Começo o meu pequeno texto com um enorme pedido de desculpas aos árbitros portugueses, que por aqui vou criticando com alguma frequência. Vistas algumas arbitragens deste Mundial, qualquer Mota ou Costa estaria habilitado a evoluir nos estádios do Catar.
Não bastasse o árbitro Janny Sikazwe ter roubado descaradamente o Canadá no jogo com a Bélgica, tivemos um senhor do apito argentino(?) a apitar o Portugal-Marrocos que mostrou o primeiro cartão salvo erro aos 79', numa altura em que a selecção do seu país ainda estava em "jogo", tivemos o árbitro (italiano) do Argentina-Croácia a transformar um canto contra a Argentina num penalti muito duvidoso a favor dos sul-americanos e ontem tivemos um árbitro canadiano e uma legião de VARes que transformaram um penalti claro contra a França, numa falta atacante e na amostragem de um cartão amarelo ao jogador marroquino.
Podem parecer poucos erros em tantos jogos, admito, mas à parte o argentino do jogo Portugal-Marrocos que só inclinou o campo, todas as outras más e caricatas decisões tiveram influência clara no resultado dos jogos.
Ontem a França foi claramente beneficiada. Não só sofreria penalti como teria que ver um seu jogador expulso.
Eu até entendo que a FIFA queira dar abrangência e fomentar a actividade da arbitragem dando-lhe mais qualidade, permitindo que árbitros de regiões menos desenvolvidas a nível futebolístico estejam nos grandes palcos, porque aí sentirão o que é a importância da sua actividade, mas colocar um árbitro canadiano sem currículo numa meia-final do campeonato do Mundo, é procurar chatices e ter quase a certeza de as encontrar. Não havia disponível um inglês, um alemão, um belga, um neerlandês, sei lá, um de um campeonato competitivo e habituado a estes palcos?
Se era para isto, bem que podiam ter convocado o Soares Dias, o Manuel Mota ou até o Rui Costa, que fariam mal muito melhor.
É já conhecido um finalista deste Campeonato do Mundo: a Argentina, que ontem derrotou de forma categórica a Croácia por 3-0: Messi, com 35 anos, sobrepôs-se a Modric - que tem 37 anos, a idade de Cristiano Ronaldo. Em mundiais anteriores, noutras épocas, era raríssimo encontrar tantos trintões ainda em destaque nas respectivas equipas. O que só demonstra como se evoluiu em metodologia de treino, acompanhamento clínico e fisiológico dos jogadores e até a nível mental e comportamental. Nada a ver, um ídolo de agora com os de gerações precedentes.
Mas o que venho pedir-vos, ainda a tempo, é o vosso palpite para a final que vai disputar-se neste domingo. Quem ganha, e por que números, e quem irá marcar o(s) golos(s) nesse embate do Catar. Sabendo-se que falta ainda conhecer a outra selecção finalista: o França-Marrocos decorre hoje, a partir das 19 horas.
Quem acertar, ou andar mais próximo, recebe um prémio.
Queria eu que viesse aqui fazê-lo de hoje a oito dias, mas por obra e (des)graça dos marroquinos, cá estou hoje a fazer o balanço da participação do conjunto de jogadores portugueses que um empresário prestador de serviços, a contas com a justiça fiscal (mau agoiro desde logo) entendeu chamar para uma voltinha ali ao Catar.
Partimos para o emirado com o objectivo de vencer, nas palavras do timoneiro; Portanto quaisquer desculpas de "ah e tal, só tínhamos ido aos quartos duas vezes", não colhem. A missão foi um redundante falhanço.
E não foi um redundante falhanço apenas porque caímos nos quartos de final, mas foi um ainda maior falhanço ao nível exibicional, com excepção, que por norma faz a regra, do jogo com a Suíça, onde começámos com uma pontinha de sorte e terminámos em grande. Talvez o único jogo em que o senhor da santa deu liberdade aos seus jogadores de fazerem aquilo que tão bem sabem: Jogar à bola!
O jogo da desgraça, já antevisto no terceiro jogo da fase de grupos, com a Coreia do Sul e de certa forma no primeiro jogo com o Gana, foi o espelho onde estava reflectida a imagem de um homem que hoje não tem condições para gerir uma geração de extraordinários jogadores, que correm o risco de nada ganharem se o contrato com a empresa de prestação de serviços de aconselhamento, escolha e treino de jogadores, continuar até à data prevista para o seu final. Nestas coisas costuma-se viver por ciclos e com esta prestação desastrosa, não só ao nível desportivo mas ao nível relacional (a canalhice que fez a Cristiano Ronaldo deveria por si ser motivo para rescisão contratual), será o final do caminho para esta colaboração que até deu frutos sumarentos. Não esquecer o Euro/16 e a Taça das Nações, ou Confederações, ou lá como se chama mais uma competição que a FIFA inventou para facturar mais um punhado de dólares.
Não deixa de ser curioso que da única vez que a equipa jogou o que os seus jogadores sabem, "espetou" seis à Suíça, o que quer dizer, na minha modesta opinião, que se utilizasse sempre os melhores, nos lugares onde rendem e os deixasse ser eles próprios, sem aferrolhoar o jogo, até podiam perder, que no futebol há três resultados possíveis, mas estariam sempre mais perto de ganhar. O empresário saiu-se bem em 2016 tendo sido campeão com apenas uma vitória na final e convenhamos por obra e graça da santinha e então vai daí e toca a utilizar sempre a mesma táctica, "bem fechadinhos cá atrás" e esperar que Ronaldo resolva. Curiosamente foi resolvendo, até na caminhada bem sucedida para o Catar, que o senhor engenheiro empresário pouco fez por merecer.
Ao longo dos anos que por aqui vou escrevendo, sempre coloquei a honorabilidade do senhor empresário acima de qualquer suspeita, está no histórico, não encontrarão outra opinião. Confesso no entanto que vou estranhando algumas das suas opções, nomeadamente a troca de Rui Patrício por Diogo Costa, a troca de William por Ruben Neves, a titularidade absoluta a João Félix (que contrariamente ao que esperava, esteve uns furos acima da minha previsão) e a cereja no topo do bolo, esquecer que tem na equipa só o melhor jogador do Mundo e não "armar" a equipa em função desse jogador. Revejam o jogo com a Coreia do Sul e vejam quantos centros (não) foram feitos para um tipo que se eleva em pulo a 2,95cm (dois metros e noventa e cinco centímetros). Eu contei dois.
A forma como escolheu os titulares, esquecendo por exemplo o melhor jogador do campeonato italiano, leva-me a pensar nalguma "joint venture" com o senhor empresário que manda no futebol mundial. A sério que já meti mais as mãos no lume pelo homem.
A federação portuguesa de futebol deve ao empresário com quem acordou um contrato de prestação de serviços, dois títulos internacionais, inéditos. Mas deve a um jogador, à sua fibra, à sua liderança, ao seu exemplo, tudo o que aquele parceiro de negócios conseguiu.
Sem Cristiano Ronaldo, o empresário absentista não existiria, esse é que é o ponto.
E agora que é hora de balanço, ele que não permaneça no balancé. Que desça e para o lado certo. É hora de sangue novo no banco e isso não é compatível com a renovação do contrato de prestação de serviços.
Não me parece que haja vontade de uma varridela profunda, mas seria uma bela oportunidade para se aproveitar e correr com aquela cangalhada toda que por ali anda a gravitar à volta dos tipos que suam em campo e se andam a encher, pouco contribuindo para o avanço do futebol luso. Essa será matéria para outra oportunidade.
Com Fernando Gomes e Fernando Santos a equipa de todos nós do Europeu de França foi-se transformando aos poucos da equipa de alguns, da coligação de interesses das duas "nádegas" como dizia o nosso ex-presidente que mandam no futebol português muito bem explorada pelo maior empresário do mundo para fazer a montra para a próxima estação.
Portugal entrou em campo com nove jogadores da coligação em 11 e terminou com 12 em 16, incluindo um brasileiro batoteiro e arruaceiro naturalizado a martelo para não fugir do Porto a custo zero. Não falando dum cadastrado Pepe que sempre encontra na selecção o seu local de redenção, fazendo muito por isso tenho que admitir.
O que se viu em campo foi o costume, uma equipa sem rotinas por falta dum onze base definido e a viver da inspiração de alguns jogadores excelentes. Uma equipa com medo de partir para cima do adversário, a querer lá chegar devagar e devagarinho e ao ritmo do toca e foge, até levar com um golo mais que consentido por um guarda-redes que devia estar a pensar para onde segue em Janeiro. A perder por 1-0 ao intervalo lá veio o "vamos lá cambada, todos à molhada, que isto é futebol total" incluindo a entrada dum Cristiano Ronaldo que farto de apanhar pancada de tudo e todos incluindo o seleccionador é que iria resolver aquilo. E lá fomos.
E, verdade se diga, depois de termos perdido com a Sérvia o acesso directo ao Mundial, depois de termos a sorte de não termos de defrontar a Itália, chegar aos oitavos de final no Catar com uma goleada contra a Suiça já não foi nada mau para uma selecção nacional transformada em equipa de alguns.
Extremamente infeliz a forma como Fernando Santos geriu o assunto Cristiano Ronaldo, desde mentindo numa conferência da imprensa até humilhando o melhor jogador do mundo na seguinte. Das duas uma, ou o Cristiano não ia ao Catar por não reunir condições físicas e psicológias para o efeito, ou então a equipa teria de ser construída à volta dele, porque só a presença dele prende ou distrai dois ou três jogadores contrários ao contrário dum jovem armado em pistoleiro. E construir a equipa à volta dele é aproveitar as rotinas dos dois Manchesters dando todo o palco a Bruno Fernandes e Bernardo Silva, Dalot, Cancelo e Rúben Dias e projectando Rafael Leão na ala. Palhinha poderia ser o factor de equilíbrio duma equipa rotinada em campo. Nada disso aconteceu, William Carvalho, João Mário, Ruben Neves e Octávio foram entrando e saindo para a zona do meio-campo, impedidndo qualquer sentido colectivo, o sempre inutil André Silva e um Ricardo Horta que não passa dum jogador mediano foram entrando lá para a frente. João Felix é aquilo mesmo que o Simeoni diz dele, é um jogador de momentos, quando é preciso não está lá para resolver.
Parece que dez jogadores não viajam no avião da comitiva da FPF, pois decidiram ficar no Catar com as respetivas famílias. São eles Rui Patrício, Raphael Guerreiro, Cristiano Ronaldo, Rafael Leão, Bruno Fernandes, Matheus Nunes, Rúben Neves, Bernardo Silva, João Cancelo e Diogo Dalot. Pois ficou no Catar aquele que deveria ter sido o núcleo duro da selecção.
Agora só espero que Fernando Santos tenha a dignidade de se demitir, até para melhor resolver a sua questão fiscal, e que venha alguém que recupere a selecção de todos nós.
Uma palavra para o Catar que organizou muito bem o primeiro mundial de futebol numa nação/emirato árabe e muçulmana, claro que com aquelas questões que conhecemos, como a forma como o obteve ou os direitos dos trabalhadores, das mulheres e das minorias sexuais (como era em Portugal no tempo de Salazar ou como é ainda hoje nas estufas de Odemira?), mas apesar de tudo propiciando um ambiente de festa de homens, mulheres e crianças que pode transformar mentalidades e abrir caminhos para o futuro não apenas para o Catar mas para toda aquela região.
João Félix tenta furar, sem êxito, a muralha magrebina: Marrocos "equipou à Portugal"
Pode ser coincidência. Mas o facto é que Portugal perdeu os dois únicos jogos neste Mundial do Catar quando Cristiano Ronaldo estava fora do onze nacional em campo. Na primeira vez, contra a Coreia do Sul (1-2), já tinha saído do indicação do seleccionador. Ontem, frente a Marrocos, ainda não tinha entrado. Quando isso aconteceu, aos 52', já a selecção magrebina tinha marcado o golo solitário e estacionado o autocarro dentro da sua área - cenário que não mudaria até ao fim.
A diferença entre os dois jogos foi esta: o primeiro ocorreu na fase de grupos, quando a equipa das quinas já tinha assegurado presença nos oitavos-de-final; ontem era a eliminar, não havia salvação possível perante uma derrota.
A imagem do melhor jogador de todos os tempos a abandonar o relvado sem conter as lágrimas, após o apito final, é já uma das mais impressivas deste Mundial agora reduzido a quatro selecções. Fernando Santos ficou prisioneiro das suas opções e será julgado em função disso. Não creio que prolongue o vínculo à Federação Portuguesa de Futebol.
Sai acompanhado, nesta fase decisiva, por três outros seleccionadores que também caíram nos quartos-de-final: Tite (Brasil), Van Gaal (Holanda) e Gareth Southgate (Inglaterra). Com o mérito, no entanto, de ter conduzido a Portugal aos quartos-de-final, o que só sucedeu pela terceira vez num campeonato do mundo da modalidade. E é o primeiro treinador português a consegui-lo: antes dele aconteceu com os brasileiros Otto Glória (1966) e Luiz Felipe Scolari (2006).
O jogo foi deplorável, sonolento, indigno de um Mundial. Como vários outros a que assistimos (vi poucos, como já tinha advertido) deste certame das Arábias. Com os marroquinos a marcarem no final do primeiro tempo, na única oportunidade que tiveram, e o jovem guarda-redes Diogo Costa a sair mal no retrato. Mas, vendo bem, nenhum dos nossos merece nota positiva. Talvez João Félix fosse o menos mau.
Um contraste em toda a linha com a outra partida de ontem destas meias-finais: o França-Inglaterra, de resultado incerto até ao fim, com intensidade do primeiro ao último minuto. Foi uma final antecipada. Passou a França, com um golo decisivo de Giroud (suplente do lesionado Benzema), aos 78', e duas assistências do luso-gaulês Griezmann. Reveja-se a jogada do primeiro golo, marcado por Tchouameni (17'), construída em sete toques e tendo Mbappé entre os intervenientes: uma obra-prima do futebol. A Inglaterra empatou de penálti (54') por Harry Kane, que aos 84' falhou a segunda grande penalidade atirando a bola para a bancada. Falhanço fatal.
Saímos, portanto, já no terço final da prova. E com a certeza de que integramos o restrito lote das oito melhores selecções do mundo. Antes fôssemos assim em quase tudo, fora do âmbito desportivo.
Restam, para quem esteja interessado, o Argentina-Croácia (terça-feira, 19 horas) e o França-Marrocos (quarta, 19 horas), além da final.
Poderíamos ter feito melhor?
Sim, se tivéssemos chegado às meias-finais - objectivo que nem em sonhos passaria pela cabeça dos profetas da desgraça, os mesmos que desde ontem rasgam as vestes porque a equipa das quinas caiu nesta fase. Talvez, apesar das palavras de desprezo que disseram e escreveram, ambicionassem mesmo o título mundial que sempre nos fugiu.
Antes deste confronto com Marrocos, selecção que já contribuíra para o afastamento da Bélgica (segunda da tabela da FIFA) e a eliminação de Espanha (sétima na mesma tabela) alguns invocaram a alegada "vingança de 1986" como motivação adicional, aludindo ao Mundial do México, quando o país africano também nos afastou, embora isso tivesse acontecido ainda na fase inicial da prova.
Palhinha é melhor que Rúben Neves (e que William), mas não jogou; Matheus Nunes é bem melhor que Otávio, escolheu Portugal em detrimento do Brasil para não sair do banco; Rui Patrício é mais seguro numa competição destas que um Diogo Costa ainda muito "verde".
E Ronaldo? Merecia outro tratamento e hoje até devia ter sido titular. Resta-nos esperar por uma revolução na seleção de todos nós. Onde não haja um agente com a influência que se sabe, onde um selecionador novo possa injetar sangue fresco e agarrar a sério numa das melhores gerações de sempre.
Escrevo estas linhas poucos minutos antes do Portugal – Marrocos, apenas porque me ocorreu este número: trinta e sete. Com trinta e sete anos duas figuras do universo sportinguista alcançaram o Olímpo:
Carlos Lopes ganhou o ouro olímpico;
Joaquim Agostinho ganha a mítica etapa no Alpe d’Huez no Tour de France.
Com a mesma idade, trinta e sete anos, o que ganhará Cristiano Ronaldo neste Mundial?
Vamos ver, o jogo começa dentro de momentos e CR7 inicia o jogo no banco…
Curiosamente ontem à tarde a meteorologia deu-me o privilégio de observar um dos bonitos espectáculos que a natureza, de quando em vez, nos proporciona: o arco-íris.
Deixo aqui uma das fotografias que tirei, da varanda, e que aqui coloco em homenagem não só a este jornalista, como principalmente a todos aqueles que lutam pela igualdade entre os Homens (com letra maiúscula, sinónimo de homens e mulheres) na raça, na religião, nas diferenças políticas e pelo direito de amar quem quiserem.
Igualmente e de forma simbólica, dou uma bofetada aos dirigentes do Catar e da FIFA.
Como é que ainda não nos tínhamos lembrado desta? Teve de ser um jornalista do Guardian. O artigo nem é sobre Fernando Santos, mas adorei a comparação.
Jogadores abraçados após goleada: a nossa terceira melhor prestação de sempre em Mundiais
Mais que nunca, os profetas da desgraça parecem condenados ao desemprego. A selecção portuguesa teve ontem um desempenho brilhante, no Mundial do Catar, goleando a Suíça por 6-1. Foi a nossa vitória mais dilatada de sempre em fases a eliminar de campeonatos do mundo, superando os 5-3 à Coreia do Norte em 1966. E coroando uma partida brilhante, com golos para todos os gostos, num jogo que encerrou com 2-0 ao intervalo.
O herói do desafio foi um estreante como titular na equipa das quinas: Gonçalo Ramos. Ponta-de-lança digno deste nome. Marcou três (17', 51', 67') e deu outro a marcar (55'). Mais ninguém conseguiu fazer o mesmo até agora no Mundial do Catar. Jamais esquecerá esta goleada que o teve como protagonista.
Mas outros estiveram em grande nível: Pepe, impecável a defender e marcando de cabeça o segundo golo (33'); Raphael Guerreiro (dono da lateral esquerda, autor do belo golo 4 e da assistência para o último, aos 90'+2); João Félix (sem golos mas com duas assistências, no primeiro e no quinto); Dalot confirmando-se como titular indiscutível da ala direita ao assistir no terceiro e impedir que a Suíça marcasse aos 38'; Bruno Fernandes, com outra assistência (para o golo de Pepe, a terceira que faz neste Mundial).
Rafael Leão desta vez entrou bem, a tempo de encerrar a contagem com outro grande golo. Também Otávio e William Carvalho merecem elogio.
Perante 83.720 espectadores, a Suíça - que vencera Camarões e Sérvia na fase de grupos - procurou travar a nossa manobra ofensiva nos primeiros minutos, mas acabou encostada às cordas, vergada ao peso da derrota. Faz a mala, de regresso a casa, seguindo o exemplo da medíocre selecção de Espanha, eliminada também ontem por Marrocos após 120 minutos em que foi incapaz de marcar um golo e de uma ronda final de penáltis em que não converteu nenhum.
A equipa das quinas, pelo contrário, confirma a presença nos quartos-de-final - algo que antes só nos aconteceu em 1966 e 2006. Sagrando-se desde já como uma das oito melhores selecções à escala planetária com a nossa terceira melhor prestação de sempre até ao momento. Vamos defrontar precisamente Marrocos no próximo sábado. Com a legítima ambição de atingirmos as meias-finais. Agora não nos contentamos com menos.
Caíram alguns mitos persistentes neste jogo. Que a equipa portuguesa "só ganha por sorte", que apenas vence "por influência da santinha", que Fernando Santos é "incapaz de pôr a equipa a jogar ao ataque", que "faz alinhar sempre os mesmos", que esta selecção "tem vocação para o empate". Ninguém diria: levamos já 12 golos marcados em quatro jogos - à média de três por desafio. E ontem Santos mudou oito jogadores em relação ao desafio anterior, frente à Coreia do Sul. Mantendo no onze inicial apenas três titulares do Euro-2016.
Acabou-se também o mito de que o seleccionador era "incapaz de deixar Cristiano Ronaldo no banco". Aconteceu isso, levando os que repetiam essa ladainha a enfiar a viola no saco. Ronaldo entrou apenas aos 73', quando quase todo o estádio pedia em coro que ele calçasse: rendeu Gonçalo Ramos, novo herói das quinas, enquanto Ricardo Horta e Vitinha substituíam Otávio e João Félix.
Ainda entrariam Rúben Neves (para o lugar de Bernardo Silva, 81') e Leão (substituindo Bruno Fernandes, 87'). Quando a vitória e a passagem à fase seguinte já estavam garantidas.
Vários marcos assinalados. O nosso melhor resultado na etapa mata-mata de um Mundial. Ramos, com 21 anos, o mais jovem autor de três golos num só jogo desde o Campeonato do Mundo de 1962. Pepe, com 39 anos, o segundo mais velho a marcar em desafios a eliminar de uma fase final após o camaronês Roger Milla em 1994.
Todos satisfeitos em Portugal? Quase todos. Resta um pequeno círculo de irredutíveis aziados incapazes de celebrar vitórias das cores nacionais. São aqueles que inventam qualquer pretexto para desejar desaires à nossa selecção.
Andam todo o tempo em contramão: só festejam se houver derrota. Felizmente vão permanecer uns dias longe daqui.
Raphinha, Vinicius, Paquetá e Neymar: exibição do outro mundo contra a Coreia
Foi um jogo do outro mundo: uma das melhores exibições que me lembro desde sempre da selecção brasileira. Triunfo arrasador, ontem, por 4-1 frente à Coreia do Sul de Paulo Bento. Com cinco golos fantásticos - incluindo o coreano - e uma actuação da canarinha só registada em momentos áureos dos Mundiais de 1970, 1982 e 2002.
Golos para todos os gostos. Os brasileiros marcados por Vinicius, Neymar (que mostrou ao mundo como se marca um penálti em grande estilo), Richarlison e Paquetá. Astros absolutos do Reino da Bola.
Vejam o terceiro golo - com intervenção directa dos centrais, Marquinhos e Thiago Silva. Futebol ao ritmo de samba: autêntica obra de arte. Um dos melhores que já vi num Campeonato do Mundo - e este já é o 13.º que tenho no meu currículo como espectador.
E outra para um dos nossos: Raphinha. Com nova exibição espectacular, que teve como momento alto a prodigiosa assistência que abriu caminho à goleada. Saravá, Raphinha. Saravá, Brasil.
Stephanie Frappart, Yamashita Yoshimi e Salima Mukansanga fazem história neste Mundial
Havendo agora mulheres de apito na boca, neste Mundial de Futebol, não custa vaticinar que aparecerão cada vez mais nos relvados, incluindo em jogos dos campeonatos nacionais. Portugal não será excepção.
Nada tenho a objectar: são sinais dos tempos. Só me questiono como falarão e escreverão, a partir de agora, alguns que passam o tempo a injuriar os árbitros. Farão o mesmo com as árbitras?
O melhor jogador português de todos os tempos fixa sempre dois ou três defesas perto dele, em policiamento permanente. Seja o adversário quem for.
Ronaldo abandonou o rectângulo de jogo visivelmente contrariado. Parecia prever o que aconteceu depois.
Resta acrescentar: André Silva, que o substituiu aos 64', foi uma nulidade. E Rafael Leão, também em campo desde o minuto 64, rendendo Matheus Nunes, voltou a demonstrar uma indigência total pelo segundo jogo consecutivo.
Valerá a pena pôr qualquer deles como titular no lugar do Cristiano na decisiva partida de amanhã contra a Suíça?
Ricardo Horta: estreia de sonho como titular da selecção no Mundial
(Foto: EPA)
Não há três sem quatro. Aconteceu hoje à selecção portuguesa o que sucedeu às de França, de Espanha e do Brasil: perderam o último jogo da fase de grupos do Mundial, quando todas já tinham garantido o apuramento para a segunda fase. No nosso caso, ao contrário dos espanhóis, estava também assegurado o primeiro lugar do Grupo H.
Tudo muito diferente do cenário ocorrido em 2002, no Mundial da Coreia e do Japão, quando também fomos derrotados pelos coreanos (0-1), o que nos fez abandonar o certame precisamente na fase inicial, fazendo as malas mais cedo. E não era por falta de qualidade da equipa das quinas, que contava com vários jogadores que hoje treinam equipas e selecções: Paulo Bento, Sérgio Conceição, Rui Jorge e Petit. Além de Figo, Pauleta, Vítor Baía, Beto e João Vieira Pinto - este a figura mais destacada, mas pela negativa.
Desta vez com a qualificação garantida, após vencermos Gana e Uruguai, os profetas da desgraça estavam antecipadamente fora de combate: o ansiado dia, para eles, ainda não chegou. A nossa selecção continua em prova no Catar, ao contrário de várias outras já recambiadas para o local de origem: Alemanha, Dinamarca, México, Uruguai e Bélgica - esta que só por delírio a FIFA mantém no segundo posto da tabela classificativa ao nível de equipas nacionais.
Perdemos por alguma disciplicência, excessiva descontracção face aos objectivos já concretizados e à ausência de alguns dos melhores, poupados pelo seleccionador para os próximos confrontos. Com destaque para Bruno Fernandes, à bica com um amarelo e que teve de ser gerido a pensar no desafio de terça-feira, frente à Suíça.
E até entrámos muito bem contra os coreanos. Com um golo logo aos 5', na primeira oportunidade, muito bem concretizada por Ricardo Horta - o melhor dos nossos nesta sua estreia como titular pela selecção. Golo em ataque rápido, com apenas três toques: passe longo de Pepe, centro perfeito de Dalot, oportuna desmarcação do avançado braguista dentro da área, metendo-a lá dentro sem a deixar pousar na relva.
A Coreia não baixou os braços, empatando aos 27' na sequência de um canto, com a bola a embater caprichosamente nas costas de Cristiano Ronaldo enquanto João Cancelo (desta vez lateral esquerdo mas ainda sem mostrar qualidade para integrar o onze titular) era incapaz de reacção.
Na segunda parte Portugal reequilibrou a partida, com boas exibições de Pepe, Vitinha e (a espaços) Matheus Nunes. Por contraste, actuações apagadíssimas de Cristiano Ronaldo e João Mário. André Silva e Rafael Leão, que entraram aos 64' para render Matheus e CR7, não fizeram melhor, longe disso.
O golo da vitória coreana aconteceu aos 90', numa espécie de réplica do que teve a assinatura de Ricardo Horta: ataque rapidíssimo, aproveitando o desposicionamento de toda a nossa equipa junto à baliza adversária. Três dos nossos - Dalot, Palhinha e William - foram incapazes de acompanhar Son, que correu cerca de 70 metros e endossou a bola à vontade, com vistoso túnel a Dalot, enquanto Bernardo Silva punha em jogo Hwang, que não perdoou frente a Diogo Costa.
Ficou por vingar a derrota de há 20 anos. Mas agora com duas diferenças: Portugal transita para os oitavos e Paulo Bento, então jogador das quinas, treina agora os sul-coreanos. Há, portanto, dois portugueses entre os 16 seleccionadores ainda em prova neste controverso Campeonato do Mundo.
Bento, que orientou a selecção nacional antes de Fernando Santos, cessará contrato na Coreia após o Mundial. Poderá ser ele o sucessor de quem lhe sucedeu?
Nunca se sabe. A vida dá sempre muitas voltas. E o futebol também.
ADENDA: Há 20 anos que a selecção dos Camarões não vencia um jogo do Campeonato do Mundo. E há 17 jogos que o Brasil não perdia. Aconteceu hoje: Brasil, 0 - Camarões, 1.
O Mundial do Catar tem sido um fiasco em questão de audiências televisivas, na Alemanha. E, agora que a Mannschaft já deixou as arábias, até me pergunto se os canais estatais ARD e ZDF continuarão a transmitir os jogos.
Algo se passa na selecção alemã. Um tipo de futebol que deixou de funcionar? Falta de adaptação dos seleccionadores (sempre alemães) ao novo estilo de jogadores com origem migrante, como Serge Gnabri, Leroy Sané e Jamal Musiala? Enfim, nem sequer sou treinadora de bancada, não me compete dar respostas, muito menos, encontrar soluções. Mas a maneira como a Alemanha foi eliminada, desta vez, foi muito deprimente. O jogo de ontem teve momentos surreais.
A Alemanha tinha de ganhar. Mas estava, ao mesmo tempo, dependente de uma vitória da Espanha. Os primeiros golos foram marcados quase ao mesmo tempo: a Alemanha aos 10 minutos, a Espanha aos 11 minutos. Estava tudo a correr bem. Mas, aos 48, o Japão empatou e aos 51 pôs-se em vantagem. Logo a seguir, aos 58 minutos, a Costa Rica empatou. Aqui, o meu marido e eu passámos a torcer por uma vitória da Costa Rica. E note-se que o meu marido é alemão! Porquê? Se a Alemanha já não tinha praticamente hipóteses, que fosse a Espanha também eliminada. E não é que a Costa Rica marca o segundo golo aos 70 minutos?
Alegria efémera. Três minutos depois, Havertz empatou o jogo. Maldito Havertz! Ficámos numa situação muito ingrata, não me lembrava de já ter vivido semelhante, a assistir a um jogo de futebol. Deveríamos torcer pelo terceiro golo da Costa Rica? Mas: e se a Espanha ainda conseguisse virar o resultado?
O que veio a seguir foi surreal. A Alemanha começou a marcar golos e a Costa Rica desesperava. Tudo em vão. O marcador do Japão-Espanha congelara naquele fatal 2:1. Foi penoso ver a Alemanha a aumentar a sua vantagem, sabendo que tal vitória beneficiava apenas a Espanha.
Só nos resta esperar que “Marruecos” trate da saúde a “nuestros hermanos”.
A partir de hoje, a cotação do nosso Morita passa a valer bastante mais no mercado futebolístico internacional - bem acima dos 7 milhões de euros que agora lhe atribuem. Motivo: foi titular no surpreendente jogo de ontem em que a selecção nipónica derrotou a super-favorita Espanha repetindo o triunfo da jornada inaugural, frente à Alemanha.
Actuando como médio interior, o jogador leonino teve um desempenho muito positivo neste desafio, mantendo-se em campo até ao apito final. Elogio merecido para ele e vários dos seus colegas de selecção, como Doan, Tanaka (marcadores dos golos), Ito, Mitoma, Kamada, Asano e Itakura. Obreiros desta proeza inédita: o Japão transita para os oitavos do Campeonato do Mundo classificando-se em primeiro no seu grupo após neutralizar a propalada "fúria espanhola". A selecção roja, orientada por Luis Enrique, não conseguiu melhor do que quatro pontos (uma vitória, um empate, uma derrota).