Gonçalo Inácio, também ele protagonista de uma partida de sonho. Nesta terceira vez em que representou a selecção A, marcou dois golos. Ambos de cabeça, ambos a passe de Bruno Fernandes. Numa exibição irrepreensível que o torna sério candidato a titular de longa duração do onze nacional como central à esquerda.
Roberto Martínez prossegue o registo cem por cento vitorioso como comandante deste nosso percurso com vista ao Campeonato da Europa 2024. Seis jogos, seis triunfos, 24 golos marcados, nenhum sofrido. Nunca tal tinha acontecido numa campanha portuguesa para uma fase final de um Mundial ou de um Europeu.
Quem não compareceu no Estádio do Algarve e manteve o televisor desligado, perdeu um festival de futebol de ataque. Desmentindo todos aqueles que vinham criticando a equipa nacional. Por "jogar feio", com fio de jogo previsível e algo sonolento. Por faltar nota artística.
Nem sabem do que falam.
Para memória futura, assinalo a evolução do marcador. 12': Gonçalo Inácio. 17': Gonçalo Ramos. 33': Gonçalo Ramos. 45'+4: Gonçalo Inácio. 57': Diogo Jota. 67': Ricardo Horta. 77': Diogo Jota. 83': Bruno Fernandes. 88': João Félix.
Melhor em campo, sem discussão: o nosso Bruno. Revelação deste desafio, também indiscutível: o nosso Gonçalo.
Os birrentos que recusaram assistir ao jogo, acometidos de clubite aguda ou de aversão visceral à selecção, a esta hora já estarão arrependidos. Queriam futebol de ataque? Grandes exibições? Muitos golos? Houve tudo isto.
Quem viu, viu; quem não viu, tivesse visto. Parafraseando António Oliveira, que foi um grande sportinguista sem ter deixado de ser portista.
Melhor jogador português de sempre festeja com Bruno Fernandes o seu segundo golo
Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
Já o davam como acabado, aposentado, pronto a arrumar as botas. Já salivavam de gozo considerando-o uma relíquia do passado.
E eis que Cristiano Ronaldo, contrariando as aves agoirentas, acaba de marcar quatro golos em menos de uma semana pela selecção nacional. É obra.
Dois na quinta-feira, em Alvalade, contra o Liechtenstein. Outros dois ontem, no Luxemburgo, na goleada portuguesa contra o onze do grão-ducado: fomos lá vencer por 6-0. Meia dúzia para o nosso espólio.
Coube ao nosso n.º 7 meter o primeiro, logo aos 9', finalizando da melhor maneira uma assistência de cabeça de Nuno Mendes, que por sua vez recebera a bola num passe cruzado de Bruno Fernandes. Foi dele também o nosso quarto golo, aos 31', desta vez assistido pelo próprio Bruno: o melhor jogador português de todos os tempos meteu-a lá dentro com o pé esquerdo, ludibriando o guarda-redes.
Dois antes de "bola parada", dois ontem em lance corrido: Cristiano Ronaldo soma agora 122 golos com a camisola das quinas vestida. Batendo o seu próprio recorde mundial, estabelecido dias antes.
Neste, três golos de cabeça: João Félix aos 15' (Bernardo Silva assistiu), Bernardo aos 18' (com passe para golo de Palhinha) e Otávio aos 77' (Nuno Mendes a assistir). Rafael Leão fechou a contagem aos 88', num espectacular slalom até à baliza - três minutos após ter falhado um penálti, já sem Ronaldo em campo.
Roberto Martínez, novo timoneiro da selecção portuguesa, começa da melhor maneira. Dois triunfos na campanha de qualificação para o Europeu, com dez golos marcados e nenhum sofrido. Lideramos o Grupo J, já muito bem colocados para o apuramento. Com um sistema táctico idêntico ao que Rúben Amorim implantou no Sporting.
Cristiano Ronaldo voltou a sorrir. E nós sorrimos com ele.
Nuno Mendes e João Palhinha, cada qual com apenas três presenças na selecção A, já estão a dar nas vistas. O primeiro, desde logo, com aquele passe teleguiado para o que seria (e foi, em termos reais, embora não em termos "legais") o terceiro golo português contra a Sérvia e ao protagonizar ontem, frente ao Luxemburgo, uma das melhores jogadas individuais de todo o desafio. O segundo, que saltou do banco nestas partidas, chegou a tempo de marcar de cabeça, também ontem, o golo que sentenciou a nossa vitória num embate mais difícil do que se previa. O seu primeiro como internacional A, confirmando 2020/2021 como uma época de sonho para ele. Um sonho bem merecido.
Venho perguntar-vos, a propósito de qualquer deles, se entendem que devem ambos ser titulares da equipa das quinas no próximo Campeonato da Europa. E também, já agora, se consideram que mais algum jogador do Sporting deve ser convocado para o Europeu.
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