Acho bem que quem de direito entenda que a eventual contratação do H. Postiga (que alguma imprensa diz merecer o interesse do Sporting e do Braga) seria um regresso ao "paulobentismo" (ou ainda pior) que, na hora que corre, não poderia deixar de ter consequências drásticas junto da massa associativa & pagante. Eu até nem acho mal a venda do Slimani, enquanto acto de gestão desportiva (embora tenha pena); agora para trazer de volta o HP é que não (por razões mais psicológicas do que outras, mas nem por isso menos válidas).
No futebol, como em tantas outras actividades, vale mais cair em graça do que ser engraçado. Helder Postiga é um daqueles que nunca cairão nas boas graças de muitos adeptos. No entanto, ao nível da selecção, a sua prestação é meritória. Os números falam por si: marcou até hoje 27 golos pelas cores nacionais. O que faz dele o sexto melhor goleador de sempre da selecção. Melhor que ele só Cristiano Ronaldo (48 golos), Pauleta (47), Eusébio (41), Luís Figo (32) e Nuno Gomes (29). Apresenta uma média de 0,41 golos por jogo.
Aqui o critério do gosto conta pouco. Porque não se trata de uma questão de opinião: é uma questão de facto.
Numa selecção com reduzido campo de recrutamento ao nível de pontas-de-lança, Paulo Bento vai certamente lembrar-se do goleador que já lhe resolveu várias partidas. A 4 de Junho de 2011 foi Postiga que marcou o golo do nosso triunfo tangencial sobre a Noruega que ajudou a carimbar o passaporte português para o Euro-2012. A 7 de Setembro de 2012, selou a vitória por 2-1 contra o Luxemburgo que abriu caminho à nossa campanha para o Campeonato do Mundo. A 7 de Junho de 2013, foi dele o golo solitário da selecção contra a Rússia - crucial na rota de apuramento para o Brasil.
Nesta campanha marcou seis golos em nove desafios. Golos que nos valeram seis pontos.
Permanece na memória de muitos aquela sua cabeçada decisiva que nos conduziu ao prolongamento - e posterior vitória - no confronto com a Inglaterra dos quartos-de-final do Europeu, a 24 de Junho de 2004. E também o golo de calcanhar que marcou a 17 de Novembro de 2010, na goleada de Portugal à Espanha recém-sagrada campeã do mundo.
Mesmo lesionado, este avançado de 31 anos agora ao serviço da Lazio (depois de representar o FC Porto, o Tottenham, o Sporting, o Saragoça e o Valência) deve recuperar a tempo de alinhar nos desafios do Mundial. Paulo Bento só pode desejar isso. Para não abdicar do seu talismã.
Não falta aí quem discorde do meu apreço pela veia goleadora de Helder Postiga, que tem ficado bem evidente na sua carreira em Espanha. Aqui fica o registo dos dois golos que acaba de marcar ao Barcelona: talvez ajude a dissipar algumas dúvidas. Reparem sobretudo no primeiro, marcado aos 44': é uma verdadeira obra de arte.
No último Campeonato da Europa de futebol, Paulo Bento confirmou ter fibra de líder ao recusar as mais desenfreadas pressões mediáticas para retirar Helder Postiga do onze titular e fazê-lo substituir pelo jovem Nélson Oliveira.
Saber que pode contar com Postiga é certamente algo que dá muita tranquilidade ao seleccionador.
O antigo avançado do Sporting é já o sexto jogador com mais golos marcados desde sempre na selecção portuguesa: 26, no total. E conseguiu a proeza de marcar em três Europeus (2004, 2008 e 2012).
Durante a fase de qualificação para o último Europeu, confirmando as expectativas que nele depositou Paulo Bento, marcou cinco golos. E outro na fase final, no decisivo desafio contra a Dinamarca.
Ao saber que acaba de transferir-se do Saragoça para o Valência por mais de três milhões de euros, depois de ter concretizado 23 golos naquele clube, interrogo-me uma vez mais se foi acertada a decisão tomada pelos responsáveis do Sporting, vai fazer agora dois anos, de despacharem Postiga para o Saragoça, como se abundassem pontas-de-lança em Alvalade. Por apenas um milhão, tendo ainda por cima metade dessa quantia rumado aos cofres do FC Porto, que detinha 50% do seu passe.
Acertada? Nem por sombras.
Péssima venda, péssima gestão desportiva, péssima gestão financeira. Num clube com absoluta carência de goleadores. Já precisávamos tanto deles nessa altura como precisamos agora.
Cristiano Ronaldo esforçou-se, mas hoje o jogo não lhe saiu bem. Foi pena. O capitão da selecção nacional merecia ter saído do estádio do Dragão com uma vitória que ficasse a assinalar a sua centésima internacionalização. Portugal empatou esta noite (1-1) com a Irlanda do Norte, uma selecção muito inferior mas que soube tirar partido de um golo conseguido aos 29' na sequência de um clamoroso erro defensivo português.
Numa partida disputada do primeiro ao último minuto debaixo de chuva copiosa e de um vento forte, e perante quase 50 mil pessoas, a nossa selecção demorou a reagir. Nem parecia a mesma selecção que ficou entre as quatro melhores do último Campeonato da Europa: baixa velocidade, pouca dinâmica, muitos passes errados, um estilo displicente em campo durante cerca de uma hora. A reacção surgiu tarde, sobretudo com a entrada em campo de Silvestre Varela, novamente o talismã da equipa comandada por Paulo Bento. Chegou só para empatar, já não para vencer.
Marcador do empate? Esse mesmo: Helder Postiga. Foi o seu 23º golo na selecção, o 11º na era Paulo Bento e o terceiro neste apuramento para o Mundial de 2014. Igualando a marca de João Vieira Pinto.
A vê-lo rematar com sucesso, uma vez mais, interrogo-me se foi acertada a decisão tomada pelos responsáveis do nosso clube, no Verão de 2011, de despacharem Postiga para o Saragoça, como se abundassem pontas-de-lança em Alvalade.
Com apenas cinco golos marcados até agora pelo Sporting em seis jogos do campeonato (um ao Marítimo, dois ao Gil Vicente e dois ao Estoril), já dei por mim a pensar como Postiga nos faz falta. E certamente não sou o único a pensar assim.
O plantel de Portugal é curto, mas ontem mais curto estava: faltava lá Helder Postiga, o único ponto-de-lança capaz de fazer Ronaldo render na Selecção, conforme três jogos e meio deste Euro (se necessário ainda fosse) ajudaram a tornar claro. Espero que todos os detractores do mais mal amado da nossa Selecção, à vista do que (não) fizeram Hugo Almeida e (sobretudo) Nelson Oliveira, tenham a humildade de o reconhecer. Aquela lesão muscular do jogo contra a República Checa, por absurdo que possa parecer, e numa meia-final tão equilibrada como a de ontem, pode-nos ter custado o primeiro título de seniores da Selecção. Mas daqui a dez ou vinte anos há mais.
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