Ramsdale voa sem sucesso, minuto 62: Pedro Gonçalves marcava ao Arsenal num disparo de 48 metros
Foto: Vince Mignott / EPA
Quente
A nossa brilhante prestação em Londres, contra o Arsenal. Seguimos em frente, rumo aos quartos-de-final da Liga Europa. Num emocionante desempate por penáltis, com 1-1 após o tempo regulamentar, seguido de meia hora alucinante que manteve o resultado dos 90 minutos. Na sequência, por sua vez, do empate 2-2 em Alvalade. E beneficando das novas regras da UEFA, em que os golos marcados fora de casa deixam de valer a dobrar. Houve estrelinha? Sim. Mas, acima de tudo, houve muito mérito.
Esta sensação de orgulho. Derrubámos o Arsenal, hoje a melhor equipa do melhor campeonato do mundo. Uma equipa com mais de mil milhões de euros no seu orçamento para o futebol, que lidera a Premier League e está cheia de estrelas: Oregaard, Trossard, Jorginho, Gabriel Jesus, Martinelli, Xhaka, Ben White, Zinchenko, Saka, Gabriel Magalhães e o ex-portista Fábio Vieira. Sem nunca tremermos perante os pergaminhos dos gunners.
Os penáltis. Quem diz que os nossos vacilam nos momentos culminantes? Caramba, jamais poderão repetir tal frase após a impecável ronda dos penáltis - a que alguns chamam "lotaria", mas que eu insisto em chamar competência - com todos os jogadores leoninos a converterem, cumprindo a ascensão à glória no estádio Emirates. Aqui ficam os nomes deles, pela ordem de marcação: St. Juste, Esgaio, Gonçalo Inácio, Arthur e Nuno Santos. Quando o nosso ala esquerdo a meteu lá dentro, houve uma explosão de alegria: milhões de nós, em todo o mundo, celebrámos nesse omento. 5-3 nos pontapés de penálti.
Adán.Gigante na baliza. Fez aquilo que para muitos seria tarefa impossível: várias defesas monstruosas, impedindo a vitória do Arsenal. Destaco as suas intervenções aos 30' (Gabriel Jesus), 79' (Fábio Vieira), 90'+7 (Trossard, num desvio para o poste) e 117' (Gabriel Magalhães). Mesmo no golo sofrido de recarga por Xhaka, aos 19', faz inicialmente uma defesa enorme. E é ele o autor de uma quase-assistência, num passe vertical a partir da baliza, no lance do nosso golo. Cereja em cima do bolo: defendeu um dos quatro penáltis finais, travando o remate de Martinelli. Um herói.
Pedro Gonçalves. Aconteceu com ele frente aos gunners o que tantas vezes lhe sucede: parecia alheado do jogo, algo escondido, pouco interventivo. Não lhe peçam para correr atrás da bola: ele funciona sobretudo com ela no pé. Aconteceu aos 62': pegou nela logo após a linha do meio-campo, ainda dentro do círculo central, e quase sem balanço, a 48 metros de distância, desferiu um remate mortal para as redes anfitriãs, num magnífico chapéu ao guarda-redes Ramsdale. Golaço de fazer abrir a boca, conforme as imagens documentam, e até valeu aplausos de alguns adeptos adversários. Um golo que disparou a quotação do nosso melhor artilheiro e o projecta como sério candidato a ingressar nas fileiras da Premier League a partir da próxima temporada. Desde já o mais belo golo do ano. Obra-prima do futebol.
Ugarte. Baluarte nas recuperações. Foram em série: aos 28', 52', 53'', 58', 81' (duas), 99'. Mesmo sem ter por perto o seu parceiro Morita, ausente por castigo. Há quem lhe chame o novo Palhinha, há até já quem o considere superior a Palhinha. Uma coisa é certa: com a mesma idade, Palhinha não fazia ainda o que ele hoje faz. Médio defensivo com superior qualidade técnica e insuperável entrega ao jogo.
Defesa. Enfim, solucionados os problemas no nosso reduto defensivo. Com dois jogadores destros que puseram fim ao domínio de canhotos: St. Juste e Diomande. Magníficos desempenhos no estádio londrino, ambos grandes obreiros deste empate transformado em vitória. O holandês, veloz nas movimentações e muito útil nos cortes e recuperações - além de ter sido o primeiro a converter a decisiva série de penáltis finais. O marfinense, muito seguro e com inacreditável maturidade do alto do seu 1,92m, fez de Coates sem tremer e salvou um golo aos 118' já com Adán batido. Caloroso aplauso para ambos.
Aposta na juventude. Nunca fomos tão longe com jogadores tão jovens. Eis a prova, olhando para os 16 que participaram nesta partida épica: Diomande (19 anos), Gonçalo Inácio (21), Ugarte (21), Chermiti (18), Dário (18) e Tanlongo (19). Além de outros que estão longe de ser veteranos, como Trincão (23 anos), Pedro Gonçalves (24), Edwards (24), Arthur (24) e St. Juste (26). Lugar aos novos neste Sporting 2022/2023.
Aposta na formação. É mito? De forma alguma. Voltou a comprovar-se neste enorme desafio de anteontem, quinta-feira. Terminámos com quatro elementos formados na Academia leonina: Gonçalo Inácio, Esgaio, Dário e Chermiti. Venham mais.
Árbitro. Boa actuação do juiz da partida, o espanhol Mateu Lahoz. Devia servir de exemplo aos apitadores portugueses: deixou jogar, não interrompeu o tempo todo, não tentou ser ele o protagonista, ignora as fitas de quem adora mergulhar para a relva simulando falta, percebe que o futebol é desporto de intenso contacto físico. Valorizou o espectáculo.
Adeptos. Excelente "moldura humana" nas bancadas do Arsenal: quase 60 mil pessoas. Com natural destaque para cerca de quatro mil adeptos do Sporting, que souberam puxar pela equipa o tempo todo, incluindo nos 43 minutos (entre os 19' e os 62') em que estivemos a perder.
Gratidão. Pedro Porro passou de manhã pelo hotel onde a nossa equipa esteve alojada, distribuindo abraços e palavras de incentivo. João Palhinha e Cédric Soares assistiram à partida nas bancadas. Não esquecem o clube que os projectou e valorizou. A gratidão é uma das maiores virtudes.
Rúben Amorim. O nosso treinador merece especial realce. Por estar a formar uma equipa em crescendo, que vem superando obstáculos após um período menos feliz. Por estar a indicar reforços que merecem mesmo receber este rótulo. Por ter introduzido alterações pontuais ao seu sistema táctico de raiz que foram muito bem-sucedidas nos 210' de futebol jogado contra o Arsenal. Por confiar no seu onze ao ponto de só ter feito agora a primeira substituição (troca de Paulinho por Chermiti) ao minuto 89, quando o técnico dos gunners já fizera as cinco alterações regulamentares. E pela sua inegável competência, que o põe no mapa europeu dos futuros técnicos da Premier League após quatro partidas sem derrotas contra clubes ingleses nesta temporada: uma vitória (Tottenham) e três empates (Tottenham e dois frente ao Arsenal). Merece este destaque. É o melhor técnico leonino em muitas décadas.
Morno
Esgaio. Esteve no pior, ao perder a bola e colocando em jogo Martinelli no lance do golo que sofremos, mas redimiu-se depois disso com um passe fabuloso para Edwards, aos 62', autêntica assistência para golo, infelizmente falhado. E sobretudo ao assumir protagonismo nos penáltis finais: converteu o segundo, de modo irrepreensível. E cerrou o punho, com determinação. Também obreiro desta passagem aos quartos da Liga Europa.
Trincão. Boa primeira parte: é dele a primeira oportunidade de golo do encontro, aos 13', num remate cruzado ao poste direito de Ramsdale. Sacou um amarelo a Xhaka (45'+2). Apagou-se durante o quarto de hora inicial da segunda parte, mas tem intervenção no golo. Balanço: pode e deve fazer melhor. Continua intermitente.
Edwards. Noite de desperdício para o avançado inglês, que regressou ao futebol da cidade onde nasceu e se formou para o desporto mais apaixonante do planeta. Estava escrito, porém, que esta não seria a sua noite de glória. Esteve quase a acontecer, mas Edwards, isolado por Esgaio aos 72', conseguiu acertar na cara do guarda-redes, como se a baliza tivesse subitamente encolhido. Convém referir, no entanto, que trabalhou e batalhou muito.
Dário. O mais jovem em campo. Ter-se-á deslumbrado quando entrou, aos 94', para substituir um exausto Pedro Gonçalves? É bem possível. Três minutos depois, foi protagonista pela negativa, entregando a bola em zona proibida - o que só por centímetros não proporcionou golo a Trossard. Único deslize seu digno de nota naquele electrizante prolongamento, mas esteve quase a ser-nos fatal.
Dinheiro da UEFA. A SAD leonina recebe 1,8 milhões de euros nesta passagem à fase seguinte da Liga Europa. Melhor que nada, obviamente. Mas a uma distância enorme dos valores que se praticam na Liga dos Campeões.
Frio
Sem Ugarte nos quartos-de-final. Não poderemos contar com o talentoso médio uruguaio no próximo confronto, já em Abril, frente à Juventus. Expulso por acumulação de amarelos mesmo no fim da partida, aos 118', num lance em que até arriscou o vermelho directo. Será uma baixa relevante: nada fácil de substituir.
Tochas. Voltaram a marcar presença, lamentavelmente. Momentos antes do apito inicial e logo após o nosso golo do empate. Por mais que se repitam os sérios avisos da UEFA, por mais que se renovem os apelos da Direcção leonina, por mais que vão pesando as multas, estes energúmenos continuam apostados em associar o Sporting à imagem de um clube desordeiro, incapaz de respeitar as normas. Nada a ver com os valores leoninos.
Letais. Passaram toda a semana a mandar farpas envenenadas ao treinador nas redes ditas sociais, nos seus blogues de estimação e até em algumas caixas de comentários do És a Nossa Fé. Zurzindo Rúben Amorim por causa de Fatawu, reforço do Sporting nesta temporada 2022/2023 que não chegou a ser utilizado no desafio da primeira mão frente ao Arsenal. Eles estão-se marimbando para o miúdo ganês. Só fazem questão em inventar motivos para cumprirem o seu lema: Letais ao Sporting.
O Sporting Clube de Portugal não vive apenas do futebol nem do desporto masculino. Os últimos dias proporcionaram vitórias importantes das nossas leoas que nos enchem de orgulho:
Atletismo - Auriol Diogno (ouro) e Patrícia Mamona (bronze) nos Europeus de pista coberta.
Râguebi Feminino - Campeã Nacional, 15-12 na final contra o Benfica.
Voleibol Feminino - Taça de Portugal, 3-2 contra a AJM FCPorto.
Não podia perder esta final da Taça de Portugal no pavilhão de Viana do Castelo até porque no ano passado estava na zona e desloquei-me lá para ver a equipa ser ingloriamente derrotada na meia final contra o V. Guimarães, a que se seguiram derrotas com o Leixões que nos puseram fora da final do campeonato.
Foi um jogo emocionante, com alterações constantes na liderança dos sets que tornavam o desfecho imprevisível. O Sporting ganhou na "negra" por 15-12 depois da sequência 1-0, 1-1, 1-2, 2-2.
Contra o adversário com mais orçamento de Portugal que conta com duas estrangeiras muito fortes tecnica e fisicamente, foi preciso muita raça e espírito de sacrifício para dar a volta a dificuldades que pareciam inultrapassáveis. Alguns reforços do ano habitualmente suplentes, Fernanda (México), Martinelli (Argentina ex-V.Guimarães) e Rafa (Brasil) excederam-se, ajudando as titulares Daniela Pereira (Espinho, 5ªEpoca), Vanessa Paquete (Espinho, 4º), Bárbara Gomes (Porto, 2ª), Figueiras (Porto, 1ª), Thais Bruzza (Brasil, 3ª), Aline Timm (Brasil, 3ª) e Jady Geroto (Brasil, 2º).
Esta grande vitória deve-se em primeiro lugar ao excelente trabalho do treinador Rui Pedro Costa que conseguiu construir uma equipa que é uma verdadeira família e que tem uma capacidade de luta incrível, brilhantemente liderada pela capitã Dani e com uma leoa indomável e incansável sempre em campo, que é a Bruzza. Isto numa modalidade cuja força está a norte, e onde é sempre complicado e caro recrutar as melhores jogadoras portuguesas daquela zona.
Esforço, dedicação, devoção e glória. Esta equipa é o exemplo disso.
Mas também da importância da estabilidade a todos os níveis. Da directiva protagonizada pelo Miguel Afonso, da técnica pelo Rui Pedro Costa, da do plantel e da sua capitã Daniela Loureiro, todos os projectos precisam de tempo para se desenvolverem e terem sucesso. A pressa e a exigência da treta são pragas a evitar a todo o custo.
PS: E em masculinos o Sporting perdeu 0-3 com o Benfica. Aqui tudo diferente, o treinador acabou de chegar, o capitão tem dois anos de casa e não tem a liderança em campo da Daniela, o plantel sem uma base portuguesa forte e uma equipa um pouco desligada na quadra que se afunda na dificuldade. Sem hipóteses contra o campeão das últimas épocas, bem estruturado, liderado e muito experiente, e vai ser muito difícil contra os açorianos na meia-final do Campeonato.
Proporcionou-se ontem, pela primeira vez, oportunidade para interagir com o nosso treinador de futsal masculino.
Tudo o que possa dizer, ficará aquém da genuinidade com que o vi interagir com miúdos e graúdos, velhos conhecidos e perfeita desconhecida. Apertei-lhe a mão (gosto de pessoas que sabem apertar mãos e não me tomam por ser feita de cristal), agradeci pela conquista de mais um troféu e ainda o surpreendi.
Esclareci que tudo o que se dissesse seria relatado num blogue, neste blogue, e... clic.
Posso tirar-lhe uma fotografia? (percebe que peço para tirar-lha e não tirar-nos)
A miiiiiiim!? (à laia de, então o que quer não é uma fotografia comigo?)
Sim, a si. Acha pouco? É o senhor Treinador, ganhou tudo o que há para ganhar. Quero uma fotografia sua. [minhas já tenho, muito obrigada]
Olha para os adeptos que aguardam pela sua vez, encolhe os ombros e... aqui está ele.
Nuno Dias, o treinador que ganhou tudo o que há para ganhar ao serviço do nosso clube. Um Senhor Treinador e, estou muito convencida, um excelente ser-humano.
Seja bem regressado e pézinhos à obra, se faz favor, Jovane Eduardo. Ah! E... é um golo e uma assistência já no próximo jogo*, se não for incómodo. Muito agradecida.
*Sempre ouvi dizer que é no pedir que vai o ganho. Não custa tentar.
Sporting revalida Taça Continental, derrotando o Lleida, anfitrião da prova, por 3-1. É o nosso décimo título europeu em hóquei em patins. E o 40.º título internacional do valioso palmarés leonino.
O futebol feminino do Sporting - agora orientado pela treinadora Mariana Cabral - acaba de conquistar a Supertaça. Derrotando o Benfica por 2-0, no estádio do Restelo. E coroando aquela que, em termos globais, terá sido a nossa melhor época de sempre.
Parabéns, Leoas. Pela conquista de mais um troféu. E por terem honrado o lema do Clube: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.
Foi um gosto vê-lo dentro do rinque, foi uma agradabilíssima surpresa fora do rinque.
Ficam os meus votos, sinceros, de que possa um dia voltar a fazer parte da realidade diária do Sporting e alguma pena, não só pela tomada de conhecimento da sua (previsível e esperada) saída mas também por me parecer que, por características muito específicas suas, há um Pedro Gil Gomez que não chegou a transparecer para o grande público.
ADENDA: Jornal Grátis (sporting.pt) Entrevista a Pedro Gil, páginas 20-21 Fotografia: da minha autoria, tirada em Portimão a 22 de Setembro de 2019.
Esforço, dedicação, devoção e glória: é o Sporting!
Mas para que isso aconteça é preciso lá chegar, aproveitar os piores momentos para corrigir o rumo e prosseguir o caminho que honra o lema do Sporting, encontrar a fórmula certa para constuir atletas e equipas vencedoras de acordo com o ADN do clube, a Fórmula Sporting.
A fórmula Sporting não nasceu ontem. Desde há muito deu provas da sua validade, no futebol e nas modalidades, e trouxe para o museu muitas taças e troféus.
Que fórmula é essa?
1. Um treinador líder e formador. Tudo começa neste elemento, que poderia chamar-se Moniz Pereira, Malcolm Allison, Nuno Dias, Luís Magalhães ou Rúben Amorim: focalizar e aglutinar um plantel que conte com o que de melhor exista no momento: a formação. Aquele treinador que quando chega começa pelo que existe dentro de casa e não pelo que pode vir de fora.
2. Um plantel baseado em gente jovem mas com muitos anos de clube e complementado com reforços que fazem a diferença. A regra básica é não contratar igual ou pior ao que existe dentro de casa. Para vir para o Sporting terá de ser diferente ou melhor, trazer coisas que não existem no momento, ser um reforço efectivo a curto ou médio prazo. E dar tempo ao tempo: galinhas apressadas produzem pintos carecas, muitos nomes chamaram ao Yazalde, ao Acosta ou ao Coates para terem depois de engolir o que disseram.
3. Uma estrutura sóbria e eficaz na retaguarda, que resolva problemas e não que os invente, o que inclui trabalhar muito e falar pouco. Quanto menos melhor. Cão que ladra não morde.
4. Tranquilidade e confiança para enfrentar as derrotas com os Lasks desta vida e dar a volta por cima. A começar pelos sócios e adeptos, que têm de ser em todos os momentos o jogador extra de qualquer equipa do Sporting.
Se olharmos para a situação das equipas mais importantes do Sporting, do futebol masculino e feminino, das cinco modalidades de pavilhão masculinas, aquelas que atraem milhares de espectadores, e esquecendo as particularidades de cada uma, a começar pelo nível de investimento sustentável, vemos situações bem distintas. Numas a fórmula está bem consolidada, noutras alguns erros de casting vão custar tempo e dinheiro a serem corrigidos.
Depois dum final de temporada onde deitaram tudo a perder, o futebol feminino vive um fim de ciclo. Treinadora, capitã e algumas das melhores jogadoras vão sair: algumas para paragens bem distantes, outras com calos no rabo pela passagem pelo banco e com contas para saldar. Tudo tem de começar por um treinador a sério, masculino ou feminino, e uma nova estrutura de capitães no feminino. Qualidade continua existir na formação, o resto vem depois.
No andebol estávamos numa óptima fase antes da pandemia. Saiu o grande treinador Anti, saiu o capitão e estrela da companhia Frankis Carol, saiu o puto maravilha Frade, e as coisas nunca mais foram as mesmas. Pedro Valdez promovido a capitão tem sido inexcedível, a base da formação está lá, mas Ruesga chega ao final de carreira, os reforços são medianos e o ex-adjunto de Anti, Rui Silva, faz o que pode.
Terminando com o exemplo do basquetebol, tivemos ontem uma magnífica vitória da equipa dum grande treinador tranquilo, Luís Magalhães, contra uma equipa muito forte comandada por um espanhol raivoso, com dois ou três americanos excelentes e que até contratou apenas para o play-off. E foi mais uma vez a estrela da companhia Travante Williams suportado por uma retaguarda de portugueses/angolanos que se transcenderam em campo a conquistar a vitória. Impressionante o discurso do americano no final.
Isto é o Sporting.
Fórmula Sporting. Como o 3-4-3 do Amorim, bem conhecida por todos, mas muito difícil de travar.
A noite de 11 de Maio de 2021 foi gloriosa, as estrelas foi cá em baixo que brilharam. Primeiro no relvado de Alvalade depois desfilando junto de nós comuns mortais.
Nessas inesquecíveis horas vi-me a caminho do Marquês e dos 50 miúdo. Uma criança só tocada pela felicidade.
Passada larga, ritmo acelerado, sôfrego, assim fui ao encontro dos meus heróis. Nenhum deles de capa e espada ou com super-poderes, apenas super-humanos. E por isso maiores e mais extraordinários que qualquer dos presentes no Olimpo da Marvel. A cada passo entre a multidão que os exultava como eu, o seu heroísmo e a sua heroicidade seguiam em crescendo.
De olhos marejados e postos naquele mar de riscas verdes e brancas fui reconfirmando a imensa grandeza do clube que tem o leão como emblema e que ali recuperava o seu lugar natural. Reconquistava o trono com sangue, suor e lágrimas. À minha volta vozes gritando “Campeão!”, “Campeões!” numa magnífica vozearia existencial. O singular Sporting. O plural nós os do Sporting.
A noite foi do Sporting Clube de Portugal porque foi do Sporting Clube de Portugal a época 2020/2021. Conquistada com o sangue, o suor e as lágrimas deles. Dos 28 magníficos. Os verdadeiros campeões nacionais de futebol. Aqueles que serão heróis leoninos para sempre.
A chegada apoteótica dos nossos realizadores de sonhos assisti na companhia de um grande amigo com quem há anos apoio da bancada do nosso estádio as nossas equipas. Como ele chorei lágrimas iguais às dos milhares comovidos como nós, a emoção confirmando o quanto somos semelhantes: Irmãos, pais, filhos, netos, avós, todos família, feitos da mesma massa, vindos das mesmas dores e frustrações, umas provocadas por sacanices várias que a todos revolta e une, outras causadas pela incompetência que a todos custa e todos pode desunir.
Resistentes devotos e leais dedicados, ali estávamos fruto dos mesmos sonhos. Premiados.
Obrigado.
Que festa maravilhosa fizemos. Que maravilha de festa tivemos. Para trás ficavam cinco horas passadas em inúmeras ligações a pé para trás para frente, para cima para baixo Imaviz/Saldanha/Campo Pequeno/Saldanha/Imaviz. Uma tareia de cansaço e frio aumentada pelo desgaste da espera.
Valeu a pena.
Como coisa própria da magia vendo-os ali tão perto tudo se dissipou. Parecia que ali chegáramos poucos minutos antes. Sim! O que são cinco horas na imensidão de 19 longos anos de uma travessia do deserto? E tivessem sido mais as horas de espera que a recepção teria sido a mesma.
Inebriados saltámos e pulámos avenidas abaixo, cachecol no ar, totalmente indiferentes à chuva, entregues ao papel que nos cabia na guarda de honra aos campeões. Envoltos em fumo verde, iluminados pelo incessante fogo de artifício, sobre nós desceu ainda o espírito eterno de Maria José Valério e marchando leoninos demos também graças por não termos nascido lampiões. Confirmámos ao mundo que o mundo sabe que por este amor somos doentes e que faremos o nosso melhor para o ver sempre na frente. Faremos o que pudermos pelo nosso Sporting.
Mas a coroa da minha glória foi ter conseguido agradecer aos campeões. Era esse o meu maior desejo. Gloriosos eram eles. O lugar no Olimpo leonino é deles. A mim restava-me rebentar de orgulho e de emoção enquanto que da minha boca pouco mais saía que a palavra Obrigado! Obrigado!
Em bom rigor a minha linguagem foi sobretudo a não verbal. No meio dos festejos, do ruidoso entusiasmo, tolhido por emoções à flor da pele e por baixo dela, abafadas as palavras, a mímica apresentou-se-me como a melhor voz para lhes dizer o que tinha para dizer. O punho cerrado atirei-o dezenas de vezes contra o meu peito, ao encontro do leão, do lindíssimo emblema, das letras SCP.
Sorte a minha! Os verdadeiros guerreiros retribuíram a comunhão e como eu cerraram o punho e atiraram-no sobre o peito ao encontro do leão, do lindíssimo emblema, das letras SCP. Eles lá em cima eu cá em baixo, juntos, gritando Sporting! Família. Todos da mesma família.
Estive a um palmo dos nossos heróis e tive muita sorte. Olhei para o nosso capitão Coates e ele olhou para mim. Acredito que houve cumplicidade entre os dois. Que ele percebeu o quanto lhe estou grato. Igual ao que dele vemos em campo, mesmo no meio do rebuliço, do gigantesco alvoroço, Coates mantinha-se Coates. Discreto, sem bazófia ou vaidade, ele era mais uma vez a figura de referência, o comandante. Também ali o patrão da defesa se apresentava compenetrado, sério, solene, totalmente alinhado com o marco histórico celebrado. Dentro e fora de campo capitão e imperial, porque a representação cabal de toda a equipa. A taça era ele que a segurava e a imagem disso dava-nos a garantia de que o troféu, o tão ansiado e desejado título será bem defendido. Mais facilmente continuará em Alvalade do que o contrário.
Não teremos de esperar novos 19 anos para sentir esta alegria imensa. Acredito nisto. Acredito num futuro radioso para o nosso Sporting. Garantido pela formidável liderança de Amorim e do presidente Varandas, acima dele. Assegurado pela grandeza deste emblema comprovada pelos milhares e milhares de miúdos, alguns crianças, que vi desfilar noite dentro cachecol verde e branco no ar cantando emocionados as músicas com que todos vibramos. Também eles certos que o Sporting é campeão. E se o é sempre será. Seja-o durante anos consecutivos. De dois em dois anos. De cinco em cinco anos. Ou de dezanove em dezanove anos.
O Sporting é campeão. O Sporting sempre será campeão.
Sei que tenho sido um mau sportinguista: sem poder ir ao estádio, a grande coisa que me restava fazer era escrever para aqui. Falhei. A meio da época comecei a ter vontade de dizer qualquer coisa, mas desenvolvi ao mesmo tempo a superstição (sportinguista sem superstições não é bom sportinguista) de que, se escrevesse, daria azar. Por isso, fiquei à espera de já não poder dar azar. O resumo da época é muito fácil de fazer (pelo que fui ouvindo por aí): o Braga pratica o melhor futebol, Benfica e Porto têm os melhores plantéis e treinadores. Como é evidente, o único resultado possível era o Sporting ser campeão.
"Tiras um Leão de campo e ainda ficam lá dez", foi a frase que ficou no ar da entrevista de Pedro Porro ao ADN de Leão. É uma frase forte e que significa muito mais do que uma metáfora para o que aconteceu contra o Braga.
Ao revisitar mentalmente a época do Sporting, apercebi-me de que não há um flop. Não há um jogador ao qual se possa apontar o dedo. Todos foram úteis. E o oposto também é verdade. Apesar da grande época de Coates, todos os jogadores foram importantes na devida altura. Desde as defesas do Adán aos golos de Pedro Gonçalves, passando pelo esteio que Palhinha mostrou ser, não há um jogador que se possa dizer que não tenha sido importante. Até João Pereira, que muitos disseram que se vinha reformar, mostrou ser muito útil nos últimos dois jogos.
O Sporting foi campeão por ser homogéneo. Sai um, entra outro, o Sporting continua a jogar o suficiente para vencer.
E foi assim que nos tornámos campeões. Sem focos nas individualidades, sem pára-raios de atenção, sem "messias" em lado nenhum. Apenas com abnegação e muito trabalho.
Olho para os jornais, espreito os perfis (redes sociais) dos jogadores, passo os olhos pelo blogue e pergunto-me o que terá sucedido. Sonhei toda a noite, buzinadelas, foguetes, fogo de artifício, televisões com imagens de quando ganhámos um campeonato pela última vez, mensagens de parabéns (foi no mês passado, ponham um lembrete no telemóvel ou esqueçam-se e pronto) e continuo sem perceber o que se passou. Ou o que passou-se.
Pelas minhas contas, empatamos hoje com o Boavista, vamos perder à Luz dia 15 e matamos o borrego aos otchencha e otcho do último jogo. Não é assim?
Haverá por aí uma boa alma que me recorde o protocolo? Não me lembro de como é que é. Isso. De sermos campeões. Não quero chegar aos otchencha e otcho do último jogo, sem estar no meu absoluto melhor, preparadíssima para receber o título. Completamente ao corrente do que e como fazer. Por exemplo, pode-se ou deve-se dizer:"Tazonde, Cavani?"
Vencemos o campeonato nacional de futebol a duas jornadas do fim, com a maior pontuação conseguida desde sempre à 32.ª jornada (82 pontos) e após 25 rondas consecutivas no comando da prova, em que nos mantemos invictos.
Há 19 anos que não festejávamos um título destes. Que nos vale, desde logo, cerca de 23 milhões de euros - pelo ingresso automático na Liga dos Campeões. E tendo ao leme da equipa o segundo treinador campeão mais jovem da história do nosso clube: Rúben Amorim, com 36 anos. Só antecedido por Juca, que conduziu o Sporting ao título na época 1961/1962.
Proezas atrás de proezas. Eis outra: há 68 anos que não conquistávamos a prova máxima do futebol português num ano ímpar. O anterior foi o da época 1952/1953, ainda com alguns dos Cinco Violinos no plantel.
A melhor notícia da noite foi a da glória no relvado, alcançada ao minuto 36 do jogo Sporting-Boavista, quando Paulinho marcou o golo da nossa vitória contra a equipa portuense. O golo que nos deu acesso imediato ao título.
A segunda melhor notícia veio da boca de Rúben Amorim. Ao garantir, na conferência de imprensa pós-jogo, que vai permanecer no Sporting na próxima temporada. Nem pensar em desviá-lo de Alvalade.
Sinto uma alegria imensa, por todos os motivos. E também por isto.
Pelo menos três jogadores que irão sagrar-se campeões nacionais na temporada 2020/2021 não eram sequer nascidos na última época desportiva em que o Sporting venceu o campeonato. Refiro-me a Nuno Mendes, Tiago Tomás e Dário.
Não é preciso mais para percebermos a dimensão desta conquista. Mérito absoluto de um trio composto por Frederico Varandas, Hugo Viana e Rúben Amorim.
É presente, sim, mas já com um toque de futuro. Porque pertence ao património histórico do Sporting. E ninguém vai conseguir apagá-lo.
Há que pensar nisto. Para que tudo quanto foi alcançado com tanto esforço não tenha sido em vão.
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