Explosão de alegria de Quenda ao marcar pela primeira vez na Liga: o mais jovem Leão de sempre
Foto: Manuel Fernando Araújo / Lusa
Por motivos óbvios, ligados ao próprio desenvolvimento de outros factos dentro do Sporting, só hoje escrevo esta crónica. Seis dias depois do jogo, mas ainda a tempo - o próximo realiza-se logo à noite.
Era uma partida que muitos receavam.
Sobretudo os do costume: os que antecipam sempre o pior, os que se intitulam leões mas têm mentalidade de gatinhos, os que convivem muito mal com o hábito reiterado de ganhar, os que preferem carpir mágoas em torno do eterno fracasso, os que insistem em proclamar que "o sistema não nos deixa vencer". Mesmo tendo nós vencido metade dos campeonatos já disputados nesta década de tão boa memória.
Defrontámos, nesse dia 26, uma das raras equipas que têm mantido registo ascendente nos últimos anos do campeonato português. Ainda por cima em casa dela - precisamente o mesmo palco em que na jornada inaugural da Liga 2024/2025 o Benfica foi ao charco, perdendo 0-2.
Para azar dos profetas da desgraça, nenhuma negra previsão se cumpriu nesta partida em que o Sporting alinhou de cor-de-rosa como símbolo de combate ao cancro da mama, ainda um flagelo em Portugal.
Voltámos a vencer. Voltámos a convencer. Voltámos a ganhar por mais de dois golos de diferença, como temos feito sempre até agora. Dominámos do princípio ao fim. Israel só fez uma defesa ao minuto 66, passando quase todo o tempo como mero espectador.
Algo insólito, para os padrões a que a melhor equipa portuguesa nos habituou, foram os golos só terem surgido após o intervalo.
Mas vieram muito a tempo.
O primeiro, marcado pelo suspeito do costume. Viktor Gyökeres, aos 57', numa rotação perfeita dentro da área, servido de bandeja por Morita, incansável "carregador de piano", como se dizia na gíria futebolística da geração anterior. Naquele instante, adquirimos todos a certeza de que os três pontos já não nos fugiam.
Só faltava dilatar o resultado.
Assim aconteceu. Por Quenda, aos 63', em recarga após remate inicial de Trincão: justíssimo prémio para o mais recente talento gerado na fábrica de campeões da Academia de Alcochete. Melhor em campo nesta partida, estreou-se a marcar no campeonato. E estabeleceu novo recorde, tornando-se o mais jovem leão de sempre como artilheiro na prova máxima do futebol português. Superando Simão Sabrosa e Cristiano Ronaldo.
Ainda houve tempo e espaço para mais um golo fixando o resultado: 3-0. Autor: Gonçalo Inácio. Com primorosa assistência de Geny, outro jovem talento já de méritos firmados.
Em destaque pela negativa, a lesão de Nuno Santos. Ocorrida no final do longo tempo extra da primeira parte, numa tentativa de disputa de bola sem falta. Sofreurotura do tendão rotuliano do joelho direito, Já foi operado, mas deve ficar incapacitado para o resto da época. Baixa de relevo no onze titular.
Vai certamente sofrer muito pelos seus companheiros, agora só com estatuto de observador enquanto recupera da lesão.
Mas está de certeza cheio de orgulho por ter contribuído para este Sporting que sonha com o bicampeonato há mais de 70 anos.
Vamos no bom caminho. Nove jornadas, nove vitórias, 30 golos marcados e só dois sofridos. Melhor defesa, melhor ataque, melhor goleador (Gyökeres). Permanecemos inexpugnáveis, tanto em casa como fora. Aliás até com melhor registo fora: cinco triunfos, com 20 golos marcados - média de quatro por partida.
O sonho vai tornar-se realidade. Todos acreditamos nisso.
Todos? Não. Os do costume só acreditam no desaire, no infortúnio, na desgraça, na derrota, na eterna conspiração do destino contra nós.
Nada de novo. Sempre foram assim.
Breve análise dos jogadores:
Israel (6) - Pouco mais foi do que espectador: o Famalicão atacou pouco e viu quase sempre as vias de acesso à nossa baliza cortadas. Fez a primeira defesa aos 66', sem problema.
Debast (7) - Seguro, em duas posições. Começou como central à direita, passando para o meio aos 71'. Inicia o terceiro golo com soberbo passe para Geny a queimar linhas.
Diomande (6) - Regressou de lesão sem acusar problemas motivados pela paragem. Travou vários duelos com Aranda, levando a melhor. Saiu aos 71' para evitar maior desgaste.
Gonçalo Inácio (7) - Após alguma oscilação, volta a evidenciar grande forma. Sobretudo no passe longo: aconteceu aos 29' e aos 77', servindo colegas lá na frente. Marcou o terceiro.
Quenda (8)- O mais jovem goleador de sempre no Sporting em jogos do campeonato, com 17 anos e cinco meses. Aconteceu aos 63'. Festejou - e todos festejámos com ele.
Morita (7) - Regressou a titular. E foi um dos obreiros deste triunfo com cheiro a goleada. Excelente assistência para o primeiro golo num movimento de ruptura.
Daniel Bragança (7) - Já lhe chamam o Pirlo português - e não parece exagerado. Pensa o jogo, temporiza, faz constante pressão sobre a bola. Iniciou construção do segundo golo.
Nuno Santos (6) - Aos 11', centrou com eficácia: foi golo. Mas anulado por deslocação do autor, Pedro Gonçalves. Bom corte aos 29'. Lesionou-se gravemente pouco antes do intervalo.
Trincão (7) - Mesmo quando não marca, como foi o caso, dá espectáculo com o seu virtuosismo técnico. Quase fez golo aos 45'+4. É dele o remate inicial que gerou a recarga no segundo.
Pedro Gonçalves (5) - Regressou de lesão seis jogos depois. Ainda com falhas na dinâmica a que nos habituou entre linhas. Marcou aos 11, mas estava adiantado. Durou uma hora.
Gyökeres (8)- Ele gosta é de jogar. E de marcar. Voltou a acontecer com um golaço aos 57', só ao alcance de grandes talentos. Prodígio de técnica, de intenção e de colocação.
Geny (7) - Fez toda a segunda parte, substituindo Nuno Santos. Dominou ala esquerda, depois a direita, impedindo avanços adversários. Foi dele o centro para o terceiro golo.
Morten (6) - Retomou a braçadeira de capitão ao entrar, no minuto 64', substituindo Pedro Gonçalves. Contribuiu para tornar ainda mais impermeável o nosso meio-campo.
Maxi Araújo (4) - Substituiu Quenda aos 71'. Continua sem encontrar ainda o lugar onde verdadeiramente mais rende. Mas vai-se esforçando por isso.
St. Juste (5) - Substituiu Diomande aos 71'. Parece em boa forma após longas semanas de lesão. Fez corte providencial.
Harder (-) - Entrou aos 82', com a saída de Morita. Já a equipa geria o resultado confortável. Ainda viria a marcar o terceiro, sem intervenção do jovem dinamarquês.
Eu tive um e chamávamos-lhe Nuno Maluco. Acredita que é verdade, passou-se há mais quarenta anos, mas é verdade.
Era o tipo tramado, o chato. O teimoso.
O gajo que nunca estava satisfeito com nada.
Era o gajo que dizia e insistia e teimava que o porteiro nos havia de deixar entrar e que valia a pena fazer mais 50 quilómetros para ir àquela discoteca, mesmo que já fossem quatro da manhã.
Era o gajo que dizia que se via bem, que era para continuar o jogo, mesmo quando a luz do poste estava fundida e a lua coberta pelas nuvens - nem se via a bola quanto mais a baliza feita com dois calhaus. O nosso Nuno era o gajo que ia à baliza mesmo com gesso no braço, o herói que conseguia sempre que nos vendessem bolos às três manhã e que convencia o taxista a levar seis.
O Nuno que cada um teve a sorte de ter na vida, assim pró baixote, cabelo rapado, ia sempre à frente, decidido, confiante, maluco, sempre leal, corajoso, era o primeiro a ir defender os amigos.
Nunca teríamos sido o que somos sem o nosso Nuno.
O Sporting nunca teria sido campeão nestas duas últimas vezes sem o Nuno Santos.
Carrega, Nuno. Não desistas. Fica aí, mesmo sentado na marquesa.
Precisamos de ti. Voltarás mais forte, é essa a tua natureza.
Com Nuno Santos infelizmente incapacitado para o resto da época, com uma rotura do tendão rotuliano do joelho direito, quem deve ser o seu sucessor natural? Até que ponto esta baixa pode prejudicar a dinâmica da equipa? Receiam que o onze leonino venha a ressentir-se desta ausência?
De vencer o Famalicão. Conquistámos os três pontos num terreno habitualmente difícil, onde o SLB tombou logo na primeira jornada, perdendo 0--2. Dominámos por completo. Impusemos o nosso ritmo, o nosso caudal ofensivo, a nossa inegável superioridade física, técnica e táctica. O jogo terminou 3-0, com o Sporting mais perto de marcar o quarto do que a equipa visitada de conseguir o tento de honra. Israel só fez uma defesa digna desse nome em toda a partida, aos 66'.
De Quenda. Marcou o nosso segundo golo, aos 63', num pontapé de ressaca: o seu golo de estreia na Liga. Foi o mais jovem jogador leonino de sempre a facturar no campeonato nacional de futebol. Com apenas 17 anos, 5 meses e 27 dias. É também ele a iniciar o primeiro. Merece, sem favor algum, ser designado melhor em campo.
De Gyökeres. Desbloqueou o jogo: estava escrito que voltaria a não ficar em branco - e foi o que aconteceu aos 57': recebe a bola de Morita na área, faz uma rotação perfeita libertando-se da marcação e fuzila as redes num remate indefensável. Pôs fim à reputação defensiva da equipa minhota: antes desta partida o Famalicão só tinha um golo sofrido em casa, destacando-se como segunda melhor defesa da Liga. Agora já não é. O craque sueco leva 12 marcados neste campeonato.
De Gonçalo Inácio. Outra estreia a marcar na Liga. Foi dele o terceiro, dando a melhor sequência a um centro perfeito de Geny, aos 86'. Assim culminou uma enorme exibição no plano defensivo, não apenas a travar investidas da turma anfitriã mas desenhando passes a romper linhas, como sucedeu aos 29' e aos 77'.
De Trincão. Não marcou, mas trabalhou imenso para a equipa, impondo o seu virtuosismo técnico. Remate rasteiro a rasar o ferro aos 33'. Quase marcou aos 45'+4: corte in extremis de um central. Tem intervenção decisiva no segundo golo, confirmado na recarga por Quenda. Imparável a actuar entre linhas e a baralhar marcações com as suas constantes variações de velocidade.
De Daniel Bragança. Tornou-se imprescindivel no onze titular. Voltou a ser o pensador da equipa, elemento fundamental no excelente jogo colectivo do Sporting. Faz sempre pressão sobre o portador da bola e, ao recuperá-la, sabe colocá-la no sítio certo. Influente na construção do segundo golo: começa nos pés dele.
Dos regressos. Diomande, Morita e Pedro Gonçalves voltaram a ser titulares. No primeiro e no terceiro caso, após lesões. O nipónico na sequência de mais uma participação pela selecção do seu país que envolve sempre deslocações demoradas e cansativas. Nenhum deles está ainda na melhor forma, embora o médio ande já perto disso, como demonstrou no movimento de ruptura de que nasceu a assistência para o primeiro golo.
De termos disputado 30 jogos em sequência sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota (1-2) aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, em Guimarães, a 9 de Dezembro. E vamos com 18 triunfos nas últimas 19 partidas disputadas para a maior competição do futebol português.
De ver o Sporting marcar há 51 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde Abril de 2023, perante o Gil Vicente (0-0). Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
De não sofrermos um golo há 680 minutos. Outra marca extraordinária nesta Liga 2024/2025.
De continuarmos inexpugnáveis, tanto em casa como fora. Sem uma derrota no ano civil em curso, que começa a aproximar-se do fim.
De Gustavo Sá. Médio criativo do Famalicão, internacional sub-21: confesso que é um jogador de que gosto muito. Saiu lesionado, infelizmente, aos 43'.
Do árbitro. Boa actuação de Fábio Veríssimo, de quem não temos boas recordações. Mas desta vez cumpriu no essencial, sem nenhum erro digno de registo. Incluindo numa disputa de bola entre Diomande e Aranda que Freitas Lobo teimava em ver penálti (mas não foi) e no golo de Gonçalo, que Freitas Lobo insistia ter sido em fora-de-jogo (mas não foi).
Do balanço após mais de um quarto da prova. Melhor ataque (30 golos), melhor defesa (só dois sofridos), melhor goleador. Comando isolado. Desde 1973/1974 que não facturávamos tanto nas primeiras nove rondas. Ainda não vencemos, até agora, por menos de dois golos de diferença. Temos a equipa mais forte do campeonato português, como até muitos benfiquistas e portistas admitem. Perseguimos um objectivo que nos foge há sete décadas: a conquista do bicampeonato. Estamos no bom caminho.
Não gostei
Da lesão de Nuno Santos. O aguerrido ala esquerdo magoou-se com gravidade numa disputa de bola, bem ao seu jeito, tendo saído de maca aos 45'+8. Vai estar, no mínimo, algumas semanas fora de competição.
Do golo anulado. Aconteceu aos 11': marcado por Pedro Gonçalves, de regresso ao onze seis jogos depois, com assistência de Nuno Santos. Mas não valeu: havia ligeira deslocação, assinalada pelo VAR.
Do 0-0 ao intervalo. Não traduzia, de todo, o intenso domínio leonino forçando o Famalicão a entrincheirar-se no seu reduto. A muralha só começou a ruir ao minuto 57. E acabou por cair com estrondo. Demos três à equipa que tinha levado o Benfica ao tapete.
São estes jogos que vão definir o campeão, o rendimento da equipa depois duma jornada da Champions, com um misto de jogadores, uns cansados outros vindos de lesão, uma equipa muito complicada do outro lado a procurar a sua sorte.
A solução é como na música clássica: seguir a partitura e evitar as notas soltas.
Um dia o Hjulmand e o Bragança, noutro dia o Morita e o Bragança, um dia o Esgaio, o Debast e o Inácio, no outro o Debast, o Diomande e o Inácio, e tudo funciona da mesma forma, o que fazer em cada posição está interiorizado, Debast na direita parece Inácio do outro lado e no meio parece Diomande. Voltou o Pote, ainda sem pilhas para 90 minutos, mas logo mostrou a sua mais-valia.
Se nas primeiras épocas de Amorim sempre havia alguém que não correspondia, um falhava aqui, outro comprometia acolá, agora é mesmo complicado designar o pior em campo. Todos os que jogaram de início estiveram a nível muito alto, os que entraram depois não comprometeram.
O Famalicão muito tentou, defendeu com bravura e atacou com intencionalidade, mas muito pouco conseguiu. Talvez pudesse ter marcado um, mas ficou perto de sofrer meia dúzia. Israel fez uma boa defesa, mas foi a única. Um guarda-redes de equipa grande é assim mesmo.
Melhor em campo? Eu diria Bragança: enorme exibição dum jogador que teve uma evolução incrível post-lesão e que merece ser titular na selecção. Mas qual Vitinha...
Arbitragem? Muitas decisões menores em prejuízo do Sporting, no essencial Fábio Veríssimo cumpriu e não inventou. Se calhar porque o avançado do Famalicão não é aquele batoteiro que o Porto vendeu não sei para onde. Ou o outro que fugiu no termo do contrato.
E agora? Descansar, repousar e rezar para que o Nuno Santos não tenha nada de grave. Foi uma entrada dura mas leal daquele jogador tipo Oceano que não me importava de ver no Sporting, o Zaydou Youssouf.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre NUNO SANTOS:
- Luís Lisboa: «Estava num dia de passear o penteado, e nesses dias a única coisa que se pode fazer é deixá-lo na cabine ao intervalo.» (5 de Outubro)
- Edmundo Gonçalves: «Não lembra ao diabo meter o Nuno Santos, que não defende.» (12 de Novembro)
- José da Xã: «O que mais me faltava era dizer que aquela obra de arte de Nuno Santos e que daria o terceiro golo do Sporting fora bem invalidado. Nem pensem nisso.» (2 de Março)
- Pedro Boucherie Mendes: «É provável que seja impossível ter sucesso sem um jogador com esta fibra, tarimba e sabedoria de como estar no campo. Espero que vá ao Europeu.» (6 de Maio)
- Eu: «Voltou a ser elemento decisivo, reforçando o estatuto de titular absoluto neste Sporting campeão. Assistência magistral para o golo de Paulinho após corrida bem sucedida para evitar que a bola saísse pela linha de fundo. É ele também quem isola Morita, aos 20', num lance de que resultaria o penálti desbloqueador do empate a zero.» (19 de Maio)
- Francisco Almeida Leite: «É claramente um jogador de seleção e para uma competição como o Euro.» (22 de Maio)
1. Nuno Santos É provável que seja impossível ter sucesso sem um jogador com esta fibra, tarimba e sabedoria de como estar no campo. Espero que vá ao Europeu.
2. Quaresma A redenção deste defesa feito de Sporting é umas das histórias mais bonitas da temporada.
3. Departamento médico A ciência tem sido um dos principais aliados dos treinadores e jogadores, em todos os clubes. Este ano, os nossos discretos médicos, massagistas e fisioterapeutas estiveram à altura.
4. Os fãs Por todo o lado, em especial nas redes, no estádio e pelo país. Acredito que o apoio seja importante para os atletas, técnicos e dirigentes, muitos dos quais não sabem que nos anos 80 nos chamavam a “melhor massa associativa do mundo”.
O que fãs e adeptos têm feito é um justo legado aos sofredores do antigamente.
5. Os outros Como Matheus Reis, Israel, Esgaio, Geny, St. Juste. Em muitas fases da época, o Sporting foi uma equipa com 15 ou 16 titulares.
6. O VAR Falo por mim, mas tão importante como Varandas, Viana e Amorim, tem sido o VAR.
Não que o Sporting precise do empurrão do VAR, mas não há êxito possível sem que o jogo seja igual para todos. Para ganhar, o Sporting precisa de equidade. Por exemplo, desde que há VAR, tornou-se muito mais difícil invalidar golos limpos.
Noutro tempo, e falando do jogo com o Portimonense, nos velhos tempos seria simples anular o primeiro golo (“por fora-de-jogo”) e o terceiro (por “pé em riste do Bragança” ou "falta do Viktor sobre o defesa"). Quem viveu o futebol dos 80 e 90, sabe bem do que eu estou a falar. Aliás, basta lembrar o soco que um jogador nosso levou num jogo recente e que não foi ao VAR para se perceber como o “não haver VAR” pode influir.
Quantos atletas, dirigentes e treinadores do Sporting dos oitenta e noventa não teriam tido palmarés diferentes se o VAR existisse no tempo deles?
Por acaso gostava que Nuno Santos fosse ao Europeu. Não há clubes campeões sem jogadores daqueles - raçudos, tensos, talentosos, competitivos.
As traves deste Sporting são Ruben, são Coates, são o Viana, a sorte, o azar dos outros, o Var, mas também têm muito de nunosantismo, aquela dimensão de talento com agressividade e provocação que destestamos nos adversários.
Seria justíssimo que fosse ao Europeu. Quero crer que caso acontença, não ficará nota de rodapé.
«Nuno Santos. Ultimamente é moda dizer que ele é limitado tecnicamente, que não ataca o defesa como o Porro ou mesmo o Geny, que só passa para trás ou para o lado. Se se pesar aquilo que ele traz de positivo ao jogo (verticalidade, velocidade, garra, centros, cantos, assistências e golos) creio que é bem maior do que a dita limitação. Não fica abaixo do Porro. Está há cerca de quatro anos no Sporting. Nunca foi sequer testado numa convocatória da selecção. Uma enorme injustiça.»
Muita coisa mesmo a correr mal ao Sporting em Vila do Conde. O resultado final até foi menos mau atendendo a tudo o que se passou em campo.
Desde logo o verdadeiro temporal de chuva e vento que acompanhou a partida. Condições que obviamente favoreceram a equipa da casa. Impossível treinar em Alcochete naquelas condições, que prejudicaram os "levezinhos" tecnicistas do plantel como Pedro Gonçalves, que não acertou um cruzamento, Catamo, Morita e Edwards que pouco renderam.
Depois a arbitragem medíocre, um Narciso esfíngico, incapaz de controlar o jogo, que foi permitindo as marcações cerradas com agarrões constantes dos vilacondenses sem pela admoestação pública aos faltosos nem amostragem de amarelos. Só mesmo no final do jogo eles surgiram para limpar os dois erros grosseiros que cometeu, muito por culpa do VAR Nobre também. O primeiro golo do Rio Ave é precedido de agarrão claro ao Pedro Gonçalves e devia ter sido invalidado, Trincão é alvo duma entrada com o pé alto a varrer que o lesiona dentro da área para penálti, não assinalado. Admito, porque tive a mesma sensação, que julgou ver o Trincão armar o remate e acertar na bota do defensor, mas na câmara lateral é óbvio o movimento da bota com os pitons à vista em direcção ao pé do Trincão. Seja imprudente ou negligente, é um claro penálti de VAR.
Depois os erros também grosseiros de Nuno Santos e Adán. Não são os primeiros, e com erros assim não vamos a lado nenhum. Impossível.
De resto, o temporal inclemente, a atitude competitiva do Rio Ave sempre no risco máximo, e as incidências do jogo, que incluiram as lesões de Inácio e Trincão, desmantelaram todo o modelo de jogo do Sporting, que não conseguiu controlar, nem gerir o ritmo, nem jogar bom futebol, limitou-se a correr atrás dos adversários e do prejuízo, e aí Diomande, Coates, Hjulmand e Gyokeres foram fundamentais.
Ou seja, ficou mais uma vez evidente que o Sporting para ser competitivo numa época precisa duma base de jogadores altos e fortes. Ontem Paulinho fez muita falta no banco, e se calhar Nuno Santos e Catamo não deviam ter ido a jogo no início, dando lugar a Matheus Reis e Esgaio, muito mais adequados àquelas condições. Mas depois existe o tal ciclo infernal, e a gestão do plantel pensada para o ciclo, e não se pode ter sol na eira e chuva no nabal.
Melhor em campo? Gyökeres, mouro de trabalho, um grande golo.
Arbitragem? Uma arbitragem marca APAF do tal 6.º melhor classificado da época passada, com o colega VAR a deixá-lo enterrar-se, se calhar compete com ele na classificação. Uma dupla "à maneira", cumprimentos do Paulo Costa.
E agora? Seguir em frente, temos dérbi quinta-feira em Alvalade e vou lá estar, esperando que desta vez não exista uma seita qualquer a comprar bilhetes da central para os revender aos lampiões. Depois a próxima jornada da Liga vai definir muita coisa.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Braga, da meia-final da Taça da Liga, pelos três diários desportivos:
Nuno Santos: 17
Eduardo Quaresma: 17
Pedro Gonçalves: 16
Trincão: 16
Morten: 15
Coates: 14
Israel: 14
Gonçalo Inácio: 13
Daniel Bragança: 12
Edwards: 12
Gyökeres: 11
Esgaio: 10
Matheus Reis: 9
Paulinho: 9
O Record e O Jogo elegeram Pedro Gonçalves como melhor em campo. A Bola optou porNuno Santos.
Gostei muito de ver o estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, cheio de adeptos leoninos. A esmagadora maioria dos 18.500 espectadores, que preencheram mais de 90% das bancadas, puxou pela nossa equipa na meia-final da Taça da Liga, contra o Braga. De falta de apoio nenhum dos nossos jogadores pôde queixar-se.
Gostei da exibição do Sporting durante mais de 60 minutos. Realço os desempenhos de Nuno Santos (para mim o melhor em campo), Eduardo Quaresma, Morten e Pedro Gonçalves. Além de um par de defesas consecutivas de Israel, aos 75', impedindo golos de Victor Gómez e Ricardo Horta. No golo solitário que sofremos, marcado por Abel Ruiz aos 65', o jovem guarda-redes uruguaio não podia fazer nada.
Gostei pouco de ver Gyökeres manietado durante quase todo o jogo pela defesa braguista, sobretudo por Paulo Oliveira (antigo titular do Sporting), que quase não deu espaço ao sueco para desenvolver todo o seu futebol: sem Viktor a 100%, como é sabido, a nossa equipa não rende da mesma forma. E gostei muito pouco - quase nada - da exibição de Esgaio: incapaz de criar dinâmica ofensiva no corredor direito, incapaz de provocar desequilíbrios, no lance do golo do Braga falhou por completo a marcação a Ruiz, que estava há três meses sem facturar.
Não gostei do festival de esbanjamento que protagonizámos nesta meia-final. Com três bolas nos ferros e outras tantas que andaram perto. Aos 13', Pedro Gonçalves fez tremer a baliza adversária com um petardo disparado de 30 metros que embateu no poste. Aos 37', Nuno Santos acertou com estrondo na barra. Aos 45', novamente Nuno, com nota artística, remata de trivela fazendo a bola chocar no ferro. Aos 54', num dos raros momentos em que conseguiu libertar-se da marcação, Gyökeres levou a bola quase a beijar o mesmo poste esquerdo. Aos 59', após boa tabelinha com Trincão, Pedro Gonçalves, encaminha-a rente ao ferro oposto da baliza à guarda de Matheus. Aos 87', Trincão imitou-o. Demasiado desperdício para um jogo só.
Não gostei nadadesta derrota -- a nossa quarta da época, em 30 jogos disputados. Porque nos afasta da Taça da Liga, ficando assim um objectivo por cumprir. Porque foi a primeira partida em que não marcámos nesta temporada. E porque nos quebra uma dinâmica de vitórias: vínhamos de oito desafios seguidos a vencer, três dos quais com goleadas. Resta-nos recuperá-la já no próximo embate do campeonato, frente ao Casa Pia.
Rúben Amorim debaixo de chuva e com ar preocupado em Guimarães: tinha razões para isso
Foto Lusa
Segunda derrota do Sporting no campeonato nacional em curso. Tal como a anterior - quando deixámos perder os três pontos em três fatídicos minutos do tempo extra, de modo quase inacreditável - também nesta foram cometidos demasiados erros para fazermos de conta que não existiram.
O primeiro foi do treinador. Vem insistindo em Esgaio como titular quando é cada vez mais óbvio que este não é um jogador que mereça tal distinção. Rúben Amorim faz excessivas mudanças na defesa - neste caso só uma que se impunha pela ausência de Coates por castigo, mas as alterações voltaram a ser mais extensas. E - erro maior - potenciou um buraco enorme no nosso meio-campo quando mandou sair Morten, talvez com receio de o ver amarelado no próximo clássico com o FC Porto em Alvalade, trocando-o por Paulinho, sem capacidade de retenção da bola nem de conter o caudal ofensivo vitoriano.
Houve jogadores que erraram. Gonçalo Inácio perdeu duas vezes a bola em zona proibida. Matheus Reis é parco em cruzamentos e quando arrisca geralmente sai-se mal. Edwards perdeu todos os confrontos individuais. Trincão mal existiu. Adán - intranquilo, lento a reagir - teve fortes responsabilidades no terceiro golo sofrido. Aquele que nos custou a derrota no Estádio D. Afonso Henriques.
Em noite muito chuvosa, sábado passado. Mais para lembrar do que para esquecer.
Foi um desafio intenso, quase sem pausas, sem tempos mortos, sem antijogo, sem autocarros estacionados. As duas equipas queriam vencer.
No caso do Sporting, a vontade era tanta que o treinador fez tudo para sair de lá com um triunfo quando podia ter trabalhado para o empate que se registava ao minuto 77. Confirma-se que querer não é sinónimo de poder. Razão tem o povo naquele ditado: mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.
Deixámos voar o pássaro. À beira do fim, aos 81', no tal lance em que Adán tremeu. Frente a um Vitória que soube dar sempre luta rija em campo, agora sob a liderança do técnico Álvaro Pacheco, com a sua inconfundível boina.
Péssimo na fotografia ficou João Pinheiro, absurdamente considerado "melhor árbitro português". Só se for na playstation: no futebol não é nem nunca o foi.
Voltou a lesar o Sporting no último lance do primeiro tempo ao assinalar um penálti contra nós que só ele viu, por hipotético derrube de Adán a Mangas. Nenhuma imagem o confirma, pelo contrário: o nosso guarda-redes fez tudo para evitar o contacto após uma saída algo atabalhoada. E o vimaranense já ia em queda no momento em que Pinheiro, certamente vítima de alucinação, terá visto a tal grande penalidade que não existiu.
Com esse golo os do Minho ganharam ânimo: ao intervalo havia empate a uma bola. No segundo tempo lutámos, mas sem dar a réplica devida à turma anfitriã. Que teve a sabedoria de secar o nosso maior trunfo: Gyökeres bem tentou, mas quase nada conseguiu fazer no encharcado relvado de Guimarães.
Bem melhor esteve Nuno Santos, lutador incansável enquanto esteve em campo, durante todo o segundo tempo. O nosso melhor Leão à chuva.
Em suma: estivemos a ganhar, concedemos o empate, acabámos por perder. Numa partida cheia de emoções fortes. Talvez demasiado fortes para nós.
Para já, continuamos no comando da Liga 2023/2024. Mas valha a verdade: esta jornada 13 não nos trouxe sorte alguma. Melhores dias virão.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Sofreu três golos, mas só teve culpa evidente num - precisamente aquele que nos fez sair sem qualquer ponto de Guimarães. Grandes defesas aos 73' e aos 88': aqui esteve muito bem.
Esgaio - Surpreendente central pela direita, permitindo adiantar Geny. Esteve longe de render assim. Aos 12' escapou por um triz ao amarelo. Aos 17' foi mesmo amarelado. Saiu ao intervalo.
Diomande - O melhor do reduto defensivo. Também o mais jovem, confirmando ser mesmo reforço. Fez de Coates, no centro da defesa. Protagonizando bons cortes e desarmes impecáveis.
Gonçalo Inácio - Quebrou jejum: marcou o primeiro golo da época, de pé direito (41'). Culminando bom lance colectivo de ataque. Pior lá atrás: perdeu a bola em dois golos sofridos.
Geny - Ala titular pela direita, não conseguiu articular-se com um Edwards quase eclipsado. Evidenciou-se em alguns lances individuais. É ele a iniciar a jogada do nosso segundo golo.
Morten - Boa exibição como médio posicional, formando duplo pivô com Morita. Eficaz para tolher movimentos dos adversários no corredor central. Inexplicável, a sua saída aos 61'.
Morita - Esteve no melhor e no pior. É ele quem disputa a bola que sobra para Gonçalo no golo 1. É ele também quem a desvia, de modo infeliz, no segundo golo do Vitória (73').
Matheus Reis - Muito contido nas manobras de ruptura no corredor esquerdo, que lhe foi confiado. Desgastou-se no confronto com Jota Silva nessa ala. Perdendo alguns duelos decisivos.
Edwards - Tão depressa se mostra em grande nível, cotando-se como melhor em campo, como desaparece por completo, incapaz de vencer um duelo. Foi este segundo Edwards a ir ao Minho.
Pedro Gonçalves - Um dos melhores em jogo ingrato: voltou a fazer mais de uma posição, o que o desfavorece. Lá na frente, quase marcou aos 8', inicia o primeiro golo e assiste no segundo.
Gyökeres - Tentou, mas desta vez sem conseguir. Neutralizado pelo croata Borevkovic (atenção, Hugo Viana!). Falhou duas finalizações: aos 57' (servido por Geny) e aos 61' (por Nuno Santos).
Nuno Santos - Melhor leão em campo. Substituiu Esgaio: fez todo o segundo tempo. Marcou o segundo num grande remate (77'). Construiu golos falhados por Gyökeres (61') e Trincão (71').
Paulinho - Amorim tomou decisão difícil de entender aos 61', quando retirou Morten e mandou entrar o avançado. Criou uma cratera no meio-campo sem compensar na qualidade ofensiva.
Trincão - Em campo desde o minuto 61', por troca com Edwards. Se um nada fez, o outro também praticamente não existiu. Desperdiçou soberana ocasião de golo (71'), depois sumiu-se.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no V. Guimarães-Sporting pelos três diários desportivos:
Nuno Santos: 17
Pedro Gonçalves: 16
Gonçalo Inácio: 16
Morten: 15
Diomande: 13
Geny: 13
Edwards: 12
Gyökeres: 12
Matheus Reis: 12
Morita: 12
Esgaio: 11
Adán: 11
Paulinho: 10
Trincão: 10
O Record e A Bola elegeram Pedro Gonçalves como melhor Leão em campo. O Jogo optou porGonçalo Inácio.
De perder. Há cinco anos que o V. Guimarães não vencia uma equipa grande no campeonato português. Interrompeu hoje o jejum derrotando o Sporting por 3-2 no seu estádio, perante mais de 20 mil espectadores. Com 1-1 ao intervalo, num desafio desenrolado sempre debaixo de chuva. Custou ainda mais porque estivemos a vencer, com um golo aos 41'. Mas a vantagem durou escassos minutos, só até aos 45'+7. No segundo tempo a turma minhota marcou aos 73' e aos 80'. Nós ainda reduzimos aos 77', mas fomos incapazes de segurar ao menos o empate. Segunda derrota leonina nesta Liga 2023/2024. São jogos destes que podem custar a perda de campeonatos.
De Gonçalo Inácio. É certo que foi do central esquerdino o nosso golo inaugural, em lance corrido: estreou-se como artilheiro nesta temporada marcando não de cabeça mas com o pé, ainda por cima o direito. Mas a jogada que culmina no penálti (e consequente golo do Vitória) começa com uma perda de bola dele, o mesmo sucedendo no lance do segundo que sofremos. E no terceiro peca por notória falha de marcação em zona que lhe competia vigiar. Anda há várias jornadas muito abaixo do nível a que nos habituou.
De Esgaio. Rúben Amorim apostou nele como central à direita, num sistema híbrido em que se desdobrava como lateral desenhando-se uma linha de quatro defensores. Pouco rotinado nesta manobra, e sem um ala pronto a ir-lhe às dobras, claudicou logo nos primeiros embates. Foi poupado ao cartão numa falta que lhe podia ter valido o amarelo aos 12', mas a sua falta de pedalada era óbvia. Cinco minutos depois, volta a travar o adversário com imprudência: amarelado, jogou condicionado a partir daí. Já não regressou do intervalo, sem deixar saudades.
De Adán. Em estrito rigor, só parece ter responsabilidade num dos golos. No primeiro, é castigado por penálti que não cometeu. No segundo, foi traído por um involuntário desvio da bola em Morita. Mas no terceiro - o que nos custou a derrota - foi mal batido por Dani Silva, que remata com pouco espaço: o guardião espanhol, hoje capitão da equipa, nem o ângulo cobriu. Valha a verdade que protagonizou duas grandes defesas (73' e 88'), mas voltou a aparentar intranquilidade, contagiando os colegas. E continua incapaz de defender um penálti.
De Trincão. Perdeu o estatuto de titular, mas ao que parece nem para suplente vai servindo. Entrou aos 61', com o jogo ainda empatado 1-1: Amorim apostou nele como criativo para romper a muralha vitoriana, algo que Edwards tinha sido incapaz de fazer enquanto Gyökeres permanecia manietado pelos centrais. O ex-Braga foi incapaz de corresponder: presa fácil da turma adversária, sem conseguir ligação com os colegas, voltando a abusar do individualismo. Muito bem servido por Nuno Santos, aos 71', permitiu a defesa de Bruno Varela - o melhor do Vitória - tal como já tinha acontecido com Pedro Gonçalves aos 8'. Falhada esta finalização, voltou a desaparecer: mal se deu por ele.
De Paulinho. É mais fácil marcar três ao Dumiense, último classificado do quarto escalão do futebol português, do que criar um só lance de perigo frente à equipa que segue em quinto na Liga 1. Em campo desde o minuto 61', substituindo Morten, mal rondou a baliza e nem chegou a estar perto do golo. Mais de meia hora de inútil presença em campo, o que não constitui novidade. Amorim abdicou do melhor médio de contenção sem ganhar eficácia na linha avançada. O Sporting ficou mais exposto ao contra-ataque, facilitando a tarefa à equipa orientada por Álvaro Pacheco.
Da ausência de Coates. Afastado deste embate em Guimarães por cumprir castigo, devido à acumulação de amarelos, o internacional uruguaio fez falta. Mesmo lento, algo pesado e um pouco preso de movimentos, continua a ser o patrão indiscutível da defesa leonina. Não restam dúvidas: a equipa fica mais frágil sem ele.
Do penálti inexistente. O árbitro João Pinheiro, sem surpresa, teve influência no resultado. Ao assinalar uma grande penalidade que só ele parece ter visto. Adán, saindo algo inseguro dos postes aos 45'+3, fez uma travagem brusca, ajoelhando para evitar o choque com o portador da bola, Mangas, aliás já em queda não provocada. Nenhuma imagem confirma que tenha havido contacto físico entre os jogadores. Momentos antes haviam sido lançadas tochas para o relvado e permanecia ali muito fumo, dificultando a visão de todos. O VAR Hugo Miguel devia ter sugerido a Pinheiro, pelo menos, que observasse as imagens no monitor. Mas nem isso aconteceu. Assim nasceu a grande penalidade que permitiu ao Vitória empatar no último lance da primeira parte. Sem ter criado verdadeiramente uma situação de golo iminente até esse momento.
Daquele desespero final. Últimos dez minutos de pressão contínua mas desordenada e muito caótica da nossa equipa contra a baliza vimaranense, mais com o coração do que com a cabeça, parecendo obedecer ao "sistema táctico" tudo ao molho e fé em Deus. Com estrelinha, talvez resultasse. Mas - talvez por causa da chuva intensa - desta vez ela andou ausente. E, valha a verdade, o Vitória foi sempre uma equipa bem arrumada, bem organizada, tenaz e batalhadora. Com elementos em grande nível, como Varela, Händel, André Silva e Tomás Silva. Num jogo que não merecíamos ganhar.
De termos perdido a vantagem. Deixámos de estar isolados no topo do campeonato e fomos incapazes de ampliar a distância face ao Benfica, que empatou em casa com o Farense. Os encarnados estão agora um ponto atrás de nós, o Braga com menos dois e o FCP igualou-nos na pontuação ao vencer o Casa Pia no Dragão por 3-1, resultado insuficiente para nos destronar do comando. Um triunfo em Guimarães deixar-nos-ia com mais quatro do que o SLB e três acima dos portistas imediatamente antes do clássico. Parecemos optar sempre pela via mais difícil.
Gostei
De Diomande. Com Coates ausente, fez ele de patrão da nossa defesa. E cumpriu no essencial, embora não isento de reparos. Perante um Esgaio longe de cumprir os mínimos e um Gonçalo que tem fases de inexplicável desconcentração, foi ele - sendo o mais novo dos centrais - a fazer de adulto naquela zona do terreno. Desarmes perfeitos aos 23' e aos 34'. Grandes cortes aos 63' e aos 70'. Ganhou praticamente todos os duelos neste duro e difícil confronto em Guimarães.
De Nuno Santos. Voto nele como o nosso melhor em campo. Não apenas pelo golo que marcou, com assistência de Pedro Gonçalves, mas sobretudo por ter dado sempre mostras de ser o mais inconformado do onze leonino. Fez tudo para empurrar a equipa para a frente, com fibra de lutador. Se há jogador que não merecia esta derrota, é ele.
De podermos defrontar o FC Porto sem jogadores castigados. Coates "limpou" os cartões neste V. Guimarães-Sporting. E os três colegas que estavam à bica, quase tapados com amarelos, não foram admoestados por João Pinheiro. Edwards, Morten e Gonçalo Inácio poderão assim integrar o onze titular que defrontará a turma portista em Alvalade no próximo dia 18.
Gostei muito da goleada do Sporting, para a Taça de Portugal, no confronto com a simpática equipa amadora do Dumiense, do distrito de Braga. Não foi apenas a nossa maior goleada da época: há dez anos que não marcávamos tantos golos nesta competição - a última vez foi na vitória também em casa frente ao igualmente modesto Alba, por 8-1, em Outubro de 2013. E só há 35 anos conseguimos uma vantagem maior, quando cilindrámos o Alhandra por 11-0. Ontem os golos foram apontados por Neto (8'), Paulinho (28'), Trincão (46'), Coates (53'), Paulinho (58' e 70'), Nuno Santos (75') e Gyökeres (83'). Merecem destaque os de Neto, por estrear-se como artilheiro pelo Sporting, e de Trincão, por ser o primeiro que marca nesta temporada.
Gostei da exibição de Nuno Santos, para mim o melhor em campo. Está em metade dos nossos oito golos: três resultam de cantos marcados de forma exemplar por ele, além do que converteu de penálti, também de forma irrepreensível. Nota muito elevada para Paulinho: marcou três, o primeiro com nota artística (de calcanhar), e assistiu no de Trincão (igualmente de calcanhar). Destaque ainda para Gyökeres: entrou só aos 62', mas a tempo de assistir Paulinho no sexto golo, de sofrer o penálti do qual resultou o sétimo e ser ele a apontar o oitavo, em lance que construiu do princípio ao fim. Figuras da partida, tal como o capitão Coates, que ontem se tornou no estrangeiro com mais jogos disputados de Leão ao peito, igualando Polga: são já 342. Com uma diferença assinalável: o central uruguaio marcou até agora 33 golos pelo Sporting enquanto o internacional brasileiro apenas tem quatro no currículo leonino.
Gostei pouco que o treinador não tivesse proporcionado mais minutos a dois dos nossos jogadores menos utilizados: Dário e Eduardo Quaresma. O primeiro substituiu Daniel Bragança aos 62' (já vencíamos por 5-0), o segundo esperou pelo minuto 76 para render Coates (havia 7-0). Com pouco tempo, em qualquer dos casos, para se evidenciarem. Apesar de tudo, o jovem médio defensivo esteve muito bem na recuperação e no passe, protagonizando até lances de ruptura perante uma turma adversária já bastante desgastada. Eduardo, actuando como central à direita, não ultrapassou a mediana. Tudo indica que serão ambos emprestados em Janeiro.
Não gostei da ausência de Gonçalo Inácio, ausente por castigo deste encontro que nos coloca nos oitavos-de-final da Taça. Mas pelo menos isto permitiu-lhe estar pronto para o próximo confronto. Será nesta quinta-feira contra a Atalanta em Bérgamo. Entraremos segurmente com a máxima força, até porque Rúben Amorim decidiu poupar ontem vários jogadores nucleares: Adán (substituído por Israel), Diomande, Morita e Pedro Gonçalves não saíram do banco; Edwards só entrou aos 50'; e St. Juste nem foi convocado, devido a novos problemas físicos. Talvez recupere a tempo do importante desafio da Liga Europa.
Não gostei nada de ver menos de 19 mil espectadores em Alvalade, apesar de o desafio ter começado às 18 horas deste domingo, em claro contraste com os jogos do campeonato, sempre relegados para horários mais tardios. Valha a verdade que o facto de se tratar de uma partida contra um adversário do quarto escalão do futebol nacional - último classificado da série A do impropriamente chamado Campeonato de Portugal - não era grande chamariz, mas havia a expectativa de muitos golos, felizmente concretizada. Merece elogio a forte representação dos adeptos do Dumiense: havia cerca de 500, bastante efusivos, no topo norte do nosso estádio.
Bom jogo do Sporting hoje num Alvalade bem composto, mais de 18 mil espectadores para um jogo da Taça com uma equipa da 4.ª divisão nacional.
E com muitas famílias e miudagem, avós com filhos e netos, com todos incrivelmente a pagar desde tenra idade, o que deu um colorido completamente diferente a uma bancada central mais "histórica".
Bom jogo desde logo porque o Sporting respeitou público e adversário entrando em campo com um onze rotinado como entraria contra a Atalanta, com o habitual 3-4-3 um pouco assimétrico pela vagabundagem consentida de Nuno Santos, controlando o jogo, rodando a bola pelos corredores e desgastando o adversário que se focalizou na marcação apertada a Hjulmand e Bragança e dava espaço nas alas. Mas por más decisões no último passe ou remate no jogo corrido os golos só acabaram por aparecer na sequência de cantos muito bem marcados por Nuno Santos.
Na segunda parte obviamente que o Dumiense se iria ressentir pelo esforço de marcação realizado e foi só uma questão de acelerar o ritmo "pondo carvão na fornalha" com as entradas de Edwards e Gyökeres para a goleada acontecer. Foram oito, podiam ter sido menos ou mais. Umas entraram, outras não.
Até deu para Essugo e Quaresma terem minutos, e a verdade é que os mereceram, entraram concentrados, a jogar simples e também eles souberam contribuir para a goleada. Um e outro de toscos não têm nada, a capacidade técnica está lá, precisam é que a cabeça ajude o resto. Recordemo-nos que há quatro anos, quando Rúben Amorim chegou ao Sporting, a aposta primeira parecia ser Quaresma e não Inácio. Quanto valem um e outro hoje? E onde está a diferença? Mas ainda vai a tempo o Quaresma, assim ele queira.
Já agora a mesma coisa mas noutro nível relativamente a Trincão. Um Porsche com rendimento de VW.
Melhor em campo? Paulinho: três bons golos e uma assistência para o golo de Trincão. Foram 13M€ mais o Borja? Uma das melhores decisões do presidente no que respeita ao futebol. As bancadas mais uma vez cantaram o seu nome, e com Gyökeres ao lado está nas suas "sete quintas".
Outros merecem referência:
- Coates passou a ser o estrangeiro com mais jogos no Sporting? O melhor central dos últimos 50 anos do Sporting, antes não faço ideia. E hoje com mais um golo "à ponta de lança".
- Neto marcou o primeiro golo ao serviço do Sporting? O "avô" do balneário já merecia e há muito. Hoje deu o corpo ao manifesto, cortando um remate que podia ter dado golo, acudindo prontamente ao lapso dum Bragança ainda combalido por uma situação anterior.
- Com um ou outro desperdício pelo meio, Nuno Santos marcou três cantos para golo e converteu impecavelmente o penálti.
Arbitragem de categoria, oxalá o rapaz não se perca nas malhas mafiosas que dominam a arbitragem.
E agora? Ir ganhar a Bérgamo, vingando a derrota de Alvalade onde o poste impediu a reviravolta no marcador.