Nas melhores empresas do mundo existem duas áreas da gestão tratadas com o maior cuidado, dado serem cruciais para o sucesso das mesmas: a gestão do relacionamento com os clientes e com os empregados. Neste último caso, pretende-se gerir todo o ciclo de vida do empregado na empresa, desde o momento que surge referenciado até ao momento em que pode ser esquecido, o que pode ir bem além do momento da saída.
Quando essa empresa é o Sporting SAD, então estamos a falar da relação com os seus profissionais, jogadores, treinadores e restante staff. O objectivo é rentabilizar da melhor forma esse capital humano, construindo relações benéficas para todas as partes e propiciadoras do melhor rendimento desportivo de cada um.
Ultimamente têm vindo a público diversas notícias que demonstram que o Sporting está a evoluir favoravelmente no que respeita à gestão do relacionamento com os jogadores:
1. Recrutamento - Estão a ser assinados contratos de profissional com os melhores jogadores da formação no primeiro momento legalmente possível. Por outro lado, as recentes contratações acrescentam valor ao plantel existente, sem introduzirem elementos com características semelhantes aos que já existem.
2. Fidelização - Estão a ser assinadas renovações com aqueles jovens que já deram provas, com a colaboração dos seus empresários, que os colocam em patamares de vencimento confortáveis e desanimam eventuais predadores externos interessados no seu desvio. Um caso exemplar é o de Joelson Fernandes, em que foi possível ultrapassar a ânsia de lucro imediato dos seus representantes. Por outro lado, tenta-se fazer regressar um ou outro formado em Alcochete que foi conhecer outras paragens, como aconteceu agora (e muito bem) com João Mário, e não aconteceu nada bem com Ilori e Camacho. Devia acontecer o mesmo com Ryan Gauld, de semana a semana o melhor do Farense.
3. Libertação - Tem havido a preocupação de encontrar colocação para os excedentes e de acudir a desejos evidentes de saída. Por isso, além daqueles que foram saindo e sendo emprestados, Battaglia, Acuña e Palhinha estiveram à vontade para tratar da sua vida, tendo Palhinha (e muitíssimo bem) revisto a sua ideia de Inglaterra, acabando reintegrado no plantel com o contrato revisto. Por outro lado, permanecem em stand-by, com as condições de trabalho salvaguardadas, aqueles que não aceitaram ou não se encaixaram nas ofertas disponíveis.
4. Protecção - No exemplo que utilizei para ilustrar este post, Misic já veio falar da sua gratidão ao Sporting por lhe ter permitido um empréstimo a um clube do seu país de origem para melhor recuperar dum tumor na virilha. Muito importante estar ao lado dos jogadores no momento de infortúnio dos mesmos.
5. Recordação - A formação do Sporting é das melhores do mundo. Tem produzido jogadores como Paulo Futre, Luís Figo, Nani, Cristiano Ronaldo e Rui Patrício, que fizeram história noutros países, chegaram bem alto no futebol mundial e não renegaram o clube onde foram formados. Mesmo depois de terminadas as respectivas carreiras, é todo um valor de mercado que ali está, associado ao Sporting, e que deve ser explorado da melhor forma. O naming de partes da Academia de Alcochete e de Alvalade vai ao encontro a essa questão, também fundamental na mensagem que se pretende transmitir aos candidatos a futebolistas profissionais. Além disso, há todos os jogadores mais velhos que fizeram grande parte da sua carreira no Sporting, com muito para contar e um potencial imenso para educar as novas gerações no amor ao clube, e ajudar à sua fidelização enquanto adeptos e sócios.
6. Assistência - Neste caso, e ao contrário do que se acontece no Benfica, há que reconhecer: pouco se ouve falar e muito haverá para fazer na assistência aos mais velhos que um dia passaram pelo Sporting e o serviram exemplarmente.
Enfim, todos nos recordamos dos tristes finais de carreira que tiveram alguns no Sporting, incluindo até Manuel Fernandes, da azia de outros, como Simão Sabrosa (como me pareceu, por uma conversa num ginásio, ser também o caso dum ex-titular do tempo do Peseiro), as "maçãs podres" que foram saindo para outras paragens, as cenas com africanos e seus empresários, por exemplo Bruma e Rafael Leão, o caso Adrien e o "eu estou cá para defender os interesses do Sporting e os jogadores que defendam os seus", as rescisões dos capitães de então causadas pelo assalto a Alcochete, e a saída pouco clara e mal explicada de Nani.
Esperemos que neste capítulo do relacionamento com os jogadores o futuro seja bem melhor do que este passado que relatei. Penso contudo que estamos no rumo certo.
PS: Já depois de publicar o post dei conta do comentário de João Mário, que o meu colega Pedro Moraes interpreta aqui ao lado. Realmente não podia resumir melhor muito do que aqui fui dizendo...
É possível que a culpa seja minha. Cansado de tantos jogos que se arrastam por decidir para além dos 80 minutos, não por serem um dramático choque de Titãs, mas por inépcia, incompreensão tática, fiadas de más decisões dos jogadores, ou mesmo azar (o qual, como se sabe, atrai mais azar), pedi ao mafarrico que por uma vez, umazinha, me fosse concedido, tal como aos adeptos doutras agremiações, o sossego de estar a vencer aos 60 minutos por duas bolas e sem perspectivas eminentes de susto. Isto era para o bem das minhas já fracas articulações de tantos pontapés que tenho dado na cadeira da frente nos últimos 2 anos.
O chifrudo ouviu-me, mas como é maroto deu-me presente envenenado. Seja como queres, murmurou ele, mas terás que gramar com um meio-campo balcânico com Petrovic, Gudelj e Misic, todos ao mesmo tempo, e passarás 45 minutos sem ver um instante de futebol a sério. Pungir-te-á o tédio e lamentarás ter faltado ao jantar combinado. E ai de ti se te queixas.
Neste fim de tarde ficou bem evidente, mais do que em qualquer outro jogo da pré-temporada, a falta que nos fazem três jogadores nucleares que se desvincularam do Sporting após o "chato" assalto a Alcochete: Rui Patrício, capaz de fazer a diferença como guardião da baliza, William Carvalho a construir lances de ataque e Gelson Martins a conferir velocidade, criatividade e profundidade aos nossos lances de ataque, sobretudo na ala direita.
Haverá substitutos à altura, admito com optimismo talvez excessivo. Mas por enquanto não valem isso. E acima de tudo são incapazes de o demonstrar, como hoje ficou claro no confronto com um modesto clube italiano, o Empoli, vencedor da série B do seu país e só este ano promovido, por via disso, ao escalão principal.
Perante um estádio quase despido (para o qual a elevada temperatura atmosférica muito contribuiu, após os inéditos 44 graus que ontem às 17 horas foram registados em Lisboa), o Sporting fez uma primeira parte agradável. Com boas tabelinhas entre Nani e Bruno Fernandes, que serão certamente os motores do onze titular, e algumas movimentações dignas de registo dos laterais, Jefferson e Ristovski, com maior liberdade de penetração nos flancos pela aposta do treinador num duplo pivô na linha média - funções asseguradas por Misic e pelo regressado Battaglia.
Misic foi aliás o protagonista do melhor momento da turma leonina, com um belo golo disparado de fora da área, aos 51'. Suprindo assim os sucessivos falhanços dos seus colegas, que tentaram muito mas nada conseguiram - ou por falta de pontaria ou pela intervenção do guarda-redes adversário. A partir desse lance, no entanto, deixámos os italianos assumir o controlo do jogo e sofremos o golo do empate aos 68'.
As sete substituições operadas por Peseiro, aos 66' e aos 84', não corrigiram nada de essencial. O Troféu Cinco Violinos, nesta sétima edição, acabou por ser decidido na marcação de penáltis - com Matheus Pereira e Jefferson a falharem. Ficámos sem esta taça, pela primeira vez. O que vale como sintoma: há ainda muito a fazer para tornar este Sporting que ficou amputado em Junho numa equipa que possa ter mesmo aspirações a títulos e troféus.
Menos: batido aos 68', viu Mathieu salvar um golo na linha de baliza quatro minutos depois. Incapaz de defender um só dos penáltis que ditaram a conquista do troféu pelo Empoli.
Nota: 4
Ristovski (26 anos).
Mais: cruzamentos bem tirados aos 39' e 45'+1.
Menos: perdeu fulgor na segunda parte, quando foi várias vezes ultrapassado no seu sector.
Nota: 5
Coates (27 anos).
Mais: grande acção individual aos 11', como se fosse um lateral direito.
Menos: faltou articulação com Mathieu no golo sofrido.
Nota: 6
Mathieu (34 anos).
Mais: salvou um golo certo aos 72', fez pelo menos quatro grandes cortes (71', 74', 89', 90'). Chamado a converter o primeiro dos penáltis finais, meteu-a lá dentro.
Menos: mal auxiliado, falhou a cobertura no golo italiano.
Nota: 7
Jefferson (30 anos).
Mais: bateu bem os cantos e cruzou várias vezes com perigo.
Menos: permitiu a defesa do guarda-redes no penálti que lhe coube marcar após os 90'.
Nota: 5
Battaglia (27 anos).
Mais: neste regresso a Alvalade, foi um batalhador incansável a recuperar bolas e forçou o guarda-redes da turma visitante à defesa da noite quando cabeceou com intenção, quase conseguindo o golo (80'). Marcou o penálti que lhe foi confiado após os 90'.
Menos: faltou-lhe alguma eficácia na construção de jogo.
Nota: 7
Misic (24 anos).
Mais: muitos tentaram, só ele conseguiu: o solitário golo leonino foi apontado por ele.
Menos: simplifica processos, às vezes em demasia.
Nota: 7
Bruno Fernandes (23 anos).
Mais: solto de movimentos, comandou o meio-campo na primeira parte e teve intervenção no lance do golo.
Menos: tentou várias vezes a meia-distância, sempre sem sucesso.
Nota: 6
Nani (31 anos).
Mais: o capitão leonino protagonizou os lances mais vistosos, sublinhados com aplausos, em tabelinhas com Bruno Fernandes aos 24' e 42'.
Menos: acusa ainda falta de ritmo e falta de pontaria no remate.
Nota: 5
Acuña (26 anos).
Mais: um dos jogadores mais influentes na meia hora inicial, livre muito bem marcado aos 3'.
Menos: perdeu fulgor no segundo tempo.
Nota: 5
Bas Dost (29 anos).
Mais: cabeceou com perigo aos 3' e aos 39'.
Menos: falhou esses cabeceamentos, ficando em branco.
Nota: 4
Wendel (20 anos).
Mais: entrou aos 66', rendendo Misic, e movimentou-se bastante.
Menos: inconsequente nas movimentações.
Nota: 4
Matheus Pereira (22 anos).
Mais: substituiu Nani aos 66', marcando bem os cantos.
Menos: agarra-se demasiado à bola e falhou penálti na ronda final.
Nota: 4
Bruno Gaspar (25 anos).
Mais: em campo desde o minuto 66', colocado no lugar de Ristovski fez um grande cruzamento aos 71' que Wendel desperdiçou.
Menos: é veloz, mas parece revelar menos aptidões a defender do que a atacar.
Nota: 5
Raphinha (21 anos).
Mais: substituiu Acuña aos 66', rematou forte e com intenção no terceiro minuto do tempo extra. No fim, não falhou o penálti.
Menos: ainda sem automatismos.
Nota: 5
Montero (31 anos).
Mais: rendeu Dost aos 84', marcou o penálti que lhe foi solicitado na fase do desempate.
Menos: excesso de apatia.
Nota: -
André Pinto (28 anos).
Mais: substituiu Coates aos 84', sem comprometer.
Menos: desta vez não teve tempo nem oportunidade de marcar um golo.
Nota: -
Carlos Mané (25 anos).
Mais: regressado a Alvalade dois anos depois, após empréstimo ao Estugarda, conduziu um excelente lance de ataque aos 90'+3.
Menos: vimos pouco dele: devia ter entrado mais cedo.
Tenho dito aqui abundantemente que precisamos de reforçar a nossa cultura. Hoje, ao olhar para o estado do relvado, acredito que a nossa agricultura, também. O Sporting dominou o Empoli a toda a linha, enquanto Misic esteve em campo. Mal o croata saiu, a capacidade de pressão a meio campo diminuiu bastante. Só não desapareceu por inteiro graças a Battaglia. O Batman regressou e, com ele, voltámos a ter vigilante em Alvalade City. Impressionante, para quem só tem meia-dúzia de treinos desde que regressou, a sua arrancada aos 54 minutos.
A equipa inicial pareceu demasiado conservadora, com Ristovski, Jefferson e Acuña, em vez de Bruno Gaspar, Lumor e Raphinha. Impressionante como não resolvemos o problema dos desequilíbrios pela esquerda. Nem Acuña recua para lateral, nem chegou nenhum jogador forte no um para um (Raphinha é mais jogador de exploração de espaços vazios). No lado direito, auspiciosas combinações entre Nani e Bruno Fernandes, a deixarem um sabor doce na boca dos adeptos.
Em dia de Troféu 5 Violinos, faltaram-nos pelo menos 3. Tivémos rabecão, bombo, mas violinistas do nível do ex-laziale ou do maiato escasseiam. De destacar a belíssima exibição de Mathieu, na defesa, e o magnífico golo de Misic - com a parte de dentro do pé esquerdo, em banana - que foi a cereja (muita fruta!) em cima do bolo de uma actuação muito positiva.
O Sporting acabou por perder - pela primeira vez desde a sua criação - o troféu em disputa, e perante a equipa mais fraca que jamais defrontámos neste certame, numa decisão por pénaltis que acentuou a nostalgia pela perda do nosso antigo guardião. Viviano vai ter de trabalhar muito para cumprir com os cânones que materializaram o epíteto de São Patrício ao Rui.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre MISIC:
- Eu: «Estreia a titular no Sporting do jovem internacional croata - um dos nossos reforços de Inverno - que só tinha sido utilizado, durante escassos minutos, a 26 de Fevereiro frente ao Moreirense. Chumbou neste teste em Chaves: demasiado posicional, actuando excessivamente próximo de William Carvalho, perdeu várias bolas e mostrou-se ainda muito desenquadrado dos seus companheiros. Sem capacidade de construção ou de criação de passes de ruptura, mastigou e lateralizou o jogo, tornando-se presa fácil para as investidas adversárias.» (12 de Março)
- Pedro Azevedo: «Se for William a sair, temos Battaglia, Wendel, Palhinha e até Misic para essa posição serve.» (9 de Maio)
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