Fala-se muito em "sistemas tácticos", naquela linguagem labiríntica à moda do Freitas Lobo, como se isto fosse física quântica. Mas não é. A popularidade do futebol deve-se, acima de tudo, à sua simplicidade. Quando alguma coisa não funciona, quase sempre foi porque alguém desatou a complicar o que é simples.
Rui Borges, que permanece invicto ao comando do Sporting em provas nacionais, captou o essencial quando chegou a Alvalade: a equipa gira em torno de Gyökeres e funciona tanto melhor quanto mais vezes ele for bem servido.
Tinha um esquema táctico na cabeça e rapidamente o pôs de lado pois não era o mais adequado para concretizar aquele desígnio: a equipa estava habituada a outras rotinas. Imperou o princípio da simplicidade. A eficácia prevaleceu.
Vamos ter a equipa na máxima força no decisivo clássico da tarde de sábado.
Diomande limpou cartões, estará de volta. Morten, com irrepreensível profissionalismo, rumou ao balneário mal soou o apito final do Sporting-Gil Vicente, não fosse algum pupilo do benfiquista César Peixoto envolvê-lo em escaramuças que pudessem custar-lhe um amarelo - e a falta de comparência na Luz. Harder evitou gritar «ié!», o que também o salvaguardou de eventual punição disciplinar, ao contrário do que aconteceu após o recente jogo com o Santa Clara. Gyökeres começou a ser cercado por elementos do Gil Vicente com a clara intenção de o provocarem para que fosse admoestado, mas mal chegou a correr tal risco devido à pronta intervenção de elementos da estrutura técnica do Sporting, que o encaminharam de imediato para fora dali.
Peixoto pode desejar imenso que o amigo Lage seja campeão, como já lhe confidenciou com o País inteiro a perceber, mas a ajuda que tentou dar-lhe anteontem em Alvalade de nada serviu.
Volto ao mesmo: vamos lá na máxima força. Já recuperados Pedro Gonçalves e Morita, e com o nosso Eduardo Quaresma mais moralizado que nunca.
Há pavor do lado de lá. Daí tentarem tudo, começando por estas provocações. Bem os compreendo. É caso para isso.
Imagem colhida pela SportTV no estádio José Gomes, na Reboleira, durante o jogo Estrela-FC Porto, sábado passado (derrota portista por 0-2). Confirma, de modo exemplar, como a excelente fama do nosso Viktor Gyökeres contagia já jovens adeptos de outras cores clubísticas. Estes miúdos com cachecol do Estrela, ao serem captados pelas câmaras, fazem de imediato o gesto vitorioso do nosso goleador.
Estrela já também na Amadora. Com aura de campeão.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Boavista-Sporting (0-5) por quatro diários desportivos:
Gyökeres: 33
Trincão: 27
Maxi Araújo: 26
Debast: 23
Harder: 22
Eduardo Quaresma: 22
Pedro Gonçalves: 21
Quenda: 21
Morten: 21
Geny: 21
Diomande: 21
Gonçalo Inácio: 21
Rui Silva: 21
Matheus Reis: 18
Morita: 18
St. Juste: 1
Todos os jornais elegeram Gyökeres como melhor em campo.
Viktor Gyökeres, melhor marcador da Liga desde 2002: filme de terror para as defesas adversárias
Foto: Manuel Fernando Araújo / Lusa
Nesta altura do campeonato, confesso, chego a ter pena dos letais. Por mais que inventem, por mais que rasguem as vestes, por mais ódio que alimentem há sete anos ao presidente do Sporting, o que dirão eles contra esta equipa que ainda não perdeu em competições nacionais sob o comando de Rui Borges e persiste em manter-se no comando da Liga 2024/2025, a três jornadas do fim? É chato.
Anteontem fizemos um jogo quase perfeito, do princípio ao fim. Vedámos a saída de bola do Boavista, vencemos quase todos os confrontos individuais, assegurámos a supremacia nos corredores, bem confiados à arte e engenho de Maxi Araújo e Geny, alas projectados que funcionavam como extremos.
Pedro Gonçalves como avançado interior esquerdo, Trincão à direita. Viktor todo-o-terreno no seu apego apaixonado à bola: não pode passar sem ela.
O treinador da turma axadrezada, cujo nome ainda não fixei, havia jurado dar luta ao Sporting. Numa daquelas bravatas que técnicos inaptos costumam proferir antes das partidas, aproveitando os fugazes minutos de ilusória fama, o senhor assegurou que iria assumir-se como força de bloqueio às aspirações leoninas de renovar o título.
Afinal, coitado, só deu mais um passo - talvez decisivo - rumo ao trambolhão na Liga 2. É a vida...
Aqueles adeptos que adoram sofrer com os jogos, em vez de desfrutarem deles, assistiram a uma partida imprópria para masoquistas.
Porquê?
Porque o Sporting fez o primeiro remate com perigo à baliza aos 2', com Trincão a protagonizar o disparo, e meteu-a lá dentro logo depois, aos 6'. Pelo suspeito do costume: Viktor Gyökeres. Bastou-lhe encostar, porque o trabalho mais digno de aplauso ficou a cargo de Maxi, em brilhante parceria com Pedro Gonçalves na meia esquerda da área: recuperou, venceu duelo com o lateral direito e cruzou com selo de perfeição.
Seguiu-se vendaval leonino em desafio de sentido único. O Boavista era incapaz de transpor a linha do meio-campo e nunca incomodou Rui Silva neste primeiro tempo.
Do lado deles destacou-se o guardião Vaclik, negando três golos ao sueco. Primeiro aos 12', num vistoso pontapé de bicicleta que entusiasmou os mais de dez mil adeptos do Sporting nas bancadas do Bessa. Depois, aos 18', também por Gyökeres. Faria o mesmo aos 73'. E ainda viu um cabeceamento do nosso craque sair ligeiramente ao lado, no minuto 33.
Mas aos 45'+1 não houve hipótese de o travar. Viktor recebeu a bola num soberbo passe vertical de Trincão e correu cerca de 40 metros com ela, imparável, até a bombardear com sucesso até ao fundo das malhas boavisteiras.
Golaço made in Suécia com tempero minhoto.
Ao intervalo, 2-0. Dava alegria, mas sabia a pouco: pouco antes, na Luz, o Benfica goleara o AVS por 6-0, colocara-se em igualdade pontual connosco e ameaçava superar-nos em golos marcados, um dos critérios de desempate.
Era imperioso ampliarmos a vantagem, goleando também.
Este segundo tempo foi um festival de futebol ofensivo.
Aos 50', o terceiro. Repetiu-se a dose: Trincão a assistir, isolando o colega lá da frente desta vez a partir do corredor central, e Gyökeres a rematar cruzado, com êxito, libertando-se da marcação. Tê-lo pela frente é uma espécie de filme de terror em sessões contínuas para as defesas adversárias.
Aos 57', o quarto. Nova parceria Maxi-Viktor, com o primeiro a conduzi-la, bem dominada, e servindo o colega de bandeja. Houve disparo, com Vaclik a bloquear à primeira, mas já sem conseguir impedir a recarga, feita pelo uruguaio de cabeça. Prémio bem merecido para Araújo neste que foi talvez o seu melhor jogo até agora de leão ao peito.
Aos 90'+2, o quinto que encerrou a conta e confirmou a goleada. Excelente lance colectivo com a bola ao primeiro toque entre Quenda, Trincão, Harder e... ele de novo, o inevitável Viktor. Vitorioso.
As nossas redes permaneceram intactas. A equipa anfitriã não conseguiu um remate enquadrado em todo o jogo.
Contas feitas, quando faltam 270 minutos para cair o pano, continuamos em primeiro. Com tantos pontos como o Benfica, mas em vantagem no desempate. Porque ganhámos o embate em Alvalade e temos mais três golos marcados. Graças a Gyökeres, a melhor contratação das últimas duas décadas no Sporting.
Palmarés provisório do sueco: 38 apontados em 31 jornadas - faltam-lhe quatro para igualar a marca do século, estabelecida por Jardel em 2001/2002. E já marcou 52 golos no conjunto da temporada.
Vale cada cêntimo do seu passe, avaliado em cem milhões de euros.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (5) - Sem trabalho. Limitou-se a controlar a profundidade, sempre bem articulado com os colegas.
Eduardo Quaresma (7). Muito combativo, sem dar hipótese de progressão ao adversário na sua ala.
Diomande (6) - Atento, tranquilo, concentrado. Viu amarelo aos 88' para limpar cartões. Saiu logo a seguir.
Gonçalo Inácio (7) - Em boa forma. Momento alto: o magnífico passe longo que inicia o quarto golo.
Geny (6) - Protagonizou alguns desequiíbrios à direita, mas sem envolvimento em nenhum dos golos.
Debast (7) - Poucos já se lembram que chegou para central. Médio-centro muito eficaz. Agarrou o lugar.
Morten (6) - Contribuiu para o nosso domínio do corredor central. Viu um amarelo escusado aos 45'+3.
Maxi Araújo (8) - Muito activo, influente, desequilibrador. Ofereceu o primeiro golo, iniciou e concluiu o quarto.
Trincão (8) - Pura classe. Participa em três golos: assistiu no segundo e no terceiro, pré-assistência no último.
Pedro Gonçalves (5) - Intervém no primeiro golo, tentou marcar em remate que sai por cima (29'). Ainda só dura 45'.
Gyökeres (10) - Melhor em campo, novamente. Mais quatro para o seu pecúlio. Lidera Bota de Ouro europeia.
Quenda (6)- Fez toda a segunda parte, rendendo Pedro Gonçalves. Duas pré-assistências - no terceiro e no quinto.
Morita (5) - Substituiu Morten aos 69'. Regresso após mês e meio de ausência. Temporizou e pausou o jogo.
Matheus Reis (5) - Entrou aos 69', rendendo Maxi Araújo. Aos 79', sacou amarelo a Bozenik, melhor jogador de campo boavisteiro.
Harder (6) - Substituiu Geny aos 79'. Chegou a tempo de protagonizar o decisivo passe para Viktor fechar a conta.
St. Juste (-) - Preencheu lugar de Diomande aos 90'. Exercitou-se nos três minutos de tempo extra.
Da nossa goleada no Bessa. Exibição modelar de futebol colectivo que deitou por terra o Boavista liderado por um técnico que havia prometido fazer vida difícil ao Sporting. Coitado do sujeito: só conseguiu fazer vida difícil aos seus próprios jogadores, incapazes de formar uma equipa realmente digna desse nome. Levaram uma cabazada: 0-5. A maior goleada que já impusemos neste campeonato. A nossa maior goleada de sempre naquele estádio.
De Gyökeres. Um dos nossos melhores jogadores de sempre. Exibiu talento no relvado do Bessa, onde se agigantou ainda mais. Com um póquer que o projecta para a liderança da Bota de Ouro europeia, em disputa directa com Salah. Não precisou de muito tempo para tranquilizar os adeptos: abriu o activo logo aos 6'. Prosseguiu a contagem aos 45'+1, ao correr meio campo com a bola dominada e fuzilando as redes axadrezadas. Depois facturou aos 50' e aos 90'+2. E ainda intervém no único que não marcou, o quarto leonino: é dele o remate inicial, para defesa incompleta e golo de Maxi. Tem agora 38 marcados na Liga: ninguém havia chegado a esta marca desde 2002 no campeonato português. Vale cada cêntimo da sua cláusula de cem milhões.
De Trincão. Um jornal titula, com argúcia e notável capacidade de síntese: «Trincão disse "mata", Gyökeres disse "esfola"». Excelente resumo deste jogo. O craque sueco é genial, mas não actua sozinho: precisa de colegas com talento a colocar-lhe bem a bola. Trincão - o jogador do Sporting mais odiado pela matilha letal - foi um precioso municiador do futebol ofensivo que Viktor tão bem traduziu em golos. Dois excelentes passes para golo - o segundo e o terceiro - confirmam-no como rei das assistências: já tem 16 na temporada. Ofereceu dois outros, não concretizados: aos 33' novamente a Gyökeres, com um centro de inegável virtuosismo técnico a fazer a bola sobrevoar a defesa para a cabeça do sueco, e aos 48', soltando-a para Quenda. Exibição de luxo.
De Maxi Araújo. Talvez a melhor actuação do jovem internacional uruguaio de leão ao peito. Começou por assistir no primeiro golo: quase todo o trabalho foi dele junto à lateral esquerda, culminando num excelente cruzamento. E foi ele a marcar o quarto, aos 57', numa oportuníssima recarga de cabeça completando a tarefa que Viktor deixara incompleta. Dominou o flanco esquerdo, sem dar hipótese a investidas adversárias.
Do regresso de Morita. Após mês e meio de afastamento por lesão, o internacional japonês saltou do banco aos 69', substituindo o amarelado Morten. Esteve em campo tempo suficiente para demonstrar que podemos mesmo contar com ele nesta recta final do campeonato. Faltam 270 minutos decisivos.
De ver as nossas redes intactas. Em boa verdade, Rui Silva não necessitou de fazer qualquer defesa. O Boavista foi uma perfeita nulidade, tanto no plano ofensivo como defensivo.
Do apoio incessante dos adeptos. Cerca de 10 mil sportinguistas pintaram de verde as bancadas do Bessa. Parecia que jogávamos em casa. Isto ajuda a explicar o motivo de ainda só termos perdido uma vez (com João Pereira) fora de Alvalade neste campeonato.
De Miguel Nogueira. Boa arbitragem, pondo em prática o chamado critério largo, à inglesa. Fossem todas assim em Portugal e teríamos certamente pelo menos uma equipa de arbitragem no próximo mundial de clubes.
De mantermos a liderança. Temos agora 75 pontos, quando faltam três rondas para o fecho do campeonato - correspondentes a 23 vitórias em 31 desafios. Ainda não perdemos com Rui Borges ao leme da equipa. O Benfica segue com os mesmos pontos, mas atrás de nós segundo os critérios de desempate: perdeu no clássico de Alvalade e tem menos três golos marcados (nós 83, eles 80). Pormenor relevante: o Sporting acumula agora mais 26 golos do que o FC Porto. Alguém ainda se lembra quando um tal Samu era apontado como suposto "rival" do nosso Viktor Gyökeres?
Não gostei
Do amarelo a Morten. Peça muito influente do onze leonino, o meiocampista fica agora à bica por acumulação de cartões, ao contrário do colega Diomande, que nesta partida "limpou o cadastro" quando viu o quinto que o deixa de fora na recepção ao Gil Vicente mas o torna disponível na ida à Luz, uma semana depois. Dilema para Rui Borges: excluir o internacional dinamarquês da próxima ronda para podermos contar com ele contra o Benfica? Por mim, nem hesito: diria já que sim.
Do resultado exíguo ao intervalo. Apenas vencíamos por 2-0 num jogo de sentido único. Gyökeres merecia ter marcado pelo menos mais um: aconteceu aos 12', num espectacular pontapé de bicicleta ainda algo distante da baliza mas pleno de colocação, para defesa muito apertada do guarda-redes boavisteiro.
Do reencontro com Diaby. Alinha agora pela turma do Bessa. Mal se deu por ele. Não deixou saudades em Alvalade.
Do Boavista. O tal sujeito mencionado no parágrafo inicial, numa bravata para consumo da imprensa, anunciou que a turma que ainda comanda seria «uma ameaça» em campo ao Sporting. A afirmação, à partida já ridícula, tornou-se caricata no fim do jogo: os do Bessa não conseguiram fazer um remate enquadrado até ao apito final.
Acabamos de golear o Boavista no Bessa por 5-0. Cada vez mais embalados para o título, hoje com um póquer do fantástico Viktor Gyökeres.
Quando faltam três rondas para o fim, continuamos em primeiro. Com 75 pontos, 83 marcados e só 25 sofridos. Melhores números do que o Benfica. Do miserável FC Porto nem é bom falar: foi ontem pela sétima vez ao tapete no campeonato, derrotado por 0-2 na Amadora, onde não perdia desde 2006.
Gostei muito de ver o Sporting carimbar a presença no Jamor como finalista da Taça verdadeira. Segunda participação consecutiva da nossa equipa na final de uma competição que conquistámos pela última vez em 2019, com Marcel Keizer ao comando do onze leonino. Garantimos agora a presença nesse decisivo desafio, a disputar no dia 25 de Maio, ao derrotarmos o Rio Ave na segunda mão da meia-final. Metade da tarefa estava feita, no encontro da primeira mão em Alvalade (vencemos por 2-0). Faltava a confirmação, concretizada anteontem, ao alcançarmos novo triunfo - desta feita por 2-1.
Gostei de ver Viktor Gyökeres continuar em excelente forma. Voltou a marcar: foi dele o segundo, aos 51', em oportuna recarga após Geny ter falhado o remate inicial. Este foi o seu 48.º golo da temporada - e o 57.º, se incluirmos na lista os que apontou ao serviço da selecção sueca: de verde-e-branco, nestas duas épocas, tem no seu registo 91 golos em 97 partidas. Também gostei de Gonçalo Inácio, que abriu o marcador aos 12', cabeceando na direcção certa após canto apontado por Debast - e desvio subtil de Gyökeres. Sexto da temporada para o brioso central canhoto, formado na Academia de Alcochete: protagonizou um dos momentos altos da partida. Outro protagonista, inevitável, foi Pedro Gonçalves: regressou à titularidade mais de cinco meses depois, comprovando que podemos enfim contar de novo com ele. Actuou só na primeira parte, o que se entende pois ainda recupera o melhor ritmo competitivo, já vencíamos por 1-0 ao intervalo e havia que dosear o esforço colectivo a pensar no desafio do Bessa.
Gostei pouco do egoísmo de Harder, jogador que aqui elogiei em fresca data. Lançado por Rui Borges aos 67', claramente para gerir o esforço de Gyökeres antes do confronto de domingo com o Boavista, o jovem dinamarquês protagonizou dois ou três momentos de ataque inconsequente, em que só pensou nele próprio e na baliza, como se jogasse sozinho. Erro maior aos 90'+1: deixou-se interceptar em posição frontal, perdendo a bola, quando tinha colegas em excelente posição para marcar - tanto à esquerda como à direita. Precisa de ganhar maturidade e responsabilidade táctica para evitar dar razão ao técnico, que já lhe chamou «muito trapalhão» em público. Melhor esteve Biel, que também saltou do banco aos 67' (substituindo Trincão). Bons apontamentos do extremo esquerdo brasileiro, nomeadamente quando revelou qualidade técnica num slalom com bola aos 86', queimando linhas e oferecendo um golo a Maxi Araújo, que desperdiçou.
Não gostei que o Rio Ave jogasse em terreno emprestado, no Estádio Capital do Móvel. Mas a transferência de Vila do Conde para Paços de Ferreira foi plenamente justificada: a equipa rioavista viu parte das suas instalações danificadas na recente tempestade que assolou quase todo o país. Compreensível motivo de força maior.
Não gostei nada de ver o Sporting desperdiçar várias oportunidades de golo, repetindo-se o que já sucedera no desafio da primeira mão. Trincão rematou duas vezes: pontapés fracos e à figura, para defesas muito fáceis. Maxi Araújo falhou golo cantado aos 86'. De Harder já falei. E o próprio Gyökeres, isolado, teve o golo nos pés logo aos 9': não falhou mas permitiu uma grande defesa do excelente guardião rioavista, o polaco Miszta. Que não ficaria mal de leão ao peito.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Rio Ave-Sporting, da Taça de Portugal, por quatro diários desportivos:
Gyökeres: 27
Gonçalo Inácio: 25
Debast: 24
Geny: 21
St. Juste: 21
Diomande: 21
Matheus Reis: 21
Morten: 21
Pedro Gonçalves: 20
Fresneda: 20
Rui Silva: 20
Biel: 18
Trincão: 18
Esgaio: 17
Harder: 15
Maxi Araújo: 1
Três jornais elegeram Gyökeres como melhor em campo. O Record escolheu Gonçalo Inácio.
Missão cumprida ontem em Paços de Ferreira: vitória no jogo contra o Rio Ave e alargamento do plantel.
Com Pedro Gonçalves, mesmo a 50%, o futebol ofensivo do Sporting tem outra qualidade. Ee joga e faz jogar, enquanto outros teimam em jogar sozinhos. E Biel, que entrou mais tarde, fala a mesma linguagem, passa e desmarca para receber. Outros é acelerar e rematar, não importa quem esteja ao lado desmarcado.
Com Fresneda, St. Juste e Matheus Reis no onze a equipa fica bem mais sólida na defesa. Na 1.ª parte não deu hipóteses a um Rio Ave que joga em função da qualidade dos jogadores de que dispõe, na 2.ª depois do 2-0 e com jogadores frescos do outro lado já abanou pelo lado esquerdo onde Catamo fazia que ia mas não ia e deixava ir.
Assim, primeira parte muito competente do Sporting que marcando decidiu a eliminatória, e segunda parte de gestão de jogadores e intensidade, em que foi perdendo lucidez e jogo colectivo, mas sempre esteve mais perto de alargar a vantagem do que sofrer o empate.
Melhor em campo? O do costume: um golo e uma assistência.
Arbitragem? Critério uniforme, deixou jogar, por vezes em excesso.
E agora? Faltam cinco jogos até ao final da época, entre eles dois dérbis decisivos.
Quanto a mim, irei estar longe por uns dias rodeado de Sportinguistas. Espero quando voltar poder festejar o bicampeonato em Alvalade e no Marquês.
Craque sueco soma e segue: 47 golos e 11 assistências em 46 jogos de leão ao peito nesta época
Foto: Lusa
Vingança consumada. Esperámos quatro meses, mas valeu a pena. Após termos sido injustamente derrotados em Dezembro pela equipa de Moreira de Cónegos, mostrámos o nosso verdadeiro valor na desforra ocorrida Sexta-Feira Santa, há quatro dias, em Alvalade.
Foi talvez a melhor primeira parte do Sporting sob o comando de Rui Borges, que sucedeu ao infortunado interregno de João Pereira: era este o treinador quando perdemos em Moreira. Desde então, a equipa parece ter mudado da noite para o dia.
Numa partida bem arbitrada por Fábio Veríssimo, os 45 minutos iniciais foram todos nossos. Pressão sufocante sobre o portador da bola, blindagem às saídas do Moreirense, domínio absoluto nos corredores, supremacia indiscutível nos duelos. Tabelinhas constantes entre os três da frente: Geny, Trincão e Gyökeres.
Ao intervalo vencíamos por 2-0. Sabia a pouco: tivemos pelo menos quatro outras hipóteses de golo. Infelizmente o internacional moçambicano e o virtuoso minhoto estiveram perdulários: na hora da decisão, permitiam a defesa ou atiravam para a bancada.
Valeu-nos, como quase sempre, o craque sueco. Enquanto os colegas exibiam pontaria desafinada, ele acertava no alvo. Foi assim aos 12', começando bem cedo por tranquilizar os adeptos. Num belo lance de futebol colectivo iniciado por Eduardo Quaresma, prosseguido junto à lateral direita por Quenda, que a passou a Morten e este, como se fosse avançado, colocou-a na zona de rigor ao alcance de Geny que, estando em noite não, ficou sem ela. Felizmente Viktor estava mesmo ao lado e não perdoou.
Repetiu a dose aos 25'. Em lance de fulminante contra-ataque dos leões. Trincão fez tudo bem na condução da bola, só claudicando no remate que embateu na perna de um adversário. Mas Viktor, ali bem perto, tratou do assunto: remate bem colocado, desferido a meia altura ao ângulo mais distante do guardião - e lá foi ela, aninhar-se nas redes.
No segundo tempo tirámos o pedal do acelerador. Mas, mesmo com linhas mais recuadas, mantivemos o domínio da partida. Coroado com o terceiro - nosso e do avançado sueco, autêntica galinha dos ovos de ouro deste Sporting 2024/2025 que sonha ser bicampeão nacional de futebol.
Foi aos 52'. Gyökeres, carregado em falta quase à entrada da área, na meia esquerda, encarregou-se da marcação do livre. E tão bem o fez que o guarda-redes mal a viu passar. Viktor está a tornar-se especialista na conversão de livres directos. Ainda bem: não tínhamos nenhum desde a partida de Bruno Fernandes, que tantas saudades deixou.
Chegávamos ao 3-0. Até os adeptos mais pessimistas suspiravam de alívio.
Mas quatro minutos depois, num lance fortuito, a equipa visitante chegou ao golo solitário. De modo mais simples do mundo: extremo cruza do lado esquerdo, avançado infiltra-se na área e dispara, solto de marcação. Maxi Araújo chegou tarde ao lance. Rui Silva pareceu hesitar entre sair dos postes ou ficar. Dois segundos depois estava lá dentro.
E o pior foi ver quase tudo repetido aos 60', com a pequena diferença de ter sido a partir do corredor direito do Moreirense. O ala cruza, sem intercepção de Gonçalo Inácio, e o avançado cabeceia, vencendo Eduardo Quaresma no jogo aéreo. Felizmente não conseguiu melhor do que fazer a bola roçar o poste.
Não havia necessidade.
Voltámos a pisar no acelerador. Já com Pedro Gonçalves de regresso a Alvalade, cinco meses depois, entre aplausos vibrantes das bancadas. Fez logo a diferença, numa tabelinha com Trincão aos 82' que merecia ter dado em golo.
Fresneda, recém-entrado, ainda tentou um chapéu aos 90'+2: não entrou por pouco, teria sido um dos golos do ano.
Quando soou o apito final, estávamos por cima. Mais perto do 4-1 do que do 3-2.
Quase 45 mil adeptos ovacionaram a equipa. Crentes, mais que nunca, que o título será nosso. A esperança é verde - e, como sabemos, é a última a morrer.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (5) - Poderia ter feito melhor no golo sofrido? Fica a incógnita. No resto, mostrou-se sempre seguro.
Eduardo Quaresma (5). Interventivo, voluntarioso. Inicia primeiro golo. Só demonstra ainda lacunas no jogo aéreo: aconteceu no golo deles.
Diomande (6) - Viu cartão amarelo logo aos 3'. Mas não ficou afectado: exibição em bom nível no comando da defesa.
Gonçalo Inácio (5) - Poderia ter fechado o ângulo no lance do golo sofrido. Mas cumpriu no essencial.
Quenda (6)- Marcou muito bem livre aos 5'. Interveio no primeiro golo, dando largura. Compromisso defensivo.
Debast (7) - Agarrou a posição de médio-centro. Segundo golo começa com recuperação dele. Bom no passe e nas recuperações.
Morten (8) - Intervenção decisiva no primeiro golo. Garantiu controlo do corredor central. Ganhou nas divididas.
Maxi Araújo (5) - Oscilante. Bons apontamentos técnicos, dignos de aplauso. Falhou marcação no golo sofrido.
Geny (4) - Prometeu muito, cumpriu quase nada. Falhou golos aos 15', 23', 44', 77' e 79'. Péssimas decisões.
Trincão (5) - Muito bom a conduzir, fraco a decidir. Golos falhados aos 9', 18' e 25' - no último, Viktor emendou.
Gyökeres (9) - Melhor em campo, melhor da Liga. Leva 47 golos marcados em 46 jogos - três agora. E ainda 11 assistências.
Pedro Gonçalves (5) - Substituiu Quenda aos 69'. Brilhou em tabelinha com Trincão aos 82'. Fazia-nos falta.
St. Juste (6) - Substituiu Quaresma aos 69'. Destacou-se num corte aos 79'. Trouxe tranquilidade e segurança.
Fresneda (5) - Substituiu Debast aos 84'. Tentou marcar de chapéu aos 90'+2. Um "quase golo" de belo efeito.
Esgaio (5) - Rendeu Trincão aos 84'. Jogou a médio-centro. Grande passe longo (87'). Boa recuperação (90'+1).
Matheus Reis (5) - Entrou aos 87', rendendo Maxi Araújo. Contribuiu para refrescar e estabilizar ainda mais a equipa.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Moreirense (3-1) por quatro diários desportivos:
Gyökeres: 30
Debast: 24
Morten: 24
Maxi Araújo: 23
Trincão: 23
Gonçalo Inácio: 23
Geny: 22
Eduardo Quaresma: 21
Diomande: 21
Quenda: 21
Rui Silva: 20
Pedro Gonçalves: 18
St. Juste: 18
Fresneda: 7
Matheus Reis: 7
Esgaio: 6
Todos os jornais elegeram Gyökeres como melhor em campo.
Da nossa "vingança" frente ao Moreirense. Na primeira volta perdemos lá, ainda com João Pereira no precário comando da equipa: custou-nos muito vermos voar esses três pontos. A desforra chegou quatro meses depois: vencemos e convencemos, em Alvalade, por 3-1.
De Gyökeres. Um gigante. Voltou a ser totalista nos nossos golos: meteu três vezes a bola no sítio certo. Nas duas primeiras vezes, aos 12' e aos 25', de ressalto, mostrando aos colegas como se faz. O terceiro é uma obra-prima, na conversão de um livre directo, aos 52': começa a tornar-se especialista em golos destes - sem esquecer que tinha sido ele próprio a sofrer a falta. Melhor em campo, pois claro. Leva 34 golos marcados na Liga, 47 em 46 jogos de leão ao peito nesta temporada. Herói leonino.
Do nosso meio-campo. Magnífico desempenho da dupla formada por Morten e Debast, dominando por completo o eixo do terreno. O internacional belga fazendo a diferença nos passes de média e longa distância, o internacional dinamarquês brilhando nas recuperações - e até em protagonismo ofensivo, como demonstrou com intervenção decisiva no primeiro golo. Aplausos prolongados para ambos.
Do nosso primeiro tempo. Talvez a melhor metade inicial de jogo da nossa equipa sob o comando de Rui Borges. Aos 10' já tínhamos conseguido quatro oportunidades flagrantes de golo. Pressão alta, linhas muito avançadas, ataque sufocante às tentativas de saída de bola da equipa adversária, supremacia evidente em todos os duelos. Um espectáculo. O resultado ao intervalo (2-0) não traduzia, de todo, a superioridade leonina. Merecíamos muito mais.
Do regresso de Pedro Gonçalves a Alvalade. Mais de cinco meses depois, o bicampeão transmontano recebeu estrondosos aplausos quando saltou do banco, aos 69'. Tempo suficiente para mostrar que regressou em boa forma e continua a exibir o precioso toque de bola que bem lhe conhecemos. Contamos com ele para a reconquista do título.
De Fábio Veríssimo. Arbitragem irrepreensível. Fossem todas assim e teríamos certamente pelo menos uma equipa de arbitragem no próximo mundial de clubes.
Do nosso fluxo ofensivo. Cumprimos 82 jornadas do campeonato nacional de futebol sempre a marcar em Alvalade. Acontece há quase cinco anos. O futebol é, acima de tudo, a festa do golo. Nós, adeptos, leoninos, estamos felizmente bem habituados a festejar.
Da homenagem a Aurélio Pereira. O onze leonino entrou no estádio envergando camisolas com o retrato e o nome do falecido mestre, descobridor de alguns dos maiores talentos de sempre no Sporting. Seguiu-se um minuto de silêncio, com a presença dos familiares no relvado (incluindo seu irmão, o nosso bem conhecido Carlos Pereira), e a merecida ovação dos quase 45 mil espectadores.
De mantermos a liderança. Temos agora 72 pontos, quando faltam quatro rondas para o fecho do campeonato - correspondentes a 22 vitórias em 30 desafios. Restam-nos quatro finais, não vale a pena ter dúvidas. Queremos, mais que nunca, conquistar o bicampeonato que nos foge há mais de sete décadas. Vale a pena lutar por isso. Com lealdade, ousadia, tenacidade e brio - como é próprio dos leões verdadeiros. Sem lamúrias, sem calimerices.
Não gostei
Da inépcia de Geny à frente da baliza. Despediçou vários golos cantados. No primeiro quarto de hora, o moçambicano já tinha definido mal em três ocasiões. Rematou muito por cima aos 23', finalizou pessimamente aos 77', permitiu defesas fáceis do guarda-redes aos 44' e aos 79'. Livre disparatado aos 89'. Noite para esquecer.
De Trincão. Também estava com a pontaria avariada. Acertou mal na bola aos 9', desperdiçando soberbo passe de Maxi Araújo. Falha o golo aos 18', oferta de Gyökeres. Repete o falhanço aos 25' - desta vez o craque sueco emendou o erro do colega, marcando. Aos 38', atirou à figura. Noite muito desinspirada.
Do golo sofrido. Na primeira oportunidade do Moreirense, aos 56'. Com a nossa defesa desposicionada e Rui Silva também surpreendido. Aos 60' esteve quase a acontecer outro, praticamente nos mesmos moldes: ataque adversário pela direita, superioridade no jogo aéreo frente à nossa baliza. Felizmente da segunda vez a bola roçou o poste e rumou para fora.
Estou farto de ler nos jornais desportivos que, se Rúben Amorim tivesse ficado, o bicampeonato já estava ganho.
O que ainda não li é que se a escolha para a sucessão tivesse sido logo Rui Borges, o bicampeonato estava ganho também.
Considerando os 8 pontos perdidos com João Pereira, penso que não haverá dúvidas quanto a isso, agora que estamos a quatro jornadas do final.
Porque foi escolhido o João Pereira, não sei. Se calhar pelas mesmas razões que foram escolhidos o Tiago Ilori, o Rafael Camacho, o Ruben Vinagre, o Jorge Silas. Todos flops. Não chega ser sportinguista e bom rapaz, ser conhecido do presidente, para que a coisa dê certo.
Sobre o jogo de ontem, que vi ao vivo e a cores em Alvalade: excelente primeira parte do Sporting, bola a rodar rápido dum lado ao outro do campo, reacção rápida à perda, jogo pelas alas, passes para golo, marcaram-se dois, ficaram por marcar pelo menos outros tantos.
O mérito começou cá atrás: Quaresma e Inácio com bons passes a acelerar jogo, Debast corria o campo e Gyökeres fazia miséria lá na frente.
Na 2.ª parte o Moreirense fez pela vida, o desgaste começou a pesar, a começar por Quaresma, que depois da excelente 1.ª parte começou a asneirar. O primeiro remate já foi do Moreirense. Duma incursão de Gyökeres surgiu um livre para um grande golo do craque sueco, mas depois de duas bolas por alto surgiram um golo adversário e quase outro, o primeiro da responsabilidade de Maxi, o segundo de Quaresma.
Por volta dos 65 minutos e depois, lá vieram as substuições, desta vez todas lógicas e atempadas. St. Juste e Fresneda taparam o lado direito, Matheus Reis o lado esquerdo, Pote entrou e logo demonstrou a falta que tem feito, Esgaio fez e bem de Debast. Fresneda ainda tentou um chapéu que falhou por pouco, ia sendo o golo da jornada.
E foi assim. Podiam ter sido 6-2, ficou pela metade, em 3-1.
Melhor em campo? Depois dum "hat-trick" dizer o quê? Mas além do sueco, o miudo belga fez um jogão. A jogar assim vai ter de convencer o seleccionador belga que afinal é mesmo médio e vai ser.
Arbitragem? Impecável, nada a dizer.
E agora? Ganhar, ganhar, ganhar. Temos o melhor jogador da Liga, temos o melhor onze e, não havendo lesões, começamos a ter o melhor banco (não confundir com bancada).
PS: Entretanto acho óptimo que o Benfica esteja a pensar no Feliz e contente para a próxima época, mais o Bernardo Silva, e o Nelson Semedo. Mais um ou outro não seria mal pensado. O Mantorras é que já não pode. O Rui dos túneis tem de fazer pela vida...
Ambiente de festa em Alvalade esta noite: quase 45 mil adeptos tiveram o privilégio de ver ao vivo uma vitória categórica do Sporting contra o Moreirense. Vingando a derrota sofrida na primeira volta.
Atingimos os 72 pontos, reforçando o nosso posto de comando. Com Gyökeres a brilhar de novo: foi ele o autor de todos os nossos golos neste triunfo por 3-1.
Gyökeres fez tudo para vencer: não merecia, de todo, o ponto perdido frente ao Braga
Foto: Lusa
Nenhum momento é bom para perder pontos. Mas este foi pior ainda: ocorreu quando precisávamos mesmo de vencer para mantermos a liderança no campeonato, prolongando uma proeza só interrompida por breves dias em Dezembro, quando o Benfica ocupou fugazmente o comando.
Só uma vitória nos interessava. Estava perfeitamente ao nosso alcance, contra um Braga que havíamos vencido com brilhantismo na primeira volta, por 4-2 lá na pedreira. A mesma equipa que no campeonato anterior foi goleada em Alvalade por 5-0.
Logo aos 3', numa das suas emocionantes arrancadas pelo lado esquerdo, Gyökeres conduziu a bola com o brilhantismo técnico a que nos habituou e disparou com excelente colocação, metendo-a lá dentro. Balde de água gelada: o golo foi anulado por alegada "deslocação"... de 30 milímetros. Atentado ao futebol de ataque, como sempre sustentei. Nenhuma "linha virtual" pode comprovar a existência dum fora-de-jogo milimétrico. É algo anti-científico: andam a vender-nos gato por lebre.
E atenção: isto tanto vale nos casos em que somos prejudicados (Pedro Gonçalves viu, em 2021, um golo ao Moreirense anulado por 20 milímetros!) como quando somos beneficiados (lembro o nosso desafio em Barcelos contra o Gil Vicente, para a Taça de Portugal, em que a equipa visitada viu o que seria o golo do empate invalidado por 30 milímetros).
Esta gente anda a assassinar o futebol de ataque.
Esta gente, que desatou a aplicar regras absurdas, anda a dar cabo do futebol.
Voltemos ao Sporting-Braga, ocorrido há três dias. A anulação do que deveria ser golo limpo não desmoralizou o avançado sueco, novamente melhor leão em campo. Aos 15', Viktor marcou mesmo - e dando espectáculo, de livre directo, levando a bola rasteira a um ângulo de acesso impossível ao guarda-redes Horníček. Soou um clamor de alegria nas bancadas: dir-se-ia que estava aberto o caminho a goleada.
Mas as aparências iludem. É certo que o Sporting dominou toda a meia hora inicial do jogo, com Geny e Quenda tomando conta das alas em missão ofensiva, mas o talento do guardião checo dos braguistas (que não me importaria de ver um dia no Sporting) impediu que a nossa maré ofensiva se traduzisse em novos golos. Ainda na primeira parte, travou novo remate perigoso de Gyökeres (37'). Impedindo-o de apontar o 45.º golo da temporada.
Já no segundo tempo, manteve a baliza incólume perante uma investida de Quenda (58').
Ao intervalo, vantagem tangencial.
Precisávamos de voltar do descanso com ímpeto de campeões para impedir o Benfica de se isolar no topo. Infelizmente, sucedeu ao contrário: recuámos linhas, deixámos o Braga tomar conta do meio-campo (onde só tínhamos "um e meio", Morten sem o devido apoio de Debast) e fomos abrindo uma avenida no flanco direito da turma minhota. Matheus Reis era constantemente atraído para posições interiores deixando a ala livre e Gonçalo Inácio revelava-se demasiado hesitante nas dobras.
Estava escrito que viria dali má surpresa.
Assim aconteceu, na única verdadeira oportunidade de que o Braga dispôs em todo o jogo. Zalazar cruzou à vontade daquele corredor e centrou para a área, onde havia dois colegas: Diomande marcou um, Eduardo Quaresma esqueceu-se de anular o outro - precisamente o que estabeleceu o empate. Um miúdo de 18 anos, em estreia absoluta como artilheiro na Liga 1. Miúdo com nome de craque: Afonso Patrão. Tornou-se ele o herói do jogo - ao dar o empate, um ponto e um lugar no pódio ao Braga.
Aconteceu aos 88'. Quase todos receávamos o que iria acontecer, tanta era a passividade dos nossos jogadores. Que pareciam ter recebido ordem do técnico para "segurar a vantagem mínima", reter a bola, pausar jogo, tentar adormecer o adversário. Com Viktor Gyökeres na frente sem ser servido e Trincão a trocar remates por passes a Horníček.
Rui Borges só tinha mexido uma vez na equipa, trocando Geny por Maxi Araújo e Debast por Felicíssimo. Já com o desafio empatado, ainda se atreveu a nova mudança: saiu Matheus Reis, entrou Harder. Mas era já tarde para inverter a marcha do resultado.
Vários jogadores pareciam cansados - mesmo assim ficaram duas substituições por fazer. Das duas uma: ou o treinador não acredita em vários elementos do plantel ou reage muito ao retardador. Até que o provável se torna impossível.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Braga (1-1) por quatro diários desportivos:
Gyökeres: 25
Diomande: 21
Geny: 20
Morten: 20
Trincão: 20
Matheus Reis: 19
Gonçalo Inácio: 19
Quenda: 19
Rui Silva: 19
Debast: 18
Eduardo Quaresma: 17
Felicíssimo: 16
Maxi Araújo: 16
Harder: 1
Todos os jornais elegeram Gyökeres como melhor em campo.
Deste empate com o Braga em casa. Não é derrota, mas parece. Contra uma equipa que tínhamos goleado por 5-0 nos três anos anteriores. Empate (1-1) consentido aos 88', na única verdadeira oportunidade de golo dos visitantes. Um duche de água gelada para os 45 mil adeptos no estádio - e para centenas de milhares de sportinguistas que acompanharam o desafio pela televisão. Sem que a turma braguista tenha actuado melhor do que na visita à Luz, no início do ano, quando venceu o Benfica por 2-1.
De Trincão. Péssima exibição do avançado minhoto, que pareceu tremer defronte da baliza adversária. Mais facilmente o víamos fazer dobras no sector recuado, como se fosse essa a sua missão, do que na zona onde devia fazer a diferença. Pareceu despertar só no quarto de hora final, mas mesmo aí foi acumulando más decisões. Nem marcava nem libertava a bola para colegas em melhor posição. Aos 74', isolado, acabou por fazer um passe ao guarda-redes. Exasperando as bancadas - e com razão.
De Debast. Ontem percebeu-se sem margem para dúvida que é um central adaptado a médio. Habituado a posicionar-se de frente para o jogo, revelou muita dificuldade em receber a bola vinda de trás. Lento a tomar decisões, preso de movimentos, incapaz de municiar o fluxo atacante, deixou muitas vezes Morten isolado nos decisivos duelos do corredor central.
Da nossa defesa. Imperdoável desconcentração do nosso bloco mais recuado, que falhou por completo no lance do golo bracarense, marcado por um miúdo que nunca tinha facturado na equipa A. Maxi Araújo, que parecia já cansado apesar de ter entrado pouco antes, abriu uma avenida na ala direita do Braga. Gonçalo Inácio concedeu espaço e tempo a Zalazar para centrar com calma e precisão a partir dali. Diomande não comandou as operações como devia. E Eduardo Quaresma falha por completo a abordagem ao lance, deixando o jovem artilheiro (Afonso Patrão, 18 anos) cabecear à vontade. Foi ele o improvável herói do jogo.
Do golo anulado a Gyökeres. Logo aos 3', coroando uma impressionante arrancada do craque sueco - novamente o melhor Leão em campo. O golo acabou anulado pelo árbitro Luís Godinho, seguindo intervenção do VAR Bruno Esteves. Por alegada "deslocação" de 3 centímetros! Uma vez mais protesto: estas decisões, visem a equipa que visarem, constituem um atentado ao futebol.
Do treinador. Inexplicável, a apatia de Rui Borges, que assistiu sem reacção ao recuo das nossas linhas depois de uma péssima entrada do Sporting na segunda parte, com o Braga a mandar no meio-campo depois de o treinador adversário, Carlos Carvalhal, ter desviado Ricardo Horta da ala para o centro, desequilibrando as forças. Num jogo que precisávamos em absoluto de vencer, o técnico leonino pareceu apostado sobretudo em defender o precário 1-0, abdicando das trocas que se impunham para conferir dinâmica ofensiva à equipa. Tinha tudo para correr mal - e correu.
Da exclusão de Harder. Rui Borges ainda estava então em Guimarães, mas não pode ignorar este facto: devemos ao dinamarquês - que ontem festejou o 20.º aniversário - a vitória contra o Braga, por 4-2, ao bisar na emocionante partida da primeira volta. Em vez de ser recompensado, o jovem atacante pareceu ter ficado agora de castigo o tempo quase todo. Foi já em desespero que o técnico o mandou saltar do banco ao minuto 90 - apenas com os seis de prolongamento para mostrar o que vale. Mesmo assim, ainda conseguiu fazer expulsar João Moutinho, facto raríssimo na carreira do antigo capitão do Sporting, agora com 38 anos.
Da escumalha das claques. Decorria o minuto 79, o Sporting protagonizava um rápido lance ofensivo visando a baliza do Braga, quando da Curva Sul começam a ser lançadas tochas para o relvado, forçando o árbitro a interromper o jogo. O fumo demorou vários minutos a dissipar-se, a jogada de ataque perdeu-se. São assim estes energúmenos: letais ao Sporting. Vão tornando o Estádio José Alvalade infrequentável.
De ver o Sporting relegado para o segundo posto a seis jornadas do fim. O sonho não morreu, mas fica agora mais distante. O sonho de conquistarmos o bicampeonato que nos foge há 73 anos. Após a goleada imposta pelo Benfica no Dragão, dependemos só de nós para celebrar o título. Antes desta jornada, poderíamos ir à Luz, na penúltima ronda da Liga 2024/2025, e sair de lá com um empate. Agora, com menos dois pontos do que os encarnados, não nos resta alternativa: temos mesmo de vencer. Não exigimos menos do que isto aos jogadores e à equipa técnica.
Gostei
De Gyökeres. Ele, mais do que ninguém, merecia ter saído de Alvalade com os três pontos. Fez por isso. Foi dele o nosso golo solitário, apontado com inegável classe de livre directo, castigando um derrube de Geny à margem das regras. Teve outra soberba oportunidade de marcar, aos 37', de ângulo apertado: só uma grande intervenção do guardião checo Horníček, melhor em campo, impediu a bola de rumar às redes. Sexto jogo seguido do campeonato a marcar, 31.º golo dele neste campeonato. Ainda está connosco e já figura para sempre no Quadro de Honra do Sporting.
De Quenda. Jogando encostado à linha direita, precisamente onde mais rende, foi incansável a subir e a descer o corredor. Não por acaso, o Braga não criou dali qualquer lance de perigo. Rematou com força para golo, aos 58': só Horníček o impediu. Aos 74', serviu Trincão de bandeja: infelizmente a cabeça do colega parecia não estar lá. Nem a cabeça nem o pé.
Da meia-hora inicial. Domínio claro do Sporting neste período, em que marcámos dois - mas só um valeu. Antes do adormecimento que viria a ser fatal para as aspirações da nossa equipa.
Custa muito "morrer na praia", depois duma noite descansada de Rui Silva e de Gyökeres ter passado perto dum "hat-trick", mas não é a primeira vez que perdemos pontos/jogos desta forma com Rui Borges (Leipzig, AVS, Porto, etc), e quando as coisas se repetem e repetem é porque existem razões para isso.
Cada jogo destes teve a sua história, mas a principal razão para termos deixado fugir ontem a vitória foi porque Rui Borges mexeu tarde e mal na equipa. Já ao intervalo se percebia que Catamo era incapaz de ligar jogo, sendo alvo fácil para o meio-campo do Braga (com excepção do amarelo a Moutinho), numa posição que não é a melhor para ele, viciado que está a jogar pela direita de pé trocado. Para fazer slaloms de olhos fechados até perder a bola já lá estava Trincão, que mesmo com Gyökeres desmarcado ao lado resolve fazer um chapéu ao guarda-redes adversário.
Com os dois em campo não me recordo de um lance de combinação ala-interior pelas laterais. Sem isso ficámos aprisionados pelo meio-campo adversário.
O ponto fraco do Braga estava na defesa, que tremia de cada vez que a bola chegava a Gyökeres. Fazia todo o sentido lançar Harder e insistir num jogo mais directo sobrevoando o meio-campo contrário. Mas Rui Borges fez o contrário: deixou Debast esgotar-se na luta no miolo, acabando por fazer uma dupla substituição que nada melhorou. Felicíssimo e Maxi entraram a frio na luta do meio-campo numa fase em que os alas já eram defesas laterais e o Braga, excelentemente comandado por Moutinho, pôde prosseguir a rodar a bola dum lado ao outro do campo até encontrar a nesga, no centro ou na banda. Essa nesga apareceu na direita, aconteceu um bom centro e um grande golo de cabeça dum miudo que tinha entrado pouco antes, aproveitando o pior de Quaresma.
Foi então, com o jogo a acabar, que entrou Harder, que tinha sido o herói da vitória em Braga, combinando excelentemente com Gyökeres. Na conferência de imprensa ouvi Rui Borges comentar o assunto e mais valia ter estado calado: não esperava aquilo dele.
Enfim. O Sporting entrou bem no jogo e teve excelente meia-hora inicial, baixou o ritmo e deixou o Braga pegar no jogo tentando o contra-golpe. Depois do intervalo o Braga mandou no jogo através do seu forte meio-campo e o Sporting ficou limitado a lances avulsos de contra-ataque. O golo do Braga chegou mais cedo do que o apito final, sem que o Sporting tivesse esgotado as substituições para refrescar a equipa.
Existiam soluções no banco? Apesar de tudo, estavam lá. Amorim muitas vezes mudava a equipa mexendo na linha defensiva, e ontem Fresneda e St. Juste poderiam ter dado outra dinâmica ao lado direito libertando Quenda para o lugar de Trincão. Do outro lado, Maxi entrando ao intervalo tinha dado outro conforto a Matheus Reis e a Debast.
Sobre Harder já falei. Quem não tem cão (Morita e Pote) tem que lá ir com gato.
Melhor em campo? Gyökeres, ontem ainda mais.
Arbitragem? Deixou jogar com critério uniforme, nada a apontar.
E agora? Ganhar todos os jogos que faltam, qual é a dúvida?
Gostei muito da sexta vitória consecutiva do Sporting, anteontem em Alvalade, na primeira mão da meia-final contra o Rio Ave. Triunfo tranquilo, por 2-0 - resultado que já se registava ao intervalo, construído quase a abrir e mesmo a fechar a primeira parte. Domínio completo do onze leonino: Rui Silva fez a única defesa com dificuldade média no canto do cisne da partida, aos 90'+6, neste seu segundo jogo seguido sem sofrer golos. Rui Borges alcança nesta sequência de desafios sempre a vencer o seu melhor registo como treinador do Sporting, potenciado por ter adoptado o anterior sistema táctico, popularizado por Ruben Amorim: 3-4-3. Aquele que nos levou duas vezes ao título de campeão nacional de futebol, em 2021 e 2024.
Gostei da excelente forma de Viktor Gyökeres. O artilheiro sueco voltou a ser o melhor em campo, empurrando a equipa para a frente, pondo a defesa adversária sempre em sobressalto. Foi dele o segundo golo, aos 45'+1: penálti convertido "à Panenka", com paradinha - algo inédito nele, pelo menos de leão ao peito. Números impressionantes na época em curso: 43 jogos, 43 golos (além de 11 passes para golo). Dezoito foram marcados de grande penalidade, sem falhar uma - 12 na Liga. Também gostei do golaço de Geny, aos 12', em espectacular recarga após um canto. Sexto golo da temporada do moçambicano, que viu outro anulado, por 18 cm, e conquistou o penálti que confirmou a vitória e nos deixa mais tranquilos para o desafio da segunda mão, em Paços de Ferreira, onde o Rio Ave joga por empréstimo. Já de olhos postos no Jamor.
Gostei pouco que Harder só tivesse entrado aos 79', substituindo Trincão. O jovem internacional dinamarquês merece mais tempo de jogo. Mal entrou, agitou o ataque leonino, que estava demasiado previsível e mecanizado. Aos 81', desferiu um tiro que roçou a baliza rioavista. Aos 84', ganhou a bola junto à linha final, do lado direito, e centrou atrasado, com precisão, para Maxi Araújo desperdiçar no centro da área em excelente posição para o remate. Revela alegria a jogar e nota-se nele uma insaciável fome de golos. Merece mais minutos, muitos mais.
Não gostei do desperdício. Faz pouco sentido concretizar apenas dois golos com tanto fluxo ofensivo. Fresneda (aos 56') foi incapaz de aproveitar à boca da baliza uma oferta de Gyökeres, chutando escandalosamente para a bancada. Maxi Araújo conseguiu também o mais difícil -- falhar - depois de Harder a ter colocado redondinha e bem tratada aos seus pés. Aos 62'', Gyökeres disparou um tiro fortíssimo, fazendo a bola embater no ferro: teria sido um golo de antologia. Merecemos vitória mais dilatada: ficou sem efeito por falta ou excesso de pontaria, conforme os casos.
Não gostei nada de confirmar que a contratação de Biel foi um fiasco. Caro, ainda por cima: custou 6 milhões no chamado "mercado de Inverno". Dois meses depois de ter chegado, não restam dúvidas: o ala (?) brasileiro não conta para Rui Borges. Quase sempre fica no banco. Quando entra, como foi o caso há dois dias, mal toca na bola: substituiu Geny aos 88', voltou a dissipar outra oportunidade de mostrar aos adeptos o que vale - se é que vale alguma coisa. Outro Vladan, outro Marsà, outro Sotiris, outro Tanlongo, outro Rochinha, outro Bellerín, outro Koba, outro Pontelo? Parece.
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