Não sei se amanhã haverá capas de jornais a reportar o nosso desempenho frente à Atalanta mas a verdade é que Portugal é um país raro quanto ao jornalismo sobre desporto. Com dificuldades agora muito visíveis, conta ainda com três jornais diários sobre desporto e sobre futebol em particular. Mas o negócio corre mal, enfrenta um lento mas aparentemente inexorável definhamento com as dificuldades em trocar as receitas em papel por outras fontes que permitam manter um negócio sustentável. Tuo isto é sabido e é também sabido que os leitores têm um papel decisivo mas que muitos preferem desvalorizar.
Não tenho soluções miraculosas para resolver o problema mas sei que todo o trabalho deve ser valorizado e recompensando, seja o dos investidores em capital, seja o dos jornalistas.
Num dia em que se realiza uma greve geral dos jornalistas - creio que a anterior tinha sido em 1982 - deixo a nota de que ao longos dos últimos anos fui sentindo a responsabilidade pessoal de assinar jornais. Talvez por defeito de formação, quanto mais jornais gratuitos recebia no telemóvel, sem mexer uma palha, mais me recordava de que isto não é sustentável.
Por isso, fui selecionando criteriosamente os jornais que me ofereciam melhor qualidade, diversidade e relação para ir investindo neles um pouco do que me custa a ganhar. Hoje assino alguns e se puder continuarei a fazê-lo. Infelizmente não estou a ver bem como posso ajudar as rádios da minha preferência (além de pagar a taxa que financia o grupo público de informação, naturalmente).
Mas para já deixo esta sugestão: assine um jornal, pelo menos um. Se que cada um dos que lê diariamente ou semanalmente jornais e revistas subscrever pelo menos um, isso fará toda a diferença.
Uma capa de uma só côr, monotemática, sobre um assunto de rodapé.
Isto no dia em que os Lobos, a selecção nacional de rugby, disputam o jogo da sua vida no mundial; ao fim de uma semana de participação portuguesa em competições europeias de futebol; no início de um fim de semana com eventos desportivos importantes em variadas modalidades.
Andam a gemer que a imprensa desportiva está em crise, vende quase nada, a culpa é dos outros média que afastam os eleitores. Cortina de fumo para não ir ao nervo da questão: em crise, ou melhor em fase de decadência terminal, está o jornalismo desportivo.
Isto já foi um jornal razoável, hoje pede meças aos panfletos de supermercado. Não faz falta nenhuma.
Há uma velha anedota segundo a qual a definição de "fonte" (de informação) é alguém que esteve na reunião e quer lixar o fulano que se sentou no topo da mesa. Doutro modo estaria de bico calado.
Já se percebeu que na verdade os clubes não compram jogadores, apenas os alugam aos agentes. É pois do interesse deles que os rapazes circulem o mais possível para abicharem a percentagem das transações. São, portanto, eles a famigerada "fonte" que emprenha de ouvido os escribas dos pasquins, de cuzinho muito apertado com a tradicional míngua de assunto durante o defeso.
Todo este frenesim do diz-que-disse do compra-e-vende de "activos" mobiliários (que o economês sempre dá outra seriedade) sendo entediante, não é menos deletério.
O adepto de miolo-mole, por norma impressionável e concomitantemente irascível, treme de nervos com a expectativa de saber quem sai, certo de que nunca é a bom preço. Se não lembra a ninguém ir para a porta da Sonae assobiar e bramar com a descida do valor das acções, e uns tantos dá-lhes a raivinha para no estádio se porém a assobiar a equipa e fazer mau ambiente. O qual, como se sabe, é horrivelmente contagioso.
Ora eu, que não faço a mínima ideia de como se negoceiam jogadores, nem depois de ter visto "Moneyball" e "Trouble with the curve", quero lá saber quem sai do Sporting e por quanto. Já aprendi a não me preocupar com assuntos para os quais nem me convidam a dar opinião nem estou habilitado a aliviar-me dela. Quero, isso sim, é saber quem entra. E no fim logo se verá se a coisa melhorou ou não. Até lá é gozar os jogos, que para mais nenhuma outra coisa é que lá vou.
É com tristeza que escrevo sobre este assunto, Pedro Correia, jpt e Cal já dissecaram, bem dissecadinho, o tema.
O postal de jpt é, especialmente, rico, faz um enquadramento do tema, fugindo à lógica do jogo de matraquilhos, dum lado está o Benfica do outro o Sporting, faz-nos pensar de uma forma mais abrangente nas leis e nos regulamentos. Nesse postal, jpt, alude, também às conquistas de Leonardo Jardim e de Abel.
A "Libertadores" conquistada por Jesus fez o pleno nos desportivos, parecia que um português tinha sido o primeiro a colocar o pé em Marte.
Abel, ontem, conquistou a segunda "Libertadores" consecutiva, de verde e branco vestido e parece que não se passou nada, é, apenas, uma pequena nota de rodapé.
Quanto ao acontecido ontem no Jamor, atentemos ao seguinte, Seferovic, Darwin e outros marcaram golos que serão somados e entrarão num total do qual se apurará o melhor marcador do campeonato, fará sentido?
Lembremos a choraminguice de Jesus na época passada, Seferovic é que merecia ser o melhor marcador, felizmente, para a verdade desportiva, o melhor marcador foi Pedro Gonçalves (na imagem acima a levitar acima dos meros humanos que se arrastam no relvado) e este ano como será?
Se o Benfica estiver de boa fé (como eu acredito que não está) pedirá para os golos obtidos no jogo de ontem não entrarem na contabilização final.
(não havia necessidade da mensagem nas entrelinhas, na primeira página do Record, "Reco" [procurar o significado no dicionário Priberam] com uma foto de um senhor contratado e com o "presidente" do Benfica, dos dois quem será o Reco? Reitero, mau gosto jornalístico, a minha solidariedade para o visado ou visados)
A página "Mentalidade Leonina" chama a atenção para a dualidade de critérios na capa do "Dia seguinte" d'A Bola.
Por acaso, até acho que estas capas estão adequadas e retratam muito bem a realidade.
Vejamos:
1. 15 de maio de 2018 foi efectivamente o dia mais negro da história do Sporting. Nunca nada semelhante se tinha verificado e nenhum Sportinguista quer ou admite a hipótese de algo tão negro voltar a ocorrer.
2. No outro lado da segunda circular está tudo tranquilo, preferem jogar rapidamente o lixo para debaixo do tapete e até aplaudem o novo gestor que, como diz Ricardo Araújo Pereira, faz parte da direcção que acompanhou LFV e logo, "há as hipóteses de [ser] cúmplice, conivente e a menos grave: a de totó".
Eu prefiro encarar a verdade. Foi mau, foi horrível, foi o dia mais negro e desejei muito que a justiça actuasse e fosse célere para podermos recomeçar. Jamais perdoarei o que fizeram ao Sporting.
Se do outro lado assobiam para o lado e batem palmas ao líder cumplice/conivente/totó, é lá com eles. Amanhem-se e boa sorte.
Por doentia curiosidade fui espreitar na net e à borla o que dizem as folhas de couve sobre a vitória do Sporting contra o Vitória.
O Record destaca a afirmação de Rúben Amorim sobre a sua continuidade no Sporting, ou seja usa a ironia e a especulação a ver se cria um caso. A bola realça o pormenor da sua recordação da derrota contra o Lask, como quem quer dizer que o Sporting tem pés de barro.
Está bem, abelha... É que nem vale a pena ter mais conversa acerca destas porcarias; que abram falência e depressa, é o que mais lhes desejo.
Durante um mês, o País andou entretido com um patético folhetim em torno de um jogador que prometia "dar brilho" ao campeonato português: o internacional uruguaio Edinson Cavani, que noutros tempos foi estrela dos relvados mas que agora, aos 33 anos, entrou na fase crepuscular da carreira, aliás reflectida nos números: na época passada, ainda ao serviço do PSG, participou apenas em 22 jogos, tendo marcado sete golos - tantos como o nosso Sporar em meia época de verde e branco.
Foram semanas de crescente descrédito dos órgão de comunicação social que deram estatuto de notícia ao rumor, tornando-se assim meros instrumentos - conscientes ou não - do aparelho benfiquista posto ao serviço da recandidatura de Luís Filipe Vieira. Acossado pela justiça, enfrentando o evidente descontentamento de uma parte significativa dos sócios, o presidente do SLB terá em Outubro a eleição mais complicada do seu longo consulado, iniciado em 2003. O instinto diz-lhe que necessita mais que nunca do "escudo protector" das funções que ainda desempenha para evitar problemas mais sérios nos tribunais.
É neste contexto que nasce a novela Cavani. Certos títulos jornalísticos, mandando às malvas o resto de credibilidade que lhes sobrava, fizeram deste não-assunto uma questão muito mais relevante do que a pandemia, infelizmente sem fim à vista. Capa após capa, manchete após manchete, abertura após abertura de "espaços de comentário" na televisão com opinadores travestidos de jornalistas sem possuírem título profissional para o efeito.
Deu jeito a Vieira, claro. Durante semanas ninguém falou na oposição benfiquista, feita a várias vozes: o uruguaio funcionou como trunfo eleitoral do antigo lugar-tenente de Pinto da Costa, único dirigente do futebol português que chegou a ser sócio em simultâneo dos três principais clubes. Até que Cavani decidiu cavar: deu à sola antes de chegar. Dando origem a situações caricatas, como aquela que aqui surge representada por duas capas do diário A Bola com apenas cinco dias de diferença.
Na primeira, a 17 de Agosto, gritava-se com incontido júbilo: «Cavani está a chegar.» O subtítulo tinha tons épicos: «Uruguaio deixou ontem Montevideu numa viagem que terminará na Luz.» Na segunda, a 22 de Agosto, a euforia dava lugar à decepção: «Cavani já não vem.» Só faltou o matutino da Queimada vir de luto, em vez de estar pintado com o habitual vermelho.
Todos os dias os jornais perdem credibilidade. Por vários motivos, mas sobretudo por este: cada vez menos gente os leva a sério.
O descrédito de uns acaba por contaminar os restantes, afectando até aqueles que evitam insultar a inteligência dos leitores, cada vez mais exigentes e capazes de separar o trigo do joio. Quem recusa pagar para consumir folhetins disfarçados de notícia faz muito bem.
«As vendas de jornais caíram, fenómeno agravado por uma pandemia que deixou milhares de habituais leitores em casa, e depois ainda existem os pilha-galinhas dos motores de busca e redes sociais, clippings e edições inteiras de jornais a circular via WhatsApp que não pagam nada a quem produz diariamente esses conteúdos.»
«É irresponsável o investimento de milhões em jogadores, quando a única receita segura, pois ninguém sabe quando o público volta às bancadas, provém das receitas televisivas - sendo que devia o exemplo de Abril e Maio do eventual cancelamento de pagamentos da MEO e da NOS pela paragem competitiva servir de aviso.»
«A indústria do futebol em Portugal está na obscuridade e na agonia de quem sabe que se está a consumir a última vela. Continua tudo cego.»
Excertos do artigo de opinião do Rui Calafate, hoje publicado no Record
Há épocas recorrentes nos órgãos de comunicação social. Há a "época dos fogos", a época balnear, a época dos "surtos de gripe", a época dos assaltos (esta, em regra, coincidente com o defeso futebolístico, que instala um súbito vazio em várias redacções).
Existe também, sobretudo na imprensa desportiva, a época do "surto de dívidas". Os mais incautos e distraídos poderão supor que se trata de algo inédito, nunca ocorrido antes, absolutamente em estreia, e que só envolve o Sporting. Como se todos os clubes não devessem a outros clubes quantias de maior ou menor dimensão neste mercado sempre flutuante das movimentações de jogadores, com ou sem crise pandémica.
É tempo de sossegar tão boas almas. Os "surtos de dívidas" estampados nas manchetes dos jornais funcionam à semelhança das "vagas de assaltos" destinadas a preencher vazios informativos: são cíclicos, recorrentes e motivados por indignações muito selectivas. Hoje visam esta administração da SAD leonina, mas já visaram gerências anteriores.
Seguem-se alguns exemplos, enumerados sem grande esforço de memória.
Escuto a todo o momento vozes críticas de adeptos do Sporting contestando tudo e todos. No jornalismo desportivo e na tribo dos comentadores, designadamente.
Hoje apetece-me virar isto ao contrário e por uma vez abrir aqui um espaço de elogio a quem faz comentários - nos jornais, na rádio e na televisão - reflectindo sobre o futebol em geral e o Sporting em particular.
É um repto que lanço aos leitores e também aos meus silenciosos colegas de blogue: que comentadores mais gostam de ler ou de escutar no espaço mediático português?
Eu tenho as minhas preferências mas não vou dizê-las já para não condicionar o debate. Inaugurado a partir de agora.