João Rocha com os filhos: o seu longo mandato foi um marco inesquecível na história leonina
Faz hoje dez anos, morreu João Rocha (1930-2013), um dos melhores presidentes de sempre do Sporting Clube de Portugal. E também o mais titulado - não apenas no futebol, mas nas modalidades, que soube desenvolver como nenhum outro.
A João Rocha associamos nomes de diversos campeões que equiparam de verde e branco. Héctor Yazalde, Vítor Damas, Samuel Fraguito, Manuel Fernandes, Rui Jordão, António Oliveira, Ferenc Meszaros (futebol), Carlos Lopes, Fernando Mamede, Aniceto Simões, Ezequiel Canário, Conceição Alves, Domingos Castro, Dionísio Castro (atletismo), António Livramento, Júlio Rendeiro, Chana, João Sobrinho, António Ramalhete (hóquei em patins), Joaquim Agostinho, Firmino Bernardino, Marco Chagas (ciclismo), Carlos Silva, Frederico Adão, Manuel Brito, Carlos Correia, João Gonçalves (andebol), Carlos Lisboa, Nélson Serra, Augusto Baganha (basquetebol), Avelina Alvarez, Rita Vilas Boas (ginástica) e Armando Marques (tiro).
Entre tantos outros.
Foi um modernizador do futebol - pioneiro, visionário, um homem à frente do seu tempo. Apostou na formação e no ecletismo como pilares fundamentais do Clube. Renovou os estatutos, adaptando-os plenamente à democracia. Aliás 1974, o ano da liberdade, foi também um ano de hegemonia sportinguista.
Acertou no essencial.
E deixou obra. Física, desportiva, financeira e reputacional.
Fechou o Estádio José Alvalade, mandando construir a então denominada bancada nova. Ergueu a Nave de Alvalade, que se tornou na casa das modalidades leoninas. Durante o seu longo mandato o Sporting chegou a contar com cerca de 15 mil atletas em 22 modalidades. Só a ginástica tinha 3500 praticantes.
No tempo dele, o Sporting levou mais longe o nome de Portugal em cenário olímpico. Graças às medalhas de prata de Carlos Lopes e Armando Marques (Montreal, 1976) e à então inédita medalha de ouro de Lopes na gloriosa maratona olímpica (Los Angeles, 1984). Sem esquecer o recorde mundial dos dez mil metros obtido por Fernando Mamede (Estocolmo, 1984) que levou cinco anos a destronar e se manteve durante uma década como melhor marca europeia.
Ao longo dos 13 anos em que permaneceu no comando da nau leonina, entre Setembro de 1973 e Outubro de 1986, acumulou um palmarés que dificilmente será atingido por qualquer outro dirigente nas décadas mais próximas.
No futebol, três campeonatos nacionais, três Taças de Portugal e uma Supertaça.
No conjunto das modalidades, mais de 1200 títulos nacionais, 52 Taças de Portugal, oito Taças dos Campeões Europeus de Corta-Mato, uma Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins, mais duas Taças das Taças e uma Taça CERS.
Orgulhava-se de ter deixado o clube sem dívidas, com passivo zero, um número de praticantes nunca visto e a lista de jogadores mais valorizada de sempre.
Orgulho-me - como milhares de adeptos - de ter contribuído com uma parcela das minhas poupanças para a Missão Pavilhão: assim foi possível que este sonho antigo se tornasse realidade.
Se há homens que deixam rasto, João Rocha foi de certeza um deles. Também por isso, curvo-me hoje respeitosamente perante a sua memória.
Este excerto que aqui trago é muito especial: foi a única ocasião em que Pelé (aqui com o número 10) e Garrincha (número 16) marcaram no mesmo jogo ao serviço da selecção do Brasil. Aconteceu no Mundial de 1966, em Inglaterra, contra a Bulgária - partida invulgarmente agressiva, com duras faltas de parte a parte perante a chocante tolerância do árbitro quando ainda não tinha sido instituído o sistema de cartões para penalizar jogo violento.
É também histórico por outro motivo: foi a última vez que o grande Mané Garrincha marcou com a camisola "canarinha". Ainda viria a disputar a partida seguinte, contra a Hungria (derrota 1-3), mas já não alinhou frente a Portugal (outra derrota, pela mesma marca).
Pelé e Garrincha tinham integrado a selecção bicampeã mundial em 1958 e 1962. O astro do Santos venceria o tri no México, em 1970. Mas o "anjo das pernas tortas", como lhe chamou Vinicius de Moraes, já não protagonizou essa conquista fabulosa: despediu-se da equipa nacional nos relvados ingleses, aos 32 anos.
Impressiona hoje ver esta despedida de um dos astros mais geniais e mais trágicos da história de futebol. A sucessão de dribles que eram sua marca inconfundível e a espectacular marcação do livre, de trivela, levando a bola ao fundo das redes.
Empolgante e comovente pontapé que lhe serviu de definitivo passaporte para a eternidade.
Esta, a do Brasil tricampeão mundial de futebol em 1970. Com um quinteto ofensivo de sonho: Gérson, Jairzinho, Rivelino, Tostão e Pelé.
Venceu todos os desafios na fase de grupos: 4-1 à Checoslováquia, 1-0 à Inglaterra, 3-2 à Roménia.
Não deu hipóteses nas partidas a eliminar: 4-2 ao Peru, 3-1 ao Uruguai.
Cilindrou a Itália, por 4-1, na empolgante final da Cidade do México.
Eis esse jogo, na íntegra.
Campeão absoluto, nos resultados e nas exibições. Com 19 golos no total: 7 de Jairzinho (melhor marcador da prova), 4 de Pelé, 3 de Rivelino, 2 de Tostão, 1 de Gérson, 1 de Clodoaldo, 1 de Carlos Alberto.
Pelé, justamente coroado "rei do futebol" neste campeonato, único participante em três títulos mundiais do Brasil (1958, 1962 e 1970), não se distinguiu apenas pelos golos: inesquecível, o segundo da canarinha contra a Checoslováquia. Fez ainda seis assistências, incluindo duas de cabeça.
Para mim, o melhor jogador da história do futebol. É bom lembrá-lo no auge, agora que luta pela vida num hospital brasileiro. Quando já conquistou a imortalidade: jamais será esquecido.
Na impossibilidade de reproduzir aqui estes vídeos, cujos direitos são propriedade da FIFA, deixo-vos a ligação para eles. É só clicarem.
Nos jogos já bastante antigos da selecção nacional há dois golos que nunca me canso de ver.
Ambos marcados por Eusébio.
O primeiro em Bratislava, actual capital eslovaca, contra a Checoslováquia, numa das mais memoráveis partidas alguma vez disputadas pela equipa das quinas - a que nos conduziu ao Mundial de 1966, o primeiro da nossa história.
Aconteceu a 25 de Abril de 1965, vitória portuguesa por 1-0. Com a nossa selecção a jogar quase toda a partida com apenas dez jogadores (ainda não havia substituições naquela época) devido a gravíssima lesão, logo aos 4', do médio leonino Fernando Mendes que viria a abreviar-lhe o fim da carreira profissional, tinha ele apenas 27 anos.
O craque moçambicano, servido por José Augusto, conduz a bola durante 40 metros pelo corredor direito, supera três adversários e conclui da melhor maneira - ao jeito de Maradona 20 anos depois. Pode ser visto aqui, ao minuto 19'. Com locução do saudoso Rui Tovar.
O segundo ocorreu já nesse Campeonato do Mundo em Inglaterra, no épico confronto com o Brasil - ainda na fase de grupos - que vencemos por 3-1. Foi a 19 de Julho de 1966. Com dois futuros campeões mundiais no onze adversário: Brito e Jairzinho (subiriam ao pódio quatro anos depois), além do já bicampeão Pelé, que chegaria ao tri em 1970. Entre os nossos figuravam três ilustres Leões: Hilário, João Morais e Alexandre Baptista.
Simões, de cabeça, marcou o primeiro. Eusébio, os dois restantes. Aquele que mais retenho na memória - eu que vi com imenso gosto este jogo na íntegra só muitos anos depois - é sobretudo o nosso terceiro. Um tiro na ressaca de um canto disparado ao minuto 90 deste vídeo que fez entusiasmar o relator britânico: «Have you ever seen anything like that?»
E com razão.
Estas imagens deviam ser exibidas em várias palestras a jovens jogadores sobre a importância do golo no futebol.
Sérgio belga? Perguntarão as pessoas, mais novas, que nos lêem.
Sérgio em francês, diz-se: Serge, em algarvio, da foz do Arade, diz-se Serge Cadorin.
Cadorin, um dos primeiros a denunciar que foi alvo de aliciamento, que o tentaram corromper, um dos primeiros a mostrar que no futebol, na vida, não vale tudo.
Existem princípios, não vale tudo para ter mais comentários, não vale tudo para ser promovido "por mérito" no final do ano, não vale tudo.
A história de Cadorin, o jogador que o Futebol Clube do Porto, tentou contratar para cometer um penalty está disponível "on-line".
Foi um dos primeiros a denunciar a corrupção que o FC Porto faz para vencer jogos, internamente.
Pagou com a vida.
Sobreviveu à primeira (alegadamente) tentativa de homicídio com 70% do corpo queimado, anos mais tarde não resistiu, morreu com 45 anos.
Serge Cadorin, nasceu num dia 7 de Setembro, precisamente, no mesmo dia que o Sporting Clube de Portugal mostrou, para todo o mundo, que é possível vencer sem esquemas.
Que é possível vencer sem, praticamente, cometer faltas (apenas um cartão amarelo) que é possível vencer, jogando bom futebol.
Jogando limpo, sem corromper e sem favores da arbitragem.
(imagem n° 9 da rua Ivens, Lisboa, em desrespeito ao acordo ortographico e à utilização dum 9 puro )
Se recordarmos os jogadores portugueses que entraram em campo no dia 18 de Abril de 1993, tínhamos um punhado de meias-lecas em todas as posições do campo.
Bobby Robson, decidia a equipa, Manuel Fernandes fazia o planeamento técnico e táctico, administrava os treinos, também, andava por ali um professor de ginástica/tradutor que resolvia alguns problemas de comunicação entre os dois treinadores.
Cadete, Capucho, Cherbakov e Companhia 5; Chaves 0.
Estádio 28 de Maio, em Braga, 6 de Outubro de 1957, na baliza do Sporting local, Cesário, ainda, verde, na do Sporting de Portugal, o consagrado Carlos Gomes.
Onze minutos de jogo, o primeiro acorde de violino (Travassos) seguido por duas pinceladas de Malhoa, um golo de João Martins e a pincelada final do Malhoa dos relvados.
De pé, olhando para os jogadores que abandonavam o campo, estava um homem que nascera no dia 10 do 06, do outro lado do Atlântico, aquela vitória por 0 - 5, no dia 06 do 10, fora o seu maior triunfo como treinador.
Chamava-se Enrique Fernandez Viola, uruguaio de Montevideu e num capricho do destino, encantou-se, precisamente, 28 anos depois.
Faz agora dois anos, antes de começar a época que nos conduziria à reconquista do título de campeões nacionais de futebol após o mais longo jejum da nossa história, as caixas de comentários do És a Nossa Fé fervilhavam com centenas de leitores que aqui apareciam a rasgar a equipa, o treinador e o presidente.
Não faltava quem defendesse uma revolução no clube, mudando tudo de alto a baixo. Quando apenas tinham decorrido 22 meses desde o escrutínio que conduziu Frederico Varandas à presidência do Sporting e menos de cinco meses desde a contratação de Rúben Amorim.
No melhor estilo do pior adepto leonino, que antevê sempre hecatombes a cada início de temporada, traçaram-se aqui os mais negros prognósticos.
Vou lembrar apenas uma pequena parte do que foi publicado nos últimos três dias de Julho de 2020 - negro ano da pandemia por um lado, início da arrancada vitoriosa dos Leões comandados por Rúben Amorim rumo ao título, por outro.
Leiam e comentem, se vos apetecer.
«Quem fez este texto a defender Varandas deve estar muito contente com a contratação de Antunes com um contrato de 2M de euros por época. A culpa desta aquisição também foi da gestão anterior?» (anónimo)
«Para o Sporting não, mas essa foi uma boa contratação para a clínica do Varandas. E o Feddal, se vier, depois de chumbar por duas vezes os testes médicos, também será um bom cliente.» (anónimo)
«Até gostaria que algumas dessas notícias fossem verdade. Significaria que conseguiríamos despachar algum do entulho e, quiçá, se o Hugo Viana abrir os olhos, conseguir contratar reforços dos verdadeiros e não Feddais e Antunes ou Adans. Infelizmente, nem 1/3 dessas notícias são verdade, nem Hugo Viana alguma vez abrirá os olhos.» ("Rautha")
«Adan, Porro, Feddal e Antunes. Aí estão os "reforços"... Só me dá vontade dizer asneiras...» (Carlos Alves)
«"Quanto à saída de Acuña, parece lógica". Que lógica? Financeira? Só se for, porque desportivamente não se vislumbra lógica absolutamente nenhuma. "... o puto [Nuno] Mendes dá-lhe 20-0". Se é pra rir, objectivo alcançado.» (Mário Ferreira)
«Até acho que o Sporting tem jogadores que num Porto, Braga ou Benfica renderiam bem mais.» (anónimo)
«No Sporting vive-se, nos dias que correm, à luz do princípio da "navegação à vista". A todos os níveis.» (Mário Fernandes)
«Quem manda no clube [são] os jogadores e o Jorge Mendes.» (Ferreira)
«Vítor Oliveira seria uma grande aquisição. O problema é que não temos organização, a nossa estrutura está [um] caos.» (anónimo)
«Alguém tem paciência e vontade para aturar mais uma época de total incompetência? Esta gente não tem mais crédito nem apoio dos sócios para continuar. Se são sportinguistas, que ponham o lugar à disposição.» (anónimo)
«Desta gente só pedimos uma coisa: que se demitam. Mais nada. Se não o fizerem nós sócios destituí-los-emos.» (anónimo)
«Nós sócios temos que nos mexer e exigir a destituição. Quanto antes!» (anónimo)
«Quanto ao Amorim, eu até aceito pagar 10M por um treinador se for o resultado de uma aposta estratégica a longo prazo, não aceito é contratar sem ter os recursos para tal...» ("Schmeichel")
«Se é para colocar miúdos a jogar, que os produtos da centrifugação todos juntos não fazem um, contratem-me que levo baratinho, faço o mesmo e sou do Sporting.» (Miguel Correia)
«Para mim é evidente que no próximo ano [o] Braga vai ficar à nossa frente, e com muito mais folga do que este ano.» (João F.)
«Estamos mais perto de ser um novo Belenenses do que de nos aproximarmos dos dois clubes do topo.» (J. Melo)
«Perante tamanhos disparates, todos os sportinguistas sejam eles da JL, do Império do norte, do oeste ou de outro lado qualquer têm de ficar caladinhos? Não têm o direito de mostrar o seu descontentamento? Eu diria até que é um dever.» (Júlio Vaz)
«Cada vez mais acho que esta direcção nem composta por sportinguistas é. Pelo menos sportinguistas como se entende pelo amor a um clube.» (anónimo)
«O Sporting em toda a sua história nunca tinha batido tantos recordes negativos, calotes, calotes, cada vez mais calotes!» (Daniel Silva)
«Um líder incompetente não pode, nem deve, liderar gente competente por muito tempo, chega!» (anónimo)
«Ou saem já pelos próprios pés, ou quando saírem vão ser expulsos e após uma auditoria serão criminalmente acusados de gestão danosa.» (Ferreira)
«Je suis VarandasOut.» (anónimo)
«O titulo de campeão é impossivel para o SCP.» (anónimo)
Reitero: isto é apenas uma pequena amostra do que aqui tantos vieram bolçar em apenas três dias, de 29 a 31 de Julho de 2020.
Por falar em modalidades, e uma vez que estamos de férias do futebol profissional, permita-me partilhar uma história interessante que envolve um atleta que julgo ter sido contratado por João Rocha.
Há alguns anos estive a fazer uma pós-graduação em Boston e fui a um barzinho com música ao vivo e que tinha as paredes cheias de camisolas de equipas de basquetebol. Para minha surpresa havia, não uma, mas logo duas do Sporting, o que obviamente me deixou curioso e intrigado.
Perguntei a um dos empregados o porquê, e disse-me para falar com o dono, um indivíduo altíssimo, que na altura estava a tocar com banda residente.
Quando acabou a sua actuação, explicou-me que ele e o irmão tinham jogado profissionalmente vários anos no Sporting durante a década de 1970, e tinham belíssimas recordações do Clube.
Depois de Portugal, tirou um doutoramento e estudou música. Tornou-se professor universitário, músico e produtor discográfico.
O seu nome é Mark Kit Jones e o irmão, que não tive oportunidade de conhecer, Jim Jones.
É um orgulho ser Sportinguista!
Texto do leitor Rui Silva, publicado originalmente aqui.
Em vinte anos de funcionamento da Academia de Alcochete, foram estes os dez jogadores integralmente ali formados que mais renderam ao Sporting:
NUNO MENDES: 47 milhões de euros (2022, ao PSG)
JOÃO MÁRIO: 40 milhões de euros (2016, ao Inter)
NANI: 25,5 milhões de euros (2007, ao Manchester United)
GELSON MARTINS: 22 milhões de euros (2018, ao Atlético Madrid)
ADRIEN: 20,5 milhões de euros (2017, ao Leicester)
RUI PATRÍCIO: 18 milhões de euros (2018, ao Wolverhampton)
WILLIAM CARVALHO: 16 milhões de euros (2018, ao Bétis)
RÚBEN SEMEDO: 14 milhões de euros (2017, ao Villarreal)
BRUMA: 13 milhões de euros (2013, ao Galatasaray)
THIERRY: 12 milhões de euros (2019, ao Valência)
Infelizmente, alguns outros futebolistas que formámos saíram com lucro zero para o Sporting. Aconteceu com Carlos Mané, Silvestre Varela e Wilson Eduardo, por exemplo.
Enquanto outros deixaram o Sporting rendendo abaixo de um milhão de euros. Como Daniel Carriço, que saiu em 2012 por 750 mil euros para o Reading, de Inglaterra. Já no Sevilha, viria a sagrar-se triplo vencedor da Liga Europa.
Valores que constam de um excelente trabalho de oito páginas sobre os 20 anos da Academia leonina ontem inserido no jornal A Bola. Trabalho assinado pelo jornalista Miguel Mendes, que aproveito para felicitar. É raro ver peças deste fôlego - com informação, contextualização e memória - na nossa imprensa desportiva.
Zico, Falcão, Sócrates e Júnior, exclamamos sem nos enganamos no nome de nenhum jogador.
A revista brasileira Placar conta a história desta selecção perdedora mas inesquecível, recolhendo, também, o testemunho do menino da primeira imagem, José Carlos Vilela.
Onde estava em 1982?
Assistiu aos jogos desta selecção já a cores ou ainda a preto e branco?
Faz hoje 48 anos. Hilário e Vítor Damas ergueram bem alto a Taça de Portugal conquistada em campo pelo Sporting no Jamor. Contra o Benfica de Eusébio e Simões.
A primeira Taça em liberdade. Tinha mesmo de ser nossa.
«Passaram esta quinta-feira 18 anos de um dos maiores escândalos da justiça e mais uns quantos da perpetuação de uma das maiores mentiras que alimenta o mundo do futebol.
Há dezoito anos, incomodado com as escutas do Apito Dourado, o Governo de Durão Barroso despachou os dois coordenadores da investigação, Teófilo Santiago e Massano de Carvalho. As escutas a Valentim Loureiro revelavam a velha central de favores no futebol mas também na política. Isso incomodou o governo. De telemóvel na mão, o major metia cunhas para a sua vida de autarca, pedia ajuda para o seu amigo Sousa Cintra construir na paisagem protegida da Costa Vicentina, exigia favores a ministros e secretários de Estado, insultava funcionários do Estado mais apegados a cumprir a lei.
A PJ do Porto respeitou escrupulosamente a investigação, resistiu a pressões e respeitou a separação de poderes, nada dizendo ao Governo sobre o que estava no processo. Os coordenadores do caso foram afastados, o director da PJ do Porto exonerado e quase ia sendo preso.
Esses dias negros para a Justiça ficam por conta do Governo de Barroso e é, também por isso, que estas escutas são importantes. Para memória futura. É nesse momento, aliás, que começa a grande mentira sobre a propalada ilegalidade das escutas. Esse primeiro ataque ao processo abriu a porta para quem tinha interesse em destruí-lo, sobretudo na parte mais quente, no que mostrava sobre o poder de Pinto da Costa.
As escutas do Apito Dourado foram totalmente legais, autorizadas e validadas judicialmente. Serviram, aliás, para condenar os arguidos no processo que envolvia o Gondomar. O que aconteceu foi que não eram, como não são, admissíveis para processos disciplinares na justiça desportiva, essa aberração, não apenas portuguesa, onde os estados abdicam de parte da sua própria soberania, entregando a justiça ao mundo do futebol e retirando-a dos tribunais.
O ónus da sua utilização está, portanto, em quem quis fazê-lo na dita justiça desportiva e não no processo judicial, nem nos investigadores. Elas não só foram completamente legais como, sim, é verdade, mostraram a corrupção activa e passiva reinante no futebol. Mostraram o ‘sistema’ de poder que fabricava resultados, a fruta que o alimentava e as cumplicidades que dispunha na construção e destruição de carreiras de árbitros, dentro da própria Federação Portuguesa de Futebol e nas associações. Mostraram, finalmente, dirigentes desportivos que, pese embora os sucessos desportivos ao longo de 40 anos, são tudo menos exemplares. De resto, ao contrário do que disse há dias um membro do actual governo e, de outro modo, confirmando tudo o que pensa e disse o presidente de um dos três grandes sobre a dita corrupção activa.»
Desde a chegada de Sérgio Conceição ao FC Porto, em Junho de 2017, disputaram-se 13 títulos.
Distribuição desses títulos:
Sporting Clube de Portugal 6 (Campeonato 2021, Taça de Portugal 2019, Taça da Liga 2018, Taça da Liga 2020, Taça da Liga 2021, Taça da Liga 2022)
Futebol Clube do Porto 3 (Campeonato 2018, Campeonato 2020, Taça de Portugal 2020)
Sporting Clube de Braga 2 (Taça de Portugal 2021, Taça da Liga 2020)
Sport Lisboa e Benfica 1 (Campeonato 2019)
Clube Desportivo das Aves 1 (Taça de Portugal 2018)
2
Facto:
Conceição disputou 13 títulos desde que chegou ao Dragão.
Venceu três, perdeu dez.
Percentagem vitoriosa: 23%.
Facto:
Amorim disputou quatro títulos desde que chegou a Alvalade.
Venceu três, perdeu um.
Percentagem vitoriosa: 75%.
3
Balanço provisório da época:
- O FC Porto fez até agora 33 jogos, tendo obtido vitórias em 75% desses encontros.
- O Sporting já cumpriu 36 desafios - mais três do que o FCP pois disputou a Supertaça e as duas partidas da fase final da Taça da Liga. Sagrou-se vencedor em 80% desses jogos.
4
Alguns outros dados factuais:
O Benfica nada vence há quase três anos.
O Braga ultrapassa o Benfica.
O extinto Clube Desportivo das Aves está ao nível do Benfica.
O FC Porto ainda não rompeu o hímen na Taça da Liga, como diria o jornal A Bola: permanece virgem.
O FC Porto tem metade dos títulos do Sporting, num honroso mas distante segundo lugar.
Os activistas anti-Varandas, que confundem o Sporting com um partido político cheio de facções e permanente oposição interna, acusam-nos de andarmos "iludidos".
Apenas respondo por mim. Sim, estou iludido. Com um título de campeão, uma Taça de Portugal, duas taças da Liga, uma Supertaça. Só no futebol.
Ao menos agora iludimo-nos com conquistas e troféus. Valha-nos isso.