Como jogaram há quatro dias os jogadores portugueses contra a selecção da Geórgia na nossa derrota em Gelsenkirchen por 0-2:
Diogo Costa. Infeliz. Sem culpa nos dois golos sofridos. No primeiro, traído pela defesa, nada pôde fazer. O segundo foi de penálti: esteve quase a defendê-lo.
António Silva. Inepto. Responsabilidade clara nos dois golos. "Assiste" o adversário no primeiro (2'), comete penálti que deu o segundo (43'). Enterrou a equipa.
Danilo. Imóvel. Com Pepe poupado, não foi o patrão de que a defesa precisava. Ficou a "marcar" com os olhos no primeiro golo, sem ir à dobra.
Gonçalo Inácio. Insípido. Não foi por ele que perdemos. Mesmo assim, a sua prestação soube a pouco nesta sua estreia a titular no Euro 2024.
Dalot. Indolente. Um dos responsáveis pela fraca dinâmica da selecção. Incapacidade evidente de progressão com bola. Acordou tarde: quase marcou aos 90'+4.
Palhinha. Intenso. Excelente passe para CR7 aos 35'. Fez a bola roçar o ferro com remate forte (43'). Saiu ao intervalo, de forma surpreendente: estava a ser um dos melhores.
João Neves. Inquieto. Não fez esquecer o ausente Vitinha, longe disso. Duas boas recuperações. Fez atraso de risco no lance que culminou no penálti.
Francisco Conceição. Insatisfeito. Talvez o melhor (o menos mau) dos nossos. Deu sensação de golo ao rematar à malha externa (28'). Tentou bastante, conseguiu nada.
Pedro Neto. Inconsequente. Viu amarelo aos 44' por simulação. Quase marcou de canto directo (45'+2). Desperdiçou sucessivos cruzamentos na segunda parte.
João Félix. Incapaz. O seleccionador imagina-o como segundo avançado, útil entre linhas. O suplente de Yamal no Barcelona não conseguiu ser nada disso.
Cristiano Ronaldo. Inconformado. Quase marcou, num tiro de livre directo, aos 17'. Derrubado na grande área (28'), viu amarelo por protestos. Rondou o golo aos 47'.
Rúben Neves. Inútil. Inexplicável, a troca de Palhinha por este médio sem chama que jogou todo o segundo tempo. Aos 53', viu o amarelo. Teve sorte: arriscou o segundo aos 65'.
Nelson Semedo. Intranquilo. Só substituiu Silva aos 63'. E entrou com nervos em excesso. Esteve a centímetros de marcar aos 90'+1: in extremis, o guardião evitou o golo.
Gonçalo Ramos. Invisível. Um mistério, ter entrado aos 63' para render Ronaldo quando perdíamos por dois golos. Falhou escandalosamente emenda à boca da baliza (90'+3).
Diogo Jota. Irrelevante. Substituiu o errático Pedro Neto aos 75'. Teve muito menos tempo, é certo, mas foi incapaz de mostrar melhor.
Matheus Nunes. Incipiente. Entrou só aos 75', rendendo João Neves. Em estreia num Europeu. Podia ter marcado num remate forte aos 89', mas a pontaria não estava afinada.
Portugal encerrou ontem com a Geórgia a sua fase de grupos com uma derrota humilhante por 2-0 (que podia ser até mais pesada), conquistando mesmo assim o 1º lugar do grupo mais fraco em competição. Aquilo que podia ter sido uma oportunidade de afirmação das segundas linhas da selecção, considerada uma dos melhores de sempre, transformou-se numa das maiores vergonhas duma selecção portuguesa numa fase final. Agora segue-se uma selecção "menor" como a Eslóvénia, mas depois seguir-se-ão provavelmente a França, a Espanha, na final talvez a Itália, isto se lá chegarmos.
Depois de tudo o que se passou no Catar, Martínez recebeu a tarefa de construir uma selecção à volta de Cristiano Ronaldo e do seu fiel escudeiro, o Pepe, e tudo o resto passou para segundo plano. Inclusivamente a pouca vergonha de naturalizar a martelo brasileiros do balneário do Porto e tão arruaceiros em campo como ele ao serviço do seu clube. Felizmente Otávio e Galeno ficaram fora desta selecção que ignorou alguns dos melhores jogadores da Liga deste ano, por acaso do Sporting. Mas ficou o conceito, que o Paulo Futre bem explicou, o "animal" tem de jogar sempre para estar feliz e contente, se o Gonçalo Ramos calha entrar e marcar três golos lá se vai a felicidade, por muito que o Pepe lhe faça massagens e calce os chinelos, e o balneário entra em crise. E o Pepe para fazer feliz o Ronaldo também tem de estar feliz e contente, por isso tem lá o Danilo, o Conceição, o Diogo Costa e muitos outros. Uma corte.
Depois temos o 3-4-3, sistema táctico que passámos a conhecer muito bem com Rúben Amorim, mas com outra interpretação: extremos agarrados à linha e alas a explorar espaços anteriores. Um sistema que precisa de muito tempo e muitos jogos para articular movimentos e permitir à equipa atacar com muitos e defender com muitos também. E porquê o 3-4-3 na selecção com tamanha riqueza de médios? Para o Pepe não ser comido em velocidade por falta de rins, e tê-lo sempre de frente para o jogo? Ontem a mesma coisa com o Danilo?
Porquê o 3-4-3 com extremos na selecção quando não temos nenhum de topo, Conceição, Neto ou Rafael Leão sem espaço pouco rendem, e quando o centro sai está o Ronaldo sózinho na área? Quantas vezes ontem entrou um médio nas costas do lateral para receber a bola do extremo? A única forma de Portugal criar perigo foi explorar os remates de meia-distância de Palhinha e Dalot. O resto foi o agarrão ao Ronaldo.
Podemos falar também dos mega-craques produzidos no Seixal: João Félix, António Silva, João Neves, João Cancelo, Gonçalo Ramos, todos endeusados pela comunicação social e pela máquina de propaganda lampiónica. A diferença entre o que dizem deles e o que demonstram em campo é colossal. Infelizmente Gonçalo Inácio já parece contaminado pelo virus "Félix".
Bom, e agora? É deixar de inventar e voltar ao "pão com manteiga", o 4-3-3 que todos conhecem, com um extremo mais fixo do lado esquerdo e dando liberdade a Bernardo Silva para vagabundear pelo lado direito, e tendo Vitinha e Bruno Fernandes na organização de jogo. E ajustar as outras peças ao adversário em questão.
Aquele que me parece ser o melhor onze de Portugal, e pondo lá os obrigatórios Ronaldo e fiel escudeiro, que nesta altura já deveria ter tido minutos e jogos que criassem rotinas colectivas que não se vislumbram, é o seguinte:
Diogo Costa; Nelson Semedo (Cancelo), Rúben Dias, Pepe e Nuno Mendes; Vitinha, Palhinha e Bruno Fernandes; Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e Rafael Leão (Jota).
Enfim, é assim que vejo esta selecção: muita experiência internacional, muito talento, muita capacidade de improvisação, muitos jogadores parecidos uns com os outros, sete ou oito jogadores de topo mas pouca capacidade física, poucas rotinas de jogo, pouca capacidade de sofrimento. Uma selecção acomodada pela sucessão de vitórias com adversários de menor valia, pela comunicação social enfeudada aos grandes interesses e pelo "lançar das canas antes da festa" de todos nós.
Oxalá consiga aprender com esta bofetada na cara, porque senão vai conhecer o outro lado de ser português.
Independentemente de quem seja o presidente, de quem seja o treinador, de quem sejam os empresários dos jogadores e da "macacada" que se autoproclama claque, estamos todos com a Selecção Nacional, a selecção de todos nós.
Quando um jogador enterra a equipa logo na primeira vez em que toca na bola, entregando-a de bandeja ao adversário, ao minuto 2, tudo começa por se tornar difícil. Quando o mesmo jogador enterra ainda mais a equipa, cometendo um penálti digno de um campeonato distrital, aos 53', tudo começa a tornar-se impossível.
A história deste Portugal-Geórgia, péssima para as cores nacionais, ficou traçada naqueles dois lances, marcados por gravíssimos erros individuais de António Silva, central do Benfica que assim culmina uma época desastrosa sem deixar de ser uma espécie de fetiche do seleccionador Roberto Martínez.
O basco sofreu ontem, em Gelsenkirchen, a primeira derrota nos 13 jogos oficiais em que já orientou a equipa nacional. Com um lado bom e um lado mau. O bom: este desafio não compromete a nossa qualificação para os oitavos do Euro-2024, que estava garantida. O mau: a derrota ocorreu perante um adversário que participa pela primeira vez num certame futebolístico desta importância. Geórgia, país-caloiro em campeonatos da Europa.
Martínez, imitando o seu colega Luis de la Fuente, treinador de La Roja, decidiu mudar grande parte da equipa titular: oito, no total. Só ficaram Diogo Costa, Palhinha e Cristiano Ronaldo. Espanha, na véspera, tinha sido mais radical: rodou dez.
A diferença é que o banco espanhol é muito superior ao nosso. Se dúvidas restassem, foram dissipadas ontem. Sem paliativos de qualquer espécie: a Geórgia jogou melhor, tendo bastante menos "posse de bola". Foi mais rápida, mais acutilante, mais organizada. Quis sempre mais vencer. E mereceu este triunfo.
O sucessor de Fernando Santos deixou de fora Rúben Dias, Nuno Mendes, Bruno Fernandes, Vitinha e Bernardo, entre outros. Nenhum dos substitutos esteve melhor.
Se os dois principais erros foram individuais, a equipa também fracassou no plano colectivo. Incapaz de criar verdadeiras jogadas de perigo com princípio, meio e fim. Quase sem movimentos de ruptura, quase sem conseguir desequilíbrios, quase sem um ataque rápido, incapaz de se infiltrar na linha defensiva adversária. E desastrosa na finalização, como ficou evidente ao minuto 90'+3, quando Gonçalo Ramos falha a emenda à boca da baliza por inacreditável falta de instinto matador.
Quando não se falhava, o guarda-redes Mamardashvili (Valência, 23 anos) defendia com reflexos felinos, denotando segurança entre os postes. Foi assim ao 17', quando anulou um forte pontapé de Cristiano Ronaldo na conversão de um livre directo com a bola a voar 130 km/h. E em mais duas ou três ocasiões, ajudando a moralizar os companheiros.
O seleccionador foi assistindo a tudo com fraca ou quase nula capacidade de reacção. Ao intervalo, sem nada que se justificasse, trocou o eficiente Palhinha pelo insípido Rúben Neves, amarelado 8 minutos depois: a equipa piorou. Demorou mais de uma hora a retirar de campo o péssimo Silva, trocando-o por Semedo. E quando já perdíamos 0-2, necessitando portanto de reforçar a dinâmica ofensiva, mandou sair Cristiano Ronaldo: substituição directa por Ramos, com o onze nacional a piorar ainda mais.
Podemos queixar-nos do árbitro? Sim. Ronaldo foi claramente derrubado dentro da área georgiana, aos 28', e ainda viu amarelo por protestar - mesmo sendo capitão de equipa, mesmo estando cheio de razão.
Mas devemos sobretudo queixar-nos de nós próprios. Foi uma das piores exibições de que me recordo da equipa das quinas. Contra uma selecção classificada na posição 74 da tabela da FIFA - 68 lugares abaixo da nossa.
E agora? Em Frankfurt, na próxima segunda-feira, teremos pela frente a Eslovénia. Que conta com Oblak, um dos melhores guarda-redes da Europa. E chega sem derrotas aos oitavos: empatou com a Dinamarca (1-1), a Sérvia (1-1) e a deplorável Inglaterra (0-0).
É um adversário mais temível do que seriam os húngaros, entretanto eliminados. Mas tudo irá melhorar se formos onze a jogar contra onze. Em vez de sermos apenas dez com doze adversários pela frente - um dos quais vestido com as nossas cores.
Este perna-de-pau que figurou em destaque na manchete de 7 de Outubro de 2022 da Trombeta do Benfica merece, a partir de hoje, o título de cidadão honorário da Geórgia. Por ter oferecido de bandeja os dois golos da selecção adversária no embate desta noite com Portugal, oscilando entre o péssimo e o catastrófico.
Alcançado o primeiro lugar do Grupo F, que nos assegurou o acesso imediato aos oitavos-de-final do Campeonato da Europa, jogaremos hoje contra a Geórgia com esse objectivo já garantido. Promete ser um jogo tranquilo.
Que alterações deve o seleccionador Roberto Martínez fazer no onze português?
ADENDA: Hungria ou Eslovénia são os nossos adversários mais prováveis nos oitavos.
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