Há pessoas e animais que nasceram para vigiar. Lucky Luke vigiava mas sabia fazer o trabalho, quando era necessário ele próprio assentava as travessas, fixava os carris, vigiava para que o trabalho fosse seguro e com qualidade.
Já os abutres vigiam, apenas, esperam que a oportunidade caia por terra.
Para Mourinho a equipa ia andando mas não ia convencendo.
Já ele convence-se que acerta sempre, é um convencido. Na imagem acima lá está ele a acertar, Renato Sanches, a fantástica contratação da Roma na época passada.
Mais uma vez acertou.
Para acertar muito é necessário estar vigilante, neste momento, parece-me que "o turco" está a vigiar o lugar de Roberto Martinez.
Dar oportunidade não significa acreditar, Mourinho não acreditou nem em Nacho, nem em Morata. Xavi acreditou em Lamine Yamal, sentou no banco um jogador que custou 126 milhões de euros e deu a titularidade a um miúdo com 16 anos.
Há treinadores que vigiam, há outros que trabalham.
Muitos choram o despedimento de Santos, um cidadão exemplar, bom católico (ele é que trouxe essa faceta da vida privada a público), cumpridor das obrigações fiscais.
Santos se fosse boa pessoa e bom treinador não teria deixado o despedimento anunciado arrastar-se por mais de um ano.
Há ocasiões na nossa vida pessoal e profissional que temos de ser nós a dar o primeiro passo, quando sentimos que não estamos à altura, assumimos as nossas responsabilidades, despedimo-nos, vamos à nossa vida.
Havia a narrativa, despede-se Santos e contrata-se quem?
Santos é insubstituível, ninguém aponta um substituto, dizia-se.
Há quem o tenha feito, já passou mais de um ano.
Pelos vistos treinadores alemães a treinarem equipas portuguesas conseguem bons resultados, repito, há mais de um ano que o escrevi.
Agora vamos contratar à pressa um Mourinho qualquer, o original não venceu nada de novo.
Explico melhor, não foi campeão europeu com a União de Leiria, com o Tottenham ou com o Chelsea (nem com o Benfica ou o Real Madrid mas isso seria outra história) foi campeão europeu com o Porto (do apito dourado) e com o Inter de Milão (a meias com Olegário Benquerença) o Porto já tinha sido campeão europeu com Artur Jorge e o Inter já o tinha sido por duas vezes com um ex-treinador do Belenenses, um argentino (embora os argentinos não percebam nada de futebol) chamado Herrera.
O último título significativo de Mourinho foi em 2009/2010 (a meias com um vulcão islandês e com a arbitragem de Benquerença) doze anos depois será um treinador melhor?
Apesar de ter sido duas vezes campeão europeu, Mourinho fugiu sempre de disputar o troféu internacional com as equipas dos outros continentes.
Como seleccionador português Mourinho teria coragem de disputar um Mundial ou faria aquilo a que já nos habituou, vencer um Europeu, repetindo a conquista de Fernando Santos, fugindo a seguir?
Mourinho e Zidane estiveram três épocas como treinadores do Real Madrid.
Zidane venceu três Ligas dos Campeões, Mourinho zero.
A questão é que quem não aparece, esquece.
O presidente do PSG olha para os resultados da equipa de Mourinho com o Bodo Glint, para a retumbante vitória na Liga Conferência (rói-te de inveja, Zidane) e na hora de optar não tem dúvidas, basta olhar para as conquistas de um e de outro no Real Madrid, basta olhar para os fantásticos resultados nesta época, um maravilhoso 6° lugar (quase tão bom como o título do Verona) no campeonato italiano e um incrível título europeu (já falei do Bodo Glint?).
Na hora de optar, não tem dúvidas, dizia, Campos, Mendes e Nasser Al-Khelaifi optarão por Mourinho, claro.
Mesmo que o PSG não vença a Liga dos Campeões em 2022/2023, poderá vencer a afamada Liga Conferência em 2023/2024.
Ia escrever sobre Fernando Fernandes, campeão e treinador de campeões, uma pessoa que tive o gosto de conhecer, com quem tive a alacridade de privar, boa pessoa, duma simplicidade cativante que nos mostra que para ser campeão na vida não é necessário ser campeão na arrogância.
Entretanto surgiu esta "notícia" sem contraditório; «Bruno Fernandes não presta para quase nada, só para marcar penáltis» (isto pronuncia-se como? sempre disse: pénalti!; é pénalti, filho da *uta, táscomprado ou quê?, será que que tenho de começar a injuriar os árbitros à "Cascais"; pe-nál-ti, rico, seu possidónio, não tá-se mêmo a ver qe foi pe-nál-ti? de todo! c'o rror!, possidóooonio!").
"O Bruno (...) provou ser um grande marcador de penáltis" / "O Gedson é um miúdo fantástico com muita qualidade".
(as frases do parágrafo acima são de José Mourinho sobre Bruno Fernandes e Gedson Fernandes, p.31, Record de 2020.07.29)
Não vou fazer juízos de valor, supostamente, foi uma pessoa com carteira de jornalista que recolheu esta informação e a publicou; eu que não sou jornalista teria perguntado ao "melhor treinador do mundo":
- Acredita que Gedson Fernandes é melhor jogador de futebol que Bruno Fernandes? Acredita que foi mais determinante a presença de Gedson no Tottenham que a presença de Bruno Fernandes no United?
(só perguntava isto porque o Tottenham de Mourinho e Gedson foi eliminado da "champions" por uma equipa austríaca e o Manchester United de Bruno Fernandes classificou-se para a "champions" sem espinhas).
... como ganhei no Benfica de João Vale e Azevedo e na União de Leiria de João Bartolomeu; eu (José Mourinho) acredito que ganhei, que importa que os factos desmintam a realidade?
Ganhei títulos.
Títulos de jornal, talvez; mind games (como dizem no estrangeiro).
Menos títulos de jornal, mais títulos no campo, seria (penso) a ambição do Dr. Varandas do Tottenham quando contratou Mourinho.
Entre Gedson e Bruno tudo indica que Mourinho terá escolhido o Fernandes errado.
Às vezes vejo o futebol como uma tourada, um touro dum lado, um toureiro do outro; um touro vermelho (red bull) que avança, um toureiro que investe e dá a estocada mortífera ou então foge espavorido pela arena fora e sai da praça, entram os bandarilheiros (os treinadores interinos) e aguentam a situação.
Hoje é (penso eu) um dia de tudo ou nada. Mourinho vence e é um herói.
Mourinho perde e é um herói, também, demite-se sem custos monetários para o Tottenham e indemniza a equipa londrina de todos os custos que teve com ele.
Acredito que José Mourinho no final do jogo tomará a atitude certa, digna.