Rescaldo do jogo de ontem
Gostei
Da nossa fulgurante entrada no difícil desafio em Guimarães. Antes de concluído o segundo minuto da partida, neste jogo final da primeira volta, já tínhamos a bola enfiada no fundo das redes da equipa anfitriã. Antes de se esgotar o quarto de hora inicial, estava lá outra. Difícil conceber um começo mais fulgurante do que este - crédito por inteiro à nossa linha ofensiva.
De Gyökeres. Voltou às grandes noites de leão ao peito. Melhor em campo, autor de três golos: aos 2' (a passe de Quenda), aos 14' (novamente a passe de Quenda) e aos 57' (servido de cabeça por Morita dentro da área). Batalhador incansável, recuou sempre que necessário, nomeadamente para apoios defensivos nas bolas paradas. É um fenómeno: leva 21 golos apontados neste campeonato que só agora chegou a meio - e 30 no conjunto da temporada. Não merecia este empate no Minho. Merecia que tivéssemos ganho por goleada.
De Morita. Escasseiam os adjectivos para a prestação do internacional nipónico, um dos grandes obreiros da primeira hora desta partida disputada sempre em ritmo muito intenso. Na primeira parte foi vital para accionar o nosso jogo ofensivo, mas soube recuar quando era necessário em apoio dos centrais. Vital a sua intervenção no terceiro golo, numa prodigiosa tabelinha com Gyökeres, a quem ofereceu o brinde. Como aconteceu a outros colegas, estoirou a partir da hora do jogo. Infelizmente para o treinador, nada temos equivalente a Morita no banco de suplentes.
De Quenda. Adaptado a médio-ala, do lado esquerdo, fabricou dois golos no quarto de hora inicial - proeza que merece ser assinalada. Não está ao alcance de qualquer um, ainda por cima sabendo-se que o jovem esquerdino costuma render mais quando actua do lado direito. No segundo golo não se limitou a assistir: o lance começa com uma recuperação dele. Infelizmente começou a quebrar fisicamente à beira do intervalo: decide mal aos 45'+1, atirando a bola para a bancada, quando tinha um colega livre de marcação. Mas justifica nota positiva.
Do golaço de Trincão. Andou meio eclipsado durante parte do jogo, mas ao contrário de quase todos os companheiros ganhou evidência à medida que este Vitória-Sporting se aproximava do fim. Aos 57' foi vital na recuperação, corrigindo erro de Geny, e encaminhando-a para o sítio certo no lance do terceiro golo. E nos instantes finais (90'+5) marcou um golo soberbo, o que nos permitiu sair de Guimarães com mais um ponto do que no desafio da época anterior, ao rematar em arco a partir da meia direita, com perfeita colocação, ao ângulo mais inacessível para Bruno Varela. Desde já candidato a um dos golos do ano, mal 2025 ainda começou.
De termos ido para o intervalo a vencer por 2-1. O cenário melhorou ainda mais quando ampliámos a vantagem, antes da hora do jogo. Ao ponto de muitos de nós já pensarmos que trazíamos os três pontos de Guimarães. O pior foi que vários jogadores do Sporting parecem ter pensado o mesmo: facilitaram, relaxaram, desconcentraram-se. Asneira grossa: nenhuma vitória está no papo antes do apito final.
Dos golos. Não choveu, ao contrário do que chegou a recear-se, mas houve chuva de golos no relvado: oito. Três na primeira parte, cinco na segunda. Para quase todos os gostos. Há quase seis anos não havia tantos num desafio do campeonato nacional de futebol. E desta vez foram todos golos limpos, sem discussão.
Da vibração nas bancadas. Maior número de espectadores até agora, nesta época, no estádio D. Afonso Henriques: 26.549 lugares preenchidos. Prova da capacidade de mobilização dos adeptos vimaranenses e do inegável prestígio do Sporting em todos os palcos nacionais.
Do árbitro. Trabalho competente de João Gonçalves, tanto do ponto de vista técnico como disciplinar. Começa a impor-se como um dos melhores árbitros desta nova geração.
Não gostei
De Israel. Vai-se consolidando a convicção de que nos falta um guarda-redes de indiscutível categoria, na linha de tantos que se celebrizaram no Sporting. O jovem uruguaio orientou muito mal a barreira no livre directo de que nasceu o primeiro golo vimaranense, aos 7', e reagiu tarde ao disparo de Tiago Silva. Teve também uma atitude demasiado passiva no quarto que sofremos, aos 85': nem esboça uma saída à bola para reduzir o ângulo de remate.
De Matheus Reis. Prestação calamitosa do lateral esquerdo, totalmente batido em velocidade no lance do segundo golo da turma anfitriã, aos 70': não teve pernas para acompanhar Telmo Arcanjo nem a argúcia de perceber que se impunha cometer falta defensiva para compensar a sua falta de velocidade. No quarto golo, falhou por completo a marcação a Dieu-Merci, que só precisou de decidir para que lado mandaria a bola.
De Fresneda. Voltou a demonstrar falta de classe para integrar o plantel leonino. Aos 86' substituiu um esgotado Eduardo Quaresma. Exibindo nervosismo à flor da pele. Quando mais precisávamos de tempo para virar o resultado, já de cabeça perdida, envolveu-se numa picardia disparatada junto à nossa linha defensiva que lhe valeu o amarelo aos 90'+3. Parece cada vez mais uma carta fora do baralho.
Da nossa desorganização defensiva. Além dos erros individuais já referidos, todo o nosso sector mais recuado merece nota negativa. Incapaz de sair com bola, incapaz de dominar a pressão, incapaz de definir linhas de fora de jogo, a partir de certa altura começou a aliviar de qualquer maneira: saía balão, saía charutada. Como se estivessem a defrontar o Arsenal ou o Bayern de Munique. E sucediam-se as bolas entregues aos adversários, aqui sobressaindo Diomande e Quaresma. E, claro, foram-se sucedendo os golos: três num quarto de hora - 70', 82' e 85'. Inaceitável.
De ter sofrido tantos golos. Foi a primeira vez que o V. Guimarães nos marcou tanto em jogos do campeonato. Ironia do destino: um Vitória "fabricado" nesta dinâmica pelo nosso actual treinador.
Do excessivo recuo das nossas linhas. Após marcarmos o 3-1, houve ordem geral para arrefecer o jogo e recuarmos as linhas, concedendo iniciativa ao adversário. Talvez já a pensar no desafio contra o FCP, da meia-final da Taça da Liga. Foi um erro: havia mais de meia hora para jogar, essa é estratégia de equipa pequena. Tal como as múltiplas tentativas de queimar segundos nas reposições de bola, tanto pelo guarda-redes como nos lançamentos laterais. No Sporting, estamos pouco habituados a isto. Aliás, não serviu para nada: o Vitória, sentindo-se confortável com o espaço que lhe concedíamos, cresceu de intensidade e foi para cima de nós. O jogo quase começou a perder-se aí. E só não se perdeu de todo devido à magia do pé esquerdo de Trincão.