia e Estoril), temos a quinta pior defesa da Liga (pior, só Marítimo, Paços de Ferreira, Arouca e Rio Ave) e apresentamos agora a terceira pior classificação do século à sétima jornada. Já com tantas derrotas como no total dos 34 jogos disputados em 2021/2022.
Assim, com franqueza, não vamos lá.
Breve análise dos jogadores:
Adán- Encaixou dois golos (um deles de penálti) sem ter culpa em qualquer dos lances. O primeiro, de Bruno Lourenço, era totalmente indefensável.
Gonçalo Inácio- Regresso à posição de central do lado direito. Deixou-se ultrapassar duas vezes no lance do primeiro golo axadrezado. Atravessa crise de confiança.
Coates - Errou mais passes do que é habitual, mostrando-se longe do fulgor físico. As suspeitas confirmaram-se: saiu aos 70', agarrado à coxa.
Matheus Reis- Central à esquerda, foi um dos jogadores que acusaram maior cansaço e menor discernimento neste embate no Bessa. Longe do brilho contra o Tottenham.
Porro - Voluntarioso, num contínuo vaivém, preocupou-se sobretudo em municiar o ataque. Foi descurando missões defensivas, desguarnecendo o flanco.
Ugarte - Jogador-operário. Eficaz nas recuperações e no apoio ao processo defensivo, mostrou-se sempre muito dificíl de ultrapassar. Cada vez mais útil.
Morita- Combinou bem com Ugarte, completando-o na ligação com o ataque. Serviu Pedro Gonçalves num golo que viria a ser anulado por deslocação de Edwards.
Nuno Santos- O nosso melhor em campo. Veloz, acutilante, intenso, combativo. Assistência para o golo de Edwards, com magnífico passe de letra. Um espectáculo.
Trincão- Apagado, talvez por cansaço. Revela uma tendência irritante para fazer reviengas em vez de jogar simples. Mandou uma bola à trave de pé direito (39').
Pedro Gonçalves - Melhor momento: o golo que marcou aos 23'. Mas não valeu. Isso parece tê-lo desanimado. Esteve muito longe do seu melhor.
Edwards- Terceiro golo do inglês, naquele seu jeito de quem parece jogar de pantufas. Marcou de cabeça, aos 55'. Mas também ele revelou cansaço.
Esgaio- Entrou aos 71' para render Coates, actuando como central à direita. Quase nada lhe saiu bem. Aos 81' cometeu um penálti escusado. Custou-nos a derrota.
Arthur - O reforço ex-Estoril substituiu Nuno Santos aos 75'. Sem qualquer vantagem para a dinâmica ofensiva da equipa quando precisávamos de marcar.
Paulinho- Rendeu Trincão aos 75'. Amorim deve ter sonhado que o avançado iria reeditar aquele precioso golo ao Tottenham. O sonho não se tornou realidade.
Rochinha- Substituiu Morita aos 86'. Quase sem tempo para mostrar o que vale, quando a equipa já jogava muito com o coração e pouco ou nada com a cabeça.
De outra derrota.Desta vez no Bessa: perdemos 1-2. Onze pontos desperdiçados em 21 possíveis. Um desastre, o início da Liga 2022/2023. Não há outra palavra para descrever este percurso ainda curto, com apenas três triunfos (Rio Ave, Estoril, Portimonense), somados a um empate (Braga) e três derrotas (FC Porto, Chaves e agora Boavista). Os axadrezados não nos venciam há 18 jogos em casa, desde a Liga 2007/2008.
De Rúben Amorim. Há que apontar o dedo ao treinador. Por dois motivos: comete o erro de repetir o onze inicial da partida anterior, da Liga dos Campeões, contra o Tottenham - com o desgaste daí inerente - e só se convence que tem mesmo de mexer na equipa já muito tarde: as primeiras substituições por opção técnica e táctica ocorreram só aos 75'.
Da lesão de Coates. Exemplo mais evidente da fadiga muscular que afectou vários jogadores, aos 70' o nosso capitão agarrou-se à coxa e fez sinal que precisava de sair. A equipa ressentiu-se de imediato da ausência dele, até porque Amorim viu-se forçado a fazer adaptações - o que nem sempre tem dado bom resultado, como voltou a acontecer.
Do excesso de lesionados. Neste momento, com a lesão de Coates (oxalá não seja grave), ficámos sem centrais destros de raiz. Após as paragens de St. Juste (que será feito dele?) e Neto. Motivo de grande preocupação, até por estarmos ainda na fase inicial da temporada.
De Esgaio. O treinador persiste na tendência de adaptar laterais a centrais. Insistiu nisto, com péssima consequência: tendo Marsà no banco, optou por fazer entrar Esgaio para o lugar do lesionado Coates, aos 71', enquanto Gonçalo Inácio transitava de central à direita para o meio do trio defensivo. Má opção: dez minutos depois, o ex-Braga cometeu o penálti de que viria a nascer a vitória axadrezada. Penálti evidente, de escola - e escusado. Aos 90'+4, desposicionado lá na frente, abriu uma avenida ao contra-ataque adversário que felizmente não causou estragos.
De Pedro Gonçalves. Lamento escrever isto, mas passou ao lado do jogo. Andou desaparecido grande parte do tempo, entalado entre as duas linhas do Boavista, sem capacidade de penetração na área nem de protagonizar lances de ruptura. É verdade que chegou a introduzir a bola na baliza, aos 23', mas estava fora-de-jogo. Foi um dos elementos que acusaram maior desgaste físico.
De Trincão. Outro jogador que devia ter ficado fora do onze titular. Muito abaixo das exibições anteriores, frente ao Portimonense e ao Tottenham, embrulhou-se demasiado com a bola, dando-lhe quase sempre um toque a mais. Aos 39', com o seu pior pé, atirou à barra, mas foi desaparecendo da partida. Saiu tarde de mais, só aos 75'.
Do resultado ao intervalo. Perdíamos 0-1, deixando o Boavista marcar mesmo ao fim da primeira parte (45'-2), num lance em que Gonçalo Inácio - novamente a pecar por falta de intensidade - e Coates foram incapazes de travar o portador da bola, que num ressalto é atirada lá para dentro, de zona frontal, num excelente disparo em arco de Bruno Lourenço sem a menor hipótese de defesa para Adán. Nunca há bons momentos para sofrer golos, mas este foi um dos piores.
Dos golos sofridos. Já são dez, nestes sete jogos. Começa a encurtar-se perigosamente a distância para o número dos que encaixámos em todo o campeonato anterior: apenas 23.
Da classificação. Iniciámos esta jornada em sétimo lugar. Já fomos ultrapassados pelo Estoril, que hoje empatou em casa com o FC Porto. E corremos o risco de baixar ainda mais. Além de podermos ver amanhã o Benfica a onze pontos, com 21.
Gostei
Dos nossos alas. Merecem ambos nota positiva: foram, de longe, os melhores do Sporting nesta noite triste - rápidos e acutilantes. Nuno Santos um pouco acima de Porro por ter feito a assistência para o nosso golo solitário, marcado por Edwards aos 55'. Com um magnífico passe de letra a merecer nota artística. Ficou insatisfeito ao ser substituído por Arthur, aos 75', e com razão. Foi um dos raros que mantiveram o nível da partida anterior, frente ao Tottenham.
De Edwards. Por ter marcado o golo leonino - de cabeça, à ponta-de-lança - dando o melhor rumo ao excelente cruzamento de Nuno Santos. E criou vários desequilíbrios. Não foi por ele que deixámos três pontos no Bessa.
Gostei muito da nossa vitória (2-0) contra o Tottenham desta noite em Alvalade. Segundo triunfo consecutivo na Liga dos Campeões após a recente goleada frente ao Eintracht na Alemanha. Já lideramos o nosso grupo da Champions, com seis pontos, cinco golos marcados e nenhum sofrido. Ganhamos balanço para fazermos a nossa melhor prestação de sempre na prova máxima do futebol, embolsámos mais 2,8 milhões de euros graças a esta vitória e voltamos a apresentar uma equipa que faz lembrar a da conquista do campeonato há 16 meses. Mudam as peças, mas o colectivo mantém-se sólido. Agora com organização defensiva reforçada (apesar de termos dois centrais lesionados), a procura do golo acentua-se e o conjunto leonino demonstra não recear nenhum adversário, seja em que prova for: enfrentamos qualquer um de olhos nos olhos. Para alegria dos adeptos.
Gostei de quase todos os jogadores, embora alguns mereçam menção especial. Começando por Nuno Santos, que fez talvez a sua melhor exibição de Leão ao peito. Combativo, batalhador, recuperou bolas, ganhou duelos, sem dar um lance por perdido, partiu os rins a Emerson em vários confrontos individuais, fazendo-lhe marcação cerrada. E criando constantes desequilíbrios no seu corredor, que patrulhou com eficácia. Destaque também para Edwards, protagonista do mais belo lance do jogo, aos 45'+2, parecendo imitar Maradona ou Messi ao entrar como faca por manteiga pela defensiva do Tottenham - clube onde se formou. Lance que só não deu golo (tal como outro, aos 67') devido a magníficas defesas de Lloris. Adán, Ugarte, Pedro Gonçalves e Matheus Reis também estiveram muito bem. Mas o Sporting ganha o jogo devido à visão de Rúben Amorim, que lançou do banco os marcadores dos dois golos: Paulinho entrou aos 76' e meteu-a lá dentro de cabeça, na sequência de um canto, aos 90'; e o estreante Arthur Gomes, que entrou aos 90'+2. Em estreia absoluta de verde e branco, marcou o seu golo inaugural no primeiro (e único) minuto em que esteve em campo e na primeira vez que tocou na bola, partindo meia defesa do Tottenham. Estreia de sonho: o céu é o limite.
Gostei poucoque o número de espectadores ontem em Alvalade estivesse abaixo de 40 mil. Em rigor, havia 39.899 nas bancadas - número inferior às expectativas, atendendo ao facto de recebermos uma das cinco melhores equipas da Premier League. Também é verdade que o horário do jogo, nesta terça-feira, não ajudou: a partida tinha início marcado às 17.45 - creio que foi a primeira vez que o Sporting jogou em casa a esta hora para a Liga dos Campeões. Mas o mais importante é que quem lá esteve não regateou incentivos em forma de cânticos e de aplausos aos jogadores.
Não gostei do desempenho dos craques do Tottenham, uma das melhores equipas inglesas da última década: o Sporting conseguiu anular Son, Richarlison e Harry Kane. Que até estavam bem mais folgados que os nosso craques, pois a turma londrina não disputou a jornada do passado fim-de-semana, com o Manchester City como adversário. Também não gostei de ver Eric Dier, que esteve nove anos em Alvalade, jogar desta vez contra nós: mantenho a esperança de voltar a vê-lo de verde e branco.
Não gostei nada, uma vez mais, de ouvir o Hino da Champions ser assobiado por centenas ou até milhares de adeptos no nosso estádio. Insisto: é uma enorme estupidez. Esta gente parece que preferia ver o Sporting excluído da liga milionária. Questiono-me se também exigirão à administração da SAD que devolva de imediato os 5,6 milhões de euros que receberemos só pelos primeiros dois jogos nesta prova 2022/2023. Tão elevado encaixe financeiro também lhes dará vontade de assobiar?
Num dos jogos mais frustrantes da época, em que só não saímos vencedores graças à escandalosa arbitragem do senhor João Pinheiro, aplaudimos um dos nossos melhores golos da temporada. Sobretudo pela soberba jogada colectiva: 42 segundos de puro futebol, com a bola a transitar de baliza a baliza sempre ao primeiro toque, com toda a equipa envolvida (14 toques no total). O desfecho foi assim: Matheus Nunes coloca-a em Matheus Reis, que a leva a sobrevoar a área portista para Sarabia, atento ao segundo poste, cruzar recuado e ali surgir Nuno Santos a encostar sem contemplações. Tudo bem feito.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre NUNO SANTOS:
- José Navarro de Andrade: «O que verdadeiramente conta é o que cada peça faz no seu lugar. Por exemplo: quando joga Jovane em vez de Nuno Santos, porque são jogadores diferentes, que fazem coisas diferentes na mesma posição, é claro que a bola tem de lá chegar de maneira diferente e é óbvio que sairá de lá de maneira também diferente.» (22 de Agosto)
- Edmundo Gonçalves: «À parte algumas paragens cerebrais de Neto, Inácio e Nuno Santos, que nos custaram o encaixe de três golos, numa boa parte do tempo de jogo até nos batemos de igual para igual com os holandeses (eu sou antigo), que jogaram quase na força máxima, ao invés de nós.» (7 de Dezembro)
- Luís Lisboa: «Tem a cabeça no ataque e descura as tarefas defensivas.» (14 de Janeiro)
- Eu: «Com transbordante energia, impondo-se no seu corredor como extremo à moda antiga, em contínuo desgaste da defesa contrária. Numa das suas movimentações cheias de velocidade, foi derrubado em falta: o lance, aos 20', originou penálti, convertido por Sarabia no minuto seguinte. Destacou-se pela qualidade dos seus cruzamentos (...). Mesmo sem marcar, desta vez, destacou-se como melhor em campo.» (2 de Maio)
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Gil Vicente pelos três diários desportivos:
Nuno Santos: 18
Palhinha: 17
Sarabia: 17
Porro: 16
Edwards: 15
Pedro Gonçalves: 15
Matheus Nunes: 15
Matheus Reis: 15
Neto: 15
Gonçalo Inácio: 14
Rodrigo Ribeiro: 13
Adán: 13
Ugarte: 12
Vinagre: 12
Paulinho: 12
Daniel Bragança: 6
Os três jornais elegeram Nuno Santos como melhor em campo.
Sem Slimani nem Paulinho, um na porta de saída outro a contas com uma mazela qualquer, Rúben Amorim recorreu mais uma vez à frente móvel Edwards-Sarabia-Pedro Gonçalves, apoiada por dois alas bem abertos e através duma circulação de bola mais rápida que o habitual (excepto quando chegava a Neto), o Sporting dominou, criou oportunidades e conseguiu o 2-0 contra o Gil Vicente.
No entretanto alguns jogadores davam umas baldas (Inácio e Neto à cabeça) que originavam lances perigosos do Gil, felizmente sem resultado.
No entretanto também, Adán com a bola nas mãos choca com um adversário que não disputa a bola e apenas se mete à frente dele, o árbitro vê aquilo que eu vi, e o VAR ao contrário daquele João Pinheiro do Sporting-Braga, não interfere, como também não interferia se tivesse sido marcado penálti. É um lance de interpretação, mas falar em "negligência, imprudência e força exagerada" como faz o ressabiado Duarte Gomes quando Adán consegue chegar e agarrar a bola e obviamente não consegue saltar por cima do adversário, é mais que negligência como comentador de arbitragem, é má fé mesmo.
Mais inteligente foi o comentador da Sport TV que andou para ali 5 minutos a tentar demonstrar que antes do contacto a bola já tinha escorregado das mãos de Adán e por isso ele chocou com o adversário, que se tivesse a bola segura não era mas que assim havia uma bola em disputa e era. Temos então dois comentadores separados no entendimento da lei, mas juntos na certeza do penálti. É o que temos. Dois medíocres ex-árbitros com contas para saldar.
Voltando ao jogo. A seguir ao segundo golo, estranhamente ou talvez não, o Sporting relaxou, começou a correr mais para a frente e menos para trás, deixou partir o jogo, a velocidade dos jogadores do Gil começou a fazer mossa, surgiu o 2-1 e podiam ter surgido outros. Resumindo, para o que foi a primeira parte, o 2-1 acabava por ser lisonjeiro para o Sporting.
A segunda parte foi completamente diferente. Um Sporting mais competente e um Gil mais cansado, o terceiro golo não demorou muito, os lances de perigo para o Gil sucederam-se e só a enorme exibição do seu guarda-redes brasileiro de 20 anos, ex-Botafogo (Alô, Hugo Viana), impediu um resultado mais volumoso.
Desta vez as substituições pouco adiantaram, excepto no caso do jovem Rodrigo Ribeiro que tem mesmo pinta de jogador, embora para alguns não estivesse ali a fazer nada, devia era estar a lutar pelos títulos dos juvenis ou dos juniores.
Melhor em campo, de longe, Nuno Santos. Sarabia acertou um remate, falhou uma dúzia.
E assim conseguimos um dos objectivos mais importantes, talvez o maior de todos, desta época, o acesso directo à Champions, que vai permitir desafogo financeiro, retenção de talento e preparação atempada da próxima época.
Supertaça, Taça da Liga, passagem da fase de grupos da Champions, acesso directo à Champions da próxima época, nada mau mesmo. Graças a Rúben Amorim.
Da goleada em Alvalade. Vencemos por 4-1 - sem margem para discussão - a brava equipa de Barcelos, que ocupa o quinto lugar no campeonato e ambiciona aceder à Liga Europa. Este Gil que tinha vencido em Braga e na Luz, e conseguiu impor um empate no Dragão mesmo a jogar só com dez durante quase toda a partida. Fomos, portanto, o único dos três "grandes" a derrotar este conjunto muito bem orientado por Ricardo Soares - treinador que desta vez não esteve no banco por cumprir castigo.
Do nosso caudal atacante. Dominámos todo o desafio - desde os minutos iniciais, em que entrámos de pé no acelerador. Tivemos posse de bola com qualidade, fazendo-a rolar rumo à baliza adversária, sem a desperdiçar com trocas inconsequentes e estéreis no nosso reduto. No final da primeira parte já tínhamos 12 remates, sete dos quais enquadrados.
Do bom registo ofensivo sem ponta-de-lança. Nestes dois últimos jogos, marcámos sete golos dispensando um avançado fixo dentro da grande área. Eficaz ataque móvel, com dinâmica colectiva e constantes rotações de posição funcionaram para baralhar as defesas adversárias. Os resultados falam por si.
De Nuno Santos. Excelente exibição do filho da D. Fátima - desta vez os jogadores tinham os nomes das mães estampados nas camisolas - com transbordante energia, impondo-se no seu corredor como extremo à moda antiga, em contínuo desgaste da defesa contrária. Numa das suas movimentações cheias de velocidade, foi derrubado em falta: o lance, aos 20', originou penálti, convertido por Sarabia no minuto seguinte. Destacou-se pela qualidade dos seus cruzamentos - aos 24', 60' e 75' (este a partir do corredor direito). Um desses passes a rasgar, lá na frente, originou autogolo de Lucas Cunha, aos 53'. O nosso terceiro. Mesmo sem marcar, desta vez, destacou-se como melhor em campo.
De Porro. O jovem internacional espanhol está de volta às grandes exibições. O filho de D. Carmen recuperou bolas, ganhou lances divididos, acelerou o jogo na ala direita, fez soberbos cruzamentos aos 26' e aos 51'. Novamente em grande forma.
De Adán. Sem culpa no golo sofrido, aos 45'+2, o filho de D. Toni merece destaque por este simples facto: tornou-se ontem no único jogador de todas as equipas utilizado em todos os minutos da Liga 2021/2022, cumprida agora a 32.ª jornada. Demonstração inequívoca da sua extrema utilidade e da sua qualidade entre os postes. Titular indiscutível, a ele muito devemos o facto de o Sporting ser a equipa menos batida do campeonato, com apenas 21 golos sofridos.
De Edwards. Não deslumbrou, mas justifica destaque por ter apontado o segundo golo leonino, num remate de ressaca, aproveitando da melhor maneira uma bola que lhe sobrou após defesa incompleta do guardião gilista a cabeceamento de Neto, aos 36'. Um golo importante: foi a estreia do inglês vindo de Guimarães como goleador de Leão ao peito no nosso estádio.
Do regresso de Pedro Gonçalves aos golos. Ganhou um penálti e foi ele a convertê-lo, aos 63'. O filho da D. Maria voltou assim a fazer o gosto ao pé após mais de dois meses de jejum, selando o resultado desta partida após uma primeira parte muito apagada. Os adeptos compensaram-no com fortes aplausos ao ser substituído por Vinagre, ia decorrido o minuto 67.
De Rodrigo Ribeiro. Estreia do promissor júnior formado em Alcochete, com 17 anos recém-festejados, como sénior em Alvalade. Rendeu Sarabia aos 84' e correspondeu às expectativas com um remate cruzado muito perigoso a rasar a baliza, aos 86' e uma boa acção individual aos 89', empolgando os adeptos. O filho da D. Mariana tem bom toque de bola, sem margem para dúvida. Valor a ter em conta no Sporting do futuro.
Dos remates de meia-distância. Tem havido vários jogos sem um só para amostra, do nosso lado. Desta vez houve pelo menos três. Por Nuno Santos (5'), Porro (32') e Pedro Gonçalves (57'). A merecer destaque pela positiva.
De Andrew. O jovem guarda-redes da equipa minhota, com apenas 20 anos, foi uma das figuras da partida. Impedindo o Sporting de avolumar a vantagem. Eis um nome a reter.
Do árbitro. Estreia de Miguel Nogueira, aos 28 anos, a apitar um jogo com equipa grande. Merece nota positiva. E votos para que tenha sucesso nesta actividade.
De termos assegurado o segundo maior objectivo da época. Com esta vitória, garantimos o acesso directo à próxima edição da Liga dos Campeões. Segunda presença consecutiva na prova máxima do futebol europeu ao nível de clubes. E mais cerca de 40 milhões de euros a caminho do cofre de Alvalade.
De vermos adiada a decisão definitiva do título. O FCP, que jogará com o Benfica na tarde do próximo sábado, queria celebrar por antecipação. O nosso triunfo frente ao Gil Vicente impediu os portistas de concretizarem este sonho. Agora, concentração máxima para o nosso embate. Também no sábado, mas só após o outro jogo: vamos enfrentar o Portimonense.
De somarmos agora 79 pontos. Podemos igualar a pontuação da época passada, que nos garantiu o título de campeões nacionais. Faltam dois jogos.
Não gostei
Da ausência de Coates. Com queixas físicas, o nosso capitão desta vez ficou de fora. E fez falta. O Gil Vicente marcou três golos, dois dos quais anulados por foras-de-jogo milimétricos, dando a ideia, sobretudo na primeira parte, que podia desestabilizar o nosso reduto defensivo, ontem desprovido do seu líder natural.
Do amarelo a Neto. Capitão em vez do internacional uruguaio, o filho da D. Rosa ficará ausente do próximo desafio por acumulação de cartões. Foi bem sancionado por falta dura - e desnecessária - aos 83'. Mas até podia tê-lo visto mais cedo, noutro lance ríspido que protagonizou.
Do 2-1 que se registava ao intervalo. Sabia a pouco.
De outro desperdício de Paulinho. Suplente utilizado, o avançado ex-Braga rendeu Edwards aos 56'. Com uma actuação que voltou a saber a pouco. Isolado por Sarabia aos 60' com um primoroso toque de calcanhar, rematou sem a devida acutilância, permitindo a defesa de Andrew a cerca de 6 metros da baliza. De golo "cantado" a golo falhado. As oportunidades perdidas vão-se acumulando no seu currículo.
Da fraca adesão dos adeptos. Bancadas demasiado despidas nesta bem disputada partida de futebol. Apenas 25.425 espectadores no Estádio José Alvalade.
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