Desmobilização geral (2)
Miguel Cal cessa funções como administrador executivo da SAD do Sporting.
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Miguel Cal cessa funções como administrador executivo da SAD do Sporting.
A recente entrevista de Francisco Salgado Zenha a um diário desportivo deixou-me, enquanto leitor, uma sensação de fim de ciclo. Pela quantidade de vezes que este dirigente do clube e da SAD alude à complexa gestão do futebol leonino - agravada no cenário de emergência sanitária que leva hoje cerca de um quinto da população mundial a viver em isolamento forçado, imposto pelo combate à pandemia.
Neste contexto, qualquer gestor responsável tem o estrito dever de baixar expectativas. Nada mais razoável, portanto, do que haver palavras de prudência no actual momento, cheio de incógnitas quanto ao futuro das agremiações desportivas, confrontadas com situações impensáveis há escassas semanas. O anúncio de um lay-off por parte da administração do Barcelona que poderá conduzir à decapitação do milionário plantel catalão é talvez o exemplo mais evidente de que as coisas mudaram no futebol. Como na sociedade em geral.
Mas nas declarações do n.º 2 do Sporting - e principal responsável pela área financeira - não vejo apenas cautela e prudência. Julgo detectar nelas algum desânimo - o que, associado ao anúncio da saída de Miguel Cal do Conselho de Administração da SAD e à presente impossibilidade física de Frederico Varandas assegurar a gestão corrente dos assuntos leoninos, prenuncia mudanças mais vastas.
Vou destacar os trechos que me pareceram mais significativos da entrevista, que preencheu quatro páginas da edição de 23 de Março do Record:
São exemplos suficientes e esclarecedores para se perceber o que senti ao ler esta entrevista, que tem «difícil» como palavra-chave - até no título escolhido pelo jornalista João Lopes, que conduziu a conversa. Soaram-me a palavras de balanço e pré-despedida, tanto mais que o vice-presidente leonino assegura não pensar em prolongar o vínculo ao clube (e à SAD) para além do período previsto no mandato em curso.
O adjectivo "difícil" parece, aliás, cruzar-se com frequência no percurso de Zenha enquanto dirigente leonino. Noutra entrevista ao Record, publicada a 30 de Setembro de 2019, já tinha usado este vocábulo para encimar outro título: «Se a cada bola na barra se coloca tudo em causa, assim será difícil.»
Articulou-se com Varandas e Cal no agendamento da mais recente entrevista? Não creio. Caso contrário, faria pouco ou nenhum sentido vê-la publicada na mesma semana em que um deles inicia uma nova "comissão de serviço" como médico do Exército e o outro anuncia a renúncia ao cargo de administrador da SAD - aliás não formalizada em qualquer comunicado interno até à data, mas apenas impressa em notícias de jornais.
São, pois, circunstâncias do acaso. Nestes tempos de incerteza à escala global, em que se torna inútil encontrar causas racionais para o que nos sucede, andamos assim. À mercê do imprevisto.
Mas mantém-se ligado à internacionalização da marca.
2019/2020 começou com uma grande novidade para os Sportinguistas. Ainda não conhecíamos o nosso plantel, que Varandas garantiu ser "pensado" ao mais ínfimo pormenor, e já estávamos a levar com um aumento brutal no preço da Gamebox.
Esse aumento, segundo justificou um tal de Miguel Cal, que dizem que é qualquer coisa de genial porque “estagiou” numa consultora de referência, deve-se a um conjunto de “experiências” que o Sporting juntou a este “serviço”.
Todos nós, Sportinguistas, acreditámos que essas “experiências” seriam realmente interessantes, como melhorar a nossa experiência no José de Alvalade, por exemplo. De facto, não foi isso que aconteceu. As cadeiras continuam tortas e moribundas, os ecrãs gigantes estão totalmente desajustados à qualidade que se exige, o catering dos bares continua caro e com pior serviço, o speaker continua histericamente aos berros como se estivesse no karaoke da aldeia, etc. etc.
No entanto, essas não foram as piores “experiências” que Frederico Varandas guardou para nós. Experimentámos uma pré-época sem qualquer vitória. Experimentámos sofrer uma das mais humilhantes derrotas com o Benfica. Experimentámos ver alguns dos nossos melhores jogadores a saírem a preço de saldo ou a custo zero. Experimentámos a eliminação da Taça de Portugal por um clube do terceiro escalão. Experimentámos perder em casa, no mesmo mês, com os dois grandes rivais. Experimentámos acabar a primeira volta a 19 pontos da liderança. Estamos a experimentar ter o pior plantel que já vestiu a verde e branca, e que agora nem Bruno Fernandes tem.
Com tantas “experiências” que paguei, tomei uma decisão. Não faz sentido continuar a alimentar tanta incompetência. Não faz sentido continuar a suportar um presidente deslumbrado, com aparentes deficiências cognitivas, que se preocupa mais com o nó da gravata ou com o vinco na gabardine do que com os Sportinguistas.
Ou esta direção sai, ou, na próxima época, vou "experimentar" acompanhar os jogos no sofá de casa, pondo fim a uma sequência de 15 anos de Gamebox.
Completa-se hoje um ano desde as últimas eleições no Sporting Clube de Portugal, eleições essas que consagraram Frederico Varandas como Presidente do Clube.
Um ano cheio de altos e baixos. Conquistaram-se importantes títulos mas também se falharam outros. Entre as grandes conquistas estão a Liga dos Campeões de Futsal, a Taça dos Clubes Campeões Europeus de Hóquei Patins e, claro, as Taças da Liga e de Portugal em Futebol. No lado dos títulos perdidos, os que mais me custaram foram o título nacional Futsal e a SuperTaça em futebol, onde caímos com estrondo.
As modalidades tiveram um ano agridoce. Conquistaram-se muitos títulos mas falharam os respetivos campeonatos nacionais. O orçamento para este ano foi batizado por alguns como "o do desinvestimento" mas parece-me mais que se procura contratar qualidade de forma a fazer mais com menos. Thierry Anti como treinador do Andebol é um bom exemplo disso. E a época começou da melhor maneira. O Futsal esmagou o Benfica na SuperTaça com uns expressivos 6-2 e o Andebol começou a época com uma vitória na Luz por 28-30.
No futebol, pegou na equipa de futebol liderada, até então, por um Sousa Cintra que prometeu um prémio monetário (superior ao da Taça da Liga) caso a equipa estivesse em primeiro à quarta jornada (!). Ter José Peseiro no banco não deixava ninguém descansado e trocou-se por um relativamente desconhecido Marcel Keizer. A aposta não correu como se esperava a 100% mas ainda foram conquistados dois títulos.
A política desportiva para a equipa de futebol também mudou drasticamente. Os jogadores com os salários mais elevados foram "dispensados". Entre vendas e cedências, acabou por se perder algum talento mas também nos vimos livres de muito "entulho". As contratações de jogadores, com a exceção de Borja, passou a ser de jovens com potencial para brilhar mas sem ainda serem certezas absolutas. É o caso de Rosier, Doumbia, Plata, Camacho, etc.
No último dia de mercado, esta política sofreu um pequeno revés com a chegada de três emprestados (Jesé, Fernando e Bolasie) e com a troca de Marcel Keizer por Leonel Pontes. Há uma nuvem de dúvidas sobre o impacto que terá na equipa mas, como tudo no futebol, será dissipada quando a bola começar a entrar na baliza. Leonel Pontes tem que ter a paciência dos adeptos para mostrar aquilo que sabe fazer.
Por falar em bola na baliza. Acho que não vale a pena teorizar muito sobre o que une o Clube. O que une o Clube são e serão sempre os títulos. Os Sportinguistas têm um conjunto de características que os ajudam a rever-se no Clube mas, neste momento, há muita dispersão. Neste último ano tornou-se óbvio que existem vários tipos de adeptos. Existem os que ainda vivem no luto da anterior direção e que se comportam como uma espécie de FARC, sempre prontos a metralhar quem não gostam (mesmo com mentiras). Existem os que estão sempre prestes a salvar o Clube do que quer que seja pois são eles os detentores do mágico elixir que tudo cura. E existem os adeptos normais que entendem que estamos perante uma presidência normal, com altos e baixos e que será avaliada normalmente nas próximas AGs e Eleições. Até lá, que a bola bata sempre na parte de dentro da rede e consigamos o maior número de títulos possível.
A Academia está a ser melhorada a olhos vistos e o projeto de formação ganhou novos contornos. A formação não pode ser vista como a salvação do Sporting, tem que ser vista como uma fonte de recursos onde o Clube se reforça mas nunca a única. Ainda assim é importante ter qualidade em quantidade e comprometidos com o Clube. É claro que quando se fala na formação vêm mil piadas sobre colchões mas não posso fazer nada para mudar a opinião de quem se comporta como um chimpanzé a atirar fezes a quem passa no zoo.
A nível de comunicação, parece que abandonámos de vez o belicismo e começámos à procura de outra linha. Acho que estamos piores nas redes sociais mas melhores na maneira como lidamos com os players da comunicação social. Há uma linha ténue que separa as notícias da propaganda mas é sempre (SEMPRE!) melhor ter pessoas a nosso favor do que contra.
Já a oposição nunca desapareceu. Os eternos "esqueletos" Ricciardi e Dias Ferreira têm sido o rosto mais visível de uma certa oposição. Os tais que acham ter o tal elixir. Também se joga uma campanha suja nas redes sociais onde se tenta ofender o mais possível. Campanha essa levada a cabo por muitos daqueles que criticavam, e bem!, as campanhas sujas contra o anterior Presidente. A democracia não pode ser só boa quando ganha quem nós queremos. É saudável haver oposição mas que seja feita às claras e com medidas para ajudar o Clube em vez de uma política de terra queimada.
No fundo, apesar de tudo, foi um ano normal na vida do Sporting. Conquistaram-se títulos, perderam-se outros. Bem sei que alguém dirá "temos a responsabilidade de ganhar tudo" e é verdade. Mas não se conseguiu. O que se conseguiu foi trabalhar para que a cada ano se tenham mais condições para que "se ganhe tudo".
Palmarés 2018/19
Futsal Masculino - Liga dos Campeões, Supertaça, Taça de Portugal
Futsal (sub20) - Campeonato Nacional
Hóquei em Patins - Liga Europeia
Andebol (juniores) - Campeonato Nacional
Voleibol (feminino) - 1º Lugar (II divisão)
Atletismo (masculino) - Campeonato Nacional de Estrada, Campeonato Nacional de Corta-Mato
Atletismo (feminino) - Campeonato Nacional de Estrada, Taça dos Clubes Campeões Europeus de Corta-Mato, Campeonato Nacional de Corta-Mato, Campeonato Nacional de Pista Coberta, Taça dos Clubes Campeões de Pista Coberta, Campeonato Nacional ao Ar Livre
Judo (masculino) - Liga dos Campeões, Campeonato Nacional
Ténis de Mesa - Tetra Campeões, Taça de Portugal, Supertaça
Râguebi - Taça Ibérica
Râguebi (feminino) - Campeonato Nacional, Taça Ibérica, Taça de Portugal, Supertaça
Natação - Octacampeões Nacionais
Ginástica (trampolins masculinos) - Campeões nacionais por equipas
Goalball - Campeões europeus (masculino e feminino), Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Supertaça
Futebol - Taça de Portugal, Taça da Liga
Futebol (sub15) - Campeonato Nacional
Futebol (sub14) - 1º lugar na Divisão de Honra AF Lisboa
Futebol (sub14 B) - 1º lugar na Divisão de Honra AF Lisboa
Palmarés 2019/2020 (até ao momento)
Futsal - Supertaça
Judo - Jorge Fonseca campeão do Mundo (< 100kg), Daria Bilodid campeã do mundo (< 48kg)
Recomenda-se esta entrevista, onde se desmistificam algumas teorias conspirativas que não cessam no Sporting Clube de Portugal e se valoriza a marca Sporting.
Miguel Cal revela na edição desta semana do jornal Sporting quantos eram os sócios activos - isto é, com as quotas em dia - em Junho de 2018, o mês da assembleia geral que pôs termo ao mandato de Bruno de Carvalho: 78,9 mil.
As coisas são o que são, não o que alguns gostariam que fossem.
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