«A opcão tomada por Hugo Vieira foi estúpida do ponto de vista desportivo porque é um ponto assente que o Benfica muito raramente dá titularidade a jogadores portugueses. E quando o faz são os da cantera e não os contratados na liga tuga. Portanto estatisticamente as suas chances de alguma vez fazer minutos pela equipa A eram, logo à partida, quase nulas.»
Lembram-se do Hugo Vieira, que chegou a estar em negociações com o Sporting há um ano e acabou por assinar pelo Benfica por quatro épocas? Recordam-se do que ele disse? Pois eu lembro-me. Não de o ver jogar, mas de o ouvir falar pelos cotovelos nessa altura. Chegou ao ponto de vaticinar que o Sporting iria "arrepender-se" de ter sido ultrapassado pelo outro clube da Segunda Circular. "Tenho a certeza que sim", declarou, categórico.
Ninguém o aconselhou, coitado, a jogar mais e falar menos. Já então o clube presidido por Luís Filipe Vieira contratava jogadores com o fim de os desviar do Sporting, como há pouco sucedeu com Pizzi, já remetido ao Espanyol apenas três dias depois de ter sido contratado, o que quase justifica destaque no Guinness Book.
No futebol, como na vida, convém medir o que se diz. Porque há palavras que batem no poste e entram na própria baliza, produzindo irreparáveis autogolos. Aposto que o Hugo já deve estar hoje arrependido de ter falado como falou.
Lembram-se de um rapaz chamado Hugo Vieira? Não temos ouvido falar muito dele ultimamente. O que não admira: três meses depois de ter merecido manchete do matutino A Bola, vestido com a camisola do Benfica, este miúdo eclipsou-se. As águias olharam para ele como se fosse um pintainho e remeteram-no para a segunda divisão espanhola, onde enverga agora as cores do Sporting de Gijón. Ironia das ironias: trata-se de alguém que esteve com um pé em Alvalade mas acabou por assinar pelos encarnados, alegou ele, por se tratar "de um clube do outro mundo".
Coitado: afinal nesta época não houve lugar para ele no tal "clube do outro mundo". É bem feito: este benfiquista desde pequenino, que nada quis com o nosso Sporting, foi afinal emprestado a um clube homónimo, embora com muito menos cotação na Europa do futebol e que joga num escalão inferior. Acabaram-se os grandes títulos na imprensa afecta aos encarnados. Hoje tem direito apenas a uma página interior do jornal O Jogo com um título que fala por si: "Não estou morto".
Resta ao ex-jogador do Gil Vicente o objectivo de "ajudar o Sporting de Gijón a subir de divisão". Parece já muito distante aquele dia 5 de Junho, em que gritava num título garrafal d' A Bola, a coroar uma longa entrevista de três páginas: "Sporting vai arrepender-se".
Aqui entre nós: arrependido está ele. Querem apostar?
O rapaz que o Sporting desistiu de contratar, em entrevista a A Bola (et pour cause...): (O Sporting vai arrepender-se?, pergunta o jornalista) «Tenho a certeza que sim - diz Hugo Vieira - foi uma possibilidade forte mas depois surgiu o Benfica e nem hesitei (...) desde miúdo que tinha uma vontade muito grande de jogar no Benfica». O Sporting vai arrepender-se? Acho que não. Perante esta manifestação de caráter do rapaz Hugo, os responsáveis do do clube decidiram bem. Nada de maçãs podres, nem de melancias. Já chega o que chega.
O que têm em comum Mantorras, Fábio Coentrão e Hugo Vieira, este recentemente contratado pelo Benfica? Todos eles queriam jogar no Sporting, mas acabaram a jogar do outro lado da Segunda Circular. Todos falaram antes de tempo, todos tinham aquele desejo de representar um clube diferente do qual acabaram por assinar. Só podemos dizer: temos pena. É a vida.
No caso do avançado ex-Gil Vicente a coisa é curiosa. Livre para assinar pelo Sporting, terá pedido um prémio chorudo que o clube só estaria disposto a pagar no final deste ano. O Benfica cedeu aos caprichos do jogador e ele lá foi parar à Luz. O mais curioso é que a política de desviar jogadores que estão a caminho de Alvalade é uma estratégia antiga e que dá frutos desde Eusébio. O Porto fez o mesmo ao longo dos anos, com os resultados que se conhecem. Esta situação merece uma resposta à altura e não é compatível com a passividade com que outras direcções lidaram com o caso. É caso para um maior distanciamento e para o fim dos vasos comunicantes com aqueles dois clubes. Não faz sentido o Sporting ter canais abertos e ter uma atitude ética quando outros clubes funcionam assim connosco. Ponto final.
{ Blogue fundado em 2012. }
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