«João Simões estava a ganhar o seu espaço e consistência na forma de jogar, revelando-se de forma talvez inesperada para muitos. Foi pena a lesão que vai interromper esse crescimento que estava a ser conquistado apenas pelo seu trabalho em campo.»
Exibição competente qb do Sporting hoje em Alvalade, sabendo gerir o jogo no ritmo mais indicado para camuflar a falta de alguns titulares e a nítida má forma de outros, e dando palco a um quarteto de jovens de sangue na guelra com imenso potencial. E foram estes - Fresneda, Diomande, Quenda e João Simões - que desbloquearam o jogo, marcaram e deram a marcar.
O campeonato ganha-se com exibições assim, de controlo do jogo, de ganhar sem arriscar perder, evitando o desgaste e a quebra física no final dos jogos.
Do 3-4-3 de Amorim para o 4-4-2 de Rui Borges mudaram alguns posicionamentos mas não mudaram alguns princípios de jogo, o controlo através da posse e da circulação de bola a toda a largura do campo, a variabilidade das zonas de ataque, o lançamento em profundidade do ponta de lança em zonas laterais. Com isso o resultado é semelhante, o jogo ganha-se sem o nosso guarda-redes fazer uma defesa digna desse nome. Hoje aconteceu o golo contrário, um bom cruzamento que deu golo, por mérito contrário e porque Inácio não respeitou a linha dada por Diomande. Rui Silva nada podia fazer.
Fresneda marcou o golo inicial a cruzamento tenso de Harder. Não era preciso ser bruxo de Fafe para prever que isso iria acontecer, por pouco não tinha acontecido já em dois jogos anteriores porque ele repete o movimento interior que o coloca em boas condições para marcar. Diomande marcou o segundo num bom golpe de cabeça no seguimento dum canto. Harder o terceiro num bom cruzamento de Matheus Reis. Pelo meio meia-dúzia de defesas de Ricardo Velho e remates a sair a rasar o poste.
João Simões começa a encher-me as medidas. Está ali um médio todo-o-terreno do melhor que já tivemos, não falha um passe, tem mudanças de velocidade que desequilibram a defesa contrária, vai à linha de fundo, remata de fora da área, tudo isso aos 18 anos. Mais fresco do que Quenda, também ele um pouco desgastado.
Hjulmand está um patrão, joga e faz jogar. Mal mesmo esteve Trincão, a perder muitas bolas em zonas centrais e portanto perigosas para o contra-ataque adversário. Maxi e Inácio também longe do que podem fazer. Catamo complicativo e desta vez infeliz, vamos lá ver que lesão tem. Bragança começou bem mas depressa descarrilou, está sem capacidade física para fazer o que pensa.
Melhor em campo? Harder, o mini-Gyökeres, o suplente perfeito. A verdade é que os dez colegas em campo não notam muito a diferença, porque as movimentações são semelhantes.
Arbitragem? Fraquinha marca APAF: Vai gerindo o que marca e o que não marca, não interessa se são faltas ou não, ninguém percebe mas isso pouco interessa. Os fiscais de linha também não ajudam. Pelo menos não inventou penáltis.
E agora? Ganhar no Dragão, mas com o Eustáquio a central vai ser muito complicado. Pelo menos o Galeno não vai cavar penáltis e expulsões, o que já não é mau.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Bolonha, para a Liga dos Campeões, por quatro diários desportivos:
João Simões: 25
Diomande: 24
Harder: 23
Morten: 22
Quenda: 21
Gonçalo Inácio: 21
Israel: 21
Maxi Araújo: 21
Daniel Bragança: 19
Debast: 18
Trincão: 18
Fresneda: 17
Geny: 17
Matheus Reis: 6
O ZeroZero e O Jogo elegeram João Simões como melhor leão em campo. O Record e A Bola destacaram Harder.
Gostei muito de ver o Sporting passar à fase seguinte da Liga dos Campeões. Com onze pontos (dez dos quais conquistados ainda com Ruben Amorim ao comando da equipa). Faltava-nos o que na noite passada conseguimos: bastou-nos empatar em casa com o Bolonha. A equipa italiana fica pelo caminho, sem acesso ao play off dos oitavos, enquanto nós seguimos em frente. Tal como o nosso adversário de ontem, também Estugarda, Leipzig, Young Boys, Sparta Braga, Salzburgo, Sturm Graz e Estrela Vermelha, entre outros, ficaram por aqui.
Gostei do golo que nos qualificou para o play off. Bela jogada de futebol colectivo toda conduzida pelo lado esquerdo - de longe o melhor da nossa equipa nesta partida. Começou numa recuperação de Diomande, prosseguiu com Morten a dar a melhor sequência para rápida tabelinha entre Maxi Araújo e João Simões, que tocou para Quenda. O benjamim da equipa (17 anos) segurou-a bem, temporizou e aguardou a desmarcação do jovem médio até à linha de fundo para largar a bola com precisão cirúrgica. Simões (18 anos), para mim o melhor em campo, centrou recuado para a boca da área, como mandam as regras. Para ali já se tinha encaminhado Harder (19 anos), que deu conta do recado, empurrando-a para o fundo das redes. Aconteceu aos 77': bastou para o 1-1 final. E para a SAD leonina embolsar mais 5,47 milhões de euros - pelo empate (700 mil euros), pela qualificação (um milhão) e pelo 23.º lugar (3,77 milhões), só um abaixo do poderoso Manchester City. Total até agora nesta campanha europeia do Sporting 2024/2025: 51,849 milhões de euros. É obra.
Gostei pouco da nossa primeira parte, em que sofremos um golo na sequência de um canto, aos 21', e já tínhamos visto a bola embater na barra em lance muito semelhante, logo aos 4'. Sobretudo nessa fase notou-se uma das fragilidades desta equipa: Fresneda é esforçado, mas continua com desempenho abaixo das exigências de um Sporting que se mantém em várias frentes futebolísticas. Geny também teve actuação insuficiente: perdeu quase todos os duelos e continua a passar demasiado tempo no chão. Inversamente, Diomande vem-se impondo como pilar defensivo e o capitão Morten, mesmo fatigado, parece encontrar sempre um suplemento de energia: é um dos nossos imprescindíveis. Infelizmente, por acumulação de amarelos, não contaremos com ele na próxima jornada da Liga milionária.
Não gostei de ver o Sporting desfalcado de tantos titulares. Além de Nuno Santos e Pedro Gonçalves, afastados há largas semanas, também não pudemos contar com os lesionados Gyökeres (o que fez muita diferença), Morita e Eduardo Quaresma. Todos influentes, cada qual à sua maneira. Tal como St. Juste, que veio igualmente de lesão e ontem não saiu do banco. Sem esquecer o guarda-redes titular, Rui Silva, que se mantém indisponível nas competições europeias por não estar inscrito na UEFA pelo Sporting. Ontem foi a vez de Debast, forçado a abandonar o campo aos 50', mal podendo caminhar: resta ver quanto tempo estará fora. Nunca me lembro de tanta gente lesionada em simultâneo na nossa equipa.
Não gostei nada da escumalha anti-Sporting que voltou a atacar, oculta sob a sigla "Juventude Leonina". Assumem-se como implacáveis inimigos internos, fazendo tudo para lesar e manchar a imagem do Clube. Ontem, nos minutos iniciais, voltaram a rebentar petardos e a desfraldar uma enorme tarja ofensiva para a UEFA, além de assobiarem o hino da Champions. Por vontade deles, estávamos excluídos da Liga milionária. Por vontade deles, continuaremos a sofrer multas sem parar, como se os 300 mil euros que já fomos forçados a pagar como castigo imposto pela entidade europeia do futebol lhes parecessem pouco. Ninguém tenha ilusões: eles continuarão a fazer tudo para prejudicar o Clube, não pouparão esforços na tentativa de sabotar a conquista do bicampeonato. Fiéis ao lema que os mobiliza há vários anos: Letais ao Sporting.
Frente a uma equipa italiana forte, dura e muito chata naquele homem-a-homem a todo o terreno, sem problemas em fazer faltas para amarelo dado que não vai continuar na prova, muito competente nos pontapés de canto, o Sporting teve muitas dificuldades em assentar o jogo e criar perigo de forma continuada.
A equipa voltou a entrar muito bem no jogo, num 4-2-3-1 com duplo pivot Hjulmand-Debast e Bragança solto atrás de Harder, conseguia ter bola no meio-campo e acelerar a partir daí por Catamo ou Bragança solicitando Harder na profundidade e criando ocasiões de remate. Mas veio um canto a favor do Bolonha e uma bola na trave, veio outro e uma bola lá dentro, a equipa acusou o toque e perdeu-se um pouco na segunda metade da primeira parte.
Veio a segunda parte e logo o choque que deu a lesão de Debast. Entrou João Simões, pouco depois Quenda, voltou o 4--2-4 com o adiantamento de Trincão, e o jogo tornou-se muito mais aberto, com ocasiões para ambos os lados. O Bolonha teve algumas mais pela ala Fresneda-Catamo, muito por culpa da "falta de pilhas" do moçambicano. O Sporting pelo outro lado, pelo trio maravilha (raça, entrega, talento, velocidade) Maxi-João Simões-Quenda. E foi por aí que surgiu o golo do empate numa bela jogada João Simões-Quenda finalizada muito bem por Harder.
Com o resultado finalmente favorável, a equipa soube gerir o jogo muito bem, fazendo circular a bola, continuando a pressionar alto, não permitindo ao Bolonha dominar o jogo e ter oportunidades.
Assim fomos apurados para a fase seguinte. Vamos encontrar um adversário familiar, espero que seja o Borussia Dortmund para poder voltar ao Iduna Park e à cerveja do "fan-zone". Mais Atalanta não, sff. Já chega.
E conseguimos isso sem os dois melhores jogadores do plantel: Gyökeres e Pote, nem Morita, com talvez a equipa mais jovem do Sporting de sempre na Champions ou mesmo na Liga Europa. Média de idades: 22,5 anos.
Uma equipa muito jovem, com tremendo potencial de crescimento. E no banco estavam vários colegas do João Simões e do Quenda, como o Eduardo Felícissimo que um dia destes estará ali a fazer o papel que o Debast fez hoje. O futuro do Sporting está assegurado.
Melhor em campo? João Simões. Foi ele que desbloqueou o jogo.
Israel fez uma belíssima defesa, Diomande esteve imperial como de costume (oxalá não haja Ramadão este ano). Fresneda melhora de jogo para jogo e ontem mais uma vez esteve perto de marcar. Inácio muito seguro. Hjulmand um senhor no meio-campo bem complementado por Debast. Harder aprendeu muito vendo jogar Gyökeres. Do trio maravilha já falei. Catamo começou bem, mas cedo encostou.
Arbitragem? Impecável, mantendo um julgamento uniforme, permitindo o contacto mas sabendo penalizar entradas por trás e faltas tácticas.
E agora? Descansar, recuperar e ganhar ao Farense.
Missão cumprida: em noite muito chuvosa no nosso estádio, recebemos o Bolonha e empatámos (1-1). A equipa italiana cai fora, nós seguimos em frente na Liga dos Campeões.
Mesmo sem Gyökeres nem Morita, titulares absolutos. Mesmo com mais um lesionado - desta vez Debast, forçado a abandonar a partida aos 62'.
Rui Borges leu bem o jogo, em que perdíamos ao intervalo. Do banco saíram dois dos três jogadores que fizeram a diferença, construindo o empate: Quenda e João Simões. O terceiro - e decisivo - foi Harder, que a meteu lá dentro aos 77'. Em carambola, às três pancadas, mas a nota artística pouco interessa.
O importante é que entrou.
Mais um obstáculo ultrapassado.
Ficámos em 23.º lugar, logo abaixo do poderoso Manchester City.
Iremos agora defrontar Atalanta ou Borussia Dortmund no play off de acesso à próxima etapa da prova milionária.
Confiamos nos jogadores e na equipa técnica? Claro que sim.
Momento do jogo, aos 45'+1: Gyökeres assistiu, Trincão marcou. Alvalade em peso aplaudiu
Foto: José Sena Goulão / Lusa
Cada um joga com as armas que tem ao dispor. Não posso, por isso, criticar a postura ultra-defensiva que o Nacional adoptou em Alvalade, na visita que nos fez anteontem à noite. O treinador organizou a equipa num 5-4-1 com dupla muralha numa extensão máxima de 30 metros. Sem a menor preocupação em abrir linhas ou arriscar um contra-ataque. Durante toda a primeira parte, nem uma só incursão da turma madeirense fora do seu reduto. Na segunda, tentaram uma vez incomodar Rui Silva, sem o conseguir.
Nem parecia a mesma equipa que duas semanas antes tinha vencido o FC Porto, categoricamente, por 2-0 na Choupana. É verdade que este FCP é inferior ao Sporting, mas a diferença de atitude dos jogadores do Nacional não podia ter sido mais acentuada - o receio de saírem com derrota por goleada sobrepôs-se neles à capacidade de darem luta. Nesse aspecto, conseguiram: só sofreram dois golos, sem marcarem nenhum.
Caso para dizer que se contentam com pouco.
Da nossa parte, o desafio era outro: como ultrapassar aquela muralha. Tentámos de várias formas. Incursões entre linhas, que esbarraram em florestas de pernas. Cruzamentos a pingar para a área, que deram em nada. Lances de bola parada, mas nem cantos nem livres incomodaram os da Madeira.
Estava escrito que o dique acabaria por rebentar à bomba.
Foi precisamente o que aconteceu. Tínhamos acabado de entrar no minuto inicial do tempo extra da primeira parte - o árbitro concedeu quatro - quando Trincão, servido por Viktor, conseguiu aquilo que tão bem sabe fazer em noites de verdadeira inspiração. Pegou na bola junto à linha direita, inflectiu para dentro e disparou a mais de 30 metros com colocação perfeita: remate em arco, fazendo-a anichar no ângulo mais distante do guarda-redes.
Obra-prima: é daqueles golos que não nos fartamos de rever. Já está a ser exibido um pouco por toda a Europa, reforçando a fama do Sporting além-fronteiras.
Momento mágico em noite de futebol tépido, mas onde se cumpriu o essencial: mantivemos o controlo das operações do primeiro ao último minuto, não nos desorganizámos, tivemos a paciência suficiente para manter a bola no meio-campo adversário.
Nunca o Nacional esteve perto de marcar.
Faltava-nos apenas criar uma oportunidade para ampliar a vantagem, evitando a vitória por golo solitário quando já no estádio se escutavam alguns assobios dos imbecis do costume.
E essa oportunidade acabou por surgir. No último minuto do tempo regulamentar. Com Geny a progredir junto à linha direita e a cruzar para a área. Houve um ressalto e a bola sobrou para João Simões, que com instinto felino a apanhou a jeito do seu pé esquerdo, dando-lhe o melhor rumo, em diagonal rasteira, longe do alcance do guardião nacionalista.
Foi o segundo e último momento mágico da noite, este estrelato do jovem médio algarvio, que aos 18 anos se estreou como artilheiro da equipa principal depois de se ter destacado nos escalões da formação. Com lágrimas de alegria a escorrerem-lhe pelo rosto, correu cerca de 50 metros e foi festejar o disparo bem-sucedido junto dos apanha-bolas: bonita maneira de celebrar o golo entre gente muito cá da nossa casa.
Futebol não é só técnica nem táctica. É também isto: festa intensa com emoções à solta, partilha de momentos inesquecíveis.
João Simões nunca esquecerá este Sporting-Nacional. A alegria dele contagiou-nos a todos: tornou-se um pouco nossa também. Ficamos a dever-lhe isso. Enquanto celebramos também o reforço da liderança: estamos seis pontos à frente do Benfica e outros seis à frente do FC Porto. Quinze jornadas nos separam da conquista máxima. Falta cada vez menos.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (5) - Segundo jogo seguido da Liga a titular, segundo jogo sem necessidade de cumprir serviços mínimos. Por inoperância total dos adversários. Antes assim.
Fresneda (4) - Demasiado ansioso, com mais vontade do que jeito para mostrar serviço. A sua inoperância é mais visível na manobra ofensiva: nem dribla nem cruza.
Diomande (7) - Patrão da defesa. Impõe-se no jogo aéreo e na antecipação, cortando linhas de passe. Com tanta maturidade táctica nem parece ter apenas 21 anos.
Gonçalo Inácio (6) - Regressado de lesão sem ter sequelas aparentes, compõe eficaz duo defensivo com Diomande. Falta-lhe recuperar a veia goleadora.
Maxi Araújo (5) - Muito voluntarioso e participativo no corredor esquerdo, teve exibição oscilante. Precisa de aprender a libertar mais cedo a bola para ser útil.
Trincão (8) - Golaço aos 45'+1: foi ele a romper a muralha. Repetindo o que fizera no quarto golo ao Vitória. Este valeu-nos três pontos. Melhor em campo.
Morten (8) - O rei dos desarmes e das recuperações: assim foi aos 6', 17', 22', 45'+3 e 51'. Infatigável, parece estar sempre em todo o lado. Imprescindível.
Morita (6). Forte na pressão e no ataque às segundas bolas. Eficaz a arrastar marcações. Saiu aos 68', com queixas musculares. Outra lesão à vista.
Quenda (6)- Um dos criativos do onze leonino, desta vez não conseguiu ser abre-latas. Mas foi tentando. Falta-lhe melhorar no capítulo da definição.
Daniel Bragança (5). Começou como segundo avançado, logo atrás de Gyökeres, mas desta vez com pouca influência. Saiu à hora de jogo.
Gyökeres (7)- Assistiu no golo de Trincão. Quase marcou num remate cruzado (45'+3). Saiu apenas aos 89': quase não chegou a ser poupado.
Geny (6) - Substituiu Daniel Bragança aos 60'. Mais acutilante do que o colega, foi ele a construir o segundo golo: João Simões agradeceu.
Debast (4) - Substituiu Morita aos 68'. Exibição modesta. É duvidoso que seja mais útil à equipa como médio-centro improvisado.
João Simões (6) - Jogo de sonho para ele: entrou aos 89', rendendo Trincão, marcou logo no minuto seguinte. Estreia como goleador na equipa A.
Harder (-) - Entrou para o lugar de Gyökeres aos 89'. Sem tempo nem oportunidade para demonstrar nada.
Matheus Reis (-) - Substituiu Maxi Araújo aos 89'. Mal se deu por ele em campo.
De termos ultrapassado mais um obstáculo. Recebemos e vencemos o Nacional - a mesma equipa que há duas semanas, na Choupana, derrotou o FC Porto numa partida em que a turma portista foi incapaz de fazer um só remate enquadrado. Quem pensava que seriam favas contadas estava a ver mal o filme: a equipa madeirense apresentou-se em Alvalade num 5-4-1 muito difícil de transpor, mesmo quando já perdia 0-1 - resultado que se registava ao intervalo.
De Trincão. Tantas vezes mal amado pelos adeptos, foi ele mais uma vez a desbloquear um jogo, valendo-nos os três pontos. Perante a muralha madeirense, solucionou o problema de modo brilhante: com um tiro disparado a mais de 30 metros, com a bola a descrever trajectória em arco a partir da meia-direita e a anichar-se no sítio certo. Um golaço que quebrou a resistência do Nacional quando já decorria o minuto inicial do tempo extra da primeira parte e começavam a escutar-se manifestações de impaciência nas bancadas. O avançado minhoto volta a ser crucial após o fabuloso golo do empate que apontou em Guimarães mesmo à beira do apito final dessa trepidante partida. Melhor em campo.
De Morten. Outra actuação superlativa do internacional dinamarquês. Fundamental para impedir a construção ofensiva do Nacional. Protagonizou recuperações aos 6', 17', 22', 45'+3 e 51' - sempre com elevadíssimo grau de eficácia. Ostenta com todo o mérito a braçadeira de capitão: é um elemento crucial deste Sporting que sonha com a reconquista do bicampeonato.
De Diomande. Ao vê-lo com tanta personalidade e tanta autoridade natural em campo, até nos esquecemos que só tem 21 anos. O internacional marfinense voltou a ser dono e senhor do nosso bloco defensivo, que comanda com segurança e desenvoltura. Transmite tranquilidade à equipa.
Da estreia de João Simões a marcar na equipa A. Funcionou o dedo experiente do treinador Rui Borges: tripla substituição aos 89', um dos que entraram foi João Simões, que no minuto seguinte marcou de pé esquerdo o segundo golo, fixando o resultado: 2-0. Primeiro golo pela equipa principal do médio com 18 anos recém-festejados: foi a maior nota de alegria numa noite que encerrou em clima de festa. Fica para a história a corrida de 50 metros do João em direcção aos apanha-bolas, que abraçou efusivamente enquanto chorava lágrimas de genuína e compreensível felicidade.
Da nossa reacção à perda da bola. Em nenhum momento do jogo deixámos de dominar por completo o controlo das operações. Em nenhum momento nos desorganizámos. Em nenhum momento perdemos a noção do fundamental: era preciso metê-la lá dentro para conseguirmos os três pontos. Concentração total que deu frutos, mesmo com exibições menos conseguidas e o estigma do cansaço por excesso de jogos sempre a pairar sobre a equipa.
De Rui Borges. Facto que merece ser assinalado: na Liga, o nosso treinador ainda não perdeu qualquer jogo à frente do Sporting. Mantendo uma atitude serena, própria dos verdadeiros líderes, soube ler bem o jogo e fazer as mudanças que se impunham. Qualidades que se prolongam fora de campo, nas declarações aos jornalistas. Com um discurso claro, directo, sem "futebolês". Confirma em Alvalade o bom trabalho que já havia demonstrado em Guimarães.
Que mantivéssemos a baliza intacta. Pelo segundo jogo consecutivo da Liga (acontecera o mesmo na deslocação a Vila do Conde), Rui Silva não teve de fazer uma defesa digna desse nome. Onze dos nossos 19 desafios disputados neste campeonato terminaram assim: sem o Sporting sofrer golos.
De ver Mathieu de regresso a Alvalade. O excelente central francês, que tão bem serviu o Sporting durante três épocas, entre 2017 e 2020, assistiu ao jogo num camarote. Será sempre bem-vindo.
De ver as bancadas muito preenchidas. Mais de 42 mil adeptos acompanharam ao vivo, no estádio, este Sporting-Nacional.
De reforçar a nossa posição a liderar a Liga. Comandamos com 47 pontos - apenas menos dois do que na mesma fase do campeonato anterior. Aumentámos a distância para o Benfica, que segue com menos seis - há um ano, tinha apenas menos um. Somos a equipa com mais vitórias e menos derrotas. Temos o melhor ataque (53 golos, mais dez do que o Benfica) e a melhor defesa. Temos o maior goleador. Todos os números indicam: vamos no bom caminho. Para que o sonho se torne realidade.
Não gostei
De termos esperado 45'+1 para vermos o nosso primeiro remate enquadrado. Mas valeu a pena: o impasse foi quebrado pela bomba de Trincão. Nota máxima no plano artístico.
Do atraso do jogo. Começa a tornar-se um mau hábito em Alvalade: desta vez a partida começou com 6 minutos de atraso.
De Fresneda. Ele esforça-se, mas voltou a ter exibição insuficiente. Quando sobe no corredor, não dribla nem cruza. O mais provável é vê-lo perder a bola. A defender, não transmite segurança: abusa dos passes à queima e mostra-se muito intranquilo. Precisamos com urgência dum lateral direito melhor que ele.
De ver sair Morita com problemas musculares. Aconteceu aos 68': o internacional japonês abandonou o jogo com cara de sofrimento, queixando-se de dores numa coxa. Outra lesão à vista ou recaída da anterior? Convém lembrar que ele é um dos elementos mais importantes do Sporting, nada fácil de substituir.
Dos assobios. Alguns adeptos, sempre à beira de um ataque de nervos, começaram a vaiar certos jogadores (Fresneda foi um deles) a meio da segunda parte, indiferentes ao facto de estarmos a vencer e de o Benfica, pouco antes, ter sido derrotado (1-3) pelo Casa Pia. Estes adeptos tardam em perceber que assim nada conseguem de positivo: em vez de apoiarem, só desapoiam. Volto a perguntar: se é para assobiar, por que raio não ficam em casa?
E pronto, após uma jornada europeia que nos correu muito mal e apesar dos pesares, a equipa praticou um futebol muito agradável e venceu de forma tranquila o Nacional, que há quinze dias havia derrotado o Porto.
Gostei da exibição do nosso guarda-redes.
Gostei do golaço do Trincão.
Gostei do primeiro e excelente golo de João Simões.
Gostei da assistência de Gyokeres e "do arrastar" dos defesa insulares, de Herder que permitiu que o João se inaugurasse a marcar.
Tudo quase normal, faltou o golo do suspeito do costume.
Há dias em que é um descanso ver futebol.
Isto se o outro não tem desertado, no Carnaval estava resolvido.
Gostei muito de ver o Estádio José Alvalade com 47 mil espectadores, como é próprio das noites grandes de futebol, na recepção ao Arsenal, há três dias. Casa cheia e sem nunca faltar o incentivo ao nosso onze nem ao novo técnico, João Pereira, nesta sua estreia internacional à frente da principal equipa de futebol do Sporting.
Gostei do golo marcado por Gonçalo Inácio ao vice-campeão inglês. Aconteceu no minuto 47 deste Sporting.Arsenal: este primeiro quarto de hora da segunda parte foi o único período positivo da nossa equipa em todo o jogo. O golo, na sequência de um canto apontado por Trincão, permitiu-nos sonhar com uma reviravolta após termos chegado ao intervalo a perder 0-3. Infelizmente foi esforço sem sequência. Aos 65'' sofremos o quarto, que nos despertou os olhos para a realidade: iríamos perder por goleada - a nossa primeira derrota nesta campanha da Liga dos Campeões, em que Ruben Amorim nos deixou invictos. Cenário previsível - e que infelizmente aconteceu.
Gostei pouco da estreia do João Simões, agora um dos dez jogadores portugueses mais jovens de sempre a disputar a Liga dos Camões. Cumpriu um sonho com apenas 17 anos - esta foi a parte positiva. De negativo, entrar só aos 88', quando já perdíamos por 1-5, e mal dispôs de tempo para tocar na bola. Certamente o jovem médio teria preferido um baptismo na Champions muito diferente, em maré de vitória.
Não gostei que o nosso primeiro remate enquadrado tivesse ocorrido apenas aos 47', por Morita, quando já perdíamos por 0-3. Pior foi termos sofrido mais dois, numa quase antítese da goleada que havíamos imposto três semanas antes ao Manchester City, também no José Alvalade. Consequência directa do onze escolhido por João Pereira, com um inoperante Edwards como interior esquerdo sem a capacidade de penetração entre linhas característica do lesionado Pedro Gonçalves. Na prática, não apenas entrámos só com dez de início como rasgámos uma avenida no nosso flanco esquerdo para que o melhor jogador do Arsenal, Saka, pudesse impor o seu futebol como dono e senhor. Edwards não fechava à frente, Maxi Araújo era batido em sucessivos confrontos individuais, Gonçalo Inácio revelou uma tremideira inexplicável como central à esquerda. Enquanto Morita se via forçado a desguarnecer o meio-campo para acorrer às dobras laterais e recuar em apoio da defesa vezes sem conta, deixando Morten isolado. O capitão dinamarquês, apesar disso, foi o melhor do nosso lado: quase marcou aos 73' e aos 90'+2, com Raya a negar-lhe os golos com grandes defesas. Lá atrás as coisas não foram mais bem-sucedidas. Diomande, de cabeça perdida, deixou-se amarelar logo aos 3' e pode considerar-se um homem cheio de sorte: devia ter visto o segundo cartão em duas ocasiões posteriores, nomeadamente quando provocou um penálti, aos 63'. Também Israel esteve muito longe de se mostrar à altura do que lhe era exigido: teve culpas em pelo menos três dos golos que encaixou, aos 7', 21', 45'+1, 65' e 82'. Só neste jogo sofremos tantos como nas sete partidas anteriores. Na primeira derrota em casa desde Outubro de 2023, quando perdemos com a Atalanta, 32 jogos antes deste. Já quase não nos lembrávamos de um desaire assim em Alvalade.
Não gostei nada desta estreia em provas da UEFA de João Pereira como sucessor de Ruben Amorim ao comando da equipa principal do Sporting. Pior do que a derrota foi a inexplicável passividade de toda a equipa técnica no banco, o facto de não terem mexido no onze após o intervalo, quando já perdíamos por 0-3, e de só aos 68' decidirem fazer as primeiras trocas que há muito se impunham, com Daniel Bragança a render o inoperante Edwards e Geny a substituir um errante Maxi Araújo. Pior ainda só as declarações do técnico após o jogo, aludindo a «erros da casting» que ninguém parece ter compreendido, começando por ele próprio, e sublinhando a necessidade de ver a equipa «levantar a cabeça». Frase sem sentido: faz lembrar outros tempos, felizmente bem longe dos actuais.
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