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És a nossa Fé!

A vitória foi difícil, mas foi nossa

Santa Clara, 0 - Sporting, 1

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Geny, autor do nosso solitário golo em São Miguel, voltou a ser herói do relvado

Foto: Eduardo Costa / Lusa

 

Não é fácil enfrentar o Santa Clara. Por um motivo evidente: é a equipa mais sarrafeira do campeonato português. Até foi alvo de estudo: faz, em média, 16 faltas por jogo. Deve ser efeito do "anticiclone dos Açores". 

Infelizmente é também uma equipa que tem contado demasiadas vezes com a condescendência e até benevolência dos árbitros. Na primeira volta, por exemplo, a turma micaelense viu dois penáltis perdoados pela equipa de arbitragem chefiada por Cláudio Pereira - em ambos os casos por responsabilidade principal do vídeo-árbitro Helder Carvalho, pessoa sem qualificação para o exercício desta função tão relevante.

O novo Conselho de Arbitragem, tão pouco clarividente como o anterior, cometeu a imprudência de nomear para este Santa Clara-Sporting o mesmo árbitro do Sporting-Santa Clara. Imprudência que merece reparo crítico.

 

Desta vez Cláudio Pereira terá deixado um penálti por marcar, mas em sentido inverso. Por aparente falta de Eduardo Quaresma, imprudente também ele: arriscou muito. Mecanismo involuntário das compensações por parte do juiz da partida, que chegou a ser remetido para a jarra em Dezembro, durante uma jornada, após a calamitosa prestação em Alvalade? Admito que sim.

Mesmo assim, continuamos em défice na comparação com o Santa Clara. E ainda houve um inacreditável cartão vermelho exibido a Harder já depois do apito final só porque o jovem dinamarquês, no natural festejo pela difícil vitória nos Açores, se atreveu a gritar «ié!» Ainda bem que este árbitro nem sequer era nascido quando existiam os Beatles: teria varrido os quatro de Liverpool com cartolina encarnada. Ié, ié, ié!

 

O jogo dividiu-se claramente em duas partes. Fraquinha a primeira, muito bem conseguida, bastante disputada e com incerteza até ao fim a segunda. De comum, apenas a agressividade do "Benfica açoriano", que parece ter colhido inspiração em "deuses (de barro) da bola" como Jaime Pacheco e Petit em obediência ao grito de guerra «canela até ao pescoço!» A bola pode passar, mas o homem fica estendido.

Andámos nisto naquele primeiro tempo.

O Sporting tinha potencial ajuda por jogar a favor do vento, que soprava forte. Mas não soubemos aproveitar a suposta vantagem, tantos foram os passes em profundidade despejados para lá da linha de fundo. Em teoria, deviam servir Gyökeres. Mas o sueco limitou-se a vê-las passar: levavam demasiada força, sofriam desvios de trajectória em função dos caprichos das rajadas e havia um "guarda-costas" chamado Luís Rocha sempre pronto a limitar o raio de acção do melhor avançado do futebol português.

O goleador máximo desta vez ficou em branco. Também tem direito. Mas ainda enviou um petardo à trave (66').

O nosso flanco esquerdo, confiado a um Maxi Araújo muito trapalhão, não funcionava. O direito, entregue a Fresneda, pecou por falta de largura. Felizmente o corredor central nunca claudicou: Debast e Morten formaram um duo quase perfeito, destacando-se o jovem internacional belga pela precisão do passe e pelo sucesso nos duelos individuais.

 

Sabia a muito pouco o empate a zero registado ao intervalo. E de nada nos servia para manter acesa a chama do título.

Aí interveio o treinador. Rui Borges desviou Geny de interior esquerdo para direito, onde passou a funcionar como segundo avançado. Fresneda descolou-se da linha para fazer movimentos interiores, alternando com Trincão. Posições trocadas para dificultar as marcações e cansar ainda mais os adversários.

Funcionou na perfeição precisamente na ala que foi mexida: recuperação do espanhol, entrega ao minhoto e desmarcação perfeita do internacional moçambicano que rematou muito bem colocado, num remate cruzado, indefensável. Aconteceu ao minuto 50: Geny voltava a ser herói no relvado.

Vencíamos. Para alegria dos milhares de adeptos leoninos, em maioria absoluta nas bancadas.

 

A vantagem foi ampliada na sequência de um livre apontado por Debast - melhor em campo. Diomande dominou no jogo aéreo e meteu-a lá dentro, de cabeça, aos 68'. Balde de água gelada: o golo acabou invalidado. Deslocação milimétrica: 13 centímetros.

Mas a robustez anímica da equipa manteve-se - como já se tinha percebido, desde o primeiro toque na bola: o anterior empate em casa, com o Braga, não deixou sequelas no plano psicológico. O regresso de Pedro Gonçalves, após cinco meses de paragem por lesão, foi tónico suplementar. Só entrou aos 87' mas foi ovacionado como se a partida estivesse a começar naquele momento. 

Aconteceu há quatro dias. Mas parecem ter decorrido só quatro horas: a vibração deste regresso perdura desde sábado.

 

Trouxemos os três pontos. Recuperámos a liderança, beneficiando do empate caseiro do Benfica, na noite seguinte, frente ao Arouca. O sonho do bicampeonato, que nos foge há sete décadas, está cada vez mais próximo de tornar-se realidade.

Os números contam. Não perdemos na Liga há 16 jogos. Registámos cinco triunfos nas últimas seis jornadas. Este, nos Açores, foi o quarto consecutivo fora de casa.

Estamos na luta, portanto. Nem poderia ser de outra forma.

 

Breve análise dos jogadores:

 

Rui Silva (6) - Primeira intervenção, a soco, aos 33'. Aos 42', tapou o caminho da baliza após cabeceamento de Rocha.

Eduardo Quaresma (5). Pecou por alguma imprudência. Viu amarelo aos 56', o seu primeiro na Liga. 

Diomande (7) - Dominou jogo aéreo. Seguro e confiante a defender. Marcou golo de cabeça aos 68', anulado por 13 cm.

Gonçalo Inácio (6) - Desperdiçou alguns passes longos. Mas foi seguro na defesa, sempre muito concentrado.

Fresneda (7) - Esteve no início do golo, com recuperação e pré-assistência. Aos 66', centro milimétrico para Viktor.

Morten (6) - Ajudou a fechar corredor central e recuperou algumas bolas. Mas longe da perfeição revelada noutros jogos.

Debast (7) - Perfeito no passe, nos duelos, nos livres. Serviu Fresneda aos 66' e Diomande aos 68'. Melhor em campo.

Maxi Araújo (4) - Perdeu muitas bolas, foi errático nos cruzamentos. Pareceu sempre jogar sobre brasas.

Trincão (7) - Na segunda parte conduziu a equipa à vitória. Passe para o golo - a sua 14.ª assistência da temporada.

Geny (7) - Voltou a garantir os 3 pontos, como sucedera em Dezembro na Luz. Podia ter bisado aos 60', servido por Trincão.

Gyökeres (5) - Muito policiado, ficou em branco. Desperdiçou única oportunidade, aos 66', atirando com força à trave.

St. Juste (6) - Substituiu Quaresma aos 66'. Destacou-se no controlo do jogo aéreo. Boa recuperação aos 86'.

Quenda (6) - Entrou aos 66', substituindo Fresneda. Bom trabalho, sobretudo no capítulo defensivo.

Harder (5) - Rendeu Geny aos 77'. Muito combativo, ajudou a conter contra-ataques açorianos. 

Matheus Reis (-) - Entrou aos 87', rendendo Trincão. Contribuiu para refrescar a equipa.

Pedro Gonçalves (-) - Enfim recuperado. Só entrou aos 87', substituindo Maxi. Mas ouviu calorosos aplausos. Sem surpresa.

Rescaldo do jogo de anteontem

 

Gostei

 

Dos três pontos que trouxemos dos Açores. Pontos preciosos, que nos devolveram à liderança do campeonato após brevíssimo interregno benfiquista. Triunfo sem discussão da melhor equipa em campo, a única que tudo fez para alcançar a vitória. 

 

De Debast. Para mim, o melhor em campo. Central adaptado a médio, vindo de um jogo pouco conseguido contra o Braga, agigantou-se em Ponta Delgada chegando a superar Morten, que fez parceria com ele no eixo do terreno. Pôs a turma açoriana em sentido aos 38' com um tiro disparado na conversão de livre directo. Recuperou várias bolas, ganhou quase todos os duelos, mostrou-se insuperável no passe à distância, esteve irrepreensível nas marcações de livres e cantos. Num destes lances, aos 68', o pontapé de livre funcionou como assistência para golo de Diomande - que viria a ser anulado por 130 milímetros. Num livre lateral, aos 85', esteve quase a marcar - só uma grande intervenção do guarda-redes Gabriel Batista evitou o golo.

 

De Geny. Uma vez mais, valeu-nos pontos. Tal como já tinha sucedido contra o Benfica por duas vezes. Marcou (de pé direito!) aos 50', num remate cruzado indefensável. Comprovou a sua utilidade como segundo avançado no aproveitamento de espaços interiores, na meia direita. É ali que o internacional moçambicano deve jogar. 

 

De Trincão. Exibição de luxo na segunda parte. Foi dele a assistência para o golo aproveitando bem o espaço de que dispôs junto à linha direita. Fez mais dois passes que podiam ter aumentado a vantagem: aos 58', de trivela, solicitou Fresneda no flanco oposto, isolando o espanhol que centrou para Gyökeres; aos 60', serviu Geny num lance infelizmente desperdiçado. Ainda no primeiro tempo, aos 43', tentara ele próprio o golo, num disparo que roçou o ferro. É deste Trincão que precisamos para a conquista do bicampeonato.

 

De Fresneda. Apagado no primeiro tempo, tal como toda a nossa equipa, mal adaptada ao vento forte que soprava a nosso favor, impedindo o domínio de bolas a meia altura. Soltou-se após o intervalo com uma notável recuperação aos 50' e pré-assistência para o golo. Ofereceu outro, em cruzamento milimétrico, que Gyökeres desperdiçou em disparo à trave (66'). Boa combinação com Trincão nas movimentações do lado direito. Cumpriu com distinção.

 

Do regresso de Pedro Gonçalves. Aconteceu só aos 87', quando o jogo já estava quase decidido. Mas valeu pela injecção de moral que trouxe à equipa e à massa adepta do Sporting. Após cinco meses e 29 jogos de paragem, temos o nosso "Pote" de volta.

 

Da celebração de Harder. O jovem dinamarquês, que saiu do banco aos 77', mostrou-se combativo, actuando com a energia que todos lhe conhecemos. No final, mesmo admoestado com um injusto cartão vermelho, foi ele o mais exuberante nos festejos da vitória ainda no relvado. As infelizes declarações de Rui Borges estão já esquecidas.

 

Do apoio dos adeptos. Quase dez mil espectadores no estádio de São Miguel. Na maioria, apoiantes do Sporting. Fizeram-se escutar do princípio ao fim, funcionando mesmo como "12.º jogador" da nossa equipa. Felizmente, desta vez, sem material pirotécnico - que nunca devia entrar nos recintos desportivos.

 

Da merecida homenagem a Aurélio Pereira. O onze leonino entrou no estádio envergando camisolas com o retrato e o nome do falecido mestre, descobridor de alguns dos maiores talentos de sempre no Sporting. Foi um momento comovente. E de inteira justiça à memória desse grande Leão que há dias nos deixou.

 

Do regresso à liderança. Este triunfo nos Açores foi vital para pressionar a equipa do Benfica, pressionando-a. Sem confiança, sem energia anímica, os jogadores encarnados deixaram-se empatar em casa pelo brioso Arouca. Perderam a vantagem de que dispunham, sendo de novo remetidos para o segundo lugar da classificação. Faltam cinco finais.

 

 

Não gostei

 

Da circulação lenta na meia hora inicial. Tínhamos o vento a favor, mas não aproveitámos essa suposta vantagem nem a soubemos explorar como devíamos. Neste período, jogadores como Gonçalo Inácio abusaram dos passes que se perdiam na linha de fundo. Mas fomos muito a tempo de rectificar. E melhorámos muito no segundo tempo, quando passámos a ter o vento contra nós.

 

De ver Gyökeres em branco. O melhor que o craque sueco conseguiu desta vez foi mandar um petardo à barra. Muito policiado por Sydney e Luís Rocha, centrais do Santa Clara, que o seguiam como sombras e não hesitavam em recorrer a faltas, acabando punidos com amarelos - o primeiro logo aos 25', o segundo aos 83'. Mas Viktor teve participação indirecta no nosso golo, arrastando marcações que abriram espaço a Geny. É útil mesmo quando não marca.

 

Do 0-0 ao intervalo. Sabia a pouco quando já tínhamos feito três disparos à baliza adversária - por Debast (38'), Trincão (43') e Geny (45'+2). Enquanto o Santa Clara só produziu uma situação de perigo, aos 42', após livre que Rui Silva anulou sem problema.

 

Do golo anulado. Belo cabeceamento de Diomande aos 68'. Após intervenção do VAR acabou invalidado por deslocação de 13 cm. Mais dez do que o golo anulado a Gyökeres, contra o Braga, na jornada anterior.

Estamos na luta

 

Retomamos a liderança, à condição. Agora com 69 pontos. Acabamos de derrotar o Santa Clara nos Açores. Golo decisivo de Geny (50'). Um segundo (belo cabeceamento de Diomande) anulado por 13 cm. Gyökeres, isolado, falhou outro rematando à trave - algo raro nele.

E o melhor de tudo: Pedro Gonçalves voltou a calçar, cinco meses e 29 jogos depois.

Estamos na luta. Faltam cinco finais.

Pódio: Geny, Gyökeres, Debast

Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Rio Ave (2-0), da meia-final da Taça de Portugal, por quatro diários desportivos:

 

Geny: 27

Gyökeres: 26

Debast: 23

Morten: 22

Eduardo Quaresma: 22

Trincão: 21

St. Juste: 21

Diomande: 21

Rui Silva: 21

Harder: 20

Fresneda: 20

Maxi Araújo: 20

Quenda: 19

Matheus Reis: 19

Felicíssimo: 18

Biel: 1 

 

ZeroZero e O Jogo elegeram Geny como melhor em campo. O Record e A Bola destacaram Gyökeres.

A voz do leitor

«Não gostei da atitude do Catamo. Atira-se sistematicamente para o chão e os árbitros já perceberam e isso não colhe no Sporting. Só funciona nos nossos rivais por ignorância, complacência ou cumplicidade dos apitadeiros. O Geny tem de perceber que não pode viver eternamente à sombra dos dois golos que marcou contra o Carnide.»

 

Luís Lopes, neste meu texto

2024 em balanço (4)

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CONFIRMAÇÃO DO ANO: GENY

Há apenas cinco dias, na estreia de Rui Borges ao comando da equipa principal do Sporting, ele brilhou no clássico de Alvalade. Marcou o golo que nos valeu os três pontos e foi eleito melhor em campo pela generalidade da imprensa. Actuou como ala-direito, atacando como extremo clássico - à semelhança do que faz na selecção de Moçambique, onde já regista 23 presenças - e seis golos apontados.

Estamos perante uma confirmação: Geny Cipriano Catamo, nascido há 23 anos na Beira, segunda maior cidade moçambicana, tornou-se imprescindível neste Sporting 2024/2025 - na linha do que aconteceu em grande parte da época anterior. É veloz, arrisca o confronto directo, tem bom sentido posicional, coloca as defesas adversárias em sentido com os seus dribles estonteantes. Tem um movimento característico de pegar na bola junto à linha e evoluir com ela para o centro do terreno que já nos valeu vários golos. Ou marca ou assiste.

Gera sempre perigo para as redes rivais. O Benfica que o diga: já por três vezes encaixou golos deste bravo canhoto com vocação para se agigantar nos chamados "jogos grandes". 

Chegou a Alvalade aos 18 anos, oriundo do Amora. A 29 de Dezembro de 2021 estreou-se de leão ao peito num desafio da Liga principal. Era contra o Portimonense. Causou logo boa impressão, como dei nota aqui: «Entrou aos 59' para o lugar de Esgaio, quando a equipa ainda estava a perder, e deu nas vistas com os desequilíbrios que foi criando no flanco direito, apesar de ser esquerdino. Momento alto: o livre directo que conseguiu aos 72'. Descomplexado, mostra confiança na condução da bola.» 

Poderia repetir hoje isto. Mesmo com forte concorrência no plantel, Geny nunca deixou de contar para os treinadores - antes com Amorim, agora com Rui Borges e até no interregno sob o fugaz comando de João Pereira. 

Andou a rodar noutros emblemas - V. Guimarães e Marítimo - antes de regressar a Alvalade, no Verão de 2023. Foi titular na partida inaugural da Liga 2023/2024, contra o Vizela, estreou-se a marcar na equipa principal em Outubro contra o Boavista, no Bessa. E vem seguindo rota ascendente só para surpresa daqueles que andavam muito distraidos.

Assinou contrato até 2028 com o Sporting, estando ligado ao clube com uma cláusula fixada em 60 milhões de euros. Fez bem a administração da SAD em acautelar o futuro: Geny tem nome de craque, tem pinta de craque e é mesmo craque. Comprovadamente.

 

Confirmação do ano em 2012: André Martins

Confirmação do ano em 2013: Adrien Silva

Confirmação do ano em 2014: João Mário

Confirmação do ano em 2015: Paulo Oliveira

Confirmação do ano em 2016: Gelson Martins

Confirmação do ano em 2017: Daniel Podence

Confirmação do ano em 2018: Bruno Fernandes

Confirmação do ano em 2019: Luís Maximiano

Confirmação do ano em 2020: João Palhinha

Confirmação do ano em 2021: Matheus Nunes

Confirmação do ano em 2022: Marcus Edwards

Confirmação do ano em 2023: Daniel Bragança

Sem complexos, sem receio: Leão é assim

Sporting, 1 - Benfica, 0

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Geny fez a diferença ao marcar o golo. Garantiu três pontos e o regresso do SCP ao comando

Foto: Lusa

 

Foi uma das melhores primeiras partes do Sporting nesta época que vai quase a meio. Foi também a primeira com o novo treinador no banco: Rui Borges.

Alguém acredita em coincidências?

Pois eu também não. A nossa equipa, que vinha definhando e protagonizando pálidas exibições nas semanas precedentes, ressurgiu no momento certo, contra o adversário mais difícil. Dando a resposta mais adequada.

O Benfica, fruto da nossa pressão constante, fez a pior primeira metade da temporada a nível nacional. E sofreu a primeira derrota em 2024/2025 sob o comando de Bruno Lage para o campeonato.

Foi a Alvalade e naufragou. Chegou lá pouco depois de ter assumido o comando da prova, saiu de lá em terceiro.

"É a vida" - dirão alguns, crentes nos insondáveis caprichos do destino. É a competência - digo eu.

 

Este Sporting que entrou em campo no domingo à noite, 29 de Dezembro, era-nos familiar. Mas, ao mesmo tempo, pareceu irreconhecível. Por vários motivos.

Desde logo por se ter apresentado em campo com uma linha defensiva formada por quatro jogadores: Diomande e St. Juste ao meio, Quaresma à direita, Matheus à esquerda. Depois, por ter dois alas que funcionaram como extremos: Geny à direita, Quenda à esquerda. Finalmente, terá sido o onze leonino com menos canhotos dos últimos quatro anos. Contei quatro: Matheus, Geny, Quenda e Trincão. 

Dir-se-á: foi mudança subtil. Mas demonstra como Rui Borges, com apenas três dias de treino, não hesitou em imprimir a sua marca neste Sporting que continua a sonhar com o bicampeonato. Os quatro jogos sob a batuta de João Pereira, com oito pontos perdidos, foram fugaz percalço neste percurso.

 

Nunca tinha visto um SLB tão frágil este ano, a nível interno.

Durante toda a primeira parte, a turma visitante esteve sufocada pela intensa pressão dos nossos jogadores. Pelos flancos e pelo corredor central, onde Morita várias vezes actuou como quinto elemento na manobra ofensiva, forçando o erro dos encarnados, que mal saíam dos primeiros 30 metros.

Num destes lances colectivos nasceu o golo do triunfo que nos valeu três pontos e o regresso à liderança do campeonato.  Lançamento lateral, à esquerda: Quenda dirige a bola para Gyökeres, que conquista o espaço a Tomás Araújo, deixa o central encarnado para trás e leva a bola a percorrer em largura quase todo o reduto benfiquista com Geny, vindo de trás, a  metê-la lá dentro. Perante um Carreras atónito com tanta eficiência leonina.

 

Este foi o momento do jogo. Também o momento que definiu o herói da partida: Geny, que já no campeonato anterior havia bisado frente ao Benfica, aliás com um golo muito semelhante a este, mas com Pedro Gonçalves no papel de Gyökeres.

Assim culminou o virar de página: Rui Borges mostrou ser possível fazer muito com o que há. Sem culpar lesões, postes ou arbitragens. 

Nesse primeiro tempo o Sporting esteve sempre por cima. E aproximou-se pelo menos duas vezes do 2-0. Por Quenda, aos 17'. E por Gyökeres, aos 40'. Nenhum deles falhou. Quem brilhou foi Trubin, com duas espectaculares defesas entre os postes. O guardião ucraniano foi, de longe, o melhor elemento benfiquista.

Os números confirmam: nos 45 minutos iniciais roubámos cinco vezes a bola ao adversário nos primeiros 30 metros a contar da baliza encarnada. Nada de semelhante se passou na situação inversa. Nem andou lá perto.

 

Na segunda parte houve mais equilíbrio. O Sporting atenuou a pressão: não havia condições para manter aquele ritmo tão intenso. A quebra física de Morita por volta da hora de jogo, primeiro, e do excelente Eduardo Quaresma, cerca de dez minutos depois, ditaram novo rumo à partida. Mas a nossa equipa jamais se desorganizou nem recuou linhas sem manter o controlo das operações. Consentindo o domínio ao rival sem nunca se desconcentrar.

É verdade que neste período o Benfica teve uma grande oportunidade de golo, por Amdouni. Mas só essa. No quarto de hora final, já com eles cansados, tivemos duas. Num ataque fulminante de Geny, aos 85', e num tiro de Gyökeres, aos 88'.

Mais importante ainda: com o novo sistema posto em prática no Sporting, Rui Borges surpreendeu Bruno Lage e vulgarizou os desequilibradores da equipa rival. Os números comprovam: Di María perdeu 22 vezes a bola, Akturkoglu ficou sem ela 16 vezes.

 

Em suma: acabamos de derrotar o Benfica pela terceira vez consecutiva, em duas provas, o que não sucedia desde 1994-1996. Recuperámos a liderança da Liga que só nos fugiu durante cinco dias, naquele interregno que não passou de um equívoco. 

Mantemos os mesmos 40 pontos que tínhamos na Liga 2023/2024. Mas agora com mais golos marcados (44, contra 37 há um ano) e menos golos sofridos (apenas 10, contra 17 na mesma fase do campeonato anterior).

Melhor que tudo: os jogadores adaptaram-se muito bem ao novo sistema táctico que Rui Borges trouxe para Alvalade. Sem complexos, sem receio, sem pedir licença a ninguém.

Leão é mesmo assim.

 

Breve análise dos jogadores:

Israel (7) - Cumpriu: duas grandes defesas, aos 26' e aos 56'. Teve muito menos trabalho do que Trubin.

Eduardo Quaresma (7) - Adaptou-se bem a lateral: sete desarmes, 91% de passes certos. Notável a sair, conduzindo a bola. Saiu exausto, aos 71'.

Diomande (8) - Comandante-em-chefe da defesa leonina: desempenho impecável. Aos 67, num movimento veloz, anulou incursão de Di María: comemorou como um golo.

St. Juste (7) - Formou súbita parceria com o jovem marfinense. Combinaram muito bem no centro da defesa. Veloz nas dobras, como se impunha.

Matheus Reis (7) - Tinha como missão anular a dinâmica ofensiva de Di María no corredor direito encarnado. Missão bem-sucedida, forçando o argentino a procurar outras paragens.

Geny (8) - Voltou a fazer a diferença, como na época anterior contra o SLB e já nesta Liga contra o FCP. Marcou o golo decisivo (29'). Encostou Carreras às cordas. Rende mais neste sistema.

Morten (8) - Um gigante: parece sentir prazer especial em jogos grandes. Impôs-se a Florentino, venceu o duelo no meio-campo, distribuiu em várias direcções. Nove recuperações são dele.

Morita (7) - Regressou ao onze, após lesão, como joker de Rui Borges. Excelente primeira parte, a ligar sectores com notável precisão de passe. Compreensível quebra física no segundo tempo.

Quenda (7) - Na posição em que menos rende, à esquerda, foi essencial na pré-assistência (lançamento lateral) para o golo. Anulou Bah. O mais jovem leão de sempre a jogar contra SLB.

Trincão (6) - Em dia de aniversário, actuou próximo de Gyökeres como interior direito, ajudando a baralhar marcações. Não marcou nem deu a marcar, mas pôs Otamendi em sentido.

Gyökeres (7) - Combativo, voltou a atacar a profundidade, como tanto gosta. Num desses lances, fez o excelente passe para o golo. Mais um. Venceu por completo o duelo com Tomás Araújo.

Maxi Araújo (5) - Entrou aos 71' para render Quenda. Sem mostrar mais atributos técnicos e tácticos do que o benjamim da equipa. 

João Simões (5) - Substituiu Morita aos 71'. Cumpriu no essencial, sem rasgo, numa altura em que se impunha sobretudo contenção ofensiva e retenção de bola.

Fresneda (4) - Saltou do banco para render Quaresma (71'). Lateral de origem, não potenciou este atributo. Ganhou um duelo mas perdeu três. Não parece ter qualidade para este plantel.

Harder (4) - Substituiu Trincão aos 81'. Não foi feliz nestes escassos minutos em que pôde disputar o clássico. Falhou um cruzamento aos 86'.

Rescaldo do jogo de anteontem

 

 

Gostei

 

Da estreia de Rui Borges ao leme da equipa. Entrada à campeão, vencendo o Benfica em nossa casa (1-0). Depois de apenas três sessões de treino com a equipa, que correspondeu da melhor maneira ao desafio de trabalhar com o terceiro técnico da temporada. Após Ruben Amorim (onze jogos, onze vitórias) e João Pereira (quatro jogos, uma vitória, um empate e duas derrotas). 

 

Da adaptação táctica. Durante cinco anos vimos a equipa organizada a partir de uma linha de três centrais. Mas o novo treinador não hesitou em impor as suas ideias, claramente bem acolhidas. Com Diomande e St. Juste no centro, Eduardo Quaresma e Matheus Reis como defesas laterais. Lá na frente, os médios-ala projectados em extremos - Quenda pela esquerda, Geny pela direita. Com sucesso. Confirmando que Rui Borges é um profissional com personalidade e tem plena confiança no seu critério.

 

De Geny. Tornou-se o nosso talismã nos chamados "jogos grandes". Bisou na recepção aos encarnados no campeonato anterior e marcou ao FC Porto já na Liga 2024/2025. Anteontem à noite foi ele a desfazer as dúvidas ao marcar um golaço quando decorria o minuto 29'. Culminando excelente jogada colectiva do Sporting iniciada com um lançamento lateral de Quenda e prosseguida por Gyökeres, que sentou Tomás Araújo, competente defesa benfiquista mas que neste clássico esteve irreconhecível. O craque moçambicano foi o melhor em campo, ganhando sucessivos duelos com Carreras, o lateral adversário que tentou travá-lo, quase sempre sem sucesso. 

 

De Gyökeres. Não marcou, mas continua a trabalhar imenso para a equipa. E voltou a contribuir para um golo, com o passe para o centro da área a solicitar a bem-sucedida desmarcação de Geny. Ainda tentou o golo por duas vezes, aos 40' e aos 88': só não aconteceu devido a grandes defesas de Trubin, o melhor da turma visitante.

 

De Morten. Impõe-se cada vez mais como esteio no meio-campo leonino. Grande recuperador e distribuidor de jogo, exibe resistência sem limites. Vulgarizou completamente Florentino, que foi acumulando disparates, ofuscado pelo nosso capitão no confronto a meio-campo.

 

De Diomande. Mostrou-se à altura de Coates, como seu sucessor enquanto patrão da defesa, sem acusar a súbita mudança operada no sistema táctico. Fez eficaz parceria com St. Juste e soube manter sob vigilância o mais imprevisível dos benfiquistas, Di María. Só uma vez foi ultrapassado, mas acelerou ainda a tempo de anular o lance ofensivo, aos 67'. Um corte que mereceu aplauso das bancadas como se tivesse sido golo. 

 

De Eduardo Quaresma. Trabalhador incansável. É um dos símbolos deste Sporting que sonha com o bicampeonato e vai fazer tudo para que esta meta se torne realidade. Pelo menos três cortes preciosos, no momento exacto - aos 43', 52' e 54'. E atreveu-se um par de vezes a progredir com a bola, queimando linhas, semeando o pânico no meio-campo defensivo dos encarnados.

 

Do regresso de Morita. O internacional nipónico voltou após lesão. E comprovou-se em toda a primeira parte - totalmente dominada pelo Sporting - a falta que fazia. A abrir espaços, a ligar linhas, a colocar a bola com precisão cirúrgica. Quando começou a claudicar, por cansaço físico, a equipa ressentiu-se.

 

Da lotação esgotada. Mais de 48 mil espectadores em Alvalade na noite de domingo. Casa cheia para ver um bom espectáculo. A maior afluência de público da temporada ao nosso estádio.

 

Do árbitro. Boa actuação de Fábio Veríssimo. Deixou jogar, aplicando critério largo sem apitar por tudo e por nada. E manteve critério uniforme, o que merece registo.

 

Da homenagem a Nani antes do jogo. Formado em Alvalade, grande figura do futebol internacional, o campeão europeu não esquece as raízes. Foi brindado com merecida e sentida ovação. Aos 38 anos, certamente ainda gostaria de calçar num clássico como este.

 

Da subida do Sporting na classificação. Entrámos para este jogo em terceiro lugar, com o FC Porto no comando à condição, saímos em primeiro. De novo no topo, retomando a liderança que tínhamos até há escassos dias.

 

 

 

Não gostei

 

Da saída de Quaresma, com lesão muscular. Teve de abandonar o relvado amparado, aos 71', após ter dado tudo em campo. Felizmente parece ser lesão sem gravidade.

 

De Fresneda. Entrou aos 71', substituindo Quaresma. Fez um corte providencial aos 83'. Mas perdeu-se em acções inconsequentes, atirando duas vezes a bola para fora, oferecendo-a uma vez a Carreras (81') e claudicando no início da construção. Tarda em impor-se no plantel leonino.

 

Da frase batida "dérbi eterno". Os comentadores e relatores usam e abusam deste chavão, que se tornou insuportável lugar-comum. O Sporting é de Portugal inteiro, não é clube de Lisboa. Dérbi é um Benfica-Casa Pia ou um Benfica-Oriental. E nada em futebol é eterno.

Pódio: Geny, Eduardo Quaresma, Gyökeres

Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Benfica por quatro diários desportivos:

 

Geny: 27

Eduardo Quaresma: 27

Gyökeres: 27

Morten: 26

Diomande: 23

Israel: 23

St. Juste: 23

Morita: 22

Quenda: 21

Trincão: 21

Matheus Reis: 20

Maxi Araújo: 18

João Simões: 16

Fresneda: 12

Harder: 11

 

Três jornais elegeram Geny como melhor em campo. O Jogo escolheu Morten.

Feliz Ano Novo

Desfeitas as dúvidas: precisávamos mesmo de um treinador.

Na estreia de Rui Borges à frente da nossa equipa, acabamos de vencer o Benfica em Alvalade. Golo de Geny, aos 29'. Confirma-se: o craque moçambicano tem especial apetência por marcar aos encarnados.

Começámos este jogo em terceiro, com o FC Porto no comando provisório da Liga, e terminamos novamente em primeiro.

Não podia haver melhor notícia para a massa adepta leonina.

Derrotamos os encarnados pela segunda época consecutiva em nossa casa. Entramos em 2025 no topo. E com vantagem competitiva sobre os nossos dois rivais, ambos batidos em Alvalade. Pormenor a considerar, num cenário de igualdade pontual.

Feliz Ano Novo.

Pódio: Geny, Morten, Debast, Diomande

Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Gil Vicente-Sporting por quatro diários desportivos:

 

Geny: 21

Morten: 20

Debast: 20

Diomande: 20

Gyökeres: 20

Matheus Reis: 19

João Simões: 19

Israel: 19

Trincão: 19

Quenda: 18

Harder: 18

Eduardo Quaresma: 16

Maxi Araújo: 15

Mauro Couto: 1

 

RecordO Jogo elegeram Geny como melhor leão em campo. A Bola optou por Morten. O ZeroZero escolheu Trincão.

Pódio: Geny, Gyökeres, Israel

Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Brugge-Sporting, para a Liga dos Campeões, por quatro diários desportivos:

 

Geny: 22

Gyökeres: 22

Israel: 20

João Simões: 20

Morten: 20

Maxi Araújo: 20

Diomande: 19

Trincão: 18

Quenda: 17

Eduardo Quaresma: 14

St. Juste: 14

Matheus Reis: 12

Esgaio: 11

Harder: 5

 

ZeroZero e o Record elegeram Gyökeres como melhor leão em campo. O JogoA Bola destacaram Geny.

Derrota inédita em casa contra açorianos

Sporting, 0 - Santa Clara, 1

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João Pereira, sem transmitir sinais de confiança, assistiu ao primeiro desaire do Sporting na Liga

Foto: Miguel A. Lopes / Lusa

 

Era o jogo de estreia de João Pereira como treinador da equipa principal do Sporting, sucedendo a Ruben Amorim após a épica reviravolta em Braga que nos manteve invictos no comando do campeonato.

Ninguém dirá que o novo técnico leonino recebeu pesada herança. Pelo contrário, encontrou o Sporting numa das mais invejáveis situações de sempre. Onze vitórias seguidas - igualando o melhor início de época, marca só antes alcançada em 1999. Liderança isolada do campeonato, com seis pontos de avanço para o segundo. Imbatíveis nas competições internas. Segundo lugar na Liga dos Campeões, sem derrotas, cumprida a terceira jornada. Já qualificados para a meia-final da Taça da Liga. 

E - muito importante - com o mais valioso plantel da Liga portuguesa. Que é também o mais valioso plantel de que há registo na história do futebol português: 443,5 milhões de euros.

Quem poderia ambicionar mais?

 

Parece que tudo isto perturbou João Pereira em vez de o empolgar e encorajar. O técnico, que não pode dar instruções a partir do banco durante a partida, passou grande parte do desafio com atitude apática, parecendo mais concentrado num monitor do que no jogo desenrolado à sua frente. Nenhum dos seus adjuntos o substituiu na função de corrigir posições, ordenar maior velocidade, utilizar os corredores externos com eficácia e não abusar de toquezinhos inócuos no nosso meio-campo defensivo.

Mais de 41 mil pessoas presentes no Estádio José Alvalade arrepiaram-se ao ver como Vladan, logo aos 7', ia comprometendo a equipa com uma fífia monumental. Entregando a bola de bandeja a Vinicius num passe errado, dentro da área. O homem do Santa Clara - melhor em campo neste jogo, disputado há quatro dias - ficou tão surpreendido com a oferta que nem a aproveitou como podia.

Podia supor-se que era um erro ocasional. Mas não. Vários outros se sucederam. Quenda teve o corredor direito a seu cargo sem conseguir vencer um duelo. Daniel Bragança, assumido médio ofensivo, procurava compensar a inoperância de Edwards como interior esquerdo, acabando por se atrapalharem mutuamente. Geny, colocado na ala esquerda, voltou a demonstrar que funciona muito melhor no lado oposto. À direita Trincão apoderava-se da bola sem a largar, parecendo querer resolver tudo sozinho, sem noção de jogo colectivo.

Para cúmulo, Gyökeres foi incapaz de libertar-se da marcação de Luís Rocha. Sem espaço para se movimentar, procurava vir atrás. Mas aquele 5-4-1 montado pelo treinador do Santa Clara parecia um colete-de-forças para o craque sueco, subitamente neutralizado.

 

Os minutos iam passando, os nervos aumentavam. Também nas bancadas. Fruto da impensável goleada sofrida quatro dias antes, no mesmo local, perante o Arsenal (1-5). Números que já não se usam, fazendo lembrar péssimos tempos antigos. Marcaram da pior maneira a estreia internacional de João Pereira nesta súbita promoção da Liga 3 à Liga 1.

De repente, a equipa pareceu sofrer de paragem cerebral. Uma perda de bola junto à linha do meio-campo, com Morten a ver passar, bastou para desorganizar o nosso "bloco defensivo", mesmo em superioridade numérica. Dois adversários, Matheus Pereira e Vinicius, em rápida progressão com a bola controlada, baralharam as marcações: Debast foi passivo, Diomande ficou paralisado, Matheus Reis abandonou a posição para quase chocar com o marfinense enquanto Vladan, fora dos postes, se limitou a abrir os braços como Cristo na cruz. Quando despertou do torpor, já ela estava anichada nas nossas redes.

 

Do mal, o menos. Desta vez João Pereira não esperou pelo minuto 68 para fazer aquilo que se impunha desde o apito inicial: tirou o inoperante Edwards, trocando-o por Harder. Maxi rendeu Quenda, permitindo que Geny passasse para o corredor direito e logo se mostrasse mais eficaz na combatividade e nos cruzamentos. Mas o Santa Clara, em vantagem desde os 32', recuou ainda mais as linhas e tornou quase impossível a penetração. 

Podia ser-nos útil uma bola parada, mas não soubemos aproveitar livres nem cantos. 

Podia tentar-se o remate de meia-distância, como aconteceu duas vezes com Harder frente ao Braga: mal se tentou. E as possibilidade de êxito eram remotas, por haver nove jogadores de campo do Santa Clara entrincheirados em 25 metros de terreno. Já tinha sido assim contra o Casa Pia, mas dessa vez Daniel Bragança conseguiu desatar o nó aos 39', com Gyökeres a confirmar de penálti aos 80'. Agora nada disso. Ficando dois penáltis por marcar contra a turma visitante - o primeiro por claro derrube de Geny por Vinicius aos 16', o segundo quando Safira trava no chão, com o braço, um remate de Gyökeres aos 45'+2. Má arbitragem de Cláudio Pereira, péssimo desempenho do vídeo-árbitro Helder Carvalho, sem qualidade mínima para estas lides. Vão ambos para a jarra, merecidamente.

Parecíamos regressados a 2017, ao tempo anterior à vídeo-arbitragem em Portugal.

 

Temos queixa do homem de apito e do VAR, mas não sofremos a primeira derrota deste campeonato, à 12.ª jornada, por causa disso. A causa principal foi o desacalabro defensivo e a inoperância ofensiva num jogo em que não conseguimos um só remate enquadrado e dispusemos apenas de uma oportunidade de golo, desperdiçada por cabeceamento muito deficiente de Gyökeres após centro de Harder.

No final, desalento generalizado. No relvado e nas bancadas. Mesmo continuando em primeiro, mesmo com todas as aspirações intactas. Não tanto pela derrota, a primeira de sempre que o Santa Clara nos impôs em Alvalade, mas porque olhamos para o banco e não conseguimos ver ainda ninguém, naquela nova equipa técnica, a quem possamos verdadeiramente chamar treinador.

Há coisas a corrigir? Claro que sim. Mas a mais urgente é sem dúvida esta. «Pior do que perder um jogo é perder a identidade», lê-se na crónica deste Sporting-Santa Clara escrita por Alexandre Delgado no SAPO Desporto. Não há melhor síntese do que esta.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan (4) - Será só azar? Continua a sofrer golos. Mais um, desta vez contra o Santa Clara. Quase encaixou outro, numa arrepiante entrega de bola logo aos 7'.

Debast (4) - Podia ter feito a diferença com os seus passes longos, a esticar jogo, mas nem andou lá perto. Inoperante, sem confiança. Saiu aos 61'.

Diomande (3) - Culpa no golo: não comandou a defesa, como lhe competia. Tentou marcar de cabeça, após cantos (73' e 80') mas não é Coates quem quer.

Matheus Reis (3) - Deixou Vinicius fazer o que pretendia no golo açoriano, aos 32'. Inexplicável, ser central à esquerda com Gonçalo no banco. Saiu aos 61'.

Quenda (4) - A sua pior partida na equipa A. Não ganhou um duelo, não fez um cruzamento digno desse nome, não penetrou nas linhas. Saiu ao intervalo.

Morten (5) - Apagado. Tentou a meia-distância, rematando muito ao lado. Incapaz de travar o adversário no início do lance do golo. Saiu aos 78'.

Daniel Bragança (5) - Procurou ligar linhas, mas com pouco sucesso. Inventou um lance de ataque para Harder (69'). Foi o melhor que fez.

Geny (6) - O mais inconformado dos nossos, o que mais arriscou nos duelos e nos centros. Melhor no segundo tempo, em que actuou à direita.

Trincão (4) - O desnorte da equipa reflectiu-se nele, quando começou a tentar fazer tudo sozinho, com reviengas, sem nada conseguir.

Edwards (2) - O técnico voltou a apostar nele no onze. Outro fracasso. Extremamente inseguro, nem conseguiu receber bem a bola. Saiu ao intervalo.

Gyökeres (4) - Irreconhecível. Só se distinguiu por ter falhado um golo cantado, de cabeça, aos 69'. Nada mais conseguiu fazer.

Maxi Araújo (3) - Perdeu outra oportunidade para mostrar o que vale. Substituiu Quenda, ficando no corredor esquerdo. Com erros técnicos primários.

Harder (5) - Jogou todo o segundo tempo. Rendimento escasso, mas foi tentando. Dois bons centros, aos 69' e 79'. Infelizmente desperdiçados.

Gonçalo Inácio (5) - Não entrou de início, estranhamente. Substituiu Matheus aos 61'. Tentou impor alguma ordem à defesa.

St. Juste (5) - Substituiu Debast aos 61'. Transmitiu alguma segurança lá atrás. Cabecou ao lado aos 90'+3.

Morita (5) - Rendeu Morten aos 78'. Boa recuperação aos 80'. Também não se entende como é que não entrou mais cedo.

Rescaldo do jogo de anteontem

 

Não gostei

 

Da péssima estreia de João Pereira como técnico principal na Liga. Correu tudo mal neste desafio em casa com o Santa Clara (0-1): o onze convocado, a dinâmica dos jogadores no terreno, a deficiente leitura do jogo, algumas substituições insólitas e a ausência de uma voz de comando junto ao banco. Nem o técnico principal, com olhar vago e errante, nem nenhum dos seus adjuntos transmitiam instruções para dentro do campo, rectificando as movimentações erradas, a ausência de linhas de passe, a manifesta incapacidade de acelerar o jogo, a pavorosa inconsistência defensiva. Nada a ver com os nossos onze desafios anteriores deste campeonato, designadamente o épico triunfo em Braga. Foi só a 10 de Novembro, mas parece ter sido há muito mais tempo.

 

Do golo sofrido. Em evidente inferioridade numérica, aos 32' o Santa Clara ganhou a bola no meio-campo e já não a largou até a ver no fundo das redes. Morten, irreconhecível, limitou-se a marcar com os olhos, vendo-a passar, conduzida por Matheus Pereira: logo se instalou o pânico na nossa defesa, com Debast e Diomande atropelando-se enquanto Matheus Reis se juntava à molhada abandonando a posição e rasgando uma avenida para a turma forasteira, com Vinicius a apontar o golo que lhes valeu três pontos. Erros primários, dignos de equipa amadora. 

 

De Vladan. Entrou como titular, substituindo o engripado Israel, mas continuou a demonstrar falta de categoria para integrar o plantel leonino. Numa monumental fífia logo aos 7', entregando de bandeja a bola a Vinicius dentro da área, deu o primeiro sinal do nervosismo extremo, da desconcentração e da ansiedade que se apoderou da equipa. No golo, a principal culpa não foi dele, mas estava mal posicionado e ficou estático, vendo-a passar sem esboçar reacção.

 

De Edwards. Erro lapidar do técnico, ao incluí-lo no onze pelo segundo jogo consecutivo após a sua péssima actuação na goleada que havíamos sofrido cinco dias antes contra o Arsenal. João Pereira convenceu-se que pode fazer dele outro Pedro Gonçalves. Está profundamente equivocado: o inglês não demonstra cultura táctica nem energia anímica para substituir o melhor jogador português do plantel leonino, ausente por lesão. Extremamente inseguro, incapaz de construir um lance ofensivo consistente, até na recepção da bola parecia um aprendiz. Substituído ao intervalo após 45 minutos a mais em campo.

 

De Quenda. Outro jogador irreconhecível. O técnico atribuiu-lhe a missão de comandar as operações no nosso corredor direito, mas o benjamim da equipa foi incapaz de um único rasgo individual. Chegava a meio e passava para o lado, não penetrava nas linhas, não arriscava duelos, não cruzava, não gerou o menor incómodo ao Santa Clara. Parecia ausente. Já não veio do intervalo, sem surpresa para ninguém.

 

De Maxi Araújo. O uruguaio tarda a impor-se no Sporting. Desta vez jogou toda a segunda parte, substituindo Quenda mas como ala esquerdo, sem no entanto fazer melhor. Falhou passes, entregou mal, nem conseguiu marcar cantos de modo competente. Parecia que a bola lhe queimava os pés.

 

De chegar ao fim só com uma situação de golo. Desperdiçada aos 69' por Gyökeres após centro certeiro de Harder. E nem um remate enquadrado digno desse nome. Parecia mais o Sporting B - que João Pereira anteriormente treinou - do que o Sporting A. 

 

Dos cantos e livres ineficazes. Marcámos muitos, sem levar perigo às redes adversárias. Com um momento patético: aos 64', um livre na meia-direita terminou numa absurda perda de bola, que nem chegou a entrar na área. Sinal inequívoco do desnorte colectivo. Com 41.681 espectadores incrédulos a assistir no estádio.

 

Da posse estéril. Chegámos ao fim com 74% da chamada "posse de bola" - não há estatística mais enganadora. Grande parte desse tempo foi preenchido por inócuos passes para o lado e para trás, em ritmo de caracol cansado.

 

Do árbitro. Cláudio Pereira enganou-se a dobrar, poupando o Santa Clara a dois penáltis. Primeiro por derrube a Geny, aos 16': Vinicius desinteressou-se da bola, só quis atingir o nosso ala. Depois, aos 45'+2, quando Safira se atira para o chão e ali usa o braço para desviar a bola rematada por Gyökeres. Erros imputáveis sobretudo a Helder Carvalho, o VAR de turno: nem se deu ao incómodo de alertar o árbitro. 

 

Que tivéssemos perdido pela primeira vez em Alvalade com o Santa Clara. Aconteceu só agora, após nove confrontos com a turma açoriana disputados no nosso estádio. Desde 2020 que não perdíamos dois jogos seguidos em casa. 

 

Dos recordes absolutos que ficaram por atingir. Desperdiçámos a oportunidade de conseguir o melhor início da história do clube no campeonato nacional de futebol e uma série inédita de 33 jogos sem perder também na Liga. 

 

 

Gostei

 

De terminar esta jornada ainda no comando da Liga. Resta ver por quanto tempo.

 

De Geny. Muito castigado pelo jogo faltoso da turma açoriana, pareceu sempre o mais inconformado dos nossos. Melhor na ala direita: dali fez um grande centro que Gyökeres desperdiçou.

 

De Harder. Consolida-se a sensação de que merece ser titular neste Sporting agora tão oscilante. Voluntarioso, com vontade de sacudir o marasmo, falhou nos remates directos na área superpovoada, mas protagonizou dois cruzamentos muito bem medidos (69' e 79'), infelizmente desperdiçados.

Pódio: Geny, Trincão, Harder

Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-Santa Clara por quatro diários desportivos:

 

Geny: 20

Trincão: 20

Harder: 20

Gonçalo Inácio: 18

St. Juste: 18

Debast: 18

Morten: 18

Daniel Bragança: 17

Diomande: 17

Quenda: 16

Matheus Reis: 16

Gyökeres: 16

Edwards: 15

Maxi Araújo: 15

Vladan: 15

Morita: 12

 

Três jornais elegeram Geny como melhor em campo. O ZeroZero escolheu Trincão.

O dia seguinte

O Sporting escorregou e muito em Eindhoven, Diomande saiu do estádio em muletas, Quaresma isolado estatelou-se no relvado e entregou ao bola ao guarda-redes, e assim só com muito esforço, dedicação e devoção dos jogadores conseguimos sair de lá com um ponto.

Curiosamente o Real Madrid-Sporting em feminino da semana passada foi mais ou menos a mesma coisa. O Rúben prefere treinar na véspera em Alcochete, abdicando de treinar no campo do adversário, se calhar a Mariana faz o mesmo. Depois existem as botas e os pitons, o tipo do relvado, a rega intensiva, etc... A escorregar sistematicamente é complicado jogar futebol. 

Na 1.ª parte tivemos um PSV completamente adaptado ao relvado, a marcar em cima e a meter o pé no limite do amarelo. Morita e Hjulmand não existiam e os defesas tentavam meter a bola directamente nos avançados que estavam de costas para os defensores. Assim aconteceu o golo sofrido e as restantes oportunidades de golo do PSV.

Na 2.ª parte, o PSV deixou partir o jogo, foi criando oportunidades que poderiam ter resolvido o encontro, as substituições do Sporting ajudaram ainda mais a uma toada de bola lá / bola cá, e depois veio ao de cima a qualidade individual de Bragança. Um grande golo, a grande centro do também recem-entrado Maxi. Mesmo no final aquele remate de Harder podia ter-nos dado os 3 pontos.

Enfim, é a Champions, um nível completamente diferente daquele da Liga nacional, em que todos os adversários são fortes e apresentam armas para as quais não estamos preparados. E depois são as lesões sucessivas a castigar um plantel já de si muito curto para os objectivos da temporada. Em Eindhoven não estiveram Pote, Edwards e Matheus Reis, St. Juste foi de passeio, a adaptação de Geny a interior esquerdo falhou rotundamente, Bragança andou a fazer de avançado e perdemos por umas semanas o "comandante" Diomande.

Também é preciso ver a idade do onze apresentado, especialmente de alguns, como Debast, Quenda e Diomande. Os erros são inevitáveis. Têm muito por onde crescer.

Melhor em campo? Daniel Bragança, quem o viu e quem o vê, que evolução incrível dum jogador que perdeu um ano na carreira por uma grave lesão. Depois dele, Franco Israel esteve à altura dum guarda-redes do Sporting.

Pior em campo? Geny, incapaz de perceber o que a posição exigia.

Arbitragem? Excelente na distinção entre as entradas duras para ganhar a bola e aquelas para castigar o adversário.

E agora? Ganhar ao Casa Pia e recuperar os lesionados. Se calhar nesta fase é mais importante o médico do que o treinador...

SL

Rescaldo do jogo de ontem

 

Gostei

 

Da nossa sétima vitória em sete jornadas. Já somamos 21 pontos neste que está a ser o melhor início de campeonato do Sporting desde a remota época 1990/1991, quando o treinador era o saudoso Marinho Peres. Ontem à noite a vítima foi o Estoril: fomos lá vencer 3-0. Agora não houve "vento" na Amoreira, como daquela vez em que o "mestre da táctica" saiu de lá derrotado por 0-2. Que diferença entre esse tempo e o actual...

 

De Geny. Melhor em campo. Devolvido à posição em que mais rende, como médio-ala direito, venceu quase todos os confrontos individuais com Wagner Pina, provocando constantes desequilíbrios. E foi ele a furar a muralha hiper-defensiva do Estoril abrindo o marcador aos 25' com oportuna incursão na área, muito bem servido por Matheus Reis. Foi também ele a iniciar o segundo golo, com um lançamento lateral que funcionou como pré-assistência. Actuando na ala esquerda desde o minuto 75, com a entrada de Quenda, ainda protagonizou forte remate (83') à malha lateral.

 

De Trincão. Não marcou, mas assistiu para dois golos - o segundo e o terceiro. E foi ele o maior desequilibrador leonino, com os seus dribles estonteantes, dando espectáculo no relvado estorilista. Aos 44', no seu ângulo preferido, da direita para a esquerda, enviou a bola ao ferro. Cada vez com mais liberdade de movimentos exibe qualidade e confiança. É uma das grandes figuras deste Sporting que ambiciona o primeiro bicampeonato em 70 anos.

 

De Morita. Parece estar em vários lugares ao mesmo tempo e ocupar diversas posições, tão grande é a sua mobilidade. Quase marcou ao picar a bola, logo aos 15'. Actuando em posições mais adiantadas, foi um constante desequilibrador. Aos 31', estreou-se como artilheiro na Liga 2024/2025 ao marcar o nosso segundo, de pé esquerdo - com assistência do pé direito de Trincão, que é canhoto. Golo mais que merecido.

 

Da entrada de Daniel Bragança. Entrou aos 58' para render Morten - poupado em parte já a pensar no embate da próxima terça-feira na Holanda, frente, ao PSV, para a Liga dos Campeões. Com braçadeira de capitão, o médio formado em Alcochete exibiu inteligência táctica e destreza técnica, impondo posse de bola e temporização nos lances. Com forte presença na área, foi recompensado com a marcação do golo que fixou o resultado quase ao cair do pano, aos 90'+1. 

 

Da estreia de Maxi Araújo a titular. Cumpriu como interior esquerdo, aproveitando ausência de Pedro Gonçalves: boas movimentações, bom toque de bola. Falta-lhe reforçar a condição física: aos 58', já exausto, deu lugar a Harder.

 

Dos regressos de Gonçalo Inácio e Eduardo Quaresma. Ambos vindos de lesões, não só foram convocados como saltaram do banco para ganharem ritmo competitivo: Gonçalo aos 58', Eduardo aos 83'. 

 

Da solidez defensiva. Com Israel no seu quarto jogo seguido como titular entre os postes, acabamos de cumprir a sexta partida consecutiva sem sofrer golos - há quase 600 minutos que mantemos as nossas redes intactas em desafios do campeonato.

 

De termos disputado 28 jogos em sequência sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota (1-2) aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, em Guimarães, a 9 de Dezembro. E vamos com 16 triunfos nas últimas 17 partidas disputadas para a maior competição do futebol português.

 

De ver o Sporting marcar há 49 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde Abril de 2023, perante o Gil Vicente (0-0). Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.

 

Do árbitro. João Gonçalves acompanhou sempre de perto os lances, adoptou o chamado critério largo que é padrão nas partidas da Champions, foi equitativo nas decisões e evitou ser a figura do encontro, ao contrário do que ainda acontece com alguns colegas seus. 

 

Da forte presença leonina nas bancadas. Com tantos adeptos, até parecia que jogávamos em casa.

 

Deste nosso início de época. Um dos melhores de sempre, sem sombra de dúvida. Os números confirmam: 25 golos marcados, apenas dois sofridos. Melhor ataque, melhor defesa. Desde 1950/1951 que não facturávamos tanto nas primeiras sete rondas. Ainda não vencemos, até agora, por menos de dois golos de diferença. Temos a equipa mais forte do campeonato português. Quem ainda não percebeu isto deve viver noutro planeta.

 

 

Não gostei

 

Da segunda parte. Sem o brilhantismo nem a superioridade evidente que mostrámos na primeira, certamente já a poupar energias para o importante jogo de terça em Eindhoven.

 

De ver Pedro Gonçalves ainda fora da convocatória. Mantém-se lesionado, nem sequer viajará para a Holanda.

 

Que Gyökeres saísse com queixas físicas. Desta vez o craque sueco não marcou, embora continue a liderar com larga vantagem a lista dos artilheiros da Liga 2024/2025, com dez golos facturados. Mal saiu, aos 75', foi-lhe aplicado gelo no joelho direito. Oxalá não seja nada de preocupante.

 

Da pirotecnica. A SAD leonina voltará a ser multada devido à actuação irresponsável de membros de duas claques. Pelo menos duas tochas foram arremessadas para o relvado. Estes imbecis deviam estar fora dos recintos desportivos: é preciso haver mão dura para eles.

Estes jogadores insistem em ser felizes

Sporting, 2 - FC Porto, 0

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Gyökeres, imparável, adianta-se como rei dos artilheiros: à quarta jornada, já marcou sete golos

Foto: Luís Branca / Lusa

 

Para quem tivesse dúvidas, repetiu-se a dose: no campeonato passado recebemos o FC Porto e eles voltaram para a cidade de origem com dois golos sofridos na bagagem, sem nenhum marcado. Desta vez - sábado passado, dia 31 - repetiu-se a dose

Quer isto dizer que mesmo desfalcado de três habituais titulares da época passada - Coates, Adán, Paulinho - o Sporting mantém o equilibrio de base, agora num onze mais jovem e com processos de aprendizagem mais rápidos. A dinâmica acentuou--se, os automatismos ganharam consistência, o modelo de Rúben Amorim tem vindo a ser aperfeiçoado com vantagem para a equipa.

Um dos ajustamentos relaciona-se com o desempenho dos alas, agora cada vez mais envolvidos no processo ofensivo. A manobra defensiva, no essencial, é assegurada por dobras dos centrais e o recuo esporádico de um médio, neste caso Morita e Morten alternando na missão. Que foi bem-sucedida.

 

Se este repetido 2-0 final peca é apenas por ser escasso face à superioridade leonina no primeiro clássico da Liga 2024/2025.

Após o quarto de hora inicial, em que as equipas se mediam e os azuis-e-brancos adiantaram muito as suas linhas para pressionar a nossa habitual saída com a bola dominada, o Sporting passou a dominar sem discussão. Na baliza portista, Diogo Costa tinha instruções para esticar ao máximo o jogo, despejando bolas longas. Equívoco logo tornado transparente à medida que o guardião titular da selecção nacional acabava por entregá-las à nossa defesa. A gente agradecia - e partia para o ataque rápido, alternando corredores. Aos 20 minutos da partida já invadíamos o meio-campo adversário de forma consistente. A estratégia de Vítor Bruno para nos ensanduichar no espaço central interior, aproveitando o facto de ter mais um elemento nesse sector, estava condenada ao fracasso.

Amorim soube ler melhor o jogo.

 

O que mais impressiona neste Sporting rejuvenescido que sonha com o primeiro bicampeonato em 70 anos é a sua dinâmica colectiva. Os sectores inteligam-se, as linhas de passe abrem-se com naturalidade, o ataque ao portador da bola é quase obsessivo. 

Gonçalo Inácio (23 anos), Eduardo Quaresma (22 anos) e Diomande (20 anos) parecem jogar juntos há muito tempo. Tão jovens e já com tanta maturidade competitiva: só pode ser pela qualidade do treino. Haver bom balneário ajuda muito: esta é uma equipa que se movimenta em campo com manifesta alegria e um companheirismo raras vezes visto.

Quem pensa que futebol é só "pontapé para a frente" e vê-los correr que nem galgos, está redondamente enganado.

 

Merece destaque especial o trio da frente. Com os interiores actuando em regra de pé trocado: o canhoto Trincão na meia-direita, o dextro Pedro Gonçalves no lado oposto. Ambos movimentando-se bem entre linhas, sem posições rígidas: deve ser um pesadelo marcar estes nossos jogadores, o recurso à falta torna-se uma tentação. 

Foi assim, na conversão dum castigo máximo, que chegámos ao primeiro golo. Já estavam decorridos 71 minutos, ficara para trás um empate a zero ao intervalo que sabia a pouco. Marcador? O suspeito do costume, Viktor Gyökeres. Fazia todo o sentido, até porque fora ele a sofrer a falta, por Otávio: o internacional sueco passou pelo brasileiro como faca por manteiga. É um dos melhores avançados da história do Sporting, aliando a técnica à força e a inteligência táctica à robustez.

Já marcou sete vezes nas primeiras quatro jornadas do campeonato. Quer ultrapassar a marca da Liga anterior, quando se sagrou rei dos artilheiros, com 29 golos - deixando a larga distância o bracarense Banza, com 21. 

Ninguém diria que foi operado ao joelho esquerdo apenas há três meses...

 

À medida que os portistas procuravam progredir no terreno, em busca do empate, desguarneciam as linhas recuadas. Com nula eficácia atacante: só criaram perigo duas vezes, atraves de Galeno, agora lateral esquerdo - o que diz muito da ineficácia ofensiva da equipa que deixámos a 18 pontos de distância no campeonato anterior.

Abriam-se novas oportunidades para o Sporting. Os mais de 46 mil espectadores presentes em Alvalade sentiam que o jogo não iria terminar com a vitória tangencial registada aos 90 minutos. O tempo extra iria ser aproveitado até ao último instante.

E assim foi. Aos 90'+3 Pedro Gonçalves tocou para Geny e o moçambicano partiu cheio de confiança, com ela dominada junto à linha direita para depois se chegar ao meio e daqui fuzilar as redes com o seu magnífico pé esquerdo. A bola voou, desenhando um arco para defesa impossível de Diogo Costa. Numa réplica do golaço que marcara ao Benfica a 6 de Abril - também em Alvalade, também no tempo extra, também em lance digno de levantar bancadas.

 

Assim seguimos no comando. Já isolados, à quarta ronda. Invictos: cada jogo, uma vitória. Com 14 marcados e apenas dois sofridos.

FC Porto segue três lugares abaixo. O irreconhecível Benfica, neste momento já sem treinador, na sétima posição e com menos cinco pontos.

O bicampeonato vai sendo construído, etapa após etapa. Estes jogadores insistem em ser felizes. E em tornar-nos felizes também.

 

Breve análise dos jogadores:

Vladan - Enfim, mostrou serviço: travou dois remates venenosos de Galeno, aos 41' e aos 60'. Menos bem a jogar com os pés.

Eduardo Quaresma - Com ocasionais lapsos, mas revelando a habitual entrega à luta. Nunca desiste dum lance. Exibe garra leonina.

Diomande - Nem parece ser tão jovem. Domínio no jogo aéreo, perfeita noção do espaço. Limpa tudo lá atrás. Atento às dobras dos companheiros.

Gonçalo Inácio - Talento inegável a defender: irrepreensível desarme a Iván Jaime (48'). E no passe longo, de que foi exemplo uma entrega a Gyökeres (50').

Quenda - Teve dois portistas a policiá-lo: Galeno e Pepê. Homenagem implícita ao mérito do talentoso ala direito, motivado e confiante.

Morten - Voltou de lesão, capitão da nau leonina. Útil, como sempre, no capítulo das recuperações (25', 28'). Isola Gyökeres com passe longo (69'): lance originou penálti.

Morita - Na casa das máquinas, ele é um operacional. No controlo do jogo, no passe preciso, na marcação ao adversário. Criando desequilibrios.

Geny - Ganhou o direito a ser titular. Tem alinhado à esquerda, mas mostra o seu melhor à direita. Assim foi, ao marcar o golo da confirmação (90'+3). Golaço.

Trincão - Activo na procura de espaço, abrindo linhas, baralhando marcações. Desta vez só esteve ausente dos golos. Podia ter marcado aos 17', 35' e 36'.

Pedro Gonçalves - Útil e criativo, como já nos habituou. Assistência para o golo de Geny. E vão três, em quatro rondas. Lidera a lista da Liga.

Gyökeres - Quatro  jogos do campeonato, sete golos. Quer repetir a dose anterior, ou ampliá-la. Conquistou o penálti e converteu-o. Melhor em campo, de novo.

Matheus Reis - Rendeu Quenda aos 79', permitindo que Geny transitasse para o corredor direito. Reforçou a estabilidade da equipa.

Debast - Substituiu Eduardo Quaresma aos 79'. Exibe confiança. Neutralizou ataque portista aos 89'. Um corte que deu nas vistas aos 90'+2.

Daniel Bragança - Entrou aos 86', substituindo um fatigado Morten. Pouco tempo em campo, mas continua a ler bem o jogo, sempre de olhos na baliza.

Nuno Santos - Entrou aos 90', rendendo Trincão. Parece cada vez mais um extremo puro. Quase não teve tempo para se mostrar, mas ouviu muitos aplausos.

Depois do baile, o concerto

Sporting.jpg

Começámos por andar aos papéis nos primeiros quinze minutos. Eu acho que foi pela surpresa de ver uma equipa do Campeonato de Portugal em vez do terceiro classificado da Liga NOS do ano passado. O Quaresma e o Inácio ficaram tão abasbacados com o espaço que uma defesa de cinco mais um meio-campo de quatro bem juntinho aos cinco e apenas um solitário, que não é diamante, lá na frente, que se lhes parou o cérebro durante quinze minutos, os tais em que eles, meio sem saber como, até dominaram o jogo e poderiam ter marcado. Depois ao dezassete tivemos uma soberana oportunidade para marcar, um falhanço daqueles que não podem acontecer (apesar da sorte do defesa deles, vá) e a partir daí, foi um festival de belo futebol que só pecou, mais uma vez, pela falta de eficácia.

Surpreendeu o treinador do Porto ter colocado Galeno, o melhor avançado, a defesa. Nem todos são Mourinho, caro Vitor Bruno.

A qualidade do nosso jogo, que funciona de olhos fechados, fez o resto até que o nosso "touro" levou um desastrado Otávio de arrasto obrigando-o a fazer um penálti claríssimo que o sueco marcou de forma irrepreensível, redes para um lado, bola para o outro. Um "patardo" dos antigos. Isto aconteceu quando eles estavam a levantar cabelo e estavam a tentar discutir o jogo e o defesa Galeno até obrigou o nosso redes a uma enorme defesa.

Depois o gényo de Catamo fez o resultado final. O miúdo faz-se.

Resultado mais que justo, para a produção da equipa.

Nota final para Luís Godinho: Permitiu que Nico continuasse em campo, o que demonstra que é um homem de bom coração.

Agora é tempo de selecções, é para recuperar os que estão combalidos e desfrutar o momento, que a orquestra segue afinada.

O verdadeiro segredo do Sporting

É chegada a hora de revelar o segredo e a razão da manifesta excelência da equipa do Sporting.

Como é possível que Morita se tenha transformado num Toyota: sem nada de espectacular, mas de uma eficácia, fiabilidade e duração tremendas?

Por que razão um fedelho de 17 anos como Quenda parte para cima do temível Galeno olhos nos olhos e mete-o no bolso?

O que faz com que Catamo se tenha especializado em estocadas fatais, na época passada contra o slb, ontem contra o fcp?

Qual o segredo da vitalidade de Gyökeres que lhe permite no final do jogo correr uns 30 metros com a bola à frente da defesa do fcq arrastando-o consigo, só sendo parado em falta?

Como é que Hjulmand grangeou tanta autoridade em tão pouco tempo?

Tudo isto é assim porque desde meados da época passada compro sempre um isqueiro verde antes do jogos na tabacaria do metro. Há aqui uma óbvia relação causa/efeito que relativiza a importância do treino, o acerto da dinâmica colectiva e a sofisticação táctica do Sporting. Só não funciona ainda com Trincão, mas pode ser que tal como o ano passado comece a influencia-lo lá para Fevereiro.

É escusado continuarem com especulações de treinadores de bancada que tudo sabem e nada percebem. É o meu talismã infalível e mais nada.

{ Blogue fundado em 2012. }

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