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És a nossa Fé!

A mulher de César

Tudo começou numa Junta de Freguesia de um concelho às portas de Lisboa.

Aproveitando uma abertura na Lei, um relapso membro da Assembleia de Freguesia, pede escusa do seu emprego para exercer funções de fisioterapeuta num clube da margem do Sado.

Pela mão do seu irmão, dirigente de um clube da segunda circular em Lisboa, é convidado para chefe do departamento clínico, cargo que segundo os especialistas exerce com competência.

Após uma desgraçada e triste investida de alguns energúmenos a mando sabe-se lá de quem, ao centro de treinos, o  clube entrou em parafuso e sem saber ler nem escrever, o relapso nessa altura ex-membro da AF, acabou em presidente desse clube, sendo eleito de forma sui generis, com menos eleitores, mas mais votos que o seu adversário mais directo. Um sistema eleitoral também ele sui generis e que urge alterar, mas não é disso que hoje aqui se quer falar.

E começaram as ligações perigosas.

Manda a Lei e o bom senso, que neste particular deveria ter ainda mais força que a própria Lei, que a mulher de César não seja apenas séria mas que, mais importante, também pareça séria.

Assim, o irmão do nóvel presidente entretanto reeleito para um segundo mandato com uma vantagem abissal sobre o candidato "da oposição", o irmão dizia eu, ao que consta é advogado e consultor na empresa que avaliza e avança dinheiro sobre o contrato da NOS para os direitos de transmissão. É ilegal? Não! É sério? Será, eventualmente, não faço ideia. Era necessário? Definitivamente não, há um evidente conflito de interesses.

Entretanto o ex-"autarca" tornou-se proprietário de clínicas do ramo da fisiologia e fisioterapia e coisas assim, ligadas à recuperação física, sendo acusado de fornecer serviços ao clube e SAD, nessa mesma área. O próprio garante, através do seu órgão oficial, o jornal Record, que não há qualquer ligação entre as suas clínicas e o clube. No entanto é sabido que profissionais das suas clínicas prestam serviço ao clube a que preside. É ilegal? Não! É sério? Será, eventualmente, mas definitivamente não era necessário. Do ponto de vista do conflito de interesses há matéria para um Mundo de especulação, desde logo um que ressalta à vista e que é este: Será que o facto de estes técnicos estarem ao mesmo tempo no clube funciona como complemento salarial ao que auferem nas clínicas de Varandas? Será que o facto de serem funcionários das clínicas lhes dá vantagem no acesso aos cargos que exercem no clube/SAD?

E o que dizer dos terrenos onde estava o antigo estádio? Alguém explica porque é que tendo o clube direito de preferência na reversão da venda, deixou escapar um negócio de milhões? Terá sido porque também aqui havia conflito de interesses, i.e. administradores das empresas em causa sendo em simultâneo dirigentes do clube?

Há uma nuvem muito escura que escusadamente paira sobre a zona e que poderia ser afastada com a maior das facilidades, bastava que a mulher de César parecesse ser séria, admitindo sem qualquer rebuço que o é e afastar a suspeita clara de conflito de interesses. Seria de bom tom.

O cambalacho

Estive para não abordar este assunto, até porque detesto teorias da conspiração, mas o tema é incontornável - e há, portanto, que o trazer a debate.

O próximo campeonato vai começar já manchado devido ao negócio estabelecido entre o Braga e o FC Porto a propósito da transferência de David Carmo do Minho para as Antas. Segundo foi tornado público, uma das cláusulas deste acordo obriga o FCP a pagar ao Braga 500 mil euros adicionais por época (perfazendo um total de 2,5 milhões em cinco temporadas, período de vigência do contrato) se vier a sagrar-se campeão.

Isto significa que os braguistas terão a lucrar por ver a agremiação azul e branca subir ao primeiro lugar do pódio. Teremos então a equipa que ficou em quarto na Liga 2021/2022 a torcer pela que ficou em primeiro. Distorcendo a verdade desportiva.

Haverá quem considere normal este cambalacho entre António Salvador e Pinto da Costa. Eu não. Estranho até o silêncio de tantas almas que por aí se indignam, em tribunas várias, a propósito de temas muito mais irrelevantes e sobre isto estão caladinhas, fazendo de conta que nada se passou.

Bruno saiu na melhor altura

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Nada sabemos sobre o que irá seguir-se no futebol. Nem sobre o que será a época 2020/2021: estes são tempos inéditos para todos nós, à escala global. 

Mas podemos extrair conclusões do que já passou. E concluir, sem reservas mentais de qualquer espécie, que a transferência de Bruno Fernandes para o Manchester United, concretizada a 28 de Janeiro, foi o último grande negócio feito entre duas equipas europeias até cair o pano devastador do Covid-19.

Durante os meses que vão seguir-se, se não mais de um ano, será mesmo o último grande negócio na Europa do futebol. Tiro o chapéu à administração da SAD por isso. E estou à vontade, pois em Novembro tinha defendido aqui a saída de Bruno só no final da época, convicto de que iria valorizar-se no Campeonato da Europa. Se alguém tivesse seguido o meu conselho, Bruno estaria hoje a desvalorizar-se todos os dias como principal activo do Sporting, sem jogar, sem perspectivas de retomar a actividade a curto prazo, vendo o Euro-2020 adiado por um ano que parecerá interminável.

 

Há que sublinhar esta evidência sem rodeios: vendemos Bruno Fernandes na melhor altura, por um excelente preço.

Como sabemos, foi a nossa melhor venda de sempre, superando largamente o anterior recorde, que durou três anos e cinco meses: a venda de João Mário para o Inter. E ainda salvaguardámos uma percentagem de 10% em futuras transferências do jogador para outros emblemas a partir de Manchester.

 

Este negócio seria hoje irrepetível. E só passaram dois meses.

Os preços dos jogadores estão agora inflacionados: nos dias que correm, não correspondem nem de longe aos actuais preços reais do mercado. Esta é uma excelente oportunidade para comprar, por isso mesmo. E uma péssima ocasião para vender.

Eis um efeito colateral do coronavírus, que está a alterar radicalmente a bolsa de valores no futebol. Espero que no Sporting haja gente atenta a isto. Dando prioridade à recuperação dos melhores que formámos: não pode haver melhor ocasião para trazê-los de volta a preços módicos. Com a esperança, claro, de um dia voltarmos a ver o próprio Cristiano Ronaldo a equipar novamente de verde e branco.

O que seria de nós sem fé no futuro em tempos de pandemia?

Mais uma ficha, mais uma volta

Está por horas, parece, a maior venda de um jogador português. Os tão falados 120 milhões que o Atlético Madrid vai depositar para levar João Felix, vão bater, por larga margem, o valor pago pelo Bayern Munique por Renato Sanches. Muitos questionam-se sobre esta venda, e outras anteriores, patrocinadas sempre e em exclusivo por Jorge Mendes, o denominado super agente e os clubes que orbitam à sua volta. Invariavelmente uma venda por estes montantes poderia levar a que se questionassem outras compras, que não estando directamente ligadas, deviam levar alguém a tentar entender o porquê das mesmas serem uma reação à primeira venda.

O negócio de um agente assenta na rotatividade dos jogadores que representa. Porém Jorge Mendes, fruto do seu poderio financeiro e da vontade de investidores mundiais em ter acesso ao apetitoso mercado europeu de venda e compra de jogadores, atingiu um patamar onde aliou, a rotatividade de jogadores com o controlo efectivo sobre a política de compra e venda de jogadores de alguns clubes europeus. Presumo que Jorge Mendes, num determinado momento da sua profícua carreira de agente, percebeu que seria mais rentável ter um conjunto de clubes europeus que pudessem participar na montagem desta nova forma de transacionar passes de jogadores. Desta forma Jorge Mendes poderia assegurar aos clubes interessados o acesso, quase em exclusivo, a um conjunto de jogadores, fossem ou não agenciados por ele. Há, claro, um preço a pagar: os passes dos diversos jogadores foram inflacionados, tanto na compra como na venda, o que permite ao empresário não só um quase monopólio nos maiores negócios entre clubes, como também arrecadar avultadas comissões pelas transacções efectuadas. Negócios são negócios e cada um tenta sempre obter o melhor proveito, neste caso financeiro e desportivo. Mas não deixa de ser curioso que a Uefa acompanhe de certa forma este novo modelo de negócio, incentivando-o até. Desde a época anterior os prémios da liga dos campeões aumentaram de forma substancial. Ao promover este enorme buraco entre os clubes que participm na liga dos campeões e os que são relegados para a liga europa, a Uefa cava um fosso de proporções gigantescas entre clubes. Embora o futebol sejam sempre 11 contra 11 e orçamentos não ganhem por si jogos, torna-se evidente que com este modelo da Uefa vai ser cada vez mais difícil aos clubes que não participem de forma regular na Liga dos Campeões competir com aqueles que o fazem regularmente. A opção imediata consiste em associarem-se a modelos de compra e venda de passes de jogadores como o descrito de Jorge Mendes. Esta divisão que a Uefa fomenta origina que os grandes clubes europeus consolidem ainda mais o seu estatuto e dificulta enormemente que clubes médios possam almejar ser uma presença assídua na maior competição europeia de clubes a nível mundial.

Importa pois saber se o Sporting aceita entrar neste carrocel. A notícia da vinda de um jogador chinês por empréstimo do Wolverhampton para a equipa sub-23 leva-nos a concluir que entrámos. Só assim se explica que este jogador chegue ao nosso clube. Por muito que seja tentador conseguir efectuar vendas de jogadores por valores claramente inflacionados, convém que esta direcção esteja consciente que há sempre o reverso, isto é, seremos sempre obrigados a comprar também jogadores, independentemente da sua valia desportiva, por valores também eles inflacionados. Veja-se aliás o caso do Benfica: ainda não vendeu João Félix, mas já adquiriu o passe de dois desconhecidos por 20 milhões de euros. Jogadores esses que tinham sido vendidos pelo Sporting de Braga por cerca de 26 milhões de euros, num negócio que apenas se justifica, não pelo valor desportivo dos jogadores, mas sim como consequência de outros negócios. Certeza só há uma: quem ganha sempre é Jorge Mendes.

É este modelo de gestão desportiva e financeira que queremos para o Sporting?

Tolerância zero

Não "toco" de assobio, mas alguém chamou a atenção para o negócio Gelson Martins.

Gostava que todos quantos aqui vêm e todos os sportinguistas, já agora, analizassem este negócio e retirassem as ilações que dele há a retirar e que o comparassem com anteriores negócios de outros jogadores, "saídos e entrados". Com percentagens de passes e com valores envolvidos, etc.

Não conheço os termos do acordado, mas pelo que leio na imprensa, parece-me um mau negócio, ou se quiserem um negócio por verbas abaixo do valor de um atleta (Gelson) e muito acima do valor de outro (Vietto), que recordo, veio apenas, passe a imagem, com uma perna (50% do passe). Gostava sinceramente, para bem da transparência, que se conhecessem todos os contornos deste acordo, recordando que Sousa Cintra recusou no Verão passado 22 milhões por uma percentagem de entre 60 a 70% do passe, mais 10 milhões por objectivos. Pergunta para queijinho: Em quanto foi valorizado Vietto neste negócio e o que terá mudado desde que o presidente do Sporting bateu com a porta e exigiu 105 milhões pelo jogador?

 

Nota: Apenas comparações com negócios semelhantes, não venham com flops e outros que tais e conversa fiada. Exemplos concretos por favor e semelhantes.

Nada disto tem a ver com desporto

Neymar posa para fotos em apresentação no Paris Saint-Germain

 

Os 222 milhões de euros pagos pelo Paris Saint-Germain (nome de santo ironicamente patrocinado por um país islâmico) para desviar Neymar do Barcelona cavam ainda mais fundo o fosso que separa o futebol enquanto actividade económica da genuína competição desportiva: deixaram de ser mundos complementares para se tornarem realidades antagónicas.
Este inédito montante adultera os princípios de transparência do mercado desportivo cotado em bolsa e transforma os jogadores em mera mercadoria à mercê dos capitães da fortuna fácil. Desde logo, parece colidir com as normas da concorrência vigentes na União Europeia e as regras de fair play financeiro da UEFA: qualquer resquício de equidade evapora-se de vez quando os Estados começam a investir em força nos clubes - neste caso o do Catar, com base nos seus lucros petrolíferos. E provoca um sério choque inflacionário na indústria do futebol: os preços vão disparar, a espiral da dívida aumentará em flecha, avizinham-se as mais desvairadas loucuras financeiras no horizonte.
Convém entretanto seguir em pormenor a origem e o rasto desta verba astronómica, que faz subir para 700 milhões de euros o orçamento anual do PSG para o futebol. À atenção das autoridades jurisdicionais - do desporto e não só.
Finalmente, está por demonstrar que um único jogador - e desde logo Neymar, com desempenho em campo inferior a Cristiano Ronaldo ou Messi - justifique estas cifras galácticas. O dinheiro pago por ele para o transformar em emblema de um clube sem tradição na alta-roda do futebol duplica o seu justo valor, nada tendo a ver com genuínos "preços de mercado". 
Ao dar este passo, o futebol de alta competição transforma-se num jogo de fortuna e azar - uma espécie de roleta russa para usufruto de caprichos milionários. O desporto, digam o que disserem, nada tem a ver com isto.

 

Publicado originalmente aqui

Uf!

Terminou.

Agora e durante os próximos quatro meses, pelo menos, podem andar de cabeça limpa.

Desejamos que a procura continue a ser grande, sinal de que a equipa e cada um deles individualmente, estará a fazer um belo campeonato.

Neste defeso tiveram pela primeira vez, provavelmente e de forma clara, contacto com um novo Sporting, aquele que dita as regras no que pode controlar, tão diferente do Sporting de "ontem", que pedia desculpa por existir. Em janeiro, eles próprios irão encarar de outra forma eventuais abordagens, sabendo quais as regras e a fronteira que não podem, nem devem, ultrapassar. 

Foi, para além duma fase de grandes negócios, coisa nunca vista neste Clube, um tempo de aprendizagem.

Que lhes sirva de lição.

E aos paizinhos deles, também.

 

Nebulosos caprichos de ocasião

«Uma das maiores fraudes do ano é o Mónaco e há um português envolvido e enganado. Leonardo Jardim livrou-se de Bruno de Carvalho porque o presidente do Sporting o queria obrigar a lutar pelo título não tendo ele equipa para isso e aterra no Mónaco onde, por este andar, o clube lutará por não descer de divisão. De candidato a destronar o Paris St. Germain e a fazer uma grande carreira na Champions, o Mónaco não só não se reforçou, como vendeu (a bom preço) James Rodríguez e agora cedeu ao preço da chuva a sua grande estrela - Falcão. Eis um caso claro de total ausência de política desportiva e onde o dinheiro e os nebulosos caprichos de ocasião ditam regras.»

Nuno Santos, no Record de ontem

O polvo

Leio na imprensa desta manhã: Mangala, transferido para o Manchester City, rendeu doze vezes mais do que a venda de Garay ao Zenit. O francês, suplente no Mundial do Brasil, permite aos portistas encaixar 30,5 milhões de euros, correspondentes a 56,7% dos direitos económicos do jogador. Enquanto o argentino, que foi titular da selecção que se sagrou vice-campeã mundial, apenas rendeu 2,4 milhões aos cofres encarnados.

Há qualquer coisa que me escapa nestes cifrões do futebol. E que não augura nada de bom enquanto vemos milionários oriundos de paragens longínquas tomar posse de históricos clubes europeus e empresários especializados em olear circuitos de transferências de profissionais do futebol engordarem cada vez mais as respectivas contas bancárias.

Os tentáculos desse gigantesco polvo em que se tornou o futebol-negócio vão-se ampliando na proporção inversa da dimensão hoje reservada ao futebol-desporto, confinando-a a uma memória cada vez mais difusa de tempos passados. Há aqui uma enorme borbulha em potência que, quando estoirar, não deixará de provocar muitas vítimas inocentes.

... e o BES?

As ondas de choque sobre as empresas 'protegidas' pelo BES vão ter que repercussão no nosso clube? É certo, fizemos uma excelente negociação, a qual parece blindada (o próprio Ricciardi disse, num jantar dos Stromp, ter sido difícil para o banco e surpreendente para o BES, dada a posição de negociador forte do SCP de Bruno de Carvalho). Mas algumas «facilidades» ao clube parecem mais difíceis agora, com a nova administração de um banco cada vez menos verde.

Afinal havia outra e alguns que até sabiam... sorriam!!!!

Afinal o marroquino Zakaria Labyad representou um investimento pesado para o Sporting no momento em que foi contratado. Aos 900 mil euros já conhecidos, pagos ao PSV Eindhoven, acresceram 2,610 milhões. Este último valor, de acordo com o relatório e contas enviado sábado à CMVM, "deve-se a gastos inerentes à aquisição do jogador".

Os leões, que ficaram na altura com 70'% do passe do jovem, de 20 anos, venderam praticamente no imediato 35% à Doyen Sports, por 1,5 milhões de euros, ficando o Sporting com igual percentagem. - Record


O custo anunciado em agosto de 2011 foi de 8,85 milhões de euros, um recorde na história do Sporting. Agora, o total de encargos reconhecido pela SAD ascende a 11,15 milhões de euros, ou seja mais 2,3 milhões do que há dois anos. Uma discrepância que ficará a dever-se a rubricas como serviços de intermediação ou prémios de assinatura.

Neste mesmo contexto, o investimento em Pranjic foi afinal de 1,08 milhões de euros. - Record


Já se podem chamar os bois pelos nomes e dizer... CRIMINOSOS CULPADOS DE GESTÃO DANOSA E FRAUDULENTA?

Se calhar ainda não... falta sair mais lixo debaixo do tapete, aguardemos então!




A campanha portista na imprensa

Começou agora a campanha de certa comunicação social para tentar convencer os sportinguistas de que o negócio do João Moutinho foi bom ou, pelo menos, "não foi mau", através de artigos como este de Hugo Daniel Sousa: "Financeiramente, Moutinho rendeu mais ao Sporting do que ao FC Porto". Espero que os sportinguistas saibam ver o que está em causa, já que o sr. Hugo Daniel não sabe: a transferência do Moutinho para o Mónaco não pode ser vista isoladamente, e tem que ser analisada em conjunto com o negócio do James. Se o Porto fez tudo para desvalorizar o Moutinho (só faltava tê-lo vendido por 11 milhões e o James por 59), é lógico que se chegue a resultados como o que o sr. Hugo Daniel anuncia. Só que isso não tem significado nenhum nem invalida a aldrabice que foi feita.

Hugo Daniel Sousa também afirmou recentemente que este campeonato, ganho pelo Porto e o pior de sempre do Sporting, "deixa saudades". Significativo.

Fut€bol vs. Sporting - 3

Há entre a Liga de Futebol portuguesa e o detentor dos direitos televisivos a SportV um conflito permanente. A Liga está condicionada por duas forças, chamemos-lhes “reacionárias”, lesivas da SportV.

A primeira é o binómio Porto/Benfica, liderado por Pinto da Costa. Estes dois clubes querem dividir o bolo entre si, opondo, na verdade, os seus interesses particulares aos interesses do mercado. Como a economia é frágil, é imperioso ganhar o Campeonato, pelo que quanto menos competição houver, melhor. Ora um campeonato a dois é um descalabro para as audiências de TV, sobretudo se decidido muito cedo, por volta de Fevereiro. Manietado pela estratégia do FCP, o Benfica corre atrás dela, enredou-se numa situação de curto prazo, tem que ser campeão hoje mesmo para justificar e ver ressarcido o investimento louco que tem feito, que se lixe a sustentabilidade do negócio, “tomorrow is another day”. Donde ambos conspirarem activa e evidentemente para a liquidação do Sporting. Isto é uma desgraça para a TV, de tal modo que este ano não houve quem comprasse os direitos para canal aberto. Donde, ainda, a pretensão do Benfica em recuperar para si esses direitos – quer competir sozinho, bom proveito.

A segunda força reacionária é o triângulo, exposto por Maria José Morgado, clube-autarquia-construção civil. Exemplo supremo foram o Boavista e o Leiria (ouviste, Braga?). Clubes incapazes de encher o seu próprio estádio, porque nem nas suas terras têm popularidade, vão parar à primeira divisão com a fatia que lhe cabe da SportV, com um mecenas especulador (vejam o bairro de torres construído ao lado do campo do Alverca, onde estava planeada uma cidade desportiva – quem o terá feito?) e com autarcas coniventes ou submissos (o exemplar caso da Madeira). Como esta escória tem poder na Federação através das Associações, acaba por atravancar a Liga com a sua inamovível presença. Para isto contribuiu também a outra estratégia de Pinto da Costa que consistiu em levar o poder do futebol para o norte constituindo uma rede de interesses e bases locais a seu favor. Ora o detentor dos direitos tem que pagar muito mais por um MoreirenseXBeira Mar do que o seu real valor comercial, que é pouco mais do que nulo. A lei da Liga obriga teoricamente à sustentabilidade dos clubes, alguém a cumpre? Porque razão uma Académica, por exemplo, único clube primodivisionário das Beiras, um clube histórico, implantado numa cidade com 150 mil habitantes, nunca consegue, encher, vá lá, ¾ do seu estádio, com os seus adeptos? Não há explicação, porque dá-la seria insultar os interesses manhosos que se instalaram no futebol português.

Ora esta canalha ajuda a empurrar o desamparado Sporting para baixo, porque com menos um grande, mais espaço haverá para os acotovelados pequenos na repartição do bolo da SportTV. Poder-se-á argumentar que o Sporting leva muita gente aos estádios menores, mas, como se viu, isso são peanuts para quem ganha na margem do negócio.

Fut€bol vs. Sporting - 2

Finalmente, acerca dos direitos televisivos:

Terá sido o sr. Murdoch fundador e dono da Sky o primeiro a perceber o valor televisivo do futebol - ficou milionáriol.

Com o nascimento das televisões privadas aumentaram desmesuradamente as necessidades de conteúdos – muitas horas de programação para preencher, muita competição entre canais pelas audiências. O futebol oferecia uma solução forte. Criar eventos regulares, de desfecho imprevisto (suspense), com grande competitividade (drama) entre marcas estabelecidas (público cativo).

Os clubes defenderam-se e aproveitaram, criaram ligas para vender os direitos por atacado. Em certos países (na maior parte) até ao 5º jogo mais interessante da jornada há potencial de audiências. Em Portugal, o drama: só 3 jogos são interessantes, embora muito desequilibrados. A favor funciona o facto de sermos um dos poucos países com clubes de penetração nacional; contra, o facto de o público estar muito segmentado: os espectadores só vêem o seu clube.

Estas condições são críticas do ponto de vista da programação televisiva. Um canal paga uma pipa de massa por um jogo, pelo que tem que colocá-lo na grelha onde ele for mais valioso. Sporting, Porto e Benfica têm que preencher 3 prime-times para a operação começar a ser rentável – o que valem 50 mil espectadores no estádio comprados com 1milhão em casa que ainda por cima consomem mais durante o jogo?

O campeonato português é particularmente desinteressante, sobretudo para um mercado curto como o nosso. O que vale um soporífero Guimarães X Marítimo, para não falar de um escabroso Rio Ave X Olhanense? E no entanto vieram no pacote.

A tendência é para que o futebol comece a cobrir todos os dias da semana. Porque razão a Champions dividiu este ano as jornadas por duas semanas? Além de já ter os jogos espalhados por 3 dias numa semana? Porque motivo as partidas da Champions e da UEFA tendem a não coincidir, havendo jogos internacionais de terça a quinta? Porque acham que em Inglaterra há futebol ao fim-de-semana e à quarta? Resposta: porque os clubes não abdicaram de jogar em simultâneo ao Sábado, como manda a tradição. Mas como os clubes são de índole local a transmissão pode ser segmentada conforme a região, por exemplo; a Sky1 dá o ManUnited para Manchester, a 2 o Liverpool, e a 3 o Arsenal, à mesma hora. No período seguinte dá o Aston Villa (Birmingham), os Spurs (Londres), e o ManCity. Às quartas o carrossel volta a andar à roda. Em Portugal dada a miserável implantação dos clubes locais esta tática é impossível.

A seguir: porque querem acabar com o Sporting?

Fut€bol vs. Sporting - 1

A propósito dos jogos à segunda-feira, ou gememos ou entendemos o que está em causa. A ver se é possível esclarecer o assunto (embora muito pela rama).

O futebol é um espectáculo. Como tal, tornou-se um negócio que, como todos os negócios tem as suas regras.

Na década de 80, com o incremento de uma classe média nos países do sul e com a privatização das televisões por essa Europa fora, concluiu-se que o negócio do futebol poderia ser muito interessante. Foi então que o futebol se “gentrificou”, deixando de ser um espectáculo ordinário, inseguro e popularucho para ser uma “coisa gira” e familiar. Pelo que teve que se tornar atraente, ou seja: estádios confortáveis, equipas competitivas, “star power”.

Estas características exigiam e proporcionavam (são assim os ciclos virtuosos) investimento.

O futebol tem, assim, quatro fontes de rendimento, por ordem de grandeza:

1) As transferências de jogadores. O “star power” leva a que as estrelas se vejam compelidas a rodar constantemente de clube. Deste modo produzem-se mais-valias para: os detentores dos seus direitos (investidores, clubes, os donos dos passes) e os intermediários, facilitadores, negociadores, ou seja, os agentes. Se o Cristiano Ronaldo não mudar de clube enquanto tiver um grande valor de mercado, o capital não circula, não há mais-valias.

O Sporting esteve cerca de 3 anos fora do mercado sem comprar nem vender. Do ponto de vista das finanças do clube foi uma opção pertinente, do ponto de vista do mercado foi péssima e virou-o contar ele. O sistema está a cobrar essa factura ao Sporting.

2) Os direitos televisivos. Como este é o tema do post fica aqui.

3) O marketing e o merchandising. É a primeira fonte de receitas em que o clube depende inteiramente das suas opções de plantel. Os clubes são marcas que vivem das suas estrelas. Sem estrelas não há venda de camisolas, só assim a dita “mística” do clube gera receita.

4) Os bilhetes de ingresso no estádio. Um estádio cheio é óptimo para a marca/clube, porque o torna mais atraente. Um estádio às moscas é mau para o espectáculo televisivo, para o merchandising, para o valor global da marca/clube. O dinheiro dos ingressos é interessante, sobretudo se for garantido à cabeça – donde os bilhetes de época. Permite também chashflow em contado o que é bom para a tesouraria. Mas de todas a fontes de receita é a menos crítica.

Já a seguir: os direitos televisivos.

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