Ter dez anos e ser selvagem
"O que realmente sei é que não há desporto [o futebol] que angustie mais, quando é angustioso. Mais ainda: no meu caso particular, confessarei que é das poucas coisas que fazem com que hoje reaja - exactamente - da maneira como reagia quando tinha dez anos e era um selvagem, a verdadeira recuperação semanal da infância (...)"
"(...) o certo é que quando, acabados os jogos, o meu editor culé me telefonou com o hino do Barça como música de fundo e disposto a dizer piadas (...) anunciei-lhe muito sério que nunca mais publicaria uma linha na editora dele; e não foi só isso, também que duvidava que voltasse a visitar Barcelona (cidade que adoro e onde vivi) e, é claro, que nunca mais poria os pés em Tenerife. Veio à tona o hooligan que todos os adeptos têm dentro de si.
Felizmente passou-me tudo (...)"
"Ao invés de outras actividades da vida, no desporto (mas sobretudo no futebol não se acumula nem se guarda nada (...). Ter sido ontem o melhor já não interessa hoje, para não falar de amanhã. A alegria passada não pode fazer nada contra a angústia presente (...) portanto, também não há, durante muito tempo, tristeza ou indignação, que de um dia para o outro, podem ver-se substituídas pela euforia e pela santificação."
"Num tempo erotizado pela obsessão do belo e do funcional reparar num rapazinho débil e arrastando uma das pernas e deixar-se conquistar pela candura desarmada do seu olhar e do seu sorriso constitui um sinal de verdadeira grandeza, porque esta manifesta-se na forma como acolhemos aqueles em quem, sob a aparência da pequenez e fragilidade, se descobre a expressão grandiosa da essência do humano."
"No futebol como na vida é difícil viver em harmonia.
O homem ou se compreende ou se destrói definitivamente."