Depois da vergonha dos 7% nas últimas eleições, depois de mais um título nacional no futebol com as contribuições decisivas daqueles jogadores com os quais eles andaram num processo de bullying nojento toda a época, como Paulinho, Esgaio, St. Juste, Trincão e Edwards, até o melhor jogador do plantel, Pedro Gonçalves, foi chamdo do pior, este último resultado financeiro da SAD com contas positivas, ao contrário do grande rival, foi mais uma bofetada na cara aos letais com uma toalha bem molhada.
Ao terceiro ano consecutivo com resultados líquidos positivos - o quarto nos último cinco anos, com excepção do ano da pandemia - a auditora responsável pela certificação legal das contas e relatório de auditoria, pela primeira vez em mais de 20 anos, "removeu do seu parecer a incerteza material relacionada com a continuidade da Sporting SAD".
Depois da recompra das VMOCs entendo que esta é uma conquista de enorme valor, apenas possível, num ano sem Champions e com a conquista do título nacional, pela grande competência da gestão financeira da SAD.
Mas voltando aos letais, como a maior parte deles deixou de participar na vida do clube como fez o seu grande lider, muitos deixaram até de pagar quotas e abdicaram dos seus direitos de voto, desertaram das AGs, os blogues e podcasts de martelar "no Varandas" a cargo de adeptos a falar de parte incerta quase desapareceram, resta apenas a tal tasca para perceber o ambiente na seita.
E a azia não podia ser maior, a começar pelo candidato a director de alguma coisa naquela candidatura dos 7%.
Falam do contrato da NOS como se o Bruno de Carvalho tivesse encontrado a NOS algures no deserto e não a NOS o Sporting como a MEO o Porto, esquecem o plantel que recebeu de Godinho Lopes incluindo a melhor equipa B de sempre, esquecem o rombo colossal que foi o assalto a Alcochete quando ele desertou do Funchal, falam no aumento da dívida não tendo a mínima noção do que vale actualmente o plantel e como não há nenhuma SAD que contrate a pronto sem negociar tranches e datas de pagamento.
Não há dúvida nenhuma que Bruno de Carvalho fez um grande trabalho no Sporting no seu primeiro mandato, e por isso foi reconduzido como presidente com uma votação da ordem dos 90%, o meu voto incluído.
Não há dúvida também que os pontos negativos que já vinham do primeiro mandato foram exponenciados ao nível da alucinação no segundo, com Jorge Jesus e Pinto da Costa a serem os maiores catalizadores da sua deriva suicida.
Não há dúvida também que existem seitas que não aceitam o presente, querem reescrever o passado e que, endoutrinadas e aditivadas, são capazes de assaltar a sede de poder do seu clube ou até do país. Aconteceu no Sporting, nos EUA e no Brasil por exemplo.
Também não há dúvida de que o Sporting, como clube e como SAD, está muito - mas muito - melhor agora do que pelo mesma altura do ano em 2018.
Os três grandes e todas as SAD's provavelmente, apresentaram as suas contas do último semestre.
O Sporting apresentou um resultado positivo de 47,5M€, o Porto um resultado negativo de 9 M€ e o Benfica um resultado também negativo de 13,3M€.
E a gente fica todos contentes! Somos os maiores. Não ganhámos nem ganharemos nada, pelo menos este ano, a ida à CL está comprometida, mas temos lucro. Já o havia escrito aqui, andamos cá para ser os campeões dos R&C. Mas estava redondamente enganado e por isso peço as minhas humildes desculpas a quem foi levado ao engano com aquele post, é que pelo andar da carruagem, nem nos R&C ficaremos bem na fotografia.
Traduzindo por miúdos:
- Sem Champions (35M) e venda líquida de jogadores (63M) teríamos perdido 50 milhões no semestre.
- O serviço da dívida (custos de financiamento) subiu para 8,5M no semestre devido à subida dos juros, algo para que alguns foram alertando que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. Quer dizer, devido ao elevado passivo (são um pouco mais de 300M), o custo de financiamento leva-nos 17M por ano, isto antes de metermos a chave na porta e antes de ligarmos a luz.
- Os custos com pessoal subiram, ao contrário da propaganda, para 38,5M no semestre. As amortizações de passes cresceram 40% em período homólogo (dez 2021) devido às compras a metro.
- Com os custos com pessoal a aumentar e da Champions já praticamente despedidos, a única hipótese que nos safará é lançarmos miúdos na equipa principal que ganhem valor rapidamente.
- Sobre receitas extra Champions e venda de passes de jogadores, nada, que não crescem há anos. Nas receitas ordinárias não temos inflação. Nada se faz (Eu acho que copiar o que está bem feito, não é defeito, passe a cacofonia, então olhem ali para o outro lado da rua e percebam porque têm eles sempre o estádio cheio. E não cheiram um título há 4 anos!).
- Como isto está estruturado a nível de contabilidade de SAD, com as compras registadas em amortizações e as vendas pelo seu valor, se eu comprar um jogador por 50 e vender outro pelos mesmos 50, em vez de um resultado zero eu vou ter um resultado positivo de 40, considerando que os jogadores contratados terão contratos de 5 anos. Depois, em cada um dos 4 anos seguintes, vou perder 10, mas isso que interessa, é atirado para a frente, o que interessa é mostrar um bom resultado no presente. Mas se eu vender sem cuidar dos resultados desportivos e isso passa por continuar a ter uma equipa competitiva, arrisco-me a ficar fora da Champions. No próximo semestre já não haverá receitas da Champions, vai haver uns trocos da Liga Europa. Vendemos o Porro, o que dará para cobrir os custos com mais uma pequena receita da Liga Europa e lá apareceremos com lucro no final do ano.
- A acrescentar a tudo isto, o estádio às moscas não ajuda a publicidade e patrocínios. A televisão antecipa-se até haver e já deve haver muito pouco. A bilhética é o que se tem visto, para ter umas casas compostinhas, oferecem-se bilhetes (compras um levas dois). O merchandising não descola, pois se a Loja Verde parece uma delegação da Luis Vuitton, atendendo aos preços praticados, querem o quê? E nada se faz para inventar novas receitas. Neste aspecto, comparados com os rivais que dizer? Somos muito poucochinho, palavra muito na moda agora.
Mas o pior está para vir, se em 2023/24 não houver Champions. Antes de Champions e venda de jogadores perdemos 50 milhões por semestre, 100 milhões num ano. Antes eram cerca de 80 milhões, mas a subida do serviço da dívida, o aumento das amortizações e do custo com pessoal levou-nos a um ainda maior desequilíbrio e chegados aqui, com cerca de 300M€ de passivo e com despesas de funcionamento de 100M€/ano, a réstea de possibilidade de equilíbrio de contas, no mínimo (e já não dando para o peditório da redução do passivo), é a presença todos os anos na CL e a venda em alta de um jovem formado na academia, mas como já percebemos, não há quantidade de jovens tão grande que permita que se um sai, o lugar fica preenchido com a mesma qualidade que nos permita discutir lugares de acesso à liga milionária e entramos na espiral donde nunca sairemos: Vendemos porque precisamos do dinheiro para água e electricidade, o básico vá, e desfalcamo-nos e ficamos com uma equipa que não consegue aceder aos lugares dos milhões.
É esta a nossa sina? Não sei, eu por mim não estou disponível para levar com pazadas de areia nos olhos, mas pronto, isto vai servir para a narrativa de que "não ganhámos, mas metemos as contas no sítio".
Já agora e para baixar um pouco mais a euforia, o Benfica, que tem um passivo um pouco maior que o nosso, perto dos 400M€, teve agora um resultado negativo, como se viu lá em cima, de pouco mais de 13M€. Mas... Vendeu o Enzo e no ano vai mostrar um resultado enorme, até porque os jogadores que também comprou, uns nórdicos a preço de saldo, vão ter amortizações pelo método descrito acima (parceladas pelo tempo do contrato). Enquanto nós não teremos mais receitas Champions, eles ainda lá estão e vão somar a isso os 120 milhões do Enzo. Cá estaremos no final do ano (segundo semestre, se quiserem) para fazer a contabilidade.
Concluindo? Bom, concluindo só se aparecer um árabe bêbado, o que será pouco provável, bêbado e cego para pegar num clube com mais de 300M€ de passivo, ou se se mudar de paradigma. Os nossos vizinhos perceberam que têm que ganhar para fazer dinheiro (às vezes sabe-se lá com que subterfúgios), nós ainda estamos a discutir se os gajos nasceram em 1903 ou em 1908. Prioridades...
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