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És a nossa Fé!

Luís Filipe e Jorge Nuno

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Jorge Nuno Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira fizeram, durante largos anos, um percurso comum no futebol. Com muito mais encontros do que desencontros. Houve até um tempo em que Vieira foi sócio do FC Porto: para onde ia um, seguia o outro. Depois amuaram, fizeram birrinha, houve uns arrufos entre eles. Coisa sem grande importância. A prova é que voltaram a ser compinchas e a partilhar suculentos repastos de leitão na Mealhada. 

Seguem linhas tão convergentes que até recebem visitas da Polícia Judiciária e do Ministério Público com poucos meses de intervalo. Em Julho, Vieira foi detido no âmbito de uma investigação sobre suspeitas de burla, abuso de confiança e branqueamento de capitais - juntamente com o filho, o Rei dos Frangos e o "empresário" Bruno Macedo. A operação Cartão Vermelho, como lhe chamou a Judiciária - nome bem apropriado.

 

Ontem houve buscas policiais à sede da SAD portista e à residência de Pinto da Costa. Cumprindo 33 mandados de busca numa operação conjunta da PJ e da Autoridade Tributária. Por suspeitas da prática de crimes de fraude fiscal, burla, abuso de confiança e branqueamento relacionados com transferências de jogadores de futebol e com circuitos financeiros que envolvem os intermediários nesses negócios. Que, segundo o Expresso, envolverão pelo menos 40 milhões de euros. Revela o Observador que Pinto da Costa é suspeito de desviar fundos da SAD e o filho, Alexandre, também está sob mira das autoridades. Além do tal "empresário" Bruno Macedo, que parece estar em todas. Será coincidência?

 

Unidos na prosperidade e no infortúnio: parece uma fórmula matrimonial. Um já caiu, o outro está em vias disso. Até nisto estão próximos. É mais que tempo.

Alguns capangas podem lamentar, mas nenhum deles faz falta ao futebol português. O desporto não se quer obscuro e trapaceiro: quer-se limpo. Dentro e fora dos relvados, agora e sempre.

Um filme de terror

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Não sei se viram ontem à noite uma grande reportagem da SIC intitulada Testa de Ferro. Centrada no arguido Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Sport Lisboa e Benfica. 

Tudo começa em 1984 com um furto digno de fita de gangsters: Vieira participa no desvio ilícito de um camião e um reboque pelo qual viria a ser condenado, só em 1993, a 20 meses de prisão - pena que não chegou a cumprir por beneficiar de uma oportuníssima amnistia.

Começou aí o sinuoso percurso público do antigo paquete que durante uma década liderou o Alverca, clube-satélite do Benfica que em 2005 seria banido das competições profissionais. Foi muito próximo de Pinto da Costa, chegando a inscrever-se até como sócio do FC Porto, mas surgiria em destaque no SLB como director desportivo no mandato de Manuel Vilarinho, acabando por lhe suceder na presidência em 2003. Logo ele, que em 8 de Maio de 1998 dizia: «Não sou um homem do futebol. Quero ir-me embora muito rapidamente.» Não foi, como sabemos. Só saiu há quatro meses, empurrado pelo Ministério Público.

A partir de 2003 mergulhamos num verdadeiro filme de terror. Com a entrada em cena de Ricardo Salgado, Joe Berardo e vários outros sujeitos nada recomendáveis. Durante sete anos, entre 2007 e 2014, o BES "emprestou" 335 milhões de euros ao SLB. Já em 2001 tinha sido o mesmo banco a financiar a transferência de Simão Sabrosa do Barcelona para a Luz.

Não vou resumir mais. Limito-me a deixar a recomendação: não percam.

O episódio de ontem é o primeiro de quatro. 

O fraco profeta Vieira

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A 30 de Outubro de 2018, menos de dois meses após o actual presidente do Sporting ter tomado posse, Luís Filipe Vieira avisou, como se tivesse acabado de chegar de Palermo:

«Se meter o Benfica à frente do Sporting, não vai estar lá muito tempo.»

 

Sem sequer perceber, o destituído acabou por fazer um enorme elogio ao presidente do Sporting com estas palavras mafiosas.

E revelou-se fraco profeta. Quem acabou por ficar lá pouco tempo foi ele próprio. Como hoje todos sabemos.

 

Varandas continua. Apoiado pela esmagadora maioria da massa adepta do Sporting e odiado pelos do costume. Que só o tornam mais forte. 

Burla, falsificação, branqueamento, fraude

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Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica desde 2003, foi ontem detido por suspeita da prática de diversos crimes: abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.

É a primeira vez que um presidente em exercício de um grande clube de futebol português recolhe aos calabouços pela alegada prática de crimes desta natureza.

O Ministério Público ordenou também a detenção do filho do líder benfiquista, Tiago Vieira, do empresário José António dos Santos, maior accionista individual da SAD encarnada, e do putativo empresário Bruno Macedo, que tem funcionado como agente desportivo de Jorge Jesus.

 

Admirado com isto? Nem por sombras. 

Basta lembrar vários textos que fui publicando aqui ao longo dos anos. Nomeadamente os que passo a recordar.

 

Uma imensa desvergonha: «Quem assim fala é o mesmo que sustenta uma rede de cartilheiros municiada por um profissional da intriga. Quem assim fala é o mesmo que tutela uma estrutura de comunicação capaz de difundir vídeos manipulados, como ainda há dias todo o País testemunhou. (...) Quem assim fala é precisamente o mesmo que se permite alimentar claques ilegais que andam há anos a cometer crimes de ódio, com lamentável impunidade, nos principais estádios portugueses.» (29 de Novembro de 2017)

 

Cerco apertado a Vieira: «Nada ficará na mesma no futebol português depois disto. Não pode valer tudo: os atentados à verdade desportiva têm de ser duramente punidos. Tolerância zero com a batota. Já.» (7 de Março 2018)

 

O estertor do vieirismo: «Haverá quem vislumbre requintes de brilhantismo nesta absurda estratégia comunicacional que confirma os restantes membros da administração da SAD lampiânica como vulgares verbos de encher. Por mim, creio ser um sintoma evidente de que o vieirismo entrou enfim no seu estertor.» (30 de Novembro de 2018)

 

Vale tudo: «Envolvido em escândalos, uns atrás dos outros. (...) Como se encabeçasse uma espécie de estado dentro do Estado.» (7 de Dezembro de 2019)

 

Da absoluta falta de vergonha: «Até onde chega o desespero. E, sobretudo, até onde chega a absoluta falta de vergonha.» (20 de Julho de 2020)

 

Daria para rir se não fosse obsceno: «Vieira ainda se atreve a proclamar que o Benfica "é um clube do povo", em jeito de slogan eleitoral. Daria até para rir se não fosse obsceno.» (5 de Agosto de 2020)

 

Tão amigos (2)...

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... que eles andam!

 

«[Manuel Fernandes] nota que está a imperar o silêncio a respeito do almoço de trabalho entre Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa. “Calou-se tudo”, nota Manuel Fernandes, desafiando a imprensa a perceber o que aconteceu nesse repasto.

“É preciso descodificar esse almoço, tem que se saber o que se passou nesse almoço”, sublinhou o ex-jogador verde e branco, dizendo que se foi para tratar de assuntos que interessam ao futebol português, então, outros clubes deveriam ter sido chamados.»

Eu acho que Manuel Fernandes está enganado. Esse jantar foi de amigos e tratou-se disso mesmo: de um jantar de amigos, somente isso. Quiçá falou-se de um ou outro jogador que pode trocar de camisola.

Por certo alguém do SLBenfica irá vestir a camisola do FCPorto, para gáudio dos adeptos de ambos os clubes.

 

Tão amigos...

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... que eles andam!

Diz ‘A Bola’ que “Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa almoçaram ontem juntos num conhecido restaurante da Mealhada, onde discutiram o momento do futebol português. As primeiras notícias davam conta de que o presidente da Liga Portugal, Pedro Proença, tinha também sido convidado para o almoço entre os presidentes de Benfica e FC Porto, mas A BOLA sabe que Proença esteve apenas presente em parte do encontro, ou seja, [só para o cheirinho, pois nem para a sobremesa e para o café foi chamado] boa parte da reunião entre Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa decorreu sem a presença do presidente da Liga, naquele que parece ser um evidente sinal de aproximação entre dois presidentes que passaram muitos anos de relações cortadas, tendo-se, aparentemente, aproximado nos últimos meses, na sequência das dificuldades que se abateram sobre [estes dois] clubes portugueses na sequência da [conquista, inesperada para eles, do último campeonato pelo Sporting]”.

Derby de futsal

O fim do mundo em cuecas

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"Bomba em dia de derby, Luís Filipe Vieira bate com a porta"

Faltam cerca de dez minutos, no canal 11.

Sporting vs. Benfica.

Vieira, o presidente que comemorou, em cuecas, um título de campeão  nacional de futsal vs. Varandas, o presidente que foi campeão europeu de futsal e não apareceu nas fotografias.

Faltam cerca de cinco minutos...

Vieira

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«Segundo um email trocado entre Ana Paula Godinho [responsável pelo departamento de relações públicas do Benfica] e Luís Filipe Vieira (em Novembro de 2016, apenas dois anos antes do aparecimento das primeiras investigações judiciais), de uma assentada, o camarote presidencial [do estádio da Luz] chegou a ter 11 magistrados (dez juízes e um procurador) sentados para assistirem ao jogo entre Benfica e Moreirense. Celso Manata (procurador, na altura, director-geral dos serviços prisionais), os juízes conselheiros António Grandão e José Nunes Lopes; os juízes desembargadores Rui Rangel, António Ramos, Frederico Cebola, Calvário Antunes, Carlos Benido e o juiz de primeira instância António Gaspar.»

 

«Luís Filipe Vieira diz que apenas falou uma vez com os juízes que iam a um pavilhão no Estádio da Luz para "dar uns chutos na bola", como refere um email do juiz Pedro Mourão para o presidente do Benfica, em Março de 2014, pedindo-lhe que autorizasse a utilização de um pavilhão para a futebolada judicial de um grupo de magistrados do Supremo Tribunal de Justiça. Porém, o email de Ana Paula Godinho para o presidente termina afirmando que o juiz desembargador Pedro Mourão "ficou de lhe apresentar os magistrados que, eventualmente, não conhece pessoalmente".»

 

«Outro juiz cujo trajecto profissional se tem cruzado com o Benfica é Antero Luís, actual secretário de Estado adjunto da Administração Interna. Em 2014, vestindo o fato de secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, o juiz assistiu a vários jogos do SLB, ora na qualidade de convidado, ora a "fazer-se" ao bilhete: o primeiro registo refere-se a 2012 e a um jogo Benfica-Barcelona, quando Antero Luís integrou uma task force entre segurança e espionagem: a acompanhar o então secretário-geral estiveram os directores do Serviço de Informações e Segurança (SIS), o também juiz Horácio Pinto e o adjunto Luciano Oliveira.»

 

«Antero Luís regressou ao Estádio da Luz em 2014, juntamente com Horácio Pinto e Neiva da Cruz, este último actual director do SIS, para assistir ao Benfica-PAOK. Uma vez mais, o clube tinha-o convidado, mas o secretário-geral da segurança interna ainda pediu mais um bilhete para o seu chefe de gabinete, Alexandre Coimbra, intendente da PSP. (...) Em Abril de 2014, novo pedido: Benfica-AZ Alkmaar. Desta vez, Antero Luís não levou o chefe de gabinete, mas pediu credenciais de acesso para o segurança pessoal e para o motorista.»

 

«É nos ficheiros apreendidos na Operação Lex (...) que se encontra o nome do antigo vice-procurador-geral da República, Agostinho Homem, como um dos convidados frequentes do SLB, seja para jogos em casa seja para integrar a comitiva oficial do Benfica em disputas europeias. Agostinho Homem integrou, por exemplo, a comitiva oficial dos encarnados a Moscovo para o jogo com o CSKA, uma viagem com um custo-pessoa superior a mil euros.»

 

«No que diz respeito às forças de segurança/justiça, a distribuição de bilhetes arrastou-se ainda, durante vários anos, à PSP, GNR, SEF e Polícia Judiciária. Nesta última, o contacto permanente dos encarnados estava identificado como Carlos Elias, um inspector que, segundo informações recolhidas pela Sábado, já está reformado, tendo trabalhado durante vários anos na investigação de crimes económicos.»

 

«O charme benfiquista alastrou ao mundo empresarial e financeiro. Os antigos administradores executivos da PT e da Central de Cervejas, Zeinal Bava e Alberto da Ponte, respectivamente, foram convidados para a final da Liga Europa, em 2014, que opôs o Benfica ao Sevilha. Mas era com Amílcar Morais Pires, que integrou a comitiva de convidados às finais da Liga Europa em 2013 e 2014, antigo administrador do Banco Espírito Santo, que Luís Filipe Vieira mantinha uma relação de maior proximidade, como documentam vários emails apreendidos no processo da Operação Marquês. Uma das mensagens, aliás, revela a paixão de Frederico Morais Pires, um dos filhos do antigo banqueiro, pelo Benfica.»

 

«A área das figuras públicas/celebridades também não foi descurada pelo departamento de Relações Públicas do Benfica. Uma extensa base de dados com contactos de actores, cantores, bloggers, instragramers, etc, foi criada para alimentar uma estratégia de convites para jogos. Ricardo Araújo Pereira, hoje apoiante da candidatura de João Noronha Lopes, foi um dos contemplados com uma "carta-mistério" enviada a várias figuras públicas. (...) Esta estratégia foi utilizada também, por exemplo, com Teresa Guilherme, Isabel Angelino, Ricardo Pereira, Jorge Corrula, etc.»

 

Excertos de uma investigação do jornalista Carlos Rodrigues Lima, publicada na Sábado a 29 de Outubro

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Sendo orgulhosamente Português, torço sempre pelos êxitos das nossas selecções, sejam quem forem os treinadores e jogadores envolvidos, e mesmo quando outras equipas que não o Sporting estejam envolvidas em competições internacionais tendo também a desejar o melhor e a ficar contente com as vitórias alcançadas.

Obviamente quando estão em causa situações cujos sucessos de outrem se irão forçosamente traduzir em prejuízo ou ajudar ao achincalhamento e rapinagem para com o meu clube a coisa muda de figura, e por isso mesmo tenho de confessar que não fiquei nada triste com o desfecho do jogo ocorrido ontem em Salónica.

Mas ainda menos triste fiquei quando me recordei da forma como perdemos há pouco mais de dois anos, no Funchal, o acesso à Champions com benefício do vencido de ontem, com o mesmo treinador no banco nas duas situações e a repetir as mesmas asneiras. A única coisa diferente, no Funchal, foi o nosso ex-presidente ter desertado e deixado o grande mestre da táctica em roda livre.

Que asneiras foram essas? Jogo aberto e despreocupado, pouca objectividade no ataque, falta de capacidade física para aguentarem 90 minutos no modelo de jogo proposto, um ou outro jogador a vir de lesão, no fundo uma equipa a colocar-se a jeito para o infortúnio às mãos doutra equipa substancialmente inferior mas muito bem preparada por um treinador conhecedor, que corria, comia a relva e fazia pela vida sem parar.

Foram uns 50 milhões pela borda fora, mas para Jorge Jesus a questão é simples. Sem ovos não se fazem omeletas e quem quer um grande treinador tem que abrir os cordões à bolsa. E quanto à formação, dos jovens da formação que existem no plantel do Benfica, tirando Ruben Dias, ontem jogaram... ZERO. 

Nada que nós não saibamos. Infelizmente.

Quando Bruno de Carvalho, para travar a contestação decorrente do despedimento do Marco Silva depois de acabar de ganhar a Taça ao Braga, resolveu ir buscar Jorge Jesus, vaticinei por aqui que ia ser o fim dele. O dele, Bruno de Carvalho. E foi.

Quanto ao Vieira, não vaticino nada nem tenho nada que vaticinar, o meu clube é outro, mas estou curioso para ver o que acontecerá.

SL

Não percebo...

Saiu ontem a notícia de que António Costa e Fernando Medina integram a Comissão de Honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do SLB (há palavras nesta frase que não ligam muito bem… ‘honra’ vis à vis algumas das outras…).

Sem dúvida que são cidadãos como todos os outros, sem dúvida que a paixão clubística a todos atinge irracionalmente, sem dúvida que é gratificante pensar que se pode contribuir para o engrandecimento do «clube do coração».

Contudo, António Costa e Fernando Medina não são cidadãos como todos os outros: são o primeiro-ministro do governo da república portuguesa e o presidente da câmara municipal mais importante do país. São também políticos de carreira longa e cimentada, pessoas inteligentes, argutas e pragmáticas, com grande «faro político».

Daí que eu não perceba…

Luís Filipe Vieira tem o nome enredado em tudo de mau que caracteriza o futebol nacional e que dele extravasa, mesmo que a instrução processual em termos de justiça se faça tardar. É certo que: nunca foi condenado por nada e deve imperar «a presunção de inocência até prova em contrário».

Mas há um dado que já não carece de prova e que é público: o senhor de bigodes que tem por hábito defender-se dizendo ser um «homem de família» (la famiglia?) é um dos grandes devedores do BES/Novo Banco (outro tema que também me agride o raciocínio), a cujo sustento «todos os contribuintes» (quer-se dizer, mais ou menos…) são chamados a prover.

Daí que eu não perceba…

Dois políticos tão experientes terão tido em conta que aceitarem ser «cabeça de cartaz» nesta corrida lhes trará mais prejuízo que benefício; não acredito que a sua perceção da realidade esteja de tal modo alienada que pensem ganhar votos e simpatia, apoiando tão denodadamente alguém que, objetivamente, é responsável por parte do malbaratamento dos recursos financeiros do país.

Esta minha certeza conduz-me a uma conclusão: parece que há mesmo, como alguns já disseram, «um estado dentro do estado», que a aranha sabe tecer pacientemente a sua teia e que o polvo (extraordinário animal, leia-se outro Vieira - o Padre) se assume como verdadeiro DDT («dono disto tudo»).

Sempre ouvi dizer que «o braço da lei é longo», porém, mais longa e bem armada se afigura ser uma rede de cumplicidades que, como a rede dos esgotos ou dos serviços de telecomunicações (isto também me lembra qualquer coisa...), vai erodindo subterraneamente o chão (e não apenas o relvado) que pisamos.

É verdade: não percebo… Não será exatamente por falta de discernimento, talvez até «antes pelo contrário» (hoje rendi-me ao lugar-comum…).

Apetece-me replicar um anúncio publicitário já antigo (nem me lembro a quê): «Expliquem-me como se eu fosse muito burra!...».

Daria para rir se não fosse obsceno

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Esta imagem mostra o requintado interior do Bombardier Global 5000, o jacto privado com 16 lugares utilizado por Luís Filipe Vieira para ir buscar ao Brasil a mais recente equipa técnica contratada para o futebol do seu clube. 

Este "saltinho" ao Rio de Janeiro - por mero capricho do presidente encarnado, em desespero perante a perspectiva de ser derrotado nas urnas em Outubro - terá custado a Vieira a módica quantia de 230 mil euros. Ou antes: terá custado ao clube, pois a verba há-de ser inscrita numa qualquer rubrica do orçamento chumbado pelos sócios da agremiação encarnada. 

Transformado em mordomo do novo técnico, Vieira promete pagar-lhe - apesar do chumbo orçamental - uns modestos 7 milhões de euros só em salário bruto anual, acrescidos de pelo menos 100 milhões de euros em jogadores que constam da lista de compras do treinador, sempre extensa e muito dispendiosa. Tudo isto, note-se, em tempos de grave crise pandémica e num cenário de abrupta quebra de receitas geradas pelo futebol, num país mergulhado na maior queda do PIB alguma vez registada em ciclo trimestral.

Mesmo assim, Vieira ainda se atreve a proclamar que o Benfica «é um clube do povo», em jeito de slogan eleitoral. Daria até para rir se não fosse obsceno.

Da absoluta falta de vergonha

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Foto: Manuel de Almeida / Lusa

 

Há cinco anos, Jorge Jesus chegou ao termo da relação contratual que mantinha com o Benfica: a entidade patronal decidiu não lhe renovar o vínculo apesar de se ter sagrado campeão nacional de futebol. Em articulação estreita com Jorge Mendes, empresário do treinador, "ofereceu-lhe" um longínquo desterro no emirado do Catar que culminaria numa hipotética transferência para o PSG - tudo à revelia do técnico, apanhado de surpresa neste fim de linha quando pretendia permanecer na Luz.

Sabe-se o que aconteceu depois. Jesus recusou o emirado e atravessou a Segunda Circular, convidado por Bruno de Carvalho para treinar o Sporting. Vieira, furioso, declarou guerra ao seu "melhor amigo". O treinador e a sua equipa técnica foram impedidos de entrar nas instalações do Seixal para esvaziarem os cacifos com os seus pertences, a fotografia de Jesus no bicampeonato foi de imediato retirada da "megaloja" benfiquista e logo os papagaios tarefeiros (incluindo um fulano que é agora deputado) começaram a denegri-lo serão após serão nas pantalhas onde lhes dão tempo de antena.

Valeu de tudo. Acusaram-no de roubar software do clube em benefício do Sporting, negaram-lhe o pagamento do último salário na Luz e moveram-lhe até um processo-crime exigindo uma inédita indemnização de 14 milhões de euros por supostos prejuízos jamais confirmados, sempre com o incentivo nada desinteressado dos cartilheiros de turno, especialistas em danos reputacionais.

A 7 de Setembro de 2016, em entrevista à TVI, Vieira foi peremptório: «Jorge Jesus não serve para este Benfica.»

 

Pois o indivíduo que há cinco anos colocou os patins a Jorge Jesus e atiçou a matilha contra ele é o mesmo que agora, acossado por uma sucessão de escândalos judiciais e vergado a uma humilhante derrota em recente assembleia geral, vai buscar o treinador ao Rio de Janeiro, como se fosse mordomo dele, e lhe oferece boleia em jacto privado, prontificando-se a pagar pelo menos 25 milhões de euros só para o trazer de volta e prometendo-lhe «o maior investimento da história do Benfica». Ridicularizando o administrador financeiro da SAD benfiquista, que em recentes declarações avisara: «Provavelmente haverá uma travagem em termos de investimento, admito que haja uma redução, este ano investimos cerca de €60 milhões.»

O motivo é só um: daqui a três meses haverá eleições no clube. Vieira, presidente desde 2003 e tendo visto fugir para o FC Porto o segundo campeonato em três anos, está apavorado com a hipótese de ser chumbado nas urnas.

Até onde chega o desespero. E, sobretudo, até onde chega a absoluta falta de vergonha.

A "chama imensa" por Jesus

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Bruno Lage, que alguns pândegos de fanática militância encarnada há uns meses proclamavam como «novo Mourinho», foi de queixo ao chão no Funchal: duas derrotas consecutivas no campeonato, em casa contra Santa Clara e fora contra o periclitante Marítimo, afastaram o antigo menino prodígio do comando técnico do SLB.

Aliás o malogrado treinador começou por ser afastado da conferência de imprensa posterior ao jogo, dando lugar ao presidente do clube, que com suprema hipocrisia fez de porta-voz do técnico, proclamando que este assalariado é que tomara a iniciativa de cessar funções. Assim, em vez de «Vieira demite Lage», como de facto aconteceu, o título noticioso passou a ser «Vieira aceita demissão de Lage». Não concebo forma mais cobarde de gerir um clube: eis o futebol a imitar o pior da política.

É caso para dizer que foi literalmente corrido a pontapé: negam-lhe, por esta via, o direito à indemnização a que tinha direito por contrato renovado apenas há sete meses e chegam ao ponto de lhe negarem até o direito à palavra. Mais uma página vergonhosa no futebol do Benfica, que acaba de correr com o segundo treinador em ano e meio: espero que mereça o repúdio da associação profissional do sector.

 

Jorge Jesus - garante a imprensa da especialidade - é o preferido do ainda presidente benfiquista, que lhe terá dito de Lisboa para o Rio de Janeiro: «Anda-te embora e depois falamos».

É conhecido o carinho que ambos dedicam um ao outro, ao ponto de Jesus, há cerca de um ano, ter chamado «meu presidente» a Vieira numa sessão pública. Para que ficasse devidamente registado.

Longínquos são já os tempos em que ele e a sua equipa técnica custaram 25 milhões de euros em três épocas no Sporting que se saldaram pela conquista de uma Taça da Liga - a mais cara do futebol português. Aliás ele nunca escondeu por que motivo trocou a Luz por Alvalade, em 2015: «Mudei, porque fui obrigado.»

 

E se ele acabar mesmo por regressar ao SLB? Devemos ter receio de enfrentá-lo como adversário? São questões que deixo à consideração dos leitores. Responda quem quiser.

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