O que é bom para as selecções onde actuam os nossos jogadores em fases finais de grandes competições desportivas não é necessariamente bom para o Sporting. Porque pode colocar esses jogadores mais perto da porta de saída.
Pensei nisto ao ver ontem a enorme exibição da Dinamarca frente à Inglaterra que teve como figura dominante um campeão leonino: Morten Hjulmand, que se vai tornando indispensável na selecção do seu país, tal como já acontece no onze que Rúben Amorim comanda. Ponto culminante: o golaço que marcou num remate rasteiro, colocadíssimo. Pickford foi incapaz de travar a bola, que rolava a 114 km/h.
Nesse minuto 34 da partida disputada em Frankfurt, nesse disparo a 30 metros de distância, a cotação do médio dinamarquês aumentou de imediato. A cobiça dos tubarões do futebol europeu acentuou-se, sem dúvida de qualquer espécie. Torna-se agora mais difícil reter Morten em Alvalade, mesmo protegido por cláusula de 80 milhões de euros. E não apenas pelo golo, mas por toda a exibição, impondo-se em três fases essenciais do jogo: recuperação, construção e distribuição.
Um craque.
Morten: golaço no embate contra a Inglaterra
O empate foi lisonjeiro para os ingleses, que marcaram primeiro, por Harry Kane (18') após bom trabalho de Kyle Walker no corredor direito. Com três centrais, a Dinamarca anulou quase toda a restante manobra ofensiva adversária. Bellingham mal tocou na bola. Saka, Foden e Kane saíram em simultâneo aos 69', quando Gareth Southgate decidiu remodelar todo o ataque. Mas só viu uma hipótese de desfazer o empate, por Watkins (Aston Villa, 28 anos), impedido entre os postes por alguém que bem conhecemos desde que era miúdo: Kasper Schmeichel. Filho de peixe sabe nadar.
A melhor oportunidade para chegar ao triunfo foi até dos dinamarqueses, aos 85'. Pelo médio Højbjerg (Tottenham, 28 anos). Não escandalizaria ninguém.
A Inglaterra continua sem convencer após um triunfo escasso, sem brilho, na jornada inaugural frente à Sérvia. Mas isso é problema deles. O nosso chama-se Morten Hjulmand: veremos se ainda é possível vê-lo entre nós na temporada 2023/2024. Não vai ser fácil.
Querem um candidato evidente à vitória neste Euro-24? A selecção da casa, que já carimbou o passaporte para os oitavos-de-final.
A suspeita confirmou-se anteontem, no encontro entre germânicos e húngaros em Estugarda. Após a goleada na ronda inaugural, a equipa alemã não abrandou o ritmo. Com um golo em cada parte: por Musiala (bisando no Euro-2024), aos 22', aproveitando da melhor maneira um momento de descalabro colectivo da defesa magiar; e por Gundogan, aos 67'. Sério candidato a homem do jogo, pois tinha sido dele a assistência no primeiro.
Concorrente a este posto, só Neuer: aos 38 anos, desde 2011 no Bayern de Munique, campeão mundial em 2014. Aos 26' protagonizou monumental defesa, num livre directo, demonstrando manter os reflexos intactos, sem sequelas da grave lesão que sofreu em 2023, enquanto esquiava. Não custa concluir que talvez continue a ser o melhor guarda-redes do planeta futebol. Ainda no activo, já nos deixa saudades.
Quando Portugal venceu a Hungria, no nosso jogo inaugural do Campeonato da Europa, logo houve quem se apressasse a desvalorizar esta vitória dizendo e escrevendo que tínhamos derrotado "a equipa mais fraca" do certame.
Eis a mentalidade tuga no seu pior. A vontade de deitar abaixo é tanta que nunca falta quem invente pretextos para transformar vitórias em empates ou até em derrotas.
Afinal mais ninguém foi capaz de derrubar a Hungria. A França, campeã do mundo, empatou com eles. A Alemanha, anterior campeã mundial, também não conseguiu melhor do que um empate frente aos húngaros, apesar de actuar em casa: na partida que terminou há pouco, a selecção magiar deu luta aos alemães até ao fim. E só fica pelo caminho por ter tombado contra nós no primeiro jogo.
As aves agoirentas andam com azar. Agora terão de esvoaçar até Sevilha: é lá que a selecção nacional vai disputar os oitavos-de-final do Euro-2021. Desta vez contra a Bélgica, n.º 1 do ranking da FIFA. Jogo a jogo, como Rúben Amorim tão bem nos ensinou.
ADENDA: A Dinamarca chega aos oitavos com duas derrotas em três jogos. E a Inglaterra é apurada tendo marcado apenas dois golos - menos cinco do que Portugal.
Queixamo-nos - e com razão - da nossa exibição de ontem contra a Alemanha. Pois os espanhóis estão pior que nós: dois jogos, apenas dois pontos. Só um golo marcado até agora. Empataram a zero com a Suécia e ontem registaram novo empate (1-1), desta vez contra a Polónia.
Em alta competição, não se pode falhar nos momentos decisivos. Morata, que já tinha desperdiçado uma oportunidade soberana na partida inaugural, ontem voltou a ser protagonista pela negativa. Aos 83', assistido por Sarabia, foi incapaz de a meter lá dentro. É verdade que foi ele a marcar o golo solitário dos espanhóis, aos 25', mas soube-lhes certamente a pouco. E os adeptos do país vizinho não lhe perdoam decerto ter falhado a recarga após uma grande penalidade que Moreno - também pouco inspirado - dirigiu ao poste, aos 58'.
A Polónia arrancou um precioso ponto (primeiro até agora) graças ao talento ímpar de Lewandowski, que marcou de cabeça aos 54'. O seu primeiro neste Euro-2021. E ainda - já no segundo tempo - registou a estreia do mais jovem jogador de sempre num Campeonato da Europa: o jovem Kacper Kozlowski, com apenas 17 anos e 245 dias.
A selecção polaca, comandada pelo nosso Paulo Sousa, viu-se muito pressionada no primeiro tempo desta partida, disputada em Sevilha. Mas a etapa complementar foi equilibrada: o resultado acabou por ser justo. Agora fazem-se muitas contas no Grupo E, que a Suécia comanda com 4 pontos (venceu anteontem a Eslováquia por 2-1).
Quem disse que a Hungria é a pior selecção deste Europeu? Tal dislate, papagueado após Portugal a ter derrotado na primeira ronda, ficou ontem desmentido no empate imposto pelos húngaros à França, campeã mundial, com a Arena Puskás repleta de adeptos a puxarem pelo onze da casa.
Os franceses dominaram - uma vez mais com Pogba e Mbappé como motores do ataque. Mas foram os húngaros a adiantar-se no marcador, aos 45'+2, com um grande golo de Attila Fiola. Havia cinco jogos que a selecção gaulesa mantinha as suas redes intactas.
O empate surgiu aos 56', num grande trabalho colectivo da selecção azul: o veterano guardião Lloris repôs muito bem a bola num passe longo, seguiu-se uma grande movimentação de Mbappé e o remate forte e bem direccionado de Griezmann a metê-la lá dentro. O avançado do Barcelona, que foi o rei dos marcadores no Euro-2016 (com seis golos), estreou-se agora como artilheiro neste confronto em Budapeste. Mas foi insuficiente para desfazer o empate.
Os franceses farão tudo para vencer Portugal na quarta-feira: só assim confirmarão o passaporte para os oitavos.
Se houve jogo que merecia golos, foi o Inglaterra-Escócia, disputado sob chuva intensa em Wembley, na sexta-feira.
Foi um jogo disputadíssimo. Não faltou caudal ofensivo de parte a parte. Os escoceses parecem ter surpreendido os ingleses, que não vencem um grande torneio desde o Mundial de 1966. Kane, o rei dos avançados da selecção inglesa, continua em branco neste Europeu.
Do lado da Escócia, realço as exibições de Billy Gilmour, Callum McGregor e Stephen O'Donnelll (que quase marcou na primeira parte). Pelos ingleses, merece destaque Grealish, que entrou talvez demasiado tarde (63'): tecnicista requintado, venceu todos os confrontos individuais. Também gostei de Rashford, que rendeu Kane aos 74': a partir daí, o corredor direito foi todo dele.
Mas não bastou aos ingleses para conseguirem mais do que um ponto. E a Escócia foi até a selecção com mais remates, algo que poucos imaginariam antes do jogo.
«Até ao jogo de terça-feira, em Budapeste, contra a Hungria, a selecção nacional só tinha vencido na estreia da prova por duas vezes: Inglaterra, por 3-2, no Euro 2000; Turquia, por 2-0, no Euro 2008. Desta vez, no Euro 2020, num duelo em que teve muito a desfavor - ambiente hostil e uma equipa superfensiva -, Portugal mostrou uma maturidade pouco habitual e o plano de jogo definido por Fernando Santos funcionou quase na perfeição.»
«Convém referir que, até defrontar os campeões europeus com quase 60 mil fervorosos adeptos no Puskás Arena, a Hungria somava 11 jogos consecutivos sem perder. (...) Não cedeu contra adversários da classe média-alta do futebol europeu: Rússia, Sérvia, Turquia, Islândia e Polónia.»
«Durante quase uma hora, Portugal dominou por completo a Hungria, que nunca conseguiu fazer mais do que meia dúzia de passes consecutivos. Até aos 50 minutos, quando Szalai começou a arriscar remates fora da área, Rui Patrício foi mais um espectador. Até então, Portugal teve uma mão-cheia de ocasiões de golo claras.»
«Contra uma equipa que nunca correu riscos e defendeu, quase sempre, com os 11 jogadores nos primeiros 40 metros à frente da baliza, Portugal mostrou maturidade ao ser paciente na procura do momento certo de encontrar os desequilíbrios que permitissem criar oportunidades. E conseguiu-o.»
«Olhando para as estatísticas da primeira jornada de todos os grupos do Euro 2020, apenas a Espanha (75%), que jogou em casa, conseguiu ter mais posse de bola do que Portugal (65%), mas, em Sevilha, a Suécia criou um par de oportunidades claras de golo, algo que a Hungria nunca conseguiu em Budapeste.»
Excertos de um artigo intitulado "O que correu bem na estreia de Portugal? Quase tudo". De David Andrade, no Público
Dois leitores do És a Nossa Féestão de parabéns: Leãocabril e Verde Protector. Ambos acertaram em cheio no resultado do Hungria-Portugal. Mérito maior ainda por terem antecipado que Cristiano Ronaldo marcaria dois dos nossos três golos em Budapeste. Numa partida em que foi a figura do jogo, com aproveitamento de metade das oportunidades de que dispôs. Aos 36 anos, na quinta fase final de um Europeu, continua a ser o craque que sempre conhecemos. Não por acaso, em 2020/2021 foi o melhor marcador da Liga italiana. Depois de ter sido melhor marcador nos campeonatos inglês e espanhol.
Cada vez entendo menos quando vejo compatriotas tentarem denegrir este grande campeão, cujo profissionalismo é inatacável. Infelizmente, continua a ser um dos passatempos preferidos de muitos portugueses: encontrar defeitos em quem tem sucesso. Sem perceberem que a inveja faz muito mal à saúde.
Um golo construído com 32 passes certeiros: os jogadores húngaros ficam a ver a bola passar durante um minuto e dez segundos. Um dos melhores golos jamais alcançados pela selecção nacional. Foi o 106.º golo na carreira de Cristiano Ronaldo - demonstração suprema de futebol colectivo.
O mundo inteiro tem revisto esta jogada exemplar. E aplaude-a sem reservas. Eficácia é isto.
Oiço dizer por aí que a selecção portuguesa, com Fernando Santos ao leme, «não é eficaz».
Ignoro o que esses tais entendem por eficácia.
Para mim, ser eficaz é (por exemplo) espetar três golos à Hungria, em Budapeste, sem sofrer nenhum. A mesma marca aplicada ontem pela Itália à Suíça - com a diferença de jogar em casa, no Estádio Olímpico de Roma. Enquanto nós, na terça-feira, jogámos em casa da selecção adversária.
Quem tiver definição melhor, dê um passo em frente.
... são os adversários de Portugal na fase de grupos deste Campeonato Europeu.
Ontem, enquanto defrontávamos a Hungria, que acabámos por vencer, num jogo "sem genica" - como disse Pedro Oliveira – pensava nos nacionais deste país que passaram pelo Sporting. Tenho memória de dois, ambos guarda-redes: Ferenc Mészáros (campeão em ’82) e Béla Katzirz, que não teve tanto êxito como o primeiro e que nos representou entre 1983 e 86.
Um outro, faleceu tinha eu poucos meses, figura nas páginas maiores da história do nosso clube: Joseph Szabo.
Da França, houve vários, alguns dos quais ainda com vínculo contratual com o nosso clube, porém ocorre-nos a todos o nome maior de Jérémy Mathieu, que poderia muito bem ter feito o gosto ao pé alguns minutos esta época e ter saído com o título de campeão – como mereceria.
Da Alemanha:
Vou pedir ajuda, pois não me ocorre o nome de nenhum jogador natural deste país que tenha vestido a nossa camisola.
Portugal começa este Europeu da melhor maneira: com uma vitória fora de casa contra a Hungria, que contou com 60 mil espectadores a puxarem pela sua selecção em Budapeste. Campo inclinado, pois: este é o único estádio que permite lotação esgotada no Campeonato da Europa em plena era de pandemia. Irresponsabilidade total da UEFA. Péssima pedagogia que se faz para todo o mundo.
Vitória merecida, esta de ontem. Com seis campeões europeus no onze inicial, a primeira parte foi toda nossa. Tivemos três oportunidades flagrantes de golo: Diogo Jota desperdiçou uma, Cristiano Ronaldo outra e a terceira foi travada pelo guardião húngaro, também a remate de Jota. Durante os 45 minutos iniciais, Rui Patrício foi mero espectador.
Na segunda parte a Hungria soltou-se um pouco e aproximou-se mais da nossa área, o que acabou por beneficiar-nos: o autocarro magiar deixava de estar tão estacionado. As oportunidades mais perigosas continuaram a ser nossas: Gulacis, sem dúvida o melhor dos húngaros, impediu in extremis o golo português por Pepe, de cabeça, aos 47, e desviou para canto um tiro certeiro de Bruno Fernandes, aos 68'.
Quando o onze nacional começava a acusar algum cansaço, a partir do minuto 70, Fernando Santos mexeu bem na equipa. Fazendo trocas que deram frutos, sobretudo no meio-campo ofensivo. E aconteceram três golos em oito minutos.
O primeiro, aos 84', surgiu de um remate de Raphael Guerreiro em zona frontal, após duas carambolas - a última das quais traiu o guarda-redes. O segundo foi apontado por Ronaldo, aos 87', na conversão de um penálti castigando falta sobre Rafa - primeiro golo de grande penalidade alguma vez marcado por Portugal na fase final de um grande torneio europeu. O terceiro resultou de rápidas tabelinhas entre o benfiquista e CR7, com este a metê-la lá dentro, à ponta-de-lança, já no tempo extra (90'+2). Culminando uma exemplar construção colectiva que envolveu 33 toques de bola ao longo de minuto e meio.
Se na primeira parte o domínio foi todo nosso sem se traduzir em vantagem no marcador, à semelhança do que sucedera com a Espanha na véspera, na segunda cedemos parte desse domínio mas marcámos três a uma selecção que vinha de onze jogos seguidos sem perder. Ganhámos com a transição, impondo a nossa condição de campeões europeus. Conseguindo, logo ao primeiro embate, passaporte para a fase seguinte do torneio.
E o que interessa no futebol é isto.
Hungria, 0 - Portugal, 3
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Sofreu um golo, logo anulado por flagrante fora de jogo. De resto, pouco trabalho. Fez a primeira defesa (fácil) quando já estavam decorridos 37'. Atento entre os postes, impediu danos para as nossas redes aos 57' e aos 73'. Intransponível, uma vez mais.
Nelson Semedo - Chamado a titular por impedimento de João Cancelo, foi o elemento mais fraco do nosso quarteto defensivo. Arriscou muitas incursões pelo flanco direito, mas foram quase todas inconsequentes. Precisa de melhorar nos cruzamentos: falhou em excesso.
Pepe - Pilar da selecção. Aos 38 anos, continua sem acusar desgaste físico. Comandou o reduto defensivo, ganhou duelos, limpou a sua área, revelou-se exímio nos passes longos. E quando foi preciso aliviou sem rodeios. Esteve quase a marcar, de cabeça, aos 47'. Merecia esse golo.
Rúben Dias - Articulou-se bem com Pepe: ambos formam hoje o dueto indiscutível de centrais titulares da equipa das quinas. Pecou às vezes por excesso de contundência: num desses lances, aos 38', viu o cartão amarelo. Não havia necessidade.
Raphael Guerreiro - Fernando Santos renovou-lhe a confiança: o lateral esquerdo é campeão europeu e fez boa temporada ao serviço do Borussia Dortmund, conquistando a Taça alemã. Reforçou a titularidade com o golo agora marcado, que veio desfazer o nulo inicial aos 84'.
Danilo - Médio mais recuado, muito posicional, destacou-se sobretudo na recuperação de bolas - merecem aplauso as que fez aos 13' e aos 61', por exemplo. Articulou-se bem com Willliam no eixo do terreno, revelando segurança no transporte e precisão no passe.
William Carvalho - Teve uma temporada apagada no campeonato espanhol, mas ninguém diria ao vê-lo neste jogo em que confirmou as qualidades que já lhe conhecíamos: voltou a ser crucial na consistência da equipa, à semelhança do que sucedeu no Euro-2016. Saiu esgotado aos 81'.
Bruno Fernandes - Primeira parte apagada. Foi-se soltando mais e integrando-se melhor na manobra ofensiva, culminando no tiro à baliza húngara que Gulacis travou com a defesa da noite (68'). É ele quem começa a construir o primeiro golo com um passe de ruptura. Saiu aos 89'.
Bernardo Silva - Talvez o mais fraco desempenho no nosso onze inicial. Arriscou várias vezes o drible, procurando fazer uso da sua técnica individual, mas quase nunca criou desequilíbrios. Abusou do individualismo. Foi bem substituído aos 71', tendo saído já tarde de mais.
Diogo Jota - O avançado do Liverpool anda de pé quente, mas desta vez não facturou. Teve uma das perdidas da noite ao optar pelo remate, aos 5', com CR7 a seu lado, isolado, em posição frontal. Esteve melhor num remate à meia-volta, aos 40', parado pelo guarda-redes. Saiu aos 81'.
Cristiano Ronaldo - Assobiadíssimo sempre que tocava na bola, o capitão não se atemorizou. Foi procurando sempre o golo e acabou recompensado: marcou dois. É o quinto Europeu em que consegue facturar. Está a três golos de igualar o recorde de Ali Daei. Homem do jogo, aos 36 anos.
Rafa - Substituiu Bernardo aos 71'. Inicialmente nada lhe saiu bem: passes falhados, perdas de bola. Mas esteve nos três golos: remata frouxo provocando carambola que sobra para Raphael no primeiro; sofre o penálti no segundo; e é bem-sucedido nas tabelinhas que geram o terceiro.
Renato Sanches - Entrou aos 81', rendendo William Carvalho. Fez impor a sua boa condição física e a sua qualidade no transporte. O lance decisivo da grande penalidade começa a ser construído por ele ao ganhar uma bola dividida com eficácia e competência.
André Silva - O segundo maior marcador da Liga alemã entrou aos 81', para o lugar de Diogo Jota. Mostrou-se combativo, mas sem grande sucesso nos confrontos individuais. Muito marcado, esteve longe das zonas de tiro.
João Moutinho - Em campo a partir dos 89', substituindo Bruno Fernandes. Para queimar tempo, já com 2-0, e ajudar a segurar a bola. Cumpriu.
Em França foi assim, e o lema desta selecção de Fernando Santos é mesmo este. Existe uma equipa, não forçosamente formada pelos melhores onze jogadores, nem pelos onze jogadores que estejam no melhor momento, mas escolhida de acordo com uma ideia de jogo baseada no controlo, defender bem no campo todo e esperar pelos momentos para pôr a bola nos homens certos, aqueles que marcam golos mesmo não sendo pontas de lança. Que não existem na selecção.
Contra uma Hungria "italiana" num 5-3-2 muito rígido, Portugal teve uma boa primeira parte em que circulou bem a bola e construiu ocasiões mais que suficientes para uma vitória tranquila. O duplo trinco ajudou a recuperar bolas em zonas adiantadas e encostar a Hungria "às cordas". Eles raramente conseguiram sair em condição de criar perigo.
Na 2.ª parte a equipa não conseguiu manter o ritmo e facilitou a tarefa ao adversário. Vários jogadores, com William à cabeça, quebraram fisicamente e a Hungria foi-se sentindo cada vez mais confortável no jogo. A pouco e pouco começaram a criar situações, a culminar num golo bem anulado.
Tarde e a más horas lá vieram as substituições, e a verdade é que todos os que entraram coleccionaram asneiras e passes falhados. Quando tudo parecia perdido, um deles, na altura o pior em campo, centra contra um húngaro e depois sai um golo, enrola-se com a bola em vez de rematar e sai um penálti, depois já com uma Hungria destroçada veio mais um golo obrigatório do melhor do mundo para fazer esquecer o golo cantado que falhara na primeira parte.
Concluindo, uma vitória por números concludentes com uma equipa pensada para defrontar os dois grandes que se seguem. Mesmo aqueles que entraram desconfio que vão entrar de novo nos próximos jogos.
Podia-se jogar melhor? Podia, mas não foi assim que fomos campeões europeus. Foi desta forma. Sendo assim... siga.
Três zero, a jogar fora de casa. Em Budapeste, contra a Hungria.
Talvez a nossa melhor estreia de sempre em fases finais de grandes torneios de futebol ao nível de selecções.
Um golo de Raphael Guerreiro, dois golos de Cristiano Ronaldo. Que assim se torna no único futebolista a marcar em cinco fases finais de Europeus.
Antes do jogo, as redes sociais portuguesas fervilhavam de compatriotas a dizerem o pior do nosso seleccionador, o campeão europeu Fernando Santos, e dos nossos jogadores, começando por Ronaldo.
O costume. Somos totalmente previsíveis a dizer mal de nós próprios.
Depois deste triunfo, que nos coloca no comando destacado do grupo F, os profetas da desgraça arriscam uma vez mais ficar no desemprego - como aconteceu há cinco anos.
Mas não tenhamos ilusões: eles jamais desistem. Continuarão a dizer mal de tudo e de todos.
Agora nós. Portugal entra hoje em campo, em Budapeste: será o nosso pontapé-de-saída no Euro-2021. Com uma pesada responsabilidade: compete-nos defender o título conquistado há cinco anos naquela gloriosa tarde em Paris que jamais esqueceremos.
Vamos enfrentar a selecção húngara, que joga em casa, a partir das 17 horas (de Portugal continental, menos uma hora nos Açores). E com estádio cheio, o que deve ser caso único neste Europeu: a Arena Puskas tem capacidade para 68 mil pessoas, devidamente autorizadas a preencher as bancadas. Numa espécie de viagem ao tempo do futebol pré-pandemia.
Tal como acontece nas jornadas do campeonato nacional, venho pedir os vossos palpites para o desfecho desta partida - tanto no resultado como nos marcadores de golos. Funciona também como teste para avaliar o vosso optimismo.
Missão cumprida na Hungria, frente a uma autêntica selecção de sarrafeiros, que parecia jogar mais com os cotovelos do que com os pés - ensanguentando as caras de Pepe e Cédric. O jogo não foi bonito, mas o que interessava era a vitória. Conseguida aos 48', com golo de André Silva e assistência de Cristiano Ronaldo. Passamos a depender apenas de nós próprios para atingirmos o Campeonato do Mundo de 2018.
Destaque para o facto de a selecção nacional ter entrado hoje em campo com três jogadores titulares do Sporting (Rui Patrício, Fábio Coentrão e Gelson Martins) e outros três formados na Academia de Alcochete (Cédric, João Moutinho e Ronaldo). A melhor escola futebolística do País e uma das melhores da Europa.
Ronaldo a marcar o seu segundo golo - terceiro de Portugal
(Foto Filipe Amorim/O Jogo)
Grande jogo da selecção portuguesa, esta noite, frente à Hungria. Que terminou com uma categórica vitória da equipa das quinas, por 3-0, nesta campanha para a qualificação do Campeonato do Mundo de 2018.
Foi o quarto triunfo consecutivo da nossa selecção, com momentos de inegável brilhantismo - na sequência da conquista do Euro-2016 e deixando antever uma boa prestação portuguesa na Taça das Confederações.
Destaque para os três golos, de belo efeito.
O primeiro iniciado com um passe vertical de William Carvalho que pôs a bola nos pés de Cristiano Ronaldo, aproveitando este para adiantá-la numa oportuna desmarcação de Raphael Guerreiro, que num cruzamento perfeito ofereceu o golo a André Silva, eficaz à boca da baliza.
O segundo, iniciado num fabuloso passe longo de Pepe, contou com uma magnífica assistência de André Silva para Cristiano, que num fortíssimo remate rasteiro com o pé esquerdo colocou a bola no buraco da agulha da baliza húngara.
O terceiro nasceu de um livre directo após falta sobre Quaresma, que fez a cabeça em água à defesa magiar. Chamado a convertê-lo, Cristiano Ronaldo não perdoou: mais um pontapé muito bem colocado que fez levantar o estádio da Luz, onde se realizou a partida.
Com estes dois golos, o melhor jogador português de sempre soma já setenta ao serviço da selecção.
O Sporting e o Real Madrid, com dois jogadores cada, foram os clubes mais representados neste onze titular.
Em campo estiveram, de resto, oito profissionais formados na Academia leonina (Rui Patrício, Cédric, José Fonte, William Carvalho, João Mário, Ronaldo e Quaresma, além de João Moutinho, suplente utilizado).
Mas convém reconhecer que os três maiores clubes portugueses estiveram representados neste desafio da selecção: o Sporting (com Rui Patrício e William, que jogaram os 90 minutos), o FC Porto (com André Silva, substituído aos 67') e o Benfica (com Pizzi, último suplente a entrar, quando faltavam três minutos para o apito final).
Estes são dias em que as transmissões diárias dos desafios do Campeonato da Europa permitem separar o trigo do joio. Ficamos a saber quem é que, no enxame de comentadores e "analistas" dos jogos, entende mesmo de futebol e quem não percebe patavina.
Neste segundo lote destaca-se aquele que é talvez o palrador máximo da pantalha. Fala na proporção inversa do que sabe. Ainda há dias, como se estivesse numa conversa de café, declarava que o problema da selecção nacional é "eles correrem pouco". E concluía, contemplando a própria imagem num monitor de estúdio e repetindo sempre cada frase para preencher tempo de antena: "Deviam correr mais, deviam correr mais..."
Entre os que percebem realmente de futebol destaco alguém que não costuma pavonear-se nas televisões. Refiro-me a José Ribeiro, editor-chefe do jornal Record. Na edição de hoje, este jornalista explica de forma consistente e credível por que motivo jogadores como João Mário e William Carvalho renderam muito mais na segunda parte do Portugal-Hungria do que na primeira.
Passo a citar, com a devida vénia:
«William transformou-se, durante a primeira parte, na segunda "vítima" de Moutinho (a primeira fora Danilo): como o médio do Mónaco não está a conseguir ser dinâmico, "esconde-se" em espaços muito recuados, originando redundância de posicionamentos e funções na primeira fase de construção. Portugal voltou a ressentir-se desse problema. (...) Há um jogo com Renato que, neste momento, nunca pode existir com Moutinho. [No segundo tempo] o jogo da selecção transformou-se. O corredor central passou a ter vida e dinâmica. João Mário cresceu para os patamares habituais, de craque. E finalmente viu-se uma equipa com argumentos para poder discutir resultados. Com William vigilante, a cobrir-lhe as costas, este duo dinâmico foi capaz de "queimar" linhas e levar a bola para a zona de finalização. Não foi por coincidência, foi pela acção directa de Renato. E mesmo "sem" André Gomes em campo, aqueles dois carregaram o jogo e levaram a bola para onde ela tinha de estar. Onde ela não chegava com Moutinho.»
Palavras de um atento e sábio leitor do jogo. Com ele é possível aprendermos alguma coisa. Com o outro, o tal que adora mirar-se no monitor, ninguém aprende nada.
Um jogo atípico. A pior primeira parte e a melhor segunda parte de Portugal neste Europeu - excepto os dez minutos finais, que foram para esquecer. Com um balanço nada adequado aos nossos pergaminhos: três jogos, três empates frente a selecções que nunca conseguiram derrotar-nos. Terminamos a fase de grupos com apenas três pontos. Com vitórias em vez de empates, poderíamos ter nove.
O nó que hoje ficou por desatar deveu-se sobretudo ao descalabro do nosso quarteto defensivo, embora com diferentes responsabilidades na repartição de culpas. Os laterais fizeram o pleno pela negativa: nem souberam fechar o corredor a defender, nem conseguiram rasgá-lo a atacar.
Esta foi a faceta pior do Portugal-Hungria, disputado hoje em Lyon, no maior recente estádio francês, em tarde de calor e sol. O melhor foi Cristiano Ronaldo, que se mostrou enfim ao seu verdadeiro nível nesta partida: marcou dois dos nossos três golos, aos 50' e aos 62', e ainda foi dele a assistência para o inicial, muito bem apontado por Nani aos 42'. O primeiro dele, marcado com o calcanhar, foi uma obra de arte. Candidata-se desde já a melhor golo do Euro 2016.
Ao bisar desta forma, Ronaldo torna-se o maior goleador em fases finais de mundiais e europeus - e vão sete certames consecutivos a facturar. Torna-se também o segundo melhor marcador de campeonatos da Europa, já com oito golos - menos um que Michel Platini, ainda recordista com os nove que marcou pela França no Euro 84.
Dir-se-á que tudo está bem quando acaba bem: para já conseguimos alcançar o nosso primeiro objectivo - o acesso aos oitavos-de-final, em que defrontaremos a poderosa Croácia. O jogo será este sábado, às 20 horas. Sabendo-se desde já que os portugueses terão menos 24 horas de descanso que os croatas, ontem vitoriosos perante uma Espanha frágil e desarticulada.
Enfim, até agora não ganhámos nem perdemos - o que denota falta de ambição da selecção das quinas. Limitámo-nos a cumprir os mínimos. E com alguma sorte à mistura: a Hungria ainda nos enviou uma bola ao poste.
Transitamos para os oitavos mas sem termos conseguido melhor do que o terceiro lugar no nosso grupo, atrás de islandeses e húngaros. E até podíamos ter sido os primeiros se não fosse a insólita falta de ambição revelada por Fernando Santos, que mandou a equipa recuar a dez minutos do apito final quando dominávamos a Hungria - hoje desfalcada de quatro titulares - e o resultado estava 3-3. Bastaria mais um para sairmos vencedores. Do jogo e do grupo.
Estranhamente, o seleccionador trocou Nani por Danilo, reforçando o nosso meio-campo defensivo e dando sinal aos jogadores de que a ordem não era para avançar mas para recuar no terreno.
A partir daí todos se conformaram. E o jogo terminou de forma penosa, com uns e outros aparentando querer sair de campo mais cedo do que o relógio determinava. Notória falta de ambição. Uma lamentável falta de respeito pelos portugueses que continuam a apoiar esta selecção nos mais recônditos recantos do globo.
Portugal, 3 - Hungria, 3
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Ao contrário do que o resultado final indicia, não teve má prestação em campo. Simplesmente não podia ter feito melhor em nenhum dos golos. Esticou-se bem em qualquer dos casos, mas eram remates indefensáveis.
Vieirinha - Outra exibição muito apagada do nosso lateral direito, em défice ofensivo e defensivo. O pior são os centros, que continuam a sair-lhe de forma deficiente: ou remata contra os adversários ou cruza para terra de ninguém.
Pepe - Prestação oscilante. Saiu várias vezes de posição e revelou desentendimentos pontuais com Ricardo Carvalho. Alguns cortes deficientes, vários passes desperdiçados. Mas cavou o livre de que resultou o nosso primeiro golo.
Ricardo Carvalho - O menos mau do nosso quarteto defensivo, embora sem revelar o fulgor de partidas anteriores. Deu a sensação de que podia ter feito melhor no segundo golo que sofremos.
Eliseu - Rendeu Raphael Guerreiro devido a problemas físicos do lateral esquerdo titular. Tímido a atacar, inseguro a defender. Ao perder a bola proporciona o primeiro golo húngaro. No terceiro, não cobre o rematador como devia.
William Carvalho - Pouco influente na manobra ofensiva durante a primeira parte, melhorou de rendimento na etapa complementar, soltando-se, quando Fernando Santos percebeu enfim que Moutinho e André Gomes precisavam de sair.
Moutinho - Confirma-se: não está em forma. Por isso se estranha a insistência do seleccionador em fazê-lo alinhar enquanto deixa Adrien e Rafa no banco. Hoje só actuou no primeiro tempo. Esteve 45 minutos a mais em campo.
André Gomes - Em notória má forma física, errou muitos passes e andou escondido naquele confuso meio-campo português. Deu lugar a Quaresma aos 61' - e logo se percebeu a diferença. Custa entender porque foi hoje titular.
João Mário - De longe o melhor do nosso meio-campo. Mas isso só se tornou evidente na segunda parte, quando Moutinho e André Gomes já tinham saído. Aí carregou no acelerador e fez uma assistência primorosa para o primeiro golo de Ronaldo.
Nani - Ao contrário dos colegas, destacou-se mais na primeira parte - onde foi o melhor português em campo. Fez o golo do empate (1-1) aos 42'. E vão 20, em 99 desafios ao serviço da selecção. Esgotado, cedeu o lugar a Danilo aos 81'.
Cristiano Ronaldo - Uma partida quase perfeita do nosso capitão: dois golos marcados - um deles de calcanhar - e uma assistência para o de Nani. Foi ele que fez a diferença. Faltou-lhe apenas acertar nos livres: só um, defendido in extremis aos 29', levava selo de golo.
Renato Sanches - Voltou a ser suplente utilizado, rendendo Moutinho aos 46'. Superior ao colega, o que não era difícil, mas começou inseguro e demorou a encontrar posição em campo. Bom lance individual aos 57'. Um passe rasgado para Ronaldo aos 80'.
Quaresma - Está em excelente forma, o que voltou a confirmar-se frente à Hungria. Entrou aos 61', para substituir o apático André Gomes, e no minuto seguinte já estava a servir Ronaldo para o segundo golo - terceiro de Portugal.
Danilo - Substituição incompreensível. Saltou do banco aos 81', para reforçar o bloco defensivo, quando Portugal dominava e nos bastaria mais um golo para vencer e subir ao primeiro lugar no grupo. Não esteve mal. Mas entrou para quê?