Lembro-me do tempo - foi apenas há poucos meses - em que apareciam por aqui uns idiotas a insistir na contratação do Navarro, do Gil Vicente. Seria, esse sim, aquele craque de que o Sporting tanto necessitava para marcar golos e virar resultados. O rapaz acabou por rumar ao Porto, onde aquece com garbo o banco de suplentes.
Lembro-me do tempo - foi há menos meses ainda - em que outros idiotas, ou talvez os mesmos, apareciam aqui a rasgar Gyökeres, internacional sueco recém-contratado pelo Sporting, dizendo que "o Varandas" estava a torrar dinheiro, sem capacidade de gestão, sem a menor capacidade de identificar avançados realmente com qualidade.
Os tais idiotas chegaram ao ponto de comparar desfavoravelmente o Sporting com o Benfica, que acabara de contratar o Arthur Cabral, desembarcado na Luz com rótulo de goleador.
Decorrido cerca de um terço da época futebolística, que números temos? Estes:
«Gyökeres é um vulcão em constante ebulição e a sua capacidade física e psicológica, para além do conhecimento que tem de si próprio, fazem com que os adversários necessitem de recorrer a truques e truquinhos, muito próprios do nosso campeonato, procurando anular, de qualquer forma, aquele rolo compressor.»
Edwards, o maior desequilibrador do Sporting, conduz lance de ataque: não merecia esta derrota
Foto: Tiago Petinga
Que balde de água gelada. Que decepção tão profunda. Tivemos o pássaro na mão, controlámos a partida durante o tempo quase todo, mesmo com um jogador a menos, e vimos três pontos voar nos últimos quatro minutos, já na segunda metade do tempo extra.
Dificilmente esqueceremos este dérbi de anteontem, disputado no Estádio da Luz. Chegámos ao intervalo a vencer 1-0, com um golaço de Gyökeres marcado no último lance desse primeiro tempo. Nesse minuto 45, dezenas de milhares de adeptos benfiquistas assobiavam a equipa, vaiavam o treinador e preparavam uma onda de lenços brancos a esvoaçar nas bancadas, exigindo a demissão de Roger Schmidt.
Soçobrámos mesmo ao cair do pano. Foi traumático - ao nível daquele monumental falhanço de Bryan Ruiz a dois metros da baliza também frente ao Benfica, em Alvalade, que nos custou o campeonato de 2016.
Este jogo - o clássico dos clássicos do futebol português - começou com alguns erros da nossa equipa, que rapidamente equilibrou as forças. E ficou por cima. Com duas grandes hipóteses de golo, por Diomande e Pedro Gonçalves. Chegámos ao intervalo não só a vencer: também com melhor exibição do que o velho rival.
Tudo parecia correr bem. Mas temos uma vocação inata para darmos tiros nos pés quando o cenário é mais favorável. Desta vez começou com uma desconcentração de Gonçalo Inácio, que ao minuto 49 - sem qualquer necessidade, longe da baliza - provocou falta passível de amarelo. O problema é que, desde os 22', já tinha outro cartão desta cor. O árbitro Artur Soares Dias mostrou-lhe o vermelho. Ficámos a jogar só com dez desde o minuto 52.
Mesmo assim, fomos superiores. Controlámos o jogo, anulámos a desvantagem numérica, nem parecia que tínhamos um a menos. Lá na frente, Gyökeres trabalhava por dois. No meio-campo, Morten e Morita travavam as investidas encarnadas.
Quando o árbitro concedeu seis minutos de compensação, a massa adepta benfiquista fervilhava de indignação contra o técnico e vários jogadores, brindando-os com insultos.
Estranhamente, foi então que naufragámos. Termos um a menos não explica tudo, não explica isto.
Houve substituições inexplicáveis. Edwards, o mais criativo e desequilibrador, recebeu ordem de saída aos 57' para entrar St. Juste - não haveria outro jogador, menos influente, a retirar de campo? Aos 73', Rúben Amorim decide trocar Pedro Gonçalves por Trincão. Matheus Reis, visivelmente esgotado, teve de ceder lugar a Nuno Santos.
A mudança mais incompreensível aconteceu aos 85', quando o técnico leonino mandou sair Morita e fez entrar Paulinho. Não dava mesmo para entender. Sobretudo porque precisávamos de defender aquela magra vantagem e Daniel Bragança estava sentado no banco de suplentes, de onde não saiu.
E veio o descalabro. Quando já se dobrara metade do tempo extra, João Neves - o melhor do SLB - apareceu solto, livre de marcação, a 11 metros da nossa baliza. Teve tempo para tudo: num pontapé rasteiro, de ressaca, meteu-a lá dentro. Aos 90'+4.
Do mal, o menos: o empate ainda nos servia. Deixaria a classificação na mesma, mantendo o Sporting no comando com três pontos de vantagem sobre a equipa adversária.
Só era necessário conservar a bola em nossa posse, trocando-a, durante cerca de dois minutos. Se fosse necessário, praticava-se algum antijogo: nenhum sportinguista levaria a mal.
Mas nem isso conseguimos: aos 90'+7, deixámos via aberta para o Benfica virar o resultado. Passando de equipa derrotada, com seis pontos de atraso, para vencedora, estando agora no comando do campeonato - em igualdade pontual com o Sporting, mas com vantagem em golos.
Claro que nos faltou frescura física nessa fase crucial do jogo. Mas faltou sobretudo mentalidade competitiva.
Faltou espírito de sacrifício. Faltou competência.
Até porque alguns dos elementos que mais erraram ou nada adiantaram, nesses fatídicos minutos finais, tinham saltado do banco minutos antes. Estavam frescos. Refiro-me a Nuno Santos, St. Juste, Paulinho e Trincão. Incapacidade total para fechar linhas de passe do Benfica. Incapacidade para marcar com eficácia nas bolas paradas. Incapacidade de comando em campo: ninguém coordenou as manobras, era cada um por si.
Foi a nossa primeira derrota neste campeonato: desde Fevereiro que não perdíamos em competições nacionais. Mas foi também uma derrota muito amarga. E não vale a pena atirar as culpas para cima da equipa de arbitragem: os dois lances cruciais que oferecemos de bandeja ao Benfica não são dignos de uma equipa que sonha ser campeã nacional.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Monumental defesa em voo, aos 78', desviando um míssil disparado por Di María. Aos 12', tinha visto Rafa rematar ao ferro. Sem culpa nos golos sofridos.
Diomande - Travou duelos difíceis com Rafa. Arriscou penálti ao pisar Musa (9'). Criou a primeira oportunidade de golo num grande cabeceamento aos 30', para defesa apertada de Trubin.
Coates - Condicionado por ter visto amarelo logo aos 15', não se atemorizou. Fez valer a experiência em cortes precisosos, aos 55' e 61'. Não merecia aquele descalabro defensivo final.
Gonçalo Inácio - Duas vezes amarelado, por faltas desnecessárias (22' e 52'). Na primeira (pisão a João Neves) arriscou ver o vermelho. Já sem ele, jogámos mais de 40' só com dez. Para esquecer.
Esgaio - Esforçado mas sem grande rasgo, contribuiu para anular João Mário. Teve mais dificuldade em travar Guedes, a partir dos 85'. Défice no plano ofensivo, sem surpresa.
Morten - Pendular, organizador de jogo, distinguiu-se nas recuperações. Soube controlar e pausar o ritmo da equipa. Não está isento de culpa, também ele, no naufrágio à beira do fim.
Morita - Regressou de uma lesão, ainda com índices físicos aquém do desejável. Enquanto teve pulmão, cumpriu no essencial. Venceu duelos com Florentino. Saiu esgotado (85').
Matheus Reis - Cumpriu sobretudo no plano defensivo, com rigor e acerto nas marcações, neutralizando Di María. Substituido por Nuno Santos aos 73': saiu esgotado e magoado.
Edwards - Fez belo passe para golo que Pedro Gonçalves desperdiçou. Assiste no golo de Gyökeres. Injustamente amarelado aos 56' por simulação inexistente. Saiu logo a seguir.
Pedro Gonçalves - Soube a pouco. Não foi o desequilibrador que a equipa exigia, também por ter actuado em zonas mais recuadas. Desperdiçou um golo cantado aos 33'. Saiu aos 73'.
Gyökeres - O melhor Leão. Levou o Sporting para o intervalo em vantagem com um tiro do seu pé-canhão (o direito) sem defesa possível. Deu imenso trabalho a Otamendi e António Silva.
St. Juste - Rendeu Edwards (57') para compensar a expulsão de Gonçalo. Não se deu bem como central à esquerda. Cortes aos 67' e 69'. Mas falhou intercepção no segundo golo encarnado.
Nuno Santos - Substituiu Matheus Reis, sem vantagem para a equipa. Passivo no primeiro golo, deixou João Neves mover-se à vontade. No segundo, estendeu a passadeira no seu corredor.
Trincão - Entrou para o lugar de Pedro Gonçalves (73'). O melhor que conseguiu foi uma rosca lá na frente, fazendo a bola sair ao lado. Incapaz de segurar a bola nos minutos finais.
Paulinho - Saiu Morita, entrou ele. Aos 85'. Sem que ninguém compreendesse porquê. Andou engolido no meio-campo, incapaz de ganhar um lance aéreo. Atrapalhou mais do que ajudou.
De perder o clássico na Luz (2-1). Derrota mesmo ao cair do pano, com dois golos sofridos, aos 90'+4 e aos 90'+6. Um pesadelo em casa do nosso velho rival: no tempo regulamentar de jogo tínhamos mais 6 pontos do que o Benfica. Agora estamos em igualdade pontual.
De termos jogado com menos um durante mais de 40'. Gonçalo Inácio viu dois amarelos exibidos pelo árbitro Artur Soares Dias: o primeiro logo aos 22', o segundo aos 52'. O que lhe valeu o vernelho por acumulação de cartões ter-se-á devido a uma entrada intempestiva, à queima, mas as imagens não confirmam se chegou realmente a tocar em Rafa. De qualquer modo, se algum factor, do nosso lado, contribuiu para esta derrota tangencial na Luz foi sem dúvida este. Disputar um clássico de alta voltagem e com grande intensidade com apenas dez em campo conduz à exaustão física, potenciando um resultado negativo - que, mesmo assim, estivemos a escassos minutos de evitar. Após termos sido melhores enquanto jogámos onze contra onze.
De Gonçalo Inácio. Nervoso, intranquilo, desconcentrado, imprudente. Não jogará a próxima partida, o que lhe faz bem: precisa de uma cura de banco. Espera-se que aproveite este período fora do onze para reflectir sobre a quebra anímica que por vezes o afecta em confrontos especiais. Voltou a acontecer, na partida de ontem. Penalizando toda a equipa.
Da lesão de Geny. Infelizmente, o internacional moçambicano continua lesionado. Se estivesse em boa condição física, seria ele o titular da nossa ala direita. É muito mais dinâmico e acutilante do que Esgaio, incapaz de fazer cruzamentos bem medidos, hesitante e sempre tímido na manobra atacante. Não admira que o Benfica tenha conduzido a grande maioria dos seus ataques pelo corredor esquerdo - era ali que estava o nosso principal ponto fraco.
Da saída de Matheus Reis, magoado. Boa actuação do brasileiro, ontem titular no clássico: praticamente anulou Di María, sem temer o campeão mundial argentino. Infelizmente, por jogarmos em inferioridade numérica, foi ele um dos que mais acusaram desgaste fisico, acabando por ser substituído aos 73'. Nuno Santos, que o rendeu, teve desempenho muito inferior: deixou João Neves movimentar-se à vontade, sem marcação, no lance do primeiro golo encarnado. No segundo, andou desaparecido. Defender com os olhos não basta.
Das oportunidades não concretizadas. Com destaque para um cabeceamento de Diomande aos 30' que levava selo de golo e de um remate de Pedro Gonçalves aos 33' só com Trubin pela frente. Em ambos os casos, o guarda-redes ucraniano impediu que marcássemos.
De Rúben Amorim. Com dois dos três centrais amarelados (Coates também tinha visto cartão, logo aos 15'), o treinador hesitou em fazer a substituição em tempo útil. Devia tê-lo feito, até porque contava com St. Juste no banco. O holandês acabou por entrar, mas só aos 57', quando já estávamos com um a menos. Também pouco compreensível a troca de Morita por Paulinho aos 85', quando precisávamos de reforçar o meio-campo e não a linha avançada - havia Daniel Bragança, mas nem chegou a calçar. Enfim, nem estrelinha nem sabedoria no momento de mudar.
De termos sofrido a primeira derrota em jogos nacionais em nove meses. A última tinha sido em Fevereiro, contra o FC Porto. Terminou um ciclo de 24 desafios sem perder.
De termos desperdiçado a liderança da Liga 2023/2024. À 11.ª jornada, após cinco rondas no comando, mantemos os 28 pontos (cinco perdidos, nas deslocações a Braga e à Luz), agora em igualdade pontual com o SLB, mas em desvantagem no confronto directo. E com mais três do que o FCP. Mas estamos na luta. Com igual número de golos marcados e apenas mais dois sofridos do que o Benfica. Ainda há ainda muito campeonato por disputar.
Da falta de condições de segurança. Durante todo o jogo, foram sendo rebentados petardos no estádio. Nos minutos finais, registou-se uma autêntiva invasão de campo, com os adeptos do SLB a pisarem o relvado perante a total impotência dos assistentes de recinto desportivo. Qualquer semelhança entre um cenário destes e o Terceiro Mundo não é pura coincidência.
Gostei
De Gyökeres. Voltou a ser o melhor Leão em campo. Voltou a fazer o gosto ao pé. Mesmo muito marcado (por António Silva e Otamendi) destacou-se, na primeira oportunidade de que dispôs, ao marcar um golaço. Aos 45', no último lance da primeira parte, que nos abria as melhores expectativas para o segundo tempo.
De Edwards. Uma vez mais, foi ele o nosso maior desequilibrador. Primoroso passe para golo aos 33', isolando Pedro Gonçalves após neutralizar a defesa encarnada. E excelente passe vertical que lançou o internacional sueco para o primeiro golo da partida, aos 45'. Fixando o resultado ao intervalo. Já com a nossa equipa reduzida a dez, foi sacrificado aos 57' (saiu para a entrada de St. Juste). Fez-nos falta, com a sua evidente capacidade de criar lances de ruptura.
Do nosso desempenho colectivo até aos 90'+4. Ao terminar o tempo regulamentar, quando no estádio da Luz já havia sonoros assobios ao treinador alemão e a vários jogadores (João Mário foi alvo de uma vaia monstruosa, ao ser substituído no minuto 85) e começavam a ver-se lenços brancos nas bancadas, o onze leonino - reduzido a dez - demonstrava ser equipa unida, compacta e solidária. Tudo se desmoronou nos instantes finais, desta vez sem qualquer estrelinha: o segundo golo do SLB é validado por escassos 4 cm pelo VAR.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Farense, da Taça da Liga, pelos três diários desportivos:
Gyökeres: 21
Trincão: 19
Nuno Santos: 17
Gonçalo Inácio: 17
St. Juste: 16
Esgaio: 16
Diomande: 16
Pedro Gonçalves: 15
Matheus Reis: 15
Daniel Bragança: 14
Coates: 13
Paulinho: 13
Edwards: 12
Dário: 11
Neto: 11
Israel: 11
Os três jornais elegeram Gyökeres como melhor em campo.
Internacional sueco, "o suspeito do costume": ontem marcou três golos em Alvalade. Difícil ser melhor
Foto: António Pedro Santos / Lusa
Gostei muito de Gyökeres: grande atitude, excepcional entrega ao jogo, de longe o melhor em campo. Exibição coroada com três golos frente ao Farense, num desafio da Taça da Liga que vencemos por 4-2. Confirma-se: o sueco é não apenas o mais competente e brilhante jogador a actuar esta época no futebol português, mas uma das melhores contratações de sempre do Sporting. O preço que pagámos por ele é barato, ninguém duvida. Ontem cumpriu o 12.º desafio da temporada com um registo de 11 golos já apontados. Excelente média, contrastando com os Cabrais e os Navarros que aportaram aos nossos adversários com prestações medíocres ou inexistentes. Desta vez abriu o marcador aos 24', quatro minutos depois converteu um penálti e fechou a conta pessoal apontando um golaço aos 63'. Só justifica elogios. Os 22.800 adeptos que compareceram em Alvalade nesta chuvosa noite de quinta-feira certamente gostaram.
Gostei das mudanças feitas por Rúben Amorim na equipa. Desde logo apostando em Gonçalo Inácio como médio mais recuado, talvez já a prepará-lo para actuar ali quando Morita estiver ausente durante semanas ao serviço da selecção daqui a um par de meses. Exibição muito positiva: até parece rotinado na posição. Resultaram outras apostas no onze titular, de onde estiveram ausentes Adán, Coates, Morten, Geny, Morita, Edwards e Pedro Gonçalves. Nuno Santos (marcou o terceiro, de pé direito, aos 56') e Trincão fizeram os melhores jogos da temporada, com destaque para o minhoto: assistiu no primeiro golo protagonizando espectacular lance individual, foi ele quem sofreu a falta que gerou penálti e ainda levou Ricardo Velho à defesa da noite voando para deter um remate em arco dirigido ao ângulo superior direito da baliza. Eis um "reforço" que já tardava.
Gostei pouco que tivéssemos consentido dois golos, aos 49' e aos 79', com disparos fortíssimos de Mattheus Oliveira (um dos mais inúteis jogadores que passaram por Alvalade) e Vítor Gonçalves. Israel podia ter feito melhor? Dificilmente, mas ainda não oferece aos adeptos aquela segurança entre os postes que temos o direito de lhe exigir. Agradou-me ver Daniel Bragança com a braçadeira de capitão, mas continua a fazer tudo em esforço, incapaz de um passe de ruptura ou de criar lances de desequilíbrio na área do terreno onde se movimenta. Mesmo num jogo caracterizado por notório contraste no desempenho ofensivo: protagonizámos 25 remates, contra oito da turma algarvia.
Não gostei de Paulinho. Depois da "vitamina Gyökeres", no início da época, parece voltar a exibir os defeitos que lhe conhecemos de outros campeonatos. Muito condicionado pelas marcações, falhou emendas quase à boca da baliza em centros bem medidos de Esgaio (78') e Nuno Santos (87'). Atirou para a bancada logo aos 10', dando o mote a uma exibição sofrível. E é ele quem perde a bola, com displicência, gerando um rapidíssimo contra-ataque adversário que culminou no primeiro golo que sofremos.
Não gostei nada de ver Dário desperdiçar outra oportunidade de mostrar ao treinador que merece um lugar no plantel leonino. Entrou aos 72', rendendo Bragança, e a partir dos 83' o Farense passou a jogar só com dez por lesão de Zé Luís quando o treinador José Mota já tinha esgotado as substituições - e houve ainda 6' de tempo extra. Nem assim o jovem médio da nossa formação fez a diferença. Pelo contrário: entregou duas vezes a bola no minuto 86 e falhou uma tabelinha aos 88', com fraco domínio técnico. Não se nota evolução neste jogador, lamento concluir. Talvez valha a pena emprestá-lo, como já aconteceu com Mateus Fernandes.
Era um.jogo com tudo para correr mal caso o Sporting facilitasse, se Rúben Amorim insistisse em experimentar o 4-2-3-1 ou apostar em jovens menos preparados.
Não foi isso que fez. O Sporting entrou em campo com um onze muito diferente do Bessa, mas sólido e equilibrado. Praticou bom futebol e o resultado final (4-2) ficou adulterado pelo desperdicio atacante e pelos dois excelentes e improváveis remates do Farense.
Gyökeres foi claramente o melhor em campo, mas Inácio como trinco esteve excelente e Trincão fez enorme exibição com muito azar no remate ao golo.
Além de Trincão, St. Juste, Paulinho, Nuno Santos e Bragança (mesmo falhando clamorosamente nos remates) aproveitaram muito bem os minutos de que dispuseram. Israel ficou marcado pelos golos sofridos e Essugo voltou a entrar muito mal, talvez questão de nervos.
E agora? O acesso à final four da Taça da Liga está quase assegurado, o próximo jogo da Liga é no domingo.
Jogo a jogo, sem bazófias que só servem para dar ânimo aos adversários, como até um cego via há uns anos atrás.
«Trata-se de um fenómeno que gera tsunamis, nas proximidades da baliza adversária. Caracterizado pela capacidade de criar dinâmicas, absolutamente, imprevisíveis, constituídas por movimentos estonteantes, no relvado, de que resultam fortes instabilidades nas defesas contrárias. O furacão Gyökeres é um fenómeno futebolístico que tem gerado consequências devastadoras no adversário, causadas pela raça, compromisso e empenhamento muito pouco habituais nas nossas latitudes.»
«Gyökeres foi a melhor contratação do Sporting depois de Yazalde. Contratações com contornos semelhantes: Abraham Sorin foi a Buenos Aires para trazer Yazalde, muito assediado pelos tubarões europeus. Varandas foi mais perto, ao Reino Unido.»
Aqueles que ainda há três meses criticavam Frederico Varandas por contratar «um jogador tão caro» como Viktor Gyökeres agora andam por aí, sempre em tom muito crítico, a prever que a administração da SAD «não vai conseguir segurar» o internacional sueco no Sporting para além desta época.
Gyökeres saudado por Morten após ter marcado o golo de abertura contra o Arouca em Alvalade
Foto: Patrícia de Melo Moreira / AFP
Que diferença um ano faz. Na época 2022/2023 fomos incapazes de vencer o Arouca - que acabou por ficar em quinto na classificação final, só um lugar abaixo de nós. Empatámos lá (1-1) e perdemos cá (0-1).
Desta vez, tudo diferente. Triunfo por margem mínima (2-1), mas sem qualquer contestação. Com golos marcados por Gyökeres - who else? - aos 31', com assistência de Edwards, e por Morita aos 68', com assistência de Pedro Gonçalves. Os de Arouca marcaram aos 52', no nosso único lapso defensivo digno de registo.
Consumou-se a vingança.
Noutras partidas, antes desta oitava ronda disputada em Alvalade perante quase 37 mil espectadores, fomos menos pressionantes, menos enérgicos. Mas não nesta, que dominámos do princípio ao fim, com fome de bola e sede de conquistar pontos para mantermos a liderança a que ascendemos à sexta jornada.
Objectivo concretizado. Com os centrais actuando num desenho mais largo do que é habitual, dois interiores muito móveis (Pedro Gonçalves à esquerda, Edwards à direita) e Gyökeres sempre como referência atacante, prendendo dois ou até três defesas adversários. Mas sem estar plantado na grande área: o internacional sueco - melhor em campo - veio várias vezes buscar jogo a zonas mais recuadas e até junto da linha, tanto à esquerda como à direita. Paulinho desta vez não calçou: ninguém sentiu a falta dele.
Foi um Sporting veloz e compacto, sem perder a consistência, que se mostrou ao seu público. Que - vá lá - desta vez não assobiou a equipa. Guardou as vaias para o árbitro António Nobre, que entrou em campo decidido a dar show de cartões. Prejudicando o espectáculo. E penalizando sobretudo Diomande, castigado com dois amarelos exibidos injustamente. No primeiro lance, aos 29', houve um breve desaguisado entre o jovem defesa marfinense e um adversário. No segundo, aos 42', o apitador de turno mostrou-lhe o segundo amarelo - e mandou-o para a rua - por falta inexistente. Que o vídeo-árbitro não pôde reverter por estar fora do seu âmbito a análise de duplos amarelos.
Expulsão injusta, sim. Num péssimo momento para nós, a escassos minutos do intervalo. Mas era o que faltava se mesmo só com dez não fôssemos capazes de derrotar o Arouca no nosso estádio.
Houve quem dissesse que estes três pontos foram «arrancados a ferros». Discordo. O golo da vitória leonina entrou nas redes arouquenses aos 68'. Depois, com um jogador a menos, gerimos bem a vantagem - sem qualquer oportunidade adicional para a turma forasteira.
«Arrancada a ferros» foi a vitória do Benfica no Estoril, com o golo solitário marcado por um central aos 90'+3. «Arrancada a ferros» foi a vitória do Braga em casa contra o Rio Ave: aos 90' perdia 0-1, tendo marcado dois golos no tempo extra.
Há aspectos a melhorar no Sporting? Claro que sim.
Mas à oitava jornada sinto a irresistível tentação de olhar para o copo e vê-lo meio cheio, não meio vazio.
Alguns dados:
- Estamos invictos há 22 semanas;
- Marcamos golos há 16 jornadas seguidas;
- Temos mais nove pontos do que há um ano.
Poderá haver ainda alguém capaz de negar que a época em curso está a ser a melhor desde a inesquecível campanha de 2020/2021 em que conquistámos três títulos e troféus, incluindo o campeonato nacional de futebol?
Este desafio contra o Arouca só confirmou isso.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Sem culpa no golo sofrido, quase à queima-roupa, após descoordenação dos centrais. Defesa apertada aos 83'. Já no período extra, repôs muito mal a bola duas vezes, com os pés.
Diomande - Saiu aos 42', por acumulação de amarelos, de modo totalmente injusto. No segundo lance, nem sequer faz falta: o árbitro foi na péssima fita antidesportiva do jogador do Arouca.
Coates - Exibição de bom nível apenas maculada pela deficiente cobertura de Mújica, que fez o que quis frente à baliza, fuzilando Adán. Por mau entendimento entre o capitão e Matheus Reis.
Gonçalo Inácio - Cada vez mais maduro, mostrando a Roberto Martínez que tem lugar no onze titular da selecção. Destacou-se na qualidade dos seus passes longos em fase de construção.
Esgaio - Actuação suficiente, mas sem rasgo. Falta de capacidade para criar desequilibrios no corredor direito e centrar com perigo lá na frente. Jogou quase sempre só pelo seguro.
Morten - Voltou a mostrar qualidades após duas péssimas exibições em que já não voltou do intervalo. Destacou-se sobretudo nas recuperações e na precisão do passe.
Morita - Tornou-se elemento nuclear deste Sporting 2023/2024. Fundamental para assegurar a ligação entre o meio-campo e o ataque. Marcou o golo da vitória, à ponta-de-lança.
Nuno Santos - Desperdiçou duas ocasiões soberanas de golo. Anda num período complicado: não devia ter mudado a cor do cabelo. Passou ao lado do jogo. O treinador mandou-o sair aos 58'.
Edwards - O avançado algo apático que pecava por falta de entusiasmo parece ter emigrado. O inglês volta a estar em grande forma. Serviu Gyökeres, de forma exemplar, no primeiro golo.
Pedro Gonçalves - Tentou protagonizar lances de ruptura entre linhas, nem sempre com sucesso, mas foi sempre batalhador. Recompensado com a brilhante assistência para o golo de Morita.
Gyökeres - Alguém duvida que é o melhor jogador desta fase inicial do campeonato? Marca há cinco jogos consecutivos. E não desiste de um lance. Fôlego inesgotável do princípio ao fim.
Matheus Reis - Substituiu Edwards na segunda parte, compensando a inesperada ausência de Diomande. Distraiu-se no lance do golo sofrido. No capítulo do passe, só cumpriu os mínimos.
Geny - Voltou a entrar bem. Em campo desde os 58', substituindo Nuno Santos, esteve muito próximo de marcar num tiro que levava selo de golo (85'), travado in extremis pelo guarda-redes.
Eduardo Quaresma - Estreou-se esta época na equipa principal rendendo Esgaio (58'). Nervoso, intranquilo, algo atabalhoado. Viu o amarelo aos 62'. Saiu meia-hora após ter entrado.
Daniel Bragança - Substituiu Morten aos 82'. Desta vez não foi contemplado com nenhum cartão, ao contrário dos jogos anteriores. Grande recuperação aos 87'.
Neto - O veterano internacional entrou aos 88', substituindo Quaresma. Apenas com a missão de contribuir para segurar a bola quando o Sporting já aguardava o fim do jogo.
Penso que todos entenderão que a experiência dum jogo de futebol no estádio é muito diferente do mesmo pela TV. Eu sempre que vou ao estádio, como fui hoje, quando chego a casa fico a rever o jogo na TV, até para assentar ideias sobre o que vou dizer nesta rubrica. Digamos então que fico com duas perspectivas sobre a mesma realidade.
E a realidade deste jogo foi que um APAF Nobre parece que entrou em campo com a missão de roubar pontos ao Sporting. Nem o APAF Faustino da Sport TV, no meio de muitos elogios à boa forma do amigo Nobre, mesmo fugindo ao que foi a intervenção sempre inclinada do mesmo e às qualificações que a senhora sua mãe foi recolhendo das bancadas, conseguiu fugir à evidência que a expulsão de Diomande foi uma vergonha sem explicação que podia ter sido mais um atentado à verdade desportiva desta Liga. Fica apenas a dúvida sobre a boa forma do Nobre apregoada pelo APAF Fustino. Boa forma relativamente a quê exactamente? Cumprir a missão? A soldo de quem?
Retirando o APAF Nobre da equação, o Sporting entrou em campo com as ideias bem definidas sobre o que tinha que fazer, rodar a bola à frente do 5-4 do Arouca até encontrar o momento de lançar um médio ou um interior em profundidade. Ou então de pôr a bola no sueco, que ele havia de encontrar a solução. E sem o Arouca produzir qualquer lance de ataque digno desse nome, o Sporting estava a ganhar por 1-0 num óptimo cruzamento de Edwards.
Depois, com o Arouca nas cordas a suplicar que o intervalo chegasse, era apenas marcar o segundo e controlar na segunda parte. Enfim, sem as asneiras cometidas contra o Vizela.
Mas o APAF Nobre achou que não podia ser assim tão simples. Depois duma situação em que Diomande é vítima sai o primeiro amarelo “salomónico”, faz-se estúpido o suficiente para acreditar na palhaçada do jogador do Arouca sem ter visto seja o que for porque nada havia para ver e expulsa Diomande. Pouco depois, achando que ainda era pouco, inventa um amarelo a Edwards. Com tanta cacetada que o Arouca foi dando, quantos amarelos contava o Arouca ao intervalo? Penso que zero.
Veio o intervalo, a senhora mãe do árbitro foi mais uma vez ofendida pela vergonha que o filho APAF estava a produzir e Rúben Amorim tratou do óbvio: tirar o próximo candidato à expulsão mesmo que Edwards estivesse a ser o abre-latas de que a equipa necessitava.
Em vantagem numérica ao intervalo e com alguns reajustamentos, o Arouca reentrou com confiança e com a lição bem estudada, passou a dominar e a conseguir fazer ao Sporting o que o Sporting lhe tinha feito em vantagem numérica. Num lance com alguns pontos em comum com o do golo do Sporting, alcançou o empate. A basculação proporcionou um centro excelente a que o ponta de lança correspondeu com uma bela cabeçada.
Consentindo o empate, a ter de ganhar o jogo em desvantagem numérica, parecia que o pior ainda estava para vir. Quando entraram Quaresma e Catamo, saindo Esgaio e Nuno Santos, ainda o pior se tornou mais provável, pela falta de capacidade defensiva dum e doutro.
Quaresma logo fez aquilo que eu temia, um falta clara para amarelo, e mais uma vez a equipa ficou próxima de ficar com nove. Ainda conseguiu escorregar noutro momento que obrigou a uma intervenção SOS de Coates que se o APAF Nobre marcasse penálti alguém ainda iria dizer que o Coates tinha sido burro e se tinha colocado a jeito como o Diomande.
Então, tal como aconteceu em Braga há quase três anos, quando o APAF Dias quis roubar o título ao Sporting, aconteceu o milagre. Do nada, o Pote de ouro descobriu um centro, e do centro o Morita fez um golo.
De novo a ganhar, o Sporting adoptou a fórmula “Inácio”, não falo do Dragão de Ouro e péssimo director desportivo de Bruno de Carvalho, falo do treinador campeão nacional pelo Sporting. Bola no Adán, pontapé por alto para o Acosta de serviço, que só em falta é que lhe tiram a bola.
As faltas grosseiras foram acontecendo, os amarelos também para os do Arouca, um deles foi expulso e o Sporting chegou ao fim com uma vitória mais do que merecida pelo que fez em campo.
Sobre o APAF Nobre não digo mais nada. Diz e muito bem o Cantinho do Morais.
Melhor em campo? Claramente o Super Viktor.
Piores ? Os dois alas, Esgaio e Nuno Santos. Qualquer semelhança com Porro e Nuno Mendes é pura coincidência. Muita da eficácia ofensiva do Sporting se vai perdendo por ali.
Gyökeres: melhor em campo no Sporting-Arouca e melhor jogador do campeonato português
Foto: Manuel de Almeida / Lusa
Gostei
Da vitória sofrida mas justíssima do Sporting. Derrotámos o Arouca por 2-1 em Alvalade. A mesma equipa que não conseguimos vencer nas duas voltas do último campeonato, a mesma equipa que já impôs um empate ao FC Porto no Dragão. Um triunfo alcançado em circunstâncias difíceis, pois jogámos só com dez desde o minuto 42.
De Gyökeres. Simplesmente o melhor futebolista do campeonato 2023/2024 - alguém duvida? À oitava jornada, segue com seis golos marcados (mais dois na Liga Europa). Foi ele a inaugurar ontem o marcador, aos 31', à ponta-de-lança. Mas também fez de extremo, à esquerda e à direita, durante o jogo todo - correu quase 11km neste Sporting-Arouca. Ajudou no processo defensivo: desarme espectacular aos 85'. E ainda fez expulsar um adversário aos 87'. Melhor em campo? Claro que sim.
De Edwards. Foi ele a criar o maior número de desequilíbrios enquanto esteve em campo. Exibição muito positiva, culminando na assistência para o golo inicial, com passe de ruptura milimétrico para o internacional sueco. Foi sacrificado, já não regressando ao relvado após o intervalo, porque Rúben Amorim precisava de dispor a equipa de outra forma após a expulsão de Diomande, mas merece nota muito positiva sem favor algum.
De Pedro Gonçalves. Desta vez não marcou, mas deu a marcar: foi ele a inventar o segundo golo, que nos valeu os três pontos, num belíssimo lance individual em que desbaratou metade da defesa arouquense. Contribuiu também para abrir espaços lá na frente e nunca descurou o trabalho colectivo, pressionando o portador da bola, condicionando a manobra de penetração dos adversários, pausando o jogo quando era necessário. Está a voltar à boa forma que lhe conhecemos de outros campeonatos.
De Morita. Muito útil como elemento de ligação entre o meio-campo e a linha ofensiva. Não perdeu um duelo individual: dotado de uma técnica muito acima da média, o internacional nipónico nunca dá descanso às equipas adversárias - voltou a acontecer esta noite frente ao Arouca. E deu enorme alegria aos adeptos quando marcou o golo decisivo, que fixou o resultado, aos 68'. Carregador de piano e virtuoso do violino em simultâneo.
De Geny. Voltou a entrar muito bem, pelo segundo desafio consecutivo. Desde o minuto 58 em campo, abanou o jogo, acelerou o ritmo no corredor direito e esteve quase a marcar o terceiro golo, num forte disparo em arco com o seu potente pé esquerdo que o guarda-redes Arruabarrenna impediu rubricando a defesa da noite.
Da homenagem a Laszlo Bölöni antes do jogo. O último treinador que nos deu a dobradinha, em 2002, estava visivelmente emocionado ao ver quase 37 mil espectadores nas bancadas a aplaudi-lo em pé. A gratidão é bonita na vida - e no futebol também. Foi bom rever em Alvalade o técnico romeno que nos deixou saudades.
De termos conquistado 22 pontos em 24 possíveis. Mais nove do que na mesma fase do campeonato anterior. Eficácia sem margem para dúvida. Marcámos até agora em todos os jogos. Aliás estamos há 16 jornadas seguidas a marcar.
De termos cumprido outro jogo sem perder na Liga. Se somarmos as 14 rondas finais do campeonato anterior às oito decorridas deste, são já 22 desafios seguidos sem conhecermos o amargo sabor da derrota. Venham mais assim.
De ver o Sporting no topo do campeonato. Terceira jornada no comando da prova, segunda como líderes isolados. Tendo como meta reeditar a cavalgada heróica que nos conduziu ao título máximo do futebol português em 2021. Após esta quarta vitória consecutiva na Liga, seguimos com mais um ponto do que o Benfica (que tem 21) e mais três do que o FC Porto (que tem 19). Enquanto estes nossos adversários tiveram vitórias ainda mais suadas do que a nossa, ambas conseguidas mesmo ao cair do pano - o SLB venceu o Estoril por 1-0 com golo aos 90'+3, o FC Porto não conseguiu melhor do que uma vitória caseira contra o Portimonense, também por 1-0.
Não gostei
Da expulsão de Diomande. Viu o segundo amarelo - e consequente vermelho, sem possibilidade de intervenção do VAR - aos 42', por conduta "negligente" que só o árbitro António Nobre enxergou. Decisão errada deste apitador que tudo fez para ser a estrela da noite, distribuindo 13 cartões amarelos (que geraram dois vermelhos) com critério disciplinar mais do que duvidoso. Percebe-se cada vez melhor por que motivo as equipas de arbitragem portuguesas têm ficado fora das grandes competições internacionais.
Da falha da nossa defesa no golo sofrido. Aos 52', Mújica movimentou-se inteiramente à vontade entre os centrais, Coates e Matheus Reis, já depois de o extremo esquerdo, Jason, ter centrado sem oposição. Um lance que nos impediu de chegar ao fim desta partida com folha limpa e manteve em dúvida o resultado durante os 16' seguintes, até a dupla Pedro Gonçalves-Morita construir o golo do triunfo.
De Eduardo Quaresma. Teve a primeira oportunidade de actuar nesta época na equipa principal: o treinador deu-lhe ordem para entrar aos 58'. Esteve apenas meia hora em campo: perdeu vários duelos, foi permeável como lateral direito e viu um amarelo logo quatro minutos após ter entrado. Podia ter visto um segundo pouco depois, sobretudo atendendo ao critério disciplinar do árbitro. Já com o resultado em 2-1, Amorim trocou-o por Neto aos 88'. Oportunidade perdida para o jovem defesa formado em Alcochete. Falta saber quando haverá a próxima. Talvez não esteja para breve.
Gyökeres voltou a ser o melhor Leão em campo: marcou dois golos e foi ele quem mais lutou
Foto: Luís Forra / Lusa
Os leitores do És a Nossa Fé, sempre muito optimistas em matéria de prognósticos, vaticinaram uma vitória clara - e nem faltaram previsões de goleada. Contra o Farense, anteontem, no sempre difícil estádio de São Luís.
É verdade que esta equipa andou pela Liga 2 e só no início desta época retomou o convívio com os chamados grandes. Mas não é menos factual que constitui sempre um adversário duro.
Já tinha derrotado, ali mesmo, o Braga por 3-1.
Já quase tinha imposto um empate ao FC Porto no Dragão, em desafio que chegou aos 12 minutos de tempo extra: só um golo mesmo ao cair do pano permitiu aos portistas amealharem três pontos nessa partida.
Manda a prudência não embandeirar em arco, atendendo sobretudo a estes precedentes que não podem ser ignorados. No entanto, pareceu-me ver alguma sobranceria do Sporting em campo. Talvez devido ao facto de termos iniciado a jornada no comando do campeonato - em igualdade pontual com o FCP, é certo, mas com maior vantagem em golos marcados e sofridos.
Sobranceria que se ampliou com a vantagem por duas bolas conseguida muito cedo.
Primeiro golo na conversão de um penálti, por Gyökeres, aos 21' - acrescido do bónus de termos passado a jogar com um a mais devido à expulsão do defesa da turma algarvia que travou a bola com o braço.
Segundo golo - um golaço - marcado aos 35' por Pedro Gonçalves, que parece ter recuperado a boa relação com a baliza adversária.
Tínhamos dupla vantagem: onze contra dez no relvado e dois de avanço no marcador. Durou pouco, muito pouco: aos 36', sofremos um golo, de livre directo, punindo falta totalmente desnecessária cometida por um Morten em noite não. O dinamarquês foi poupado a um segundo amarelo por entrada imprudente que poderia - e talvez devesse - ter-lhe valido a expulsão. Fez bem Rúben Amorim em deixá-lo de fora ao intervalo.
O segundo tempo voltou à toada mole, pastosa e previsível evidenciada pelo Sporting noutras partidas. Apenas Nuno Santos e Gyökeres pareciam cheios de vontade de sair de Faro com os três pontos.
No meio-campo, Morita não chegava para as encomendas. À frente, Paulinho tentava marcar sem conseguir. O nosso corredor direito não funcionava: Esgaio teve fraca prestação e Geny, que o substituiu, conseguiu fazer pior.
Para cúmulo, tínhamos perdido o nosso capitão logo aos 11': Coates saiu com queixas musculares.
Mas estava escrito nas estrelas (a tal estrelinha) que não era dia para perdermos pontos. Aos 90', Edwards introduziu-se na grande área e sacou o segundo penálti da noite - logo assinalado pelo árbitro Luís Godinho sem que o VAR, Manuel Mota, o contrariasse.
Chamado a batê-lo, Gyökeres voltou a brilhar fixando o resultado: 2-3. Saiu do São Luís com o seu segundo bis de verde e branco, subiu para o topo da lista dos nossos melhores artilheiros desta época e devolveu a alegria aos adeptos que já desesperavam com a desinspirada exibição do colectivo leonino.
A verdade é que reforçámos a nossa posição no comando do campeonato, que agora lideramos isolados beneficiando da derrota do FCP na Luz. Algo que não sucedia desde 19 de Maio de 2021 - data em que terminou o campeonato de melhor memória dos últimos 20 anos.
Estamos por cima, com todas as outras equipas atrás de nós, 862 dias depois. Motivo mais do que suficiente para haver alegria. Excepto entre aqueles que fazem questão de andar com o passo trocado: celebram quando perdemos, entristecem-se quando ganhamos.
Felizmente são muito poucos. Autêntica minoria absoluta.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Mattheus Oliveira, ex-Sporting, derrubou-o com dois livres directos (36' e 55'): o espanhol é já o guarda-redes que mais sofre golos destes na Liga. Fez boa defesa aos 81', mas soube a pouco.
Diomande - Não comprometeu, mas foi incapaz de marcar a diferença num dos seus trunfos: o início de construção progredindo com a bola controlada. Grande desarme aos 79'.
Coates - Integrou o onze, mas parou de súbito aos 10' sem conseguiu jogar mais. Talvez devido a sobrecarga muscular. Forçou o treinador a mudar bem cedo o trio defensivo.
Gonçalo Inácio - Central à esquerda, passou para o meio com a saída de Coates. Desta vez não se distinguiu com os seus passes longos. Amarelado, está à bica: já é o quarto.
Esgaio - Actuação insuficiente. Não apenas no capítulo ofensivo, com pouca eficácia nos cruzamentos que foi tentando, mas também nos confrontos individuais: nem um só duelo ganho.
Morten - De longe a pior exibição de Leão ao peito. Amarelado aos 36', por falta inútil de que resultou o livre e o primeiro golo do Farense, reincidiu seis minutos depois. Podia ter sido expulso.
Morita - O desnorte do dinamarquês, seu parceiro no meio-campo, prejudicou o nipónico, chamado a apagar fogos num raio de acção demasiado longo. A equipa perdeu com isso.
Nuno Santos - Um dos mais inconformados. Tentou marcar, sem sucesso (24'' e 50'). Impecável a servir Paulinho (69'). Amarelado por jogo perigoso, aos 55': esse livre contra nós gerou golo.
Edwards - Após ter brilhado no jogo anterior, baixou neste - devido à forte marcação de que foi alvo. Grande cruzamento para Paulinho (57'). É ele a sacar o penálti que nos valeu a vitória (87').
Pedro Gonçalves - Assinou um golão, num disparo rasteiro e muito bem colocado, pondo o SCP a vencer por 2-0 em Faro. O nosso primeiro penálti nasceu de um remate dele à baliza.
Gyökeres - O mais batalhador dos nossos: nunca desiste de um lance, mesmo a lutar contra dois ou até três. Irrepreensível na marcação das grandes penalidades, ambas indefensáveis.
Matheus Reis - Entrou aos 12', substituindo Coates mas jogando como central à esquerda. Demasiado contido, sem fazer a diferença. Parece atravessar uma crise de confiança.
Paulinho - Fez toda a segunda parte, colmatando a saída de Morten. Podia ter marcado em duas ocasiões: numa cabeceou por cima, noutra viu a bola travada pelo guarda-redes Ricardo Velho.
Geny - Entrou aos 58', rendendo Esgaio. Sem benefício para a equipa. Demasiado colado à linha, demasiado agarrado à bola, demasiado permeável no confronto com os adversários.
Daniel Bragança - Substituiu Nuno Santos aos 83'. No minuto seguinte já estava a ver o amarelo por falta desnecessária. Incapaz de se evidenciar no controlo, transporte e passe de bola.
Desde o apito inicial do árbitro o Farense do Mota, velha raposa. disse ao que vinha. Pontapé para a frente, correrias e choques, que convidavam o Sporting a embarcar num futebol de "costa a costa". E o Sporting foi no engodo ainda mais quando deixou de ter a voz de comando do capitão Coates, com Morita e Huljmand bem perto do tridente ofensivo, e os lances de perigo a sucederem-se na área adversária. Surgiu o penálti e merecida expulsão, o Farense ainda mais insistiu no "kick and rush", veio depois o golaço de Pedro Gonçalves) e o resultado estava feito. Bastava recuar linhas, circular a bola, tapar caminhos sem cometer faltas e deixar Edwards e Gyökeres aproveitar o espaço atrás da linha de pressão do Farense.
Mas o que é que se viu? Reposição de bola em jogo tipo "rugby" pelo Farense, equipa a dormir, Huljmand a ser um anjinho e a ir na palhaçada do adversário. Amarelo, livre directo à entrada da área e remate indefensável dum dos maiores flops que entraram em Alvalade no tempo do Jorge Jesus.
O Sporting, mesmo assim a ganhar, fez o que nunca devia ter feito. Em vez de procurar serenar o jogo, recuando os médios e circulando a bola pelas laterais obrigando o Farense a desposicionar-se, voltou ao registo inicial, os dois médios bem avançados, a tentar matar as saídas do Farense à nascença e resolver o jogo. Por pouco o mesmo Huljmand não viu o segundo amarelo, por uma entrada completamente escusada em zona avançada do campo. Já no final do primeiro tempo Edwards foi sofreu um empurrão com o braço e não com o ombro em plena área do Farense que podia ter dado o penálti que acabou por surgir no final dum lance se calhar menos óbvio.
Huljmand tinha de sair e saiu, esperava-se Bragança, entrou Paulinho para com Gyökeres amarrar os defesas contrários e dissuadir as correrias desde trás. A equipa começou bem a segunda parte, com calma, circulando a bola, criando oportunidades sem as conceder ao adversário. O jogo estava tão controlado que Nuno Santos, depois de ter aquecido as mãos ao guarda-redes adversário, quis ganhar o prémio Puskas do pontapé de bicicleta do ano, que o jogador adversário bem aproveitou para a palhaçada da ordem, cartão amarelo, livre frontal e outro grande golo de Mattheus Oliveira.
Tal como aconteceu com o Vizela, dum jogo completamente ganho, passámos a ter de voltar a marcar contra um adversário com menos um jogador mas com a moral no topo. E voltámos ao descontrolo do primeiro tempo, muita vontade e pouco discernimento, com oportunidades para marcar mas também a permitir contra-ataques que poderiam dar um "hat trick" ao Mattheus. E só com uma enorme defesa do Adán isso não aconteceu. Finalmente entrou Bragança para demonstrar mais uma vez que não tem estofo físico para estes jogos, logo fez uma falta escusada que originou mais uma oportunidade para livre directo que felizmente Mattheus Oliveira resolveu endossar a um companheiro que rematou para a bancada.
Já o jogo se aproximava do final e o empate parecia inevitável, quando Edwards fez mais um dos seus slaloms pela área adversária e o ex-Porto deixou para trás a perninha marota que o derrubou. Lá veio o penálti que Gyökeres, uma vez mais, não desperdiçou.
Tudo somado, o Sporting pôs-se a jeito para deixar pontos no São Luís, muito por culpa da falta de voz de comando dentro do campo depois da saída do capitão Coates. Nem Inácio, nem Morita, menos ainda Huljmand o substituiram nesse aspecto. Com as incidências do jogo a equipa foi sendo cada vez menos inteligente, sempre a jogar na sofreguidão e a ir no jogo que mais convinha a um adversário em inferioridade numérica mas a jogar no seu pequeno campo e com os seus vibrantes adeptos.
Grande jogo deste Farense. A jogar assim vai ser mesmo muito difícil para qualquer equipa passar no São Luis esta época.
Mas o futebol que serve os interesses do Farense não é o mesmo que serve os interresses do Sporting. Ontem faltou muita inteligência ao futebol do Sporting.
E agora? Desfrutar do primeiro lugar na Liga, concentrar na recepção à Atalanta.
Melhor em campo? Gyökeres, por ter marcado exemplarmente os dois penáltis.
Gyökeres muito cumprimentado pelos companheiros: bisou a converter penáltis
Foto: Luís Forra / Lusa
Gostei
De ver o Sporting ultrapassar um adversário muito difícil. Saímos do estádio de São Luís com uma vitória suada (2-3) mas nem por isso menos saborosa: o Farense é sempre uma equipa muito complicada. Como bem sabe o Braga, que perdeu neste mesmo estádio por 3-1. Como bem sabe o FC Porto, que arrancou a ferros uma vitória tangencial ao onze algarvio no Dragão - com o golo decisivo marcado aos 90'+10.
De Gyökeres. Soma e segue: mais dois golos no seu currículo. Leva agora seis de verde e branco - cinco na Liga - e ascende ao primeiro posto da nossa galeria de artilheiros. Foi ele o homem do jogo ao bisar de grande penalidade de modo irrepreensível. Primeiro aos 21', depois aos 90', sentenciando a partida e fixando o resultado. Mas não se limitou a marcar: foi um batalhador incansável. Sempre a disputar a bola mesmo policiado em permanência por dois defesas adversários.
De Pedro Gonçalves. Excelente notícia, ter voltado a afinar a pontaria: marcou um belo golo (o seu segundo da temporada) aos 35'. Um golaço, com remate rasteiro, forte e muito bem colocado na sequência de um canto. Confirmando que o Sporting, nesta época, tem elevado índice de aproveitamento dos chamados lances de "bola parada". Pormenor a salientar: nos dois penáltis, que em princípio deveria ter sido ele a bater, fez questão de oferecer a bola a Gyökeres, dividindo com ele o protagonismo neste jogo. Bonito gesto de companheirismo: merece ser enaltecido.
De Mattheus Oliveira. Não está aqui por engano, apesar de actuar pelo Farense: merece mesmo destaque. Fez a melhor partida desde que está em Portugal, marcando os dois golos da sua equipa (aos 36' e aos 55'), ambos na conversão de livres directos que Adán foi incapaz de travar. Dois estupendos remates que pareceram soar a vingança contra o Sporting, onde o médio ofensivo filho do antigo campeão mundial Bebeto esteve sob contrato mas quase não foi utilizado - só disputou quatro jogos na nossa equipa principal. Talvez não volte a fazer um jogo com o brilhantismo deste, em que esteve perto de marcar o terceiro, em lance corrido (grande defesa de Adán aos 81').
Da atmosfera no estádio. Bancadas cheias, apoio incessante às duas equipas do princípio ao fim. Quase tudo irrepreensível, excepto o arremesso de tochas e potes de fumo para o relvado no início do encontro. Pelos mesmos de sempre, que forçam o Sporting a pagar largos milhares de euros em multas impostas pela Liga: não têm emenda.
De termos conquistado 19 pontos em 21 possíveis. Mais nove do que na mesma fase do campeonato anterior. Eficácia sem margem para dúvida. Marcámos até agora em todos os jogos.
De termos cumprido outro jogo sem perder. Se somarmos o de ontem às 14 rondas finais da Liga 2022/2023 e aos desafios das seis jornadas iniciais deste campeonato, mais o da Liga Europa na Áustria, já levamos 22 sem conhecer o mau sabor da derrota em partidas oficiais.
De ver o Sporting a liderar isolado o campeonato. Tal como na época em que fomos campeões, assumindo o comando à jornada 7, seguimos em primeiro. Agora com mais um ponto do que o Benfica (que tem 18), mais três do que o FC Porto (que tem 16) e mais seis do que o Braga (que tem 13). Haverá quem não goste, mesmo entre alegados adeptos leoninos? É bem possível. Com toda a franqueza, já nada me admira.
Não gostei
Da lesão de Coates. O nosso capitão teve de passar a braçadeira a Adán logo aos 11'. Saiu com queixas musculares, cedendo o lugar no onze a Matheus Reis (Gonçalo ficou ao meio). Oxalá recupere depressa: precisamos dele.
De termos passado de 0-2 a 2-2. Mesmo a jogarmos só contra dez a partir do minuto 19, beneficiámos pouco ou nada dessa vantagem numérica. Pelo contrário, foi a partir daí que os leões de Faro se empolgaram ainda mais e partiram para cima de nós em rápidos lances ofensivos de que resultaram os dois golos. Valeu-nos o segundo penálti - muito duvidoso - que Luís Godinho assinalou por suposta falta sobre Edwards sem que o vídeo-árbitro Manuel Mota o tivesse contrariado. Sinceramente, não parece ter existido motivo para castigo máximo nesse lance. Mas foi graças a ele que trouxemos os três pontos de Faro.
De Morten. Partida para esquecer do internacional dinamarquês. Aos 36', fez uma falta indiscutível e totalmente desnecessária de que resultou o primeiro golo da turma algarvia. Amarelado, aos 42' voltou a fazer outra falta sem margem para dúvidas e também sem qualquer necessidade que em estrito rigor lhe deveria ter valido o segundo amarelo e consequente expulsão. Rúben Amorim deve ter sofrido um calafrio. De tal modo que trocou Morten por Paulinho ao intervalo. Percebeu que, com ele em campo, arriscaria passar a jogar só com dez.
De Daniel Bragança. Voltou a fazer a diferença, novamente para pior. Em campo desde os 83', substituindo Nuno Santos, foi incapaz de ser útil à equipa quando precisávamos de desfazer o empate e de trazer qualidade ao meio-campo leonino. Pelo contrário: logo no minuto seguinte viu o amarelo ao cometer uma falta sem qualquer nexo. Aos 90'+3, quando precisávamos de pausar o jogo e segurar a bola, precipitou-se entregando-a ao Farense lá na frente. Assim dificilmente será titular do Sporting. Absolutamente decepcionante.
De ter sofrido dois golos, mesmo em superioridade numérica. Ainda não foi desta que mantivemos as nossas redes invictas na condição de equipa visitante. É o próximo marco a conquistar.
Os imbecis do costume, intitulando-se "leoninos", gozavam por Viktor Gyökeres vir do Championship - onde marcou 40 golos nas duas últimas temporadas.
Esses idiotas nem percebem que a segunda divisão inglesa - com 24 equipas e 46 jornadas - é mais competitiva do que a primeira de Portugal.
Foi um rombo de tal maneira que o Coventry, ex-equipa do internacional sueco, entrou em crise depois de Viktor rumar ao Sporting: ainda só venceu um dos sete jogos já disputados e segue em 19.º lugar, perto da zona da descida.
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