Chorar, mamar e Capecchi
"Quem não chora não mama"
Já vamos ao jogo de ontem, primeiro o Sporting com mais 18 pontos que o FC Porto e segundo vamos falar de Capecchi, Mario Ramberg Capecchi.
Mario nasceu no mesmo ano de Jorge Nuno, 1937. Nasceu numa Itália onde já soprava o cheiro da guerra, o pai era um aviador italiano que foi mobilizado para as tropas de Mussolini e a mãe uma activista, como diríamos hoje, americana. Com o pai na guerra e com a mãe hospedada em Dachau, cresceu na rua. A rua foi a sua casa entre os três, quatro anos e os oito. Roubava comida, dormia onde calhava e vivia com outros meninos como ele, uns mais velhos, outros mais novos, sem higiene e sem perspectivas de futuro. Ranho no nariz, feridas que sangravam e cicatrizavam tapadas pela sujidade.
Com oito anos, Mario não conhecia uma letra do tamanho de um avião nem um algarismo do tamanho de um campo de concentração.
Nessa altura apanhou febre tifóide e foi hospitalizado, a mãe, a guerra acabara e ela sobrevivera, encontrou-o no hospital e levou-o para os Estados Unidos da América.
Alguns anos depois o menino ranhoso, sujo e analfabeto que comia fruta estragada, retirada dos caixotes do lixo, foi prémio Nobel da medicina.
Quanto ao jogo de ontem não vou falar de culpas próprias nem de culpas alheias. Foi tudo demasiado óbvio e basta reler aquilo que fui escrevendo, a nomeação de Veríssimo/Pinheiro, a convocatória da selecção, estava tudo preparado para o jogo de ontem ter tido o desfecho que teve.
Alguém tem dúvidas que a mão na bola de Otávio é penalty? Há volumetria e há intensionalidade, qual a razão para não ter sido assinalado?
Alguém tem dúvidas que um treinador expulso não pode estar, alegremente, a dar instruções à rapaziada? [à atenção do departamento jurídico, protestar o jogo se existir fundamento legal]
Alguém tem dúvidas que Varela devia ter sido expulso?
Apesar dos casos acima e de alguns outros há sempre alguém que não resiste, há sempre alguém que não diz não.
"A culpa foi nossa" disse, por exemplo, o comentador "Elitista", para esses, o Sporting mesmo ranhoso, mesmo cheio de feridas mal cicatrizadas, mesmo analfabeto e com o bandulho cheio de comida estragada tem de vencer, tem de ganhar o Nobel.
Se Mário Capecchi conseguiu porque não há-de o Sporting Clube de Portugal conseguir também? Apesar de todas as adversidades e malfeitorias de que é alvo o Sporting ou ganha ou então a culpa é sempre nossa, nunca é dos outros.