Começo pelo princípio: Fresneda. Marcou mais um, demonstrando-me que é mais jogador do que aquilo que eu por aqui fui dizendo a seu respeito. Pode não ser grande espingarda a defender, que não é, mas na ala direita tem feito muito boa figura. Mérito dele e de Rui Borges, que lhe sabe retirar o que pode dar.
Dez minutos iniciais de serenata, à chuva da depressão Laurence, que soou depois a desafinada até final da primeira parte, ou não fosse karma dos sportinguistas verem aquilo que se prevê fácil, acabar num cabo de trabalhos e verem sempre em campo menos um jogador. Hoje mais uma vez calhou a Trincão, que demonstrou ter dois tijolos em vez de pés (se calhar por causa da cor das chuteiras) no lance do primeiro golo, fazer de ausente. Regressou, ainda que com cara de envergonhado, na segunda parte, a tempo de fazer uma pré-assistência para o terceiro, a única coisa de jeito que fez em todo o jogo, já depois de estarmos a jogar com nove, após expulsão, mais uma estúpida, de Maxi e da entrada de Esgaio. A meio do caminho, ainda tivemos que levar com mais uma infantilidade de Diomande, que cometeu mais um penalti daqueles que só a parvoíce leva a cometer. Há quem fale em dores de crescimento, eu falo em falta de foco, que vem sendo recorrente. A rever, com alguma urgência nesta paragem se ele não for para a selecção do seu país.
Na segunda parte, as coisas correram bem melhor, Quenda abriu o livro, finalmente, ele que fez tudo na ala direita, o meio campo começou a ter bola, deixou de ser bola na frente e fé em Gyokeres, que, já agora, levou a biblioteca toda e distribuiu cultura em doses industriais, que lhe deram para duas assistências e o picar do ponto da ordem.
E terminou este match de football com uma vitória por três bolas a uma, que poderia ter chegado mais cedo, que sumo para isso foi bastamente espremido e esbanjado, que o redes deles defendeu que se fartou. Quem também demonstrou que a sua contratação foi um tiro certeiro foi Rui Silva, que veio fazer jus à frase "finalmente temos um guarda-redes" e ele hoje numa altura em que os famalicences estavam a arrebitar cabelo, puxou dos galões e demosntrou que se o careca espanhol precisar dele para a baliza, pode contar com classe entre os postes.
Mas claro, se não fose assim, não seria o Sporting. Sofrer é o nosso karma e é para isso que teremos que estar preparados nas oito finais que faltam até este campeonato se finar, isto se os outros não encostarem por aí num campo qualquer, ele às vezes há coisas e mesmo com os MIB (Man In Black) a espaldar qualquer falta de jeito, engenho e capacidade físico-motora, pode ser que a coisa seja mais folgada, a ver vamos como dizia um ceguinho que fazia vida no Metro de Lisboa e "batia" o mercado de Tomar à Sexta-feira, com a frase que ficou para a posterioridade: "Auxiliai o ceguinho". E eu seja ceguinho, salvo seja, se isto não vai acabar em bem, mesmo com toda a tendência dos nossos rapazes para nos colocarem à prova o nosso coração.
Agora é para descansar e para o treinador treinar alguma coisa, pelo menos com a meia-dúzia que fica em casa que isto a bem dizer, temos quatro na selecção nacional, um na da Suécia, outro na da Bélgica, outro na da Costa do Marfim, outro na de Moçambique, outro na do Japão, outro na da Dinamarca e possivelmente dois na do Uruguai. Sabem o que vos digo? Fora o panzer que já tomou da poção mágica novamente, os outros podem nem sequer jogar, que eu não me importo nadinha.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Borussia Dortmund, para a Liga dos Campeões, por quatro diários desportivos:
Maxi Araújo: 21
Quenda: 21
Debast: 20
Harder: 20
Matheus Reis: 19
Rui Silva: 19
Eduardo Quaresma: 18
João Simões: 18
Daniel Bragança: 18
Diomande: 18
Trincão: 18
Biel: 17
St. Juste: 17
Gyökeres: 16
Fresneda: 16
Morita: 15
A Bola e O Jogo elegeram Maxi Araújo como melhor leão em campo. O Record destacou Quenda, o ZeroZero escolheu Debast.
Mesmo entrando em campo sem três dos melhores jogadores do plantel - Gyökeres, Pedro Gonçalves e Morita - o Sporting acabou por fazer hoje em Vila do Conde o melhor jogo da era Rui Borges e mesmo um dos melhores jogos desta época.
Um 4-4-2 muito bem montado, com Debast muito importante nas compensações e a permitir que Maxi e Quenda dinamitassem a defesa adversária. Do outro lado Fresneda e Catamo também entraram bem, o que permitiu um jogo variado a toda a largura do campo. Harder muito dinâmico a desestabilizar os centrais contrários, embora pecando no remate ao golo. Trincão muito importante na organização do jogo atacante e na pressão alta aos defensores contrários (suspeito que é um dos que mais kms percorre nos 90'). Hjulmand cada vez mais patrão. Inácio e Bragança voltaram de lesões e estiveram muito bem. Gyökeres entrou para marcar.
Assim o jogo tornou-se num "tiro ao boneco". Mais de uma dúzia de oportunidades de golo desperdiçadas, metade por grandes defesas do guarda-redes contrário, duas bolas nos postes.
Enquanto isso o estreante Rui Silva não fez uma defesa digna desse nome. Oportunidades zero do Rio Ave.
Mas onde é que estava este Rui Borges?
Em muito pouco tempo conseguiu mudar o sistema táctico sem pôr em causa os princípios de jogo adquiridos na 1.ª metade da época com Rúben Amorim, os jogadores estão confortáveis nas novas posições e alguns até rendem mais do que antes.
Maxi está um defesa lateral de excelência, Quenda um médio/extremo esquerdo de eleição, Diomande continua imperial, Fresneda renasceu, se calhar o melhor lugar do Debast é este mesmo.
Melhor em campo? Maxi ou Quenda? Um deles.
Arbitragem? Pequenos lapsos, o VAR corrigiu a asneira maior.
E agora? Jogo a jogo, rumo ao bi.
PS: Horas antes, o Sporting B outra vez de João Pereira, mesmo sem alguns que estiveram no banco em Vila do Conde, derrotou o Belenenses por 2-1 e ascendeu à faixa da tabela de apuramento de subida de divisão. E jogou em 3-5-2...
Rúben Amorim: despedida inesquecível de Alvalade com goleada ao City de Guardiola
Foto: José Sena Goulão / Lusa
Gostei muito do jogo épico do Sporting na passada terça-feira, em Alvalade, contra o Manchester City, que muitos consideram a melhor equipa do mundo, treinada por aquele que também costuma ser apontado como o melhor treinador actual do planeta futebol: o catalão Pep Guardiola. Vencemos por 4-1 (com 1-1 ao intervalo) após uma segunda parte em que o onze leonino se comportou como autêntico rolo compressor, neutralizando uma equipa recheada de estrelas: Haaland, Foden, Ederson, Savinho, Akanji, Kovacic, Bernardo Silva, Gundogan e De Bruyne. Exibições superlativas de Gyökeres (três golos, aos 38', 49' e 80', estes dois de penálti), de Pedro Gonçalves (extraordinário, o passe para golo no primeiro do craque sueco), de Israel (não evitou o golo de Foden aos 4', mas impediu três outros, um dos quais de Haaland) e de Maxi Araújo (em estreia como artilheiro na Champions, aos 46 segundos da segunda parte, num lance colectivo que merece figurar na antologia dos melhores de sempre do historial leonino), sem esquecer Diomande, Quenda e Trincão.
Gostei da simbiose total entre adeptos e equipa - incluindo equipa técnica, neste desafio contra o tetracampeão inglês que marcou a despedida de Rúben Amorim do José Alvalade após 1703 dias no Sporting antes de se tornar treinador do United, onde inicia funções na próxima segunda-feira. Gostei do regresso de Matheus Nunes - como ala esquerdo - ao nosso estádio, onde foi brindado com fortes aplausos apesar de vir como adversário. Gostei da celebração final, com os jogadores a formarem um corredor de honra ao técnico que tão bem serviu o Sporting durante quase cinco anos e levantarem-no ao ar, em clima de euforia, numa das mais belas noites de glória que conhecemos no nosso estádio. Fechamos a primeira metade da jornada da Champions 2024/2025 no segundo lugar da classificação, com 10 pontos, a par do Mónaco, terceiro, e só atrás do Liverpool, que comanda com 12 pontos. Entre 36 equipas.
Gostei pouco de me lembrar que já restam poucos heróis de outro dia épico na história do Sporting: aquele 18 de Março de 1964, em que derrotámos por 5-0 o Manchester United cheio de génios da bola como o inglês Bobby Charlton (futuro campeão do mundo em 1966), o escocês Denis Law e o irlandês George Best. Goleada alcançada na segunda mãos dos quartos-de-final da Taça dos Vencedores das Taças que viríamos a conquistar dois meses depois. Após os recentes falecimentos de Carvalho e Alexandre Baptista, sobrevivem Pedro Gomes, José Carlos, Hilário e Figueiredo.
Não gostei de lembrar um dos nossos, que só por manifesto infortúnio não estava ali, defrontando o campeão europeu de 2023: Nuno Santos, que rompeu pela terceira vez os ligamentos do joelho direito, tendo a época acabado para ele a 27 de Outubro em Famalicão. Mas foi bem substituído por Maxi no difícil confronto com Savinho, o melhor elemento deste City que nos visitou.
Não gostei nada, uma vez mais, do péssimo hábito de alguns idiotas, que teimam em assobiar o hino da Champions no nosso estádio. Como se preferissem disputar outra prova, muito inferior, como a Liga Europa (onde estão FC Porto e Braga) ou a Liga da Conferência (palco do V. Guimarães, que ali está a ser bem-sucedido). Quando é que estes imbecis se deixam de comportar como adeptos de equipa pequena e enfiam os assobios no lugar mais recôndito que tiverem?
Maxi, ala esquerdo, é o novo reforço do Sporting e o mais recente uruguaio a vestir a camisola listada verde e branca. Quem foram os outros?
O primeiro uruguaio no Sporting foi Enrique Fernández, que jogou e treinou no Barcelona e chegou a Lisboa já como técnico, em 1957. No ano seguinte, por sua indicação, chegou José Caraballo, avançado “charrua”. Teve pouco sucesso, fazendo apenas 3 golos em 13 jogos. Passou depois por Braga, Salgueiros e Montijo. O seu neto, Peter, passou pelas camadas jovens do Sporting. Em 1988, chegou o treinador Pedro Rocha e o guarda-redes Rodolfo Rodriguez, anunciado como uma das “unhas” do leão. Fez 20 jogos e sofreu 18 golos, não estando à altura das expetativas.
Quase 20 anos depois, chegou mais uma desilusão. Carlos Bueno só se destacou num jogo, marcando 4 vezes ao Nacional. Ainda assim, saiu com uma Taça de Portugal. Em 2011, chegou Luis Aguiar. Médio de qualidade, com passado no Braga, acabou por nunca se estrear, jogando até hoje no Uruguai. Em janeiro de 2012, mais uma má jogada. Seba Ribas, avançado, veio emprestado pelo Génova e com zero golos em 7 jogos, deixou Lisboa e andou a falhar por vários países antes do regresso a casa.
Em janeiro de 2016, mudou a sorte. Chegou Coates, saído este ano como grande capitão e histórico defesa. Fez 369 jogos, marcou 37 vezes e ajudou na conquista de dois campeonatos e mais 6 títulos nacionais. Dispensa apresentações. Coates recebeu depois o médio Manu Ugarte, herdeiro de Palhinha no meio-campo. Em duas épocas, ganhou uma Taça da Liga e saiu por 60 milhões. Franco Israel chegou em 2022 para ser suplente de Adán. A lesão do espanhol fez com que fosse titular na segunda metade da época passada, ajudando o clube a ser campeão.
É agora a vez de Maxi ser como os seus últimos compatriotas.
Maxi Araújo, 24 anos, ala ou extremo esquerdino, internacional uruguaio. Vem do Toluca, clube mexicano onde joga Paulinho, para o Sporting: acordo está fechado, por cerca de 14 milhões de euros.
Na recente Copa América, em que o Uruguai foi semifinalista após derrotar o Brasil nos quartos, marcou dois golos e fez uma assistência.
A propósito dele diz o "El Loco" Bielsa, que o catapultou na selecção, aquele mesmo que ao serviço do Atlético de Bilbau eliminou o Sporting de Sá Pinto, mais ou menos isto:
"Um bom jogador não é aquele que tem virtudes. Todos os jogadores têm virtudes e as virtudes são importantes. Um bom jogador é aquele que consegue pôr em jogo uma alta percentagem das virtudes que tem."
SL
{ Blogue fundado em 2012. }
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