"Este homem aqui presente, com o pretexto de irmos a Algés, levou-me à auto-estrada, parou o carro à porta do Estádio Nacional, abriu a berguilha e meteu-mo na boca (...) depois, voltou-me de costas, tirou-me as cuecas e meteu-me por detrás, causando-me uma grande dor. Depois voltou a dar-me a volta e... desonrou-me, desonrou-me! Que vergonha, que vergonha!"
"Vamos fala agora (...) continuas a negar que a violaste?"
"Como se pode acreditar em semelhante versão? Nem um grito, nem uma peça de vestuário rota, nem uma tentativa de fuga, ou pedido de auxílio (...)"
Não vou continuar o relato.
Aconteceu no dia 6 de Outubro de 1961, não é preciso muito para destruir a vida dum ser humano, às vezes, muitas vezes, basta uma armadilha bem montada.
Nasceu no dia 18 de Janeiro de 1932, dezasseis anos depois já defendia a baliza do Barreirense e cerca de um ano depois seria campeão pelo Sporting. Nas palavras do próprio: " depois dum ano de dura aprendizagem (...) fui subindo e, no fim da época, já joguei quatro desafios (...). O Sporting foi campeão nacional e eu, com dezassete anos, também."
Carlos António do Carmo Costa Gomes, Carlos Gomes, mais que um jogador de futebol, um homem inconformado, para usarmos as palavras de outro guarda-redes: L'homme révolté.
Ontem, envolvi-me numa discussão, em que se debatia o excelente golo de Monteiro, assim mesmo, Monteiro.
Entrei na conversa (e não era nada comigo) dizendo: "Este chama-se Montero, Monteiro foi outro, o que nos ajudou a conquistar a Taça das Taças."
Estava lançada a confusão.
Ninguém, entre os presentes, se lembrava de um jogador chamado Monteiro. Como a História é feita de memórias, rememoro Monteiro, José Monteiro, com palavras de Manuel Pedro Gomes:
Monteiro, Alexandre Baptista e eu, iniciámo-nos juntos nos principiantes. Como eu gostava de vê-lo jogar. Na estreia contra o Benfica jogávamos os três como avançados. O resultado foi 5-1 e todos nós marcámos golos.
Lembro-me do Monteiro, um tecnicista com uma grande visão de jogo. Os seus pés de veludo acariciavam a bola, enviavam-na aos colegas em passes milimétricos, e colocavam-na dentro da baliza e no ângulo por ele idealizado.
Monteiro era elegante, rápido como uma gazela, eu admirava os slalons que ele fazia por entre vários adversários. Numa palavra, o seu jogo era excepcional.
Monteiro, como tantos jovens da sua idade foi mobilizado para a guerra em África, alferes miliciano, foi a norte de Luanda, no mato, que continuou a acompanhar o Sporting, o nosso Sporting, foi no mato que se soube vencedor da Taça das Taças, terminamos com palavras do próprio:
Passei a ter de ouvir os relatos no mato, a norte de Luanda, onde estávamos, isolados. Foi assim até à final, o rádio encostado ao ouvido, o coração a bater forte...
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