Acabamos de cumprir a jornada n.º 10. Nova goleada, desta vez em Alvalade: derrotámos o Estrela da Amadora por 5-1. Com um póquer de Gyökeres - o primeiro da sua carreira - e a estreia de Maxi Araújo como goleador leonino.
Reforçamos a liderança do campeonato, isolados. Temos 30 pontos. Levamos 35 golos marcados, apenas três sofridos. Cumprimos o 22.º jogo seguido na Liga a ganhar. O 29.º jogo consecutivo do campeonato sem perder. Seguimos sem derrotas no ano civil em curso que se aproxima do fim. Como equipa inexpugnável.
Melhor ataque e melhor defesa do campeonato. Melhor goleador da prova: o nosso craque sueco, agora com 16. E 20 no conjunto da temporada - além de sete assistências. Hoje artilheiro máximo da Europa.
«Nós e vocês focados no Marquês», lia-se numa enorme tarja da Juve Leo exibida no fim desta recepção ao Estrela. O espírito é este.
Gyökeres acaba de a meter lá dentro, de penálti: foi o segundo dos três golos que marcou
Foto: Luís Branca / Lusa
O jogo não foi em Faro, mas no Estádio Algarve, já no concelho de Loulé. Permitindo ao Farense triplicar a receita de bilheteira (passando do máximo de 6 mil espectadores para os quase 18 mil deste desafio) só nas recepções às chamadas "equipas grandes" - o que mereceu o duvidoso aval da Liga. Duvidoso por ferir um princípio básico de equidade desportiva.
Isto acabou por beneficiar o Sporting: até parecia que jogávamos em casa. Era diminuta a falange de apoio ao clube de Faro e muitos dos adeptos que lá se deslocaram não esconderam o descontentamento. Se eu estivesse no lugar deles, faria o mesmo.
Incompreensível também o facto de este jogo ter decorrido menos de 24 horas após o fim de outra partida, entre norte-irlandeses e gibraltinos, para a Liga Conferência. Com os consequentes estragos no relvado.
Mas o que interessa é isto: ao vivo ou pela televisão, assistimos anteontem a uma das melhores exibições que recordo de uma equipa do Sporting. Superioridade esmagadora do primeiro ao último minuto, pressão constante com bola ou sem ela, ligação perfeita entre todos os sectores, movimentos automatizados ao primeiro toque e sempre de olhos fitos na baliza.
Um verdadeiro espectáculo.
A pressão atacante era tão forte que apenas supreende o golo inicial ter ocorrido só aos 27'. Principal responsável: Ricardo Velho, eleito melhor guarda-redes do campeonato anterior. Começou por negar o golo a Pedro Gonçalves aos 4' num remate cruzado que ia lá para dentro. Depois a Gyökeres, servido de bandeja aos 16' por Trincão. No próprio lance do golo, faz uma defesa quase impossível a um remate de Daniel Bragança - mas o craque sueco não perdoou no ressalto, atirando-a lá para o fundo.
Não adormecemos, nem nos pusemos a "gerir o resultado", como talvez acontecesse noutros tempos. Pelo contrário, a equipa quis sempre mais. Numa das acções ofensivas protagonizadas por Pedro Gonçalves, aos 37', há um desvio da bola dentro da área. Penálti. O VAR Veríssimo teve dúvidas, mas o árbitro Tiago Martins manteve a decisão após visualizar as imagens. Chamado a converter, aos 41', Gyökeres não perdoou.
Sabia a pouco, o 0-2 ao intervalo. No recomeço, o Farense viu-se forçado a avançar as suas linhas em desesperada busca do tento de honra, mas sem nunca incomodar verdadeiramente o nosso guarda-redes.
Isto facilitou-nos a vida pois permitiu ao Sporting explorar a profundidade. À direita por Quenda, à esquerda por Geny, com Trincão e Pedro Gonçalves endiabrados como nunca arrastando marcações e baralhando o sistema defensivo adversário. Daniel Bragança juntava-se ao quinteto que tinha Gyökeres como ponta-de-lança: chegámos a ter seis envolvidos em simultâneo na manobra ofensiva.
Mais atrás, Morita chegava e sobrava para unir as pontas, recuperar bolas e apoiar o trio de centrais sempre que se tornou necessário. Com manifesto sucesso.
Os golos sucederam-se a um ritmo imparável. Gyökeres fuzilou as redes de longe, aos 66', sem defesa possível. Nuno Santos regressou após um mês de lesão e fez um daqueles cruzamentos teleguiados ao seu jeito que funcionou como assistência para um infeliz autogolo de Lucas Áfrico. O primeiro de que beneficiamos nesta época.
Ainda haveria um quinto golo, à Maradona, marcado por Edwards após conduzir a bola em slalom durante 50 metros. Um a um, os adversários iam ficando pelo caminho. Golaço digno de aplauso até por parte de adeptos farenses. Candidato a golo do mês.
Vencemos, convencemos. Estamos ainda mais sólidos no primeiro posto do pódio. Mesmo ainda sem o tal reforço para a frente de ataque. Mesmo com Morten, titular indiscutível, ainda fora do onze. As trocas fazem-se e a qualidade de jogo subsiste. Confirmando-se que temos banco de suplentes, ao contrário do que sucedia noutros tempos.
Confirma-se também que treinador e jogadores querem muito conquistar o bicampeonato que nos foge há 70 anos. Provam-no em campo, desafio após desafio.
Ficou bem demonstrado, sem margem para dúvidas, nesta goleada no Algarve. A segunda consecutiva em apenas três jornadas. Seria difícil começar melhor.
Breve análise dos jogadores:
Vladan - Muito pouco trabalho. Aos 76', saiu a soco afastando a bola cruzada por Belloumi, o melhor da turma algarvia.
Eduardo Quaresma - Exibição irrepreensível. No posicionamento, na concentração, na maturidade, na qualidade do passe.
Diomande - Claro domínio do jogo aéreo. Impõe-se pelo físico, fechando as linhas de passe à turma adversária.
Gonçalo Inácio - Central actuando também como lateral, faz dois passes decisivos para golo: aos 66' descobrindo Gyökeres no flanco oposto, aos 81' servindo Edwards.
Quenda- Inicia a construção do primeiro golo com técnica apuradíssima e perfeito domínio da bola, tirando três defesas do caminho. Trabalha para a equipa.
Morita - Grande obreiro da solidez do nosso meio-campo. Notável precisão de passe: serve sempre bem, com critério. Apoiou a defesa quando foi preciso.
Daniel Bragança - Aos 22' já tinha sofrido três faltas - confirmando como é útil. Quase marcou aos 27': na recarga, surgiu o primeiro golo. Entrega constante à luta, excelente nas recuperações.
Geny - Interventivo como ala esquerdo, melhorou mais ainda ao transitar para o flanco oposto a partir dos 63'. Aos 85' ofereceu um golo que Gyökeres desperdiçou.
Trincão - Um dos criativos da equipa. Desposicionou os defesas em movimentos de rotação, sempre com a bola dominada. Abrindo auto-estradas para os colegas. Só lhe faltou um golo.
Pedro Gonçalves - Ninguém como ele joga tão bem entre linhas. Esteve muito perto de marcar aos 4'. "Assiste" Daniel aos 27'. Foi ele a cobrar o livre de onde nasceu o quarto golo.
Gyökeres- Leva seis golos à terceira jornada: caso muito raro de eficácia. Marcou três (um de penálti) e podia ter marcado mais dois, aos 16' e aos 85'. Melhor em campo.
Nuno Santos - Entrou aos 63', rendendo Quenda. Está de volta após lesão, cheio de força e energia. Mostrou-o logo aos 69' no cruzamento que deu autogolo.
Debast - Substituiu Eduardo Quaresma aos 71'. Voltou a exibir qualidade no passe longo, bem colocado, com visão de jogo.
Edwards - Substituiu Daniel Bragança aos 71'. Já havia 0-4, mas o inglês fez questão de mostrar serviço. Com um golaço aos 81'. Há sete meses que não marcava. Redimiu-se.
Matheus Reis - Rendeu Diomande aos 86'. Limitou-se a controlar o lado esquerdo do trio de centrais, com Gonçalo remetido ao eixo.
Dário - Entrou para o lugar de Pedro Gonçalves aos 86'. O resultado estava construído, só havia que gerir com bola. Cumpriu.
Da goleada no Estádio Algarve.Domínio absoluto do Sporting num jogo de sentido único em que o Farense não fez um só remate enquadrado à nossa baliza. A manobra ofensiva leonina era tão avassaladora que chegávamos a atacar com seis jogadores em simultãneo. Domínio traduzido em golos. Os três primeiros marcados por Gyökeres. O quarto, por Lucas Áfrico, defesa da turma de Faro marcando à ponta-de-lança na própria baliza após cruzamento muito tenso do reaparecido Nuno Santos. O quinto, que selou o resultado (0-5), foi de Edwards, também ele reaparecido - mas no reencontro com os golos.
De ver tantos sportinguistas nas bancadas. Oficialmente, para nós, o jogo era fora de casa. Mas ninguém diria, vendo as bancadas e o entusiasmo que delas transbordava em apoio às cores do Leão genuíno, o nosso. «Campeões! Nós somos campeões!» - foi este o cântico que mais se ouviu. Se tivesse decorrido no velho estádio de São Luís, em Faro, haveria três vezes menos espectadores e a desproporção de apoiantes das duas equipas seria muito menor.
De Gyökeres. O que dizer mais do fabuloso craque sueco? Apenas reafirmar isto: é um dos melhores avançados que vimos jogar desde sempre no Sporting. Já com seis golos marcados em três jogos da Liga. Cada vez que a bola lhe chega aos pés, cria perigo. E põe a equipa contrária em sobressalto. Ontem, mais três para a sua conta pessoal: fuzilou as redes algarvias aos 27', num oportuno pontapé de recarga; aos 41', na conversão dum penálti; e aos 66', após sentar Moreno e desfeitear Ricardo Velho.
De Pedro Gonçalves. É ali mesmo que deve jogar, como interior esquerdo, movimentando-se entre linhas, indo buscar a bola atrás e conduzindo-a como a inspiração lhe impõe. Desta vez não marcou, mas deu duas vezes a marcar. Ao picar a bola para Daniel Bragança no primeiro golo e ao marcar o livre de que resultaria o autogolo farense, aos 69'. Foi também ele a gerar o lance do penálti numa das suas ousadas incursões na grande área, aos 37'. Rondou o golo aos 4' e aos 74'. Outra exibição superlativa.
De Daniel Bragança e Morita. Merecem alusão simultânea porque funcionaram como bloco coeso e muito eficaz. O internacional japonês dominando o corredor central, passando sempre com critério e apoiando a defesa em constantes movimentos de recuo que o punham a par de Diomande. O nosso capitão criando movimentos de ruptura, distribuindo jogo ofensivo (é dele a entrega a Pedro Gonçalves no lance do penálti) e criando ele próprio oportunidades de golo, como aquela em que só uma enorme defesa de Ricado Velho o impediu de a meter lá dentro, aos 27'. Ambos também muito influentes na recuperação e na pressão sobre o portador da bola, o que explica o facto de o Farense raras vezes ter conseguido chegar à nossa área.
Do golo de Edwards. Ele é mesmo assim: de repente, quase do nada, inventa um lance genial que leva as bancadas ao delírio. Aconteceu aos 81'. Havia entrado dez minutos antes, substituindo Daniel Bragança já com o resultado em 4-0, quando pega na bola a quase 60 metros da baliza, transporta-a com domínio perfeito e vai deixando para trás sucessivos adversários, numa cavalgada heróica que selou a goleada. Último e mais belo dos nossos golos. Este foi à Maradona, pondo fim a um jejum de sete meses.
De Gonçalo Inácio. Actuando com frequência como lateral esquerdo, projectado no terreno, foi igual à sua imagem de marca: discreto mas influente. Cortes preciosos aos 28' e 53'. Dois passes para golo: aos 66', servindo Gyökeres numa soberba variação de flanco, e aos 81', assistindo Edwards. Ostentou a braçadeira de capitão desde o minuto 71', quando Daniel foi substituído. Aos 86', com a saída de Diomande, tornou-se ele central ao meio. Esteve sempre bem.
De não termos sofrido golos. Quarto jogo oficial da temporada, primeiro em que mantivemos as nossas redes intactas. Evolução também neste capítulo.
De ver quatro da nossa formação no onze inicial. Para alguns adeptos, isto nada conta. Não é o meu caso. Gostei que Rúben Amorim apostasse em Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Bragança e Quenda. E ainda entrou Dário, aos 86', quando o resultado já estava construído.
Da arbitragem. Actuação positiva de Tiago Martins: sempre em cima dos lances, apitando com critério, deixando jogar sem interromper a partida à mínima queda dos jogadores. Bom julgamento no lance mais controverso, aquele em que assinalou penálti, apesar das dúvidas suscitadas pelo video-árbitro Fábio Veríssimo.
De ver o Sporting marcar há 45 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde Abril de 2023, perante o Gil Vicente (0-0). Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
De termos disputado 24 desafios consecutivos sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota (1-2) aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, em Guimarães, a 9 de Dezembro. E vamos com 13 triunfos nas últimas 14 partidas disputadas para a maior competição do futebol português.
Não gostei
Do Farense. A tradição manteve-se: não nos ganha desde Janeiro de 2001, já lá vai quase um quarto de século. As arrogantes declarações do treinador José Mota, antes da partida, tornam-se agora ainda mais ridículas após ter sofrido esta goleada. Prometia «criar algumas dificuldades» ao Sporting. Afinal, nem uma para amostra.
Do péssimo estado do relvado. Chegava a ser inexistente numa das zonas centrais. Inacreditável, como é que a Liga autoriza a realização dum jogo do campeonato português neste estádio onde havia decorrido uma partida da Liga Conferência (entre o Lincoln Red Imps, de Gibraltar, e o Lame, da Irlanda do Norte), menos de 24 horas antes.
Da ausência de Morten. O médio defensivo titular permaneceu fora da convocatória por lesão. Mas Daniel Bragança e Morita têm-se completado tão bem que mal se sente a falta do talentoso internacional dinamarquês.
Do 2-0 que se registava ao intervalo. Sabia a pouco. Graças a Ricardo Velho, que evitou três golos. Por Pedro Gonçalves (4'), Gyökeres (16') e Daniel Bragança (27').
De ver um ex-Sporting a jogar contra nós. Desta vez foi Rafael Barbosa, que saltou do banco do Farense no reatamento, após o intervalo.
Trincão, momentos após marcar o quarto golo, muito cumprimentado pelos companheiros
Foto: Homem de Gouveia / Lusa
Poucos previam que pudesse ser tão fácil. Muito mais do que em Janeiro de 2021, quando nos deslocámos à Choupana e arrancámos lá, a ferros, uma vitória esforçada mas mais do que merecida em inesquecível noite de vendaval. Depois o Nacional baixou de divisão, andou três épocas no escalão secundário. Regressa agora, com o estatuto de campeão da Liga 2 e sete reforços no plantel, o que não parece ter empolgado os seus adeptos: abundavam as clareiras no estádio onde o Sporting fez anteontem a sua primeira deslocação fora de portas neste campeonato.
Havia receios sobre a prestação leonina por parte dos pessimistas do costume. Eram infundados, como se viu. Numa primeira parte que dominámos sem discussão entre os minutos 5 e 35, tendo recuperado a supremacia após quatro minutos vacilantes. E sobretudo ao longo de todo o segundo tempo, em que marcámos quatro golos e podíamos ter concretizado outros tantos. Desfecho: primeira goleada da época, por 6-1. E já o comando da Liga 2024/2025, logo à segunda jornada.
Rúben Amorim, numa adaptação ao seu modelo habitual, deu instruções aos alas para actuarem sobretudo como extremos - Geny à esquerda, Quenda à direita. O que alargava a nossa frente de ataque, à semelhança dum rolo compressor. Com Gyökeres no meio do ataque enquanto Pedro Gonçalves e Trincão preenchiam os espaços, abrindo linhas de passe e desgastando o bloco defensivo adversário.
Neste modelo que anda a ser posto em prática com sucesso, Gonçalo Inácio acorria com frequência a dobrar o companheiro da ala esquerda e Eduardo Quaresma fazia o mesmo no flanco oposto, compensando os adiantamentos. No duelo do meio-campo, com Morten ausente por lesão, Morita e Daniel Bragança deram conta do recado. Com o internacional japonês a desdobrar-se também em movimentos de recuo, reforçando os companheiros da defesa.
Resultou. E de que maneira.
Pedro Gonçalves, numa jogada individual que o confirma como o melhor português da actual equipa leonina, fez uma exibição fulgurante de virtuosismo técnico ao inventar o nosso primeiro golo. Estavam decorridos 16': o transmontano pegou nela, deixou cinco adversários pelo caminho e já em desequilíbrio ainda conseguiu dar-lhe o rumo certo, anichando-a no fundo das redes. Estava aberto o caminho para a vitória.
O Nacional tentou dar luta. E chegou a criar a ilusão de que isso seria possível quando empatou a partida num bom disparo a meia altura, aproveitando uma momentânea falha de cobertura do nosso corredor esquerdo. Mas os profetas da desgraça mal tiveram tempo de gritar «Eu não dizia?!» Pedro Gonçalves, novamente protagonista, criou um desequilíbrio e serviu Trincão: o minhoto estava marcado pelos centrais mas desembaraçou-se deles e fuzilou, em remate cruzado. Repondo a justiça no marcador e fixando o resultado ao intervalo: 2-1.
Depois só deu Sporting. Com Quenda a confirmar o seu talento muito acima da média: temos aqui um menino prodígio. Outro tesouro da Academia de Alcochete. Derrubado em falta quando fazia uma incursão para o centro, já dentro da área, possibilitou o nosso terceiro golo. Penálti concretizado aos 51' por Gyökeres: o craque sueco marcou-o de modo irrepreensível.
Adivinhava-se goleada. E aconteceu mesmo, em vertiginosa sucessão. Trincão finalizou sem problema, aos 57', após oferta de Geny. Daniel Bragança - com braçadeira de capitão - deu espectáculo ao receber de Pedro Gonçalves na meia-direita e serpentear entre a defesa contrária antes de fuzilar com nota artística aos 66'. E Gyökeres bisou também, aos 76', num disparo fortíssimo, isolado com passe vertical de Debast a merecer aplauso. O jovem defesa belga começa a dar nas vistas pelos melhores motivos.
Pela segunda época consecutiva, o Sporting emerge como vencedor nas duas jornadas inaugurais da Liga: é um bom auspício para o que vai seguir-se. Temos 12 golos marcados em três jogos oficiais - melhor marca ofensiva desde a temporada 1990/1991, mesmo sem termos contratado ainda o tal avançado grego que tanto se aguarda.
Rúben Amorim soma e segue: 216 jogos oficiais, 150 triunfos no seu currículo em Alvalade. O melhor do século, um dos melhores da história do nosso clube.
O Nacional, que vinha de 14 jogos sem perder, sofreu a maior derrota de sempre em casa. Talvez muitos dos seus adeptos adivinhassem, daí nem sequer terem optado por comparecer no estádio. Temos pena.
Breve análise dos jogadores:
Vladan - Boas defesas aos 31' e aos 47'. Talvez pudesse ter feito melhor no golo solitário que sofremos.
Eduardo Quaresma - Atento e seguro: o melhor do trio de centrais. Espectacular corte de carrinho aos 30'.
Diomande - Algumas falhas de cobertura: não é Coates quem quer. Faltou-lhe velocidade no lance do golo.
Gonçalo Inácio - Central projectado na ala, influente na construção. Desposicionado no golo da turma madeirense.
Quenda- Excelente técnica, maturidade táctica. Cava o penálti que sentenciou o jogo. Quase marcou aos 24': bola roçou no poste.
Morita - Médio mais recuado, apoiou os centrais. Perdeu a bola aos 49': podia ter dado empate ao Nacional.
Daniel Bragança - Capitão, foi ele a gerir e organizar jogo no corredor central. Marcou um golaço - o nosso quinto.
Geny - Parece cada vez mais adaptado à ala esquerda. Recupera, domina e assiste no quarto golo leonino.
Trincão - Muito confiante. Estreia-se a marcar nesta nova época, e logo com um bis. Esteve quase a fazer outro golo, aos 74'.
Pedro Gonçalves - Marcou um, deu dois a marcar. Soma 80 golos e 54 assistências em quatro anos no Sporting. Cada vez mais influente, cada vez mais maduro. Melhor em campo.
Gyökeres- Também ele bisou. Primeiro de penálti, depois num fabuloso pontapé de meia distância. Em excelente forma.
Debast - Substituiu Eduardo aos 69'. Destacou-se ao assistir no sexto golo: pontapé vertical de 40 metros.
Dário - Entrou para o lugar de Morita aos 79'. Mostrou-se confortável no corredor central. Primeiros minutos da época.
Matheus Reis - Rendeu Geny aos 79'. Discreto, controlou ala esquerda. Sem sobressaltos.
Edwards - Substituiu Trincão aos 85'. Quase sem tempo para se mostrar: o resultado estava construído.
Fresneda - Entrou aos 85', rendendo Diomande, só para ganhar algum ritmo.
Da goleada na Choupana. Segunda jornada da Liga 2024/2025, primeiro jogo do Sporting fora de casa. Contra o Nacional, mais de três anos depois. Não podia ter corrido melhor. Fomos lá vencer por 6-1, sem dar hipóteses ao adversário. Há cinco anos que, nesta condição de equipa visitante, não vencíamos no campeonato com pelo menos seis golos apontados - desde 5 de Maio de 2019, quando derrotámos B-SAD por 8-1.
Do nosso domínio indiscutível. Protagonizámos um festival de jogo ofensivo: a nossa equipa sempre confiante, motivada e com índices físicos dignos de registo contra o anterior campeão da Liga 2, que não perdia há 14 jogos e se reforçou com sete jogadores. Domínio absoluto registado mesmo sem Morten no onze, por lesão, e mesmo sem ter chegado ainda o anunciado reforço para a frente de ataque.
De Pedro Gonçalves. Voltou a estar em foco: melhor em campo, justificadamente. Foi ele a marcar o primeiro golo, aos 16'. Grande golo, em que o trabalho foi todo dele, conduzindo sabiamente a bola, com súbitas alterações de velocidade e uma simulação, deixando cinco adversários pelo caminho. Fez ainda duas assistências. Para o segundo e o quinto. Atravessa um dos melhores períodos da sua carreira: quatro golos marcados em três jogos da temporada oficial. É imperdoável continuar fora das convocatórias da selecção.
De Gyökeres. Um dos obreiros desta goleada leonina. Incansável, sempre de olhos fitos na baliza. Marcou por duas vezes - aos 51', convertendo um penálti, e aos 76', fechando a contagem, numa bomba disparada pelo seu pé-canhão após fantástica arrancada com assistência milimétrica de Debast. Esteve a centímetros do tri, aos 87', quando recuperou a bola e rematou ao ferro. Pode festejar também por este motivo: foi a sua estreia como artilheiro na Madeira. Tem números galácticos, à nossa escala: já marcou 46 golos em 53 partidas de Leão ao peito.
De Quenda. Confirma-se: temos craque. Grande exibição como ala direito, encarregado sobretudo de missões ofensivas mas fechando sempre também o seu corredor em despique vitorioso com o lateral esquerdo adversário. Com pleno domínio técnico e notável maturidade táctica para um jovem de apenas 17 anos. Aos 49' protagonizou um lance dentro da grande área em que foi derrubado com toque ostensivo no pé de apoio. Daqui nasceria o nosso terceiro golo.
De Daniel Bragança. Com Morten ausente, coube-lhe ser o capitão e gerir a manobra ofensiva do Sporting. Sobretudo na primeira parte quase toda a acção atacante passou por ele, organizando, distribuindo com critério, promovendo variações de flanco. Cereja em cima do bolo: o espectacular golo que marcou. Foi o nosso quinto, aos 66': num espaço curto, conseguiu mudar duas vezes de pé e fazer uma decisiva finta de corpo sem se atemorizar com os três defesas que tinha pela frente, rematando com colocação e força. Golaço que premiou o seu excelente desempenho.
De Trincão. Inicialmente muito vigiado ao actuar nas costas de Gyökeres, foi-se libertando da marcação cerrada até exibir toda a qualidade do seu futebol. Estreou-se como artilheiro neste campeonato, e logo a bisar: o segundo golo, aos 40', num remate cruzado sem hipóteses para o guarda-redes, e o quarto, aos 57', encaminhando-a para as redes em posição frontal, saíram do seu pé canhoto. Com preciosas ajudas de Pedro Gonçalves e Geny, em qualquer dos casos. É assim que queremos vê-lo, de pé quente e com boa pontaria no remate.
De ver quatro da nossa formação no onze inicial. Para alguns adeptos, isto nada conta. Não é o meu caso. Gostei que Rúben Amorim apostasse em Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Bragança e Quenda. E ainda entrou Dário, aos 79', quando o resultado já estava construído.
Da arbitragem. Boa actuação de Luís Godinho, adoptando o chamado critério largo que há muito devia vigorar no primeiro escalão do futebol português. Uma espécie de inverso de Fábio Veríssimo, que continua a protagonizar autênticos festivais de apito sem perceber que só árbitros sem nível procedem assim.
De ver o Sporting marcar há 44 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde a Liga 2022/2023. Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
De termos disputado 23 partidas consecutivas sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, disputada em Guimarães, a 9 de Dezembro.
Não gostei
Do golo sofrido. Único falhanço defensivo do Sporting, com Gonçalo fora de posição a dobrar Geny e Diomande também muito adiantado, incapaz de interceptar o passe de ruptura para Thomas, aos 36'. O remate saiu a meia altura e sem força excessiva: ficou a sensação de que Vladan podia ter feito melhor. Já sofreu seis golos em três jogos oficiais na temporada, há motivos para questionarmos o seu desempenho entre os postes.
Da ausência de Morten. O internacional dinamarquês ficou fora da convocatória devido a uma lesão que não é grave. Medida de precaução compreensível: vêm aí desafios muito mais complicados do que este. De qualquer modo, mal se sentiu a sua ausência: Daniel Bragança, chamado a substituí-lo, deu boa conta do recado.
Do 2-1 registado ao intervalo. Sabia a pouco.
Do cartão amarelo exibido a Gonçalo Inácio a segundos do fim. Absolutamente desnecessário. Mesmo a ganhar 6-1, é fundamental que os jogadores percebam isto: toda a desconcentração deve ser evitada, do princípio ao fim.
Francisco Trincão marcou dois golos em Barcelos: melhor em campo, herói do jogo
Foto: José Coelho / Lusa
Nem parecia um embate entre as mesmas equipas que há um ano, no mesmo estádio, se saldou por uma medíocre prestação leonina, incapaz de conseguir melhor do que um empate a zero. Este Gil Vicente-Sporting confirmou, até junto daqueles mais reticentes em reconhecer tal facto, como o conjunto verde-e-branco da época em curso está a ser muito mais competente. Com os resultados que sabemos.
Foi em jeito de rolo compressor que o onze comandado por Rúben Amorim iniciou o desafio de sexta-feira em Barcelos, disposto a garantir os três pontos no prazo mais curto. Asfixiando à nascença todas as iniciativas da equipa anfitriã em libertar-se da sufocante pressão que lhe fizemos.
O desígnio estratégico concretizou-se com brilhantismo: ao quarto de hora já vencíamos por 2-0. Golos de Francisco Trincão (com o pé direito!), aos 7', escassos segundos após Morita ter feito a bola embater na barra. Duas oportunidades, um golo. Diomande ampliou a vantagem num cruzamento perfeito, após a marcação de um canto, com assistência de Pedro Gonçalves.
O entusiasmo nas bancadas era tão audível que até parecia estarmos a jogar em casa. Nada como as vitórias para cimentar a relação entre os adeptos e a equipa - e reconduzir as claques à função primordial que lhes deu origem: apoiar os jogadores.
Foi nesta atmosfera festiva que surgiu o terceiro golo. Novamente apontado por Trincão - herói da noite em Barcelos, sem dúvida o melhor em campo. Nascido num lance rápido, com bola ao primeiro toque, em tabelinha com Daniel Bragança - outra exibição de inegável qualidade no relvado minhoto. Aconteceu aos 31': ficava claro que a vitória já não nos fugia. Enquanto a turma da casa continuava sem possibilidade de invadir o nosso meio-campo.
Gyökeres, incansável, procurava também o golo. Quase conseguiu, aos 38', num petardo em que fez pontaria à trave e a bola resvalou para as costas do infeliz guarda-redes Andrew, entrando na baliza. Ficou creditado como autogolo: foi o quarto desafio seguido do craque sueco sem a meter lá dentro. O que não invalida o seu excelente saldo da temporada: 37 golos apontados, 23 dos quais na Liga.
Construída ao intervalo, esta vitória robusta de há três dias permitiu-nos descansar com bola durante toda a segunda parte, já a pensar no desafio de amanhã em Famalicão. Que ninguém imagina vir a ser fácil. Deu para trocar Gonçalo Inácio por Coates, Pedro Gonçalves por Edwards, Trincão por Paulinho, Geny por Fresneda (enfim recuperado da prolongada lesão que o afastou dos estádios) e Daniel Bragança por Koba.
Quem mais brilhou, nesta etapa complementar, acabou por ser Israel. Que manteve a nossa baliza inviolada, numa aparatosa defesa a negar o tento de honra à turma gilista.
Levamos 127 golos marcados desde o início da temporada. E a sexta melhor marca goleadora de sempre na história do Sporting - e a melhor desde os tempos já muito recuados de Fernando Peyroteo. Marcamos há 37 jornadas seguidas. Reforçamos o comando isolado do campeonato, agora com 74 pontos - tantos quantos fizemos em toda a época anterior, quando ainda temos seis jogos por disputar. Cumprimos o 15.º desafio da prova sem perder. Cumprimos uma série de 17 jogos consecutivos a marcar pelo menos dois golos, tendo agora 83 na Liga. Tantos quantos o Benfica apontou em todo o campeonato 2022/2023.
Não admira, por isso, que nas bancadas do estádio barcelense surgissem várias tarjas onde se lia: «#ficaAmorim». Exprimem o desejo de todos os adeptos. Ou quase todos, para ser mais rigoroso. Há sempre algumas hienas no reino do leão.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Exibe mais segurança de jogo para jogo. Não teve muito trabalho, mas quando foi chamado a intervir revelou brilhantismo, impedindo o golo gilista, aos 64'.
Eduardo Quaresma - Cumpriu, vencendo duelos enquanto se desdobrava entre central à direita e a posição de lateral, permitindo assim Geny actuar como extremo.
Diomande- Destacou-se como patrão da defesa, no lugar do onze que costuma estar reservado a Coates. Mas o momento alto foi lá na frente: marcou muito bem, de cabeça, o golo 2.
Gonçalo Inácio - Continua algo desconcentrado, errando mais do que nos habituou. Mas colocou a bola com critério. De um passe seu, ao desmarcar Pedro Gonçalves, nasce o quarto golo.
Geny - Desta vez não foi ele o herói. Nem sequer marcou. Mas soube criar desequilíbrios, mantendo a defesa adversária em sentido. À direita na primeira parte, à esquerda na segunda.
Morita - Temos de volta o talentoso médio que brilhou antes da mais recente chamada à selecção. Deu o primeiro sinal de vida numa bola ao poste (7'). Muito combativo nos duelos.
Daniel Bragança - Capitão inicial, compôs parceria perfeita com Morita, em sucessivas altenâncias de posição que dinamizaram o corredor central. Assistência perfeita no terceiro golo.
Esgaio - Com Matheus lesionado, comprovou a sua versatilidade alinhando como ala esquerdo. Devolvido ao corredor oposto na segunda parte, teve lapso defensivo que podia ter saído caro.
Trincão - Marcou duas vezes, o primeiro e o terceiro, e podia ter levado novamente a bola ao fundo das redes em remate que rasou a trave (19'). Cada vez mais influente. Melhor em campo.
Pedro Gonçalves - Imprescindível como titular, a colocar bem a bola e a desposicionar a defesa. Mais duas assistências: no segundo golo e no quarto - este com o pior pé. Ou o menos bom.
Gyökeres- Dele, os adeptos esperam sempre golos. Mas ainda não foi desta que quebrou o breve jejum. Esteve quase, no quarto golo: rematou à trave e a bola tabelou no guarda-redes.
Coates - Entrou aos 62', substituindo Gonçalo Inácio. Já quando a equipa fazia gestão de esforço, "descansando com a bola".
Edwards - Substituiu Pedro Gonçalves aos 62'. Continua errático, lento a decidir. Aos 89', de frente para a baliza, perdeu oportunidade de marcar o nosso quinto golo.
Paulinho - Entrou para o lugar de Trincão aos 70'. Sobretudo com a missão de segurar a bola e fixar defesas com as suas movimentações na linha avançada.
Fresneda - Em campo desde o minuto 70', rendendo Geny. Nunca tinha jogado tanto de leão ao peito no campeonato. Como ala esquerdo, de pé trocado. Perdeu três duelos.
Koba - Substituiu Daniel Bragança ao 78'. Melhor momento: bom transporte de bola no minuto seguinte. Mas continua a pecar por falta de intensidade.
De outra goleada. Caminhamos em ritmo acelerado rumo à conquista do campeonato, com sucessivos obstáculos derrubados. Desta vez foi em Barcelos, no mesmo estádio onde tínhamos empatado a zero na época anterior - e onde sofremos eliminação frente ao Varzim, na Taça de Portugal dessa época. Vitória por quatro golos sem resposta - toda construída antes do intervalo. Há mais de duas décadas que não conseguíamos tal proeza - desde 2001/2002, num desafio frente ao Paços de Ferreira. O Sporting soma e segue.
De Trincão. Está a fazer a melhor época no Sporting, confirmando que é mesmo reforço. Mais dois golos apontados: o primeiro, logo aos 7', de pé direito; o segundo (que foi o nosso terceiro), aos 33', correspondendo da melhor maneira a excelente abertura de Daniel Bragança. E ainda brilhou num remate, aos 19', que rasou a trave gilista. Melhor em campo, novamente. Já soma sete golos - nove no total da temporada - e sete assistências.
De Pedro Gonçalves. Sempre útil. Mesmo quando não marca, assiste. Ontem, mais duas assistências. Saiu dele o passe certeiro após um canto, rumo à cabeça de Diomande, para o segundo golo leonino, aos 11'. E assistiu Gyökeres no nosso quarto, aos 38', num tiro à trave que acabaria por levar a bola a resvalar nas costas do infeliz guardião Andrew - de luto por ter sabido horas antes a triste notícia do falecimento da mãe. Ninguém no Sporting trabalha com tanta competência entre linhas como o craque transmontano. Imprescindível.
De Diomande. Com Rúben Amorim a fazer gestão física do capitão Coates, coube ao jovem marfinense comandar a nossa linha defensiva - entre Eduardo Quaresma e Gonçalo Inácio, dois talentos formados em Alcochete. Funcionou sem problema. E com momentos de inegável brilhantismo, culminando no golo que marcou ao elevar-se mais alto do que os defensores da turma antitriã, num vistoso cabeceamento. A bola só parou no lugar certo: o fundo das redes.
De Daniel Bragança. Morten não jogou: estava castigado, com acumulação de cartões. Mas nem se deu pela ausência do craque dinamarquês. A sua posição estava bem preenchida com outro talento da Academia de Alcochete. Daniel Bragança, bom no passe e no transporte, conduziu bem as operações no corredor central, formando sólida parceria com Morita. Capitão da equipa até à entrada de Coates, aos 62', destacou-se nas recuperações e sobretudo na exímia assistência para o terceiro golo. Recebeu merecido aplauso ao dar lugar a Koba, aos 78'.
De Rúben Amorim. Terei de destacá-lo sempre pela positiva, presumo, até ao final do campeonato. Desta vez, confrontado com duas baixas no onze titular, voltou a adaptar-se da melhor maneira às circunstâncias deixando Geny como extremo, confiando a Eduardo Quaresma a dupla missão de ser central à direita e lateral na mesma faixa e remetendo Esgaio para a ala esquerda. Tudo funcionou num jogo em que já vencíamos com duas bolas de vantagem antes do primeiro quarto de hora. Isto permitiu ao treinador gerir a equipa no plano físico. Atendendo já ao próximo desafio: será em Famalicão, terça-feira, a partir das 20.15. Vai cumprir-se enfim o jogo que ficou em atraso.
Do nosso desempenho. Imparavel. A equipa transmite confiança, optimismo, alegria no relvado. Desenhando um futebol vertical, capaz de desposicionar os adversários com manobras ofensivas alternadas pelos corredores externos, súbitas variações de flanco e manobras entre linhas que condicionam o jogo rival. Com entrada fortíssima em campo, uma vez mais. «A equipa que faz da euforia a sua anti-depressão», como justamente titulou o Observador na crónica do jogo.
De Manuel Oliveira. Boa arbitragem: mal se deu por ele.
Do apoio nas bancadas. Havia mais de onze mil espectadores em Barcelos. Grande parte deles eram adeptos do Sporting, que incentivaram os nossos jogadores do princípio ao fim. Exibindo faixas muito apropriadas onde se podia ler «#ficaAmorim».
De já termos marcado 127 golos em 2023/2024. É o sexto melhor registo de sempre na história leonina. E o melhor desde os longínquos tempos de Peyroteo, na época 1946/1947.
Dos 74 pontos já conquistados. Igualámos a pontuação do campeonato anterior - quando ainda nos faltam seis partidas por disputar agora.
De ver o Sporting marcar há 37 jornadas seguidas. Sempre a fazer golos, desde o campeonato anterior - com uma série de 17 jogos seguidos a facturar pelo menos duas vezes. Reforçamos a nossa posição no topo das equipas goleadoras. Basta comparar: temos 83 marcados, já mais um do que o Benfica em toda a época anterior, seis rondas antes do fim da prova. Esta é a melhor marca de uma equipa na Liga, à 27.ª jornada, desde 1983/1984, igualando o SLB dessa época. E cumprimos o 15.º desafio consecutivo sem perder na Liga 2023/2024, com seis triunfos consecutivos. Na segunda volta, até agora, ainda só perdemos dois pontos - no empate em Vila do Conde.
Não gostei
Das ausências de Morten e Nuno Santos. Tapados com cartões amarelos, ficaram ambos fora deste confronto em Barcelos. Mas, em rigor, não fizeram falta. É um dos segredos do sucesso desta equipa tão bem orientada por Rúben Amorim: o conjunto funciona com eficácia sejam quais forem os elementos do onze titular.
De ver Gyökeres em branco. Quarto jogo consecutivo do internacional sueco sem marcar de leão ao peito. Nunca tinha acontecido. Mas ele bem tentou, com aquelas suas inconfundíveis arrancadas relvado fora, levando tudo à frente. Num desses lances, sempre sublinhados com aplausos, disparou um tiro que fez a bola embater novamente à barra - terceira vez nos últimos três jogos. Mas esta acabou por entrar, embora tabelando no guarda-redes gilista. Foi o nosso quarto golo de ontem. Olhando para o internacional sueco, percebia-se o seu desalento ao concluir que não lhe fora creditado.
Da falta de golos no segundo tempo. O resultado ficou construído aos 38'. A equipa baixou o ritmo na etapa complementar, como era previsível, e o jogo adquiriu uma toada mais monótona, com o Gil Vicente quase sempre incapaz de dar réplica. Só criou uma oportunidade de golo, aos 64', num remate cruzado que Israel defendeu com brilhantismo entre os postes.
De Fresneda. Pudemos enfim voltar a vê-lo algum tempo em campo: entrou aos 70', substituindo Geny. Mas o espanhol continua sem demonstrar as qualidades que levaram o Sporting a contratá-lo. Corre muito, mas perde a bola com facilidade. Assim aconteceu aos 77', 79' e 81'. Tarda em mostrar-se útil
De ver Félix Correia com outro emblema. O talentoso extremo foi formado em Alcochete, onde jogou até aos 19 anos. Depois forçou a saída, quis mudar de ares. Levaram-no para o Manchester City, onde nunca chegou a jogar; depois para a Juventus, onde só actuou uma vez pela equipa principal, durante sete minutos, numa partida da Taça italiana. Agora joga no Gil Vicente por empréstimo da Juve. Estranha forma de gerir a carreira. Podia ser um dos nossos, mas optou por nos virar as costas. Que lhe faça bom proveito.
Vendaval verde esta noite num campo sempre difícil, o do Gil Vicente, que combinou muito bem uma fortíssima vontade de vencer com uma capacidade táctica ao nível de excelência, aqui ou em qualquer lado. E assim é mesmo díficil segurar Rúben Amorim, até um observador inglês intoxicado com Super Bocks e aos tombos na bancada rapidamente percebe o "monstro" que ali está.
Com os alas e os interiores de "pé trocado", o Sporting entrou com uma grande aceleração de jogo pelas zonas centrais e uma pressão muito forte sobre a defensiva contrária, que permitia depressa transformar recuperações de bola em remates ao golo. Depois o talento de Trincão fez o resto. Só foi pena a cabeçada de Gyökeres a centro milimétrico de Pedro Gonçalves ter batido na nuca do guarda-redes infortunado do Gil Vicente (aproveito para endereçar as minhas condolências ao rapaz).
Com 4-0 ao intervalo a segunda parte foi de gestão física, foram saindo os mais fatigados e entrando quem precisava de minutos, bola recuperada atrás era bola colocada em Gyökeres, mas a noite não era a dele.
Impossível desvalorizar uma vitória por 4-0 em Barcelos, independentemente da situação actual da equipa local, como impossível é também supor que em Famalicão vai ser assim tão simples, a equipa local vai entrar em campo com a lição bem estudada para fazer bem diferente do que fez o Gil Vicente.
Melhor em campo? Trincão, depois dele os outros todos que entraram de início.
Arbitragem? Desta vez não encontrou motivos para estragar o jogo, mas também não os inventou.
E agora? Onda verde em Famalicão na terça-feira, já com Hjulmand e Nuno Santos, e depois se verá em Alvalade.
Gyökeres e Paulinho marcaram cinco dos nossos seis golos: foi a quinta goleada leonina nesta Liga
Foto: José Sena Goulão / EPA
Alguns diziam que esta seria uma das nossas partidas mais difíceis. Em primeiro lugar porque o Boavista tem bons jogadores - impuseram empate ao FC Porto no Bessa. Em segundo lugar, o Sporting trazia de Bérgamo uma desmoralizante derrota, embora tangencial (1-2), contra a Atalanta que nos pôs fora da Liga Europa. Além disso não chegámos a cumprir o descanso mínimo de 72 horas recomendado entre duas partidas do calendário oficial de futebol. Como se tudo isto não bastasse, o melhor jogador português do plantel leonino, Pedro Gonçalves, lesionou-se no embate em Itália.
Motivos de preocupação. Mas afinal não havia razão para isso. O Sporting exibiu classe, categoria, inegável superioridade perante a segunda melhor equipa da cidade do Porto. Ao ponto de termos arrancado a nossa segunda maior goleada da Liga 2023/2024 - apenas superada pelos oito golos sem resposta que impusemos ao Casa Pia. E assim chegámos aos 75 já marcados nesta prova. Completando uma média sem casas decimais: três golos por cada um dos 25 desafios que até agora disputámos.
O que desmente a teoria, propalada pelos do costume, de que o futebol de Rúben Amorim é cauteloso e defensivo, pouco vocacionado para a dinâmica ofensiva. Coitados desses tais: continuam a ser desmentidos pelos factos.
E no entanto este jogo ocorrido anteontem, domingo, até nem começou da melhor maneira para nós. Quando ainda vários adeptos nem estavam sentados nos seus lugares, já o Boavista se adiantava no marcador com uma bomba disparada sem preparação por Makouta. Grande golo, que gelou o estádio em noite quase primaveril.
Pior foi ter decorrido um longo período sem conseguirmos o empate - dos 3' aos 45', quando o suspeito habitual desatou o nó: Gyökeres, numa espécie de carrinho que quase o fez entrar na baliza, deu a melhor sequência ao centro que Paulinho desenhou com nitidez geométrica. Muito antes, aos 6', Trincão vira anulado um vistoso disparo muito bem colocado: Paulinho estava 26 cm deslocado nesse lance.
Assim se chegou ao intervalo: 1-1.
No segundo tempo só deu Sporting. Pressão intensa, ataque vertiginoso, impecável trabalho dos nossos jogadores com bola e sem ela, todas as alas a executar movimentos de ruptura de olhos fitos na baliza à guarda de João Gonçalves.
Queriam ainda mais golos no Sporting? Tiveram meia-dúzia. Para que a tal média acima mencionada resultasse perfeita, sem necessidade de baralhar aqueles que percebem pouco de aritmética.
O segundo surgiu aos 54'. Marcado por Paulinho, com Geny a dar espectáculo na assistência a partir da meia-direita.
O terceiro, aos 68', resultou de outra primorosa acção do craque sueco, lançado por Nuno Santos num passe vertical que queimou linhas.
Era o sexto bis de Gyökeres na Liga, mas a conta dele ainda não estava fechada. Viria a marcar outro, aos 79' - de penálti, a castigar falta cometida sobre Gonçalo Inácio. E foi ele a assistir Nuno Santos no quinto golo, aos 88'.
A conta só encerrou no último minuto do tempo extra, aos 90'+5, quando de um canto apontado por Nuno para a cabeça de Paulinho resultou o sexto. Mais de 38 mil espectadores abandonaram Alvalade de barriga cheia.
As claques ovacionavam a equipa. Mantínhamos o comando do campeonato. Isolados. O Benfica segue um ponto abaixo, o FC Porto vai sete pontos atrás. Tendo nós um jogo a menos.
Desta vez houve apenas assobios a António Nobre. Mas é irrelevante falar do árbitro num jogo em que goleámos por 6-1. Não nos foi anulado qualquer golo limpo, não foi validado qualquer golo irregular da equipa adversária, beneficiámos de um grande penalidade indiscutível, nenhum jogador nosso foi expulso.
Portanto, jogo sem história em matéria de arbitragem. Como deviam ser todos. Claro que nenhum árbitro é perfeito, tal como nenhum treinador é perfeito e nenhum jogador é perfeito. Nem sequer o Cristiano Ronaldo.
Deixemos os recorrentes protestos sobre arbitragem para aqueles embates muito específicos em que realmente temos queixas sérias de quem apita - não para a nossa segunda maior goleada da Liga 2023/2024.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Podia ter feito melhor no lance do golo sofrido: socou a bola para o espaço à sua frente, entregando-a a Makouta. Mas não voltou a cometer erros. Aliás, não necessitou de fazer qualquer defesa.
Diomande- Faltou-lhe acorrer com eficácia à dobra, após Geny ter sido ultrapassado pelo extremo adversário no lance do golo. Arriscou algumas incursões ofensivas. Numa delas, aos 49', falhou recarga fácil.
Coates - É bom ver o capitão de regresso ao onze. Desta vez para durar o jogo inteiro. Único deslize: perda comprometedora de bola aos 71'. Aos 74', meteu-a lá dentro, mas o jogo já estava interrompido.
Matheus Reis - Missão cumprida, com a segurança habitual, na noite em que foi distinguido com galardão especial por ter cumprido 150 jogos de leão ao peito. Teve intervenção preciosa no nosso primeiro golo.
Geny - Confirma-se: tem mais vocação para atacar do que para defender. Primeira parte titubeante, ultrapassado aos 3' no lance do golo deles. Redimiu-se ao assistir no golo 2: cruzamento a rasgar, com nota artística.
Morten - Mostrou algum desgaste anímico pela derrota em Bérgamo. Entregou a bola aos 16', algo inabitual nele. Corte in extremis logo a seguir. Amarelado aos 32', já não regressou após o intervalo.
Morita - Recuperado da indisposição que o impediu de ir a Itália, esteve envolvido no 1-1. Aos 43' fez brilhante passe para um quase-golo de Trincão. Sempre em jogo, revelando qualidade técnica superior. Imprescindivel.
Nuno Santos - Novamente titular. A paragem fez-lhe bem: regressou com energia e arte futebolística. Magnífico passe de letra aos 38'. Assistiu Viktor no golo 3. Marcou o golo 5. E bateu o canto que originou o último.
Trincão - Meteu-a lá dentro aos 6', mas não valeu: Paulinho estava deslocado. Só o guarda-redes o impediu de marcar um excelente golo (43'). Foi dele a pré-assistência no golo 2. Saiu com queixas físicas.
Paulinho - Como segundo avançado, fez parceria perfeita com Gyökeres. Matador por duas vezes: aos 54', com o pé, e aos 90'+5, de cabeça. Também num cabeceamento, esteve prestes a marcar também aos 73'.
Gyökeres- Inútil esbanjar mais adjectivos com ele: poupemos nas palavras e observemos a sua acção em campo. Mais três golos para a sua conta. Tem já 36 na temporada, mais 14 assistências. Um espectáculo.
Daniel Bragança - Fez toda a segunda parte, subtituindo Morten. Com brilhantismo. Venceu quase todos os duelos, posicionou-se de modo exemplar entre linhas. Excelentes recuperações aos 62' e 72'.
Gonçalo Inácio - Entrou aos 55', permitindo assim poupar Matheus Reis a maior desgaste físico. Pareceu longe da melhor forma nas suas primeiras acções em campo. Mas sacou um penálti aos 74'.
Eduardo Quaresma - Entrou aos 73', rendendo Diomande. Assegurou a circulação tranquila da bola, sem sobressaltos.
Esgaio - Refrescou a equipa aos 84' ao substituir Trincão, que saiu a coxear. Quando a partida estava ganha, já com 4-1 no marcador.
Koba - Entrou aos 84', rendendo Morita, só para cumprir mais uns minutos de leão ao peito. Poucas vezes tocou na bola. Nem era necessário.
Há quem considere que o resultado num jogo de futebol passa a ser de goleada a partir de três golos de diferença. Mas há quem defenda que devem ser quatro a dita diferença entre os golos marcados e sofridos.
O curioso é que o resultado de três a zero, para muitos, pode não ser goleada, mas de quatro a um já é… No entanto a diferença de golos é a mesma.
Posto isto vou ter como matriz a diferença de três golos para considerar goleada. Assim, e em 25 jogos já realizados, o Sporting brindou os adversários com a diferença de três ou mais golos por oito ocasiões (quase um terço dos jogos).
Vejamos a lista das partidas realizadas:
jornada 5 – 3 - 0 ao Moreirense;
jornada 16 - 5 - 1 ao Estoril;
jornada 17 – 3 - 0 em Chaves;
jornada 18 – 5 - 2 em Vizela;
jornada 19 – 8 - 0 ao Casa Pia;
jornada 21 – 5 - 0 ao Braga;
jornada 25 – 3 - 0 em Arouca;
jornada 26 – 6 - 1 ao Boavista.
Depois fui ver os resultados do nosso adversário mais directo. Também ousou fazer oito goleadas contra apenas três do clube da Cidade Invicta. Neste último caso uma delas foi contra o nosso perseguidor.
Olho para estes dados e pergunto-me há quanto tempo isto não acontecia com o Sporting. Segundo li hoje parece que será necessário recuar meio século para se conseguir encontrar algo semelhante.
Agora a questão sacramental e que divide alguns sportinguistas: a quem atribuir o mérito destes resultados?
É fácil atribuir os louros ao ponta de lança sueco Gyökeres, a Pedro Gonçalves ou até mesmo ao Francisco Trincão ou em última instância partilhar o mérito pelos três. Só que nenhum deles, sem Rúben Amorim, conseguiria fazer da equipa o que ela é: uma poderosa máquina de fazer golos.
Rúben conhece hoje bem os seus homens. Conhece as características de cada um e sabe retirar deles o melhor. Mesmo quando estão cansados.
Posto isto e em termos meramente internos o Sporting é sem dúvida a melhor equipa portuguesa. Os outros podem até ter campeões do Mundo, da Lua ou de Marte, mas falta-lhes o espírito de grupo e de conquista como hoje tem a equipa leonina.
Mesmo quando as coisas não correm bem, como foi o caso em Bérgamo ou em Vila do Conde, a equipa não se desune e mostra que é sabendo ultrapassar os momentos menos bons que se pode encontrar o segredo das vitórias seguintes.
São estes os golos de Amorim e que a Liga não consegue contabilizar!
Com 9 jornadas por disputar, uma evidência parece certa: este Sporting da New Era 2.0 será, até à data, o mais demolidor deste século, no que ao campeonato nacional diz respeito.
A atual melhor marca, de 79 golos, conseguida na época de 2015/2016 sob a batuta de Jorge Jesus, vai ser facilmente ultrapassada.
Surge a questão de saber se a equipa conseguirá atingir a mítica marca dos 100 golos, sendo certo que ainda teremos pela frente confrontos com Benfica e Porto, as duas melhores defesas do campeonato.
Da minha parte, acredito que poderemos muito bem fazer essa história. Mais alguém alinha?
Apoio inequívoco das claques em Alvalade após derrota em Bérgamo: assim é que é
Gostei
Da goleada ao Boavista. Cilindrámos a equipa portuense em Alvalade. Foi o segundo resultado mais volumoso do Sporting até agora no campeonato em curso: 6-1. Valeu não apenas pela avalanche de golos, cinco dos quais no segundo tempo, mas por toda a exibição da equipa tão bem orientada por Rúben Amorim. Demonstrando a reacção mais adequada após o nosso recente afastamento da Liga Europa.
De Gyökeres. O melhor em campo, para não variar. Verdadeiro motor da equipa: joga e faz jogar, sempre de pé no acelerador. Reforçou o comando da lista dos artilheiros do campeonato com mais três golos. Aos 45' (o golo da reviravolta, que já tardava), aos 68' e aos 79', este de penálti - convertido de modo exemplar. Quarto jogo consecutivo da Liga a marcar: já a meteu lá dentro 36 vezes no conjunto da temporada, 22 no campeonato. E também já protagonizou 14 assistências - ontem mais uma, com inegável classe, para o golo de Nuno Santos. Números extraordinários: o nosso jogador mais caro de sempre vale cada cêntimo que custou ao Sporting.
De Paulinho. Uma das suas melhores exibições de verde e branco. Desta vez bisou. Aos 54', marcando o segundo golo - correspondendo de forma exemplar a um cruzamento perfeito de Geny. E a poucos segundos do apito final, aos 90'+5, num cabeceamento sem mácula após a conversão de um canto. E ainda é dele, num centro muito bem medido, a assistência para o golo inicial.
De Nuno Santos. Ressurgiu após um período de relativo apagamento. Em boa hora Amorim apostou nele como titular na recepção ao Boavista. Sai deste embate que alguns consideravam difícil com saldo muito positivo: um golo, apontado aos 88', e duas assistências. Notável o passe vertical aos 68' a que Gyökeres deu a melhor sequência. E foi ele a bater o canto que proporcionou o golo final de Paulinho, selando o resultado.
De Daniel Bragança. Cumpre, sem dúvida, a sua melhor época ao serviço do Sporting. Ontem actuou durante toda a segunda parte - por troca com Morten, talvez o único que pareceu ressentir-se da derrota contra a Atalanta - e mostrou-se em excelente forma. Oportuníssimas recuperações aos 62' e aos 72' que logo originaram ataques perigosos. Exímio tecnicista, muito eficaz a movimentar-se entre linhas.
Do regresso de Morita. Ausente em Bérgamo, devido a uma indisposição que o reteve em Lisboa, voltou ao onze. E foi pedra fundamental deste dilatado triunfo leonino. Na visão de jogo, na capacidade de recuperar bolas, no perfeito domínio técnico demonstrado em cada lance. Consegue estar em acção em diversas zonas do terreno. É dos jogadores que mais procuram e mais merecem o título de campeão em Portugal.
Da nossa reviravolta. Tendo sofrido um golo a frio, logo aos 3', soubemos reagir com firmeza e determinação: quase não voltámos a deixar o Boavista aproximar-se da nossa baliza, Israel não chegou a fazer uma defesa digna desse nome e eles só conseguiram um canto aos 90'+3. Protagonizámos uma reacção quase asfixiante à turma boavisteira, que só pecou pela conversão tardia do nosso primeiro golo. Na segunda parte, sobretudo, chegámos a ser brilhantes. Com uma entrada fortíssima, sempre a carregar no acelerador. Deu gosto ver este Sporting imparável, nada fragilizado pelo desfecho da partida anterior, em solo italiano.
Do apoio inequívoco das claques. Com aplausos, cânticos, incentivos de todo o género. E dísticos que não deixam lugar a dúvidas: estão cem por cento com os jogadores, estão cem por cento com a equipa técnica. É para isto que servem as claques. Assim merecem também elas o nosso aplauso.
De ver o Sporting marcar há 34 jornadas seguidas. Sempre a fazer golos, desde o campeonato anterior. Reforçamos a nossa posição no topo das equipas goleadoras. Basta comparar: temos mais 15 marcados do que o Benfica e mais 25 do que o FC Porto.
Do nosso desempenho global em casa para a Liga 2023/2024. Treze jogos, treze vitórias. Invictos em Alvalade.
De mantermos a liderança isolada. Agora com 65 pontos. Mesmo com um jogo em atraso - que, caso seja vencido, deixará o principal rival quatro pontos abaixo de nós. Prossegue a contagem decrescente para a conquista do troféu máximo do futebol português. Vamos lá chegar.
Não gostei
De sofrer tão cedo. Foi um banho de água fria em Alvalade, aquele disparo indefensável de Makouta. Desde 2015 que o Boavista não marcava no nosso estádio.
De outro golo na nossa baliza. Temos agora mais sete sofridos do que o FCP, mais quatro do que o SLB. Nada de grave, mas é um aspecto a melhorar.
De termos esperado 42 minutos para empatar. Só aconteceu aos 45': tardou em excesso. O 1-1 registado ao intervalo era muito lisonjeiro para o Boavista, que já merecia então estar a perder, até por mais de uma bola de diferença. Acabaríamos por acertar contas na segunda parte.
Da ausência de Pedro Gonçalves. Os colegas cumpriram bem a missão em campo, mas o melhor jogador português do Sporting faz sempre falta. Infelizmente ainda não sabemos quando poderá estar de volta: continua afastado devido à lesão muscular contraída em Itália.
Do horário do jogo. Voltamos ao mesmo: partida iniciada às 20.30, numa noite de domingo. Só dá jeito a quem não precisa de trabalhar e a quem nunca vai ao estádio - alguns nem sequer se dão ao incómodo de assistir às partidas pela televisão, espreitam os resumos mais tarde e já lhes basta. Para esses pode ser em qualquer dia e a qualquer hora.
«Quando eu era menos velho, só era goleada a partir de 4 e chegava-se mesmo a definir como "diferença de 4 ou mais". Mas a partir de certa altura (quando?) 3-0 já era goleada. Mas não é. Imagino que fosse porque começaram a escassear e havia menos oportunidades para usar a palavra.»
Eduardo Quaresma muito aplaudido na estreia como goleador ao marcar o segundo ao Braga
Foto: Filipe Amorim / Lusa
Foi um festival de golos em Alvalade. Uma vez mais. Aqueles que nos faltaram no recente encontro com o Braga na meia-final da Taça da Liga, disputada em Leiria, apesar das seis ou sete oportunidades claras que tivemos nessa partida quase de sentido único, desta vez aconteceram. E de que maneira: goleámos a turma minhota por 5-0, reeditando o resultado obtido no Sporting-Braga do campeonato anterior e a vitória pela mesma marca, também no nosso estádio e contra a mesma equipa, na edição da Taça da Liga 2022/2023.
A saúde do onze leonino é notória: vulgarizámos por completo o conjunto comandado por Artur Jorge. Entrada fulgurante dos leões, com pressão intensa sobre os visitantes, confinados ao seu reduto defensivo. Cedo este domínio se traduziu num golo: Trincão, aproveitando da melhor maneira um passe transviado perto da linha da grande área, tomou conta da bola e aplicou-lhe o tratamento adequado em remate cruzado e rasteiro, encaminhando-a para as redes.
Estavam decorridos 8 minutos: começava a festa em Alvalade, anteontem com quase 40 mil espectadores neste jogo iniciado às 18 horas do Domingo de Carnaval. Sem que os do Braga tivessem qualquer motivo para rir.
O segundo não tardou. E foi uma obra-prima: Eduardo Quaresma recuperou a "gordinha" lá atrás, junto à linha direita defensiva, e conduziu-a em ziguezague com nota artística campo fora, contornando todas as tentativas de intercepção. Na grande área braguista, a bola foi tocada para Pedro Gonçalves que tentou centrar já em desequilíbrio: sobrou para Edu, que prosseguira sem pisar o travão: com ela novamente nos pés, não perdoou: estreava-se assim como artilheiro na equipa principal do Sporting ao fim de 25 desafios como profissional de leão ao peito. O estádio explodiu de euforia. E o jovem jogador também: escutou aplausos prolongados, mais do que merecidos.
Assim se foi para o intervalo sem que Adán tivesse sido importunado. Tinhamos a noção de que os três pontos estavam garantidos, mas aquele 2-0 sabia a pouco.
O Braga voltou do balneário a tentar finalmente discutir o jogo: durou cerca de 20 minutos esta veleidade. O Sporting, que fingira estar adormecido, voltou a carregar no acelerador, conduzindo ataques alternados pelos corredores laterais, baralhando as marcações dos minhotos, novamente empurrados para os 30 metros do seu reduto.
Aí voltou a brilhar Trincão, o melhor em campo. Tomou posse da bola na meia-direita e já não a largou, fintando dois adversários e atirando-a teleguiada para a zona do primeiro poste, onde Gyökeres rematou com êxito a meia altura, sem hipóteses para Matheus. O astro sueco voltava a brilhar, já sem José Fonte nem Paulo Oliveira a policiá-lo, aumentando o seu registo como rei dos artilheiros do campeonato.
Foi aos 71'. Bastaram dois minutos para a bola se anichar outra vez nas redes braguistas, desta vez muito bem encaminhada por Daniel Bragança, pouco depois de render Morita. «Só mais um!», gritavam os adeptos.
Nuno Santos fez-lhes a vontade aos 85' com um tiro de trivela, igualmente indefensável. Aquecendo ainda mais a chuvosa noite de Inverno no nosso estádio.
Havia nas bancadas quem falasse em "vingança". Mas aconteceu algo maior do que isso: uma exibição de exuberante superioridade das nossas cores. Não demos a menor oportunidade ao Braga para medir forças connosco. Confirmando que o recente tropeção em Leiria foi mero infortúnio que não deixou marcas.
Quem duvide, fará bem em espreitar a classificação do campeonato nacional. O Sporting segue em primeiro, em igualdade pontual com o Benfica (ambos com 52 pontos), mas menos um jogo disputado - o que faz muita diferença.
E o Braga? Segue em quarto, com menos 12 pontos. Deve acautelar-se com o V. Guimarães, já a morder-lhe os calcanhares. Quase tão mal está o FC Porto, que ontem sofreu a primeira derrota de sempre em Arouca (3-2) e está agora 7 pontos abaixo do Sporting - que podem ser 10 quando se disputar finalmente o nosso desafio em Famalicão.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Partida relativamente tranquila para o guardião espanhol, que brilhou aos 62', protagonizando excelente defesa ao negar o golo a Álvaro Djaló quando vencíamos por 2-0.
Eduardo - Enorme capacidade de chegada à área braguista, excelente visão de jogo, atrevimento no melhor sentido. Estreia a marcar como profissional leonino. Mereceu por completo.
Coates - Desta vez só se destacou no sector recuado: lá na frente, nos cantos, não fez a diferença. Mas cumpriu com o zelo habitual na defesa. Cortes oportunos aos 34', 51' e 66'.
Gonçalo Inácio - Dobrou Nuno Santos quando este se adiantava no corredor esquerdo, fez parceria perfeita com Coates e inicia a construção do quarto golo com soberbo passe vertical.
Geny - Foi o primeiro a criar desequilíbrios pondo o Braga em sentido com várias acções de ruptura na ponta direita. Sem nunca descurar as missões defensivas enquanto manteve o fôlego.
Morten - Exímio no passe, olhando o jogo de frente, sem virar a cara à luta. E com capacidade de aparecer lá na frente, como quando sacou um livre directo aos 28' quase à entrada da área.
Morita - O menos exuberante do onze inicial, ainda a acusar algum desgaste da participação na Taça Asiática ao serviço do Japão. Irá com certeza recuperar a forma no próximo jogo.
Nuno Santos - Batalhador. Foi um dos principais obreiros da avalancha ofensiva leonina. Quase marcou aos 60, num remate cruzado que rasou o poste. Aos 85', meteu-a mesmo lá dentro.
Pedro Gonçalves - Rúben Amorim devolveu-o ao trio atacante. E foi lá que ele teve participação directa em dois dos golos - o segundo e o quarto. No essencial, missão cumprida.
Trincão - Sexto golo nos últimos cinco jogos da Liga. Foi ele a abrir a goleada em lance que construiu do princípio ao fim. Fez a assistência para o terceiro. Já convence até os mais cépticos.
Gyökeres- Atacou a profundidade e deu largura ao ataque leonino, sem se deixar intimidar pelas marcações. Na primeira oportunidade de que dispôs, meteu-a lá dentro. À campeão.
Daniel Bragança- Aos poucos, vai-se tornando mais influente. Substituiu Morita aos 51': bastaram-lhe 12 minutos para marcar o quarto golo leonino. O seu quarto da temporada.
Matheus Reis - Sempre jogador útil. Em campo desde o minuto 75', quando rendeu Quaresma, três minutos depois protagonizou grande corte pondo fim a uma situação de perigo.
Edwards - Substituiu Pedro Gonçalves aos 75'. Abusa dos lances individuais, tentando fintar meia equipa. Aos 90'+1, desperdiçou oportunidade de marcar o sexto.
Esgaio - Em campo desde o minuto 84, preenchendo o lugar de Geny. Entrou bem: no minuto seguinte centrou com precisão, dando início ao lance do quinto golo. Outro bom centro aos 90'.
Paulinho - Rendeu Gyökeres aos 84'. Sem pontaria, falhou cabeceamento em zona de decisão (90'). Em cima da linha final, assistiu Edwards de calcanhar: esteve quase a ser golo (90'+1).
Da goleada de ontem ao Braga em Alvalade. Aplicámos uma manita à turma braguista: terceira seguida na deslocação desta equipa ao nosso estádio. Num jogo que dominámos do princípio ao fim. Aproveitamento de quase todas as oportunidades de que dispusemos. Os golos foram surgindo em cadência alucinante para os minhotos de visita a Lisboa: por Trincão aos 8', por Eduardo Quaresma aos 18', por Gyökeres aos 71', por Daniel Bragança aos 73' e por Nuno Santos aos 85'. A melhor equipa em Portugal é hoje a nossa, sem a menor dúvida. Como esta partida comprovou: quinta goleada em 2024.
Da atitude da nossa equipa. A cada jogo, o Sporting mostra-se ainda mais consistente, confiante, motivadíssimo. Tanto no processo defensivo como ofensivo. Um colectivo cheio de força, cheio de vontade, cheio de energia anímica. Inquebrantável.
De Gyökeres. Muito marcado na primeira parte, em que raras vezes conseguiu exibir a qualidade do seu futebol, o sueco soltou-se na meia hora final e voltou àquilo que melhor sabe: marcar. Assinou o terceiro, num remate a meia altura que desfez por completo qualquer veleidade do Braga em conseguir levar um ponto de Alvalade. Tem números impressionantes: este foi o seu 16.º golo no campeonato e o 27.º em todas as competições da temporada. Consolida a sua posição, já indiscutível, de melhor jogador da Liga 2023/2024.
De Trincão. O melhor em campo. Grande exibição do avançado que teve formação futebolística em Braga (e por isso não festejou o golo) e confirma agora todas as qualidades que levaram à sua contratação. Voltou a marcar num lance iniciado por ele próprio com uma recuperação muito oportuna, abrindo caminho à goleada. E foi dele a assistência para o terceiro, num magnífico trabalho na meia-direita ofensiva, sentando dois adversários antes de cruzar para Gyökeres. Já leva seis golos marcados nos últimos cinco desafios do campeonato.
De Eduardo Quaresma. Exibição superlativa do nosso central à direita. Não apenas no plano defensivo, confirmando todas as qualidades evidenciadas desde o início do ano, mas sobretudo pelo fantástico golo que marcou - desde já candidato a um dos melhores de 2024. Jogada iniciada e concluída por ele, numa corrida de 70 metros em que foi queimando sucessivas linhas com a bola dominada e depois a apontou para o fundo das redes já dentro da grande área quando Pedro Gonçalves tinha ficado sem ela. Golo à ponta-de-lança - o seu primeiro como profissional do Sporting após 25 jogos. Mais do que merecido. Ao ser substituído, no minuto 75, recebeu calorosa ovação no estádio.
De Nuno Santos. O corredor esquerdo foi todo dele. Tanto a atacar (quase sempre) como a defender. Anda a mostrar, de jogo para jogo, que tem valor para estar entre os pré-convocados para o Europeu de França. Exibição coroada com o quinto golo - um golaço, de trivela. Justificando aplauso.
De Gonçalo Inácio. Será talvez a última época dele no Sporting: vai deixar saudades. Outra exibição de grande nível. Controlou por completo a manobra defensiva da nossa equipa, acorrendo às dobras dos colegas sempre que necessário, vencendo todos os duelos individuais, destacando-se na precisão do passe na fase de construção. Num desses passes, deu início ao quarto golo. Cortes fundamentais aos 15' e aos 62'. Neutralizou Djaló no seu sector.
De ver o Sporting transformado numa poderosa máquina de fazer golos. Somos, de longe, a equipa mais concretizadora: média de 2,79 golos por jogo na temporada. Reforçamos a primeira posição com o melhor ataque do campeonato: 58 golos marcados nas 20 jornadas que disputámos. Marcámos em todas as rondas da prova. E continuamos invictos no nosso estádio: 11 jogos, 11 vitórias. Melhor ainda: há um ano que não perdemos em casa para a Liga - desde 12 de Fevereiro de 2023.
De termos mantido as nossas redes intactas. Terceiro jogo consecutivo sem sofrermos golos, após os encontros em Leiria (3-0) para a Taça de Portugal e contra o Casa Pia em Alvalade (8-0). Balanço destas três partidas em números: 16 marcados, nenhum sofrido. É obra.
Do árbitro. Boa actuação de António Nobre, que valorizou o espectáculo evitando ser a figura mais em foco no relvado. Aplicou o chamado critério largo, à inglesa, sem exibir nenhum cartão. Gostava que no futebol português houvesse mais árbitros como ele.
Da festa nas bancadas. Quase 40 mil pessoas presentes nas bancadas do nosso estádio: 39.851. Quarta maior afluência de público da temporada, apesar da forte chuva que foi caindo, quase todo o tempo, nesta partida iniciada às seis da tarde de ontem - enfim um horário decente, com reflexo óbvio na bilheteira. Exceptuando as escassas centenas de adeptos do Braga, todos saíram satisfeitos.
Não gostei
Do Braga. Equipa vulgar, sem criatividade, sem intensidade nem chama. Parece ter entrado em campo já derrotada. Criou uma única oportunidade de golo, que Adán impediu, aos 62', com magnífica defesa a remate de Álvaro Djaló. Nada mais.
De chegarmos ao intervalo só a vencer por 2-0. Sabia a pouco.
Do primeiro canto a nosso favor ter ocorrido apenas aos 54'. Podia e devia ter acontecido mais cedo.
De voltar a ver Moutinho em Alvalade. Justamente assobiado cada vez que tocou na bola. Não merece outro tratamento, por ter feito o que fez. Ao contrário de outros jogadores agora no Braga que vestiram as nossas cores, como José Fonte (que fez sete anos da formação leonina), Borja e Paulo Oliveira, profissionais dignos de respeito.
Momento de celebração em Alvalade: acabava de marcar-se um dos oito golos contra o Casa Pia
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Foi um jogo histórico. Basta olhar para o resultado: há meio século que não se registava um desfecho destes, em nossa casa para o campeonato. Temos de recuar a Fevereiro de 1974 para encontrar outro 8-0 como o de anteontem: nessa altura cilindrámos o Oriental, com cinco golos de Yazalde, já mítico craque argentino que no final dessa época se sagrou melhor artilheiro dos campeonatos europeus, tendo apontado 46 com a Verde e Branca nessa inesquecível competição em que a festa leonina se confundiu com a Festa da Liberdade. Recebeu justamente a Bota de Ouro pela proeza.
Desta vez não temos um argentino, mas um sueco. Craque também. De longe o astro maior desta Liga 2023/2024, que o Sporting comanda isolado há várias jornadas. Anteontem foi ele o melhor em campo, já sem surpresa. Surpreendente foi a amplitude do nosso triunfo face a um Casa Pia a que não demos a menor hipótese, do primeiro ao último momento da partida. A mais volumosa goleada desta Liga.
O vitorioso Viktor Gyökeres faz jus ao nome próprio: leva já 24 golos marcados nesta temporada - 15 só no campeonato. Mais dois do que a sua melhor marca anterior na carreira, ao serviço do Coventry, da segunda divisão inglesa. Agora marcou mais dois: novo bis de Leão ao peito. Primeiro aos 23', correspondendo da melhor maneira a um cruzamento milimétrico de Pedro Gonçalves; depois de penálti, aos 32', punindo falta cometida sobre ele próprio, numa das suas numerosas incursões na grande área casapiana.
Numa antítese clara do desafio anterior, frente ao Braga para a Taça da Liga, em que tivemos sete ou oito oportunidades de golo sem concretizar nenhuma, desta vez transformámos em golos quase todas quantas construímos. Tal como Viktor, também Coates (13' e 81') e Trincão (43' e 90'+4) bisaram, provocando saudáveis explosões de euforia nos mais de 32 mil espectadores presentes nas bancadas. Pedro Gonçalves (25') e Geny (64') completaram a contagem.
Selando o desfecho deste encontro de sentido único, autêntico hino ao futebol. Valorizado também pelo desempenho do jovem árbitro Helder Carvalho.
Uma cabazada, como se dizia antigamente. E pode continuar a dizer-se, sem problema algum. É expressão que faz todo o sentido perante o que se passou no tapete verde de Alvalade.
Com este triunfo, o Sporting mantém-se invicto no plano doméstico: dez desafios para a Liga 2023/2024 terminados da melhor maneira, todos com vitórias em casa. Continuamos no topo, com Benfica um ponto atrás e FC Porto já cinco ponto abaixo de nós. Reforçamos a liderança isolada também do nosso ataque, de longe o mais concretizador da prova: 53 golos já convertidos. Mais 11 do que o Braga, já num distante segundo posto.
Outro dado relevante: temos um índice médio de 2,71 golos por jogo após 31 partidas oficiais já realizadas nesta época para quatro competições. Muito acima - vale a pena notar - do que ficou registado em 2020/2021, quando fomos campeões: 1,96 golos por jogo no conjunto das provas então disputadas. Números que revelam muito bem a grande evolução registada de então para cá sob o comando de Rúben Amorim. Já hoje um dos melhores treinadores de sempre do Sporting.
Quem ainda não percebeu isto, nada percebe de futebol. Ou padece de miopia talvez irreversível. No primeiro caso, poderá registar progressos. No segundo, infelizmente, talvez já não.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Foi uma das jornadas mais tranquilas, até agora, para o guardião espanhol. Quase se limitou a uma defesa fácil aos 49'. Manteve as nossas redes intactas: ninguém o perturbou.
Eduardo Quaresma - De repente, o miúdo ficou adulto. E de que maneira. Outra exibição segura, cheio de confiança. Ao minuto 25 já tinha protagonizado quatro cortes e recuperações.
Coates - Tornou-se o segundo defesa mais goleador da história leonina. Ao bisar contra o Casa Pia soma já 35 golos no seu currículo português. Iniciou a cabazada com golpe de cabeça certeiro.
Gonçalo Inácio - Vai-se especializando no início da construção lançando Gyökeres com passes longos, explorando a desmarcação do sueco. Interveio assim no golo 2. Dobrou bem Coates.
Esgaio - Tinha Eduardo Quaresma a resguardar-lhe a retaguarda. Mas nem assim o nazareno foi muito afoito no ataque. Pecou por défice ofensivo. Não interveio em qualquer dos golos.
Morten - Protagonizou um dos melhores momentos da partida ao fazer sobrevoar a bola, com classe, sobre a defesa casapiana, oferecendo o golo a Pedro Gonçalves. Cada vez mais influente.
Pedro Gonçalves - Ainda com queixas físicas, só fez a primeira parte. Exibição de luxo: marcou, deu a marcar (no segundo) e fez pré-assistência (no quinto). Com ele o nosso jogo é mais fluido.
Nuno Santos - Assistiu Coates no primeiro, marcando livre. Aos 30', recuperou uma bola em lance que daria penálti, fazendo túnel a Lameiras. Cobrou o canto que gerou o golo 6. Incansável.
Edwards - Mais discreto do que noutras partidas, ofereceu golo a Morten (38') que só o guardião Baptista impediu. Uma incursão sua, aos 43', esteve na origem do 5-0. Resultado ao intervalo.
Trincão - Uma das suas melhores exibições no Sporting. Bisou, marcando o nosso melhor golo do mês à beira do apito final. Foi ele a recuperar a bola no segundo golo. Útil de várias formas.
Gyökeres - Um espectáculo. Bisou, ultrapassando Banza como artilheiro-mor da Liga. Aos 90'+1 ainda ofereceu um golo a Paulinho e logo a seguir esteve quase a marcar ele próprio outra vez.
Daniel Bragança - Fez toda a segunda parte, substituindo Pedro Gonçalves. Quando a equipa já geria o resultado. Explorou com eficácia o espaço entre linhas. Ajudou a construir o golo 7.
Geny - Substituiu Esgaio (57'). Ausente durante um mês, voltou em forma. Sete minutos após entrar já assinava um golão - estreia a marcar em casa. E assistiu o capitão no penúltimo golo.
Paulinho - Rendeu Edwards aos 57'. Muito apagado. Falhou emenda, com a baliza à frente, aos 59'. Dominou mal a bola que Gyökeres lhe ofereceu já no tempo extra. Devia ter feito mais.
Matheus Reis - Entrou aos 81', rendendo Gonçalo. Tempo para protagonizar um grande cruzamento, sentando o defesa adversário e assistindo Trincão a fechar a contagem.
Dário - Substituiu Morten aos 86'. Entrou sobretudo para se despedir do público leonino antes do empréstimo ao Chaves no resto da temporada. Mas vai com bilhete de regresso.
Da histórica goleada ao Casa Pia. Não vencíamos há meio século uma equipa para o campeonato nacional de futebol por 8-0. Tinha sido na excepcional época 1973/1974, quando conquistámos a dobradinha para assinalar o Ano Zero da liberdade em Portugal. Derrubámos então o Oriental (cinco golos de Yazalde, dois de Baltasar, um de Nelson, a 17 de Fevereiro de 1974). Ontem vencemos o Casa Pia pela mesma marca. Extraordinária marca, fantástico jogo, incrível superioridade leonina do primeiro ao último segundo da partida, que se prolongou até aos 90'+5. Com três jogadores a bisarem (Gyökeres, Coates, Trincão). Pedro Gonçalves e Geny também fizeram o gosto ao pé. Empolgando por completo os adeptos do Sporting, em maioria absoluta entre os 32.869 espectadores que tiveram o privilégio de ver esta partida ao vivo. Foi noite de festa em Alvalade.
De Gyökeres. Figura do jogo, sem sombra de dúvida. Excepcional jogador: não apenas (de longe) o melhor deste campeonato, mas também um dos melhores de sempre que já vestiram a Verde e Branca. Ontem passou a liderar isolado a lista dos artilheiros da Liga 2023/2024, ultrapassando Banza. Marcou o segundo, aos 23', solto de marcação defronte da baliza, e o quarto, aos 32', na conversão de um penálti que ele mesmo havia sofrido dois minutos antes. Mas não fez só isso: é ele quem saca o livre que gera o primeiro golo. Com pulmão gigante, aos 90'+1 ainda ofereceu de bandeja um golo que Paulinho desperdiçou e aos 90'+2 ainda tentou marcar mais um, inviabilizado por enorme defesa do guardião Ricardo Baptista.
De Trincão. O "patinho feio" anda a virar cisne. Quarto jogo seguido no campeonato a marcar (Estoril, Chaves, Vizela e agora este), correspondendo da melhor maneira à confiança que o treinador nunca deixou de depositar nele. Marcou o quinto, aos 43', e encerrou a conta já no tempo extra, aos 90'+4, assinando o mais belo golo da noite - talvez o melhor do Sporting no mês que chega agora ao fim. Tem garantida a titularidade.
De Coates. Nota elevadíssima para o nosso capitão. Foi ele a abrir o activo, cabeceando como mandam as regras na sequência de um livre muito bem convertido por Nuno Santos (14'). E marcou o sétimo, à ponta-de-lança (81'), correspondendo da melhor maneira a uma boa assistência de Geny. Há três anos que não bisava na Liga.
De Pedro Gonçalves. Só jogou a primeira parte - com 5-0 ao intervalo, Rúben Amorim decidiu poupá-lo, trocando-o por Daniel Bragança. Mas correspondeu às expectativas. Esteve envolvido em três golos: marcou o terceiro (25'), após Morten picar a bola sobre a defesa adversária, assistiu o internacional sueco no segundo e foi dele uma pré-assistência, para o quinto golo, num soberbo passe vertical para Edwards antes de a bola sobrar para Trincão. Segue com 11 golos e sete assistências na temporada. Merece aplauso.
Do regresso de Geny. Em boa hora voltou após a sua participação no Campeonato Africano das Nações, ao serviço da selecção de Moçambique, prematuramente afastada. Substituiu Esgaio aos 57' e deu finalmente vida ao corredor direito, fazendo a diferença. Marcou o sexto golos, aos 64', num soberbo remate em arco na sequência de um canto. E assistiu no sétimo. Missão cumprida: deu forte contributo para encostar o Casa Pia às cordas.
De ter visto cinco jogadores da nossa formação nesta partida. Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio e Esgaio foram titulares. Depois ainda entraram Daniel Bragança (fez toda a segunda parte) e Dário (rendeu Morten aos 86'). É outra aposta que vai sendo ganha: estamos no rumo certo.
Desta nossa quarta goleada em 2024. Sporting-Estoril: 5-1. Sporting-Tondela para a Taça de Portugal: 4-0. Vizela-Sporting: 2-5. E agora esta. Vinte e dois golos marcados, apenas três sofridos nestes quatro encontros. Vamos em marcha acelerada para a conquista do campeonato. E - espero - também para vencermos a Taça de Portugal com esta veia goleadora.
De ver o Sporting reforçar a posição como melhor ataque da Liga. Números extraordinários: 53 golos marcados em 19 rondas, enquanto o Benfica tem apenas 41 e o FC Porto está muito mais abaixo, só com 33. Há 39 anos que não tínhamos mais de 50 golos à 19.ª jornada, de longe a nossa melhor marca deste século. Serve para moralizar ainda mais a equipa. E também os adeptos.
De não termos sofrido nenhum. Outro aspecto muito positivo deste jogo que rondou a perfeição. Adán mal chegou a fazer uma defesa digna desse nome.
Da nossa liderança cada vez mais consolidade. Mantemos o comando da Liga 2023/2024, agora com 49 pontos. Pressionando todos os outros, que seguem há várias rondas atrás de nós. Está cada vez mais perto o objectivo final.
De Rúben Amorim. Após a derrota contra o Braga - por manifesto azar - para a Taça da Liga, o treinador incutiu aos jogadores mentalidade ganhadora, sem permitir dúvidas existenciais ou angústia competitiva de espécie alguma. Daí termos cumprido o décimo jogo desta época para a Liga em casa sempre a somar vitórias. Equipa campeã é mesmo assim. Por isso atingimos um marco que permanecia há 50 anos sem igualar, nesta que é apenas a terceira época do século XXI em que lideramos isolados o campeonato em Janeiro - as duas anteriores foram com Laszlo Bölöni em 2002 e com o próprio Rúben em 2021.
Não gostei
De não ver sequer St. Juste no banco. Parece que o holandês contraiu nova lesão. É tempo de a estrutura leonina reflectir sobre o futuro deste jogador, que vai passando ao lado de outra época desportiva.
Do cartão amarelo a Morten. Por falta fora de tempo, aos 38', quando já vencíamos por 4-0. Não havia necessidade.
Do corredor direito na primeira parte. Esgaio com muito menor dinâmica do que o titular da ala oposta, Nuno Santos. Melhorou com Geny em campo.
Das ausências de Diomande e Morita. Continuam ao serviço das respectivas selecções: são dois titulares a menos. Mas Eduardo Quaresma e Daniel Bragança vão dando boa conta do recado.
Coesão colectiva, alegria a jogar, moral em alta: terceira goleada em quatro jogos, desta vez em Vizela
Foto: José Coelho / Lusa
O Sporting começa a segunda volta do campeonato como terminou: em grande. Com a 23.ª vitória em 29 jogos já disputados desde o início da temporada. Mantendo o posto de comando no campeonato e aspirações intactas em todas as outras provas. Com um futebol de ataque como raras vezes nos recordamos. Impulsionado, em larga medida, por Gyökeres, que consolida o lugar - indiscutível - de melhor futebolista da Liga 2023/2024.
Futebol de ataque, sim. Comprovado com números, num registo impressionante: 76 golos marcados nestas 29 partidas, portanto com média de 2,62 por jogo. Muito acima do desempenho do Benfica (59 golos, com o mesmo número de desafios disputados) e do FC Porto (53 golos, idem).
Vendo a questão de modo mais abrangente: somos neste momento a quinta equipa com melhor índice goleador do futebol europeu. Só atrás do Leverkusen (3,15 golos por jogo), Fenerbahce (2,94), PSV (2,93) e Bayern de Munique (2,76). É obra.
Mérito de quem?
Do treinador, acima de todos. Rúben Amorim tem moldado este conjunto de jogadores à sua imagem e semelhança, transformando-o numa equipa coesa, inspirada, motivada. Imparável. Com um balneário que irradia optimismo, uma alegria de jogar que contagia as bancadas e capaz de pôr em sentido qualquer adversário, como bem se viu no clássico contra a turma portista em Alvalade.
Sábia combinação entre a dinâmica colectiva e o aproveitamento dos talentos individuais. Tudo isto ficou evidente no desafio de anteontem em Vizela, frente ao penúltimo classificado, que tanto trabalho nos tinha dado no embate da primeira volta (vencemos à tangente, por 3-2, com o golo vitorioso a surgir só nos instantes finais).
Dominámos do primeiro ao último som do apito. Com muita vontade de garantir os três pontos em pouco tempo. Mas, contra a corrente de jogo, sofremos um golo, nascido de livre a cobrar falta inexistente - decisão infeliz do árbitro André Narciso, péssimo sobretudo no capítulo disciplinar e nada auxiliado pelo vídeo-árbitro Rui Costa.
A perder desde o minuto 13, pressionámos ainda mais. Chegando a suceder o impensável: Gyökeres falhou um golo de baliza aberta, à queima-roupa, fazendo a bola subir para a barra, aos 18'. Mas adivinhava-se a todo o momento que o internacional sueco estava em dia sim: ia desatar o nó. E desatou mesmo. Empatando a partida aos 45'+7, quase no limite do tempo extra.
No segundo tempo acentuou-se a nossa pressão ofensiva. Com Trincão em alta rotação: deixou de ser o Trinquinho de jogos anteriores e despachou o segundo golo logo a abrir a segunda parte. Paulinho exibiu sempre confiança lá na frente, ja não só para arrastar defesas mas também para a meter no sítio certo. É dele o terceiro golo e ajudou a construir outros dois. Também Pedro Gonçalves se destacou, com duas assistências.
O quarto foi apontado por Coates, em estreia como artilheiro neste campeonato - para compensar um erro individual que minutos antes o levara a perder a bola, possibilitando o segundo e último do Vizela. É o único problema que subsiste: ainda sofremos demasiados golos. Dezanove, só na Liga.
O jogo não terminou sem novo momento alto de Gyökeres, fixando o resultado com o seu quarto bis da temporada. Um espectáculo: acaba de igualar a sua melhor época de sempre, em que marcou 22 pelo Coventry. Agora atingiu a mesma marca, em apenas 25 jogos.
Resta acrescentar: entrámos em campo sem três titular habituais. Diomande, Geny e Morita continuam ausentes, ao serviço das respectivas selecções. Mas quase não se deu por isso. É outra forma de comprovar como o Sporting está forte.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Quase não foi incomodado. Não podia fazer nada nos dois golos sofridos: no primeiro, Esgaio falha a intercepção; no segundo, Coates perde a bola. De resto, noite tranquila.
Eduardo Quaresma - Está cada vez mais confiante - e o treinador contribui, apostando nele. Toda a partida como central à direita neste seu centésimo jogo como profissional (21.º pelo Sporting).
Coates - Esteve muito mal ao perder duelo com Essende que nos custou o segundo golo (63'). Mas redimiu-se marcando, à ponta-de-lança, o nosso quarto (72') na sequência de um livre.
Gonçalo Inácio - Exibe crescente maturidade. Não só na dinâmica defensiva, desta vez fazendo também de lateral para compensar avanço de Nuno Santos, mas também no passe longo.
Esgaio - Apático, deixou Soro movimentar-se à vontade no sector defensivo à sua guarda no lance de que resultou o golo inicial do Vizela. Défice também no capítulo ofensivo.
Morten - Imprescindível no controlo do corredor central, colando linhas. Atento nas acções de corte e recuperação, seguidas de passes verticais. Injustamente amarelado aos 16'.
Pedro Gonçalves - Médio muito activo no apoio da linha da frente. Soube trabalhar para a equipa. Assistiu nos dois últimos golos - o primeiro num livre marcado de forma exemplar.
Nuno Santos - Actuou como extremo, tendo Gonçalo a vigiar-lhe a retaguarda. Desta vez os centros não lhe saíram com a precisão habitual. Deu nas vistas com uma trivela aos 38'.
Trincão - Segundo jogo a dar nas vistas, destacando-se como um dos melhores. Exibição coroada com o segundo golo, ao minuto 46. E assistiu no terceiro, com excelente cruzamento.
Paulinho - Uma das suas melhores actuações da época. Recupera a bola no lance do primeiro golo, marca o terceiro impondo-se no jogo aéreo (57'). E viu outro talvez mal anulado (45'+1).
Gyökeres - De novo o melhor em campo: começa a tornar-se monótono. Sai de Vizela com um bis (45'+7 e 86'). Ninguém se entrega tanto ao jogo como ele, ninguém exibe tanta pujança física.
Daniel Bragança - Substituiu Morten aos 60'. Deixou marca de qualidade no jogo, em posição mais adiantada do que o dinamarquês. Participação decisiva no quinto golo.
Edwards - Substituiu Paulinho (79'). Ainda a tempo de protagonizar acção ofensiva que foi travada em falta já dentro da área. Devia ter sido penálti, mas o árbitro não viu e o VAR fingiu não ver.
Dário - Rendeu Pedro Gonçalves aos 90'+1. Entrou essencialmente para queimar tempo. Chutou para ninguém aos 90'+2, perdendo a bola de forma infantil.
Portelo - O brasileiro recém-contratado ao Leixões estreou-se na Liga 1 aos 90'+1, rendendo Coates. Entrou só para a equipa queimar alguns segundos com esta troca.
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