Quente & frio
Gostei muito de Gyökeres, para não variar. Melhor dos nossos na partida de anteontem em Leipzig, frente à equipa local, na sétima ronda da Liga dos Campeões. O craque sueco só entrou aos 55', para prevenir excesso de fadiga muscular. Estávamos a perder 0-1 desde os 19'. Lançado por um colega que também saltou do banco (Daniel Bragança, segundo passe para golo em dois jogos seguidos), o mais extraordinário ponta-de-lança que vi jogar no Sporting em mais de 20 anos recebeu, conduziu, driblou - e marcou. Mostrando a Harder, titular da posição neste desafio, como se faz. É bom que o jovem dinamarquês aprenda com ele.
Gostei de alguns desempenhos. Morten parece infatigável: continua como pêndulo do meio-campo e merecia melhor parceria do que a de Debast, que rendeu contra o Rio Ave mas se escondeu contra o Leipzig como médio-centro desacaído para a esquerda, sem capacidade de municiar o nosso ataque nem de perturbar o portador da bola quando a equipa alemã subia. Também apreciei Maxi Araújo, muito combativo e determinado: parece ter agarrado a titularidade como lateral esquerdo, falta-lhe um pouco mais de sangue-frio nos duelos para evitar ser amarelado com excessiva facilidade. Morita, lançado aos 55', trouxe consistência e qualidade de passe ao meio-campo: falta saber se já tem físico para render um jogo inteiro.
Gostei pouco da estreia de Rui Borges na Liga dos Campeões. O anterior técnico do Vitória, invicto em dez partidas da Liga da Conferência ao comando do emblema minhoto, teve agora o primeiro embate na prova milionária: perdeu 1-2. Entre lesionados (agora mais um em Leipzig) e jogadores quase presos por arames, por excesso de utilização, o nosso novo treinador registou a primeira derrota ao serviço do Sporting. Seguramente extraiu lições úteis deste desaire tangencial: em competições europeias o meio-campo interior tem de ser reforçado, os extremos devem ajudar a fechar os corredores em processo defensivo e "segurar o resultado" não equivale a baixar linhas para conceder toda a iniciativa atacante ao adversário. Há sobretudo processos colectivos a rever, designadamente no campo defensivo: o golo que sofremos aos 78', marcado por Poulsen após várias carambolas na nossa defesa sem ninguém conseguir aliviar a bola, é um exemplo do que não pode voltar a acontecer. Estes erros pagam-se caros.
Não gostei de vários jogadores nossos. Israel, cada vez mais se confirma, não demonstra categoria para defender a baliza leonina no patamar da Liga dos Campeões: tem responsabilidade no segundo golo sofrido e foi incapaz de transmitir segurança à equipa. Fresneda voltou a revelar lacunas tácticas a defender: falhou a abordagem ao lance no primeiro golo e virou a cara à bola num segundo do Leipzig, que viria a ser anulado por fora-de-jogo milimétrico aos 31'. Geny, em processo defensivo, só marca com os olhos: divide culpas com o espanhol no golo inicial e foi inofensivo a atacar, insistindo na posse estéril da bola e atirando-se para o chão com irritante frequência. Harder tenta muito, mas com pouca habilidade: alguém deve recomendar-lhe que não basta tratar a bola com força se não houver jeito. Trincão perdeu acutilância e atracção pelo golo: não funciona como segundo avançado. Esgaio, lamento dizê-lo, tornou-se uma caricatura de si próprio: bastaria avaliar o seu desempenho no golo que nos custou a derrota, com duas intervenções sucessivas falhadas apenas um minuto após substituir Fresneda, para concluir que não merece integrar o plantel leonino. Finalmente St. Juste voltou a ser St. Juste: após quatro jogos como central ao lado de Diomande, volta a rumar ao estaleiro. Lesionou-se sozinho, aos 27': é pelo menos a oitava lesão do género desde que chegou ao Sporting. Não passa disto.
Não gostei nada da escumalha anti-Sporting que se intitula "grupo organizado de adeptos" e serve apenas para lançar lama sobre o clube e acarretar-lhe prejuízos financeiros e reputacionais. Escumalha que se agrega sob as siglas "Juventude Leonina" e "Brigadas Ultra Sporting". Sempre letais ao Sporting, estes energúmenos ficaram confinados numa secção do estádio bem visível e claramente delimitada: não era possível confundi-los com mais ninguém. Mas nem quiseram saber: aos 56' desataram a lançar tochas e petardos e exibiram uma enorme tarja injuriosa para a UEFA, organizadora da Liga dos Campeões. Todos encapuzados, para evitarem ser identificados. Graças a eles, acabamos de sofrer nova sanção disciplinar decretada pela entidade organizadora da Champions: na próxima semana, o sector A14 ficará encerrado na recepção ao Bolonha. Estas claques já custaram mais de 300 mil euros em multas à SAD leonina: irão tentar o que for possível para que todo o Estádio José Alvalade fique interditado ao público. Merecem as mais implacáveis medidas punitivas: não pode haver qualquer tolerância perante estes actos terroristas, de lesa-desporto.