Nélson Évora, eu estou contigo
Dizer-se que a naturalização de Pedro Pichardo foi "comprada" é um tanto ou quanto forte; melhor seria ter dito que foi "mercadejada", como diria o outro. É menos melindroso. E dizer-se que foi a Federação Portuguesa de Atletismo que a mercadejou também não é o mais correto: muito melhor seria referir o Sport Lisboa e Benfica. Com efeito, a naturalização de Pedro Pichardo em tempo recorde, ao abrigo do seu estatuto de refugiado, só seria possível invocando motivos de "interesse nacional". Que "interesse nacional" poderia justificar a naturalização em tempo recorde deste atleta?
Com a naturalização "acelerada" de que foi alvo, Pichardo pôde pulverizar recordes nacionais, alterando a verdade desportiva e frustrando o trabalho de outros atletas que já competiam em Portugal. É uma situação em tudo distinta de Nélson Évora, Francis Obikwelu, Auriol Dongmo e outros medalhados olímpicos portugueses. Achar que uma naturalização se pode obter instantaneamente até pode ser defensável noutros contextos que não o desportivo, onde há que ter em conta as respetivas consequências. Quero por isso saudar Nélson Évora pela coragem da sua tomada de posição, própria de quem não tem nada a provar a ninguém, e sabendo que se iria sujeitar ao enxovalho da "nação benfiquista", como se tem vindo a verificar, começando pela cobertura do caso pela imprensa desportiva. E sobretudo ao mais covarde, ao mais pusilânime dos argumentos: que Pichardo é "muito melhor" do que Évora. Alguma vez alguém, a começar por Nélson Évora, pôs em causa o valor de Pichardo como atleta? E isso dá-lhe direitos que são vedados aos outros? Ao tentar arrumar esta polémica com esse "argumento", Pichardo demonstra que pode ser um grande atleta, mas não deve muito à inteligência. (O mesmo se aplica a quem usar esse "argumento" nesta questão.)