Tenho algum respeito intelectual por Miguel Sousa Tavares mas quando o tema é a análise futebolística parece possuído pelo espírito do Tó d' Leça.
Hoje, no Record, p. 2, lá diz que o título do Sporting é justo mas que "houve ajudas de início", quais? Não diz.
No entanto tal como o Tó refere que St. Juste devia ter sido expulso, deve ter sido por isso que o FC Porto não foi campeão.
Neste livro, pp. 696-715, MST é entrevistado por Avelino Rodrigues, dá uma interessante opinião sobre a objectividade jornalística e a ficção, é tudo uma questão de ambiente: "o que fui fazendo foi meter factos dentro do ambiente. Está carregado de factos e de informação que são diluídos no meio da ficção".
Com as crónicas no Record deve fazer o mesmo, alguns factos, poucos e muita ficção para dar ambiente.
Os jornais dão/vendem notícias diariamente. Há um que se chama Diário de Notícias.
No país dos três F, o Diário de Notícias decidiu ignorar o futebol. Decidiu ignorar a humilhação do clube fundado/fundido em 1908 às mãos ou melhor aos pés do Sporting Clube de Portugal.
Sporting Clube de Portugal 4, Sport Lisboa e Benfica 3, devia estar na primeira página do jornal, não estava.
"É opção editorial", dir-me-ão. As duas imagens acima demonstram o contrário. Às vezes têm genica para colocarem o futebol na capa.
O Diário de Notícias hoje decidiu dedicar parte da primeira página a Marlon Brando, sei lá quem é o Marlon Brando ainda se fosse o Marlon Brandão.
Passatempo: Quem são os jogadores da foto? Quantos brasileiros estão na foto? É de que época?
O jornalista encarregado de acompanhar o jogo Sporting-Marítimo, da Taça da Liga, "viu" Nuno Santos entrar em campo e até lhe atribuiu nota. Acontece que Nuno Santos esteve no banco e não calçou nesta partida. «Conferiu velocidade na ala», opinou o tal repórter, com argúcia visual digna de uma toupeira.
Ontem, no jornal A Bola:
O jornalista encarregado de acompanhar o mesmo jogo realçou que Rúben Amorim fez entrar Esgaio para o lugar de Porro, a poucos minutos do fim, com uma intenção muito precisa: para que o espanhol pudesse receber aplausos. Acontece que as bancadas estavam vazias, o jogo foi disputado à porta fechada. Só A Bola parece não ter topado.
Mais palavras para quê? Assim vai o jornalismo desportivo em Portugal.
O novo jornalismo, o jornalismo que aprendeu os substantivos colectivos com o bando do bosque e o bando do mar (pingo doce).
A primeira imagem é do Record de hoje, p. 13, a segunda foi obtida no sábado, FC Porto e Sporting defrontavam-se num "campo neutro", a terceira é o extracto de um poema de Fernando Assis Pacheco, jornalista e escritor, a sério.
(a emoção do título é minha, o Sporting a perder, o mundo a arder, há dias que correm mal, muito mal)
Bruno Paixão diz-nos que sempre foi um homem sem paixão, sem ilusão, sem demasiado conhecimento.
Sempre que entrava em campo, só sabia que ia apitar um jogo, o clube A (de aliciamento) contra o clube B.
Hoje, cada um de nós, também, toma uma posição, parece fácil dizer:
"Somos todos, Yaremchuk"
Somos?
Alguém perguntou aos cidadãos russos Robinho e Chishkala se renunciam à camisola da equipa A (de agressor) se estão solidários com o colega/camarada ucraniano?
Equipa A, contra equipa B, o jornalismo fofinho sentado na bancada, a assistir.
Esta é a altura de ser diferente, de ter coragem para perguntar o que ninguém pergunta.
- Robinho e Chishkala vão continuar a jogar na equipa A?
O jornal I saiu na passada sexta-feira e voltou a ser publicado hoje.
Considerando que tem duas páginas a falar de futebol, seria expectável que dedicasse umas linhas ao grande acontecimento desportivo do fim-de-semana em Portugal: A conquista da Taça da Liga.
Nem umas linhas, nem uma palavra sequer.
Se tivesse vencido o "clube certo" outra águia cantaria.
Durante um mês, o País andou entretido com um patético folhetim em torno de um jogador que prometia "dar brilho" ao campeonato português: o internacional uruguaio Edinson Cavani, que noutros tempos foi estrela dos relvados mas que agora, aos 33 anos, entrou na fase crepuscular da carreira, aliás reflectida nos números: na época passada, ainda ao serviço do PSG, participou apenas em 22 jogos, tendo marcado sete golos - tantos como o nosso Sporar em meia época de verde e branco.
Foram semanas de crescente descrédito dos órgão de comunicação social que deram estatuto de notícia ao rumor, tornando-se assim meros instrumentos - conscientes ou não - do aparelho benfiquista posto ao serviço da recandidatura de Luís Filipe Vieira. Acossado pela justiça, enfrentando o evidente descontentamento de uma parte significativa dos sócios, o presidente do SLB terá em Outubro a eleição mais complicada do seu longo consulado, iniciado em 2003. O instinto diz-lhe que necessita mais que nunca do "escudo protector" das funções que ainda desempenha para evitar problemas mais sérios nos tribunais.
É neste contexto que nasce a novela Cavani. Certos títulos jornalísticos, mandando às malvas o resto de credibilidade que lhes sobrava, fizeram deste não-assunto uma questão muito mais relevante do que a pandemia, infelizmente sem fim à vista. Capa após capa, manchete após manchete, abertura após abertura de "espaços de comentário" na televisão com opinadores travestidos de jornalistas sem possuírem título profissional para o efeito.
Deu jeito a Vieira, claro. Durante semanas ninguém falou na oposição benfiquista, feita a várias vozes: o uruguaio funcionou como trunfo eleitoral do antigo lugar-tenente de Pinto da Costa, único dirigente do futebol português que chegou a ser sócio em simultâneo dos três principais clubes. Até que Cavani decidiu cavar: deu à sola antes de chegar. Dando origem a situações caricatas, como aquela que aqui surge representada por duas capas do diário A Bola com apenas cinco dias de diferença.
Na primeira, a 17 de Agosto, gritava-se com incontido júbilo: «Cavani está a chegar.» O subtítulo tinha tons épicos: «Uruguaio deixou ontem Montevideu numa viagem que terminará na Luz.» Na segunda, a 22 de Agosto, a euforia dava lugar à decepção: «Cavani já não vem.» Só faltou o matutino da Queimada vir de luto, em vez de estar pintado com o habitual vermelho.
Todos os dias os jornais perdem credibilidade. Por vários motivos, mas sobretudo por este: cada vez menos gente os leva a sério.
O descrédito de uns acaba por contaminar os restantes, afectando até aqueles que evitam insultar a inteligência dos leitores, cada vez mais exigentes e capazes de separar o trigo do joio. Quem recusa pagar para consumir folhetins disfarçados de notícia faz muito bem.
«As vendas de jornais caíram, fenómeno agravado por uma pandemia que deixou milhares de habituais leitores em casa, e depois ainda existem os pilha-galinhas dos motores de busca e redes sociais, clippings e edições inteiras de jornais a circular via WhatsApp que não pagam nada a quem produz diariamente esses conteúdos.»
«É irresponsável o investimento de milhões em jogadores, quando a única receita segura, pois ninguém sabe quando o público volta às bancadas, provém das receitas televisivas - sendo que devia o exemplo de Abril e Maio do eventual cancelamento de pagamentos da MEO e da NOS pela paragem competitiva servir de aviso.»
«A indústria do futebol em Portugal está na obscuridade e na agonia de quem sabe que se está a consumir a última vela. Continua tudo cego.»
Excertos do artigo de opinião do Rui Calafate, hoje publicado no Record
Desde a sua fundação o jornal "A Bola" seguiu relativamente ligado ao Benfica. É pacífico dizer isso. Mas a tendência benfiquista, tanto por clubismo da maioria dos seus quadros como por opção comercial, em busca de maior aceitação popular, nem sempre foi de radical seguidismo à direcção daquele clube. Mas este seguidismo veio em crescendo nas últimas década. Hoje em dia é pungente. E ultrapassa a temática do clubismo, recai mesmo nas questões da democracia, seja a associativa desportiva seja mesmo a consideração do exercício democrático como molde do exercício da comunicação social.
O caso das ênfases noticiosas expressas no jornal de hoje é exemplar do estado a que chegou aquele jornal. Álvaro Cordeiro Dâmaso, presidente da mesa da Assembleia-Geral da SAD do clube, apresentou a sua demissão. Isto apenas três meses depois de Luís Nazaré, o presidente da mesa da Assembleia-Geral do clube, se ter demitido em ruptura com o presidente do clube. Para além desta sequência de demissões poderem indiciar algumas cisões no núcleo dirigente das instâncias do clube, uma tão importante demissão na SAD em momento coincidente com o anúncio de enormes investimentos no plantel futebolístico acontecidos em plena crise económica. Para mais, em breve acontecerão eleições no Benfica e já se alinham várias candidaturas.
Diante de tudo isto qual o relevo que o jornal "A Bola", lido maioritariamente por benfiquistas, dá a esta demissão no quadro da SAD? É ver esta primeira página de hoje, uma quase invisível nota no canto inferior esquerdo, numa capa dominada por meros rumores sobre contratações futebolísticas. Isto já nem é pungente, é mesmo a negação do jornalismo.
Na noite passada, após ter visto a sua equipa perder pela primeira vez desde sempre contra o Santa Clara no estádio da Luz com quatro golos sofridos, algo que não acontecia desde 1997, o treinador do Benfica procurou virar o foco da derrota para os jornalistas, usando palavras inaceitáveis. Por serem lesivas da honra e da consideração devidas aos profissionais da informação.
Para meu espanto, nenhum repórter ali presente contestou de imediato o conteúdo calunioso desta declaração. E nem um só abandonou a sala em protesto contra a grosseria do treinador, como se impunha. Passividade e resignação, comer e calar: eis um exemplo inequívoco de uma classe profissional incapaz de se dar ao respeito. E que não pode queixar-se, portanto, de ser tratada desta forma por um indivíduo que saltou do anonimato para a fama em poucos meses precisamente devido aos jornalistas que agora insulta só porque um jogo lhe correu mal.
O jornal Público chumbou, reprovou ou melhor ficou retido (para não ficarem traumatizados), na prova dos nove.
Aquilo que eu leio: "Benfica vence Rio Ave com nove" é (e agora vou fazer perguntas):
- Quem venceu?
Resposta: o Benfica
Com quantos?
Resposta: (o sujeito continua a ser o Benfica) com nove
A quem: ao Rio Ave
Há neste «blog» pessoas mais bem habilitadas (ou melhor habilitadas como dizem os políticos e os apresentadores de televisão) para darem lições de jornalismo.
No entanto, as coisas são simples; o "lead" deverá responder a quatro perguntas: o quê (o acontecido), quem, quando e onde. O "sub-lead" deverá responder a duas perguntas: como e por quê.
Simplificando, título: Lage fica a boiar após afogamento no Rio Ave, desenvolvimento ("lead" e "sub-lead"):
Ontem, o Benfica após ter estado a perder por 1-0 em Vila do Conde com o Rio Ave, salvou-se.
Melhor, salvaram-no, o VAR e Godinho, salvaram Lage dum afogamento eminente, com a primeira expulsão, o Benfica conseguiu o empate, ainda assim, o Rio Ave a jogar com dez jogadores esteve sempre mais perto de vencer o jogo. Os minutos passavam e a arbitragem teve de tomar medidas drásticas, expulsaram mais um.
Como diria Fernando Pessoa: "Luís Filipe Vieira quer, o padre sonha e a obra nasce".
Andam a celebrar a data dos 75 anos da fundação e o director quase vitalício do jornal até já verteu uma lágrima em editorial, revelando ter passado a condução efectiva do funcionamento do plantel jornalístico a outra pessoa, cujo nome ainda não vem impresso no cabeçalho.
A verdade, porém, é que o diário A Bola vive uma das suas piores fases de sempre. Muito longe dos dias de glória que conheceu nas décadas de 60, 70 e 80, quando integrava uma das melhores equipas redactoriais existentes no País. Lamento que isso ocorra com Vítor Serpa - um dos sobreviventes desse tempo - ainda ao leme nominal da publicação.
Esta degradação tornou-se bem visível em duas capas bem recentes.
A primeira, a 30 de Dezembro de 2019, quando A Bola garantia com letras garrafais, ao longo de quase toda a mancha gráfica da primeira página, que havia três jogadores prestes a ser excluídos do plantel leonino, claramente desvalorizados. Razão? «SAD do Sporting forçada a rever em baixa preços de alguns dos principais activos.»
E lá vinham os nomes com os respectivos preços, sob o lamentável título genérico "Saldos de Inverno": Coates por 7,5 milhões de euros, Acuña por 12,5 milhões e Wendel por 20 milhões. Justificação para tais "saldos": «Problemas financeiros obrigam administração a rever estratégia para o mercado».
Era mentira, claro. Como os factos vieram a demonstrar. Mas foi quanto bastou para muitos adeptos do Sporting replicarem a "notícia", atribuindo-lhe uma credibilidade que nunca teve.
Há dias, a 7 de Fevereiro de 2020, surgiu nas bancas outra capa do referido jornal com idêntica credibilidade: nenhuma.
O mesmo destaque gráfico, a mesma atenção ao Sporting pela negativa, o mesmo grau de veracidade: zero.
A manchete pretendia ter precisão aritmética: «3 Sim, 2 Não». Garantindo aos incautos leitores: «Continuidade de Frederico Varandas à frente dos leões em perigo.» Porquê? «Maioria dos membros da MAG aceita realização da AG destituitiva.»
Ontem o país desportivo ficou a distinguir o boato da realidade: decisão unânime da Mesa da Assembleia Geral leonina contra uma reunião magna destinada a destituir os órgãos sociais. A Bola demonstrou estar mal informada. E chumbou a matemática.
Apesar disso, novamente muitos adeptos atribuíram validade à pseudo-informação, replicando-a nas redes sociais. Como se não fosse mercadoria adulterada.
O periódico da Queimada vai eclipsando assim, manchete a manchete, o pouco que ainda resta do prestígio acumulado noutras eras. Longe do brilho de outrora, dando passos cada vez mais largos a caminho da decadência que ameaça tornar-se irreversível.
Raramente se percebe tão bem quão maníaco está o estado do jornalismo desportivo e do seu público, em esmagadora maioria adeptos dos três grandes clubes desportivos. Já nem é perverso, é mesmo doentio.
Escuto a todo o momento vozes críticas de adeptos do Sporting contestando tudo e todos. No jornalismo desportivo e na tribo dos comentadores, designadamente.
Hoje apetece-me virar isto ao contrário e por uma vez abrir aqui um espaço de elogio a quem faz comentários - nos jornais, na rádio e na televisão - reflectindo sobre o futebol em geral e o Sporting em particular.
É um repto que lanço aos leitores e também aos meus silenciosos colegas de blogue: que comentadores mais gostam de ler ou de escutar no espaço mediático português?
Eu tenho as minhas preferências mas não vou dizê-las já para não condicionar o debate. Inaugurado a partir de agora.
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