A ver o Europeu (14)
PÉSSIMA EXIBIÇÃO CONTRA A ALEMANHA
Tudo quanto podia correr mal, correu mesmo à selecção portuguesa no embate contra a selecção alemã, que hoje conseguiu os primeiros pontos no Euro-2021. Dois autogolos (primeiro por Rúben Dias, depois por Raphael Guerreiro), exibições desastrosas dos nossos flanqueadores, incapacidade total de garantir a vantagem obtida cedo no marcador, dois golos sofridos em quatro minutos ainda no primeiro tempo, quando parecíamos jogar sem lateral direito. Para cúmulo, um monumental tiro de Renato Sanches a embater com estrondo no poste quando ainda era possível uma reviravolta no resultado.
Fomos derrotados por 4-2, para gáudio dos cerca de 20 mil espectadores nas bancadas do estádio de Munique - segundo confronto consecutivo que travamos em casa da selecção adversária. E no entanto até fomos os primeiros a marcar, estavam decorridos 15', num rápido contra-ataque iniciado por Bernardo junto à linha direita e a centrar cruzado para Diogo Jota, que recebeu bem e assistiu para Cristiano Ronaldo, com Neuer impotente para impedir o golo. O nosso capitão marcou assim o seu terceiro no Euro-2021. Que é também o 107.º da sua carreira na equipa das quinas. E o 12.º que marca em fases finais de campeonatos da Europa.
Os quatro golos da Alemanha ocorreram na esquerda após passes a partir do flanco oposto aproveitando uma exibição desastrosa de Nelson Semedo, que foi um passador na posição de lateral direito: Gosens, ala esquerdo alemão e titular da Atalanta, fez dele o que quis. Marcou um golo, assistiu para dois e participou na construção do outro, impondo-se como melhor em campo.
Os erros defensivos da selecção nacional começaram a partir da linha do meio-campo: Bernardo Silva nunca recuou em apoio do sector mais recuado e foi bem substituído ao intervalo, dando lugar a Renato Sanches. Mas do lado oposto as coisas não estiveram melhor: Raphael Guerreiro foi sempre muito frágil a defender e quase inexistente a atacar, destacando-se pela negativa ao marcar um autogolo aos 39'. Rúben Dias oscilou igualmente entre o mau e o péssimo, marcando também na própria baliza, aos 35'.
Incompreensível foi o facto de Portugal só ter feito cinco faltas em toda esta partida. Como se quiséssemos facilitar a vida à equipa anfitriã.
Reduzimos para 2-4, aos 67', com Ronaldo e Jota a inverterem papéis: o melhor do mundo assistiu, dominando muito bem a bola junto à linha de fundo, e o avançado do Liverpool encostou.
Abria-se uma ténue luz de esperança, reforçada com o petardo de Renato ao poste. O médio do Lille implora por titularidade no onze nacional. Foi o nosso segundo melhor em campo, com o terceiro posto a ser ocupado por Pepe - único elemento do bloco defensivo com nota positiva. O melhor, para não variar, foi Cristiano: em muitos períodos do jogo, dava a sensação que só mesmo ele queria virar o resultado. Não merecia, de todo, esta derrota.
Esperemos que a exibição e o resultado sejam muito melhores no próximo embate. Será na quarta-feira contra a poderosa França, campeã mundial, que hoje empatou 1-1 com a Hungria. O que baralha ainda mais as contas do nosso Grupo F.
Alemanha, 4 - Portugal, 2
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Sofreu quatro golos, marca inédita na selecção desde que é conduzida por Fernando Santos. Sem culpa em nenhum deles. E ainda impediu pior, aos 44' e aos 45'+3. Má reposição de bola em diversas ocasiões.
Nelson Semedo - Gosens ganhou-lhe sistematicamente todos os duelos. Os quatro golos alemães nasceram ou concretizaram-se na zona que lhe estava confiada. Ter recebido pouco ou nenhum apoio do colega da frente serve-lhe de atenuante, mas não o desculpa.
Pepe - Acorreu a várias situações, procurando corrigir erros posicionais dos colegas. Bons cortes aos 23' e aos 36'. E ainda foi lá à frente tentar o golo, em bola parada, aos 89'. Inesgotável energia anímica. Mas não pôde evitar os erros dos colegas, nomeadamente nas situações de autogolo.
Rúben Dias - Pareceu perdido neste jogo. Aos 24', fez um corte defeituoso que podia ter gerado uma situação de perigo. Aos 34', marcou na própria baliza, facilitando a vida aos alemães. Muito intranquilo, continuou sem sombra de inspiração. Entregou a bola aos 65', voltando a errar.
Raphael Guerreiro - Lento, sem confiança, totalmente desinspirado a defender. Aos 39', comete dois erros capitais: coloca um adversário em jogo e logo a seguir é ele a introduzir a bola na própria baliza. Pondo a Alemanha pela primeira vez em posição favorável neste encontro.
Danilo - Médio defensivo posicional, acabou por prestar pouco apoio ao bloco mais recuado. Muito macio, evitando recorrer a faltas, sem iniciativa na construção. Faltou-lhe acutilância, intensidade e capacidade de reacção para fechar o corredor central.
William Carvalho - De uma lentidão exasperante, revelando má condição física, permitiu que se abrissem clareiras no nosso meio-campo. Competia-lhe assegurar a transição para as linhas dianteiras, mas foi incapaz de cumprir esta missão. Deu lugar a Rafa aos 58'.
Bruno Fernandes - Outra partida muito apagada do melhor jogador da Liga inglesa. Precisa de jogar mais de frente para a baliza. Faltou-lhe bola, revelou défice na iniciativa atacante e nem fez a diferença nas bolas paradas. Saiu aos 64', dando lugar a João Moutinho.
Bernardo Silva - Só jogou o primeiro tempo, com apenas uma acção positiva: o início da construção do primeiro golo português, que nos colocou em vantagem entre os 15' e os 35'. De resto, uma nulidade. Não fechou o flanco, não ajudou a defender. Já não regressou do intervalo.
Diogo Jota - Exibição positiva, apesar de tudo. Serviu muito bem Cristiano Ronaldo no primeiro golo, com excelente recepção de bola e assistência com um toque lateral do pé direito. CR7 retribuiu-lhe aos 67'. Substituído por André Silva aos 83'.
Cristiano Ronaldo - O capitão voltou a demonstrar que é indispensável na equipa das quinas. Marcou (15'), deu a marcar (67') e foi o mais inspirado e clarividente. O livre que propicia o nosso segundo golo resulta de uma falta sobre ele. Protagonizou bons lances aos 21', 70' e 90'+4.
Renato Sanches - Primeiro a saltar do banco, rendendo Bernardo na segunda parte. Está em boa forma, entende-se mal por que motivo não é titular neste Europeu. Bom na condução de bola, sólido nos confrontos individuais. Grande remate de meia-distância, disparando um tiro ao poste.
Rafa - Entrou aos 58'. Desta vez não funcionou como talismã da equipa, ao contrário do que tinha sucedido contra a Hungria. Incapaz de fazer a diferença à frente, também deficiente a defender: permitiu Gosens fazer o que quis no quarto golo alemão (60').
João Moutinho - Em campo a partir dos 64', substituindo Bruno Fernandes. Teve tempo para perder várias bolas e errar vários passes. De positivo, o livre que marcou aos 67': daí viria a nascer o nosso segundo golo.
André Silva - Entrou só aos 83', substituindo Jota. Fazia todo o sentido ter alinhado como titular, pois sagrou-se segundo melhor marcador da Liga alemã. Pareceu algo desconcentrado, mas em boa verdade mal teve tempo para mostrar o que vale.