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És a nossa Fé!

Quente & frio

 

Gostei muito da sexta vitória consecutiva do Sporting, anteontem em Alvalade, na primeira mão da meia-final contra o Rio Ave. Triunfo tranquilo, por 2-0 - resultado que já se registava ao intervalo, construído quase a abrir e mesmo a fechar a primeira parte. Domínio completo do onze leonino: Rui Silva fez a única defesa com dificuldade média no canto do cisne da partida, aos 90'+6, neste seu segundo jogo seguido sem sofrer golos. Rui Borges alcança nesta sequência de desafios sempre a vencer o seu melhor registo como treinador do Sporting, potenciado por ter adoptado o anterior sistema táctico, popularizado por Ruben Amorim: 3-4-3. Aquele que nos levou duas vezes ao título de campeão nacional de futebol, em 2021 e 2024.

 

Gostei da excelente forma de Viktor Gyökeres. O artilheiro sueco voltou a ser o melhor em campo, empurrando a equipa para a frente, pondo a defesa adversária sempre em sobressalto. Foi dele o segundo golo, aos 45'+1: penálti convertido "à Panenka", com paradinha - algo inédito nele, pelo menos de leão ao peito. Números impressionantes na época em curso: 43 jogos, 43 golos (além de 11 passes para golo). Dezoito foram marcados de grande penalidade, sem falhar uma - 12 na Liga. Também gostei do golaço de Geny, aos 12', em espectacular recarga após um canto. Sexto golo da temporada do moçambicano, que viu outro anulado, por 18 cm, e conquistou o penálti que confirmou a vitória e nos deixa mais tranquilos para o desafio da segunda mão, em Paços de Ferreira, onde o Rio Ave joga por empréstimo. Já de olhos postos no Jamor.

 

Gostei pouco que Harder só tivesse entrado aos 79', substituindo Trincão. O jovem internacional dinamarquês merece mais tempo de jogo. Mal entrou, agitou o ataque leonino, que estava demasiado previsível e mecanizado. Aos 81', desferiu um tiro que roçou a baliza rioavista. Aos 84', ganhou a bola junto à linha final, do lado direito, e centrou atrasado, com precisão, para Maxi Araújo desperdiçar no centro da área em excelente posição para o remate. Revela alegria a jogar e nota-se nele uma insaciável fome de golos. Merece mais minutos, muitos mais.

 

Não gostei do desperdício. Faz pouco sentido concretizar apenas dois golos com tanto fluxo ofensivo. Fresneda (aos 56') foi incapaz de aproveitar à boca da baliza uma oferta de Gyökeres, chutando escandalosamente para a bancada. Maxi Araújo conseguiu também o mais difícil -- falhar - depois de Harder a ter colocado redondinha e bem tratada aos seus pés. Aos 62'', Gyökeres disparou um tiro fortíssimo, fazendo a bola embater no ferro: teria sido um golo de antologia. Merecemos vitória mais dilatada: ficou sem efeito por falta ou excesso de pontaria, conforme os casos.

 

Não gostei nada de confirmar que a contratação de Biel foi um fiasco. Caro, ainda por cima: custou 6 milhões no chamado "mercado de Inverno". Dois meses depois de ter chegado, não restam dúvidas: o ala (?) brasileiro não conta para Rui Borges. Quase sempre fica no banco. Quando entra, como foi o caso há dois dias, mal toca na bola: substituiu Geny aos 88', voltou a dissipar outra oportunidade de mostrar aos adeptos o que vale - se é que vale alguma coisa. Outro Vladan, outro Marsà, outro Sotiris, outro Tanlongo, outro Rochinha, outro Bellerín, outro Koba, outro Pontelo? Parece. 

Rescaldo do jogo de anteontem

 
 

Gostei

 

De outra vitória do Sporting. Triunfo justissimo na Amadora, perante um Estrela que luta para não descer (antepenúltimo). Com melhor resultado (0-3) do que o alcançado no campeonato anterior, também na Reboleira (1-2), faz amanhã um ano.

 

De Gyökeres. É uma máquina de marcar golos, mestre na arte de jogar futebol. Um dos melhores avançados do longo e prestigiado historial leonino. A grande figura da partida, melhor em campo uma vez mais. Interveio nos três golos - marcando dois de penálti (52') e 89'), assistindo no restante e tendo ele próprio conquistado a segunda grande penalidade, tão indiscutível como a primeira. Apresenta números extraordinários: 42 golos em 42 jogos nesta época desportiva, elevando-se a 51 golos em 48 partidas se contarmos com a sua prestação ao serviço da selecção sueca. Extraordinário.

 

Do golaço de Quenda. Bem servido por Gyökeres na ponta direita, rematou de ângulo já muito apertado encaminhando a bola na direcção certa, vencendo com inegável classe o duelo com o ex-benfiquista Ferro, agora lateral esquerdo na Reboleira. Aconteceu aos 81', carimbando já sem lugar a dúvidas a vitória do Sporting na Amadora. Um dos mais belos golos do mês de Março em Portugal.

 

Das nossas redes invioladas. Rui Silva não teve necessidade de fazer qualquer defesa digna desse nome. Desde 25 de Janeiro, na recepção ao Nacional, que não mantínhamos a nossa baliza a zero. 

 

De Rui Borges. Quinta vitória consecutiva - quarta no campeonato. Continua sem perder na Liga como treinador do Sporting, mesmo com a equipa sempre desfalcada de alguns dos melhores elementos.

 

De rever Jovane. Formado em Alcochete, joga agora pelo Estrela mas continua a merecer o respeito e a consideração da massa adepta leonina.

 

Da arbitragem. Bom desempenho de Gustavo Correia, que soube impor-se no capítulo disciplinar. Merece elogio.

 

Da nossa liderança reforçada. Continuamos isolados em primeiro. Com 65 pontos. Conseguimos 20 vitórias nestas 27 rondas. Só faltam sete para concretizarmos o maior sonho: a conquista do bicampeonato que nos foge há 74 anos.

 

De mantermos o melhor ataque da Liga. Já com 73 golos registados. Mais onze do que o Benfica, mais vinte (!) do que o FC Porto.

 

 

Não gostei

 

Das ausências. Morten e Maxi Araújo castigados. Morita e Pedro Gonçalves ainda lesionados. Nuno Santos, João Simões e Daniel Bragança impossibilitados de dar contributo ao clube até à próxima temporada. Demasiadas ausências no onze titular, ainda muito longe do ideal.

 

Do zero-a-zero ao intervalo. Merecíamos ter chegado ao descanso já a vencer, após duas grandes oportunidades por concretizar: um disparo de Gyökeres logo aos 32 segundos travado in extremis por João Costa e uma bola rematada ao ferro por Matheus Reis, aos 6'.

 

De termos mantido dois médios defensivos (Debast e Felicíssimo) até ao minuto 90. Não havia necessidade de manter uma linha média tão recuada perante a total inoperância ofensiva do Estrela e quando já jogávamos com mais um desde os 34', por expulsão de Montóia.

 

Dos incendiários das claques. Voltou a acontecer, desta vez aos 72': dez tochas arremessadas da bancada, três das quais atingiram o relvado. Estes energúmenos continuam a passear impunemente de estádio em estádio, causando prejuízos crescentes ao clube, que é nosso e não deles. Letais ao Sporting, como sempre.

 

Do amarelo a Matheus Reis. Impede-o de actuar na próxima jornada, contra o Braga.

 

De Alan Ruiz. Agora no Estrela, passou há uns anos pelo Sporting sem deixar saudades, numa fase de má memória. Avançado, só conseguiu marcar sete golos em 34 jogos. Não melhorou nada de então para cá.

 

Do Estrela da Amadora. Bons na sarrafada, péssimos no futebol: nem um remate à nossa baliza fizeram. Não admira que continuem sem vencer uma partida desde 23 de Dezembro. Se descerem de divisão ninguém se admira. Nem eles.

Rescaldo do jogo de ontem

 
 

Gostei

 

Do nosso triunfo incontestável da noite de ontem. Vencemos o Estoril em casa, por 3-1. Pondo fim a uma sequência de oito jogos da equipa adversária sem perder: a última derrota dos canarinhos havia sido a 23 de Dezembro. Deram boa réplica, valorizaram o espectáculo em Alvalade, mas só conseguiram uma ocasião de golo - precisamente a que foi concretizada. Porque, excepto nesse lance, os jogadores leoninos souberam bloquear o acesso à nossa baliza. Bateram-se com agressividade bem doseada, combatividade, capacidade de luta e vontade de ganhar segundas bolas, sem dar nenhum duelo como perdido. Quando foi preciso gerir, em períodos da segunda parte, soubemos agir com inteligência e competência.

 

De Gyökeres. Quem disse que ele já tinha rebentado e havia perdido a capacidade goleadora? Enorme disparate. Foi o melhor em campo, a grande figura do encontro: marcou dois golos, o segundo e o terceiro, e desperdiçou outros tantos. Mas é justo que seja distinguido como obreiro maior destes três pontos no nosso estádio. Golaço aos 36', sentando dois defesas e ludibriando o guarda-redes Joel Robles com forte remate rasteiro. Fechou a contagem aos 90'+6, num penálti também conquistado por ele e convertido de modo irrepreensível. Já tinha marcado a todas as equipas da Liga portuguesa, excepto uma: o Estoril. Acaba de fazer o pleno. Reforça o comando na lista de artilheiros do campeonato 2024/2025: já marcou 25. E 37 no total da época, em 39 jogos. Números impressionantes.

 

De Debast. Médio de construção improvisado, dada a ausência simultânea de Morten, Morita e Daniel Bragança. Deu muito boa conta do recado, sobretudo no capítulo do passe longo, com pontaria calibrada. Duas assistências - a primeira na marcação dum livre lateral, para a cabeça de Gonçalo Inácio, logo aos 5'; a segunda num soberbo passe à distância, traçando uma diagonal perfeita para a desmarcação de Gyökeres. E ainda mandou um petardo ao ferro, na ressaca de um canto, aos 63'. Exibição de grande nível.

 

De Gonçalo Inácio. Com braçadeira de capitão, assumiu desta vez a liderança da defesa, impondo-se na orientação dos colegas sempre que tinha início um movimento defensivo. Regressou aos golos, fulminando de cabeça o guardião do Estoril, aos 5', em notável exibição de jogo aéreo após conversão dum livre lateral muito bem batido por Debast. Evidenciou segurança e confiança nesta partida em que foi distinguido pela sua participação em 200 desafios de Leão ao peito como profissional de futebol.

 

Da estreia de Felicíssimo como titular. Bom jogo do jovem médio defensivo, suprindo a ausência de todos os titulares do nosso meio-campo e até também a do jovem João Simões, que o precedeu na ascensão à equipa principal. Seguro, sem complicar, movimentando-se bem sem bola, não acusou nervosismo após ter sido amarelado aos 33'. Tem atitude, boa presença em campo e inegável destreza técnica. 

 

De José Silva, também em estreia. Entrou só aos 79, substituindo Quenda, mas teve tempo suficiente para mostrar qualidade. Veloz, combativo, sem fugir aos duelos na ala direita. Poucos diriam que era este o seu primeiro jogo na Liga portuguesa de futebol. Outra aposta de Rui Borges na formação: merece aplauso.

 

De ter começado a ganhar cedo. Concretizámos na primeira oportunidade disponível - e logo num lance de bola parada, algo pouco frequente. Isto ajudou muito a tranquilizar a equipa e os próprios adeptos.

 

Da primeira parte, com domínio absoluto nosso. Chegámos ao intervalo a vencer 2-0. Sem dar hipótese aos estorilistas de fazerem um só remate enquadrado. E poderíamos ter goleado, tantas foram as falhas defensivas do Estoril.

 

De vencermos com sete jogadores da formação. E também com nove - em 15 - jogadores sub-23: Diomande (21 anos), Gonçalo Inácio (23), Fresneda (20), Debast (21), Felicíssimo (18), Quenda (17), Harder (19), Arreiol (19) e José Silva (19).

 

Da presença de mais de 36 mil adeptos em Alvalade. Apoio entusiástico e sem desfalecimentos do princípio ao fim. Foi a melhor maneira de aquecer numa noite fria de Inverno. 

 

Da nossa liderança reforçada. Concluídas 24 jornadas, vamos isolados em primeiro. Com 56 pontos. Conseguimos 17 vitórias nestas 24 rondas. Só faltam dez para concretizarmos o maior sonho: a conquista do bicampeonato que nos foge há 74 anos.

 

 

Não gostei

 

Do golo solitário que sofremos, aos 84'. Único momento de descoordenação da nossa defesa, bem aproveitado por Gonçalo Costa para a meter lá dentro - em lance validado por apenas 5 cm. O lateral esquerdo não festejou, em respeito pelo Sporting: esteve 12 épocas na Academia de Alcochete, onde percorreu todos os escalões de formação, chegando a jogar na equipa B. Saiu, sem oportunidade de subir à equipa A, mas demonstrou não ser ingrato. Merece toda a sorte na profissão.

 

Da longa lista de lesões. Nove jogadores impedidos de ser convocados por motivos de ordem física. O mais recente? O jovem Alexandre Brito, recém-estreado como médio na equipa principal: também ele já está fora de combate. Parece uma maldição que se abateu nesta época sobre Alvalade.

 

Da ausência de Maxi Araújo. Impedido de actuar nesta recepção ao Estoril por acumulação de cartões, o jovem uruguaio fez-nos falta nas movimentações junto à linha esquerda. Quenda, ali titular à frente de Matheus Reis, esteve vários pontos abaixo, perdendo bolas e pecando por falta de compromisso defensivo. Atravessa claramente um período de menor fulgor.

 

Das oportunidades falhadas. Umas por inépcia no momento da decisão, outras goradas devido a boas intervenções do guarda-redes adversário. As quatro na meia hora inicial de jogo. Duas protagonizadas por Gyökeres, aos 22' e aos 30' - a segunda após impressionante corrida de Esgaio, que galgou cerca de 40 metros para assistir o craque sueco. Outras duas por Trincão, em noite pouco inspirada, aos 23' e aos 30', no primeiro caso desperdiçando o facto de só ter Joel Robles pela frente.

Rescaldo do jogo de ontem

 

Gostei

 

De termos ultrapassado mais um obstáculo. Recebemos e vencemos o Nacional - a mesma equipa que há duas semanas, na Choupana, derrotou o FC Porto numa partida em que a turma portista foi incapaz de fazer um só remate enquadrado. Quem pensava que seriam favas contadas estava a ver mal o filme: a equipa madeirense apresentou-se em Alvalade num 5-4-1 muito difícil de transpor, mesmo quando já perdia 0-1 - resultado que se registava ao intervalo.

 

De Trincão. Tantas vezes mal amado pelos adeptos, foi ele mais uma vez a desbloquear um jogo, valendo-nos os três pontos. Perante a muralha madeirense, solucionou o problema de modo brilhante: com um tiro disparado a mais de 30 metros, com a bola a descrever trajectória em arco a partir da meia-direita e a anichar-se no sítio certo. Um golaço que quebrou a resistência do Nacional quando já decorria o minuto inicial do tempo extra da primeira parte e começavam a escutar-se manifestações de impaciência nas bancadas. O avançado minhoto volta a ser crucial após o fabuloso golo do empate que apontou em Guimarães mesmo à beira do apito final dessa trepidante partida. Melhor em campo.

 

De Morten. Outra actuação superlativa do internacional dinamarquês. Fundamental para impedir a construção ofensiva do Nacional. Protagonizou recuperações aos 6', 17', 22', 45'+3 e 51' - sempre com elevadíssimo grau de eficácia. Ostenta com todo o mérito a braçadeira de capitão: é um elemento crucial deste Sporting que sonha com a reconquista do bicampeonato.

 

De Diomande. Ao vê-lo com tanta personalidade e tanta autoridade natural em campo, até nos esquecemos que só tem 21 anos. O internacional marfinense voltou a ser dono e senhor do nosso bloco defensivo, que comanda com segurança e desenvoltura. Transmite tranquilidade à equipa.

 

Da estreia de João Simões a marcar na equipa A. Funcionou o dedo experiente do treinador Rui Borges: tripla substituição aos 89', um dos que entraram foi João Simões, que no minuto seguinte marcou de pé esquerdo o segundo golo, fixando o resultado: 2-0. Primeiro golo pela equipa principal do médio com 18 anos recém-festejados: foi a maior nota de alegria numa noite que encerrou em clima de festa. Fica para a história a corrida de 50 metros do João em direcção aos apanha-bolas, que abraçou efusivamente enquanto chorava lágrimas de genuína e compreensível felicidade.

 

Da nossa reacção à perda da bola. Em nenhum momento do jogo deixámos de dominar por completo o controlo das operações. Em nenhum momento nos desorganizámos. Em nenhum momento perdemos a noção do fundamental: era preciso metê-la lá dentro para conseguirmos os três pontos. Concentração total que deu frutos, mesmo com exibições menos conseguidas e o estigma do cansaço por excesso de jogos sempre a pairar sobre a equipa.

 

De Rui Borges. Facto que merece ser assinalado: na Liga, o nosso treinador ainda não perdeu qualquer jogo à frente do Sporting. Mantendo uma atitude serena, própria dos verdadeiros líderes, soube ler bem o jogo e fazer as mudanças que se impunham. Qualidades que se prolongam fora de campo, nas declarações aos jornalistas. Com um discurso claro, directo, sem "futebolês". Confirma em Alvalade o bom trabalho que já havia demonstrado em Guimarães.

 

Que mantivéssemos a baliza intacta. Pelo segundo jogo consecutivo da Liga (acontecera o mesmo na deslocação a Vila do Conde), Rui Silva não teve de fazer uma defesa digna desse nome. Onze dos nossos 19 desafios disputados neste campeonato terminaram assim: sem o Sporting sofrer golos.

 

De ver Mathieu de regresso a Alvalade. O excelente central francês, que tão bem serviu o Sporting durante três épocas, entre 2017 e 2020, assistiu ao jogo num camarote. Será sempre bem-vindo.

 

De ver as bancadas muito preenchidas. Mais de 42 mil adeptos acompanharam ao vivo, no estádio, este Sporting-Nacional.

 

De reforçar a nossa posição a liderar a Liga. Comandamos com 47 pontos - apenas menos dois do que na mesma fase do campeonato anterior. Aumentámos a distância para o Benfica, que segue com menos seis - há um ano, tinha apenas menos um. Somos a equipa com mais vitórias e menos derrotas. Temos o melhor ataque (53 golos, mais dez do que o Benfica) e a melhor defesa. Temos o maior goleador. Todos os números indicam: vamos no bom caminho. Para que o sonho se torne realidade.

 

 

Não gostei

 

De termos esperado 45'+1 para vermos o nosso primeiro remate enquadrado. Mas valeu a pena: o impasse foi quebrado pela bomba de Trincão. Nota máxima no plano artístico.

 

Do atraso do jogo. Começa a tornar-se um mau hábito em Alvalade: desta vez a partida começou com 6 minutos de atraso.

 

De Fresneda. Ele esforça-se, mas voltou a ter exibição insuficiente. Quando sobe no corredor, não dribla nem cruza. O mais provável é vê-lo perder a bola. A defender, não transmite segurança: abusa dos passes à queima e mostra-se muito intranquilo. Precisamos com urgência dum lateral direito melhor que ele.

 

De ver sair Morita com problemas musculares. Aconteceu aos 68': o internacional japonês abandonou o jogo com cara de sofrimento, queixando-se de dores numa coxa. Outra lesão à vista ou recaída da anterior? Convém lembrar que ele é um dos elementos mais importantes do Sporting, nada fácil de substituir.

 

Dos assobios. Alguns adeptos, sempre à beira de um ataque de nervos, começaram a vaiar certos jogadores (Fresneda foi um deles) a meio da segunda parte, indiferentes ao facto de estarmos a vencer e de o Benfica, pouco antes, ter sido derrotado (1-3) pelo Casa Pia. Estes adeptos tardam em perceber que assim nada conseguem de positivo: em vez de apoiarem, só desapoiam. Volto a perguntar: se é para assobiar, por que raio não ficam em casa?

2024 em balanço (9)

 

GOLO DO ANO

Esta escolha, para mim óbvia, presta homenagem ao talento futebolístico de Viktor Gyökeres, maior marcador mundial no ano que passou, com 62 apontados em 63 jogos. Marca extraordinária: honra. orgulha e enobrece ainda mais o símbolo do Leão, que o ponta-de-lança sueco transportou ao peito na grande maioria dos desafios. 

As imagens dizem tudo. O craque leonino recebe um fenomenal passe de trivela do pé direito de Debast e progride com a bola logo após a linha do meio-campo: Sempre com ela dominada - primeiro junto à linha esquerda, depois inflectindo para o centro do terreno, já defronte da baliza. Bate em velocidade o lateral, senta um central, dribla o guarda-redes e remata. Após uma vertiginosa corrida de 40 metros, ainda tem força para disparar um míssil.

Aconteceu ao minuto 53 do Sturm Graz-Sporting, desafio da Liga dos Campeões: Era o nosso segundo golo, sentenciando a partida contra o campeão austríaco. Somávamos mais três pontos na prova milionária após impormos derrota ao Lille em Alvalade (2-0) e empatarmos na Holanda frente ao PSV (1-1). 

Foi a 22 de Outubro. Como se fosse mais um dia no escritório do campeão sueco. Os génios da bola são assim.

 

Vale a pena destacar três menções honrosas de 2024, todas para lembrar também:

- O golo de Eduardo Quaresma no Sporting-Braga, a 11 de Fevereiro (ganhámos 5-0);

- O golo de Geny no Sporting-Benfica a 6 de Abril (vencemos 2-1);

- O golo de Debast no Sporting-Lille, a 17 de Setembro (ganhámos 2-0).

 

 

Golo do ano em 2012: Xandão, contra o Manchester City

 Golo do ano em 2013: Montero, contra a Fiorentina

Golo do ano em 2014: Nani, contra o Maribor

Golo do ano em 2015: Slimani, na final da Taça de Portugal

Golo do ano em 2016: Bruno César, contra o Real Madrid

Golo do ano em 2017: Bruno Fernandes, contra o V. Guimarães

Golo do ano em 2018: Jovane, contra o Rio Ave

Golo do ano em 2019: Bruno Fernandes, contra o Benfica

Golo do ano em 2020: Nuno Mendes, contra o Portimonense

Golo do ano em 2021: Paulinho, contra o Boavista

Golo do ano em 2022: Edwards, contra o Tottenham

Golo do ano em 2023: Pedro Gonçalves, contra o Arsenal

Houve de tudo, da euforia ao desespero

V. Guimarães, 4 - Sporting, 4

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Viktor marcou mais três: já tem 21 na Liga e 30 no conjunto da temporada que ainda vai a meio

Foto: Hogo Delgado / Lusa

 

Este desafio em Guimarães pode ser adjectivado das mais diversas maneiras. Para alguns, foi um excelente jogo. Para outros, foi péssimo. Ou assombroso. Ou um hino ao futebol de ataque. Ou calamitoso. Ou o naufrágio dos sistemas defensivos.

Ou surpreendente. 

Depende dos pontos de vista. Para os adeptos de ambos os clubes, foi uma montanha-russa de emoções em cerca de cem minutos disputados no relvado do Estádio D. Afonso Henriques. Passou-se da euforia ao desespero, ou vice-versa. No fim, prevaleceu o equilíbrio. Não há justiça em futebol. Mas, se quisermos ver as coisas por esse prima, talvez o inédito 4-4 registado ao soar o apito final tenha sido o desfecho mais justo.

Surpreendente foi, de certeza. Nunca a equipa vitoriana nos tinha marcado quatro golos para o campeonato naconal, nunca tínhamos vindo de lá com quatro encaixados  - três dos quais num péssimo quarto de hora para as nossas cores, entre os minutos 70 e 85. Valeu-nos Trincão ao marcar o golo da noite de anteontem - autêntica obra de arte destinada a correr mundo - precisamente no último suspiro.

Quantas vezes perdemos um jogo com um golo sofrido no instante final? Desta vez empatámos. Trouxemos um ponto de lá, do mal o menos.

 

E no entanto dificilmente poderíamos ter começado melhor. Com Viktor Gyökeres a pôr termo ao breve jejum de golos, que só durou dois jogos: ainda não se havia concluído o segundo minuto, já ele a estava a meter no sítio certo. Correspondendo da melhor maneira a um passe bem medido de Quenda, desta vez a funcionar como médio-ala esquerdo.

O craque sueco repetiu a dose aos 14'. Rápido lance de ataque, novamente pelo corredor esquerdo, com Morita a lançar Quenda e de novo o jovem nascido há 17 anos em Bissau a fazer um passe letal para o bis de Viktor.

Anunciava-se goleada em Guimarães.

Pelo meio, aos 7', marcaram eles. Livre directo muito bem cobrado por Tiago Silva, ainda a considerável distância da nossa baliza. Israel esteve duas vezes mal na fotografia. Compôs mal a barreira, ordenando que só lá estivessem três colegas, e partiu tarde para a bola, que nem levava excessiva força: bastaria um passo à direita para tê-la travado. Mas teria de ser no momento certo, o que não aconteceu.

 

Assim atingimos o intervalo: 1-2. Controlávamos a partida, consolidava-se a ideia de que viríamos com três pontos. E mais forte se tornou esta convicção assim que marcámos o terceiro, no minuto 57, coroando a mais bela jogada colectiva do desafio. Desta vez iniciada à direita, por Geny, e em que intervieram também Trincão e Quaresma, depois Maxi Araújo a partir da esquerda com cruzamento a sobrevoar a área, Morita a elevar-se muito bem e Gyökeres a dizer.-lhe «arigato» enquanto a encaminhava para as redes, rasteirinha. 

A partir daí, deram-se dois factos simultâneos: vários dos nossos começaram a rebentar fisicamente e recuámos 30 metros, concedendo iniciativa aos de Guimarães. Rui Borges, neste regresso a um estádio onde já foi feliz, trocara Quenda por Maxi aos 55', mas já outros imploravam substituição. Morita, por exemplo, esteve 20 minutos a mais em campo.

Quase de rajada, sofremos três.

70': Matheus Reis foi batido em corrida por Arcanjo. Este cruzou à vontade para Kaio César, que disparou o tiro frente à baliza, livre de marcação.

82': João Mendes igualmente solto na área marcou um golaço. Morten ainda tentou travá-lo, sem conseguir.

85': O recém-entrado Dieu-Merci, terceiro ou quarto na hierarquia dos avançados vitorianos, deixou Matheus nas covas e disparou quase à queima-roupa, com Israel paralisado: o guardião uruguaio não tentou sequer cortar-lhe o ângulo de remate.

 

Foi a tal montanha-russa de emoções. Passámos da alegria à frustração, quase ao desespero. Valeu-nos os 6 minutos extra concedidos por João Gonçalves - excelente arbitragem - e a arte de Francisco Trincão, neste seu sexto golo marcado na Liga 2024/2025. Golo útil, que parecia caído do céu.

Não é a mesma coisa perder ou empatar. Há um ano, perdemos no mesmo estádio - com arbitragem delituosa do famigerado João Pinheiro. Desta vez trouxemos um pontito que pode dar muito jeito para as contas finais. Com o Benfica a naufragar (esse sim) na Luz, perante o Braga, e o Porto envolto em nevoeiro na Choupana, continuamos no comando da Liga agora que caiu o pano da primeira volta.

Onze dias após ter partido de Guimarães - onde agora lhe chamam "fugitivo" e "traidor" - Rui Borges recebeu insultos num estádio com mais de 26 mil espectadores. Já esquecidos, quase todos, da forma competente como ele montou e orientou a equipa: os quatro golos ao Sporting são a melhor prova disso. A excelente carreira internacional do Vitória, com dez triunfos na Liga da Conferência, é outra - entretanto diluída na amnésia colectiva das bancadas.

Esta é a outra face da festa do futebol: a do fanatismo, a do extremismo, a do sectarismo à solta. Uma face que de festivo não tem nada. 

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (3) - Culpa em dois golos sofridos. No primeiro orientou mal a barreira e fez-se tarde ao lance. No segundo ficou paralisado, mostrando-se incapaz de fazer a mancha.

Eduardo Quaresma (5) - Tem atitude, o que lhe fica bem: rompeu duas vezes linhas levando a bola para diante, como um extremo. Mas fez passes precipitados, fruto do nervosismo.

Diomande (4) - Nem parecia o mesmo que defrontou o Benfica. Entregou a bola aos 6', forçando Quaresma à falta: deu golo. Deixou fugir Gustavo em zona perigosa (13'). Voltou a entregar (52').

St. Juste (5) - Pareceu desconfortável na nova parceria com Diomande como central. Foi cortando e aliviando como podia, na torrente vitoriana da segunda parte. 

Matheus Reis (3) - Arcanjo disse-lhe adeus e galopou pelo nosso corredor esquerdo, aos 70': nasceu daí o segundo deles.  No quarto, aos 85', limitou-se a marcar Dieu-Merci com os olhos.

Morten (4) - Contribuiu, com a sua apatia, para dois golos vitorianos: no segundo permitiu que Kaio se movimentasse à vontade; no terceiro falhou cobertura a Mendes no centro da área.

Morita (6) - Foi um dos melhores enquanto teve pilhas. Lança Quenda em corrida no segundo golo e assiste Gyökeres de cabeça, dentro da área, no terceiro. Acudiu à defesa. Depois quebrou.

Geny (5) - Demasiado discreto após ter sido o melhor contra o Benfica. Disparou tiro aos 5': Varela defendeu. Foi fechando a ala direita, tentando articular com Quaresma, mas sem brilho.

Quenda (6) - Dois passes para golo no quarto de hora inicial. No segundo, também recupera a bola antes de a passar a Viktor. Foi perdendo duelos com Alberto junto à linha esquerda até sair.

Trincão (7) - A nota justifica-se pelo belíssimo golo que marcou aos 90'+5. Remate em arco, indefensável, que nos valeu um ponto. Já tinha sido ele a recuperar bola no lance do terceiro.

Gyökeres (9) - Que mais dizer? Há que tirar-lhe o chapéu: melhor em campo, mais três golos. Até hoje marcou 73 em 77 jogos de leão ao peito. Ainda está entre nós e já se tornou lenda.

Maxi (5) - Substituiu Quenda (55'). Esteve no melhor ao cruzar para o nosso quarto golo. Também esteve no pior: incapaz de fechar a ala esquerda, deixou Matheus ainda mais desamparado.

João Simões (5) - Substituiu Geny aos 79'. Destacou-se no minuto final com um passe longo, a queimar linhas, no lance de que resultaria o golo do empate.

Fresneda (3) - Rendeu Quaresma (86'). Nada fez para melhorar a equipa. Nervoso e quezilento, viu o amarelo aos 90'+3, fazendo-nos perder tempo precioso quando perdíamos 4-3.

Harder (4) - Substituiu um exausto Morita aos 86'. Tentou responder de cabeça ao centro de Maxi, no decisivo lance final, mas apenas conseguiu roçar a bola. Felizmente Trincão estava lá.

Rescaldo do jogo de ontem

 

Gostei

 

Da nossa fulgurante entrada no difícil desafio em GuimarãesAntes de concluído o segundo minuto da partida, neste jogo final da primeira volta, já tínhamos a bola enfiada no fundo das redes da equipa anfitriã. Antes de se esgotar o quarto de hora inicial, estava lá outra. Difícil conceber um começo mais fulgurante do que este - crédito por inteiro à nossa linha ofensiva.

 

De Gyökeres. Voltou às grandes noites de leão ao peito. Melhor em campo, autor de três golos: aos 2' (a passe de Quenda), aos 14' (novamente a passe de Quenda) e aos 57' (servido de cabeça por Morita dentro da área). Batalhador incansável, recuou sempre que necessário, nomeadamente para apoios defensivos nas bolas paradas. É um fenómeno: leva 21 golos apontados neste campeonato que só agora chegou a meio - e 30 no conjunto da temporada. Não merecia este empate no Minho. Merecia que tivéssemos ganho por goleada.

 

De Morita. Escasseiam os adjectivos para a prestação do  internacional nipónico, um dos grandes obreiros da primeira hora desta partida disputada sempre em ritmo muito intenso. Na primeira parte foi vital para accionar o nosso jogo ofensivo, mas soube recuar quando era necessário em apoio dos centrais. Vital a sua intervenção no terceiro golo, numa prodigiosa tabelinha com Gyökeres, a quem ofereceu o brinde. Como aconteceu a outros colegas, estoirou a partir da hora do jogo. Infelizmente para o treinador, nada temos equivalente a Morita no banco de suplentes.

 

De Quenda. Adaptado a médio-ala, do lado esquerdo, fabricou dois golos no quarto de hora inicial - proeza que merece ser assinalada. Não está ao alcance de qualquer um, ainda por cima sabendo-se que o jovem esquerdino costuma render mais quando actua do lado direito. No segundo golo não se limitou a assistir: o lance começa com uma recuperação dele. Infelizmente começou a quebrar fisicamente à beira do intervalo: decide mal aos 45'+1, atirando a bola para a bancada, quando tinha um colega livre de marcação. Mas justifica nota positiva.

 

Do golaço de Trincão. Andou meio eclipsado durante parte do jogo, mas ao contrário de quase todos os companheiros ganhou evidência à medida que este Vitória-Sporting se aproximava do fim. Aos 57' foi vital na recuperação, corrigindo erro de Geny, e encaminhando-a para o sítio certo no lance do terceiro golo. E nos instantes finais (90'+5) marcou um golo soberbo, o que nos permitiu sair de Guimarães com mais um ponto do que no desafio da época anterior, ao rematar em arco a partir da meia direita, com perfeita colocação, ao ângulo mais inacessível para Bruno Varela. Desde já candidato a um dos golos do ano, mal 2025 ainda começou.

 

De termos ido para o intervalo a vencer por 2-1. O cenário melhorou ainda mais quando ampliámos a vantagem, antes da hora do jogo. Ao ponto de muitos de nós já pensarmos que trazíamos os três pontos de Guimarães. O pior foi que vários jogadores do Sporting parecem ter pensado o mesmo: facilitaram, relaxaram, desconcentraram-se. Asneira grossa: nenhuma vitória está no papo antes do apito final.

 

Dos golos. Não choveu, ao contrário do que chegou a recear-se, mas houve chuva de golos no relvado: oito. Três na primeira parte, cinco na segunda. Para quase todos os gostos. Há quase seis anos não havia tantos num desafio do campeonato nacional de futebol. E desta vez foram todos golos limpos, sem discussão.

 

Da vibração nas bancadas. Maior número de espectadores até agora, nesta época, no estádio D. Afonso Henriques: 26.549 lugares preenchidos. Prova da capacidade de mobilização dos adeptos vimaranenses e do inegável prestígio do Sporting em todos os palcos nacionais.

 

Do árbitro. Trabalho competente de João Gonçalves, tanto do ponto de vista técnico como disciplinar. Começa a impor-se como um dos melhores árbitros desta nova geração.

 

 

Não gostei

 

De Israel. Vai-se consolidando a convicção de que nos falta um guarda-redes de indiscutível categoria, na linha de tantos que se celebrizaram no Sporting. O jovem uruguaio orientou muito mal a barreira no livre directo de que nasceu o primeiro golo vimaranense, aos 7', e reagiu tarde ao disparo de Tiago Silva. Teve também uma atitude demasiado passiva no quarto que sofremos, aos 85': nem esboça uma saída à bola para reduzir o ângulo de remate.

 

De Matheus Reis. Prestação calamitosa do lateral esquerdo, totalmente batido em velocidade no lance do segundo golo da turma anfitriã, aos 70': não teve pernas para acompanhar Telmo Arcanjo nem a argúcia de perceber que se impunha cometer falta defensiva para compensar a sua falta de velocidade. No quarto golo, falhou por completo a marcação a Dieu-Merci, que só precisou de decidir para que lado mandaria a bola. 

 

De Fresneda. Voltou a demonstrar falta de classe para integrar o plantel leonino. Aos 86' substituiu um esgotado Eduardo Quaresma. Exibindo nervosismo à flor da pele. Quando mais precisávamos de tempo para virar o resultado, já de cabeça perdida, envolveu-se numa picardia disparatada junto à nossa linha defensiva que lhe valeu o amarelo aos 90'+3. Parece cada vez mais uma carta fora do baralho.

 

Da nossa desorganização defensiva. Além dos erros individuais já referidos, todo o nosso sector mais recuado merece nota negativa. Incapaz de sair com bola, incapaz de dominar a pressão, incapaz de definir linhas de fora de jogo, a partir de certa altura começou a aliviar de qualquer maneira: saía balão, saía charutada. Como se estivessem a defrontar o Arsenal ou o Bayern de Munique. E sucediam-se as bolas entregues aos adversários, aqui sobressaindo Diomande e Quaresma. E, claro, foram-se sucedendo os golos: três num quarto de hora - 70', 82' e 85'. Inaceitável.

 

De ter sofrido tantos golos. Foi a primeira vez que o V. Guimarães nos marcou tanto em jogos do campeonato. Ironia do destino: um Vitória "fabricado" nesta dinâmica pelo nosso actual treinador.

 

Do excessivo recuo das nossas linhas. Após marcarmos o 3-1, houve ordem geral para arrefecer o jogo e recuarmos as linhas, concedendo iniciativa ao adversário. Talvez já a pensar no desafio contra o FCP, da meia-final da Taça da Liga. Foi um erro: havia mais de meia hora para jogar, essa é estratégia de equipa pequena. Tal como as múltiplas tentativas de queimar segundos nas reposições de bola, tanto pelo guarda-redes como nos lançamentos laterais. No Sporting, estamos pouco habituados a isto. Aliás, não serviu para nada: o Vitória, sentindo-se confortável com o espaço que lhe concedíamos, cresceu de intensidade e foi para cima de nós. O jogo quase começou a perder-se aí. E só não se perdeu de todo devido à magia do pé esquerdo de Trincão.

Quente & frio

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Edwards, com dois golos, demonstrou a João Pereira que pode contar com ele

Foto: José Sena Goulão / Lusa

 

Gostei muito da estreia de João Pereira como novo técnico da equipa principal do Sporting. Foi, de facto, uma estreia de sonho: não poderia ter desejado melhor. Goleada (mais uma, nesta época que tem sido fértil nelas) da nossa equipa na recepção ao brioso mas muito inferior Amarante, da Liga 3. Terminou 6-0, mas o resultado poderia ter sido mais volumoso: Harder, Trincão e Gyökeres - este duas vezes, ambas de livre direcro - enviaram quatro bolas aos ferros. Ao intervalo já vencíamos por 4-0. Destaque para as exibições de Edwards (assinou um golaço logo aos 10' evoluindo velozmente no corredor central com a bola dominada, sentou três adversários e finalizou de pé direito; bisou aos 45' encostando com a biqueira quase na linha de golo), Daniel Bragança (passes para o primeiro, segundo e quarto golos, neste dando até a impressão de que a bola já se encaminhava para o fundo das redes sem o desvio do inglês) e Trincão (protagonizou futebol de excelência em Alvalade aos 23' e aos 27', acabando por a meter lá dentro noutro lance sublime, aos 57': era o quinto golo). O minhoto foi o melhor em campo: aplaudido em pé ao dar lugar a Gyökeres, no minuto 66.

 

Gostei de Esgaio (aposta inicial de João Pereira para ala direito, central à direita no segundo tempo, quando St. Juste cedeu lugar a Quenda): voltou aos golos apontando o segundo, aos 15', e foi dele a pré-assistência no quarto. Nota muito positiva também para Matheus Reis: começou como central à esquerda, acabou como central à direita, fez pré-assistência no segundo golo e cortes preciosos aos 18' e aos 29', neste compensando má colocação de Vladan. Merecidos elogios igualmente para Harder, autor do terceiro golo (27') e do passe para o quinto em tabelinha com Trincão, e para o inevitável Gyökeres, que voltou a fazer o gosto ao pé: entrou só aos 66', mas ainda a tempo de ter sido carregado em falta para penálti e de o ter concretizado com êxito aos 90'. Melhor marcador mundial neste ano de 2024: já soma 59 golos, entre o Sporting e a selecção sueca. Um fenómeno.

 

Gostei pouco que Eduardo Quaresma tivesse permanecido no banco: não calçou. Estará a ser poupado para a recepção ao Arsenal, em partida da Liga dos Campeões na próxima terça-feira? Em compensação, polegar levantado ao novo técnico por apostar em dois jogadores da Academia Cristiano Ronaldo, lançados ontem em estreia absoluta na equipa principal: o algarvio João Simões (médio ofensivo esquerdino, 17 anos, substituiu Esgaio aos 66') e o madeirense Henrique Arreiol (médio central, 19 anos, rendeu Daniel Bragança aos 73'). Ambos já se destacaram ao serviço do Sporting na Liga Jovem e na Liga 3, aqui sob o comando de João Pereira, que bem os conhece. 

 

Não gostei que o Amarante, equipa amadora, tivesse ficado em branco: merecia um golo de honra para alegrar os mais de mil adeptos que trouxe a Alvalade, mas não chegou a fazer um só remate enquadrado nesta partida que qualificou o Sporting para os oitavos-de-final da Taça - a disputar com Famalicão ou Santa Clara no dia 18 de Dezembro. Nota menos positiva também para Vladan (voltou a não convencer como titular da baliza, saindo mal dos postes aos 29') e Fresneda (peixe fora de água como ala esquerdo, recuou aos 66' para central). 

 

Não gostei nada que disputássemos outra eliminatória da Taça (a nossa segunda esta época, após a vitória por 2-1 em Portimão) sem vídeo-arbitragem. Não faz o menor sentido esta ausência do VAR naquilo a que chamam «prova rainha do futebol em Portugal». Só se for como a rainha madrasta da Branca de Neve...

Harder bisa na maior reviravolta desde 2019

Braga, 2 - Sporting, 4

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Rúben Amorim num abraço apertado a Conrad Harder: despedida em grande do Sporting

Foto: Hugo Delgado / Lusa

 

Faz hoje uma semana, em Braga, aconteceu uma das mais saborosas vitórias do Sporting. Reviravolta com tintas épicas. A segunda em poucos dias após o extraordinário triunfo em Alvalade frente ao Manchester City, considerado melhor equipa do mundo, sob o comando de Pep Guardiola, o treinador com mais fama nos nossos dias.

Primeira parte fraca, com demasiados erros individuais e falta de dinâmica colectiva. A turma anfitriã foi superior nesta fase, marcando duas vezes. Assim chegou o intervalo: perdíamos 0-2. Mais de 20 mil espectadores na Pedreira - parte dos quais sportinguistas.

Para agravar a situação, o melhor jogador português deste Sporting que sonha com o bicampeonato lesionou-se. Sozinho: problema muscular. Estavam decorridos apenas 23 minutos quando Pedro Gonçalves se viu forçado a abandonar o relvado. Ia em lágrimas, sabendo que voltaria também a falhar uma convocatória da selecção nacional. Só regressará às competições em 2025.

Geny teve de aquecer com rapidez. Entrou aos 26' para interior esquerdo.

 

O intervalo fez muito bem aos nossos jogadores. Parecia outra equipa. Mais veloz, mais acutilante, pressionando o Braga, forçando os adversários a recuar, impondo a superioridade natural. Aí ficou patente a excelente organização colectiva leonina, reforçada por jogadores com inegável talento.

Debast já não regressou para a segunda parte: St. Juste rendeu-o. A equipa ganhou com a substituição, beneficiando também com as trocas de Maxi Araújo por Harder e de Daniel Bragança por Morita ao minuto 56. 

Neste confronto no Minho em que disse adeus ao Sporting antes de rumar a Manchester, Amorim confirmou uma das suas maiores virtudes: saber ler o jogo. Muito mais do que a famosa "estrelinha" do treinador, isto explica a reviravolta. Que não tardou a ocorrer, operada pelos jogadores recém-entrados.

St. Juste, num cabeceamento ao poste, e Morita, aproveitando o ressalto em remate fulminante, começaram a reduzir aos 58'.

 

O Braga vencia ainda, mas estava encostado às cordas.

Foi ao tapete no minuto 81', com um disparo fortíssimo de Morten, a cerca de 30 metros da baliza. Golaço indefensável: Matheus foi incapaz de travá-lo. Sério candidato a golo do mês. O internacional dinamarquês, nosso capitão, estreou-se assim a marcar na Liga 2024/2025. 

Faltava entrar em cena um compatriota de Morten: Conrad Harder. Deu festival em campo nos minutos finais, levando ao delírio a massa adepta leonina. Aos 89', num remate cruzado, fortissimo. E aos 90'+4, repetindo a dose e fixando o resultado: 2-4.

Fabuloso bis, com parte do estádio a ovacioná-lo e o resto em silêncio.

De imediato todos os jogadores rodearam o treinador que se despedia, num comovente e eloquente abraço colectivo a demonstrar a força do balneário deste Sporting campeão, mais forte que nunca. 

Faz sentido: vamos com 32 jogos seguidos no campeonato sem perder. Nesta Liga, com 33 pontos em 11 jornadas, temos 39 marcados e apenas 5 sofridos. Média impressionante: 3,54 golos por jogo.

 

Amorim sorria, provavelmente já com saudades antecipadas. E também certamente com sensação de orgulho. 

Pôs fim ao maior período da história do SCP sem vencer o campeonato. Foi o primeiro treinador do Sporting a triunfar na Alemanha (goleando o Eintracht). Foi determinante na nossa mais lucrativa venda de sempre, com a transferência de Ugarte (aposta sua) para o PSG. Deixa o plantel mais valioso de Portugal: 443,5 milhões de euros, segundo o Transfermarkt. 

Ficam os números deste grande treinador, para memória futura: 231 jogos no Sporting com 164 vitórias, 34 empates e só 33 derrotas.

Tornou-se sportinguista entre nós. Devemos-lhe algumas das nossas melhores recordações desportivas de sempre.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (5) - Sofreu dois golos, aos 20' e aos 45': nada frequente nele. Mas está isento de culpa em qualquer dos lances. 

Debast (2) - Há dias em que mais vale não calçar. Foi esse o dia para o belga. Ofereceu o primeiro golo ao Braga e marcou com os olhos no segundo, desconcentrado. Já não veio do intervalo.

Diomande (5) - Sentiu dificuldades notórias na primeira parte, mas impôs a voz de comando no segundo tempo, ajudando a blindar o nosso reduto defensivo.

Matheus Reis (5) - Titular em vez de Gonçalo Inácio, começou muito intranquilo, parecendo por vezes não saber o que fazer à bola. Melhorou no segundo tempo.

Quenda (7) - Um dos obreiros da reviravolta. Genial, um passe cruzado de 40m a isolar Gyökeres aos 51'. Serviu de aperitivo ao golo, iniciado 7' depois por ele, na marcação dum canto.

Morten (7) - Líder incontestado do meio-campo, muito atento às incursões adversárias. Destacou-se sobretudo no golaço que apontou aos 81' - a sua estreia como artilheiro nesta Liga.

Daniel Bragança (4) - Estranhamente apático, sem velocidade nem ritmo. Falhou no confronto com João Moutinho, perdendo a bola no segundo que sofremos. Saiu aos 56'.

Maxi Araújo (5) - Protagonizou bons cortes, aos 8' e aos 12', mas ainda lhe faltam rotinas no corredor esquerdo. O melhor que fez, na frente, foi atirar à malha lateral (43'). Saiu aos 56'.

Trincão (7) - Poucos como ele revelam tanta qualidade com a bola em espaços curtos. Já faz boa parceria ofensiva com Quenda à direita. É dele o passe para Harder no quarto do Sporting.

Pedro Gonçalves (3) - Noite azarada para o craque transmontano. Viu um amarelo aos 13' por protestos. Aos 23', esticou demasiado a perna e sentiu dor forte: foi substituído aos 26'.

Gyökeres (6) - Noite estranha: ficou em branco. Quase marcou, aos 51': Matheus travou-o. Falhou por pouco a emenda a centro de Geny (60'). Útil nos cartões: forçou três ao Braga (38', 45' e 68').

Geny (6) - Substituiu Pedro Gonçalves aos 56'. Ajudou a encostar a turma braguista às cordas, pressionando na meia esquerda. Remate forte aos 72', para defesa apertada do guardião.

St. Juste (7) - Substituiu Debast na segunda parte. Com larga vantagem, atrás e à frente. Cabeceamento ao ferro que deu golo na recarga (58'). Inicia o terceiro golo numa recuperação.

Morita (8) - Substituiu Daniel aos 56'. Era o dínamo de que a equipa precisava: saiu do banco para abrir a conta leonina. Transformado em "n.º 10", assistiu no terceiro golo.

Harder (9) - Entrou aos 56', substituindo Araújo. Viria a ser o protagonista do jogo - e o melhor em campo - ao bisar, aos 89' (passe de Morita) e aos 90'+4 (passe de Trincão). Está cada vez melhor.

Gonçalo Inácio (7) - Substituiu Matheus Reis no minuto 80. Tal como os outros suplentes utilizados, imprimiu qualidade e talento à equipa. Foi dele o passe para o golaço de Morten.

Rescaldo do jogo de ontem

 

Gostei

 

Da nossa vitória em Braga. Nova reviravolta no resultado, novo desafio épico em menos de uma semana. Após a goleada ao Manchester City em Alvalade, virámos agora por completo um resultado desfavorável na Cidade dos Arcebispos. Fomos para o intervalo a perder por dois-a-zero, mas no segundo tempo marcámos quatro, fixando o resultado: 2-4. Com golos de Morita (58'), Morten (81') e Harder (89' e 90'+4). Continuamos invictos. Continuamos imbatíveis. 

 

De termos igualado o melhor início de campeonato de sempre. Onze jogos iniciais, onze vitórias, 33 pontos. Há 34 épocas que não começávamos tão bem, desde a temporada 1990/1991, com Marinho Peres. Rúben Amorim despede-se do Sporting, para treinar o Manchester United, deixando a equipa ainda mais bem colocada para concretizar o sonho que alimentamos há 74 anos: a conquista do bicampeonato nacional de futebol.

 

Do treinador. Comprovando o seu talento como técnico capaz de ler os jogos, Amorim fez as substituições que se impunham: trocou Debast por St. Juste no recomeço da partida e Daniel Bragança por Morita aos 56': a dinâmica alterou-se de imediato, com pressão total do onze leonino rumo à baliza adversária. A troca de Maxi Araújo por Harder, também aos 56', acentuou esta tendência: o Braga foi encostado às cordas. A substituição de Matheus Reis por Gonçalo Inácio, aos 80', contribuiu para acentuar a fluidez do nosso jogo. Não só vencemos: voltámos a convencer.

 

De Harder. Não chegou a estar 40 minutos em campo, mas merece ser apontado como o melhor dos nossos. Por ter bisado, em dois grandes remates de meia-distância - fortes, muito bem colocados, com clara intenção de a meter lá dentro. Aproveitamento máximo das oportunidades de que dispôs. Foi graças a ele que trouxemos três pontos de Braga. O empate saberia a pouco, ficaria aquém dos objectivos, deixar-nos-ia sem hipóteses de igualar (e depois superar) o recorde de melhor início de sempre da maior prova desportiva nacional. 

 

Do golo de Morten. Daqueles de fazer levantar um estádio. Golaço - sem dúvida o melhor da jornada, um dos nossos melhores até agora. Este golo, num pontapé fulminante, pôs fim a um período inédito, prolongado por mais de 80 minutos: foi a primeira vez em que estivemos a perder neste campeonato. O capitão dinamarquês, em estreia a marcar nesta Liga, não foi importante apenas por isto: voltou a ser também comandante absoluto do meio-campo. 

 

De Morita. Grande partida do internacional japonês: mudou o fio de jogo leonino mal entrou em campo, tornando a equipa mais veloz, mais objectiva, mais acutilante. Actuando numa espécie de "número 10", estava no local certo para apontar o primeiro golo, apenas dois minutos depois de saltar do banco: foi de recarga, na sequência de um canto muito bem apontado por Quenda e de um cabeceamento de St. Juste ao poste. Foi também ele a fazer o passe para o nosso terceiro golo. Exibição sem mácula.

 

Do ambiente no estádio. Havia 20.585 espectadores nas bancadas da Pedreira, mas em largos períodos da partida escutavam-se sobretudo os apoiantes do Sporting. O chamado "12.º jogador" mostra-se activo e influente como nunca: também nisto se vê a dinâmica de um clube que sonha ser bicampeão.

 

Da união da equipa. Mal foi marcado o quarto golo, os jogadores correram em direcção a Rúben Amorim envolvendo-o num forte, caloroso e prolongado abraço. Símbolo bem expressivo do saudável ambiente do balneário, onde coesão e união são muito mais do que simples palavras. Não podia haver despedida mais empolgante e comovente do melhor treinador de sempre do Sporting.

 

De termos disputado 32 jogos em sequência sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota (1-2) aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, em Guimarães, a 9 de Dezembro. E vamos com 20 triunfos nas últimas 21 partidas disputadas para a maior competição do futebol português.

 

De ver o Sporting marcar há 53 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde Abril de 2023, perante o Gil Vicente (0-0). Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.

 

Do nosso desempenho nesta temporada oficial. Dezoito jogos disputados, 16 vitórias. São números que dizem quase tudo.

 

Do balanço após quase um terço da prova. Melhor ataque (39 golos), melhor defesa (só cinco sofridos), melhor goleador: Gyökeres. Desde 1973/1974 não facturávamos tanto nas primeiras onze rondas. Ainda não vencemos, até agora, por menos de dois golos de diferença. Temos a equipa mais forte do campeonato português, cem por cento vitoriosa. Perseguimos um objectivo cada vez mais próximo: a conquista do bicampeonato. Só faltam 23 jornadas.

 

 

Não gostei

 

Dos dois golos sofridos. Consequência da boa dinâmica inicial do Braga, que bloqueou os nossos corredores laterais, com Bruma e Ricardo Horta a entrarem à vontade na grande área perante a passividade do trio defensivo - sobretudo Debast, com responsabilidades em ambos os golos  (20' e 45') por manifesta desconcentração. Não admira que o belga já não tenha regressado após o intervalo.

 

Da nossa primeira parte. Sem uma oportunidade de golo, sem um remate enquadrado. O melhor que se fez foi um remate de Maxi Araújo às malhas laterais. Para esquecer. 

 

Dos dois cartões exibidos por protestos. Primeiro Pedro Gonçalves (13'), depois Diomande (80'). Os jogadores devem ter especial atenção às novas regras para evitarem ser amarelados desta forma. Mas o árbitro Luís Godinho não teve critério uniforme, poupando João Moutinho a um cartão que devia ter visto ao protestar de forma ainda mais exuberante.

 

Da lesão de Pedro Gonçalves. O melhor jogador português do Sporting viu-se forçado a sair, com forte dor muscular, logo aos 23'. Baixa para a equipa, baixa (de novo) para a selecção nacional quando já estava convocado para os próximos encontros da equipa das quinas. Esperemos que consiga recuperar nesta pausa do campeonato motivada pelos confrontos internacionais.

 

Da despedida. Desta vez é que foi: Rúben Amorim deixou de orientar a nossa equipa principal de futebol após mais três desafios suplementares em boa hora impostos por Frederico Varandas. Valeu a pena: vitórias sucessivas contra o Estrela da Amadora (5-1), Manchester City (4-1) e Braga (4-2). Que tenha a maior das sortes em Manchester. Bem a merece, após o excelente trabalho em Alvalade durante quatro anos e oito meses - a mais longa permanência de um treinador neste posto em cerca de oito décadas no Sporting. 

Quente & frio

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Morten e Gyökeres: golos nórdicos na vitória por 3-1 para a Taça da Liga contra o Nacional

Foto: EPA / Rodrigo Antunes

 

Gostei muito de ver ontem Gyökeres marcar mais dois golos, em Alvalade, perante mais de 32 mil adeptos nas bancadas. Mas um deles não foi um golo qualquer: refiro-me ao segundo (terceiro do Sporting neste desafio da Taça da Liga), marcado de livre directo. Por este simples motivo: há quase quatro anos que não marcávamos desta maneira, desde um inesquecível tiro de Pedro Porro contra o Famalicão em Dezembro de 2020. Foi quebrado o enguiço pelo ponta-de-lança sueco, aos 70', nesta recepção ao Nacional. Cinco minutos antes, já ele tinha marcado, mas de penálti. É um dos melhores avançados que desde sempre envergaram a camisola com o símbolo do Leão: leva 16 golos marcados em 15 jogos desta temporada, mais quatro assistências. Também melhor em campo, claro.

 

Gostei da vitória por 3-1, naturalmente. Iniciada com um golo de Morten, aos 53': remate cruzado por baixo, sem hipótese de defesa para Lucas França. Seguimos para a final-a-quatro na Taça da Liga: mantemo-nos em todas as frentes. Vitória obtida só no segundo tempo, após o empate a zero registado ao intervalo, com a turma visitante a estacionar o autocarro junto à sua baliza (parece sina, enfrentarmos equipas com semelhante "táctica", o que diz tudo sobre a falta de qualidade do futebol português) e o guarda-redes do Nacional a queimar todo o tempo possível em cada reposição de bola, o que lhe valeu um cartão amarelo ainda na primeira parte. Objectivo cumprido nesta prova, para já. Mas o que mais interessa é o campeonato, onde permanecemos invictos à nona jornada. Segue-se a recepção ao Estrela, depois de amanhã.

 

Gostei pouco de certas exibições no onze inicial. Fresneda, em estreia como ala esquerdo, esteve totalmente desposicionado, quase sem acertar um centro, tarda em mostrar por que motivo foi contratado. Edwards, de regresso a titular como ponta direito, evidenciou os defeitos que já lhe conhecíamos: alheia-se dos lances, foge da disputa da bola, integra-se com dificuldade no colectivo. Sem surpresa, foram ambos substituídos ao intervalo. E a equipa parecia outra: Trincão muito melhor do que o  inglês, Gyökeres incomparavelmente superior ao espanhol (Harder foi remetido à posição de Fresneda com a entrada do sueco para avançado-centro).

 

Não gostei de ver o onze sem Nuno Santos. Acentuou-se a minha convicção de que o extremo agora lesionado irá fazer-nos muita falta. Matheus Reis (que até quase marcou aos 3') tem mais propensão defensiva, Maxi Araújo ainda não ultrapassou o patamar da vulgaridade no Sporting e Geny é muito mais acutilante quando actua do lado direito, agora com Quenda a fazer-lhe concorrência. Fresneda, à esquerda, não é opção. Problema complicado para o técnico resolver. Já não será Rúben Amorim, ao que tudo indica.

 

Não gostei nada do ambiente frio no estádio. Estava uma atmosfera estranha, que abrangia o banco leonino e contagiava a própria equipa, a quem faltou desenvoltura e alegria. Havia a noção generalizada de que este talvez fosse o último jogo do Sporting sob o comando de Rúben Amorim após quase quatro anos e oito meses. Espécie de despedida antecipada, com o pano prestes a cair. Pairava ali uma aura de tristeza que noutro contexto talvez deixasse alguém perplexo. Mas todos percebemos o motivo: um ciclo muito feliz está prestes a chegar ao fim.

Três nórdicos muito louros e nada toscos

Sporting, 3 - AVS, 0

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Conrad Harder festeja golo marcado na estreia a titular em Alvalade: temos um novo herói

Foto: Miguel A. Lopes / Lusa

 

Há estreias assim: ficam inesquecíveis. Não só para o estreante, mas para todos quantos testemunham esse momento privilegiado. Aconteceu anteontem, em Alvalade, com Conrad Harder, o nosso novo reforço vindo da Dinamarca. Era a primeira vez que integrava o onze inicial do Sporting, com mais de 43 mil pessoas no estádio. Mas nem assim o jovem de 19 anos se atemorizou: bastou um quarto de hora para metê-la lá dentro, destroçando a táctica da turma visitante, que vinha preparada para estacionar o autocarro frente à baliza enquanto vários dos seus jogadores se atiravam para o relvado simulando lesões.

Lá tiveram de virar a agulha ao encaixarem o tiro de Harder, disparado com intenção deliberada de a afundar nas redes, sem hipótese de defesa para o mexicano Ochoa, veterano de cinco mundiais de futebol. O estádio vitoriou o avançado que colmatou a fracassada contratação do grego Ioannidis: parece que nada perdemos com a troca.

Nascia um novo herói verde e branco, saudado pelos adeptos e muito fotografado. Sem falsas modéstias, Harder festejou à moda de Cristiano Ronaldo, imitando-lhe o gesto habitual quando marca um golo.

Iconografia perfeita: este Sporting com aroma nórdico parece cada vez mais robusto. Com três louros e nada toscos. Cada qual, à sua maneira, com vocação para estrela.

 

Conrad esteve muito bem, mas não eclipsou o craque maior.

Viktor Gyökeres voltou a bisar, destacando-se de novo como melhor em campo. Foram dele mais dois golos: aos 45'+4, com assistência de Morten, e aos 70', dando o melhor rumo a uma oferta de Trincão.

Esta equipa comandada por Rúben Amorim habituou-nos a resultados tão desequilibrados que um 3-0, a muitos de nós, já sabe a pouco. A exibição foi categórica, o domínio em campo foi evidente, a dinâmica colectiva foi notória. Por isso este desfecho só pecou por escasso.

 

Nem parecia que vínhamos dum jogo de Champions: dias antes havíamos recebido o Lille (vitória por 2-0). Também não parecia que tínhamos quatro titulares habituais lesionados: Vladan, Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio e Pedro Gonçalves não puderam dar o seu contributo. Mas neste Sporting 2024/2025 o conjunto continua a funcionar, mesmo quando as peças vão mudando. Voltou a acontecer.

Israel - três jogos seguidos sem sofrer golos - deu boa conta do recado entre os postes. O inédito trio de centrais composto por Debast, Diomande e Matheus Reis exibiu inabalável segurança, a tal ponto que o AVS foi incapaz de criar oportunidades de golo. O meio-campo esteve irrepreensível, com Morten a recuperar e Daniel Bragança a desenhar lances ofensivos. Quenda, muito mais maduro do que os seus 17 anos indiciam, assegurou o vaivém na ala direita enquanto Nuno Santos tomava conta do corredor esquerdo, com Matheus pronto para lhe acorrer às dobras.

 

Mas o melhor está lá na frente. Naquele trio dinâmico, sempre móvel, sempre a abrir linhas de passe, sempre a deixar a cabeça em água aos defensores adversários. Trincão à direita, Harder digno substituto de Pedro Gonçalves à esquerda, Viktor no meio. Abrem espaço para os colegas, arrastam marcações, alternam movimentos interiores com disparos de meia-distância, mostram-se confortáveis com bola e sem ela. 

O resultado está à vista: comandamos isolados à sexta jornada. Somos a única equipa invicta. Temos 22 golos marcados - e apenas dois sofridos, igualando o ímpeto rematador do saudoso Sporting 1972/1973, onde Yazalde era ponta-de-lança de luxo. 

Quanto tempo vai durar? Mais 28 jornadas, esperamos (quase) todos. Até o bicampeonato que nos foge há sete décadas deixar de ser mero sonho para se tornar realidade.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel - Seguro, atento. Transmite tranquilidade à equipa. Outra partida sem sofrer golos.

Debast -  Tem um talento especial para colocar bolas lá na frente. Foi assim que iniciou a construção do primeiro golo.

Diomande - Domina o jogo aéreo: ninguém o superou. Quase marcou de cabeça, aos 80': só Ochoa o impediu com espectacular defesa.

Matheus Reis - Substituiu Gonçalo Inácio como central à esquerda. Missão cumprida.

Quenda - Já é um dos principais marcadores de livres e cantos. Integra-se bem nas missões defensivas.

Morten - Assistiu Harder no primeiro golo e é dele a recuperação que origina o segundo. Honra a braçadeira de capitão.

Daniel Bragança - Um dos cérebros da equipa, fundamental na organização de jogo. Esteve perto de marcar aos 25'.

Nuno Santos - Tentou muito, esforçou-se o mais possível, mas poucos cruzamentos lhe saíram bem. 

Trincão - Ochoa impediu-o duas vezes de marcar, aos 12' e aos 31'. Assistiu Gyökeres no terceiro.

Harder - Titular em estreia de Leão ao peito, superou todas as expectativas. Golo aos 15' e assistência aos 45'+4.

Gyökeres - Voltou a bisar. Com dez golos apontados em seis jornadas, superou a marca de Mário Jardel em 2002. Melhor em campo.

Maxi Araújo - Entrou aos 59', substituindo Harder. Anda com ganas de marcar: atirou ao poste (59').

Morita - Entrou aos 70', substituindo Daniel Bragança. Manteve o equilíbrio no meio-campo.

Geny - Substituiu Quenda aos 70': o essencial da tarefa estava cumprido.

Fresneda - Rendeu Matheus Reis aos 76', mas jogando como central à direita. Ainda procura o seu lugar na equipa.

Esgaio - Estreia na época: ouviu muitos aplausos quando entrou, aos 76', substituindo Trincão. Dois bons centros.

Quente & frio

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Gostei muito que tivéssemos começado com o pé direito a nossa participação na Liga dos Campeões, após uma época de ausência. Vencemos por 2-0 o Lille, quarto classificado da Liga francesa 2023/2024. E convencemos. De tal maneira que Israel só teve de fazer uma defesa digna desse nome, já aos 89', a remate de Cabella. Convencemos, acima de tudo, graças a um golaço (38') de Gyökeres, que marca há oito jogos consecutivos em Alvalade: recebeu a bola na área, rodou para se libertar de marcação e colocou-a no ângulo mais inacessível para o guarda-redes Chevalier. E a um golão (65') de Debast, num tiro disparado a cerca de 30 metros da baliza - de primeira, sem preparação, fazendo as redes balançar no canto superior direito. Melhor em campo e homem do jogo, respectivamente - ambos heróis da noite. Também grande desempenho de Pedro Gonçalves, que cada vez parece mais jogar de olhos fechados com o craque sueco: foi ele a assisti-lo no golo com um gesto técnico de inegável classe.

 

Gostei que tivéssemos superado com boa nota a primeira etapa da caminhada na Champions, agora com novo formato - por acumulação de pontos, em oito rondas, o que arrastará esta fase da Liga dos Campeões até meados de Janeiro. Com vários estreantes leoninos na prova-rainha do futebol europeu: Israel, Debast, Diomande, Morita, Morten, Geny, Trincão e o próprio Gyökeres. Além de Quenda, que aos 17 anos e 140 dias se tornou o mais jovem jogador português de sempre a participar num onze da Liga dos Campeões - superando as proezas antes ocorridas com Dário Essugo e Rodrigo Ribeiro, ambos também pela mão de Rúben Amorim, embora não como titulares. Sem esquecer outro estreante nestas lides: Maxi Araújo, que substituiu precisamente Quenda, aos 73'. E até se registou a estreia absoluta no Sporting do dinamarquês Conrad Harder, de 19 anos: entrou aos 88', substituindo Trincão, ainda a tempo de dar nas vistas, obrigando Chevalier a grande defesa. Os mais de 41 mil adeptos presentes nas bancadas de Alvalade seguramente apreciaram. 

 

Gostei pouco da equipa adversária, que ficou reduzida a dez por acumulação de amarelos de Angel Gomes após faltas sobre Trincão (20') e Gyökeres (40'), travados à margem das regras: facilitou a nossa tarefa e confirmou que a turma francesa não constitui obstáculo preocupante, não só cá mas também lá. Também gostei pouco que ao intervalo este Sporting-Lille só estivesse 1-0. Resultado escasso para o futebol produzido. Podíamos ter marcado aos 12' (por Morita), aos 18' (Quenda), aos 27' (Trincão) e aos 28' (Pedro Gonçalves). Aos 70' tínhamos já 15 remates (cinco dos quais enquadrados) contra zero da equipa visitante. Chegou e sobrou para os três pontos e para arrecadarmos 2,1 milhões de euros só graças a esta vitória. Numa equipa com reduzida média de idades: apenas 23,8 anos. O futuro é verde e branco.

 

Não gostei da inesperada lesão de Gonçalo Inácio, forçado a sair logo aos 13', com um pé magoado - avolumando a lista dos nossos centrais a contas com lesões, após St. Juste e Eduardo Quaresma. Também não gostei de ver Tiago Santos, formado na Academia de Alcochete e já convocado para a selecção nacional, actuar contra o clube que representou durante 12 anos nas camadas jovens: saltou do banco e teve bons apontamentos como lateral direito, posição em que já se havia destacado ao serviço do Estoril. Infelizmente não encontrou no Sporting a oportunidade que merecia. 

 

Não gostei nada que tivesse sido assobiado o hino da Liga dos Campeões em Alvalade. Estes anormais gostariam de ver o Sporting mais uma época fora da Champions? Alegam uns tantos que fazem isto porque a equipa foi prejudicada num desafio qualquer ocorrido há uma década: é o cúmulo da imbecilidade. Até os nossos jogadores ficaram perplexos com isto; um deles tinha só sete anos quando o tal jogo aconteceu. Pior do que isto só o uso recorrente de tochas por energúmenos de duas claques ditas leoninas: desta vez chegaram mesmo a ferir dois adeptos que tiveram de receber tratamento no próprio estádio. A administração da SAD do Sporting tem de lidar com estes casos com mão de ferro: tolerância zero. Delinquência e desporto são dois termos antagónicos: não podem confundir-se.

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