"O Sporting Clube de Portugal manifesta o seu pesar pela morte de Sven-Göran Eriksson, uma grande figura do futebol mundial", escreveu o nosso clube nas suas redes sociais. Também eu (tal como será o caso do resto do plantel do És a nossa Fé!) me junto a este momento de tristeza pela partida de um senhor.
Recordo-me de ver ao vivo um dos primeiros jogos de Manuel Fernandes, talvez o Sporting - Beira Mar, com a camisola do Sporting, acabadinho de vir da CUF, numa época de "vacas magras" e de forte assédio do Pinto da Costa aos jogadores "libertos" dos condicionalismos contratuais que vinham do "antigamente", e que terminou com o 5.º lugar no campeonato.
E logo para fazer esquecer o "Chirola". Coisa pouca.
E se o rapazinho que ele era no princípio não deixava grande impressão, à medida que o jogo ia decorrendo vinha ao de cima o bom toque de bola, o passa e desmarca para receber, o passe para a baliza que dava golo. Foram 32 golos nessa temporada, e muitos mais anos a fio com a camisola do Sporting, antes e depois da vinda do seu parceiro Rui Jordão, e em duas épocas "malucas" com Big Mal e Roger Spry no V. Setúbal também com o seu parceiro, tendo encerrado aí a carreira. Na selecção nacional nunca teve o protagonismo alcançado no Sporting, onde foi capitão muitos anos, sempre leal ao clube e a João Rocha. Se calhar por isso mesmo.
Depois foi treinador no Sporting e em vários clubes, descobriu Oceano, deu a mão a José Mourinho, integrou a melhor equipa técnica de sempre do Sporting com ele, Bobby Robson e Roger Spry, era o director da melhor equipa B de sempre no tempo de Godinho Lopes com Oceano e Dominguez como treinadores quando entrou Bruno de Carvalho e sofreu a maior desconsideração pública de que me recordo no clube, ao ser denominado "o pior funcionário que já vi no Sporting."
Anos mais tarde a seita do ex-presidente ainda teve a falta de vergonha de se mobilizar para vetar a atribuição do nome de Manuel Fernandes a uma porta de Alvalade.
Com Frederico Varandas o Manuel Fernandes, tal como o mestre Aurélio Pereira, voltou a ter o reconhecimento que merece, passou a ser presença regular na tribuna e no comentário da Sporting TV. A visita ao hospital do presidente com Gyokeres com o troféu foi apenas mais um episódio de profundo respeito e homenagem a um grande ídolo do Sporting e a uma pessoa simples que deixa amigos em todo o lado.
O seu filho Tiago Fernandes, também ele já com um passado no Sporting que interessa sublinhar, é testemunha.
Descansa em paz, grande capitão, em companhia dos teus amigos Rui Jordão e Vitor Damas. Para nós fica a imensa saudade dos teus jogos e dos teus comentários.
Morreu Marinho Peres, o "meu" primeiro treinador do Sporting.
Recordo-me de uma figura afável, de grande correção, e que muito me fez vibrar e sonhar com aquela meia-final europeia disputada taco a taco com o poderosíssimo Inter de Milão.
No plano doméstico, era o dealbar da equipa do Sporting formada por Figo e mais 10. Infelizmente, não deu para conquistar qualquer título.
Sairia no final da época de 91/92, sendo substituído por Bobby Robson.
Ainda regressou a Portugal, primeiro para treinar o Marítimo, cuja passagem confesso não me lembrar, e depois para voltar ao "seu" Belenenses. Aí sim, recordo-me de ver Marinho Peres a comandar os "pastéis" e, novamente, a passear classe e cordialidade pelo futebol português.
Faço votos para que em Alvalade, na próxima segunda-feira, o público leonino homenageie Marinho Peres com uma muito sentida salva de palmas.
Uma senhora que nasceu em 1939 e nunca se agarrou à coitadinhice de ser mulher e negra, foi à luta e venceu.
Venceu utilizando duas armas poderosas, a voz e as pernas. Pernas todos temos, dir-me-ão, sim, umas têm a técnica de Trincão, outras ficam agarradas ao chão (António Silva).
A vida como tu cantaste, tão bem, pode resumir-se a isto, Tina:
"Quando um rapaz conhece uma rapariga".
(e é preciso sorte, Tina, muita sorte, com os rapazes e com as raparigas que se atravessam na nossa vida)
O guarda-redes que poderia ter sido uma personagem desenhada por Albert Uderzo.
O bigode improvável, a habilidade com os pés a colocar a bola à distância, a pausa para um cigarrito, durante os jogos, que um homem não é de ferro, a disponibilidade para mandar a equipa para a frente e fazer reposições de bola pela linha lateral, quando necessário.
Foi um dos meus ídolos e foi um dos "Nossos Ídolos", uma boa oportunidade para relermos o texto de Rui Rocha publicado neste "blog" no dia 10 de Julho de 2012, para ficarmos a saber quem acordou o ensonado húngaro porque o "Rochinha" merecia um abraço.
Foi o nosso guarda-redes numa equipa memorável e fica para a História. Obrigado por fazer de tantos de nós sportinguistas mais felizes durante a nossa juventude.
Alguns adeptos mais jovens do futebol, que nunca o viram jogar, subestimam a importância decisiva de Pelé na expansão da modalidade em todo o mundo. Deviam perceber que, embora o desporto-rei tenha conhecido muitos génios, antes e depois dele, nenhum esteve à altura do brasileiro Edson Arantes do Nascimento, agora falecido aos 82 anos: ele foi o melhor de sempre. Único, desde logo, a sagrar-se tricampeão mundial - em 1958, 1962 e 1970. A partir daí, passaram justamente a chamar-lhe Rei.
Àqueles que o desconhecem, recomendo que vejam com atenção as duas finais em que Pelé participou. A de 1958, em Estocolmo (com apenas 17 anos!) e a de 1970, na Cidade do México (apogeu triunfal da sua carreira), reproduzida acima.
Em 1997 o Presidente Jorge Sampaio visitou Moçambique, fazendo-se acompanhar de uma grande comitiva. A viagem foi uma assinalável sucesso, muito potenciando as relações entre os dois países, então ainda algo maceradas pelo processo de descolonização e pelos constrangimentos do subsequente processo político moçambicano. Nessa comitiva presidencial iam 4 futebolistas nascidos em Moçambique - também servindo de representantes simbólicos dos "4 grandes" clubes: Hilário, Acúrsio, Eusébio, Vicente. E, claro, logo se lhes juntou Mário Coluna, o "Monstro Sagrado" - então presidente da Federação Moçambicana de Futebol.
Nesse momento tive o privilégio de acompanhar esse magnífico Quinteto. E desde então não só reencontrei algumas vezes o nosso Hilário e o "King", Eusébio, como tive o privilégio de criar amizade, não íntima mas bastante convivencial, com o "Monstro", Coluna. Conheci-os num almoço na popular cervejaria Piripiri, prévia a uma passeata pela Baixa da cidade na qual acompanharam o presidente Sampaio. Pude então perceber algumas das características do político: eu já vira Soares em Luanda, num notável desempenho patenteando uma extroversão verdadeiramente carismática. E viria a ver Cavaco Silva em Moçambique, num perfil público muito mais rígido, o qual sempre me pareceu muito mais o de um homem em luta com a sua timidez do que efeitos de uma concepção hierática da sua função. Sampaio era diferente, não exactamente um homem de rua ou de palco, pois não um carismático. Mas apresentando uma bonomia tão explícita que era recebida pela população como uma simpatia natural, à flor da pele. Assim encarnando a confiança.
Voltou a Maputo em 2001 para uma das cimeiras da CPLP, numa era em que estas congregavam mesmo os chefes de Estado. No nosso caso numa chefia bicéfala, pois para o efeito agregávamos o PR e o PM, naquele tempo Guterres. (Re)Vi Sampaio numa recepção à comunidade portuguesa, à qual acorreram cerca de 3000 pessoas. Enquanto ele circulava entre nós fui rodeado por vários compatriotas. Ocorrera-lhes que seria aquele o bom momento para fazer chegar ao presidente um ror de preocupações que tinham - impostos aos emigrantes, taxas de importação de veículos, apoios à comunidade, etc. E passara-lhes pela cabeça que seria eu um bom porta-voz para as colocar, dado que conhecia algumas das pessoas que ali o circundavam. Resisti, num "era só o que me faltava...", insistindo que "isso são coisas para colocar aos deputados, ao secretário de estado, ao cônsul..." mas não os consegui desiludir, insistentes num "vá lá, Zé Teixeira" e sem de mim se apartarem.
Passado algum tempo, mantendo-me eu de copo de vinho na mão e tasquinhando o queijo da serra e o presunto gentilmente disponibilizados, o Presidente Sampaio foi-se aproximando da nossa zona. Recrudesceram os patrícios nos seus incentivos à minha capacidade reivindicativa. Assim sendo, e ao estar aquele Grande Sportinguista já à distância de apenas duas braçadas roguei-lhe "dá-me licença?, Senhor Presidente, posso-lhe fazer um pedido?", ao que ele, arvorado com um sorriso aberto, logo ripostou "claro, em que lhe posso ser útil?".
"- Ó Senhor Presidente, por favor, use a sua influência para fazer as pazes entre o dr. Roquette e o dr. Luís Duque" (então desavindos na nossa Direcção). Riu-se, abertamente, elevando as mãos em sinal de impotência e ripostou "Ó Homem, isso está bem acima dos meus poderes...". E deixou-nos uma dúzia de palavras de circunstância, logo seguindo na sua ronda entre nós, aqueles milhares de convivas.
Os meus vizinhos, enfim, resmungaram um bocado comigo...
Cheguei a sugerir aqui que ele daria um bom presidente do Sporting. Já lá vão oito anos. Um dia, depois disso, perguntei-lhe se não estaria nos seus planos ser líder leonino. Respondeu-me de imediato: «Meu amigo, nem pense nisso... para desgaste rápido, já me bastou andar tantos anos na política activa.»
Mas vibrava e sofria pelo nosso clube: era um Leão de gema. Integrou o Conselho Leonino até à extinção deste órgão e nunca deixou de ter lugar na bancada em Alvalade.
Escrevo estas linhas apressadas ainda em choque ao tomar conhecimento da morte súbita de Jorge Coelho, que conhecia desde 1988 e com quem convivi de perto em dois continentes, nas mais diversas circunstâncias que sempre nos aproximaram e nunca afastaram. Presto sentida homenagem à sua memória, convicto de que no lugar onde estiver, a partir de agora, não deixará de celebrar também a próxima conquista deste nosso emblema a que jurámos amor para a eternidade.
Faz hoje dez anos, morria em Lisboa um dos mais carismáticos sportinguistas de todos os tempos - o grande Artur Agostinho, figura popularíssima do desporto, do cinema, da rádio e da televisão. Além de se distinguir na imprensa desportiva: durante mais de uma década, entre 1963 e 1974, dirigiu o jornal Record. Também esteve à frente do jornal do nosso clube. Que era o clube dele. Leão de gema, com o coração verde e branco.
Muitos de nós recordaremos para sempre os seus vibrantes relatos radiofónicos em tardes de futebol e os programas em que deu a cara anos a fio na RTP - concursos, festivais da canção, séries, telenovelas e a apresentação do saudoso Domingo Desportivo, onde se falava da modalidade que mais nos apaixona mas sem insultos nem gritos. Ao contrário do que hoje sucede, serão após serão, em canais nada recomendáveis.
No papel mais memorável de todos quantos protagonizou durante uma carreira profissional que se prolongou por sete décadas na comunicação e no espectáculo, fazia de motorista. Contribuindo para o êxito d' O Leão da Estrela original, realizado em 1947 por Arthur Duarte. Nesse filme, cheio de cenas hilariantes, há um diálogo delicioso entre António Silva, que fingia ser seu patrão, e Artur Agostinho, que fingia ser chofer do outro.
Discutem. Às tantas, o primeiro agarra-lhe no casaco e descobre um emblema do Sporting. E logo a discórdia dá lugar a um abraço cúmplice. Com o genial António Silva (também sportinguista na vida real) a rematar assim:
Felizmente Maria José Valério (hoje falecida, vítima do malfadado coronavírus que há um ano nos virou a vida do avesso) foi várias vezes mencionada neste blogue.
Só alguns exemplos:
A 16 de Janeiro de 2012, ela viu-se brindada com este postal.
A 13 de Fevereiro de 2012, foi incluída na rubrica «Leões de Sempre» . Uma leoa, neste caso.
A 7 de Maio de 2013, recebeu os merecidos parabéns pelas suas 80 primaveras.
A 6 de Maio de 2015, nova menção especial, a pretexto do seu 82.º aniversário.
A 6 de Maio de 2017, recebeu aqui "um beijo muito especial", também em dia de aniversário.
Como sempre pensei, as homenagens devem ser feitas em vida. Ao contrário do que sucede em Portugal, onde calamos elogios quando as pessoas estão connosco e só decidimos enaltecê-las quando já cá não se encontram.
Ela deixou-nos, mas a marcha que imortalizou permanecerá connosco. Para sempre.