Fui menos cáustico, apesar de tudo, do que o jornalista espanhol Pedro Simón, escrevendo há dias no El Mundo sobre o mesmo jogador.
Anotou ele (mantenho o idioma castelhano, sem tradução):
«La única persona que ha puesto de acuerdo a Simeone, Xavi, Roberto Martínez, Lampard y mi cuñado Ramón - cinco formas tan diferentes de ver el fútbol - es João Félix: nadie lo quiere. Hoy, el luso es como esa casa comprada en Marina D'Or justo antes de la caída de Lehman Brothers: cinco años después de la inversión, no vale la mitad.»
A selecção de Portugal foi eliminada anteontem pela da França nas grandes penalidades, depois do 0-0 nos 120'. Exactamente como tinha sido apurada contra a Eslovénia.
E Portugal foi eliminado sem razão de queixa de seja o que for. O jogo foi repartido, as oportunidades de golo aconteceram para ambos os lados, cada equipa tinha a sua forma de ferir o adversário, uma demorando mais com a bola outra menos, os guarda-redes e as defesas conseguiram manter as balizas invictas até ao fim. Depois vieram as grandes penalidades. Se alguém ainda pensa que as grandes penalidades são questão de sorte, que veja a forma como Ronaldo marcou a sua e o Félix falhou a dele.
Portugal foi eliminado por uma França com a qual sempre poderia ser eliminado, mas depois duma campanha que deixou muito a desejar contra adversários de menor estatuto, que incluiu uma derrota humilhante contra a Geórgia. Foram 2-1, 3-0, 0-2, 0-0 e 0-0 os resultados, 5-3 em golos, sendo que, dos cinco, dois foram autogolos, outro um ressalto num defensor e outro um escorreganço dum defesa contrário que quebrou a linha de fora de jogo.
A selecção portuguesa dispunha dum meio-campo de luxo. Com Palhinha (agora Bayern de Munique), Bruno Fernandes (Man. United), Vitinha (PSG) e Bernardo Silva (Man. City) e dois alas perfurantes de grande classe como Nuno Mendes (PSG) e Cancelo (Barcelona). E depois Diogo Costa, Rúben Dias (Man. City), Pepe, Cristiano Ronaldo e Rafael Leão (Milan). Como é que com tanta qualidade não se consegue ter uma jogada colectiva que resulte num golo numa sequência de cinco jogos?
Não é difícil adivinhar a resposta.
Sendo assim, a selecção fracassou na Alemanha. Não há minutos de posse de bola nem choros convulsivos nem conversa da treta que prove o contrário. Para mim o grande responsável chama-se Roberto Martínez e a selecção Ronaldo & Pepe que montou sob o alto patrocínio de Jorge Mendes. Como é que um João Félix, a acumular fracassos por onde passa, que se ausenta para "jogar às cartas" enquanto a Itália joga, é seleccionado, joga pessimamente e mesmo assim vai marcar um penálti decisivo?
No final do jogo, enquanto os dois manos choravam agarradinhos, alguns outros passavam ao lado de tanta ternura. Pepe fez um grande jogo de facto, mas a selecção já podia estar em casa à conta dele contra a Eslovénia. Ronaldo fez um péssimo jogo contra a França, também é um facto, mas tanto minuto de jogo e tanto livre marcado dá cabo do melhor jogador do mundo. Ainda assim converteu dois penáltis nos desempates finais.
Depois veio Martínez a falar no exemplo de Pepe para os portugueses. Qual Pepe? Aquele do murro ao Coates, da bofetada ao Matheus Reis, aquele do pontapé ao adversário caído no chão quando ao serviço no Real Madrid, aquele que colecciona expulsões e goza com os árbitros, o Pepe exemplo de quê? De que alguém pode ser um santo na selecção e um bandido no clube? De alguém já despedido do clube pelo novo presidente e que vai não sei para onde e que se calhar a Portugal não volta, já facturou o que pôde? Se gosta tanto, que compre o livro da história da vida dele quando for publicado. Já agora, se tivesse apostado de início numa dupla de centrais Rúben Dias-Gonçalo Inácio, com Nuno Mendes a lateral esquerdo e Rafael Leão a extremo, não teríamos outro desenvolvimento de jogo pela esquerda?
Sobre Rafael Leão, prometo nunca mais dizer mal dos cruzamentos do Nuno Santos. Nunca mais.
Tínhamos jogadores de elite para muito mais. E no que respeita ao lançamento duma nova geração, Gonçalo Inácio, António Silva e João Neves vão precisar de psicólogos, como os dois guarda-redes suplentes, e o Gonçalo Ramos vai precisar de psiquiatra. Safou-se mesmo assim o Francisco Conceição que, com alguma trapaceirice "genética", conseguiu demonstrar a sua utilidade. O seu a seu dono.
Porque é que foram convocados Rúben Neves e Danilo? Para proteger o Pepe? E Pedro Neto? Para recuperar o valor de mercado do rapaz?
E pronto. Lendo e ouvindo o que se diz nos jornais e nas tvs, já temos um bode expiatório, o Cristiano Ronaldo, é malhar à vontade. Eu ofereço-me para ocupar a mansão na Quinta da Marinha. E não o deixo entrar.
PS: Se vier algum morcão a dizer que perdemos o Europeu pela falta do Otávio e do Galeno... ou do Evanilson... faça favor.
João Félix, titular no "amigável" contra a excelente Croácia, sábado, no Estádio Nacional - que voltou a receber um desafio da selecção após mais de dez anos.
Confere em absoluto com o que ele (não) demonstrou no Jamor.
O senhor Martínez retirou-o ao intervalo, com 45 minutos de atraso. Já não evitou a inédita derrota lusa frente aos croatas por 1-2.
Palmas? Mereceu-as o capitão da selecção visitante: Luka Modric. Aos 38 anos, com seis Ligas dos Campeões e um título de vice-campeão mundial no currículo, marcou o golo inaugural da Croácia e deu uma lição de profissionalismo à pseudo-vedeta formada no Seixal.
Um textículo é uma coisa em forma de texto que não chega a ser bem um texto.
João Félix é um jogador que poderia ser um grande craque, um excelente praticante mas falta-lhe qualquer coisa; poderia ser um Cristiano Ronaldo mas é um Anelka (a propósito ver o excelente documentário na Netflix).
Qual a razão para num "blog" sportinguista se estar a falar sobre um ex-benfiquista?
O João é um miúdo e, potencialmente, poderá ser muito útil à selecção portuguesa, terá de mudar a atitude.
Jogar futebol não é, não pode ser, um frete, não é um favor que se faz à entidade patronal, tem de ser uma paixão, tem de se dar tudo em campo, tem de se ter "ganas", comparemos, por exemplo, a forma como Futre estava em campo (com a mesma camisola do Atlético de Madrid) e a forma como Félix está.
Dir-me-ão: "o rapaz estava triste por não ter sido titular mesmo assim mergulhou bem dentro da área e ele próprio marcou o penalty"
De acordo, dou-lhe mérito pela marcação do penalty, pelo mergulho nem tanto.
O ponto é, precisamente, esse, um bom jogador tem de estar sempre motivado e motivar os colegas, tem de tornar os jogadores que o rodeiam, melhores, nem todos podem ser Bruno Fernandes mas todos podem ter uma atitude boa, uma atitude certa dentro do campo.
Dos dois jogos já realizados destaco as excelentes actuações das equipas da Atalanta e do Leipzig, sem vedetas mas com uma excelente atitude e dinâmica, equipa, conjunto, colectivo é isso que o futebol é, deveria ser.
Tomba-gigantes na Taça do Rei: o modestíssimo clube Cultural Leonesa, da terceira divisão espanhola, acaba de eliminar o Atlético de Madrid, por 2-1, seguindo para os oitavos-de-final da competição. A turma de Simeone ficou pelo caminho.
Faz-me lembrar o Sporting, quando caiu perante o Alverca, em Outubro. A diferença é que nós, em Alvalade, não temos nenhum jogador como o astro-rei do Atlético madrileno, contratado por alegados 126 milhões de euros.
«Não sei se Félix virá a ser o melhor do mundo. Não sei se virá a ser um dos melhores cinco do mundo. Não sei se virá a ser sequer o melhor português. Talvez, talvez não. Sei que é, no mínimo improvável que venha a ser um dos melhores de sempre como Ronaldo. E sei que é um disparate equipará-lo ao Ronaldo de hoje ou sequer ao Ronaldo com 19 anos que já levava duas épocas completas como profissional (uma no Sporting e outra no Manchester United).»
O mesmo membro do Governo que foi incapaz de uma palavra de conteúdo pedagógico para se demarcar da grosseria que testemunhou, a um metro de distância, na tribuna de honra do Estádio Nacional, recolhendo-se a um pesado silêncio como se não tivesse observado uma triste cena que o País inteiro acompanhou em directo pela televisão, apressou-se agora a comentar algo que não presenciou: os assobios de três ou quatro energúmenos anónimos, de noite, junto a uma instalação hoteleira de Espinho, dirigidos à viatura em que seguia João Félix, jogador do Benfica convocado para a equipa das quinas.
Não direi que o secretário de Estado teve um comportamento imbecil. Mas não posso deixar de assinalar o chocante contraste entre a passividade que revelou no primeiro caso e o protagonismo que se apressou a assumir no outro.
Forte com os que parecem fracos, fraco com os que parecem fortes.
Que diferença entre o talento de Bruno Fernandes e a mediania do tal "bambino d' oro" encarnadinho que só consegue ser craque nas manchetes da imprensa amiga. O tira-teimas desta noite em Alvalade deixou isso bem claro.
De facto, há coisas que nunca mudam: todos os anos o Benfica produz um "novo Eusébio" ou um "novo Cristiano Ronaldo". Eu ainda sou do tempo do Mantorras, por exemplo, mas para nos ficarmos só nos últimos três ou quatro anos já foram o Gonçalo Guedes, o Renato Sanches, o Ricardo Horta ou até o Mile Svilar (!?). Agora é o João Félix. O Vieira agradece. O pior é para os próprios (e para a nossa pachorra).
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