O Sevilha - agora treinado por Julen Lopetegui, que não teve sucesso como treinador do FC Porto e foi um técnico sempre com péssima imprensa em Portugal - venceu ontem à noite a Liga Europa. Pela sexta vez, em seis finais - não falhou uma.
Entre os jogadores da equipa sevilhana que agora festeja este importante título inclui-se o sérvio Nemanja Gudelj, contratado no Verão de 2018 para o Sporting pela Comissão de Gestão, liderada por Sousa Cintra. Médio defensivo, actuou como defesa central improvisado nesta vibrante final realizada em Colónia, frente ao Inter de Milão, com vitória sevilhana por 3-2.
Recordo, lamentando, que Gudelj foi sempre um mal-amado em Alvalade. Apupado nas bancadas, insultado pelos autoproclamados "verdadeiros adeptos", apesar disso foi crucial na conquista dos dois mais recentes troféus do futebol leonino: a Taça de Portugal e a Taça da Liga 2019. Acabou por ser dispensado em Julho de 2019 após 43 jogos de Leão ao peito: o Sevilha ganhou com isso. E o jogador também.
O Sporting viu partir mais um cujo valor nunca foi devidamente reconhecido entre nós. Como tem acontecido com tantos outros.
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Bruno Fernandes, mesmo não sendo avançado, sagrou-se melhor marcador desta edição da Liga Europa. Com oito golos - cinco ainda ao serviço do Sporting, os restantes já com a camisola do Manchester United. Devia ser motivo de orgulho para todos nós. Mas nas redes "leoninas" fala-se menos nisto do que no recém-contratado Feddal, que foi apanhado em excesso de velocidade ainda em território espanhol. Diz tudo sobre as prioridadades dos "verdadeiros adeptos".
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O Sevilha, recordo, foi o quarto classificado do campeonato espanhol. Atrás de Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid. Isto não causou complexos à equipa sevilhana nem a conduziu a sessões colectivas de autoflagelação. Se a conquista de títulos internos é um objectivo remoto, até devido às arbitragens que adulteram com frequência os resultados, sobretudo em benefício do Real e do Barcelona, a Liga Europa tornou-se uma meta plausível - e, como vemos, superada com frequência.
No Sporting, seria útil meditarmos neste exemplo. Ganharíamos mais com isso do que a comentar os calções do Porro - outro tema que tem mobilizado atenções nas redes sociais por parte daqueles que parecem sempre mais concentrados no acessório do que no essencial.
Não sei onde andam os defensores da decapitação de José Peseiro que nas últimas duas semanas visitaram este blogue com pendular assiduidade, exigindo ver escorraçado o treinador do Sporting: parecem ter-se esfumado desde as dez da noite de ontem.
Ainda assim, venho aqui propor-lhes um nome alternativo para o nosso banco: é alguém que conhece por dentro o futebol português, fala bem nas conferências de imprensa, já treinou o clube detentor das últimas três Ligas dos Campeões e encontra-se disponível devido a momentânea situação de desemprego.
Estarão os fogosos militantes da Liga Anti-Peseiro dispostos a exigir a sua vinda para Alvalade? Eis a pergunta que me apetece fazer na ressaca da oitava jornada do campeonato, em que o Sporting foi a única equipa a marcar três golos.
O diário madrileno revelou uma galopante miopia com esta primeira página: tal como o D. Quixote, também imaginou ver um gigante onde apenas havia um moinho insuflado por uma brisa do vento norte...
Confesso: nestas ocasiões consigo até, sem favor algum, fazer rasgados elogios à imprensa desportiva portuguesa.
É impressão minha ou o Ricardo Quaresma agora proclamado "herói do Dragão" por ter marcado dois golos ao Bayern de Munique é o mesmo jogador que o treinador basco do FC Porto fez encostar durante meses às boxes, remetendo-o à condição de suplente ou deixando-o até fora das convocações?
Há pouco mais de um mês, escrevi aqui que, e passo a citar-me, "acho uma grande inutilidade estar a fazer, neste momento, a 64ª avaliação à presidência de Bruno de Carvalho, a Marco Silva ou ao plantel do Sporting (todos mais escrutinados do que Portugal pela troika!)."
Por estes dias, a blogosfera leonina enche-se (again) de apreciações sobre Marco Silva, tendo regressado o ruído em torno da continuidade do treinador do Sporting à frente da equipa após o termo da presente época.
Para esse peditório, não irei contribuir. A partir do dia 1 de junho, poderemos todos fazer o balanço da temporada mais apropriadamente.
No entanto, não queria deixar passar ao lado as linhas que se escrevem, também na imprensa desportiva, sobre Marco Silva, para chamar a atenção para a desonestidade intelectual vigente, ou, de forma mais rude, para a tremenda lata de certos escribas.
Lopetegui foi recentemente arrumado da taça da Liga, depois de prematuramente eliminado da taça de Portugal. No campeonato, apesar do forte investimento tripeiro, não consegue assaltar o primeiro lugar. Por que é que, nesta fase decisiva, não se escrevem também linhas sobre o futuro do treinador basco perante a possibilidade de não conseguir ganhar o campeonato? É que ainda está a ecoar na minha cabeça o comentário jocoso de Pinto da Costa, no final da época passada: “prefiro perder o campeonato de vez em quando do que ganhá-lo de vez em quando”.
E sobre Jesus, que com € 4 milhões anuais de vencimento, necessitou de 5 anos para ganhar 2 campeonatos, quando o mal-amado Vítor Pereira em 2 anos conseguiu os 2 títulos? Por que é que os jornais não dedicam, igualmente, umas linhas sobre o futuro do treinador do Benfica e a relação entre o elevado investimento no futebol/salário principesco do treinador/títulos ganhos?
É pela desonestidade com que ataca-se um treinador e ignoram-se outros, que acho perigoso que os sportinguistas se ponham a escrever nesta fase, como se não houvesse mais outro assunto, sobre o Marco Silva e o seu futuro, pois tal só serve para aumentar a turbulência interna, o que os rivais agradecem.
A vitória de ontem do Sporting não foi só em campo. Nas entrevistas Marco Silva deu um baile ao treinador do Porto. Também aqui Lopetegui se colocou a jeito de ser cilindrado pelo jovem treinador dos Leões.
Vi e revi a conferência de imprensa do treinador dos azuis e brancos que me pareceu de uma pobreza confrangedora. Tentar desculpar-se da derrota daquela maneira só prova que as coisas pelo Porto não estão a carrilar como outrora.
O basco chegou a Portugal convicto (ou alguém o terá convencido disso!) que bastava a sua equipa entrar em campo para o jogo estar automaticamente ganho… Começa finalmente a descobrir que não será bem assim e que os jogos ganham-se jogando… futebol. E quanto melhor se jogar mais probabilidades tem de ganhar. E ontem o FCPorto foi uma sombra de si mesmo. Obviamente que o Sporting foi culpado, e de que maneira, pela paupérrima exibição dos jogadores portistas.
Mas não foi essa a imagem que o treinador do Porto tentou, em vão, passar. A “mona” da derrota que Lopetegui não conseguiu esconder contrastou com a serenidade e a lucidez patenteadas por Marco Silva.