Época 1994/1995, o Porto venceu o campeonato, o Sporting venceu a Taça de Portugal.
Na época de 2021/2022, o FC Porto, falhou a continuidade na "Champions", viu-se chutado para a Liga Europa, após esse desaire, Sérgio Conceição focou-se na Taça da Liga, disse algo do género:
- Fomos escorraçados da "Champions" mas fica prometido, toda a gente me conhece, tenho o coração ao pé da boca, o que prometo cumpro, já prometi a Pinta da Costa, este ano, oiçam bem, carago! este ano, a Taça da Liga vai para o museu do FC Porto.
Naquele ano de 1995, a Taça de Portugal, também estava prometida para o museu do Porto, foi o que se viu, o clube do calor da noite viu a chama a apagar-se com um vendaval Marítimo, Marítimo esse que seria cilindrado na final por Iordanov e mais dez.
A ausência a que me referia em ambas as fotos era a bola. Quase sempre, um dos jogadores da fila de baixo, tem uma bola junto aos pés, parecendo que não, a bola faz falta num jogo de futebol.
Ninguém acertou em todos os intervenientes nas fotos, quem são os meninos que estão à frente de Carlos Xavier e de Figo?
Mais logo, uma época diferente, um jogo diferente, também, espero que Pinheiro e Godinho não escorchem excessivamente.
E há vinte e cinco anos ganhávamos a Taça de Portugal, frente ao Marítimo, com dois golos de Iordanov.
Assinalo esta taça porque foi o primeiro título que celebrei, com noção do que isso significava - em 82 tinha cinco anos e foram 13 anos que separaram um do outro. Foi um momento marcante para uma geração de leões.
Foi uma tarde daquelas cheias de esperança e expectativa. Alegre e com alguns nervos, como um pré-Jamor costuma (e deve) ser, uma tarde de sol, festejos e despedidas. O estádio estava cheio, a abarrotar, havia verde nas cabeceiras e tribuna. Ewerton, o guarda-redes do Marítimo, travou um duelo com Iordanov, que o nosso búlgaro acabou por vencer. O jogo está aqui, para quem quiser ver ou rever.
Havia Balakov, Figo - despedimo-nos de ambos ali -, Oceano e Carlos Xavier. Naybet, Marco Aurélio e Vujacic. Nelson, Costinha e Amunike. Ainda entraram Sá Pinto, Filipe e Lemajic. Tínhamos jogadores que marcaram os meus anos de adolescente e ainda hoje recordo perfeitamente e com carinho - mais que alguns mais tardios, a memória tem destas coisas. Era nossa, estava escrito.
Tinha começado a ir assiduamente a Alvalade na época de 1992/93 - antes disso ia pontualmente - e aquela equipa merecia-me todo o respeito e apoio. Vivia os jogos, no campo e na bancada, os cânticos e fumos, adorava dias de ir a Alvalade ou a outro lado, dias de ir ver o Sporting. Vivi com aqueles jogadores momentos felizes e momentos tristes, não só dentro do campo, como sabemos. Foi um título muito merecido.
Nesta altura eu tinha 18 anos, estava a acabar o liceu, tinha sido um ano com altos e baixos, para mim e para o Sporting, mas no fim, naquela hora e meia estava tudo bem e saímos vencedores. No fim do jogo encontrei o meu irmão e amigos queridos de há muitos anos e ainda me lembro do abraço apertado que demos.
O segundo golo foi a emoção geral, parecia dificil fugir-nos, talvez ninguém acreditasse nisso mesmo naquele estádio. No apito final, o Jamor explodiu em euforia, Oceano recebeu a taça e desceu com ela até ao relvado. Deram-se voltas ao estádio todo, uma vez que por todo lado havia leões que a queriam ver de perto e celebrar.
São 25 anos desde que o nó cego que me liga ao Sporting desde sempre apertou mais um pouco.
«Tenho pena de nunca ter visto muitas imagens ou vídeos de Fraguito no Sporting e tenho alguma curiosidade em saber se foi feita alguma coisa em sua homenagem em anos posteriores. Acredito que o Sporting, que hoje tem valorizado a nossa história, poderia numa futura homenagem a algum dos nossos atletas vivos, Iordanov por exemplo, prestar um tributo e recordar algumas das nossas lendas aos adeptos mais novos. Seria uma boa forma de preservar e difundir a nossa história.»
Não é certamente o golo mais bonito que vi marcado por um jogador meu, do meu clube, com a minha camisola. Mas é o golo mais importante da minha vida de Sportinguista. A seca de títulos durava há 8 anos (Supertaça 1987) e o Jamor vestiu-se de verde e branco para receber uma das melhores equipas do Sporting das últimas décadas, com Figo, Balakov, Carlos Xavier ou Sá Pinto.
Era 10 de Junho de 1995 e jogávamos contra o Marítimo de Everton, Heitor e Alex. Antes de começar, um cão atira-se ao braço de Vujacic que joga com uma ligadura e me fez temer pela sorte. O Sporting é um clube a quem tudo acontece, mas a tarde de calor estava demasiado perfeita para nos vergarmos às nuvens negras.
Era a minha segunda final da taça no meu sítio de sempre: o muro na curva da Juve Leo. Tinha perdido a anterior para o Porto de Robson na finalíssima mas desta vez os astros estavam alinhados: um adversário mais acessível, novamente uma grande equipa, e um grande ambiente. E o último jogo de Figo e Balakov com a nossa camisola.
Mas não foi nenhum deles que brilhou. Foi Iordanov, o meu ídolo de sempre. Búlgaro tosco com uma alma daqui à lua, com um amor eterno ao Sporting que já aqui relatei. Marcou os dois golos de cabeça (aos 9 e aos 85 minutos), rematou aos postes, ensaiou bicicletas e pontapés à meia-volta. Correu, lutou, brigou, marcou, festejou e saiu em ombros. Foi, como sempre foi, um herói improvável, exemplar na dedicação ao meu, dele e nosso Sporting.
A minha escolha vai por isso para o segundo golo de Iordanov a 10 de Junho de 1995. O meu primeiro título ao vivo e a cores, o primeiro que a minha geração recordará na pele, com um golo a ditar o game over da longa seca, com um golo a fazer acreditar que era possível dar a volta.
Faz hoje 45 anos o homem que me proporcionou uma das mais distantes e felizes memórias que tenho do Sporting: a vitória na final da Taça de Portugal de 1995, na qual marcou os dois golos da vitória e brilhou a grande nível. Um sportinguista até ao tutano. Um ídolo daqueles que já não se fazem.
O ex-capitão do Sporting, Iordanov, não tem dúvidas de que é preciso mudar “muita coisa” em Alvalade para o clube sair da crise: "Tem de se sentir a camisola, os jogadores quando acabam o jogo têm de sair com a cabeça levantada, olhar nas pessoas e dizer que fizeram tudo.”
Pedem-me para falar de ídolos. Tenho vários: todos do Sporting, com a excepção de um mito vivo italiano que um dia destes trarei aqui. Não é, hoje, o dia dele. Não é fácil escolher um grande ídolo verde e branco. Podia falar de Sá Pinto e de tudo o que ele simbolizou na minha juventude: coração, rebeldia, paixão por uma causa, intempestividade, raça. Podia falar da classe de Valckx, Luisinho, André Cruz, Douglas ou Balakov. Da entrega de Filipe, Duscher ou Oceano. Tudo nomes que levo para a cova, posso-vos garantir. Mas há um que me fez chorar, gritar, viajar, passar chuva, frio, correr o país de comboio, autocarro, trepar vedações para erguer lá no alto um punho cerrado de raiva pelos golos que marcava. Todos de raiva e com muito coração.
Eu tenho uma admiração gigantesca por Iordanov. Um búlgaro tosco que Sousa Cintra um dia se lembrou de ir buscar. Estava longe de ser tecnicamente brilhante, mas representou tudo o que gosto num jogador que sabe dessas limitações: raça, amor ao clube, respeito pelos sócios, entrega, capacidade de sofrimento. E que sofrimento passou ele. Do desastre à doença, da travessia no deserto dos títulos, ele mostrou que era possível dar a volta, superar adversidades internas e externas, criar um balneário forte. Querer vencer. Foi ele que nos deu aquela extraordinária e quente tarde no Jamor contra o Marítimo, talvez a primeira grande conquista presenciada pela minha geração. Foi ele que não descansou, mesmo com a doença a apoderar-se, enquanto não ganhou o campeonato para poder, lá em cima da glória, terminar a carreira. Foi ele que abraçou o leão do Marquês e fez ver a este país a verdadeira dimensão do Sporting Clube de Portugal.
Era ele que, ganhando ou perdendo, aplaudia cada deslocação fora, porque sabia que esse esforço colectivo era também uma dedicação por ele partilhada. Iordanov, os topos sul e norte, a central e a nova: uma só mística, uma só dedicação, um só símbolo no peito. Nunca, na mítica espera à porta da 10A - e que hoje tanta falta às vezes faz - Iordanov foi apupado. Era sempre aplaudido, mesmo quando perdíamos. Eu só tenho duas camisolas de jogadores do Sporting guardadas e uma delas está assinada pelo Iordanov, o mesmo capitão que me deu a honra de assinar o bilhete de Vidal Pinheiro. Da boca dele, ouvi então: "no Sporting até jogava de graça". Obrigado por tudo, campeão.
Eu tenho uma admiração gigantesca por Iordanov. Estava longe de ser tecnicamente brilhante, mas representou tudo o que gosto num jogador que sabe dessas limitações: raça, amor ao clube e aos sócios, entrega, capacidade de sofrimento. E que sofrimento passou ele. Lembro-me, como se fosse ontem, daquela extraordinária tarde no Jamor contra o Marítimo e de um golo monumental na Luz, entre muitos outros que fez dele um dos jogadores mais acarinhados em Alvalade. Nunca, na mítica espera à porta da 10A, Iordanov foi apupado. Era sempre aplaudido, mesmo quando perdíamos.
Eu só tenho duas camisolas de jogadores do Sporting guardadas e uma delas está assinada pelo Iordanov, o mesmo capitão que me deu a honra de assinar o bilhete de Vidal Pinheiro. Da boca dele, ouvi então: "no Sporting até jogava de graça".
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