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És a nossa Fé!

Jesualdo Ferreira e Rúben Amorim

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Primeira página do Record de 17 de Abril de 2013

 

Tenho lido, até por aqui em diversas caixas de comentários, que Rúben Amorim «falhou os objectivos» para que foi contratado. Porque foi incapaz de impedir que o Sporting ficasse «no pior lugar de sempre» do campeonato português. O quarto, após FC Porto, Benfica e Braga.

Estes dislates só podem ser provocados pela ignorância ou pela falta de memória, ampliadas pela estupidez que corre à solta nas redes sociais. Amorim foi contratado à 23.ª jornada da época passada não para qualquer objectivo de curto prazo mas para preparar um plantel capaz de conquistas desportivas. 

Mesmo assim, nesses 11 jogos que a equipa ainda fez sob o seu comando para a Liga 2019/2020, registou seis vitórias, três empates e duas derrotas - ambas, neste caso, frente a FC Porto e Benfica. Melhoria face aos 11 desafios anteriores (seis vitórias, um empate e quatro derrotas). E já sem contar com Bruno Fernandes, nosso melhor jogador dessa temporada.

 

O problema estava no plantel, como muitos de nós assinalámos desde o primeiro dia. Aliás bastava lembrar como se mostrava a equipa em campo: lenta, apática, sem iniciativa, sem nervo, sem alegria.

O trabalho do técnico só pode ser avaliado a partir do momento em que tem intervenção activa na escolha dos jogadores para a nova temporada. Verdadeiros reforços, não nomes sacados de algum fundo de catálogo, como sucedera um ano antes.

O resultado está à vista. Quatro anos depois, o Sporting volta a comandar isolado o campeonato, com mais golos marcados e menos golos sofridos do que qualquer outra equipa. Pedro Gonçalves - um desses reforços - já é apontado como melhor jogador da Liga. Há uma aposta decisiva nos talentos da formação leonina. E voltamos a ter um campeão europeu no onze titular.

 

Apontar responsabilidades a Rúben Amorim pelo quarto lugar do campeonato anterior - em que foi o quarto técnico a orientar a equipa, após Marcel Keizer, Leonel Pontes e Silas - equivale a atribuir culpa a Jesualdo Ferreira pelo péssimo desempenho leonino na Liga 2012/2013, quando o veterano técnico foi também o quarto e último treinador da temporada, após Sá Pinto, Oceano e Franky Vercauteren. Ou seja: não faz qualquer sentido. Mesmo tendo Jesualdo assumido, ainda no mês de Dezembro de 2012, as funções de manager desportivo - portanto já então com efectivas responsabilidades no futebol leonino.

Essa, sim, foi a nossa pior temporada de sempre. Não só pelo inédito e humilhante sétimo lugar do Sporting, mas também pela pontuação alcançada no final do campeonato: apenas 42 pontos. Menos 18 do que em 2019/2020. 

Aliás, conferindo o desempenho da equipa leonina no último quarto de século - desde que a vitória passou a valer três pontos nas competições futebolísticas portuguesas -, verifica-se esta evidência: as piores pontuações, além da já mencionada, ocorreram nas épocas 1997/1998 (56 pontos), 2002/2003 (59), 2007/2008 (55) e 2011/2012 (59). 

Quanto ao nosso quarto lugar da época passada, basta consultar a mesma tabela estatística. Nestes últimos 25 anos, ocorreu também em 1997/1998, 1998/1999, 2009/2010 e 2011/2012. Nada de novo, infelizmente.

Jesualdo e Jesus: descubra as diferenças

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Jesualdo Ferreira, parecendo imitar La Palice, veio agora anunciar ao País que  "Rui Vitória ganhou e Jorge Jesus perdeu".

É uma evidência simplista anunciada com meses de atraso pelo respeitável profissional do futebol que, enquanto director desportivo e treinador, esteve ligado à pior época de sempre do Sporting.

É simplista porque esconde tudo quanto o Sporting já ganhou desde o tempo em que ele próprio, Jesualdo, era o braço direito de Godinho Lopes para gerir o futebol leonino.

 

Jorge Jesus recebeu a equipa vinda de um terceiro lugar no campeonato e ausente da Liga dos Campeões.

Com ele, na Liga 2015/16, o Sporting obteve a melhor pontuação de sempre, discutiu o título até à última jornada do campeonato e alcançou um lugar na Liga dos Campeões que valeu ao clube um acréscimo de 8,2 milhões de euros.

Com ele, a qualidade exibicional da nossa equipa de futebol atraiu a maior afluência de sempre de adeptos ao estádio - com mais 750 mil euros de receitas de bilheteira só no primeiro trimestre da actual época oficial em comparação com período homólogo do ano anterior.

Com ele, os jogadores valorizaram-se de tal maneira que permitiram ao Sporting obter as duas maiores receitas de sempre em transferências de activos, como ocorreu nas saídas de João Mário e Slimani.

 

Apetece devolver a Jesualdo Ferreira a crítica que ele acaba de lançar a Jorge Jesus.

Com Jesualdo o Sporting comportou-se melhor ou pior do que com o treinador actual?

Qual dos dois técnicos conseguiu trazer mais gente ao estádio?

Qual deles foi capaz de bater o recorde de pontos numa temporada?

Qual deles discutiu o título até ao fim?

Qual deles valorizou mais os jogadores?

 

Creio que ninguém hesitará na resposta. Aliás lembro-me de que na era Godinho-Jesualdo foram lançados na equipa principal três jovens da nossa formação sem o clube ter acautelado os seus interesses contratuais: BrumaEric Dier e Tiago Ilori. Com os seus passes nas mãos de terceiros, à revelia do Sporting, todos acabaram por sair sem retribuírem no plano desportivo todo o investimento que o clube neles fez durante anos.

Ao contrário do que sucedeu nos tempos do manager Jesualdo, apodado de "treinador dos treinadores" por Godinho Lopes, nenhum jovem é lançado hoje na equipa principal do Sporting sem ver o contrato renovado e a cláusula de rescisão elevada, evitando-se assim que fiquem à mercê dessa casta de parasitas que gostam de intitular-se "empresários" nas catacumbas do futebol.

 

Esta foi uma das muitas alterações positivas registadas no nosso clube desde que Jesualdo passou por Alvalade.

Muitas outras podiam aqui ser referidas. O pavilhão, prestes a ser inaugurado. O canal televisivo do clube. O aumento do número de sócios. O crescimento ímpar das receitas de bilheteira. Os inéditos montantes de receitas ligadas às transmissões televisivas. O reforço das modalidades, que beneficiam de um investimento nunca antes registado. A luta por títulos, jornada a jornada, até ao fim.

Mas não vale a pena enumerar nada disto: Jesualdo Ferreira conhece bem a realidade leonina, embora desta vez tenha falado como se não a conhecesse.

Faz hoje um ano

 

Jesualdo Ferreira ficava no Sporting ou rumaria a outro clube? A incógnita pairava em Alvalade nesse dia 1 de Maio de 2013 em que os jornais especializados em futebol davam nota da convocação do treinador para uma reunião com o presidente leonino precisamente para clarificar esta questão. Num momento em que, para certos sportinguistas, Bruno de Carvalho tudo deveria fazer para assegurar a manutenção em funções do técnico que chegou em Dezembro de 2012, para exercer as funções de manager do futebol, e poucas semanas volvidas rendia o belga Vercauteren no comando técnico da equipa principal. Alguns blogues e redes sociais vaticinavam maus tempos para o nosso clube na hipótese de não ser renovado contrato com Jesualdo...

A mulher do treinador deu entretanto uma entrevista em que deixava clara a sua vontade de ver o marido continuar em Alvalade. "Os meninos do Sporting são de ouro! Ele sente-se bem, é uma área de que ele gosta, de facto, e que o realiza", revelou Zulmira Ferreira.

Faz hoje um ano

 

A quatro dias do Benfica-Sporting, alguns jornais começavam a especular sobre a possível saída de Jesualdo Ferreira do comando técnico do Sporting. Um desses jornais, o Record, trazia em manchete: "Jesualdo na corda bamba".

Um tema que o José Manuel Barroso comentou aqui: "Pelas notícias que correm na imprensa (e fora dela), parece que se prepara a saída de Jesualdo Ferreira. É pena, se assim for. Ele já mostrou como se faz (e refaz) uma equipa, na base da prata da casa. O trabalho deveria (deverá) ser continuado, sobretudo quando, no próximo ano, se não pedirá à equipa que seja campeã."

Faltavam cinco jornadas para o fim do campeonato. No FC Porto, o contrato de Vítor Pereira permanecia por renovar. E nem por isso o assunto tinha honras de manchete, provando que não existem mesmo coincidências...

 

Nesse mesmo dia 17 de Abril de 2013, este blogue ultrapassava a marca das 400 mil visitas. Motivo de sobra para festejar.

 

Mas não era o Professor o Manager?

 

O Senhor que foi apresentado por todos como garante de competência e capacidade foi até há pouco tempo Manager, Treinador dos Treinadores e supra sumo da batata, fazendo supostamente tudo o que queria de um clube sem rei nem roque. 

 

Olhando para a novela Bruma, é bom não esquecer quem também tinha responsabilidades em salvaguardar os interesses do Sporting. Fica o registo para memória futura. 

«annus horribilis»

Foi bonita a festa pá... poderia ter dito Jesualdo e poderiam ter dito os jogadores da jovem equipa do Sporting, depois do jogo de Aveiro. Foi sim. Depois do errático caminho desta temporada, descobrir Jesualdo foi uma espécie de lotaria ganha. Pena ele não continuar a dirigir o futebol profissional do Sporting, um ano ou dois mais. Seria inteligente e daria confiança aos jovens jogadores que ele treinou e ajudou a formar, limando arestas e tornando-os jornada a jornada melhores profissionais. Mas Jesualdo não se sentiu confortável, quanto ao futuro (nem sei se sinal bom ou sinal ruim, isto). E o presidente, a aceitar de novo a versão de Jesualdo, não quis (ou não poude) prometer-lhe nada do que ele pedia. Cito Jesualdo, que explicou ao lado de Bruno de Carvalho: «O presidente disse-me que a próxima época ia ser o 'annus horribilis' e não podia aceitar ser treinador se não sentisse que havia condições». Se o problema, disse-o Jesualdo, não foi «dinheiro», nem «mobilidade na estrutura», que terá sido então?

   Não se sabe que será o anunciado «annus horribilis» (ano horrível). Mas, a crer no conseguido nestes últimos 5 meses... equipa confiante e a crescer, com base nos jovens da formação... talvez tal signifique algo de problemático: ter de vender já alguns dos jovens promissores, para realizar dinheiro. Para contrabalançar o ficarmos fora das competições europeias e o termos de gerir a nossa austeridade. Ou seja - «annus horribilis» - arriscar de novo uma classificação medíocre, que passa por um desmantelamento inícial da base desta equipa do final de época. O que significa, também, que os 120, 50, 25 ou 15 milhões prometidos vão permanecer no horizonte das promessas e/ou dos desejos. Parece que seguimos - e, se assim for, bem... finalmente a verdade! - o caminho trilhado pelo Borussia Dortmund há anos atrás: sanear, formar, esperar e procurar voltar mais fortes. Talvez, entretanto, o tal dinheiro vivo reforce financeira e desportivamente o clube. Mas temos de dar grande atenção (mesmo! mesmo!) à formação, onde estamos a perder rapidamente terreno para os rivais, em resultados e em força atrativa. Porque será no viveiro dela que teremos hipotese de nos recompor verdadeiramente.

   Finalmente, the last but not the least: foi bonito, digno e boa imagem do nosso clube o anúncio da saída de Jesualdo. Bruno de Carvalho e Jesualdo Ferreira merecem os parabéns pelo ato.

Dois cavalheiros

 

«Quero agradecer a Jesualdo Ferreira. Todo este processo foi conduzido com todo o respeito por todas as partes. Decidimos em conjunto só falar sobre o assunto no final do campeonato. Foi muito agradável ter trabalhado com Jesualdo Ferreira, que terá sempre uma porta aberta em Alvalade. Eu e os sportinguistas nunca o esqueceremos.»

Bruno de Carvalho

 

«Aprendi a gostar do Sporting, de facto não é difícil... Foi uma benção de Deus treinar este clube. O que nos afastou não foram questões financeiras, nem questões de poder e estou triste com esta decisão que tomei. É dos momentos mais difíceis da minha carreira mas igualmente um momento de honestidade.»

Jesualdo Ferreira

Contagem decrescente: reflexões sobre o Sporting (VII)

O melhor e o pior, em futebol, medem-se com factos concretos. É algo que não pode confinar-se ao domínio da pura subjectividade. Essa é uma vantagem que o futebol tem, por exemplo, em relação à política.
Que a saída de Domingos Paciência foi grave, como alguns de nós (poucos) na altura dissemos, ficou bem demonstrado nos meses que se seguiram a esse despedimento. A equipa ficou pior, sempre pior. Não sou eu que o digo, no bom 'achismo' à portuguesa: são os factos que gritam. O Sporting cumpriu a pior época e situou-se no pior lugar de sempre no campeonato, ficando igualmente excluído da qualificação para uma competição europeia - algo que não sucedia há 37 anos.
Alguns defendem que a eventual saída de Jesualdo Ferreira, no termo desta época, constituirá algo "mais grave" que a de Domingos quando iam decorridos dois terços da época passada. É um raciocínio que não consigo acompanhar. Porque isso implicaria que na próxima época o Sporting viesse a comportar-se ainda pior do que se comportou nesta. Algo em que, sinceramente, nenhum sportinguista acredita.

Mas, uma vez mais, os factos cá estarão para o demonstrar.

Estabilidade

 

O Sporting teve um treinador, que foi o Paulo Bento, que fez um trabalho fantástico e que foram os tempos mais estáveis e produtivos. Também o Jesus no Benfica e eu no FC Porto quatro anos e se contabilizarmos os títulos, percebe-se a importância que teve. Os clubes com mais estabilidade produzem melhores resultados.

 

Não sei se Jesualdo é o melhor treinador para o Sporting. Mas concordo com estas suas palavras.

Só espero que quem está à frente do clube saiba construir a estabilidade necessária. Nós, sócios e adeptos, apenas desejamos que o Sporting regresse ao lugar que lhe compete!

Sobre a grandeza do Homem

Sobre a mais que provável saída de Jesualdo no comando técnico dos nossos jogadores, concordo com o Tiago quando ele diz que BdC tem a legitimidade e a obrigação de levar avante o seu projecto. Mas concordo igualmente com o Adelino, quando diz que o Sporting precisa de estabilidade emocional.

 

O que aparentemente afastou uma solução de equilíbrio entre as partes não foi uma questão financeira mas, ao que tudo indica, uma questão de Poder. Poder que BdC não quer partilhar, poder que Jesualdo não quis abdicar. Só não conhecendo um e outro é que se poderia adivinhar um desfecho diferente. Jesualdo não aceitaria ser menos com BdC, depois do que o que lhe foi prometido por Godinho Lopes. BdC, por seu turno, não cede porque terá, supostamente, um projecto para o Sporting, sufragado nas urnas e suportado pela massa associativa. E, claro está, BdC é alguém que quer Poder, gosta de Poder e não tem medo de o exercer. E não gosta de o partilhar. Ele é o Presidente, ele é o salvador do Sporting. Com BdC, o Sporting não passou a ser “nosso”, como ele referiu na noite eleitoral da vitória. Passou a ser “dele”.

 

BdC tem o apoio da maioria dos sócios, ironicamente os mesmos que desejam a continuidade de Jesualdo. BdC tem a legitimidade para fazer vingar o seu projecto, nem que para isso tenha que limpar e dinamitar o Sporting por dentro. BdC foi eleito ainda não fez dois meses. O Sporting continua dividido, balcanizado, com a actual Direcção a seguir o seu caminho, sem sinais de união e com claros sinais de desagregação. E ainda não começou a sangria de jogadores que o Sporting não poderá pagar, nem o cumprimento das condições financeiras que os credores exigem. Pergunta-se: Esta Direcção tem legitimidade para fazer este caminho? Claro que sim.

 

Depois de afastar os que lhes eram indesejáveis, BdC está, agora a ir contra a opinião dos que lhe são próximos e que nele votaram. Volto a perguntar: Tem legitimidade? Claro que sim.  Mas, infelizmente, não é disso que se trata.

 

É nos momentos de ruptura que se vêem os grandes Homens, os grandes Líderes. BdC pode ser Presidente do Sporting. Nunca conseguirá ser Líder dos Sportinguistas porque, no primeiro momento em que essa capacidade foi testada falhou redondamente e não soube ler (ou não quis saber ler) aquela que era a vontade da maioria dos Sportinguistas. Pobre Presidência, pobre futuro Treinador. Pobre Sporting.

Um teste à liderança de Bruno de Carvalho

 

Houve um despedimento que verdadeiramente lamentei: o de Domingos Paciência. Sem ele à frente da equipa técnica, o Sporting nunca mais foi o mesmo. Depois dele, e num curto período de 15 meses, tivemos mais quatro treinadores: Ricardo Sá Pinto, Oceano Cruz, Franky Vercauteren e Jesualdo Ferreira. Sem resultados práticos visíveis: chegamos ao fim com a pior classificação de sempre, exibições sofríveis e sofridas, um vergonhoso quinto lugar entre as equipas com menos golos marcados e a maior diferença pontual de todos os tempos em relação aos nossos históricos rivais.

O problema é dos treinadores ou da estrutura que os envolve em Alvalade? Do percurso pós-português do infeliz Vercauteren nada sei, excepto que mantém um litígio com o clube, reclamando salários em atraso. A verdade que Domingos, desde que deixou o Sporting, limitou-se a uma curta e mal-sucedida passagem pelo Deportivo da Corunha, que aliás já estava em último lugar quando ele lá chegou. Mas não é menos verdade que Ricardo Sá Pinto tem obtido sucesso como treinador do Estrela Vermelha de Belgrado: já soma oito vitórias consecutivas e pode conquistar o campeonato sérvio.

Cada caso é um caso. Se Jesualdo Ferreira abandonar o Sporting, lamentarei por consolidar a péssima reputação do nosso clube como cemitério de treinadores - incluindo um tal José Mourinho, que saiu antes de entrar, e Bobby Robson, despedido com a equipa no topo do campeonato. O facto, no entanto, é que a sua passagem por Alvalade (incluindo o mês anterior à sua confirmação como treinador, quando já ocupava as funções de manager) está muito longe de se considerar brilhante ao ser analisada apenas sob o prisma dos resultados. Muito melhor é o balanço do ponto de vista do aproveitamento dos jogadores formados na nossa academia, aliás imposto pelas circunstâncias e que tinha sido iniciado antes - a título de exemplo, recordo que foi Vercauteren quem lançou Eric Dier na equipa principal.

Jesualdo, nestas infelizes circunstâncias, demonstrou dedicação e profissionalismo - atributos essenciais que infelizmente nem sempre foram revelados pela multidão de técnicos que desfilou em Alvalade nas últimas três décadas. Mas não pode ser ele a impor o organigrama do futebol do Sporting, algo que aliás certamente nunca lhe passou pela cabeça quando foi treinador no FC Porto, onde se sagrou três vezes campeão. No Dragão ninguém subverte as hierarquias: lá sabe-se muito bem quem manda. Este tem sido, aliás, um dos ingredientes do sucesso portista.

Não podemos aplaudir nos outros aquilo que negamos na nossa própria casa. O primeiro dever do presidente do Sporting, que conta com um expressivo mandato dos sócios, é definir regras claras e não deixar dúvidas a ninguém sobre a sua capacidade de liderança. Isto custar-lhe-á críticas internas, não tenho a menor dúvida. Mas não existe via alternativa. A menos que queiramos continuar na via descendente iniciada há demasiados anos, rumo a um abismo que pode ser mais fundo, cada vez mais fundo.

O que realmente interessa

 

Uma boa maioria dos sócios elegeu no passado dia 23 de Março um presidente que apresentou, na campanha eleitoral e respectivo programa, uma ideia clara para a gestão do futebol do clube. Se a mesma terá sucesso não se sabe, mas que tem legitimidade para avançar sabe-se perfeitamente. E tem a melhor legitimidade possível: a democrática.

 

Dizem as notícias que uma eventual não continuidade de Jesualde dever-se-á ao facto de o mesmo não aceitar trabalhar com as funções e competências que Bruno de Carvalho lhe propôs, dentro da estrutura que foi apresentada aos sócios e que mereceu a aprovação da maioria. Jesualdo tem legitimidade para ter a convicção que quiser sobre o assunto. Já o Presidente do Sporting tem obrigação de aplicar convictamente o seu projecto. Estranhamente, há adeptos que entendem que devia ser ao contrário. Que a vontade de um treinador com meio ano de casa vale mais do que a vontade de quem foi eleito por mais de metade dos sócios.

 

Em clubes bem geridos, um bom projecto, um bom designío estratégico, uma certeza de onde se queria chegar e de que forma o fazer, é muito mais importante do que os treinadores que por lá passam. Basta olhar, por exemplo, e para mal dos nossos pecados, para o fcporto, onde qualquer treinador medíocre se arrisca a ser um treinador campeão, num processo em que é apenas uma peça numa engrenagem que já funcionava bem sem ele.

 

Por isso, após anos de deriva estratégica de Bettencourt e Godinho Lopes, após meses de campanha em que a maioria dos adeptos exigia responsavelmente um 'projecto' e uma 'estratégia' em vez de reforços e nomes sonantes, é de estranhar ver tanta carpideira a chorar a eventual saída de um treinador se a mesma acontecer, como se prevê, porque o mesmo não concorda com a estratégia de quem a tem de ter no clube: o presidente.

Eu sou um um gajo de afectos, pá

O futebol é coisa tribal. O futebol é para gritar e para chorar quando chorar por outra coisa qualquer nos faz sentir ridículos. Chorar por outra coisa qualquer faz-nos sentir panilas, mas chorar pelo futebol diante de 30 mil pessoas e à frente da câmaras de televisão faz de nós uns adeptos do caraças. Chorar nas bancadas não é para um gajo qualquer: é preciso gostar muito de um clube e nós sabemos que gostar de um clube é muito mais do que gostar apenas de futebol. É sentir que fazemos parte de tribo. É sentir que estamos entre os nossos. É sentir que podemos abraçar desconhecidos na bancada. Eu gosto dos afectos e gostos dos afectos no futebol. É por isso que não estou a gostar nadinha desta história do Jesualdo Ferreira. O homem pode ser um benfiquista convicto que triunfou pelo Porto, mas está a ser um grande profissional no Sporting. Ainda por cima já temos uma relação afectiva com ele. Nós gostamos do Jesualdo Ferreira. Gostamos como as mulheres gostam umas das outras: sem grandes expectativas. Mas queremos ir gostando mais. Godinho Lopes destruiu o afecto que tínhamos pelo Domingos e Bruno Carvalho não está a entender que temos afecto pelo Jesualdo Ferreira e que precisamos de um bocadinho de estabilidade emocional. Percebe isso, presidente? Nós precisamos de estabilidade emocional. Nós precisamos de gostar do nosso treinador. Nós precisamos de sentir que ele estará por cá muitos anos. Nós precisamos de construir uma relação saúdavel, tranquila e emotiva com o treinador. Eu gosto de presidentes que também sabem decidir com emoção.

O mito é o nada que é tudo

 

Como disse aqui, sempre que olho para Jesualdo Ferreira vejo um treinador razoável que tem uma enorme vantagem em relação à maioria dos Cajudas que o futebol português foi conhecendo: soube sempre trabalhar a sua imagem em torno de uma aura de credibilidade e de treinador mais competente do que realmente é. E uma aura assim só se constrói sustentada em alguns mitos. Um dos mitos mais persistentes é o da 'carreira de sucesso' de Jesuldo Ferreira.

 

Importa considerar o início desta carreira em finais dos anos 90 nas selecções jovens (antes dessa data a carreira de Jesualdo é perfeitamente irrelevante). Foi precisamente nas esperanças de Portugal que Jesualdo Ferreira começou a ganhar algum mediatismo e cunhou o epípeto de 'professor' (um bom exemplo do tal trabalho de imagem de que falei). Alguns anos de trabalho na FPF resultaram numa ausência de momentos relevantes.

 

Após uma passagem pelo Alverca e outra pelo Benfica (acompanhou Luís Filipe Vieira de um clube para o outro), Jesualdo iniciou o seu trabalho em Braga, coincidindo com a chegada de António Salvador ao clube e o início da obra que o presidente bracarense tão bem tem construido. Apesar de dois quartos lugares em quatro anos, quem mandava no Braga entendeu que Jesualdo era curto para as novas ambições que o clube queria abraçar. Depois da sua saída, o clube minhoto continuou a fazer o seu projecto crescer e, entre alguns insucessos, já conseguiu um terceiro e um segundo lugar, disputar campeonatos, ganhar a Intertoto, a Taça da Liga e chegar a uma final europeia.

 

Descartado por um Braga em ascensão, Jesualdo refugia-se no interesse de um Boavista em declínio. E é aí que acontece o grande golpe de sorte na sua carreira e que lhe dá o pouco de bem sucedido que ela tem: o despedimento surpreendente de Co Adriaanse que deixou a estrutura portista de calças na mão, sem grandes opções no mercado, bem perto do início do campeonato. Jesualdo acabara de ganhar o seu Euromilhões. Na verdade, numa carreira tão longa de quase 20 anos ao mais alto nível em Portugal e no estrangeiro, o professor só conheceu realmente o sucesso nos três primeiros anos que passou no fc porto, clube que nas últimas décadas fez de treinadores tão medíocres como António Oliveira, Fernando Santos e Vítor Pereira campeões nacionais. Longe de querer insinuar que Jesualdo não tem mérito nesses títulos, não posso deixar de reconhecer - para grande infelicidade minha - que um treinador que entra no fc porto já entra meio campeão. Ainda assim, Jesualdo não se livrou do susto de quase perder dois dos três títulos conquistados para um Sporting com cerca de metade do orçamento (em 2006/07 a diferença foi de 1 ponto, em 2008/09 a diferença foi de 4).

 

Se a carreira de Jesualdo Ferreira tivesse ficado por aqui, o seu sucesso até poderia ser uma ideia com sentido. Mas não foi assim. Depois de um último ano de azul e branco de grande insucesso (que culminou num dos apenas três terceiros lugares do clube nos últimos 30 anos), Jesualdo abraça duas aventuras no estrangeiro que vieram provar que o período passado no fc porto foi um oásis de sucesso numa carreira marcada pela banalidade.

 

Em 2010/2011, já depois de ter sido despedido do Málaga, onde 6 derrotas em 9 jogos na Liga Espanhola foram suficientes para provar que não era o homem certo para a nova versão de um Málaga endinheirado, Jesualdo chega à Grécia para treinar o Panathinaikos. À 11ª jornada herda uma equipa campeã em título e que se encontrava a 3 pontos do 1º lugar. Passadas 19 jornadas, com Jesualdo ao leme, o Panathinaikos acaba o campeonato a 13 pontos do título! Na sua segunda época, o Panathinaikos de Jesualdo melhora mas não assusta: termina com menos 7 pontos que o campeão. Mas é a terceira época de Jesualdo na Grécia - esta que agora termina - que não sairá tão cedo da cabeça dos adeptos. Uma época em que Jesualdo foi despedido ainda o campeonato não tinha chegado a meio. Porquê? Porque nesse espaço de tempo conseguiu ganhar apenas 3 jogos em 10 no campeonado (atrasando-se 15 pontos em relação ao primeiro), comprometer a vida da equipa na Liga Europa (da qual viria a ser eliminada ainda na fase de grupos, tendo perdido por 3-0 com o Maribor, que é mais ou menos o Videoton da Eslovénia) e ser eliminado da Taça da Grécia por uma equipa modesta logo na segunda ronda. No final do campeonato, feitas as contas, o Panathinaikos viria a terminar em 6 º lugar, fora dos lugares europeus. Uma época muito semelhante à do Sporting, portanto. Não deixa, por isso, de ser curioso que Jesualdo seja visto por muitos sportinguistas como uma opção infalível para tirar o Sporting da situação em que está, quando ainda esta época, ao mesmo tempo que nos afundavamos, Jesualdo colocava o Panathinaikos numa situação desportiva exactamente igual.

 

Este post não pretende desqualificar Jesualdo Ferreira como boa opção para treinar o Sporting. Não acho que um bom treinador para o nosso clube só será quem tiver muitos titulos no currículo, nem creio que alguém com uma carreira sem grandes vitórias seja desprovido de qualidade para o fazer. Serve apenas para ajudar a desfazer o mito que diz que Jesualdo é um treinador com uma carreira rica em vitórias e em experiências bem sucedidas. Isso simplesmente não existe.

 

 

Leitura complementar: Jesualdo ou o caos?

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